Ana Paula’s Point Of View
Apesar das minhas desavenças com a nova professora de história não posso negar que ela é uma professora “legal”, meus amigos a adoraram, mas quando eu olhava para eles até cara de nojo eles faziam mesmo sem saber o real motivo da minha raiva por ela, o que diversas vezes me fazia rir internamente, apenas Larissa e Gustavo que conseguiram esconder bem que também gostaram da nova professora justamente por saber dos meus motivos para odiá-la.
Quando o último sinal bateu indicando que o primeiro dia de aula havia sido finalizado suspirei em alívio, pois estava com uma vontade imensa da minha cama. Peguei minhas coisas despedindo de todos e fui até meu armário deixar minha mochila e pegar minha bolsa, coloco meus óculos escuros e vou em direção ao estacionamento. Chegando perto do meu carro tenho uma visão um tanto quanto inusitada da minha irmã conversando com nada mais nada menos que Paola Carosella.
– Lisa, vamos? - Chamo-a parando ao lado da mesma e deixando minha visão ser agraciada com a beleza de uma Paola que me olhava com olhar e feições indecifráveis.
– Claro, tchau Paola, obrigada novamente.
– Foi um prazer, adios. - Se despede de minha irmã sorrindo amigavelmente, olha no fundo de meus olhos por alguns segundos me deixando levemente incomodada antes de manear a cabeça em despedida e se virar caminhando elegantemente até seu carro.
– Fecha a boca, anjo, vai babar na sua Lanvin. - Zomba rindo fazendo-me fuzilá-la com os olhos.
– O que foi que eu perdi? - Pergunto já entrando no carro me referindo a sua conversa com Paola.
– Aparentemente ela pegou uma turma de Espanhol da 11th Grade que no caso foi a minha aí eu descobri que ela é a dona do nosso restaurante favorito e cafeteria, e como você sabe da minha paixão com cozinha, que você passou pra mim, eu comentei no fim da aula com ela sobre eu gostar de cozinha então a gente começou a conversar sobre e.. - Faz um suspense antes de prosseguir. - Vai ter um curso de 5 meses em seu restaurante apenas para jovens de até 19 anos com apenas 10 vagas.
– Você vai participar? - Pergunto variando meu foco entre a rua e nossa conversa.
– Não só eu como você também. Paola me convidou para ir, e você vai também - Responde convicta.
– Eu??
– Lógico, Ana, você cozinha maravilhosamente bem, foi de você que eu peguei essa paixão por cozinhar e vai ter a oportunidade de passar mais tempo com a Paola aproveitando para mostrar a ela quem é a verdadeira Ana Paula Padrão. - Finaliza sorrindo orgulhosa de si mesma o que me faz revirar os olhos.
– É um bom plano, mas você sabe que pra mim cozinha é apenas um hobby, eu não quero tirar a oportunidade de alguém que tem o sonho de seguir essa área como carreira.
– A Paola leciona por hobby e dá aula num conceituado colégio particular. O que não faltam são bons estágios pelo país quem não conseguir esse pode conseguir até um melhor.
– Não acredito que me deixei ser convencida dessa loucura pela minha irmã mais nova.. - Divago estacionando na porta de casa. - Quando vai ser esse teste?
– Aaah! Eu sabia que você ia aceitar! - Grita me abraçando animada. - Será daqui duas semanas no restaurante dela. - Responde animada antes de descer do carro, reviro os olhos e faço o mesmo. - Nanny chegamos! - Grita Lisa já subindo rapidamente as escadas, me jogo no sofá da sala de estar e logo Nanny aparece enxugando a mão no avental.
– Boa tarde, menina Ana. - Nanny coloca as mãos em minha bochecha e beija minha testa como sempre faz.
– Bença, Nanny.
– Deus te abençoe, meu anjo. Como foi o primeiro dia?
– Umas horas legal, outras cansativas, nada de incomum dos outros dias.
– E a Paola? - Questiona insinuativa fazendo-me rir. Sim, a Nanny sabe, quando eu passei pela minha primeira desilusão amorosa com uma garota e todo o processo de me aceitar era ela quem estava lá para me encher de carinho e comida gorda, junto com Lisa claro.
