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História Allegro - Read to you


Escrita por: sankdeepinside

Notas do Autor


Hello,
quem é vivo sempre aparece né nom?? Mil perdões pela demora pra atualizar a fanfic, mas se não é atrasado então não sou eu. Eu matutei bastante sobre algumas coisas que queria acrescentar no capítulo, quase fiz um draminha, mas minha consciência pesou então peguei bem leve.
Está bem amorzinho, garanto.
O universo da sonatinha finalmente acabou de vez, eu to bem chorosa. Muito obrigada a todos que acompanharam ou que apenas leram separadamente, significa muito para mim.
Espero que gostem!
Beijão!

Capítulo 2 - Read to you


Fanfic / Fanfiction Allegro - Read to you

Jongin acordou zonzo, sentindo os efeitos da ressaca sobre seu corpo. As duas garotas ainda estavam adormecidas, completamente nuas, sobre si. Era raro que ele adormecesse nos bordeis, estava acostumado a sair na surdina durante a madrugada, entretanto seu cansaço o impedira de repetir seu hábito na noite anterior.

O novo lorde Kim sentia o peso de suas responsabilidades como dois sacos enormes de areia sobre os ombros. Andava cansado demais até mesmo para usufruir dos prazeres da noite, seu corpo estava desgastado e sua mente parecia estar sempre em outro lugar. Seu maior lazer, a esbórnia, não parecia mais capaz de fazer o mesmo efeito entorpecente que fazia outrora.

Tomando cuidado para não acordar as moças, Jongin se levantou. Se espreguiçou e procurou por suas roupas, pensando que tão logo teria que se encontrar com alguns dos sócios do irmão e decidir sobre o que continuaria ou não a ser sua responsabilidade. Não achava o trabalho administrativo mais fácil, embora aos poucos se acostumasse com ele.

O sol ainda nascia quando montou em seu cavalo e partiu em direção ao café mais próximo em que pudesse tomar seu desjejum. Era cedo e os funcionários ainda organizavam as mesas quando, por um acaso do destino, encontrou o delegado Do degustando seu chá com os olhos sobre alguns papéis.

- Senhor? O que faz por essas bandas da cidade tão cedo? – Questionou com um sorriso ao se sentar ao lado dele no balcão.

Kyungsoo explicou que havia acompanhado uma testemunha em segurança até sua casa no fim da madrugada e aproveitara para parar ali e tomar café, já que o estabelecimento era de uma família próxima aos seus pais. Também comentara que a delegacia estava muito agitada naqueles dias por causa de um criminoso que ainda estava à solta.

- Já você também não parece ter dormido em casa. Desistiu de cuidar das obrigações de seu irmão e voltou para sua própria vida? – Kyungsoo comentou enquanto tomava um gole de seu chá. – Espero que a noite tenha sido divertida.

Aquilo constrangeu o lorde, que sorriu sem graça e encolheu os ombros enquanto via seu café ser servido diante de si. Frequentar bordeis nunca havia sido algo que lhe envergonhasse, contudo, o fato do delegado notar aquilo fez com que se sentisse mal, como se afetasse a boa imagem que existia graças à amizade dos dois.

Kyungsoo não fez nenhum comentário extra sobre aquilo, mas serviu para que Jongin começasse a considerar se frequentar casas de prostituição era realmente algo que lhe fizesse feliz. Enquanto o delegado terminava seu chá, a balconista, uma jovem garota mestiça, parou diante dele, sorrindo largamente.

- Senhor Do, mamãe me deu permissão para enfim começar a cozinhar, ela disse que se meus bolinhos de limão forem bons, poderemos vendê-los aqui. Gostaria de experimentar um e dar sua opinião?

- Claro! Será um prazer. – Respondeu.

A garota riu animada e bateu palmas, correndo em seguida para servir um dos bolinhos que havia feito, Jongin observou tudo de canto de olho, sentindo algo estranho formigar em si a cada vez que o oficial sorria com gentileza para a moça.

- Por favor, seja sincero. – Pousou o prato com o bolinho diante de Kyungsoo e mordeu o lábio em ansiedade. Aos olhos do Jongin, ela pareceu forçada e descarada, mas o delegado não parecia interessado em outra coisa além do doce.

O que se seguiu causou sensações ainda mais estranhas em Jongin, que viu seu olhar completamente preso aos lábios cheios que deslizavam de forma quase obscena pelo bolo macio. Em seu pensamento, o jovem lorde admitia para si que o delegado tinha uma boca muito bonita e que acrescentava um tom muito interessante às suas feições.

- O senhor também gostaria de provar do bolo? Senhor? – Levou um instante para que percebesse que agora a balconista se dirigia a si. – Não precisa olhar com tanta vontade para o bolinho do senhor Do, eu tenho mais.

- Ah, não será preciso. – Jongin sentiu a face arder de vergonha. – Mas qual sua opinião sobre o bolo, Kyungsoo? Parece muito bom.

O delegado terminou de engolir e sorriu largamente para a garota, dizendo que o bolinho estava ótimo e que poderia ser colocado à venda imediatamente.

Já o lorde, arqueou as sobrancelhas em uma expressão desdenhosa que, por sorte, não foi notada por ninguém. Terminou de beber seu café, se sentindo um tanto irritado com aquele dia que mal começara. Não sabia explicar exatamente porque, mas achava que o dia ia mal, mesmo que nada de extraordinário tivesse acontecido.

Jongin se levantou e deixou o pagamento pelo seu café sobre o balcão, mas para seu azar (ou sorte, não havia como ter certeza), o delegado pediu para que ele o esperasse. Kyungsoo agradeceu pelo bolo, reforçando a ideia de que ele deveria ser colocado à venda, e também pagou por seu café da manhã.

Os dois caminharam em silêncio até a calçada, mas logo o oficial puxou assunto.

