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História All my Senses - JiHope - A última página do livro


Escrita por: LanaAranha

Notas do Autor


AVISO: NÃO PULA, É ESSENCIAL LER ISSO AQUI!!!
No cap abaixo, há descrição de violência explícita, palavrões e menção à mortes! Se te deixa desconfortável uma leitura com tais abordagens, NÃO LEIA!
E, mais uma vez, reforço o dito em caps anteriores: se for prosseguir lendo, tenha em mente que os personagens (ainda que obviamente fictícios), são, sobretudo, HUMANOS, da exata maneira que busco os retratar. Falhos, passíveis de erro, propensos a agir em nome dos próprios sentimentos (cujos nem sempre são 'positivos' ou bonitos), racionais mas também 'emocionais, como de fato, somos.

A música de fundo à qual indico muito ser ouvida: https://youtu.be/E3x_dLVTEuA

Capítulo 12 - A última página do livro


Fanfic / Fanfiction All my Senses - JiHope - A última página do livro


Hoseok não era nenhum amador no que fazia. Não mesmo.
Ele levara seu tempo para montar aquele plano. Anos de pesquisas e buscas.
Sim, ele sabia exatamente o que faria, em cada pormenor necessário.
Meses antes, anonimamente, havia comprado o antigo armazém de uma cervejaria em Gamgnam. Mandara o reformar e convertera o lugar em um bar.
Com a ajuda de um velho conhecido colombiano, contratara algumas pessoas de total confiança do dito, para gerenciar o recente negócio. Uma mera fachada. De maneira escusa, Hoseok propositalmente deixara que seu gerente conduzisse uma refinaria de drogas nos fundos do bar. Porque aquele era o convite perfeito para aqueles pelos quais buscava.

Mas estes também não eram burros, claro. Nem perto disso.
E por esse fato, o Jung teve que ser ainda mais perspicaz que eles.
Durante seu curto período na América Latina, Colômbia, mais especificamente, em missão unificada com tropas norte-americana, por conta do combate às FARCS, ele não apenas matou, mas também estabeleceu contatos com algumas pessoas que achou útil ter ao alcance.
Desse modo, alguns meses atrás, antes mesmo de pensar em seu retorno à Gamgho, Hoseok já trabalhava os detalhes de sua missão própria, e foi quando recorreu a um desses contatos. Era só um garoto com não mais que quinze anos na época, filho de um dos líderes de um dos maiores grupos de tráfico organizado, e ao salvar a vida do garoto, o mesmo garantiu que teria para sempre uma dívida de vida consigo.
E então Hoseok a cobrou. Não do garoto, mas do pai deste. E alí estava seu passe, ou isca para atrair aqueles que procurava. A proposta de uma parceria, um novo lote, puro, concentrado e bruto, nada do produto sintético de processo químico lento com o qual estavam acostumados.

Obviamente, tal proposta os atraiu, ainda mais com a pequena ponte feita entre um chefe de um dos maiores cartéis do mundo.
E Hoseok, seria essa ponte.

Ofereça a eles uma proposta de mais dinheiro por seus típicos métodos sujos.
Ofereça a eles a proposta de novas drogas.
E eles virão como rêmoras, parasitas, que se prendem a um tubarão em busca de seus restos deixados.
Hoseok fez exatamente isso.
Cobrando uma antiga dívida de vida com um garoto filho de um poderoso chefe de um cartel colombiano, ele conseguiu moldar a proposta perfeita para atrair para si aqueles a quem caçava.

Eles faziam parte de uma máfia chinesa cuja especialidade era o tráfico de armas e drogas. Os autointitulados Facas da morte, em mandarim, e como muitos dos integrantes desse clã, que usavam codinomes peculiares assim, com claras menções à morte e crueldade. Haviam relatos que diziam ser pela forma como em tempos passados, e atuais, eles usavam lâminas embebidas por venenos letais em seus ataques, assim garantindo que se suas vítimas pudessem ainda sobreviver aos ferimentos infligidos, o veneno infiltrado em seus corpos asseguraria suas mortes, certas e dolorosas.
Agiam em países próximos, mas principalmente fora da Ásia. Ou ao menos tinha sido assim por muito tempo, antes de cerca de vinte ou mais mafiosos debandarem de vez, mais de dez anos atrás, para a Coreia do Sul, onde já agiam em locais estratégicos e específicos, como áreas mais pobres, com pessoas mais passíveis de se envolverem, e consequentemente também menos bem fiscalizados e protegidos. Mas então contra o domínio dos chefes e por conta própria, onde continuaram com o tráfico de drogas e também como agiotas.
Pelos anos subsequentes ao primeiro em que ingressou na carreira militar, mesmo quando sequer sabia bem o que procurava, Hoseok dedicou seu pouco tempo livre e os ainda mais escassos recursos que conseguia, buscando informações sobre tráfico e qualquer ligação com a máfia, em Busan. E como um companheiro e amigo desde seu primeiro ano naquele batalhão, Agust se ofereceu para o ajudar em sua busca, por mais inútil que o mesmo a achasse, quando pelas relutantes entrelinhas teve conhecimento desta. E depois disso, a habilidade exímia do pálido com tecnologia e dados, mais as viagens que faziam, mesmo em missão, Hoseok sempre esgueirando-se em busca de qualquer mínima pista, sempre juntando e destrinchando cada informação que adquiria, não foi tão difícil assim chegar onde estava.
Em uma área suja e pobre de Gamgnam. Era onde montara sua própria refinaria.

Descobrira que a maioria dos desertores daquela máfia chinesa infiltrados em seu país, sequer viveram muito mais depois de adentrarem ao solo coreano. E o Jung nem mesmo precisava investigar ou ler suas causas mortis para saber se tratar de uma retaliação, as fotos tiradas por peritos deixavam mais que claros os requintes típicos de uma máfia.
Mei Xiao, o companheiro do outro assassino de rosto marcado, a dupla que vez ou outra encontrava-se com a mãe de Jimin em suas cobranças, o primeiro sendo o que carregava uma faca nas costas, conhecido justamente pelo uso de armas brancas em suas mortes... Três anos antes, tendo espancado uma prostituta em um escuso bordel em Taiwan, após o programa, pelo que soube, na próxima ida ao local, procurando a mesma mulher, foi encontrado com uma órbita ocular vasada pelo salto agulha da dita, e várias outras perfurações feitas pela mesma arma, em suas costas e abdômen.
Era um a menos para Hoseok cobrar aquela dívida.

