Point Of View:
Camila
Quando avisei para Normani que iria sair, ela me falou para tomar todo o cuidado do mundo, coisas que mães fazem. Como quando eu havia saído era fim da tarde, aproveitei para aproveitar a leve brisa que o vento trazia. Observo alguns casais apaixonados, de adolescentes aos velhos idosos, suspiro abobalhada por sonhar com um relacionamento clichê, assim como nos filmes. Sem que pude perceber estava sorrindo como uma idiota. Não havia trazido meu celular nem dinheiro, já que eu logo voltaria para a casa.
Como não tinha horário, começou a escurecer, presumo já ter passado das sete e meia da noite. Sinto algumas gotas caírem, atingindo minha cabeça e meu ombro, por que eu tenho o azar de atrair chuvas? Eu usava uma calça legging preta, completamente colada em minhas coxas, e em cima uma simples regata branca, já que como eu estava andando por aí, eu iria suar. Apresso meus passos tentando chegar o mais rápido em casa, com certeza irá chover e eu pegarei uma bela gripe. Conforme eu andava apressadamente, a chuva engrossou com o tempo, nisso eu já havia desistido de tentar chegar em casa, já que estou molhada por que não aproveitar a chuva?
Passei em frente a um bar, bem queria estar agora com Normani bebendo um achocolatado quente enquanto assistíamos filme. Olho para trás ao perceber algo diferente, um homem de porte grande me seguia na cara dura. Trato de correr o mais rápido, mas com um descuido acabei tropeçando, fazendo ele se aproximar ainda mais. Segurou meu braço com força, me tirando do chão enquanto me levava para algum lugar, grito por ajuda mesmo não contendo ninguém nas ruas por conta da forte chuva. Um tapa estalado e ardido foi dado em meu rosto por eu berrar, sua mão cobriu minha boca, me impedindo de emitir qualquer tipo de som.
Suas grandes mãos monstruosas tentavam me agarrar, eu tentava a todo custo me desviar, por mais difícil que seja. É nesses momentos que eu agradeço a Normani por me ensinar alguns golpes. Como sou um pouco sedentária, meu corpo pediu por descanso, eu já não tinha forças para lutar contra ele, mas eu não iria desistir tão fácil. Já sem força, ele me agarrou pelos braços, tudo o que eu poderia fazer no momento era chorar, chorar e pedir por ajuda mentalmente. Onde está meu anjo da guarda para me ajudar neste momento?
Não tendo mais noção do que acontecia, apenas vi o homem se afastar bruscamente, como estávamos em um beco escuro, apenas consegui ver braços e pernas ao redor do tronco do grande homem, em uma espécie e enforcamento. Encolhi no meu próprio corpo, sentia frio e medo, eu estava prestes a ser estuprada, meu mundo no exato momento caiu quando eu percebi a gravidade da situação.
Seu grande corpo caiu no chão totalmente mole, pude perceber a silhueta feminina se aproximar, logo um casaco ser estendido para mim, onde aceitei sem pensar duas vezes. Abaixo a cabeça quando seu braço se passou por meu ombro, me oferecendo o calor do seu corpo. Andamos até uma parte onde não chovia e havia luz, para podermos conversar sobre o acontecido. Ao chegarmos ergui meu olhar para poder ver quem seria a mulher que me salvou. Seu cabelo molhado, uma touca cobria uma parte da sua cabeça, olhar preocupado e assustado. Meu anjo da guarda.
—C-camila? —Sua voz rouca me tirou da minha própria bolha, não pensei duas vezes em agarrar seu corpo em um abraço apertado, escondendo meu rosto em seu pescoço, enquanto suas mãos macias acariciavam meus braços pelas laterais. —Você está bem? Seu rosto está com uma marca de mão, aquele desgraçado bateu em você.
—E-eu estou bem. —Chorei altamente, por que minha vida tem que ser um desastre? —S-sinto medo, Lauren, minha vida é uma completa desgraça total!
