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História Alma de Dragão - IX - Quebrando o tempo e espaço


Escrita por: JonathanJLGomes

Notas do Autor


Perdoem minha 'lerdesa', ainda estou na busca de me controlar e ter foco em escrever duas mil palavras em um dia como o grande Stephen King.

Capítulo 10 - IX - Quebrando o tempo e espaço


Moustre Kaya intimidava somente com sua presença. Uma mulher de no máximo trinta e cinco anos, um metro e noventa e oito de altura, cabelos ruivos, bagunçados e na altura de seus ombros largos e torneados. Os músculos se destacavam no uniforme dos Moustres, que ela não se preocupava em vestir por completo. Estava sem o fraque, somente com a blusa branca dobrada até os cotovelos, sem o lenço no pescoço e com os botões abertos criando um belo decote aos seus grandes seios.

— Talvez vocês estejam se perguntando por que estamos distantes do edifício dos novatos. – dizia andando de um lado para o outro com os braços para trás. – Neste ano, com tantos novatos talentosos, pensei em fazer a primeira aula de Conhecimentos e Práticas de Combate, um tanto quanto diferente.

O vento frio soprou trazendo um certo suspense aos novatos sobre o que ela quis dizer com “diferente”. Naquela manhã nublada, além do campo de treino da aula com Rouma e Tabbys, subindo um pouco mais na base da montanha, adentrando o bosque das altas árvores Silveiras, as médias Miskas e os pequenos Cecóis, Kaya se preparava para testar os limites de cada um.

— Espero que tenham aproveitado ao máximo o Moustre Rouma, pois hoje eu irei sugar toda a energia prima que vocês possuem.

Monkey estava animado ao lado de Nathan e vibrou imaginando o quão emocionante seria aquela manhã, Kathryne a direita do garoto franzino que mantinha o olhar fixo em Kaya, pôde sentir a confiança emanando de Nathan, ele não era o mesmo garoto do dia anterior e isso a deixou orgulhosa, por ela e por ele.

Os olhos de Nathan estavam em Kaya, mas sua mente revivia as lembranças da tarde de treino com Kathryne e Monkey. Após se alimentarem no salão principal do edifício dos novatos, os três se dirigiram ao bosque onde estava Bounce, lá Nathan insistira para que Kathryne o ensinasse manipulação, pois não aceitaria ser humilhado novamente.

— Não quero que fique frustrado, a manipulação da prima é algo que requer tempo. – disse ela sentada com as pernas cruzadas de frente com ele e os pergaminhos abertos ao chão. – Eu demorei quatro meses para poder fazer e manter minha primeira invocação com perfeição.

— Isso é que eu chamo de prodígio, só vim aprender depois de um ano, praticamente. – rebateu Monkey enquanto comia os bolinhos que trouxera consigo do salão principal.

— Tudo bem, estou pronto. – respondeu Nathan, firmemente.

— Antes de tudo você precisa sentir o fluxo de energia prima correr por seu corpo...

— É difícil sentir algo que eu não conheço. – retrucou Nathan com um sorriso.

— Shh, não me interrompa! – ordenou, inspirou fundo e fechou os olhos sinalizando para que Nathan fizesse o mesmo. – Inspire... Expire... Sinta e ouça seu coração, sinta o sangue correr por suas veias, junto com ele corre o fluxo de energia prima.

— Ainda não consigo senti-la...

— Consegue sim, só não reconhece. Eu falei que seria trabalhoso, não se frustre. – ela parou por um segundo. – Lembra quando os irmãos ArtDaves lutaram com você?

— Lembro quando apanhei deles...

— Exatamente. Lembrasse de como você se sentiu quando presenciou a situação de perigo?

— Eu... Não tive muito tempo para perceber o que estava acontecendo, pois estava no chão em poucos minutos. Lembro de querer correr, em seguida de me enfurecer e querer socar a cara daquele filhinho de Coran. – Nathan cerrou os punhos que descansavam sobre os joelhos de suas pernas cruzadas.

— Nesses momentos você liberou energia prima, inconscientemente. – Nathan pareceu surpreso com aquela afirmação. Como poderia liberar algo que não conhecia sem perceber? Si perguntou. – Quando quis correr, o fluxo de energia foi mandado para suas pernas. Quando quis lutar, ela foi distribuída para seus punhos e membros. De todas as formas, era a energia prima. Todos a usam inconscientemente, como instinto de sobrevivência. Agora precisa aprender a manipula-la para que ela faça o que você necessita.