Mas ainda não havia acabado.
Ainda haviam nove daquelas pessoas, se é que podia chamá-las assim, com uma conta a ser paga.

Se tinham família, Hoseok não sabia, não dava a mínina. De qualquer modo, se eram pessoas minimamente melhores, então eles não eram dignos dessas famílias, suas mortes, um favor ao mundo e às mesmas.
Ele não se dera ao trabalho de verificar a fundo os detalhes de cada um, aquelas últimas informações precisas que Agust lhe dera, seus nomes e onde encontrá-los, era tudo o que precisava.

Enquanto carregava suas armas e injetava o gás CO² necessário para o manuseio da submetralhadora, as deixando prontas, no interior de seu carro, checando a mochila camuflada onte trazia mais munição e granadas, inevitavelmente lembrou-se, do que havia lido do relato do legista nos registros obituários dos Park.
Saem, era pequeno para a idade, lembrava bem disso, dos olhos grandes infantis, as bochechas gordinhas coradas e o corpo miúdo... Quando os bombeiros da cidade vizinha enfim chegaram, mais o tempo que levaram para conter as chamas e impedir que se alastrassem para as casas vizinhas, já não havia muito do pequeno garoto para ser enterrado.
Cerrou os próprios dentes com a lembrança, quase grunhindo de raiva.
E então deixou o abrigo do carro e caminhou para o bar cuja fachada discretamente luminosa, lia-se Última dose. Hoseok também podia ser tão criativo com nomes quanto eles.

Ele não era nenhum justiceiro com capa, ou qualquer coisa fantasiosa do tipo.
Ele era um assassino. E só.
Mas também não era nenhum sádico como eles.
Por isso Hoseok fora ágil, enquanto já os esperava chegar para o encontro de negócios que teriam, e tão logo teve a porta trancada pelo lado de fora por um de seus homens contratados, deixou que seu braço habituado ao peso, bem como as mãos familiares ao tato metalizado da pistola Beretta e a submetralhadora Mini Uzi que empunhava, após afastar as travas de segurança de ambas, conduzissem os tiros e as full rajadas automáticas certeiras dos projéteis que precisava que achassem seu caminho nos corpos espalhados abaixo das altas vigas onde se encontrava estrategicamente posicionado.
E na verdade, ele fora bem mais clemente com aquela horda imunda, do que deveria ser.
Hoseok ainda lhes deu tempo de buscarem suas armas quando acima deles, se fez presente, anunciando porquê, estavam alí, porquê, ele os colocou naquele lugar, todos juntos, sem qualquer possibilidade de fuga, já que se certificara que tivesse todas as possíveis rotas de saída muito bem vetadas.
Sua voz se propagava apenas o suficiente para ter a atenção deles, a visão de si, no entanto (do ponto estratégico nas vigas do teto do bar de fachada, sob a escuridão parcial do ambiente abafado e fechado, única luz provinda dos ínfimos fachos do luar lá fora adentrando por buracos no telhado que não se dera tanto trabalho de mandar consertar), era oculta.
E antes que o primeiro disparo de baixo viesse, em vão tentando acertá-lo sem sequer vê-lo, enxergando-os bem o suficiente pela luz vermelha fluorescente do ambiente, já em posição, deitado sobre a viga larga apenas o suficiente para reter equilíbrio para si e a submetralhadora, Hoseok estava pronto.
O mais esperto entre eles, ou o mais estúpido talvez, conseguiu se esgueirar para trás de um pequeno freezer tombado. Mas a verdade é que o Jung foi quem o permitiu tal feito.
O líder, e também seu fiel lacaio de face marcada, os deixaria por último.

O rosto deformado no qual partes da arcada dentária mostrava-se perpetuamente exposta, os cabelos ligeiramante longos preso como um antigo samurai, para de modo algum esconder as cicatrizes perversas em sua face, correntes grossas envolvendo ambos os antebraços e punhos... Hoseok nunca o tinha visto pessoalmente, mas era familiarizado demais a esses detalhes, dificilmente esquecíveis.
Deathface, era como aquele homem era chamado. O codinome tendencioso uma referência óbvia, o Jung supunha, não só ao rosto desfigurado que podia parecer realmente assustador (não para ele, certamente), quanto ao que fazia, não apenas como cumprimento do seu trabalho, mas por puro prazer. Um assassino sádico e perverso.
Sabia-se de suas cicatrizes, que fora a própria mãe quem lhe fizera, ao derramar soda cáustica e mais algum solvente destrutivo em seu rosto, como punição pelo assassinato do irmão gêmeo com a esposa grávida, quando estes dois últimos pretendiam deixar a Ásia e também a máfia da qual ambos os irmãos faziam parte. Tendo sido incumbido, pelos mesmos chefes da mesma organização criminosa, de assassinar o próprio irmão, considerado fugitivo e traidor, Deathface não hesitou em cumprir com a ordem. Diziam ainda que a mãe deste, sabendo que também de modo algum seria polpada, atirou na própria cabeça logo após o ataque a ele.