- Não o via a alguns dias, como está o progresso com as finanças de seu irmão?

- Continuo sendo um fracasso para isso, mas já estive pior.

- Sinto muito por não poder ter ido ler com você esses dias.

- Eu também sinto. – Kim encolheu os ombros – Suas histórias são sempre a salvação para meu estresse, sem elas, minha mente apenas ferve sem descanso.

- Foi por esta razão que voltou aos bordeis?

Jongin não respondeu, mas acreditava que sim. Precisava de alívio, precisava fechar os olhos e deixar o pensamento refrescar. Nas últimas semanas, havia encontrado aquele descanso na voz macia de Kyungsoo e seus personagens. Entretanto, o delegado agora estava muito ocupado para se encontrar com o lorde e ele se viu sem muitas opções.

- Senhor, não quero falar sobre essa parte de minha vida privada.

- Tudo bem, me perdoe por perguntar.

- O quanto está ocupado essa semana?

Kyungsoo suspirou, explicando que um assassino muito perigoso estava à solta e a guarda havia sido reforçada especialmente nos limites da cidade e nos portos, inclusive o de Tillbury, sob sua responsabilidade. Todas as diligências e até mesmo carruagens particulares estavam sendo arduamente checadas, para evitar que o assassino escapasse.

- Estou trabalhando dia e noite, mal consigo dormir. – Lamentou. – Creio que não poderemos ler juntos enquanto eu não cumprir meu trabalho e colocar esse bandido atrás das grades.

- Entendo.

- Mas... – O delegado franziu o cenho – isso não pode ser motivo para que frequente casas de prostituição.

- Por que não?

- Não é certo.

Jongin riu.

- Pode não ser certo para um homem de honra como o senhor, mas eu... eu sou um perdido, dormir com prostitutas não irá me afetar em muito.

- Pois me parece que tem um conceito muito baixo sobre si mesmo, lorde Kim.

- Pode ser... – Jongin riu e encolheu os ombros novamente, ainda não gostava de ser chamado como lorde, não importava quanto tempo passasse, em sua mente, aquele título sempre seria do irmão. – Se acha que bordeis são empreendimentos tão condenáveis, por que não me sugere outra atividade? Já que sem o senhor, ler também não tem tanta graça.

Kyungsoo franziu os lábios, ele não tinha outra alternativa. Jongin não era o tipo de cavalheiro que se interessa por atividades eruditas como o teatro e música, era um homem de gostos muito simples, do tipo que combinava com sua leveza de espírito.

- Eu não sei, não consigo pensar em nenhuma atividade mais honrosa que agrade seus gostos.

Jongin se espreguiçou antes de montar em seu cavalo e em seguida olhou diretamente para Kyungsoo. Permitiu que sua mente memorizasse bem os detalhes de seu rosto, abrindo em seguida, de forma involuntária, um sorriso bobo, como sempre parecia fazer na presença do amigo.

- Então, delegado, se quer tanto manter minha honra, devia encontrar algum tempo em sua agenda para mim.

O oficial abriu a boca, mas percebeu que não sabia o que responder.

- Verei o que posso fazer.

 

 

Dentre todas as coisas que Jongin imaginava que o delegado Do fosse capaz de fazer, ir até sua casa no meio da noite não era uma delas. Ele já estava se retirando para dormir quando o mordomo avisou que Kyungsoo estava no hall de entrada.

- Devo mandá-lo voltar outra hora, senhor?

Jongin ficou um instante fitando os pés em silêncio. Aquela era claramente uma hora inapropriada, contudo, o lorde não pode deixar de sentir o próprio peito esquentar em ansiedade.

- Ah... não. Irei recebê-lo em meu escritório, peça para que suba.

- Os funcionários devem aguardar que o visitante vá embora ou...?

- Não, vocês podem se recolher.

O mordomo assentiu e se retirou, deixando Jongin sozinho, com um largo sorriso no rosto.

- Eu lhe disse que arranjaria tempo para nossas leituras, não me olhe dessa forma. – Kyungsoo resmungou carrancudo enquanto se acomodava na poltrona de frente para Jongin. 

- De que forma? – Jongin sorria abertamente.

Era tarde e devia estar considerando as boas horas de sono que deveria ter sobre sua cama, mas ao invés disso, o lorde se sentia desperto. A súbita presença do delegado em sua casa fora suficiente para apagar todas as horas de estresse e agora o primogênito dos Kim sorria. Sorria tão largamente e, se era humanamente possível, sentia que seu riso se abria um pouco mais a cada vez que o delegado lhe encarava com aquela expressão de tédio, como se visitar amigos meia noite fosse algo tão natural quanto calçar um meia antes da bota.

- Estou contente que esteja aqui, senhor. – Kyungsoo foi pego de surpresa por aquelas palavras. – De um modo estranho, sua companhia sempre me deixa feliz, e Deus bem sabe como tem sido difícil encontrar felicidade esses dias. 

Kyungsoo não encarou Jongin, mas um pequeno sorriso também se abriu em seus lábios cheios.

- Fico contente em saber que minha inconveniência não o incomoda.

- Nunca, senhor. É o meu melhor amigo no momento, não poderia ser mais grato.

- Isso é... bom.

O lorde sentiu uma palpitação estranha, um calor no centro do peito. Era uma sensação boa, ele sabia, mesmo que não a compreendesse por completo.

- Qual livro pretende ler hoje?

- O vendedor disse ser um livro sobre um garoto órfão na periferia londrina, achei que talvez pudesse achar interessante, já que se interessa por essa parte marginalizada da sociedade.

- O que quer dizer?

- O senhor frequenta muitos bordeis, não observa o tipo de pessoas que se sustentam ali?

Jongin mordeu o lábio. O delegado parecia empenhado em fazer com que se sentisse culpado por seus hábitos libertinos, mas talvez aquilo fosse apenas preocupação demasiada ou, talvez, um pouco de ciúme.

