POV – Bruno
Quinta-feira
17 de março de 2011
1:00pm
— Rapazeada, olha o tamanho do sorriso do Bruninho! – Adivinhem quem começou.
Ele mesmo, Philip Lawrence.
— Já mandei vocês irem se foder hoje? - Mostrei o dedo do meio.
— Conseguiu, né garotão? – Recebo alguns “tapinhas” nas costas de Kameron, Jam e John.
Todos já sabiam do convite que faria a Savanna, inclusive a minha família. E vocês já podem imaginar quem contou, não é?
— Vamos dizer que estou ansioso por hoje à noite. – Realmente, o meu sorriso não cabia no rosto.
— Huuuum... – Debocharam em coro.
— Idiotas!
— E quando a conheceremos? – Duggy pergunta todo empolgado.
— Segura ai, cara. Provavelmente amanhã.
— Ela vai para o show?
— Se ela aceitar a minha proposta, vocês irão conhecê-la. Não somente ela, mas uma galerinha também. - Phil acenou com a cabeça rindo.
— Ah, o que está rolando? – Eric perguntou, percebendo a minha troca de confidencia com o Phil.
A partir daí, expliquei a surpresa que estava preparando para as crianças do centro. No qual, contaria para Savanna só mais tarde.
• • •
7:47pm
Não tardei em chegar adiantado no centro. De novo.
Na rua, somente o Toyota Corolla que havia pegado emprestado e outro carro, que pude notar, era extremamente caro, mantinha o farol acesso e o motor ligado. Acho que esperávamos pessoas que estavam dentro do mesmo ambiente.
Sim, vocês leram a palavra “emprestado”.
Ao contrário do que vocês pudessem estar imaginando, não planejei algo glamoroso, ostentoso ou qualquer adjetivo que represente a minha figura jogando dinheiro para o alto como normalmente faço.
Simplesmente, dei uma noite de folga aos meus seguranças, peguei o carro do Lonnie para evitar ser se seguido pelos paparazzi e aqui estou. Com meu chapéu fedora, calça jeans e camiseta simples. Não por preguiça de me arrumar, estou muito bem arrumado. Obrigado. Apenas estou resguardando a Savanna da exposição no qual ela não está acostumada. Além do mais, quero ter uma noite “normal”. Somente eu e ela.
Contaram quantas vezes eu disse a palavra “simples” e estão preocupados com o meu plano?
Calma, não fiquem achando que eu vou estragar tudo.
O simples também pode ser inesquecível.
POV Savanna
— East Los Angeles enfrenta a maior guerra de grupos criminosos dos últimos 10 anos. Segundo os moradores do bairro, o principal objetivo desta guerra é a dominação de territórios para venda de drogas e prostituição.
Na última noite, dois homens do grupo conhecido como “Ozbrown” foram mortos pela facção criminosa dos “Lincoln”.
A população teme que esta onda de crimes se estenda e cause tragédias ainda maiores em um dos bairros mais carentes de Los Angeles.
— Vamos Savanna, faltam dez minutos. – Ana desliga a tv ao me observar assistindo o noticiário. — Não quer se atrasar para o seu primeiro encontro, não é?
— Será que eu deveria sair com tudo isso acontecendo? – Estralei os dedos, nervosa. — Não posso deixar o Josh aqui sozinho e...
— Ei, calma! – Ana segurou a minha mão. — Nós cuidaremos dele. E está na hora de você viver um pouco, faz bem minha amiga.
— Ok! Ok! – Me virei de frente para ela, mostrando minha roupa. — O que você acha?
— É a milésima vez que me pergunta e a resposta é a mesma, você está linda! – Sorriu gentilmente.
— Eu sei, mas você sabe como eu sou desajeitada. Não tenho roupas caras e o máximo que pude fazer foi isso. – Apontei para a minha própria. — Colocar a melhor calça, blusa e jaqueta que tenho. – Comentei rindo, mas de nervoso.
— Não se esqueça do tênis. É o melhor que você tem também. — Percebia o esforço de Ana para quebrar o clima de preocupação e ansiedade que rondava a minha mente.
— Boba! Está bom mesmo? – Encarei meu reflexo no espelho do dormitório.
— Está o melhor possível. – Jennifer comentou com a mão apoiada na porta, me encarando de cima a baixo. Pude notar o quanto ela estava linda.
O seu corpo era moldado por um vestido longo e glamoroso, enquanto seus cabelos ruivos estavam em um coque muito bem arrumado.
Como eu, ela parecia ter se arrumado para sair. Mas não a questionaria sobre isso.
— Uau, Jennifer! Vai sair também? – Ana pergunta.
