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História Os Feras do Gelo! - Welcome to Minneapolis;


Escrita por: ellynnaa

Notas do Autor


;Bem-vindes de volta quem resolveu acompanhar a fic! Muito obrigada pela confiança, tentarei atualizá-la com frequência agora.

;A maioria dos capítulos serão Mark centric, porém haverão com outros personagens ao decorrer da necessidade.

;Boa leitura!

Capítulo 2 - Welcome to Minneapolis;


Fanfic / Fanfiction Os Feras do Gelo! - Welcome to Minneapolis;

Os Feras do Gelo!

A distância calculada de Vancouver a Minneapolis, é estimada de dois milhões, oitocentos e oitenta e três mil e três quilômetros. Em horas, isso daria, mais ou menos, vinte e sete horas trancafiado em um veículo sem paradas.

Mark Lee estava esperando pelos pais no fim da trilha dentro da minivan alugada, lendo o primeiro livro da recém iniciada saga de Harry Potter; a Pedra Filosofal, da escritora J.K. Rowling. O motor estava ligado e os faróis acesos. De vez em quando, o grande limpador de para-brisa raspava ruidosamente o vidro.

Apesar da viagem de Saint Paul para Minneapolis ser rápida, questão de trinta minutos, Mark estava cansado. Seu pescoço reclamava de dor toda vez que se mexia, pela posição insistente que se encontrava; cabeça para baixo enquanto se concentrava na leitura, e seus pés estavam começando a formigar. 

Ele largou o livro de lado com clara relutância, saltou, abriu a porta traseira e empurrou os bancos para frente. Seus pais colocaram juntos uma bolsa grande com cobertores na mala da van, então o senhor Lee voltou ao seu lugar atrás do volante, enquanto a senhora Lee dava a volta na minivan para sentar-se no banco do passageiro.

Mark estava com fome, mas preferiu não falar nada sobre, pois sabia que seu pai estava tão cansado quanto ele, ou até mais; já até imaginava o mesmo capotando na cama de casal pelas próximas dez horas seguintes, reclamando da dor nas costas por ter que arrumar os móveis. 

Não queria atrapalhar, então apenas tentou enganar sua barriga mascando um chiclete sabor melancia, enquanto continuava a sua leitura concentrado demais para prestar atenção em seus pais cantarolando Careless Whisper, do George Michael, que tocava no rádio (única maneira de deixar o seu velho acordado).

O anoitecer estava úmido e aconchegante (de certa forma), as nuvens se fechando cada vez mais, anunciavam uma possível tempestade. O aquecedor estava no máximo, e seu pai tinha que ficar esfregando o vidro para ver para onde estavam indo. 

As roupas de Mark grudavam em sua pele e soltavam o mesmo cheiro ligeiramente desagradável de suor e produto para lavagem a seco que vinham das vestes de todos do carro, já estavam com quase um dia completo sem tomarem banho, não era de se esperar menos.

Somi, sua irmã mais nova, não falou nada durante toda a viagem. Ela manteve as costas um pouco viradas para Mark e ficou olhando pela janela, enquanto era envolvida pelo som de seu novo walkman rosa claro com detalhes em lilás da Sony e fones de ouvidos azul pastel, estava tão alto que era possível escutar com clareza a voz de Tony no refrão de Candy, do H.O.T. Porém, assim que passaram pelas luzes do aeroporto, sua mão fria macia atravessou o assento e agarrou a caixa de transporte para gatos vermelha com marrom, a fim de assegurar-se que Elly não se machucasse. 

Elly é a gatinha da família, uma siberiano que faz companhia para os Lee há cerca de quatro anos. A majestosa com o pelo longo, macio e bem grosso, além de carente e não gostar de ficar sozinha por longos períodos, é uma das coisas que mais traz felicidade para os membros da família, principalmente, Somi e Mark, que se dependerem deles, a gata nunca terá um minuto de paz.

No retrovisor do motorista, os olhos de Mark fitavam os de seu pai. Enquanto o senhor Lee dava seta para virar à direita, saindo do caminho esburacado com visão apenas de árvores e mais árvores, as imagens de expectativas e as palavras de que, dessa vez, ficariam por mais tempo na cidade, voltavam à mente de Mark. 