– Deve me odiar profundamente já. - Suspiro pesarosamente.
– Eu já disse pra você sobre deixar essa sua “segunda Ana Paula” de lado, isso é rídiculo Ana, deixe que a verdadeira Ana encante as pessoas, se elas não gostarem é porque não te merecem, você é boa demais para eles.
– É meu último ano Nanny, daqui a pouco nada disso vai importar mais.
– Nanny! - Lisa chega escandalosa agarrando a Nanny, logo atrás desce um Mané apressado vindo para meu colo.
– Achei que tinha esquecido de me cumprimentar, mocinha.
– Nunca, apenas tive que correr para colocar meu celular no carregador antes que ele desligasse. Bença!
– Deus te abençoe, pequena. - Beija a testa de Lisa. - Agora vão se trocar que eu vou colocar o lanche de vocês na mesa.
Levanto preguiçosamente do sofá pegando Mané e meus saltos na mão. Subo as escadas cantando os passos e após tanta preguiça para andar chego ao meu quarto. Vou até meu closet já tirando meus acessórios e logo já estava sem maquiagem, com óculos de grau, cabelos presos em um rabo de cavalo alto, uma regata soltinha preta com o contorno da mão do Mickey Mouse fazendo sinal de Rock and ‘Roll em branco como estampa, um shortinho de lavagem clara cintura alta e um chinelo de dedo preto com estampa de rosas. Agora sim.
Jogo meu corpo na cama fechando os olhos para sentir a preguiça fluindo por ele dispersando toda a tensão e cansaço do dia quando percebo a imagem das intensas orbes castanhas escuras de Paola começando a se formam em minha mente segundo de cada traço delicado e ao mesmo tempo fortes de seu rosto angelical. Cada fio de cabelo definia sua forma perfeita, cada mínimo detalhe a tornava única para mim.
– Cada suspiro que você dá é um metro a mais no seu papel de trouxa pela Paola. - A voz debochada de Lisa tira-me de meus devaneios fazendo com que eu revirei os olhos ainda com os mesmos fechados.
– Uma pena que ninguém te chamou aqui, não é mesmo?! - Respondo irônica me pondo a sentar.
– Ana, deixa eu te perguntar algo? - Pergunta meio excitante se sentando ao meu lado na cama, maneio a cabeça consentindo e a mesma prossegue. - Como você sabe que o que sente pela Paola não é apenas admiração?
– Porque eu quero o corpo dela nu. - Dou de ombros fazendo-a gargalhar.
– Admiração você não sente vontade da boca dela na sua, entendi. - Responde em um tom de brincadeira.
– Exatamente, bom, que acho que sim, mas por segurança peça uma segunda opinião, pois experiência em relacionamento é o que eu menos tenho na vida. Você percebe que a admiração atingiu um outro nível quando os prazeres carnais se fazem presente, mas você pode gostar e admirar uma pessoa, nada impede, é até bom para um relacionamento, o que diferencia é o sentimento. Eu não sei explicar, você apenas.. sente. - Explico olhando para um ponto fixo na parede, mas com a mente repassando cada vez que eu vi Paola pelos corredores até a primeira vez que conversamos. - Por que? Tá gostando de alguém? - Questiono agora a encarando o que faz a mesma corar e desviar o olhar entregando a sua resposta.
– N-Não.. Eu.. A Nanny chamou pra comermos. - Se levanta rapidamente e saí quase correndo do meu quarto o que me faz revirar os olhos.
– Ai Mané, Essas adolescentes de hoje em dia..
***
O resto do dia se passou pelas páginas do livro que me pus a ler para esquecer um pouco de Paola que a cada deslize inundava meus pensamentos.
Que saco não se pode nem mais ler um livro em paz. –me reprimo mentalmente por ter me pego pela milésima vez encarando a página do livro, mas pensando na argentina de olhos jabuticaba e postura de dama de ferro.
***
– Nanny, quando você sabe que você gosta de uma pessoa romanticamente e não só a admira? - Questiona Lisa enquanto jantávamos junto a Nanny, pois sempre fizemos questão de sua companhia à mesa conosco.