—Não fale assim. —Me apertou contra seus braços. —Eu estou aqui, ele não irá mais relar um dedo em você, eu prometo.
—Nós mal nos conhecemos, não prometa algo impossível de se cumprir.
—Entendo, eu sei. —Suspirou pesadamente. —Farei de tudo para que nada de ruim aconteça com você.
—Me tirou de outra emboscada. —Ri um pouco sem graça. —Você é meu anjo da guarda e eu não estou sabendo?
—Quem saiba Deus tenha um plano para a gente. —Gargalhou roucamente. —Você está bem mesmo? Podemos ir para o hospital caso queira.
—Eu estou bem. —Me afastei, observando seu rosto angelical. —Prefiro ir para casa, não quero ficar mais um minuto aqui nas ruas a essa hora da noite.
—Eu irei levar você, mas terá que falar com os policiais. —Movimentou sua cabeça para trás, pude ver uma mulher e uma viatura da polícia. —Aquela é minha amiga, se chama Veronica, vamos até lá.
Passou seu braço por meus ombros novamente, me deixando colada em seu corpo também molhado. Sua amiga, Veronica, segurava um guarda-chuva juntamente com o policial, que anotava algumas coisas. Ao chegar vejo outros dois policiais já levando o homem que havia me agredido. Questionando se eu estava bem, o policial que se apresentou como Dean, escreveu tudo o que eu falava em seu bloquinho, que seria usado contra o agressor caso ele chamasse seus advogados. Por sorte tudo ocorria rapidamente, aqui na Califórnia as mulheres tinham bastante voz, o que eu acho excelente, já que existe lugares do mundo onde uma mulher não tem justificativa.
Conversei um pouco com Veronica a agradecendo também por ter chamado o policial, ela me parece ser uma pessoa bastante alegre, espero encontra-la novamente. Segui Lauren até o seu carro, onde ela abriu a porta para que eu pudesse entrar, de forma cavalheira. Como agradecimento deixei um beijo em sua bochecha, para então partimos para a minha casa. O caminho foi feito de conversas rápidas, nada muito desconfortável, mas como eu ainda sentia insegurança, falava pouco. Normani não estava em casa, disse ela que havia saído com algumas colegas de trabalho, nesse caso eu ficaria sozinha, o que me deixa com mais medo.
—Obrigada por me trazer. —Agradeci quando ela estacionou seu carro em frente à minha casa.
—Não precisa agradecer, se puder ajudar, estarei ajudando. —Sorriu meigamente. —Você irá ficar bem? Sua amiga está em casa?
—Ela foi sair... —Contei envergonhada. —Ficarei sozinha...
—Quer que eu fique com você? —Perguntou já tirando seu cinto. —Não precisa responder, eu ficarei mesmo não querendo.
—Lauren, você deve ter coisas para fazer e... —Abriu a porta do carro para que eu pudesse sair, depois travou seu carro e me guiou até a frente de casa. —Você não precisa...
—Mas eu quero. —Cortou minha fala, abri a porta para que pudéssemos entrar. —E eu não tenho nada para fazer, juro.
—Você é uma mulher muito difícil.
—E você é uma mulher muito teimosa e desastrada. —Piscou um olho divertidamente.
—Tudo bem, olha, irei buscar uma roupa para que você possa tomar banho. —Ela assentia a tudo enquanto observava ao redor. —Eu irei tomar banho no meu quarto, entendido?
—Sim senhorita. —Prestou continência, me fazendo revirar os olhos enquanto ria.
Depois de deixar uma roupa para Lauren, sigo em direção ao meu quarto, onde peguei roupas quentes para então ir para o banho. Lavo meu cabelo deixando com que a água quente caísse sobre meu corpo dolorido. Alguns minutos depois me sinto mais aliviada, a água quente havia feito efeito em meu corpo, me deixando a disposição. Com o secador deixo meu cabelo somente com algumas mechas molhadas, para que pudessem secar naturalmente. De roupa confortável e cabelo cheiroso, jogo minhas roupas molhadas na cesta para lavar depois, passo um creme corporal pela minha pele, deixando ela ainda mais cheirosa, para então sair do quarto.