Eles sempre falam isso, era o único pensamento que permanecia em sua cabeça e que seu cérebro conseguia produzir. Na realidade, a família Lee não passava mais de seis meses em uma cidade.

 Vancouver é sua terra natal e a que mais viveu durante toda sua vida, antes de terem que se mudarem novamente. Moraram cerca de quatro anos nela, mas, como esperado, quando Mark começava a tentar ter uma vida social fixa, vinha a notícia: “Fui transferido para outra cidade, iremos nos mudar”.

Não era como se não estivesse esperando essa maravilhosa notícia, porém ele havia ficado mais sentindo dessa vez, porque já estava participando de um grupo de amigos depois de tanto esforço, tinha um convite de uma futura festa de aniversário de Lucas, um de seus melhores amigos, nas mãos e entrado em um time de hockey. Entretanto, tudo teve que ser deixado para trás com mais um sorriso triste exibido no rosto e a típica segurada de choro. 

As gotas de água escorriam pelo vidro embaçado do carro, por conta do aquecedor ligado, como se disputassem uma corrida. Se os irmãos Lee estivessem mais animados após tantas horas sentados, poderiam realmente apostar em qual delas chegariam primeiro ao final da janela, mas estavam cansados demais para isso. Somi não demonstrava euforia com nada, mesmo com um dos seus maiores viciosos tocando alto em seus ouvidos; I’m your girl, do S.E.S.

Mark tinha plena consciência que a irmã estava sofrendo tanto quanto ele, principalmente agora, que irá entrar no Ensino Médio e tinha a necessidade de ter um grupo de amigos, mesmo que talvez não seja por tanto tempo.

Somi não é o tipo de garota sociável. Fazer amigos e conhecer pessoas em si, sempre fora um dos seus maiores desafios, e Mark não entendia o porquê. Apesar do Lee mais velho ter o entendimento que talvez o grupo de amizade que participa(va) não é duradouro, não desistia, afinal, valia à pena ter uma companhia durante alguns meses.

Entretanto, no caso de Somi Lee, não. Ela nunca levou alguma amiga para a casa deles, não saía para passear que se não fosse com a família, ou até mesmo nunca fugia da sua típica rotina; assistir dramas coreanos na TV à cabo, no canal 565, dançar ao som de hits de K-Pop e estudar tanto as matérias da escola como a língua coreana. 

Somi havia decidido se isolar do mundo. As únicas vezes que Mark notou um grande e verdadeiro sorriso no rosto da irmã, foram quando a família Lee viajou à Coreia do Sul, para visitar suas avós e seu irmão mais velho. Sempre fora perceptível a enorme paixão pelo segundo país natal de Somi, tanto que ela seguia à risca comportamentos típicos coreanos e se dedicava à cultura.

Uma figura pequena e determinada em um casaco azul marinho vinha descendo os degraus da frente de uma das casas, movendo-se tão depressa que o homem atrás dela teve de dar uma ou outra corridinha com o guarda-chuva para acompanhá-la. O capuz pontudo estava abaixado para proteger seu rosto, e seu queixo estava colado no peito, dando à mulher a aparência de um cavaleiro medieval com uma viseira de poliéster, encaminhando-se para a batalha.

— Boa noite, senhor Matthew Douma Lee, certo? — a mulher se pronunciou, assim que o pai abaixou o vidro da janela, e concordou com a cabeça positivamente. — Vocês precisam de um guarda-chuva ou uma ajudinha?

— Seria de uma boa ajuda, por causa do temporal. — o homem respondeu, de forma bem humorada.

— Acredito que sim. Os funcionários o ajudarão. — com um sorriso no rosto e uma breve risadinha, a mulher se retirou do lugar. 

O portão se abriu, a trilha fez uma curva e, logo em seguida, Mark teve seu primeiro vislumbre do complexo Poolesville: três construções em forma de cubo — uma garagem, um armazém e um chalé para funcionários — e, mais adiante, as casas. 

A de Mark, tinha apenas dois andares, mas era tão extensa quanto uma mansão, com um telhado longo e baixo e duas chaminés quadradas de tijolos, do tipo que se vê em um crematório. 

