História All Faces Of Love - Sol, piscina e revelações

Ana Paula’s Point Of View

Quando cheguei em casa depois do ocorrido no parque, a única coisa que não saia de minha cabeça era Francesca chamada aquela mulher de mãe. E pela forma com que a mesma me tratou com certeza sabia do meu passado com Paola, mas a pergunta que não quer calar é se Paola e Patrícia são casadas. Apesar de ambas não usarem aliança não era confirmação alguma já que eu sabia o que Paola pensava sobre.

Após tomar um banho e colocar um moletom confortável desci para procurar meus pais e Nanny disse que eles haviam saído para um coquetel de amigos, fui para a copa e peguei uma garrafa de tequila, sentei-me no chão em frente a lareira e comecei a tomar na garrafa mesmo enquanto lembranças passavam em minha cabeça, vi uma foto minha com Lisa, Francesca, minha mãe e meu pai do dia do aniversário de Lisa, peguei a mesma e foi invisível as lágrimas caírem.

Sem noção da passagem de tempo continuei ali sentada com uma garrafa quase vazia de tequila, ouvi passos se aproximando e alguém bufando.

– Ah, é você. - Aquela voz tão conhecida por mim disse com desdém, como se minha vivência fosse irrisória na sua vida.

– Ou não. - Resmungo com a voz arrastada pela bebida levantando a garrafa no alto como uma espécie de brinde.

– Ana Paula, não me fala que você pegou essa garrafa fechada.

– Eu não peguei. - Digo sapeca caindo na gargalhada em seguida.

– Era só o que me faltava. - Murmura. - Vem, eu vou te levar lá pra cima. - Vem em minha direção tirando a garrafa e o porta retrato de minha mão. - Bem típico de você fazer merda e depois não aguentar as consequências. - Revira os olhos. Após guardar as coisas volta para me ajudar a levantar.

– Polque tá me ajudano? – Pergunto caminhando sendo guiada e apoiada por ela.

– Porque independente de tudo você é minha irmã.

– Mas voxê me odeia.

– Não te odeio, jamais conseguiria, apenas não concordo com muitas das decisões que você tomou pra sua vida e o tanto de gente que machucou no caminho. - Responde com um pouco de dificuldade por estar me ajudando a subir a escada. - Pronto agora vou te pôr embaixo do chuveiro.

– Não quero, alguém me trás um whiskey eu só queria beber. - Resmungo.

– Você já bebeu demais, vem vou te ajudar a tirar a roupa.

– Aí voxê é casada pelo menos me paga um jantar antes.

– Anda, Ana Paula!

– Eu não quero tomar banhoooo!

– Ana Paula Padrão, você irá tomar banho por em ou por mal! Você quer que eu ligue para a dona Amélia te por no banho?

– Não!

– Então levanta essa bunda branca daí e me ajuda a tirar sua roupa. Agora! - Tiro a contragosto minha roupa com sua ajuda e Lisa me põem embaixo do chuveiro frio.

– Agora eu te odeio! Mas não me odeie mais porque eu te amo.

– Tá bom, Ana, agora molha a cabeça aí. - Fiz o que ela mandou e fiquei por ali uns bons minutos sentindo um pouco do efeito do álcool se esvair. - Pronto vem. - Lisa me enrola na toalha após deslizar o chuveiro e me guiar pelos ombros até meu quarto que já tinha um pijama quentinho separado na cama. Visto-me com a ajuda de minha irmã e me jogo na cama.

– Liiii… - Chamo-a manhosa quando a mesma ia em direção a porta para sair.

– Oi, Ana.

– Deite comigo?

– Ana..

– Por favorzinho. - Faço bico.

– Dai-me paciência, pai! - Resmunga olhando pro teto antes de se deitar ao meu lado.

– Senti sua falta. - Digo já de olhos fechados e recebi apenas o silêncio. Após longos minutos assim estava quase pegando no sono quando disse com a voz já fraca. - Eu não me arrependo das escolhas que fiz, apenas da forma como as fiz. - E enfim durmo.