- Pensei que escolhesse os livros pelo seu próprio gosto, senhor, não pelos meus.

- Eu normalmente escolho por minhas preferências, sim. Mas como não serei o único a apreciá-la, achei justo contemplar algo que também o agradasse.

Jongin riu com uma ponta de sarcasmo em seu tom.

- Não precisa se preocupar com isso, gosto das suas escolhas, senhor, elas me fazem pensar de um modo estimulante. Embora devo admitir que estou lisonjeado por ter tido esse tipo de consideração.

- Devo começar? – disse após erguer a sobrancelha em arco.

- Sim, por favor.

Diferente do último livro que haviam compartilhado, aquele trazia um realismo que deixou Jongin encabulado e um tanto sentido. Oliver Twist, era o título e contava a história de um menino órfão, maltratado num orfanato cheio de pessoas horríveis. Após ser expulso por pedir mais comida, o garoto fugia para Londres em busca de uma vida melhor, onde se envolvia com pessoas ruins, mas também conhecia a bondade dos outros.

Embora a história fosse triste, o autor acrescentava tons cômicos aos infortúnios da vida do garoto, arrancando boas risadas dos dois, mesmo que ao mesmo tempo também os fizesse considerar os problemas frequentemente citados na obra. Depois de ler muitos capítulos, o delegado fez uma pausa, pedindo para que o lorde lhe revelasse suas impressões do livro.

Jongin imediatamente começou a explanar sobre a figura de Oliver Twist, destacando sua pureza e seu caráter admirável, mesmo diante de situações conflitantes. Também comentou que muitas frases do autor tocaram seu coração sobre questões importantes e que ele provavelmente nunca mais veria as crianças de rua da mesma forma.

- E o que o senhor pensa da obra, delegado? – Silêncio. – Senhor Do? – Mais silêncio.

O lorde ergueu o olhar e então percebeu que Kyungsoo havia adormecido. O livro, que outrora era segurado com firmeza, agora pendia frouxo por entre seus dedos. A cabeça havia escorregado pelo encosto da poltrona e o oficial, que sempre mantinha sua expressão séria, agora ressonava com o rosto tão inocente quanto o de um garotinho nos braços do pai.

O lorde sorriu ao perceber que algumas semanas havia devaneado com aquela mesma cena e agora podia vê-la se concretizar bem diante de seus olhos.

Sabia que a rotina da guarda londrina estava em completo caos desde que um criminoso muito perigoso andava à solta pelas ruas da cidade. Kyungsoo estava trabalhando de mais diligente do que nunca, pois a área do qual era encarregado era muito favorável à fuga do procurado. As horas do lorde na companhia do amigo haviam se reduzido a quase nada, já que o delegado passava dias e noites inteiros em patrulha.

Apesar de sentir falta das leituras com Kyungsoo, Jongin compreendia os motivos de sua ausência, sem cobrar nada do amigo. Entretanto, mesmo com a rotina exaustiva, o oficial ainda se importara o suficiente para visitar o lorde no meio da noite apenas para não deixar que aquele hábito dos dois se perdesse.

Ao ver o amigo rendido ao cansaço, Jongin não pode fazer nada além de abrir um sorriso complacente. Se levantou e se aproximou de Kyungsoo, tomou o livro com cuidado de suas mãos, memorizando rapidamente a página em que haviam parado a leitura para enfim fechá-lo e pousá-lo sobre a mesa.

Sem saber exatamente se deveria ou não acordá-lo para que dormisse propriamente em uma cama, o lorde se permitiu ficar um longo instante velando seu sono. Se pegou observando com cuidado cada uma das feições masculinas do outro. Tinha cílios curtos e escuros, que faziam um belo contraste com a alvura de sua pele. As sobrancelhas grossas que eram responsáveis por todas suas expressões duras agora lhe pareciam apenas suaves e convidativas ao toque.

Apesar da beleza de cada fragmento que compunha seu rosto, foram nos lábios de Kyungsoo que os olhos de Jongin se demoraram mais. Eram cheios e rosados, do tipo que ganhavam um ar quase lascivo quando o delegado os tocava com as pontas dos dedos ou os deixava entreabertos durante o sono, exatamente como eles se encontravam naquele exato instante.

Notar aqueles detalhes fez o coração de Jongin palpitar e seu estômago lhe causar cócegas de uma ansiedade inexplicável. Era estranho sentir tudo aquilo apenas ao fitar ao outro e se sua mente se embaralhava numa bagunça de sensações até então nunca sentidas.

Estava acontecendo.

Talvez tivesse se deixado intrigar demais pela relação do irmão com outro homem e agora sua mente estava lhe pregando peças, fazendo-o sentir coisas que não sentiria se estivesse deixado o assunto devidamente esquecido. O mais velho dos Kim tinha certeza que devia lutar para apagar aquelas ideias tolas de sua cabeça de uma vez por todas.

Mas a mente é algo difícil de se controlar.

- Senhor? – Tocou o ombro de Kyungsoo, que abriu os olhos devagar.

- Oh, eu estava dormindo? Por quanto tempo eu dormi?

- Apenas alguns minutos.

- Ah, me perdoe Kim. Minhas pálpebras não foram fortes o suficiente.

- Não se preocupe. Quer que eu peça para arrumarem um quarto de hóspedes para o senhor? Há muitas camas livre aqui.

Kyungsoo abanou o ar e agitou a cabeça em uma negativa.

- Agradeço a gentileza, mas é melhor que eu vá para casa, seus funcionários já até mesmo se retiraram, é injusto acordá-los quando já os dispensou.

Jongin concordou em silêncio.

- Mas, senhor, é muito tarde para andar sozinho por aí.

- Não se preocupe comigo, ando pelas madrugadas com mais frequência do que imagina.