— Através do selos?

— Sim, os selos são como guias para o fluxo. Ele nortenha o fluxo para que faça exatamente o que sua mente está mandando.

— Acho que agora eu entendi. – Nathan fechou os olhos e respirou fundo. Kathryne sibilou um sorriso, assim como Monkey.

Não foi necessário mais que alguns minutos, o garoto de cabelos escuros vestido com a jaqueta de couro presenteada por seu avô, impressionou seu amigos quando conseguiu emanar a energia prima de seu corpo.

— Incrível... – sussurrou Kathryne sem acreditar.

— Isso não pode ser real... – expressou Monkey, boquiaberto.

— O que houve, por que estão assim? – perguntou Nathan, abrindo os olhos. – Fiz errado?

— Não, é que... Emanar energia prima demora muito mais tempo, tanto que não vimos nenhum outro novato fazer isso. E olhe para você, suas mãos e seu rosto estão brilhando. Irradiando prima.

— Isso significa que eu consegui?

— Não só conseguiu controla-la, se superou! – Kathryne sorriu. – Agora vamos para o próximo passo, a invocação.

Os olhos de Nathan ganharam um brilho de felicidade por sua conquista, ele inspirou o ar e passou os dedos no pergaminho.

— Parabéns Nathan! – exclamou Monkey com palmas. – Devia ter feito isto no teste das chamas. – brincou.

— Naquela época eu mal sabia o que era a prima. – respondeu Nathan rindo e jogando um pouco de barro em Monkey.

— Certo, vamos para a prática. – interrompeu Kathryne, pegando as mãos de Nathan e juntando-as. – Este é o selo de Melyne, os dedos indicadores erguidos são como seu corpo e o fluxo de prima, os demais entrelaçados são como todo o ambiente a sua volta.

— Por isso as invocações com este selo tem como alvo o invocador? – perguntou Nathan olhando nos olhos de Kathryne, que ruborizou ao olhar de volta e ver cada detalhe da íris castanho-claro de Nathan, os resquícios mínimos de um verde e laranja que surgiam com a luz que refletia, a fizeram largar as mãos do garoto subitamente.

— I-isso, está correto... – respondeu tropeçando nas palavras.

— Está tudo bem, Kath? – perguntou Nathan, paralisando a garota como se tivesse lançado um feitiço. Era a primeira vez que ele a chamara daquela forma.

— S-sim. – disse levantando-se. – Monkey, poderia continuar com o treino? Eu irei tomar um pouco de água.

— Agora sim, você vai aprender com o mestre das invocações. – gargalhou largando os bolinhos ao pé da árvore que estava.

— Sério? O mesmo mestre que demorou mais de um ano para aprender a invocar? – rebateu Nathan como um piada.

— Isso é passado. – Monkey sentou-se de frente com ele e colocou uma folha sobre a runa no pergaminho de Nathan. – Agora, tente girar a folha com o vento.

— Está me subestimando?

— Estou pegando leve com o novato. – gargalhou Monkey.

Nathan se concentrou, olhando atentamente para a folha seca sobre o pergaminho, sentiu o fluxo correr em seu corpo e fixar no selo que fazia e sem medo de errar, apalmou a runa e disse:

— Aeris invocus!

Monkey observou a folha, que permanecia parada após Nathan levantar a mão e se voltou para ele.

— Parece que vamos precisar treinar um pouco mais...

— Acho que não... – rebateu Nathan. Então uma nuvem de folhas secas envolveram Monkey, foram rumo a Kath e voltaram a Nathan, até se dispersarem. – Agora parece tão simples, eu sinto como se minha energia prima estivesse conectada ao vento, como se fossem um só

— É, você está pronto para a aula de amanhã. – disse Monkey levantando-se e batendo o barro de sua calça.

Com as lembranças do dia anterior, Nathan estufava o peito de confiança na frente da Moustre Kaya e rodeado por seus colegas de nível, os mesmo que chegaram a apresentar grandes habilidades no teste das chamas, principalmente Taylor Randall - desde que Tabbys contou sobre o pai de Nathan ele o encarava com olhar vingativo. O garoto franzino, por outro lado, não parecia se importar com os desafios ou quem viria, sentia-se pronto.