O segundo homem, de longe, não podia ser mais diferente do primeiro. Rosto limpo e até mesmo jovial ainda, aparentando uns trinta anos no máximo, cabelos bem cortados e roupas sociais provavelmente caras. Mas bastava conhecer seu nome, Zhao Chen, para saber que era ainda mais monstruoso e pervertido que o outro, seu cão fiel.
Uma pesquisa mais aprofundada dizia que o Zhao era filho bastardo de um dos chefes das ramificações da máfia chinesa, mas nunca realmente reconhecido como herdeiro ou mesmo ocupando posição de relevância na mesma. Teria sido essa a razão para deixar sua servidão ao clã Facas da morte, roubar produtos e dinheiro da mesma, ao fugir da China para a Coreia do Sul.
Claro, as informações sobre aquelas pessoas variavam um pouco conforme os lugares em que se buscava. Podiam ser só especulações e boatos. Isso, no entanto, não interessava a Hoseok. Tudo, confirmadamente genuíno por seu próprio testemunho, o que precisava saber, ele já tinha consigo.
Sabia com o quê, e como aqueles homens trabalhavam. Traficantes de armas e drogas na maioria das vezes, mas também atuavam como agiotas, emprestando dinheiro para quem precisasse, sob juros exorbitantes. Ao fim do prazo de pagamento, como já esperado, seus devedores não tendo talvez metade do que deviam, eles confiscavam quaisquer bens que possuíssem e marcavam outro retorno. Com o fim do novo prazo, ainda não recebendo o que lhes era devido, obrigavam essas pessoas a guardarem suas drogas e venderem-nas, não importando como. E, novamente, como já facilmente se poderia concluir, o fracasso dos mesmos era sempre maior que êxito, fosse por temer a polícia, por serem descobertos pela mesma, por não acharem onde traficar ou por apenas temerem tentar fazer, a cobrança dos outrora integrantes da máfia chinesa, que naquele ponto não se intitulavam por nada, vinha pelo assassinato das pessoas que lhes devessem. Não polpavam ninguém. Matavam homens e crianças, agrediam e estupravam mulheres, levavam algumas como prostitutas em pontos sujos e escusos que tinham para tais atos, outras vezes apenas as matava, depois de violadas e quebradas. E, Zhao Chen, costumava se encarregar pessoalmente do estupro de suas vítimas.

Por isso, por tudo, por Jimin e sua família, morta por ordem e cumprimento daqueles dois, Hoseok tinha certeza, ele os mataria.
Os quebraria.
Com agilidade natural e habitual, como respirar, saltou ágil do teto para o balcão alto ao qual buscara para facilitar sua descida, as duas armas deixadas para trás, quando só havia ainda respirando, vivos, os exatos dois homens aos quais pretendia matar com suas próprias mãos.

Jung Hoseok não era considerado o melhor atirador da Servs, Namu na segunda posição, sem motivos.
Além de J-Hope, antes mesmo de integrar sua equipe, ele também era chamado Teleguiado, por muitos outros soldados e alguns superiores mais próximos e com um senso de humor mais leve. Ainda que o apelido não fosse realmente uma brincadeira, mas sim uma referência genuína à sua precisão exímia em atingir seus alvos em disparos com qualquer arma de fogo possível.

E também sem suas armas, era perceptível, aqueles caras eram bons de briga.
Só que Hoseok não era apenas bom de briga, pelas muitas que teve ainda criança e na adolescência, como um órfão dividindo com outra órfã pouco mais velha, a responsabilidade por si mesmo desde muito cedo, ele teve que aprender a os defender. E brigar como um gato de rua fora parte inevitável e necessária disso. Mas não somente, pois logo após seu primeiro ano de recrutamento, aprender diversas técnicas de defesa pessoal em variados estilos de artes marciais, em instruções de luta, o fez ainda melhor como um soldado, um combatente.

Foi rápido, tão logo Hoseok saltou para o chão e se posicionou para receber os golpes dos seus dois últimos adversários, cada um o cercando como podiam, ainda que um tanto afastados, e o desenrolar ágil da corrente em torno da mão e antebraço de Deathface foi ágil em acertá-lo.

Chiou de dor e raiva ao sentir o peso abrúpto e excruciante dos elos de ferro da corrente colidirem certeiros contra a lateral do seu corpo.
E por um momento, Hoseok quis muito buscar suas armas pouco antes descartadas, e terminar de esvaziar o carregador da mini Uzi contra aqueles dois malditos fodidos. Mas enquanto, naqueles mínimos segundos, normalizava sua respiração, e tencionava o corpo, pronto para responder aos próximos golpes que viria, ele se obrigou a deixar os pensamentos de usar qualquer meio para destruí-los que não seu próprio corpo.
Outra pessoa com uma compleição física mais frágil que a sua, teria tido pelo menos duas costelas fraturadas, ele não tinha dúvidas. Mas no seu caso, pelo preparo físico e agilidade em se desviar do açoite, ainda que mínimo, apenas inchaços roxos e uma dor horrível perduraria em si por alguns dias.
E naquele momento, quando o segundo golpe veio, sobre si, ele se desviou ainda mais célere que o metal. Com a proximidade de ambos os assassinos, Hoseok mantendo-se atento em cada movimento destes, ele moveu-se contra aquele que julgava um oponente mais à altura. Chutando o de rosto deformado no estômago uma vez antes de quase o atingir na garganta, mas ter seu tornozelo seguro pelas mãos do dito e receber de volta um chute em seu joelho esquerdo o fez fraquejar antes mesmo de ser empurrado contra o chão. Bem perto de onde Zhao Chen já o esperava traiçoeiro com um punhal em mãos.

Mas ainda caído ao chão, Hoseok não teve muita dificuldade em usar as pernas para uma rasteira no mesmo, que cambaleante veio furioso sobre si, apenas para o Jung interceptar seu ataque ao torcer o pulso alheio com uma mão, e a destra o socar no rosto repetidamente, até empurrá-lo violento para o lado.
E rápido como um gato se colocando outra vez de pé, segurou nas duas mãos a extremidade da corrente pesada e puxou-a com força e raiva para si, o outro portador não a soltando e com isso estando mais perto, Hoseok soltou suas mãos para socar o estômago e garganta do homem, que pouco o afetou com as tentativas toscas, pela dor e privação de ar da garganta atingida, de o socar de volta. E segurando entre as mãos a cabeça alheia, os dedos fortes pelos cabelos grandes, empurrou-o mais para trás com o impulso do seu próprio corpo acompanhando e colidiu pelo menos três vezes o crânio de Deathface no concreto duro de uma parede. Largando-o com tudo no chão, no exato momento que foi novamente atacado pelo outro algoz.