O restante da casa era todo feito de madeira, mas embora ainda fosse nova, o clima já lhe havia conferido uma cor acinzentada, como mobília de jardim deixada ao relento por um ano. 

A chuva havia se misturado à neve e o gramado estava coberto com os detritos da tempestade — pequenos galhos, ramos, uma cadeira de bambu branca virada de lado. Aqui e ali, pelas beiradas da porta, onde havia cobertura, a mistura de chuva e neve tinha se acumulado e congelado em listras, como pedaços de poliestireno. O único brilho na escuridão era o reflexo das luzes dos postes e de algumas casas da grande vila.

Mark sentiu o frio invadindo as fibras de suas roupas assim que desceu do carro em frente àquele prédio robusto, tentou não tremer enquanto atravessava a rua com as mãos bem acolhidas nos bolsos quentes de seu duffle coat. 

O vento gelado não era um companheiro muito agradável naquele momento, mas ao menos tinha parado de nevar tanto.

— Agora, posso me apresentar formalmente. Sou Lee Soonkyu, a filha mais nova da proprietária das imobiliárias, e espero que a casa lhe agrade. — falou a mulher, com uma voz doce, enquanto reverenciava levemente com a cabeça. — Oh, você deve ser a Lee Heesun. Devo admitir que é ainda mais bonita pessoalmente! — estava a bajulando. — Seus filhos também são adoráveis!

Kim Heesun é o nome de solteira da mãe de Mark, uma das ex-atrizes mais conhecida da Coreia do Sul. 

Quando mais jovem, depois de modelar para revistas adolescentes da época, Kim apareceu em um comercial de biscoitos de caranguejo Lotte Samkang, o que a fez estrear como atriz em um seriado de comédia.

 Heesun fez seu avanço na atuação no filme de terror de Kim Jeewoon, sendo seguido de mais cinco dramas bem sucedidos e quatro filmes envolvendo os gêneros terror e comédia. 

A Kim ganhou os principais prêmios no SBS Awards de 1977 por sua atuação em Mister Q, tornando-se, na época, a mais jovem vencedora do prêmio, com apenas vinte e um anos. 

Durante esse período, ela também apareceu em vários anúncios e ganhou fama, tanto em casa quanto no exterior, como uma das atrizes mais bonitas e com visão de futuro da Coréia. 

O que muitos fãs não entenderam fora seu afastamento da mídia e, logo, seu abandono da correria tão bem sucedida, que foi revelado após alguns meses que a atriz estaria grávida e havia se casado com um homem canadense de origem sul-coreana e holandesa, além de mudar seu sobrenome para “Lee”, o que fez todos entrarem em choque na época. 

Muitos julgaram-a por, supostamente, ter tomado uma decisão “impulsiva”, e, em consequência, colocado todo o seu trabalho em risco. Porém, agora Lee Heesun, não se importou com esse detalhe, afirmava que não colocaria dinheiro acima de sua felicidade, e formar uma família com aquele homem fora a melhor decisão de sua vida, apesar de algumas desavenças às vezes no relacionamento. 

Afinal, tem um marido que a ama, três filhos lindos e uma gatinha para lhe fazer companhia e felicidade extra, além de ter a oportunidade de estrelar alguma capa de revista ou fazer uma participação em uma obra cinemática algumas vezes.

— Oh, obrigada, é muita gentileza de sua parte. — a mulher mais velha agradeceu, repetindo a leve reverência de cabeça da outra.

Mark pegou as duas maiores malas marrom do seu jogo de quatro de volta, antes carregada por um dos funcionários que ajudavam-os. 

Dois grandes caminhões de mudança entraram pelo portão principal, a luz branca forte refletida dos faróis, fazia inconscientemente todos estreitarem os olhos, em busca de ter uma visão mais clara, mas sem sucesso, fazendo-os fechá-los em seguida. Ou, no caso de Soonkyu, cobri-los com a palma da mão um pouco distante, de fato, do rosto.

A casa, explicou ela, tinha sido projetada para que quartos dos hóspedes e de empregados ficassem no primeiro piso, já os da família, no segundo, com uma área de estar no mesmo andar, e assim que chegaram à imensa sala de estar aberta, entenderam o porquê. A parede que dava para o parque era toda de vidro. 