Acordo sentindo uma dor de cabeça horrível, e nas costas por ter ido dormir sem ter tomado meu remédio além de ter ficado muito tempo sentada no chão da copa. Abro o olho agradecendo a escuridão do quarto por conta da cortina grossa. Olho pro lado e vejo que Lisa não estava mais lá. Sim, eu lembrava de tudo o que havia acontecido, percebi um copo com água e uma aspirina na mesa de cabeceira, agradeci mentalmente minha irmã e tomei. Me arrastei em direção ao banheiro para fazer minha higiene matinal e tomar um remédio para coluna. Como estava doendo muito optei por tomar dois e voltei para cama ligando a tv esperando fazer efeito.

***

– Ana, filha, acorda. Você dormiu o dia todo, estou preocupada. - Ouço a voz de minha mãe ao fundo, mas parecia que estava escutando tudo de muito longe mesmo despertando. Estava meio grogue e meus olhos pesados parecia que havia tomado um sonífero de elefante.

– Está tudo bem, apenas estou cansada. - Consigo dizer com a voz baixa sem abrir os olhos, até o som da minha voz parecia distante.

– Ao menos coma algo, vou pedir Nanny para trazer uma comida leve e deixar na sua cabeceira, tudo bem? - Pergunta e eu apenas assenti sentindo meu corpo se entregar ao sono profundo novamente.

***

– Ana, pelo amor de Deus acorda, a mamãe tá quase te levando para o hospital! - Ouço a voz de Lisa ao meu lado e lentamente consigo abrir os olhos. Agora escutava tudo normalmente e meu corpo não parecia mais tão pesado.

– Eu preciso de um banho gelado. - Digo com a voz um pouco baixa sentando-me lentamente na cama sentindo minha cabeça rodar por uns instantes o que me fez comprimir os olhos. Lisa me ajuda a levantar e me guia para o banheiro, tiro a roupa e entro embaixo do chuveiro gelado. Fecho os olhos sentindo a água terminar de despertar meu corpo dos efeitos dos remédios pra dor.

– Ana Paula, de onde veio essas cicatrizes nas suas costas e o que é esse remédio tarja preta? É por isso que ficou assim, não foi?! - Ao escutar o que minha irmã disse abro os olhos vendo a mesma com o frasco do meu remédio para coluna na mão.

– É apenas um remédio para dor nas costas. - Dou de ombros tentando soar convincente.

– Mentira , eu sei quando você mente. Isso tem receita?

– Lisa, depois a gente conversa sobre isso apenas não conte para nossos pais. - Peço e a mesma assenti mesmo relutante.

Fiz questão de demorar no banho, pois sabia que quando saísse teria de contar a minha irmã. Mas a hora chegou. Sai colocando meu roupão e fui para o quarto vendo minha irmã sentada na cama.

– A dois anos eu tive uma dor muito intensa na coluna que eu ao menos conseguia andar e delirava de dor, minha agora sócia e amiga estava comigo naquele dia e me levou para o hospital e eu tive que ir direto para uma cirurgia, eles tiveram que reparar a inflamação que estava ali, mas temporariamente, eu teria de fazer uma cirurgia mais profunda com um ortopedista, mas eu não podia parar meus estudos e o início da minha carreira então eu continuei tomando o remédio que eles me receitaram para o pós cirúrgico, mas agora sem receita, e vou levando um dia eu faço essa cirurgia só não posso parar agora.

– Ana Paula, você é louca! Você sabe o quanto essa condição é perigosa! Você está esperando para fazer a cirurgia quando ficar na cadeira de rodas?!

– Lisa eu apenas não posso agora, eu estou inaugurando uma empresa com uma proposta totalmente nova que eu ao menos sei se será aceita, não posso me dar ao luxo de ficar mais de um mês de repouso.

– Mas e sua saúde??!

– Olha, eu prometo que tô bem e quando eu ver que não tá dando mais eu vou fazer essa cirurgia, só não conte aos nossos pais.

– Você promete muitas coisas, Ana Paula. A vida é sua faça o que quiser. Preciso ir, Liv está me esperando para o jantar.

– Mande um beijo a ela por mim.

– Mandarei.