E no que o homem tentou enfiar o punhal longo no rosto de Hoseok, ele o interceptou agarrando-lhe o pulso e torcendo forte, e com a mão livre arrancou a lâmina da mão alheia e no mesmo movimento, enterrou-a até quase o cabo no dorso alheio. E enquanto aquele urrava de dor e emitindo mais uma enxurrada de xingamentos em um misto de chinês e coreano, tentando arrancar a lâmina de si, sem dar tempo a isso, Hoseok o golpeou com o cotovelo no rosto, a cartilagem do nariz se partindo sob o osso do seu braço. No mesmo momento que Deathface, já de pé outra vez, após a colisão do próprio crânio contra a parede, expressão enfurecida e com vestígios de sangue na lateral do rosto e cabeça, avançava sobre si, a mesma grossa corrente que o atacara antes, e mais uma faca curta em mãos. O Jung desviou ágil do novo açoite rumo a seu rosto, movendo-se para o lado. Logo em seguida devolvendo a cortesia de antes, chutando-o num joelho, e com um giro no ar, chutou-o no rosto, e mais um no peito, fazendo-o cambalear para trás, mas não sem antes ele sentir o rápido corte atravessar o tecido grosso de sua calça e rasgar sua perna.
Também sentiu-se cambalear sobre a perna direita atingida. Sabia não ser um corte profundo. Mas doía para um inferno.

Ele também não conseguiu se virar a tempo de impedir que Zhao Chen o golpeasse com a lâmina já tirada da mão rasgada e flácida jorrando sangue, mas por ser claramente destro, e ter sido essa a mão que Hoseok inviabilizou, o corte que ele tentou lhe infligir não foi preciso. O descontrole do ódio e medo, muito provavelmente, nublando os sentidos do homem, o que poderia ter sido um corte fundo e letal em sua coluna, foi um deslizar torto pela resistência do tecido de couro de sua jaqueta, nem mesmo superficialmente atingindo seu antebraço, ao lateralmente se virar e erguer o membro para se proteger, um milésimo de segundos depois de mais sentir que ouvir, a aproximação do outro.
Um novo e ainda mais enfurecido e também desajeitado ataque veio sobre si. Mas apesar dos ferimentos em seu corpo, a dor em alguns distintos pontos que sentia, Hoseok desviou-se hábil, até conseguir chutar o punhal da mão alheia. E foi então que sentiu seu pescoço ser seguro por trás pelo outro assassino.

Chen se aproximou mais, o rosto inchado e quase inteiramente vermelho com sangue pelos golpes do Jung, ofegante e com um olhar assassino, já tendo apanhado de volta o punhal e o trazendo na mão esquerda.
Mesmo sentindo-se sufocar, o ar lhe faltar, e sua cabeça zonza com pontos pretos já dançando em sua visão, o deixou se aproximar, a lâmina erguida e impulsionada direto para seu peito, em um átimo de força, porque não podia, e não queria morrer... Hoseok usou ambas as mãos que antes tentavam arrancar o grilhão dos braços esmagadores do seu pescoço, e cortando fundo suas palmas, arrancou o punhal da mão alheia. E num movimento impossível de antecipar e conter, já que mantinha ambas as mãos ocupadas em o enforcar, ele enterrou fundo a lâmina atrás de si, contra o estômago de Deathface.

E com isso uma bagunça de novos grunhidos de dor e xingamentos de ódio e movimentos de ataque se iniciou. O aperto em seu pescoço, ao puxar para fora o metal cortante de ponta curva, causando ainda mais dor e estrago do que fez ao entrar, afrouxou o suficiente para Hoseok soltar-se de uma vez, ainda meio tonto pela privação de oxigênio de pouco antes. Mas pouco teve de tempo para se recuperar, tão logo cambaleou para frente e para fora das mãos sádicas do assassino de rosto deformado, o punho bom do chefe deste se chocou contra o osso acima do seu olho, o fazendo cambalear uma vez, no exato momento que o líquido morno e cúprico cobriu-lhe parte da vista.
Mas mesmo quando sua visão ficou um tanto mais turva, a cabeça quase girando, ele cerrou os dentes com a dor e, antes que um novo soco atingisse seu maxilar, fechou a mão esquerda com toda a força e destreza que lhe restava, em torno do punho fechado, segurando-o. E brusco e ágil o arrastando para perto, onde a destra erguida empunhando firme a lâmina já pegajosa com a mistura de flúidos sangrentos, recebeu com tudo o queixo do outro, forçando-a por entre ossos e carne, atravessando desde a parte de baixo até o topo da cabeça.

Um rugido animalesco de ira, dor, ou que quer que fosse, atravessou seus ouvidos bem quando empurrou para o chão o corpo sem vida, com o rosto empalado ainda o encarando com órbitas sanguinárias vazias que já não podiam mais ver.

O último dos assassinos, aquele que Hoseok conhecia bem, mesmo nunca antes daquele dia o tendo visto pessoalmente, que sabia ter sido o assassino da família Park, mesmo ferido como estava, veio para cima de si com tudo.
E tem aquele outro, com umas correntes estranhas nas mãos... o rosto marcado... é assustador! O Saem sempre quer chorar quando vê ele!
Hoseok estava pronto.
Uma última vez, pela família perdida de Jimin, por ele, Hoseok destruiria aquele que destruiu a vida do seu garoto.

E quando Deathface colidiu com seu corpo, quase o levando ao chão, Hoseok se manteve firme sobre suas pernas estratégica e instintivamente flexionadas, recebeu o peso do corpo alheio em suas costas, ele outra vez tentando enforcá-lo, a corrente nas mãos dessa vez.
E com as próprias mãos esguias e firmes apesar do sangramento, enterrando-se no antebraço alheio e parte de trás da gola da camisa alheia, erguendo a massa muito mais pesada que seu próprio corpo magro, sobre si, Hoseok o jogou no chão, colidindo seus joelhos contra o dito no processo. Envolvendo suas mãos em volta da corrente ainda entremeada nos punhos do outro, a respiração pesada e arfante por entre os dentes, o Jung o arrastou brusco para trás, e sob as cotoveladas e tentativas violentas porém ineficazes de chute, parcialmente sobre seu próprio corpo. Com alguma dificuldade, mas ferrenhamente decidido, usando as pernas para uma chave nas coxas do oponente, Hoseok empregou outra chave no pescoço grosso do homem, a corrente apertando contra a carne pela volta que conseguiu fazer com a inversão de seus braços naquele movimento.
E mesmo sob os arranhões em suas mãos e braços, o retorcer violento e desesperado aos poucos se convertendo em espasmos débeis, Hoseok não cedeu.

