História All Of Me - Capítulo 23

Mais ou menos meia hora depois, paramos em frente à Granja Comary. Os trinta minutos pareceram virar trinta dias enquanto eu esperava dentro daquele carro. Meus sentimentos certos se misturaram aos incertos. Uma explosão de vontade de sentir o calor de David mais uma vez em meu corpo, era a única coisa certa que eu ainda tinha.

Puxei o dinheiro do bolso de minha calça e entreguei para o motorista, saltando do carro o mais rápido que eu pude.

Os gritos das pessoas que estavam ali, pechando-se uns nos outros, encheram meus ouvidos. Havia várias meninas segurando cartazes e os gritos mais altos eram os que chamavam por David Luiz. Tinha pessoas o suficiente ali para ser considerada uma atitude bonita da torcida Brasileira, que apesar da derrota, ainda torciam pelos jogadores. Pelo menos uma coisa o Brasil ainda carregava de bom para mim.

Fiquei na ponta dos pés, procurando enxergar além da barreira de cabeças, que eram muito mais altos que eu. Ao fundo, os jogadores estavam entrando no campo, o que fez as pessoas gritar ainda mais. Apenas percebi que as portas se abriram, quando as pessoas começaram a passar correndo por mim. Contorci-me para ficar no meio delas, tentando acompanhar o ritmo de cada um deles, evitando que qualquer um ali percebesse que eu era uma intrusa.

Parei em frente a uma grade de ferro. Fiquei na ponta dos pés mais uma vez, procurando pela cabeleira cacheada. Estava perto o bastante para que eu o encontrasse em questão de segundos. E lá estava David, fazendo uma espécie de aquecimento com os outros jogadores.

Eu sabia que se eu quisesse falar em particular com ele, teria que esperar com que ele falasse com todos e que os demais fossem embora. Eu também sabia que não queria que nenhum fotógrafo nos visse juntos.

Saí dali, caminhando até chegar perto de uma árvore distante. Escorei-me na mesma, cruzei os braços e prestava atenção na pouca coisa que eu ainda conseguia ver através das cabeças.

Algumas horas se passaram e eu continuei ali, enquanto os jogadores distribuíam autógrafos e fotos. Restavam apenas uma mulher e uma menininha baixa, que aparentemente, eram mãe e filha.

Todo o resto da torcida já havia ido embora, entre eles os jogadores. O único que ainda estava ali era David. Estava fazendo silencio o suficiente para que eu pudesse ouvir o que eles falavam.

- Você é linda – disse David, abaixando-se para acariciar a bochecha da menininha – Obrigado por ter vindo.

A voz dele estava diferente e a aparência também. Embaixo dos olhos tinham olheiras, não muito fortes, mas existentes. Em sua boca, não tinha um sorriso como sempre, apenas um sorriso leve e perceptivelmente forçado. E mais uma vez, eu daria tudo para vê-lo sorrir novamente.

Cerca de dez minutos depois, a mulher e a menininha foram embora. Respirei fundo e dei meu primeiro passo para longe da arvore, aproximando-me da grade de ferro. Ele já estava de costas, dando seus primeiros passos para a Granja, quando enchi meus pulmões:

- Você pode dar um autografo para sua fã numero um? – perguntei.

Ele parou e ficou alguns segundos imóvel antes de se virar. Ele pareceu confuso.

- Helena? – perguntou.

Assenti e sorri. Seus passos tornaram-se quase uma corrida quando ele ia para perto de mim.

Ele parou apenas quando se encostou a minha mão, que a essa altura já agarrava a grade. Respirei fundo quando senti sua pele na minha. Era tão bom ter aquilo de volta.

- Você... Como... – gaguejou.

- Peguei um avião e vim para cá com Clarice – falei.

Ele levantou as sobrancelhas, ainda parecendo confuso de mais.

- Faça a volta e te encontrarei na porta de entrada da Granja – orientou-me.

Sem falar nada, saí correndo dali, sentindo uma pontada de decepção pela perda de seu toque. Forcei minhas pernas a moverem-se o mais rápido que eu pude. O vento gelado e úmido batia contra meu rosto e meus cabelos. Pelo menos não está chovendo, pensei comigo mesma.

Parei de correr apenas quando cheguei à porta de entrada. Um homem alto, moreno e de meia idade abriu a porta para mim, como se já soubesse da minha chegada. Supostamente, David já teria o avisado para não ser visto pelos fotógrafos. Corri pela porta, entrando no local com ar quente. A primeira coisa que fiz, foi olhar para frente. E lá estava ele, com os dois polegares escondidos nos dois bolsos da calça jeans. 

Usei toda a força que minhas pernas ainda tinham e corri de encontro ao homem que eu amava. Percebi meus sentimentos se desenrolarem e ficarem todos no lugar. Parecia que apenas com David perto de mim, eu tinha a certeza do que eu estava fazendo.

Quando senti o baque forte estre nós, me fazendo parar, imediatamente fechei meus olhos e cobri seu pescoço com meus braços. Respirei fundo, inalando todo aquele perfume.

Eu o tinha de volta. Aquele cheiro inebriante estava entrando e saindo por minhas narinas. Aqueles braços grandes, musculosos e quentes estavam protegendo-me mais uma vez. Levantei minhas mãos e as enterrei em seus cachos. Macios, exatamente da forma que eu me lembrava. Recostei meu rosto em seu peito. Quente e confortável, da mesma maneira que eu tanto gostei. Sentir o calor de o seu corpo aglomerar-se com o calor do meu, era inexplicavelmente maravilhoso. Eu o tinha mais uma vez.