Criada pelo sueco-americano Claes Oldenburg, a escultura Ponte de Colher e Cereja é uma das únicas coisas feitas pelo homem ao alcance da vista. 

O cabo da cereja funciona como chafariz e, nos meses de inverno e muita neve, o conjunto parece repousar sobre chantilly, como agora. O vidro à prova de som e o aquecimento sob o piso criavam o efeito de uma exuberante máquina do tempo que houvesse sido lançada de volta para a era neolítica.

— É um lugar e tanto. — Matthew, pai de Mark, falou. 

— É sim. — concordou, ou afirmou, Soonkyu, demonstrando satisfação com um leve sorriso de lado no rosto, enquanto liderava a fila que seguia pelo corredor largo e empoeirado. — Há quatro quartos aqui em cima, sendo três normais e uma suíte. Poderão usar o que sobrar para fazer algum tipo de escritório, se desejarem. O último morador, até mesmo deixou algumas prateleiras penduradas com livros velhos, podem jogar fora ou darem uma olhada, se quiserem. 

Soonkyu sempre fazia questão de abrir as portas de madeira branca dos cômodos, no final, também foi mostrado mais duas escadas, uma que levava para um sótão malcheiroso e recheado de poeira e sujo, e outro que subia diretamente para o terraço sem mobília. 

No final, a divisão já era óbvio; o casal ficaria na suíte, Mark com o primeiro quarto e Somi com o do meio, sendo que os dois irmãos dividiram o único banheiro social de cima. Já o que estava sobrando, veriam depois o que fazer com o cômodo.

Poeira e teias de aranha acumuladas no canto do quarto após uma boa varrida, as peças do guarda-roupa cinza desmontado no lado oposto, uma comada montada e o colchão alto jogado no chão, essa é a situação atual do quarto de Mark.

O cômodo é de um tamanho médio confortável, as paredes branco gelo que ficarão melhores após uma boa mão de tinta, há uma janela de vidro que permitia uma boa iluminação durante o dia e um vento gelado entrando durante à noite.

Era um quarto simples, com portas de vidro corrediça que davam acesso diretamente para o jardim. Já haviam colocado uma mesa com uma luminária regulável, uma poltrona coberta com algo bege de tecido grosso e um guarda-roupa embutido de parede inteira com portas espelhadas. 

Mark ouviu o som de uma porta abrindo e fechando e, logo depois, o barulho quase inaudível de uma descarga. Ele estava quase acabando de desfazer uma das malas. Dobrou as peças de roupas que estavam nela e colocou-as na cadeira ao seu lado, arrumando antes de colocá-las organizadas em uma das gavetas.

Foi então que ouviu alguém tossir no batente da porta de seu quarto, erguendo os olhos para ver Somi o observando atentamente. Também Mark pôde ver uma brechas do interior de um banheiro de azulejos brancos atrás da irmã. Era tudo arrumadinho e funcional; deplorável. 

— Estreando o banheiro, Somi? — tentou fazer piada, rindo baixinho somente entre os dois.

— Cala a boca, idiota. — a mais nova cruzou os braços e patrulhou os olhos pelo quarto já mais arrumado que antes. — Ainda não terminou? — indagou, observando apenas poucas roupas dobradas.

— Gosto de fazer bem feito, sabe? — Mark respondeu, indiferente, voltando sua atenção em dobrar as peças. — Não sou que nem outras pessoas que só jogam as coisas. — a indireta foi lançada, fazendo a outra ficar com uma indignação clara no rosto; sobrancelhas franzidas, olhos estreitos, a boca entreaberta e um leve rubor nas bochechas.

Somi usava um suéter de tricot branco masculino, grosso e disforme, com as mangas tão longas que apenas suas unhas roídas apareciam. Quando chegaram ao andar de baixo, vestiu por cima dele um casaco de chuva azul-claro, desaparecendo por um instante enquanto o passava pela cabeça, seu rosto pálido emergido por fim, ledo. 

Seu cabelo preto e curto na altura do ombro junto com sua franjinha ficaram em pé como as madeixas da Medusa. 