"Q-quem... vo-cê... quem é... você..." O homem ofegou quase inaudível, sufocado, em seu aperto férreo.

"Não acho... que vá lembrar disso... no inferno." A voz grave ressoou rouca e meio entrecortada pelo cansaço e ainda certa dificuldade em respirar corretamente, por toda a força empregada naquele ato e a adrenalina de antes e atual correndo efervescente em suas veias, seu pulsar, seu coração, seus sentidos. "Mas pense que eu sou sua única esperança... de uma morte rápida." E, pouco mais de um segundo completo, suas pernas ainda firmes em manter a imobilidade dos membros inferiores alheios, o sonoro estalo de vértebras se partindo procedeu sua fala, quando Hoseok apertou um pouco mais e moveu seus braços enrigecidos com a corrente em torno do pescoço do assassino com rosto de morte, que não voltaria a matar outra vez.


...


O sangramento em sua testa já tendo coagulado, ainda que a mescla grudenta de sangue e mechas de seu cabelo grudassem alí em uma quase crosta obstruindo parte da visão do seu olho esquerdo, Hoseok sequer se importou quando manquejou para fora do pequeno estabelecimento. Seu joelho, também esquerdo, ainda não havia enrigecido, nem mesmo inchaço parecia visível sob a calça jeans justa, mas o latejar insistente e irritante lhe dizia que logo mais o faria. A perna direita, embora doesse um bocado, parecia não sangrar mais. As palmas das mãos cortadas e o interior dos dedos, no entanto, doíam de um jeito quase insuportável em um latejar ardente, e ainda sangravam um pouco, filetes pingando em gotas esparsas sobre o chão sujo aos seus pés, pela falta de imobilidade e qualquer amarra para estancar.
E ainda assim, sua condição física atual pouco ocupava seus pensamentos.

Uma vez, meses depois da primeira missão que os faria a Servs, depois de mais uma das recentes crises de ansiedade que vinha tendo naquele período, mesclada ao horror do despertar de mais um pesadelo sobre os rostos daqueles que foi ordenado a matar. Quando nem mesmo a familiar e arrastada voz de Agust conseguia o acalmar, mas somente o toque de seus próprios dedos trêmulos no pingente amarelo desgastado contra seu peito, o ajudava a se situar de onde estava, com quem estava, que guiava sua respiração de volta, a normalizava, tal como seus batimentos arrítmicos que o fazia pensar estar tendo um infarto...
Naquela mesma madrugada, ele buscara a Namu em um pedido quase relutante e ainda assim, desesperado, por ajuda. Queria entender como o outro fazia para lidar com tudo aquilo, como ele conseguia lidar com a morte.
Porque, a cada um dos cinco, aquela missão que os tinha juntado em uma equipe, havia sido a primeira na qual tiveram ordens claras e diretas para matarem pessoas, pela primeira vez.
Criminosos, corruptos, milicianos e assassinos. Ainda assim, pessoas.

E, talvez por terem passado boa parte da adolescência em convívio e disciplina militar, Namu e Jinnie, Comandante e, Cabo na época, eram os que lidavam melhor com todos os recentes acontecimentos, os orientando a se manterem firmes e sãos.
O mais velho do grupo sendo sempre paciente e surpreendentemente leve, com sua personalidade descontraída, ao máximo mantendo um ar de normalidade entre eles.
Enquanto o líder, mesmo não sendo tão inclinado a longas conversas como o outro, era firme como uma rocha na qual, mesmo sem precisar dizer, sempre poderiam se apoiar, quando tudo parecesse caótico demais, quando sentissem estarem se afogando.
Agust, calado e resoluto como sempre era, mesmo se estivesse, não transparecia nada de seu possível abalo. E porque o conhecia a mais tempo, ainda que não muito, Hoseok se sentia mais confortável em buscar equilíbrio e respostas com ele, ainda que apenas seu silêncio e, seu corpo quente e nu sob o seu próprio, seus braços magros mas surpreendentemente fortes quando abraçava-lhe as costas ou tentava lhe puxar os cabelos muito curtos, lhe forneciam os mesmos.
Vante, bem, com os impulsos fortes, quase agressivos, lidava com suas primeiras mortes com aspereza e fúria, agindo como se não se importasse, como se não fizesse diferença alguma para si, machucar outros, quando ele próprio era tão danificado por dentro. E porque sabia que o garoto não deveria se tornar o que por vezes demonstrava ser, Hoseok e os outros, mesmo em seus dilemas e dores pessoais, se esforçavam em agir e parecer ao mais novo, o mais saudável que conseguiam, naquelas circunstâncias torpes.
E mesmo por isso, quando tinha momentos como aquele, onde se sentia cada vez mais puxado para baixo, para um buraco negro e profundo de horror e insanidade, ele o fazia o mais distante e silenciosamente possível.

Naquela noite, porém, depois de sozinho conseguir reunir o máximo de equilíbrio em si mesmo, o Jung procurou seu líder.
Perguntara a Namu como ele fazia para lidar com aquilo. Como ele conseguia lidar com os fantasmas de suas primeiras mortes.
"Você nunca esquece realmente. Não importa quantas vezes mais façamos, porque nós vamos fazer, você não esquece. Mas como tudo sobre nós, sobre a vida, em algum momento do caminho, eles, esses 'fantasmas', se juntam e se perdem entre as tantas lembranças que fazemos... e então serão apenas espectros, como nós mesmos vamos nos tornar um dia.
E, J-Hope... as coisas só são importantes, pela importância que damos à elas."