— Com licença, Moustre Kaya... – disse Brandon, o gordo, surgindo detrás de Drwos. – Era necessário trazer o envolto de pergaminhos?

— Pretende viver seu último dia hoje, garoto gordo? – perguntou Kaya, aproximando-se dele.

— Não, senhora. – gaguejou.

— Eu creio que sim, pois deixou a principal ferramenta de um Septo. – ela curvou-se na mesma altura que ele. – Por acaso, não foi notificado sobre isso? O que você fará se precisar fazer uma invocação?

— Eu poderia pegar emprestado com...

— Pegar emprestado? Irá desarmar alguém da sua renascença somente para você se dar bem? – interrompeu-lhe.

— Não da minha renascença, quem sabe da...

— Ah, então pretende prejudicar o colega de uma outra renascença? Você é mesmo um gordo egocêntrico, não é? Não se importar com mais ninguém além de você.

— Tudo bem, eu empresto, Moustre Kaya. – disse Monkey retirando um pergaminho de terra do seu envolto.

— Renascidos da água são realmente pessoas bondosas. – disse ela dando as costas aos garotos, Monkey agradeceu, mas ela respondeu olhando por cima do ombro. – Não foi um elogio, garoto. Pessoas muito boas sempre pagam um alto preço na vida.

Ele somente sorriu, sem dar muita importância as palavras da Moustre, pedindo a Brandon que somente o devolvesse ao fim da aula.

— Alguém tem mais alguma pergunta idiota? Não? Ótimo. – ela parecia impaciente a vista dos novatos. – O lugar que nós estamos é chamado de “A fenda”, eu diria que é um nome modesto dado ao tamanho do abismo que há entre o nosso lado e o lado de lá. Eu não sei a profundidade, não pretendo descobrir e espero que não haja um espertinho entre vocês que queira ser o primeiro.

— Está nos dizendo que vamos ter de atravessar ao outro lado? – perguntou Gylla, descrente, fazendo com que todos os novatos a olhassem. A garota negra e alta para a sua idade, tinha os olhos verdes e os cabelos crespos da cor das areias escaldantes do deserto da Província Oeste amarrado, para trás formando uma pequena bola.

— Exatamente, garota negra, e da próxima vez me chame de Moustre antes de se referir a mim. – Ela olhou no rosto de todos os novatos, sem demonstrar um mínimo de preocupação enquanto fazia o selo de Melyne. – Hoje vocês aprenderão braken, - ela desapareceu diante deles e apareceu do outro lado da fenda. - a técnica que quebra o tempo e o espaço.

Assim como aqueles que já conheciam a técnica, Taylor não demonstrou nenhum receio em realizar aquela atividade. Monkey e Nathan se entreolharam, e ele olhou para Kathryne, que percebeu a preocupação em seus olhos, pois aquela técnica ele não treinara.

— Perdão, Moustre Kaya. – chamou Kathryne e Kaya retornou aos novatos.

— Estou ouvindo. – respondeu cruzando os braços.

—  Não quero contradizê-la, mas esta atividade está um tanto quanto difícil e traz muitos riscos aos que não dominam braken. Quero dizer que é uma técnica que exige uma grande quantidade de prima e ainda mais, dependendo da distância. – Kathryne mal olhava para seu rosto. - Talvez a senhora pudesse deixar a atividade um pouco menos difícil para aqueles que nunca fizeram.

— Bem pensado, menina da espada. – Ela foi até a borda e pondo as palmas das mãos unidas na horizontal formando o selo de Kayus, fez uma invocação da terra, um pequeno tremor se sentiu e cinco colunas de pedra, com diâmetro suficiente para ficar um indivíduo, foram se erguendo uma após a outra em direção ao outro lado da fenda. – Escutem todos! Vocês deverão atravessar usando as colunas. Uma renascença de cada vez, começando com os bondosos da água.

Monkey, Abash e Emilly se destacaram dentre os novatos e caminharam até a beirada da fenda, cerca de dois metros de distância da primeira coluna.

— Quem vai primeiro? – perguntou Monkey observando o abismo escuro e profundo. Emily e Abash trocaram olhares sem dizer uma palavra, enquanto ele voltava alguns passos. – Tudo bem, eu vou primeiro! – ele parou olhando para o outro lado da fenda, respirou rápido e correu, passando entre as garotas e saltando em direção a primeira coluna, usando o braken na metade do espaço e surgindo na coluna, quase se desequilibrando.