– Por que? Meu bebê está gostando de alguém? - Arqueia uma sobrancelha para Lisa que Cora e olha para mim que segurava o riso.
– Não sei, eu perguntei pra Ana e ela disse que quando você gosta é porque você quer o corpo da pessoa nu. - Diz me encarando fazendo com que meu riso cessasse e eu a fuzilei com os olhos enquanto a mesma sorria cinicamente.
– Ana Paula! Isso é jeito de falar! Não foi assim que eu te ensinei! - Reprime Nanny. - Mas é basicamente isso, Lisa. - Responde fazendo-nos gargalhar.
– Mas que clima animado encontra-se está casa! - A voz do nosso pai soou pela sala de jantar fazendo nossa atenção cair sobre o mesmo.
– Boa noite, pai. - Digo assim que o mesmo vem ao meu encontro para dar-me um meio abraço e um beijo na testa como faz toda noite.
– Boa noite, princesa.
– Boa noite, papai. - Diz Lisa assim que nosso pai vai fazer o mesmo com ela.
– Boa noite, princesinha. Boa noite, Nanny!
– Boa noite, senhor Francisco. Como foi no trabalho?
– Cansativo como sempre, mas o foco aqui são minhas princesas! Como foi o primeiro dia? - Pergunta surpreendentemente se sentando à mesa conosco e pegando um prato, olho para Lisa que sorria radiante aquecendo meu coração, eu sei o quanto a ausência de nossos pais a afeta, pois me afeta muito também.
– Bom, foi.. - Quando Lisa começou a falar animada o som do celular de nosso pai tocando se fez presente.
– Só um segundo, princesinha. - Faz um gesto com a mão antes de atender o celular. - Alô? Oh, claro, irei resolver isso imediatamente. - Atende em sua melhor postura de advogado, mas logo tampa o viva voz fazendo-me prever o que viria a seguir. - Nanny, leve a janta para mim no escritório e princesas desculpe por isso, mas preciso resolver, com licença. - Diz antes de sair falando ao telefone.
– Perdi a fome, vou me recolher, boa noite. - Lisa sai rapidamente da mesa fazendo eu e Nanny trocarmos olhares de quem iria falar com ela.
– Eu vou primeiro, pode terminar de jantar. - Assenti e a mesma saiu deixando-me sozinha naquela imensa mesa de jantar. Olho para as pontas onde nossos pais costumavam se sentar conosco toda noite para jantarmos quando éramos pequenas e uma lágrima solitária desce pelo meu rosto. Logo balanço a cabeça para afastar as lembranças e me levanto também, pois havia perdido a fome.
***
Bato duas vezes na porta de Lisa antes de entrar em seu quarto iluminado apenas pela luz do seu celular que a mesma mexia encolhida abraçada a um travesseiro grande. Como sempre fazíamos quando a outra estava triste apenas me deitei em silêncio no lado vago de sua cama e a abracei por trás. Ficaríamos assim até dormir ou que ela se pronunciasse sobre o ocorrido, e foi isso o que aconteceu após longos e incontáveis minutos de silêncio.
– Sabe.. Eu sinto saudades de quando era obrigatório jantarmos todos juntos à mesa e sem celulares. Nós ficavamos bravas, pois queríamos comer na frente da televisão.. Mal sabíamos que um dia aquilo acabaria e faria tanta falta. Eles mal se vêem Ana, mal nos vêem. Deve ser assim que é ter pais divorciados.
– Vira essa boca pra lá, o papai e a mamãe se amam, apenas estão ocupados com suas respectivas carreiras.
– E cagando pra família, faz muito sentido.
– Olha a boca, Lisa! Eu não irei defendê-los, mas também não irei crucificá-los. Apenas ainda tenho esperanças de que tudo um dia volte a ser como era antes. - Suspiro pesadamente.
– Estou começando a perder as esperanças..
– Não perca, nós sempre teremos uma a outra e é isso que importa. Eu te amo, Lisa, e eu sempre irei cuidar de você. - Finalizo beijando seus cabelos e abraçando-a por trás me acomodando para dormir tranquilamente mal sabendo que pela fresta da porta um pai agora muito triste escutara boa parte da conversa.
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