E desde então, era o que Hoseok fazia.
Ele não esquecia um único rosto daqueles a quem tirava a vida. Sequer era possível.
Mas, como seu Comandante tinha lhe dito, eram apenas lembranças do que faziam, não de quem eram de verdade.
Logo, em alguma parte de sua consciência, por mais que não desbotasse tão cedo, nem de longe esses espectros de lembranças de morte, eram tão sólidos quanto as memórias de si mesmo, de quem o tocou para ficar, para iluminar, não para apenas esculpir cicatrizes e sombras em si.

Cerca de um metro após ter se afastado do até então bar, quase que em inteiro breu, a porta pela qual só alguns poucos minutos passara, numa mão machucada ambas as alsas da mochila comportando então suas armas apanhadas, mas antes de devidamente colocá-la de volta nas costas, buscou duas das granadas afegãs que encomendara meses antes, para essa exata finalidade, alí trazidas. E puxando os pinos de cada uma com os dentes, sem um último olhar para trás, Hoseok lançou os explosivos por sobre os ombros, sabendo que em qualquer parte interna do estabelecimento onde caíssem no local banhado pela variedade alcoólica abrigada alí e da qual minutos antes fizera questão de derramar boas garrafas por sobre os corpos mortos, em segundos, as explosões se alastrariam até que as chamas impiedosas consumiriam todo o imóvel com tudo o que havia dentro. E das cinzas e destroços que sobrassem, não tendo sido seu próprio nome que usara para a compra do lugar, mas o de um de seus contatos colombianos, tal cenário pareceria apenas mais um típico acerto de contas entre máfias do tráfico, isso, supondo que a polícia intervisse (antes de obviamente arquivar o caso que certamente tomariam com um favor à justiça e ao país), já que o mero nome de um traficante latino, entre pelo menos alguns milhares pouco específicos, estava um pouco além da jurisdição policial sul-coreana.
E ah, ele também se certificaria de chamar bombeiros para impedir que o incêndio fugisse para as proximidades.
Ajeitando nos ombros a mochila, Hoseok continuou seu caminho para longe dalí, para longe da destruição provocada pelo fogo que outra vez, como cinco anos antes, queimava.


...



Tão logo concluíra sua missão, Hoseok retornara ao outro imóvel que comprara naquela região e que logo mais venderia à outra pessoa, pela falta de utilidades futuras naquele distrito. E sua primeira compra local, bem, meio que estava totalmente inviabilizada agora que haviam apenas destroços incinerados sobre um terreno pobre e vago.
Mas para seus planos recém postos em prática, uma casa naquela região tinha sido perfeita, ainda mais pelo bairro pequeno e tranquilo de vizinhança pouco curiosa do local.
Era quase amanhecer quando chegara à casa há não muito comprada, tendo vindo dirigindo o carro também recém adquirido que, possivelmente nem mesmo depois de mandar lavarem, sairiam as manchas vermelhas de seus ferimentos, deixadas no banco de couro e piso do automóvel.

Depois de um banho longo e um tanto doloroso pela água morna ardente contra seus machucados, ele enfim sentou-se na cama, toalha marrom na cintura e o kit de cuidados médicos (já bem antes preparados para aquele já esperado momento), do seu lado. Começou pelos curativos das mãos, os quais, mesmo ambas estando igualmente cortadas nas palmas, pela prática em cuidar dos próprios machucados muitas vezes durante o serviço militar (vezes por necessidade e outras mais por opção própria, quando não queria incomodar os outros), foi até prático e breve em jogar iodo nos cortes, cobri-los com gaze nas palmas e enrolá-las com esparadrapo. Os cortes dos dedos, menores, apenas passou uma pomada analgésica, os deixando abertos.
E então seguiu para o corte da perna, finalmente o avaliando com mais cuidado, notou não precisar de pontos, e estava grato por isso. Odiaria ter que perfurar a si próprio com uma agulha e suturar sua pele enquanto tremia de dor e relutância, como uma uma vez antes teve que fazer de improviso no peito de Agust, durante uma missão não muito agradável da Servs, em que precisaram se separar e os dois ficaram juntos, mas felizmente, mesmo com os contratempos, bem sucedida.
Descartando essas lembranças, limpou o corte com mais iodo e em sequência derramou mais uma camada de pomada analgésica e cicatrizante na região.
Por fim, tomou em uma dose a mais o analgésico que ajudaria no desinchar da lesão em suas costelas, vestiu a peça íntima, um calção de moletom por cima, e se enterrou sob o cobertor grosso, não tardando muito a ser envolto pela sonolência, tanto de cansaço quanto pelo efeito relaxante do medicamento.


...


No escuro da noite

As estrelas iluminam o céu

Nós as vemos voar livres

Como você e eu


Park Joowon. Song Chae-Mi. Park Saem.