— Assim que ele for para a próxima coluna, vocês continuam. – mandou Moustre Kaya.

— Até que não é tão difícil. – expressou Monkey, sorrindo e acenando.

Conversas, murmúrios e risos se ouvia entre os novatos enquanto o garoto moreno de cabelos despenteados se lançava novamente a sorte para conseguir aparecer na outra coluna. Todos bradaram quando ele conseguiu surgir na segunda, mas nem mesmo ele esperava se desequilibrar novamente com o vento que soprara, dessa vez caindo e precisando usar a técnica em sequência para poder aparecer na terceira coluna de pedra.

— Eu estou bem! – exclamou, agora com um sorriso não tão sincero e suando frio. – Essa foi por pouco. – sussurrou para si.

Nathan e alguns outros novatos olharam para Moustre Kaya, buscando alguma reação para a quase morte de Monkey, mas ela se mantinha calada, observando de braços cruzados.

— Eu vou agora. – disse Emily fazendo o selo ali mesmo e desaparecendo após dizer as palavras chancelas. – Braken.

Monkey passou para as demais sem problemas ou brincadeiras, chegando ao outro lado da borda da fenda, assim como Emily e Abash sem nenhum problema.

— Renascença do fogo, podem atravessar. – ordenou Kaya.

Lincel, Ewellyn e Clarice saíram do meio dos novatos indo rumo a beirada.

— Vejo vocês do outro lado. – informou Clarice, correndo e usando o braken, surgindo na primeira coluna e sem demora, sumindo e aparecendo na próxima.

Os cabelos ruivos em tranças de longe se destacavam com a luz do sol que logo foi bloqueada pelas nuvens, mas isso não tirava a beleza da pequena garota de dez anos, que além dos cabelos ondulados e ruivos tinha os olhos verdes como a relva das altas colinas da cidade de Marins, na Província Leste onde nascera.

— Ela é rápida. – comentou Monkey com Emily e Abash, que se mantiveram neutras em opinião.

— Você gosta de aparecer, não é, Clarice? – ironizou Ewellyn, se jogando da beirada. Não se destacava tanto em aparência pois era comum como todos da Província Sul, cabelos lisos pretos e olhos castanho-escuro. – Vai precisar de ajuda, Lincel? – perguntou já surgindo na quinta coluna.

— Não! – exclamou ele. – Vou ficar bem. – completou o garoto loiro de cabelos encaracolados, surgindo do outro lado da fenda ao lado de Ewellyn, sem precisar passar pelas colunas. Os novatos bradaram, palmas e assovios ecoaram por entre as arvores. Até mesmo Moustre Kaya não conseguia acreditar em seus olhos. O garoto cego não deixava de surpreender desde que fez o teste das chamas.

Restavam somente Kathryne, Brandon e Drows da renascença da terra e Nathan, Taylor e Gylla do vento. Moustre Kaya os olhou e fez um suspense antes de dizer quem seriam os próximos a atravessar, Brandon engoliu seco pedindo aos Grandes Seres que os deixassem por últimos, o que ficou nítido para Moustre Kaya. Ela sibilou um sorriso, lembrando que fora ele quem esquecera os envoltos de pergaminhos, e apontou para as três crianças.

— Terra, são os próximos.

— Que os Grandes Seres me acompanhem. – murmurou Brandon, Kathryne sorriu e afagou seus ombros.

— Não acredito que faço parte da mesma renascença que esse medroso. – resmungou Drwos. Olhando por cima do ombro para Brandon, que era bem menor que ele e mais rechonchudo. Drwos era o mais alto, mais velho e mais forte dentre todos os novatos. Era negro e de cabeça raspado, tinha os olhos escuros e lábios grossos, como qualquer habitante da Província Oeste.

— Vai dar tudo certo. – disse Kathryne a Brandon, com um sorriso.

O tempo já estava nublado desde que havia amanhecido, mas para o azar do garoto começou a garoar assim que chegaram mais próximos da fenda. Drwos não se importou com Kathryne ou Brandon, usou o braken atravessou o abismo através das colunas.

Kathryne observando a apreensão de Brandon, pediu que ele fosse primeiro. Ele foi até a borda e olhou para o abismo, o vento soprando na escuridão da profundidade fez o medo subir por sua espinha.

— Não consigo fazer isso. – disse retornando com as pernas bambas.