- Se é o que diz... mesmo assim é bom ter cuidado.

Kyungsoo se colocou de pé e se espreguiçou, estalando o pescoço e a coluna logo em seguida.

- Me perdoe por não ter ouvido todo o seu ponto de vista sobre o livro, eu realmente aprecio suas impressões, mas o sono foi mais forte.

- Fala sério? Eu não sou tão esperto quanto o senhor.

- Claro que falo sério, por que eu mentiria? Acho que subestima a própria capacidade, sua sensibilidade ao enredo das obras é muito interessante.

Jongin lhe sorriu um tanto incrédulo e Kyungsoo retribuiu o gesto com um sorriso doce. O lorde não era o único a estimar cada instante na companhia do outro. Por mais que Do fosse um delegado de renome, não tinha muitos amigos íntimos, tampouco algum que compartilhasse o interesse pela literatura.

Estar com Jongin sempre lhe trazia a alegria de compartilhar um universo majestoso, mas que por mais que tentasse, ninguém se interessava em explorar. Ao menos ninguém até o lorde aparecer.

- Eu devo ir agora.

- Tudo bem. – Jongin pegou o exemplar que havia deixado sobre a mesa e fez menção de entregá-lo a Kyungsoo. – Parou na página 208.

O delegado fitou o livro nas mãos do lorde e em seguida agitou a cabeça.

- Fique com você.

- O quê? Pensei que não emprestasse livros. Nunca. Para ninguém.

Kyungsoo riu e deu de ombros.

- Ficará mais seguro com você, o clima tem andado louco esses dias, não quero arriscar perder outro livro.

Jongin passou a ponta dos dedos sobre o couro da capa.

- Obrigado.

- Não agradeça, eu só estou deixando aqui para evitar uma chuva surpresa, que fique claro que está proibido de continuar a leitura sem mim.

- Eu jamais cometeria tal traição. – Os dois riram em confidência.

- Sim, é por isso que gosto de você, Kim.

 

 

Jongin estava refazendo orçamentos pelo que devia ser a milésima vez. Não confiava em sua própria habilidade com números e sempre refazia as mesmas operações matemáticas várias vezes apenas para se assegurar de que não estava cometendo erros absurdos.

Naqueles momentos, o lorde pensava consigo que gostava muito mais das palavras do que dos números. As palavras podiam ser quentes e doces, duras e suaves, já os números eram apenas frios. Jongin sabia que tinham sua importância, mas era difícil se apegar a eles.

Finalizava mais uma operação quando sua mãe entrou no escritório, trazia um envelope em mãos e tinha os olhos úmidos de emoção.

- Mãe, o que houve?

- Seu irmão! Ele enfim nos mandou uma carta! Estou tremendo demais para ler, pode fazer isso por mim?

Ela lhe estendeu o envelope e Jongin o pegou com ansiedade, varrendo imediatamente os olhos pela letra fina do irmão.

 

Querida mãe e Jongin,

Sinto muito por ter partido de forma tão brusca. Foi uma irresponsabilidade muito grande de minha parte, eu sei, deixei meus compromissos para trás, minha casa, minha família, tudo. Não espero que me perdoem, tampouco que me compreendam. Talvez até mesmo sintam repugnância ao receberem essa correspondência, mas sinto que era meu dever informar: cheguei, estou bem.

Mãe, apenas há alguns dias descobri sobre a sentença de morte de papai. Seu coração deve estar completamente partido. Mesmo que ele nunca tenha sido o melhor marido ou pai, ele ainda era família. Sei que deve estar sendo especialmente difícil para a senhora, mas espero que encontre um pouco de conforto para seu coração. Ele morreu em função de um crime horrível que cometeu e se foi capaz de ir tão longe por tão pouco, talvez... talvez sua morte tenha sido para algo bom.

Ao meu querido irmão, Jongin, peço desculpas ainda maiores. Jamais imaginei que tudo fosse resultar na sua prisão. Não faço ideia dos pesadelos que enfrentou por culpa de minha imprudência e da de papai. Fiz o que pude para garantir sua inocência, mesmo estando tão longe e fico muito aliviado de saber que seu destino não foi o mesmo do nosso pai.

Também sinto muito que minhas funções administrativas acabaram em suas mãos. Sei que é extremamente capaz de controlá-las, mas também sei que isso não é nem de longe algo que lhe dê prazer, por isso, peço novamente perdão. Nas demais páginas dessa carta escrevi algumas orientações que talvez possam ajudá-lo a se livrar de alguns sócios indesejáveis e ficar apenas com os mais agradáveis e rentáveis.

Eu sei que possuem muitas dúvidas sobre o que aconteceu, como eu estou agora e por que... por que fugi com outro homem. Eu apenas posso dizer que o coração não age conforme as leis dos homens, ele segue a própria lei e sim, eu podia lutar contra seus caprichos, mas honestamente, se eu o fizesse, eu nunca seria completamente feliz. Sei que soa egoísta e sim, foi egoísmo meu. Espero que apenas entendam, eu não suportaria ser feliz apenas pela metade, depois de perder Sojin, depois de perder completamente minha razão uma vez, eu não aceitaria menos do que uma felicidade completa.

Yixing é um homem bom. Não, mais do que isso, ele é perfeito. Não sei se podem compreender, mas não se trata do fato de ele ser um homem, mas de ser quem completa cada espaço em minha alma, que me arranca sorrisos e me deixa contente até mesmo por coisas pequenas.

A sociedade diz que devemos nos casar com donzelas ricas, que tornem nossas riquezas maiores e nos dê herdeiros. Eu a segui, casei com Sojin e sim, minhas posses aumentaram e quis muitos herdeiros, eu a amei, aprendi a amá-la. Contudo, a sociedade não escreveu em suas regras que as pessoas morrem, corações se ferem e nem sempre a cura está em outra donzela.