Lauren ainda estava no banho, com isso aproveitei para fazer um sanduíche para nós duas. Ao preparar tudo, caminho em direção à sala, onde fiquei assistindo toy story no sofá, esperando pela branquela. Um cheiro bom invadiu minhas narinas, viro a cabeça em direção ao corredor, encontrando ela com um sorriso tímido, roupas largas e cabelo molhado.
—Eu não sabia onde deixar minhas roupas molhadas. —Olhava para o chão envergonhada. —Então deixei dentro de uma cesta no banheiro.
—Tudo bem, depois eu te entrego novamente. —Fiz um sinal para que ela se sentasse ao meu lado, caminhou lentamente até se sentar no sofá. —Fiz sanduíche pra gente, não adianta negar.
—Já que estou aqui, por que não? —Pegou o sanduíche que estava num prato encima da mesinha, dando uma grande mordida. —Hmm, isso aqui está bom demais.
—Jura? É apenas um sanduíche...
—Sinceramente, isso está melhor que o do meu pai. —Falou com a mão na frente da boca, por estar comendo. —O que usou aqui?
—Ah eu não irei dizer. —Fiz uma feição misteriosa. —Ingrediente secreto.
—Eu percebo um sotaque em sua voz. —Observava atentamente o sanduíche, como se quisesse descobrir o que há dentro dele. —Latina, certo?
—Como descobriu?
—Tengo decencia cubana, bebé. —Piscou um olho de modo galanteadora.
—Além de ter uma mente incrível, belos olhos e um belo corpo, você ainda fala espanhol? —Fiquei embasbacada, ela apenas gargalhava concordando. —Cuál es su defecto?
—No tengo defectos, yo soy maravillosa. —Limpou as mãos e a boca quando terminou de comer, tento meus olhos voltados totalmente para os seus lábios. —Meus olhos estão aqui em cima, sabia?
—Perdón, digo, desculpa. —Ri um pouco sem graça, sentindo meu rosto queimar. —É que tinha uma sujeira.
—Sério? Onde?
—Bem aqui. —Mesmo não contendo nada, passei meus dedos de forma leve no canto de sua boca, fingindo estar limpando. —Prontinho.
—Você sabe que eu sei que está mentindo, certo? —Assenti tentando voltar minha atenção ao filme. —Mas de uma coisa você não sabe.
—O que? —Voltei meu olhar para ela.
—La próxima vez, limpie con su boca. —Usou do seu espanhol, não resisti e mordi meu lábio inferior, sentindo todo meu corpo esquentar. —Então, o que está assistindo?
—É só ler, não está vendo?
—Ouch. —Levou a mão no peito de forma dramática. —Fique fria, senhorita desastrada.
—Ah, não enche. —Empurrei seu ombro de forma divertida. —Me deixa assistir meu toy story.
—Tudo bem, eu deixo, venha cá.
Me puxou para que eu deitasse com minha cabeça em sua coxa, onde começou a fazer um cafuné gostoso em meu cabelo. Como era sábado provavelmente Normani voltaria somente no dia seguinte, já que ela irá dormir na casa da tal peguete dela, com certeza virá com ressaca e mau humor. A mão livre de Lauren fazia uma caricia em meu braço, me arrepiando por inteira com um simples toque. É tão bom ter alguém para me mimar, geralmente é somente Normani que faz isso, mas depois sempre me cobra.
Bocejei abertamente, sentindo meus olhos pesarem, se ela continuasse eu iria acabar dormindo no seu colo, mas parecia não se importar com isso. Sem que pude perceber meus olhos em algum momento se fecharam, minha mente já se desligava do mundo afora, e antes de pegar um sono profundo, ouvi Lauren sussurrar algo.
—Buenas noches, desastrada.
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