— Brandon, olhe para mim. – rebateu Kathryne segurando em suas bochechas rosadas pelo frio. – Você consegue! Precisa acreditar em você. Não faça isso para provar aos outros que você pode, faça por si mesmo. Eu estarei aqui e ajudarei você se for preciso, agora dê meia volta e atravesse esse abismo!

Ele consentiu, encheu os pulmões de ar e voltou para a borda. Invocando o braken, ele conquistou a primeira coluna. Olhou por cima do ombro para Kathryne, sibilou um sorriso e passou para a segunda. Kathryne logo o seguiu, se mantendo próxima. Conforme ele passava para a próxima coluna, ela ia para a anterior, demonstrando confiança e o motivando a continuar.

— Vamos logo, garoto gordo, não quero pegar chuva e ainda faltam aqueles três! – bradou Ewellyn.

Brandon franziu o cenho e se transpôs para a quinta coluna, porém escorregou na poça que se formara e acabou não se firmando, caindo no abismo. Kathryne bradou seu nome e Kaya se preparou para salvá-lo, mas a garota de longos cabelos se lançou ao encontro de Brandon, surgindo ao seu lado e o pegando pelo braço. Porém estava além de suas capacidades, e ela não aceitou salvar a si, caindo junto com o ele.

— Ou você é muito ingênua ou está na renascença errada. – disse Moustre Kaya os aparando em seus braços, com os pés colados na coluna.

— Na verdade, estava confiante que nos salvaria. – respondeu Kathryne, recuperando-se do susto. Brandon ainda chorava.

Todos os alunos se postaram as bordas da fenda com o olhar fixo na escuridão. Nathan tentava não demonstrar sua preocupação, diferente de Monkey que gritava o nome de Kathryne. A garoa se tornou sereno e o vento passou a ficar mais frio enquanto Kaya subia correndo a coluna de pedra, saltando na ponta, desaparecendo e surgindo do outro lado da fenda com a maioria dos outros alunos.

— Pronto. São e salvos. – expressou Kaya, o garoto gordo somente chorava, mas Kathryne sibilou um sorriso. – Vamos, atravessem! – ordenou a renascença do vento.

— Antes de irmos, algum de vocês poderia me explicar como uso o braken? – perguntou Nathan. Taylor fingiu que não ouviu, então Gylla respirou fundo e explicou.

— Bom, isso era o que a Moustre Kaya deveria fazer, mas... Já consegue manipular a prima, certo? – perguntou ela e Nathan balançou a cabeça concordando. – Ótimo, para nós é mais fácil pois o braken é uma técnica que surgiu com os renascidos do vento. Simplificando, ela é uma transferência de energia de um lugar para o outro. Porém, a regra essencial é que você saiba para onde está indo.

— Através do vento?

— Dizem que sim, mas que ele não é o único elemento, é só a base. – ela apontou uma rocha que havia a um metro e meio deles. – Agora uso o braken para se transferir para lá.

Nathan procurou se concentrar após notar que Taylor havia revirado os olhos para ele, pouco se importando, visualizou a rocha e emanou a energia prima procurando senti-lo no ar como havia sentido quando fez a invocação. Fez o selo de Melyne, fechou seus olhos e disse as palavras chancelas.

Em questão de segundos sentiu sua energia sendo unida a do vento, como uma descarga elétrica percorrer todo seu corpo, se sentiu sendo sugado de onde estava e lançado ao lado da rocha, bem onde se havia imaginado.

— Ótimo, agora só precisa atravessar o abismo. – ironizou. – Primeiro as damas, não é, rapazes?

Ela correu, saltou da borda e foi surgindo nas colunas a cada passo que dava até atravessar completamente ao outro lado. Virou-se para Nathan e Taylor e curvou-se em agradecimento, como uma artista circense do oeste.

— Apressem-se! – alertou Kaya, novamente.

O sereno fino agora ficava mais forte, transformando-se em chuva com vento frio. Taylor nem se deu ao trabalho de esperar Nathan ou mesmo olhar para ele.

— Nos vemos do outro lado. – disse iniciando a selo de Melyne a beira do abismo.