Sinto que estou apenas tentando justificar algo impossível de se explicar em palavras, é inútil se não souberem que é de amor que estou falando e que, diferente da sociedade, para amar, não há regras, por mais que desejássemos que elas existissem. Perdão por não estar aí. Eu sinto muito, mas não aguentaria nem mais um dia sendo controlado pelas regras dessa sociedade tão hipócrita como a londrina. Eu precisava ser livre. 

Eu espero poder vê-los novamente, algum dia. Deixo o endereço, caso queiram me escrever de volta, mas peço que ele fique apenas entre nós, não quero manter contato com mais ninguém.

Eu os amo com todo o meu coração e espero que um dia me perdoem pelo que fiz.

Do seu filho e irmão,

Kim Junmyeon.

 

Assim que leu a saudação ao fim da carta, Jongin sentiu as bochechas úmidas de lágrimas que rapidamente limpou com as costas da mão. A mãe, por outro lado, sequer se empenhou em conter o pranto. O lorde não soube dizer a razão do seu choro, mas apenas pousou o envelope sobre a mesa e se apressou em envolvê-la em seus braços.

- Ele está bem e feliz, não há motivos para tantas lágrimas.

- Eu odeio tanto seu pai! Isso é culpa dele, Jongin! Eu perdi meu bebê por culpa dele. Ele não irá voltar!

- Não fale assim, ele irá nos encontrar um dia.

- Como é possível que tenha se apaixonado por outro homem? Eu não entendo.

- Acho que é como ele disse, mãe, não é possível para nenhum de nós entender a não ser que sintamos.

- Será? Amor? Paixão? Meu casamento com seu pai foi por conveniência, foi tão prático...

- Eu sei, todos os casamentos da alta sociedade são práticos, acordos. Acho que ele encontrou um caminho diferente desse, um que não é nem um pouco prático, mas talvez dê recompensas mais significativas.

- Mas e você, Jongin, nunca se casou, filho... você já amou?

Jongin franziu os lábios. Sim, ele havia se apaixonado secretamente pela falecida esposa do irmão, mas tudo agora parecia tão distante. Tão distante, que quando a mãe lhe questionou sobre amor, não foi exatamente o rosto de uma mulher que surgiu em seus pensamentos.

 

 

Kyungsoo não voltou a visitar o lorde nos dias seguintes, nem na semana que se passou. Lorde Kim estava cheio de trabalho seguindo as instruções que o irmão lhe enviara e nem devia notar aquele fato, mas ele notava, até demais.

O livro continuava sobre sua mesa e era a primeira coisa na qual punha os olhos quando entrava em seu escritório ou quando erguia os olhos para descansar da leitura exaustiva de documentos. A falta da companhia do delegado já era quase palpável e tomava conta não só de seu corpo, mas de tudo ao seu redor.

Como agravante, as palavras que seu irmão lhe escrevera haviam sido cravadas profundamente em cada um de seus pensamentos. “Não se trata do fato de ele ser um homem, mas de ser quem completa cada espaço em minha alma, que me arranca sorrisos e me deixa contente até mesmo por coisas pequenas”.

Jongin largou a pena sobre os papeis em completa desistência e apertou as têmporas. Dessa vez não se tratava da dificuldade dos cálculos, mas da inquietude de sua mente e do palpitar frenético do seu coração ao constatar a única coisa óbvia que tanto estivera tentando compreender.

- Meu deus! – Disse baixo para si mesmo, quase rindo, quase chorando.

O mordomo veio correndo após ser gritado pelo lorde. Jongin era uma pessoa que raramente expressava seu estresse ou suas emoções através da voz autoritária, por aquela razão que o criado nem mesmo contestou quando foi solicitado que mandasse selar o cavalo do patrão tão cedo da manhã. Devia ser por algo sério.

Jongin cavalgou rápido até a delegacia de Tillbury, tão veloz quanto no dia que quase desgastara os cascos de sua montaria perseguindo o pai, que estava bêbado de ódio pela fuga do irmão. Assim que desceu do cavalo, tomou um instante para respirar, para ver o que diria, pois nem mesmo sabia.

Ficou ali parado por o que parecera uma eternidade. Tentando respirar lentamente, apertando o couro dos arreios com força. Decidiu que não faria nada de extraordinário, que apenas iria visitar o delegado e perguntar despretensiosamente pela data de sua próxima leitura em conjunto. Sim, parecia bom, nada demais.

Ainda assim, foi difícil dar o primeiro passo. O segundo foi um martírio. O terceiro, uma tortura. Quando parou na entrada, os guardas lhe olharam com preocupação.

- Lorde Kim? Está sentindo algo? – Um deles lhe questionou.

- Ah... acho que comi algo que me fez mal no café da manhã, mas prometo que não irei demorar. – Riu sem graça. – O delegado Do está?

- O senhor não sabe?

- Saber do quê? – Os dois trocaram um olhar preocupado e aquilo causou estranheza em Jongin. – O que houve??

- Perdão, lorde, sei que é muito amigo do delegado. É que... aconteceu um acidente outro dia. Achei que estivesse ciente.

- Acidente??? – Sua voz falhou.

O que o lorde não ouvira de nenhuma língua nos últimos dias lhe foi contado rapidamente pelos guardas. O assassino pelo qual toda a guarda de Londres estava trabalhando nas últimas semanas havia enfim se movido, tentando escapar justamente pelo local mais propício a sua fuga: o porto Tillbury.

-  ELE MORREU? – Jongin ralhou tão alto que os guardas se encolheram de medo.

- Não, senhor, nos deixe terminar de contar.

- Por favor, se adiante!

Kyungsoo não morreu, prendeu o maior criminoso de sua carreira dedicada à justiça, mas para isso entrou em um embate vigoroso com o assassino. Pelo relato dos guardas, o homem era muito violento e mesmo que o delegado fosse um homem habilidoso, não saiu ileso.