***

Havia tirado o dia de folga para me recuperar da minha “hibernação” e decidi utilizar a piscina. Coloquei um biquíni preto simples por baixo de uma saída de praia branca que mais era um vestidinho curto, prendi meus cabelos em um coque alto e arrumei uma bolsa de palha com algumas coisas que iria precisar como protetor solar e essas coisas. Coloquei meus óculos de sol no topo da cabeça e desci para tomar café da manhã. Chegando a sala de jantar vejo meus pais e Fran já comendo.

– Bom dia! - Cumprimento sentando-me ao lado de Fran e todos respondem.

– Vai a praia? - Mamãe pergunta.

– Não, vou utilizar a piscina daqui mesmo.

– Ai Fran, você adora usar a piscina daqui, vá com ela! - Sugere para a loirinha ao meu lado. - Fran sempre quer ir na piscina, mas como ela não pode ficar lá sem supervisão quase não vai. - Explica.

– Eu não quero nadar hoje. - Diz encarando o prato em que brincava com o iogurte natural cheio de frutas vermelhas dentro. Voltei minha atenção a torrada em que passava uma geleia de blueberry sem deixar de ficar chateada com a resposta da pequena.

Após um tempo em silêncio mamãe puxou assunto sobre o andamento da minha empresa e a festa de inauguração. Quando terminei de comer, pedi licença e me levantei.

– Bom estou indo aproveitar esse sol maravilhosos! Nanny, ainda têm aquele pote de açaí fechado ali? - Pergunto a governanta que havia se juntado a nós a mesa, a mesma assentiu e eu sorri abertamente agradecendo antes de sair pela cozinha para a área da piscina.

Coloquei minha canga sobre a espreguiçadeira, tirei minha saída de praia e coloquei meus óculos de sol. Deitei-me na espreguiçadeira com um livro em mãos que havia pegado na bolsa e fiquei ali. O tempo passou voando com a leitura apenas parei de ler, pois o sol havia começado a esquentar demais então decidi que estava na hora de entrar na água. Tirei meus óculos, coloquei meu livro de lado e fui para a beira da piscina, coloquei a pontinha do meu pé na água para sentir a temperatura e quase dei um pulo ao sentir o quão gelada estava, coloquei a mão na cintura ponderando encarando a piscina enquanto ponderava se entraria mesmo naquele gelo, mas antes que eu pudesse pensar direito senti mãos em minhas costas me empurrando de encontro a água e logo eu estava mergulhando na piscina fria. Submergi furiosa e vi Lisa gargalhando.

– Você sempre foi lenta para entrar na água. - Dá de ombros tirando a saída de praia que usava revelando um biquíni que era um cropped branco com estampa de palmeiras pretas e a calcinha toda preta lisa, colocou na espreguiçadeira ao lado da minha e correu em direção a mim pulando de ponta na água. Enquanto esperava a mesma submergir senti uma cabeça embaixo de minhas pernas e gritei de susto ao ser levantada de dentro da água.

– Ana Elisa! - Esbravejo.

– Você sempre fazia isso comigo parece que o jogo virou, não é mesmo?! - Diz posicionando suas mãos em minhas panturrilhas e eu sabia o'que ela iria fazer.

– Ana Elisa, não se… - Antes que eu pudesse terminar ela deu impulso no chão da piscina e ao mesmo tempo que jogava minha perna estrategicamente no ar o que me fez dar uma cambalhota para trás antes de cair na água. - Porra! - Grito após submergir e encontrá-la gargalhando.

– Para de sofrer e pega a bola ali na casinha da piscina, vamo ver se você ainda é a melhor no vôlei.

– Dentro e fora da água. - Digo dando um beijinho no ombro caminhando para a escada da piscina.

Peguei a bola e cada uma se posiciona fora da piscina uma em cada lado. Joguei a bola pro alto dando um saque perfeito que Lisa pegou sem esforço algum de machete. E assim foi por quase uma hora, perdia ponto quem deixasse a bola cair na piscina e quem jogava muito longe.

– Trouxe suco, meninas! - Nanny anuncia trazendo dois copos de suco de abacaxi com hortelã nos entregando na piscina já que descançavamos na escada da mesma.

– Depois do almoço vai ter revanche lá na quadra. - Lisa diz após tomar um grande gole do suco.

– Pra você perder de novo? Aceito.