— Sim e já estou indo. – Ela sai pela porta, voltando cinco segundos depois para deixar seu último comentário sobre mim. — Relaxa Savanna, Bruno é rico e ninguém irá se importar se você está arrumada ou não. Bom, talvez ele. Enfim, bom jantar! – Saiu, deixando Ana com uma expressão que misturava irritação e pena.
— Não liga pra ela, Savanna!
— Você me conhece, Ana. Eu não ligo! – Me virei novamente de frente para ela. — Acho que estou pronta.
— Está linda amiga! – Me abraçou. — Bom jantar e depois me conte tudo o que rolar, hein? – Sorriu sapeca.
— Só se você cuidar pessoalmente do Josh para mim. Você sabe ...
— Claro, vai e aproveite com aquele homem de outro planeta. – Segurou minha mão. — Mais do que isso amiga, viva a sua vida! Hoje é uma noite só para você. Não pense em mais nada além disso. Tudo bem?
— Tudo bem, vou tentar o máximo possível. Obrigada!
— Disponha, agora vai! – Me empurrou para fora do dormitório.
• • •
— Boa Noite, Savanna! – Bruno segurou a minha mão e beijou. Ao vê-lo com uma roupa “comum”, não pude evitar sentir um grande alivio. Para mim, ele estava perfeito daquela forma e eu entendia que se esforçava para me manter o mais confortável possível junto a ele.
— Boa Noite, Peter! – Eu sabia que estava corada.
— Você está linda! – Sorriu abertamente, mostrando as covinhas. — Vamos?
— Claro!
A viagem havia sido tranquila. Ao som do que ele chamou de “playlist dos anos 80”, conversamos sobre o nosso dia e trabalho. Enquanto, entre uma pausa e outra no assunto, ele reiterava o fato de eu estar linda. Segundo ele.
— Chegamos! – Ele sorri, enquanto saímos do carro no estacionamento de um restaurante que parecia ser um Drive-in dos filmes clássicos.
— Nossa, é lindo! – Sorria abertamente enquanto caminhávamos.
— Gostou mesmo? Sério?
— Claro, tenho uma queda pelo passado.
— Não acredito! – Colocou a mão na boca, fingindo estar chocado.
— O que foi?
— Eu consegui “adivinhar” algo sobre você. – Riu. — Quer dizer que estou observando bem a senhorita Savanna?
— Desculpa Peter, não entendi. Como assim? – Imaginava meu rosto em tons de vermelho vivo. Estava extremamente envergonhada.
— Bom... – Segurou minha mão, enquanto caminhávamos em direção a porta do restaurante. — Imaginei que gostaria daqui. – Apontou para o letreiro escrito “Mel’s Drive-In Hollywood”.
— Por que?
— Elvis ... – Pausou, enquanto entravamos no restaurante totalmente vazio. — Mulheres da sua idade normalmente não conhecem a música “The Wonder Of You”. Se conhece, acredita que nasceu na década errada. Assim como eu.
— Como... – Mas antes que pudesse completar meu questionamento, ...
— Vi você cantando enquanto voltávamos ao centro naquele dia. – Ofereceu um lugar, no qual me sentei e continuou após se sentar de frente para mim. — Você não é a única observadora Savanna. Eu também observo. Na verdade, gosto de observar você.
— Espero que não tenha sido uma experiência tão ruim me observar cantando. – Desviei meu olhar de seus olhos amendoados que me encaravam docemente. Colocando minha mão sobre a mesa.
— Na verdade, não escutei a sua voz ainda. – Colocou a sua mão sobre a minha. — Apenas vi você dublando o rei.
— É o máximo que irei fazer com as músicas dele. – Acariciei a sua mão. — Dublar.
— Bom, isso eu já fiz bastante. – Rimos.
— Sua família me contou detalhadamente sobre a história do mini-Elvis.
— Infelizmente ou não, presenciei isso. – Acenou com a mão esquerda para alguém atrás de mim, o chamando. Enquanto a outra mão segurava firmemente a minha, iniciando uma carícia delicada. Quase imperceptível, mas deliciosa de sentir.
Desviando o meu olhar abobado de nossas mãos entrelaçadas, olhei ao redor e pude notar o quanto aquele lugar era simplesmente lindo.
O balcão de atendimento no centro, os bancos arredondados, as mesas num estilo vintage, as fotos de Hollywood dos anos 50 e 60 e uma Jukebox clássica próxima a nossa mesa. A Mel’s Drive-In Hollywood era uma viagem ao tempo.
— Gostaria de fazer o seu pedido senhor e senhorita? – Um senhor simpático me despertou. Fazendo-me notar que tudo, inclusive seu uniforme, fazia referência ao passado.