Porém, antes que pudesse usar a técnica, um estrondo alto abalou o perímetro de ilusão e defesa de tal forma que se foi possível ver a onda de choque se espalhando pelo céu, seguido por um tremor no solo que fez com que o garoto loiro perdesse o equilíbrio e caísse no abismo. Kaya naquele momento estava olhando para o impacto que se alastrava no alto, voltando os olhos para as crianças que pareciam assustadas atrás delas e por esse motivo não viu quando Taylor caiu, mas ouviu o grito de Nathan exclamando o nome do garoto.

Ele se esforçou para tentar alcança-lo, mas não teve chances. No intuito de salvá-lo, ele usou o braken, porém de uma forma singular que ninguém notou. Sem usar nenhum tipo de selo, ele conseguiu se transferir e segurar Taylor com uma das mãos, enquanto a outra segurava a beira da coluna.

— Seu idiota, não devia ter feito isso, eu iria conseguir me salvar! – expressou Taylor.

— Belo jeito de agradecer... – disse Nathan com dificuldade.

A chuva forte os molhava e deixava tudo liso, o vento que corria parecia que os iria jogar para longe.

— Não estou agradecendo, eu ia conseguir me salvar, mas como posso fazer o selo com você segurando uma das minhas mãos?

— Como você é orgulhoso... – retrucou Nathan, percebendo nesse instante que não havia usado o selo para salvá-lo, “Será que eu poderia fazer isso novamente?”, se perguntou. Fechando seus olhos ele tentou fazer a técnica mais uma vez, sentiu seu corpo sendo levado num segundo e seus pés tocarem o chão. “Consegui!”, pensou consigo, mas se decepcionou ao ver que fora Moustre Kaya que os salvou.

— Vocês estão bem? – perguntou ela e os garotos consentiram. Seu rosto estava assustado, se questionando sobre o que poderia ter atingido o perímetro, ou quem?

— Que terremoto foi esse? – perguntou Abraham, com expressão séria como se reconhecesse que aquilo estava fora do normal.

— Creio que não tenha sido um terremoto... – ela respondeu baixo, confirmando a suspeita do pequeno cego. – Muito bem, a aula acabou. É completamente proibido usar o braken nas dependências do instituto, porém irei abrir uma exceção neste momento para aqueles que conseguem voltar ao edifício. Os demais podem ir com os Auxiliares. Irei me encontrar com os demais Moustres para saber o que houve.

Antes que pudesse sair de perto dos garotos, outro abalo mais forte atingiu o Instituto. Moustre Heyg surgiu com cinco Auxiliares, com pesar no rosto e Kaya teve a confirmação de que a situação era realmente preocupante.

— Isso é coisa dele, não é? – perguntou ela e Heyg assentiu. – Levem todas as crianças para o Prédio do Conselho, agora! – ordenou aos Auxiliares.

Um raio cortou os céus e desenhou a figura de um rosto, as gotas da forte chuva foram se condensando em um ponto alto acima da abóboda do perímetro de ilusão e defesa, se tornando uma face familiar somente aos Moustres.

— Me entreguem os Doze! – sussurrou o vento na chuva, como um fantasma no ouvido de todos que estavam nas terras do Instituto. – Me entreguem os Doze... Ou sejam destruídos com eles...

O rosto no alto se dissipou, as gotas condensadas caíram como uma cachoeira e a chuva foi ficando amena. As crianças tremiam assustadas e com frio.

— O que foi isso? Quem disse isso? – perguntou Emily quebrando o silêncio aterrorizante, mas Kaya permanecia com o olhar no horizonte.

— Kaya? – chamou Heyg por três vezes até ela se voltar a ele. – Precisamos ir...

Ela olhou as crianças e pareceu retornar ao normal, mesmo ainda abalada.

— O que os mandei fazer? – perguntou aos Auxiliares. – Levem-nas para o Prédio do Conselho.

— Mas Moustre Kaya... – retrucou Emily.

— Agora não, mas tarde os daremos resposta! Vão, agora!

Assim que todas foram levadas, Kaya e Heyg foram ao encontro dos demais Moustres na Torre do Doze, a construção larga e alta que ficava no alto da base da montanha, além dos edifícios do Instituto. Uma pirâmide invertida de doze andares construída por invocação pelos Sete Lendários, sustentada em suas arestas por três colunas que se erguiam até o topo onde ficava um templo circular, na abóboda do teto havia uma estrela de doze pontas e em cada ponta o símbolo de cada um dos Grandes Seres. Dentro era um grande salão, com somente doze tronos de mármore em meio círculo, um ao lado do outro, no alto de suas costas existia uma pedra redonda onde se repetia os mesmos símbolos que haviam no teto, porém um em cada trono.