- Ele perdeu um olho, lorde Kim.

- O-o quê? – Jongin mal tinha palavras, nem mesmo sabia se conseguia ficar de pé propriamente, tudo parecia girar.

- Mas ele ainda tem o outro olho, senhor. – O guarda falou e, ao receber um olhar enfurecido do lorde, se desculpou.

Sem esperar mais, rapidamente se encaminhou a casa do delegado. Não era longe dali e ele estava angustiado demais para sequer dar atenção aos pensamentos que o travavam num único lugar minutos antes. Quem atendeu a porta foi uma mulher.

- Pois não?

- Bom dia, senhorita. Sou Kim Jongin, vim visitar o delegado, soube do seu acidente.

- Kim? Lorde Kim?

- Ah sim, esqueci que sou um lorde agora.

- Então é verdade! – A mulher sorriu largamente – O senhor é tão belo quanto seu irmão.

- Hã?

- Perdão, foi um comentário indiscreto. Entre, por favor, o delegado está em seu quarto.

- Obrigado. – Jongin entrou, sem deixar de se admirar pela quantidade imensa de livros que decoravam toda a sala do amigo. – Não importa quantas vezes eu entre aqui, sempre fico impressionado com todos esses livros.

- Acha que ele leu todos?

- Sabe? Acho que sim. – Jongin riu e viu a mulher ruborizar. – Me perdoe, me perdi em meus pensamentos e esqueci de perguntar seu nome.

- Sou Alexandra, enfermeira do senhor Do. Vou conferir se ele pode recebê-lo, se puder esperar alguns instantes.

Jongin concordou em silêncio e não conseguiu ignorar a conversa que escapou entre as paredes.

- Senhor! O que está fazendo esse livro? Eu lhe tomei todos os livros que tinha nesse quarto, onde arranjou este?

- Me deixe em paz!

- O médico o proibiu de ler enquanto estiver em recuperação! – Jongin riu ao ouvir a voz esganiçada da enfermeira, como se estivesse brigando com um garoto birrento. – Me dê isto aqui! Não seja teimoso!

- Sou eu que pago seu salário! Me devolva esse livro agora!

- Não! Senhor, me escute! Se não descansar seu olho bom pode prejudicá-lo e nunca mais ser capaz de ler outro livro. Quer que isso aconteça? – Jongin não ouviu a resposta de Kyungsoo, mas supôs que foi um “não” dito bem a contragosto. – Seu amigo Lorde Kim está aqui para vê-lo, posso mandá-lo entrar?

Um silêncio um tanto longo se fez até que desse uma resposta, por um instante o lorde chegou a crer que seria mandado embora, mas alguns segundos depois Alexandra veio chamá-lo.

- Ele irá recebê-lo, Lorde Kim. É um milagre! Ele não quis receber nem mesmo as irmãs! Deve ser um amigo muito querido. – A enfermeira riu e ruborizou novamente, mas Jongin não compreendia suas reações. – Só tome cuidado, pois seu humor está um pouco ruim hoje.

Jongin assentiu e deixou que a enfermeira o conduzisse até a porta do quarto. Seu coração se apertou um pouco quando viu a atadura contornando toda a parte superior da cabeça do delegado, deixando livre apenas seu olho direito, que estava fechado. Os cabelos negros que escapavam da faixa estavam bagunçados e a farda havia sido substituída por um camisão folgado. Assim como a enfermeira dissera, Kyungsoo parecia extremamente irritado.

- Pode nos dar licença agora, obrigado, Alexandra. – O delegado falou entre dentes.

- Claro, se precisar de algo estou logo ali na sala. – A enfermeira deu dois tapinhas de encorajamento nas costas do lorde antes de se retirar e fechou a porta.

Tudo o que Jongin havia ignorado em função da preocupação com o amigo voltou à sua mente como toda a força assim que seus olhos pousaram sobre Kyungsoo. Seu coração acelerou de imediato assim que se viu a sós com o amigo e todo o seu corpo parecia travado num único lugar.

- É chocante, não é? – Kyungsoo disse. – Não precisa sentir pena. Ainda posso trabalhar.

- Dói muito?

- Demais, mas doeu mais na hora.

- Como se sente?

- Furioso. Sinto que se alguém tentar me acariciar eu poderia morder feito um cachorro raivoso.

- Isso eu posso ver. – Jongin riu minimamente.

- É meu olho, sabe? Poderia ter sido uma perna ou até um braço, mas por que meu olho? Justo meu olho? É minha ferramenta, como...? Como eu vou ler agora? É frustrante.

- Ainda tem o outro, poderia ser pior.

- Esse aí não está funcionando bem também, eu ainda não sei usá-lo sem o outro.

- Eu sinto muito, Kyungsoo. – Disse em voz baixa.

- Eu também.

Jongin tomou coragem e se aproximou, sentando na poltrona ao lado de sua cama. Estava perto o suficiente para ver as clavículas do delegado escapando pela gola do camisão e para ver o brilho do suor sobre sua pele alva. O delegado era muito branco, assim como o irmão mais novo do lorde também era.

- Quanto tempo irá ficar assim?

- Um mês, acho. O ferimento foi feio.

- Mas você o prendeu, certo? Aquele bandido?

- Sim! Santo Deus, sim! – Kyungsoo enfim esboçou um sorriso. – Pareceu uma carnificina, mas sim, eu o peguei!

- Estou feliz que foi apenas o olho. – Jongin sentiu sua voz escapar trêmula. – Não sei o que faria se tivesse morto.

Kyungsoo ficou em silêncio e o lorde sentiu o rosto queimar de vergonha.

- Também estou feliz que foi apenas um olho e não os dois. Se eu tivesse ficado cego... acho que preferiria morrer.