— Huuum ... Você já sabe do que eu gosto Joseph. Quero um Cheeseburguer especial da Califórnia com fritas e você Savanna? O que gostaria de comer?
— Pode ser o mesmo.
— Tem certeza?
— Claro, por quê?
— Ah, não é nada. – Riu. — Capricha pra gente, Joseph.
— Claro senhor, Bruno!
— Incrível, não é? – Peter comentou ao notar meus olhos se distraírem com o ambiente novamente. — De vez em quando tomo café aqui antes de ir para a gravadora ou venho para me distrair ouvindo os clássicos. É um dos meus lugares favoritos e ... – Apontou para o lado de fora, rindo. — A prova de paparazzi.
— Imagino! – Nos encaramos. — Obrigada por ter me trazido em um dos seus lugares favoritos. Estou amando!
— Fico feliz em saber disso. – Beijou a minha mão novamente. — Bom, enquanto esperamos o lanche mais apetitoso, clássico e gorduroso de Los Angeles ficar pronto, podemos conversar. Fale-me um pouco sobre você Savanna.
Passamos os próximos trinta minutos falando sobre a nossa história.
Não falei mais do que já havia dito no jantar com sua família e percebendo minha insegurança sobre, não insistiu. Então falei sobre as viagens missionárias e ele de suas apresentações quando criança, sua família, primeiros anos na cidade e da expectativa em viajar pela primeira vez em turnê pela Europa.
Ele parecia confiar totalmente em mim e eu não via a hora de fazer o mesmo com ele.
• • •
— Savanna, tive uma ideia e gostaria de saber se você aceitaria participar. – Peter falou empolgado, enquanto mergulhava a última batata frita no molho da casa.
— Qual?
— Bom, percebi que as crianças gostam da aula de música, são esforçadas e algumas delas, quem sabe, podem se tornar músicos futuramente. Então ... – Sorriu. — De vez em quando, levamos familiares e amigos na gravadora para conhecerem o nosso trabalho e até nos inspirarem no processo de gravação. – Pausou somente para respirar e continuou. — Pensei em levar as crianças para visitar o estúdio e depois, leva-las ao meu show no Arena.
— Esse convite é incrível Peter, mas ...
— Não se preocupe, conversei com o meu agente e ele já resolveu tudo quanto a transporte, lance e ingressos. – Devo ter feito a maior cara de apaixonada, pois Peter me olhou amorosamente. — Vocês serão meus convidados especiais.
— Eu não tenho como agradecer por isso... – Lágrimas desciam pelos meus olhos.
— Não tem o que agradecer, muito menos chorar meu bem. – “Meu bem”. Por esta eu não esperava. Peter se sentou ao meu lado e me abraçou — Será um prazer retribuir o que um dia fizeram comigo.
— Isso vai significar tanto para eles. – Me desvencilhei do seu abraço, encarando seus olhos amendoados tão próximos de mim. — Você não imagina o quanto isto irá significar para eles Peter. E para mim, em vê-los tão felizes.
— Para eles eu posso imaginar, pois já vivi isso quando criança. – Acariciou meu rosto. — Agora para você... – Levantou e estendeu a mão. Fazendo com que eu o acompanhasse até o Jukebox.
— Peter, obr... – Me interrompeu antes que eu agradecesse mais uma vez.
— Xi, espere um pouco. – Me interrompeu, selecionando uma música no aparelho. — Eu posso imaginar o quanto está feliz por eles e acredito, fico feliz por isso. Mas agora... – Me encarou novamente, sorrindo. — Gostaria de fazê-la feliz de outra forma.
— Peter...
— Dança comigo Savanna e deixe a música falar por mim, sobre nós dois. – Aproximou o meu corpo do seu.
Envolvi meus braços a redor do seu pescoço. Deixando me envolver pelo momento e pela voz do Elvis sendo nossa trilha sonora, mais uma vez.
Play na música leitores
Wise men say
Homens sábios dizem
Only fools rush in
Que só os tolos se apaixonam
But I can't help
Mas eu não consigo evitar
Falling in love with you
De me apaixonar por você
Peter me conduzia perfeitamente e naquele momento não pensei em mais nada, além de nós dois. Entregues aquele momento.
Shall I stay?
Eu deveria ficar?
Would it be a sin
Seria um pecado
If I can't help
Se eu não consigo evitar
Falling in love with you?
Me apaixonar por você?
Nesta altura, a minha cabeça já estava deitada sobre os ombros dele. Enquanto sua mão subia em direção ao meio de minhas costas, por baixo da jaqueta.