Ela havia proposto irem comprar alguma besteira para comerem enquanto maratonam novamente The Nanny na TV. Mark pôs um par de botas de chuva que estavam no armário de guardar pares de sapatos e chinelos ao lado da porta, e saíram juntos em direção ao ar tempestuoso de Minneapolis. 

Seguiram o caminho que contornava o jardim e subiram até o portão principal, abrindo com a chave extra que foi lhe dado. À sua direita, ficava o famoso parque Ponte Colher e Cereja.

Continuaram seguindo contra o vento. Somi havia colocado o capuz. Mark não conseguia ver nem seu rosto. Apenas a ponta branca e acentuada de seu nariz estava visível. O Lee mais velho apertava o casaco ao rosto, abraçando a si mesmo em um ato de tentar aquecer-se mais. 

Mais adiante, era como se tivesse acontecido um acidente de carro. As intensas luzes azuis de uma dupla de radiopatrulha piscavam dramaticamente na noite calma, iluminando as árvores ao redor como um relâmpago correndo pelas nuvens em uma ópera de Wagner. 

À medida que os irmãos se aproximaram, puderam ver uma dúzia ou mais de carros e vans estacionados no acostamento de ambos os lados da estrada sem saída. 

As pessoas estavam paradas ali, sem fazer nada, e Mark supôs, daquela maneira preguiçosa com que o cérebro às vezes juntas as informações, que elas haviam sofrido um acidente coletivo.

Porém, quando desacelerou os passos e iria virar à esquerda em direção do mercadinho da esquina, o curioso pôde ver mais pessoas sentadas sobre os carros espalhados e muitas garrafas de álcool variadas espalhadas pelo local, além de poder ouvir o som sendo baixado de uma música com palavras de baixo calão e batidas fortes tocando, logo entendeu o que os policiais estavam fazendo ali.

Mark empurrou a porta de vidro de forma lenta, escutando distraidamente os tilintares dos sinos presos a mesma soarem suaves e vagarosos, diferente de outras vezes no dia, com as pessoas empurrando-a com força e o soar como um barulho desesperado. Foi em direção às prateleiras que Somi se encontrava, na parte de lanches perto dos gelados. 

— Dá ‘pra acreditar nisso?! — a voz feminina se fez presente, de forma desacreditada, enquanto vasculhava a prateleira. Mark logo associou sua fala com o acontecimento de antes, então, comentou:

— ‘Né. Que coisa mais ridícu... — foi interrompido sem hesitação.

— Tem salgadinhos coreanos aqui! — Somi falou, com animação e um sorriso no rosto, mostrando os pacotes de snacks orientais. — Vamos levar vários! 

Somi, sem nem ao menos analisar, foi pegando os snacks que a interessavam e colocando na cesta de compras, que estava começando a ficar cheia só com eles. Salgadinho sabor camarão Nong Shim, snack Okaki Sankio apimentado, salgadinho de mel Nong Shim, outro sabor banana, tako chips sabor de polvo. Salgadinhos e mais salgadinhos.

— Chega, Somi! — Mark segurou seu braço inquieto que repetia a mesma ação de pegar os pacotes. — Quer fazer é um estoque, é?

Foi difícil, mas Mark conseguia arrastar a irmã das prateleiras que se assemelhavam ao paraíso para a mais nova. Pegaram quatro garrafinhas de refrigerante Coca-Cola e um saco de pirulitos de cereja comum, seguindo, enfim, para o balcão do caixa. 

— Boa noite. — o atendente falou de forma gentil, largando a revista de HQ que antes estava concentrado. Era um tradicional americano; com seus cabelos louros claros, olhos azuis escuros e a pele branca, algumas sardas também preenchiam suas bochechas e o nariz. — Mais alguma coisa? — ele indagou, após analisar todos os pacotes colocados sobre o balcão.

— Não. — Mark o respondeu, usando a mesma simpatia do outro. 

— Esses salgadinhos chineses são muito bons. — o loiro comentou, em um tom humorado.

— Chineses? — Somi repetiu a fala, encarando o rapaz. — Eu pensava que eram coreanos. — ela falou, um pouco ríspida. 

— Ah, é a mesma coisa, não? — o atendente insistiu, dando uma risada baixa, porém confiante. 