No centro do salão estavam os Moustres, aguardando pelos Doze sacerdotes que se diziam serem escolhidos como porta-voz dos Grandes Seres, para se assentarem nos tronos e os aconselharem sobre as medidas a serem tomadas. Oito sacerdotes apareceram, restando somente quem se assentaria no trono da Águia, do Leão, do Touro e da Luz, mas deste último nunca houve um porta-voz, jamais alguém usou seu trono. Sempre foi tido como uma lenda, até mesmo entre os Grandes Seres.

— O que os trazem a presença dos Doze? – perguntou o porta-voz da Serpente.

— Sacerdotes, viemos até aqui para pedir que evoquem o Primeiro Batalhão... – expressou Moustre Rouma. – Ele está de volta.

— A quem se refere?

— Ele se refere a Qmwy, o primeiro rebelado. – disse uma criança vindo por detrás do trono da Águia, vestida com o manto branco dos Doze, encapuzada sem revelar seu rosto e com a bata com o símbolo do Grande Ser Águia sobre seus ombros. – Estou certa, Moustre Rouma?

Ela retirou o capuz revelando seu rosto sereno, a pele branca e lisa, os olhos incrivelmente azuis como o topázio, os cabelos negros de tom azulado com mechas brancas, trançados em volta de sua cabeça.

— Sim... – a resposta quase não saiu dos lábios de Moustre Rouma, encantado com a criança que se assentava no trono da Águia, e que não deveria ser uma porta-voz pois os demais eram velhos anciões. – Perdoe-me, criança... Mas quem és?

— Não deverias estar aqui, deves voltar ao seu aposento, por favor não se reveles. – disse a porta-voz da raposa.

— Não há mais nada encoberto, sacerdote da raposa. – respondeu a menina, serenamente. – É por esse motivo que eles estão aqui, e nós também.

Mais dois indivíduos encapuzados se revelaram, saindo detrás dos tronos do Leão e do Touro. Um jovem, com cerca de vinte anos, longos cabelos loiro-escuros, olhos cor de mel e pele branca assentou-se no trono do Leão e o outro, incrivelmente forte, dezenove anos, cabelo crespo e moicano, olhos castanho-claro e pele negra, apoiou o ombro nas costas do trono do Touro.

— Meu nome é Myrael, herdeira da Alma de Grywphon, o Grande Ser Águia. E estes são Mykael e Andryw, herdeiro da alma de Arwen, o Grande Ser Leão e Bharldwn, o Grande Ser Touro.

— Não posso acreditar... – disse Rouma abismado. – Então a profecia era real?

— Que profecia? – perguntou Yzzis.

— Assim como em cinzas se tornaram, em vida novamente retornariam e nos herdeiros dos filhos do barro, as almas dos grandes seres renasceriam. – expôs Madhayra.

— E estes são os herdeiros escolhidos... – disse Tabbys a si mesmo.

— Mas, se vocês são herdeiros e a profecia se cumpriu, onde estão os outros nove? – perguntou Anallyz.

— As almas começaram a despertar após o primeiro herdeiro nascer, ou seja, Mykael. -  explicou Myrael. – Todos os herdeiros já nasceram, por isso Qmwy os quer antes que eles tomem consciência de seus dons.

— Precisamos proteger os outros herdeiros! – alertou Heyg. - Onde eles estão?

— Esta informação somente Myrael conhece e não revelou a nenhum de nós. – disse Mykael.

— E não direi, pois não se sabe quem vai estar do nosso lado ou do lado de Qmwy.

— Mas o Moustre está certo, devemos nos preparar. – concordou Andryw, levantando-se de seu trono e ordenando ao porta-voz da serpente. – Evoque seus generais, precisaremos de seus batalhões.

O sacerdote assentiu, levantando-se e se retirando.

O clima em todo o salão era pesado, o silêncio pairava a ponto de se ouvir o som dos seus batimentos. Moustre Rouma já esperava pela volta de Qmwy, mas não achou que seria tão breve. Seu pedido em meio a chuva significava o início de sua vingança e caso não fosse detido, seria o princípio de uma grande batalha, da qual Nathan e os demais novatos não poderiam escapar. A ameaça estava vindo e com ela o furor de Qmwy, o primeiro rebelado.


Notas Finais




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