Like a river flows
Como um rio que corre
Surely to the see
Certamente para o mar
Darling, so it goes
Querida, é assim
Some things are meant to be
Algumas coisas estão destinadas a acontecer
Take my hand
Pegue a minha mão
Take my whole life too
Tome minha vida inteira também
For I can't help
Porque eu não consigo evitar
Falling in love with you
Me apaixonar por você
— Você compreende, Savanna? – Por um segundo pensei ter imaginado ouvir sua voz sussurrando, mas constatei que era realidade quando meus olhos encontraram os seus. Tão amendoados, firmes e entregue ao momento. Assim como eu imaginava estar perante ele. — Você compreende o que eu quero falar para você?
Take my hand
Pegue minha mão
Take my whole life too
Tome minha vida inteira também
For I can't help
Porque eu não consigo evitar
Falling in love with you
Me apaixonar por você
For I can't help
Porque eu não consigo evitar
Falling in love with you
Me apaixonar por você
— ... Savanna. – Cantou o último verso acrescentando o meu nome e me beijou.
O que eu pensei ser perfeito se tornou ainda melhor. Os seus lábios rosados eram macios e me beijava como nunca havia sido antes.
Havia delicadeza, entrega e amor. Algo que eu apenas ouvia dizer que saberia o que significava quando acontecesse. E acreditava, naquele momento, que finalmente o conheci pessoalmente.
Estava sendo amada pela primeira vez na vida. Ao mesmo tempo, era a primeira vez que estava amando.
Podem parar a música
— Estou apaixonado por você Savanna. – Sussurrou com os nossos lábios ainda colados nos meus. Encerrando um beijo com um selinho demorado. — Gostaria de ser a minha garota?
— Só se você for o meu. – Sorrimos. — E eu também estou apaixonada por você Peter. Acho que acabei de descobrir o que é isso e não sei como reagir. – Olhei para baixo, sem graça.
— Eu sei do que sinto desde o nosso primeiro beijo. – Levantou o meu rosto. — E acredite, não sou tão experiente com este tipo de sentimento, então aprenderemos juntos. – Colou nosso rosto. — Na verdade, precisaremos aprender muita coisa juntos.
- Sim! – Fechei meus olhos, sentindo sua mão contornar meu rosto.
— Vai dar tudo certo, fique tranquila. – Poderia imaginar seu sorriso mesmo com os olhos fechados. — Agora preciso levar uma senhorita em casa. Ou melhor, a minha garota em casa. Vamos?
• • •
— Prontinho, senhorita!
— Obrigada por tudo. Eu nem sei como agradecer pelo que você está fazendo pelas crianças, por esta noite... – Eu não sabia o que fazer. Precisava de aulas intensivas de namoro. Me sinto uma pateta!
— Não tem o que agradecer. – Segurou meu rosto, depositando um selinho demorado. — Amanhã cedo o meu assessor ligará para combinar todos os detalhes da surpresa. Tudo bem?
— Tudo bem!
— Boa Noite! – Outro selinho. — Sonhe comigo!
— Já está se achando um pouco, não é? – Rimos.
— Fazer o que meu bem? – Girou antes de abrir a porta do carro. — Sou irresistível.
— Boa Noite, Peter. Durma bem, meu bem!
— Você também. – Mandou um beijo antes de ir embora. E só aí, voltei a respirar normalmente.
• • •
— É impressão minha ou tem um mocinho desobediente acordado? – Entrei no dormitório dos meninos, surpreendendo Josh que estava distraído. Parecendo viajar longe, enquanto encarava a janela. — Posso saber por que ainda não está domingo?
— Nada não, tia. Já vou domir. – Sua atitude continuava a mesma. Não me olhava nos olhos, parecia distante em seus pensamentos tão fechados a mim.
— A tia pode contar um segredo? – O cobri e me agachei na lateral da cama, ficando na mesma altura que ele.
— Sim, eu guado!
— Amanhã, você e as crianças terão uma surpresa.
— Sélio? – Sorriu de forma tímida. Um bom sinal.
— Sim!
— O que é?
— Bom, você só vai descobrir se descansar direitinho. – Beijei sua testa. — Precisará estar acordado e descansado para aproveitar cada momento.
— Vou domir então tia.
— Muito bem meu amor. – Acariciei seu rosto, enquanto o observava dormir. — Descanse, amanhã será um dia inesquecível. Eu te amo! – Sussurrei a última frase, depositando mais um beijo em seu rosto.
Como dizem: “as palavras tem poder e muitas vezes relevam o futuro. Mesmo que não saibamos interpretá-las”.
Realmente, o dia dezoito de março de dois mil e onze nunca seria esquecido. Principalmente por mim.
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