O pai de Jimin não se parecia muito com ele. Era um homem alto, corpulento, de feições fortes, quase duras, a barba cerrada e sombrancelhas naturalmente franzidas fazendo-o parecer rígido. Sua personalidade, no entanto, era realmente o oposto, com um rosto sorridente, esbanjando bom humor e gentileza. Nisso, eles se pareciam muito.
Das vezes em que fora à casa de Jimin, convidado por ele e nas realmente poucas que aceitara (porque não se sentia muito confortável com os olhares duros e julgadores da mãe dele), lembrava-se do Sr. Park contar-lhe histórias, de pescador, como o próprio dizia, mesmo não sendo um, e também as suas próprias, sempre de forma leve e com um sorriso grande no rosto. Mesmo aquelas sobre pessoas queridas não mais presentes, ele nunca as contava com tristeza. Havia apenas uma animação genuína e clara apreciação quando falava do avô de Jimin, seu pai, um homem vindo de Gales, que conhecera e se apaixonara por sua mãe durante um festival de rua para multitalentos no centro urbano de Busan, enquanto ela o assistia se apresentar com sua Companhia de teatro formada por pessoas de diversas nacionalidades. Assim escolhendo as praias de Busan, o sobrenome e o amor da Sra. Park.
Fora do avô, que Jimin herdara os olhos com nuances de azul, o pai do garoto disse ao Jung uma vez, com orgulho evidente enquanto bagunçava os cabelos do filho, que lhe escondia os ditos e tão admirados olhos enquanto sorria ao fechá-los... Depois, batendo de leve no músculo do braço grosso e no próprio peito, como o King Kong, com o habitual humor leve e alegre, dizia ser também de seu pai que ele mesmo herdara os músculos, altura, e o exato senso de humor, já que antes de ser pescador alí, o velho galês tinha atuado sobre palcos como um verdadeiro comediante.
Jimin não conhecera esse avô, já que o mesmo morrera pouco antes de seu nascimento, em decorrência do câncer nos pulmões e garganta, ocasionado pelo vício em cigarros desde muito cedo. Mas sempre que seu pai falava dele, do quão incrível e alegre o velho era, e o quão feliz e ansioso estava pelo nascimento do primeiro neto de seu filho único, atento demais, familiar, às expressões de Jimin, Hoseok via o quanto o garoto admirava o ancestral estrangeiro presente naquelas histórias e em mínimos traços seus.
A avó dele, não muito depois da morte do marido, também falecera, enquanto dormia. De um infarto fulminante, provavelmente. E à esta, Jimin conheceu, mas pela pouca idade que tinha quando a perderam, não tinha muitas lembranças da avó, além daquelas sobre o cheiro tão bom de sua comida, que ele sentia sempre que a visitava.
O Sr. Park também disse ao Jung que as próprias habilidades como cozinheiro vinham dela.

E era por essas histórias, essas lembranças felizes de uma família que não era sua, mas que, estranhamente, o fazia sentir exatamente como seria ter uma, que Hoseok gostara tanto do pai de Jimin. Aquele que fisicamente não se parecia em nada com o filho, mas em personalidade e sorrisos, eram tão semelhantes.

Já a mãe de Jimin, era sim bastante parecida com ele. O corpo miúdo do garoto, a pele tão clara, o rosto redondo de bochechas notavelmente cheias, os olhos pequenos, os cabelos muito escuros, eram réplicas quase exatas desses mesmos detalhes da mais velha. Mas eram apenas essas as semelhanças entre mãe e filho. Já que por todo o tempo que a conheceu, Hoseok de fato não lembrava de tê-la visto sorrir uma única vez, e mesmo a fala dela, era algo raro em sua memória.
Era uma mulher de fato pequena, porém sua seriedade constante e pétrea, o olhar duro e frio, a fazia parecer bastante intimidadora... Quando Jimin era o completo oposto disso, em seus sorrisos fáceis e contagiantes, a fala solta e desenfreada, caloroso, receptivo, doce, em cada mínima ação.
E talvez fosse pelo fato de que não via ou falava com a própria família por tantos anos, desde que fugira de um casamento arranjado e de sua casa em Ilsan, refugiando-se alí mesmo, em Gamgho, até conhecer o homem por quem se apaixonaria e formaria uma família, que a mãe de Jimin parecia sempre tão frígida. Porque ao mesmo tempo que o fascinava, lhe doía um pouco ouvir histórias legais de famílias igualmente incríveis, quando ele próprio não tinha muito disso... Hoseok achava que talvez fosse essa a sensação que a mulher mais velha sentisse.

O irmãozinho de Jimin, não havia muito o que discorrer. Pequeno, gordinho e fofo, como crianças de quatro anos costumam ser. Mas ah, ele também não era agitado ou barulhento, era bem tímido, na verdade, quieto. Talvez tivesse puxado à mãe.
Hoseok lembrava de Jimin afastar os fios pretos e lisos dos olhos grandes e curiosos, porém envergonhados, do pequeno garotinho, e de o mesmo se esconder atrás do irmão, agarrado em suas pernas sempre que alguém tentava se aproximar para o apertar e cheirá-lo, naquelas poucas vezes que o Park o levava para as batalhas de dança das quais participavam.
Lembrava também de ouvir a voz infantil chamar pelo irmão quando queria algo ou ficava com medo... Ou mesmo os murmúrios baixinhos de seu próprio nome soando errado, quando o Jung lhe dava balas ou alguma pulseira de conchas e vidro marinho, das que Jiwoo fazia para vender.

...


"Mimi-'rung? Mimiii!" O menininho bochechudo chamava pelo irmão enquanto o seguia com suas passadas curtas tão menores. "Mimi! Me pega, seu moleque! Me pega!" E então o piralhinho fofo se zangava em ainda estar sendo ignorado pelo mais velho, chamando o outro como a mãe de ambos, quando irritada ralhava o termo com os dois.
Hoseok não podia evitar o próprio riso. O mais velho dos adoráveis garotos bochechudos, após lhe desferir um tapa ou empurrão em seus ombros por estar rindo do que lhe acontecia, também acabava por rir das exigências e palavras inventadas do pequeno caçula. E então ele erguia o irmãozinho nos braços, pendurando-o na cintura enquanto atacava as orelhas e bochechas pequeninas com mordidas leves das quais o menor fingia recusar ao empurrá-lo, mas em seguida oferecia uma orelha ou outra... "Morde 'ati!" Pedia entre risadinhas descontroladas, e antes que o mais velho pudesse tocá-lo com os dentes, encolhia-se para longe na posse dos braços alheios.

" 'Hosk-'rung, Mimi não quer me levar junto!" Depois de deixado de volta no chão, puxando levinho alguma das pulseiras de conchas pendendo frouxas em seu pulso, o Park pequenino vinha com aqueles enormes olhos fofos, reclamar do irmão para si. E bastava um olhar para aquele ser tão pequeno e adorável em sua frente, chamando o seu nome do próprio jeitinho e pronúncia infantil, Hoseok não resistia ao impulso de ele próprio tomar em seus braços o menininho e seguir com ele, o irmão deste em seu encalço, para onde quer que planejassem ir.

...


Ele não conhecera um Park Jimin criança, e ainda assim, achava que o pequeno Saem o lembrava muito o próprio Jimin.
E talvez o mais novo dos Park, ficasse mesmo parecido com o irmão... Se o garotinho tivesse tido a chance de crescer.