– Tia Lisa? - Escutamos a voz de Francesca e olhamos na direção da mesma que se aproximava com um biquíni azul clarinho com detalhes rosa claro nas bordas e um lindo lencinho na cabeça.

– Oi, minha princesa!  Decidiu se juntar a nós? - Pergunta e a pequena assenti estendendo o braço entregando um celular para minha irmã. - Oi amor da minha vida, meu raio de sol. - Atende após checar na tela quem era. - Ai Patrícia eu7 não sei mais o que eu faço com você. Eu sei, meu amor, eu não sou uma tia desnaturada. Tá bom não tanto, mas eu faço minha parte. Tá bom, agora para de loucura. Também te amo viu! - E desliga. - Pronto, agora você já pode se juntar a nós eu apenas preciso passar protetor solar em você. - Lisa falava se levantando e indo com Fran direção as espreguiçadeiras. Pegou sua bolsa e tirou de lá um protetor passando na pequena em seguida. Após passar e pegar a boia em forma de unicórnio elas vêm de mãos dadas para a água. Eu já havia mergulhado e estava do outro lado da piscina. Quando vi que Lisa estava um pouco mais afastada de fran que brincava na boia mergulhei em sua direção agarrei suas pernas e submergi já jogando-a para trás.

– Ana Paula! - Esbraveja tossindo pelo caldo que havia tomado. Não havia perdido o jeito. Quando vi a mesma vindo com cara de que ia aprontar em minha direção eu me escondi atrás da boia de Fran que ria de toda a cena.

– Eu tenho uma criança não pode fazer nada contra mim. - Lisa me olha desafiadora e eu começo a correr e nadar desesperadamente fazendo da boia de Fran como um carrinho o que a fazia rir histericamente. Teve um momento em que peguei a pequena de cavalinho e comecei a continuar correndo de Lisa que agora simulava ser um tubarão. Certo momento minha irmã teve a ideia de brincarmos de Marco Polo e saiu em direção a casa procurando um faixa para prender nos olhos.

– Eu tô com sede. - Fran diz já de volta a sua bóia.

– Eu não bebi meu suco todo, você quer? - Perguntou e a pequena assentiu. Sai da água indo pegar o copo na mesa próxima a piscina. Entreguei a pequena que estava agora sentada na beira e voltei para dentro da água deitando a cabeça na borda ao seu lado e fechei os olhos sentindo o sol me aquecer.

– Você é muito bonita. Escuto a voz baixa de Francesca, abro os olhos e vejo-a me encarando com um adorável bigodinho de suco.

– E você é linda até mesmo com esse bigodinho de suco. - Digo limpando delicadamente seu buço.

– Cheguei meninas que irão perder para a rainha do Marco Polo! - Lisa anuncia sua chegada fazendo-nos rir e revirar os olhos.

***

Após a manhã toda de brincadeiras na piscina fomos para depois vermos um filme, no meio do filme uma pequena exausta criança dormiu no colo de Lisa.

– Posso levá-la? - Questiono assim que o filme acaba.

– Coloquei-a no meu quarto, agora é praticamente dela. - Assenti pegando delicadamente a não tão mais pequena Fran no colo.

Subi abraçada a loirinha sentindo meus olhos marejarem enquanto respirava fundo seu cheirinho que continuava o mesmo, eu morria de saudade de ter esse contato com ela. De todos Francesca foi a que mais me doeu ficar longe, eu pensava nela a cada segundo do meu dia e se tiveram vezes que eu me arrependi de ter me mudado forma todas as que eu pensei nela.

Entrei no quarto da minha irmã que agora aderiu uma característica mais infantil cheio de ursos de pelúcia e alguns muitos brinquedos, coloquei Fran delicadamente sobre a cama e fiquei ali velando seu sono. Depois de alguns minutos ali, depositei um beijo no topo de sua cabeça.

– Eu senti tanto sua falta, minha pequena bailarina, eu te amei e te amo muito, sempre irei amá-la com tudo o que sou. Você está cada vez mais linda e eu não poderia estar mais orgulhosa da menina incrível que você é. Bons sonhos, princesa, eu te amo muito. - Digo baixo me levantando e caminhando em direção a porta, mas sou interrompida por uma vozinha baixa antes de chegar a mesma.

– Tia princesa. Eu me lembro de você.