— Não mesmo.— Somi não retribuiu o riso, mantendo o rosto sério. Mark a cutucou disfarçadamente, como uma repreensão pela sua maneira de falar tão antipática, que havia deixado o moço constrangido, porém ela não parecia se importar mesmo. 

— Ah, m-me... desculpe. — o atendente gaguejou, claramente envergonhado, enquanto colocava as compras dentro das sacolas de papel madeira.

Os irmãos andaram em silêncio e passou pela cabeça de Mark comentar sobre o ocorrido de antes e que a certa grosseria da irmã tinha sido desnecessária, mas nada podia fazer, sabia que repreensões naquele assunto, entrava por um ouvido e saia pelo outro. 

Somi não controlava a língua afiada quando se tratava de como as pessoas agiam com ignorância em relação à Ásia, para eles, não havia diferença alguma entre os povos e tudo se resumia em China e Japão, e isso fazia fumaças de raiva invisíveis sair pelas orelhas de Somi. 

Mark nem ligava mais tanto para isso, já havia acontecido muitas coisas e ele só acabou se acostumando, infelizmente. 

O restante do mundo apenas os viam como meros idênticos; cabelos lisos e pretos, o nariz fino e curto, os olhos puxados e a pele embranqueada. Quando se há mais de um asiático em um local, sempre vão achar que são irmãos gêmeos ou parentes, pois são iguais.

Mark teve que se contentar em ouvir, todos os dias, o chamando de japa, mandando-o voltar para casa, perguntando se ele sabia usar talheres ocidentais ou só os pauzinhos, além da brincadeira sem graça de ficar puxando o próprio olho e falando estar imitando o olho de japonês. Todas essas situação são irritantes, mas, na maioria das vezes, não chega a valer comprometer o seu humor diário. 

A primeira coisa que Mark fez quando voltaram para casa, foi preparar um banho quente, jogando dentro da banheira meia garrafa de óleo para banho orgânico (pinho, cardamomos e gengibre) que encontrou no armarinho do banheiro. Enquanto ela enchia, fechou as cortinas do improvisado box e tirou suas roupas um pouco úmidas. 

Da mesma forma como vale a pena ficar realmente faminto de vez em quando apenas para saborear de fato a comida, o prazer de um banho quente só pode ser plenamente apreciado se você tiver passado um tempo de frio na rua. 

Mark gemeu de alívio, deixando o corpo deslizar para baixo até apenas suas narinas estarem acima da superfície aromática e ficou deitado ali por vários minutos, como um jacaré pegando sol em sua lagoa fumegante.

— Mark? Se não for rápido, vou começar a assistir sem ti! — Somi falava de maneira alta, após bater duas vezes na madeira grossa.

— Já ‘tô saindo, Somi! Vai arrumando as coisas. — Mark a respondeu, rendendo-se a opção de abandonar aquele maravilhoso banho. 

— Vai rápido! Que eomma também quer assistir! — e, por fim, o barulho de seus passos se distanciando foi ouvido.

Mark, então, levantou-se imediatamente da banheira e apanhou uma toalha. O clique da porta se fez presente após ele ter ido em direção do quarto. Na cama, estava o pijama que Mark havia separado; uma calça moletom xadrez azul e uma blusa manga longa cinza com detalhes da parte inferior. 

A lenha queimava na lareira de pedra e alguém, possivelmente Heesun, acendera algumas velas ao redor da sala do andar de baixo. As luzes dos jardins também estavam acessas e iluminavam os corpos brancos e delgados das árvores e a vegetação amarelo-esverdeada que o vento curvava.

 Quando Mark entrou na sala, uma rajada de chuva açoitou a enorme janela panorâmica. 

Somi estava sentada no sofá, na mesma posição que assumira quando voltaram do mercadinho, com as pernas encolhidas sob o próprio corpo e o controle remoto em sua mão direita. 

Dispostas em leque na mesa de centro baixa diante dela, havia uma série de revistas adolescentes e, ao lado destas, os inúmeros pacotes de salgadinho com alguns já abertos.

A noite seguiria com uma maratona pré-gravada com os episódios da primeira e segunda temporada da série The Nanny sendo reproduzidos pelo moderno aparelho videocassete. 


Notas Finais


;Chegamos ao fim do primeiro capitulo oficial, espero que tenham gostado.


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