Mas nunca haveria certeza quanto a isso.
Agora só haviam lembranças.
Lembranças e suas lápides cinza.
Eram pequenas e simples, como a maioria em volta.
Apenas os nomes e datas de nascimento e falecimento.

Pai. Mãe. Irmão. Eram as únicas inscrições que diziam mais deles que além de nomes e datas com os quais ninguém mais parecia se importar.

Foi antes de um ano completo no Exército, Hoseok juntara as poucas economias do que ficava do próprio salário, e no breve período que era liberado para irem para casa, por apenas dois dias de volta à Busan, depois de tomar conhecimento do que havia acontecido, surpreso, abalado e totalmente despreparado para procurar Jimin, órfão e, desmemoriado com estava, como descobrira pelos burburinhos de muitas pessoas de Gamgho... Ele pediu que gravassem as únicas três palavras sobre os nomes alí já informados (provavelmente mandados fazer pela prefeitura, agindo com o mínimo de decência em sua obrigação, já que sempre o faziam por quem não tinha família ou não pudesse pagar).
Na época, era só pelo que ele próprio podia pagar, mas era também porquê, não se sentia no direito de se meter. Não era da família. Não tinha qualquer direito de se importar. Depois de ter deixado Jimin, não se achava digno de tal...
Mas a verdade é que ele se importava sim. Então, mesmo depois de deixar novamente a cidade deles, há quilômetros dela, apenas tendo procurado pelo celular alguém que trabalhasse com sepulturas e lhe dando as informações sobre o local onde estavam enterrados, seus nomes, e também as únicas inscrições necessárias... No momento atual, o Jung entendia.
Jimin não precisava de mais palavras e floreios. Saber que eram sua família alí, seria suficiente.

Porque mesmo que ele não lembrasse, e talvez nunca viesse a lembrar... e talvez fosse até melhor assim, para que não doesse tanto... De algum modo que não podia explicar, Hoseok sabia que, se algum dia Jimin quisesse visitar o local, bastaria ler aquelas três palavras, e ele sentiria que não esteve sempre sozinho, que teve uma família, e que foi amado por ela.

E quando ele chorasse, Hoseok se certificaria de lhe mostrar, todos os dias, que ele realmente não estava só, que seria sua família então, e que o amaria muito e para sempre.

"Tá tudo bem agora, Sr. Park e Sra. Song. O Jimin está seguro. Eu tô cuidando dele..." Sentado sobre a grama alta orvalhada, há muito precisando ser aparada, com pequenas ervas crescendo (mas que claramente não seria tão cedo), diante dos dois sepulcros maiores, menos de meio metro da última e ainda menor lápide, pelo pouco espaço entre um túmulo e outro por toda a grande planície verde, Hoseok não se importou que não houvessem respostas para sua voz. "Ouviu, pequeno Saem? Seu hyung está bem. Eu vou cuidar sempre dele. Eu prometo." Finalizou, quando sentiu o aperto em sua garganta intensificar, deixando, ao se erguer, em cada uma das três lápides, flores brancas e amarelas.
Hoseok ouvira da vendedora de flores, provavelmente por sua expressão fechada e roupas pretas (ainda que ambas lhe fossem apenas habituais), ao procurar por flores brancas, antes mesmo que ele dissesse mais, deduzira ser para seu luto. Já que explicou numa voz calma e cuidadosa que crisântemos eram as flores para os mortos, para os presentear e honrar.
Gerânios não tinham um significado semelhante, mas eram bonitas, alvas e perfumadas.
Hoseok as chamou de saudade.
Gerânios amarelos, ele as levou também, como símbolo de esperança.

Todos nós somos solitários às vezes

Mas eu andaria mil milhas

Para ver seus olhos

Você não está sozinho, somos família


Um dia havia se passado desde a noite anterior, quando enfim cobrou a dívida que tinha com os assassinos da família Park.
Chegara bem cedo de volta à Gamgho, o sol ainda despontando tímido ao Leste.
Naquele momento, porém, o astro luminoso já brilhava vívido em seus raios dourados e mornos.
E mesmo quando seus olhos subitamente arderam, seu peito e tórax pareceram comprimir seus pulmões, dificultando-lhe o trânsito de ar, um doloroso e já conhecido apertou em sua garganta, ao começar a seguir para onde precisava voltar, ele não chorou.
Quando cruzou a saída de acesso ao cemitério, o sol lhe aqueceu a pele.
Parecia que apenas minutos haviam passado desde que adentrou ao lugar. Talvez tivessem sido horas... Ele não se importara em contar.
Tampouco tinha qualquer arrependimento pelo que fizera menos de quarenta e oito horas antes.
Não traria de volta aqueles sob terra e pedras cinza que acabava de deixar para trás. Mas pelas suas mortes, pela dor imensurável causada ao garoto que amava, os tinha vingado e garantira que nunca mais causariam mal a outros.
Ergueu a cabeça, olhos fechados, uma mão machucada envolta por ataduras contra o próprio peito, do interior da camisa de mangas compridas, puxou as plaquetas metálicas adornando seu pescoço, e aninhado entre os dedos machucados, segurou forte o pingente de girassol... Respirou fundo. E durante alguns minutos, só se deixou sentir em si o calor que mostrava-lhe a iminência de um novo dia.
Ele ainda estava vivo.
Pronto para voltar para quem o esperava.



Me segure, vamos fugir de toda essa realidade


Você é a minha sinfonia

Ao seu lado, somos uma unidade

Você é a minha energia

Minha luz-guia, somos uma unidade

Somos uma unidade

Somos uma unidade




Unity - Alan Walker ft. Walker 🧡



Notas Finais


Avisinho final: não sou muito boa em descrever cenas de ação :/ então desde já, me desculpo se ficou algo maçante ou meia-boca.

E olha só, após mais de 1 aninho de idade de 'AMS', serão mais 2 ou 3 caps e encerramos a jornada dos nossos meninos órfãos preferidos!! 🧨🎉🎉
P.s.: referênciazinha à tu, @Daques_A Soulmate da minha vida 🧡


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