- Não diga bobagens. Sua vida é valiosa.

- Para quem? Para os personagens dos livros? Sem visão eu não sou nada.

- É valiosa para mim. – Jongin apertou os lábios, não havia palavras para descrever a angústia que sentira ao descobrir do ferimento do amigo. Apenas a ideia de perdê-lo para sempre parecia aterradora.  – Você é muito mais do que apenas um par de olhos.

- Eu não posso ler para você agora, nem para isso eu tenho utilidade mais...

Jongin riu daquilo.

- Bem, por um lado isso é bom. – O lorde enfiou a mão no bolso do paletó e sacou o volume de Oliver Twist que havia sido confiado a si. – Agora eu posso retribuir todas as boas leituras que ofereceu a mim.

O rosto de Kyungsoo se iluminou imediatamente com aquelas palavras.

- Irá ler para mim?

- Se quiser, sim, mas já peço perdão, pois não estou nem perto de ter sua eloquência.

- Eu não me importo. Na verdade... isso me alegra.

- Então me deixe ser seu outro olho, senhor.

O sorriso do delegado se alargou e Jongin sentiu seu coração se aquecer com aquele gesto. O rosto de Kyungsoo se iluminava de uma forma encantadora quando sorria e o lorde não era forte o suficiente para não se derreter completamente. Afinal, os sorrisos do amigo eram sempre surpresas, especiais como presentes.

Abriu o livro na página 208, continuando de onde haviam parado. Kyungsoo ouviu tudo em silêncio, com o olho livre sempre fechado, já que, apesar de não ter sido afetado, ele lacrimejava e incomodava. Quando o lorde desconfiava que havia pegado no sono, fazia uma pausa, entretanto era sempre respondido com um “estou acordado, continue”. E assim seguiram até o fim das páginas.

- Ficará para o almoço, lorde Kim? – Alexandra perguntou alguns minutos depois dos dois começarem a discutir suas impressões da obra.

- Oh, eu não devo. Apareci sem avisar, na verdade, é melhor eu ir para casa. – Fez menção de se levantar, mas a mão de Kyungsoo se fechou rapidamente sobre seu pulso.

- Fique.

- S-senhor...

- Por favor, Jongin. É muito solitário sem sua companhia.

Aquilo fez com que um pequeno arquejo de surpresa escapasse de seus lábios. A verdade é que ele não queria ir embora, mas a civilidade obrigava.

- Há comida o suficiente, lorde Kim. Pode ficar o quanto quiser. – Alexandra acrescentou com um sorriso no rosto, mas os olhos de Jongin sequer se moveram para longe de Kyungsoo.

- Eu fico então. – Respondeu.

Os dedos de Kyungsoo lentamente se afrouxaram de seu pulso, mas ainda os sentiu escorregando devagar por sua pele até alcançarem sua mão, roçando de leve por sobre os seus dígitos antes de enfim se distanciarem. O lorde gravou cada um daqueles movimentos simplórios com seu olhar e descobriu, com certo choque, que gostaria que tivesse durado muito mais.

Passou toda a tarde ali ao lado de Kyungsoo, começaram a ler outro livro e gargalharam juntos várias vezes por causa da história. Foram interrompidos em poucos momentos pela enfermeira, que checava a condição do delegado de tempos em tempos.

Quando chegou o momento de trocar a atadura, Jongin decidiu esperar do lado de fora, apenas ouvindo as exclamações de dor do amigo ao ter seu ferimento limpo. Era impossível ouvir os gemidos de dor de Kyungsoo e não sentir pena. O delegado era um homem forte, mas o lorde não conseguia sequer imaginar o quão doloroso era ter o olho arrancado.

Apesar das reclamações grosseiras de Kyungsoo, Alexandra não vacilava em fazer seu trabalho e mesmo sobre uma chuva de palavras feias, ainda conseguiu limpar o ferimento e enfaixar novamente sua cabeça.

- Já encerrei meu expediente por hoje. – Ela falou assim que saiu do quarto. – O lorde ainda irá ficar?

- Sim. – Jongin respondeu sem nem mesmo saber se Kyungsoo queria que ficasse.

- Eu dei a medicação dele, deve dormir em breve, acho que pode ir, se desejar.

- Eu sei... mas ficarei fazendo companhia, por hoje.

Alexandra assentiu em silêncio.

- O senhor é realmente um amigo muito querido. O senhor Do não quis receber ninguém desde que se feriu, mas hoje, em sua companhia, ele pareceu mais animado.

- Fico feliz de poder ajudar.

- Se me dá licença, voltarei para casa agora.

- Obrigado por cuidar tão bem dele, ele pode ser bem desaforado quando sente dor.

- Não se preocupe, ele não é dos piores.

Alexandra logo se despediu e se retirou. Em seguida, Jongin voltou ao encontro de Kyungsoo, o delegado parecia cansado e quase adormecido.

- Como se sente?

- Exausto, mas ela me deu algo para a dor. – Umedeceu os lábios e se esforçou para abrir o olho bom. – Muito obrigado, Jongin.

- Não há nada a agradecer, lhe fazer companhia é o mínimo que eu posso fazer por você agora.

- Não é apenas por hoje, é por todos os outros os dias.

- O que quer dizer?

Kyungsoo abriu a boca, mas de alguma forma, as palavras não pareciam sair propriamente. Mesmo que dominasse tão bem o vocabulário, de repente, era difícil traduzir para o inglês todas as coisas que se embaralhavam em sua mente.

- Sua companhia... ela é um presente. Sou muito grato por tudo, você me faz me bem. – Jongin respondeu com um sorriso e o delegado se sentiu feliz por ainda poder enxergá-lo, mesmo que um pouco turvo. – Me diga, Kim, por acaso conseguiu compreender aquilo que afligia seus pensamentos? Sobre seu irmão?

O riso lentamente se esvaneceu do rosto do lorde. Sim, ele havia compreendido, mas como explicar aquilo sem se entregar completamente ao amigo?

- Sim... ele me mandou uma carta e eu enfim compreendi.

- Ah. Pode me explicar?

O lorde suspirou.

- Acho que sim, senhor... mas por que o interesse?

Kyungsoo apertou os lábios e encolheu os ombros.

- Curiosidade.

- Se eu lhe contar como entendi, promete que não irá se irritar comigo?

- Por que eu me irritaria?

Jongin deu de ombros.

- Porque envolve você.

- Eu?

- Junmyeon escreveu em sua carta que não se trata do fato de se apaixonar por um homem, mas de se apaixonar por alguém que o completa, que arranca sorrisos e o faz feliz até mesmo com coisas pequenas.

- Entendo. Mas... onde eu entro?

Jongin esboçou um sorriso sem graça.

- Não é óbvio? As palavras de meu irmão descrevem exatamente como me sinto quando estou com o senhor, delegado. Eu creio... – Jongin engoliu seco, sentindo o coração quase atravessar o peito de tão forte que batia. – creio que eu o amo, Kyungsoo.

O delegado ficou em silêncio, digerindo aquelas palavras, tentando entender porque não havia ficado completamente indignado com aquela declaração. Suas mãos se fecharam com força sobre o tecido grosso do lençol que cobria o seu colo, se sentia confuso e irritado, mas apenas porque de alguma forma, as palavras de Jongin lhe faziam o completo sentido. Ele as entendia e, mais do que isso, ele as sentia também.

- E-eu devia ir embora, me desculpe. – Jongin pousou o livro que tinha nas mãos no criado mudo ao lado da cama. – Eu não sei lidar com nada disso, é estranho para mim ficar perto e... – a voz do lorde vacilou.

- E o quê?

- E não tocar em você.

- É? – O delegado umedeceu os lábios e apertou ainda mais o lençol entre os dedos – Então toque.

Lorde Kim engoliu seco, incrédulo.

- Fala sério?

Kyungsoo assentiu em silêncio, prendendo o ar quando sentiu o colchão abaixar no local em que o lorde havia se sentado. Estava perto o suficiente para sentir o calor de seu corpo e o delegado percebeu que estava ansioso, sentindo o coração bater depressa como nunca havia batido por ninguém.

O arquejo que escapou de seus lábios foi involuntário, um reflexo daquela confusão de emoções que lhe tomara quando a mão do lorde pousou morna sobre seu maxilar. Levou um instante para que criasse coragem para abrir novamente o olho e se dar conta que Jongin estava muito perto e era absolutamente lindo.

A mão do lorde enfim se moveu e ele voltou a fechar os olhos, sentindo a respiração pesada enquanto a ponta dos dedos de Jongin refaziam o contorno de suas feições, se demorando um pouco mais sobre seus lábios. Ele amava aqueles lábios, a forma, a textura, a cor, a maciez.

Todo o seu corpo parecia instável, tremendo de uma extremidade a outra, mas Jongin ainda assim tomou coragem e tocou os lábios de Kyungsoo com os seus, bem devagar, bem suave, mas o suficiente para fazer todo o seu corpo entrar em completo êxtase.

O lorde afastou seus lábios alguns instantes depois, mas se manteve perto, ouvindo sua respiração entrecortada se misturar com a de Kyungsoo. Nenhum deles parecia estar são o suficiente para dizer nada, então apenas ficaram em silêncio, cada um absorvendo em suas próprias mentes as impressões do que acontecera.

Trêmulo, o delegado esticou as mãos, tateando o ar até encontrar o tronco de Jongin. Não era sua intenção, mas sua mão pousou exatamente sobre o peito do outro, sentindo seu coração bater ensandecido dentro do peito. Aquilo o fez rir, apenas um pequeno sorriso nervoso, pois ele sentia o próprio coração batendo numa velocidade semelhante.

Deixou que suas mãos percorressem devagar pelo corpo do lorde, subindo por seus braços, deslizando por seu pescoço, sentindo a maciez de seus cabelos e por último as nuances da pele de seu rosto.

- É lindo. – Disse em voz baixa, quase num sussurro e sentiu o rosto do lorde se mover em um sorriso largo.

- Seu olho está fechado.

- Não preciso de olhos para saber disso. – Kyungsoo contornou os lábios de Jongin com o polegar. – Estou feliz por estar aqui.

- Eu também.

- Pode me beijar de novo?

- Quantas vezes quiser.

Jongin se esticou novamente, dessa vez tinha as mãos de Kyungsoo o puxando para si, pousadas sobre sua nuca, prendendo-o a aquele novo beijo. Nenhum dos dois se preocupou naquele momento que aquilo era errado, um pecado. Sabiam que ninguém além dos dois acharia aquilo natural e que teriam que se esconder muito bem.

Entretanto, preferiram deixar aquela preocupação para um momento de racionalidade, já que naquele instante ele queriam apenas desfrutar das sensações maravilhosas de cada um daqueles beijos, cada um daqueles toques. Não havia como prever o futuro, mas Jongin se sentia bem apenas de enfim ter encontrado conforto nos braços de Kyungsoo. Não importava se todos diziam que aquilo era errado e condenável, eles sentiam que era certo e no momento, era apenas o que importava.


Notas Finais


Chorando, vou sentir saudade das minhas crias vitorianas. Espero que tenham gostado!
Eu não estou em casa e meu acesso a internet esses dias tá bem limitado, pode ser que eu demore alguns dias pra responder os comentários, dependo da wifi do trabalho da minha tia, mas não é sempre que acompanho ela.
Qualquer coisa, estou sempre aqui no Spirit e no twitter @suhosunshine.
Vejo vocês nas fanfics de 2017 <3
Beijão!


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