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História Alma de Dragão - XI - Fugir ou morrer


Escrita por: JonathanJLGomes

Capítulo 12 - XI - Fugir ou morrer


Atravessando a cidade em rápidas aparições, como em piscar em olhos, os irmãos seguiam para o Bosque da Alvorada sendo seguidos por Ayzaq, o renegado, que mantinha seu sorriso malicioso e as mãos enfiadas nos bolsos de seu sobretudo negro e deteriorado.

— Espertos... – Ironizou a cada vez que aparecia. – Me levando para longe da população para que não me vejam estripando vocês. Isso me faz crer que não sabem montar o perímetro de ilusão, mesmo estando em três.

Os irmãos se entreolharam, mas nada disseram. “Precisamos chegar a clareira. ” Pensava Ray ao atravessarem o rio rumo ao sul da ponte.

***

Rumo ao Instituto, em formação triangular, as crianças usavam o braken com a maior distância e velocidade que podiam. Nathan ia na frente, com os olhos frenéticos em cada movimento ao seu lado e atrás. As meninas vinham bem atrás dele. Kath com as mãos em sua espada ainda embainhada e Emily, também com olhar frenético, mas ligado em Taylor. Ele vinha bem atrás dela, com os braços erguidos para trás e os dedos eretos com suas unhas afiadas. Monkey era o último, a feição sempre sorridente agora dava lugar a um olhar frio e calculista à espreita dos renegados, Dramyn e Grywvo, que o seguiam (disso ele tinha certeza, mesmo que não os pudesse ver).

— Chega dessa brincadeira! – Exclamou Dramyn, o renegado de cabeça raspada, surgindo em cima de um poste-luminária bem na frente de Nathan. – Vocês acharam que tinham a escolha entre fugir ou morrer, mas não importava o que escolhessem, o fim seria sempre o mesmo. Todos irão morrer!

Nathan tentou retornar e pegar uma nova rota pelo telhado do prédio ao lado, mas Grywvo já estava parado atrás deles.

— Por aqui não. – Disse ele mexendo o dedo indicador em negação.

— Separem-se. – ordenou Taylor. – Um de nós precisa chegar ao Instituto. Vamos, agora!

Monkey seguiu em frente, surgindo mais adiante de Dramyn, que somente o olhou por cima do ombro mas manteve o foco em Taylor e Emily, que permaneciam no telhado. Nathan foi pela esquerda com Kath atrás dele.

— Melhor não vir comigo, Kath. – Alertou. – Se me seguirem, não posso protege-la.

— Não se preocupe comigo, apenas siga em frente.

No telhado, Taylor tentava ganhar tempo enfrentando o renegado.

— Por que ficou? – Indagou a Emily. – Você devia ter fugido com eles.

— Não irei deixa-lo sozinho com esse careca.

— Posso cuidar dele, agora vá! – Ordenou.

— Não! – Respondeu firme, retirando duas agulhas longas e finas do seu colete. – Sei que pode, mas eu irei ajuda-lo. Quer você queira ou não.

— Isso já está me dando nos nervos... – comentou Dramyn, com os olhos fechados e passando a mão em sua cabeça. – Vá atrás dos outros!

— Qual dos três? – Perguntou Grywvo.

— Qualquer um, seu idiota! Pelos Seres.... Apenas faça o favor de os matar!

Grywvo, sem pensar, apenas foi na direção de Monkey.

— Agora somos eu e vocês, espero que me divirtam. – Ameaçou Dramyn.

O renegado fez o selo de Kalldorf e mantendo o selo, apenas separou as mãos como se segurasse armas. Porém, eram elas suas armas.

— Taer invocus... — Chancelou e esferas de chumbo se formaram diante de seus dedos, como balas engatilhadas em uma pistola da Milícia. – Bang! – Disse ele, disparando as em Taylor e Emily, uma mão para cada criança.

O garoto loiro facilmente se desviava, pois, as balas pareciam lentas aos seus olhos. Emily, porém, se esquivava com esforço, arrancando gargalhadas de Dramyn.

— Isso, garota! Dance! Dance! Dance!

— Aeris invocus!— Bradou Taylor, com as mãos posta sobre seu pergaminho e uma torrente forte de vento se lançou contra Dramyn.

— Ora, me poupe de suas miseras invocações. – Respondeu o renegado, usando o braken para ressurgir ao lado do garoto, pronto para atirar.

— Ele não está sozinho, seu careca! – Gritou Emily, com o pergaminho a seus pés. – Aqua invocus!

A garota invocou uma bolha d’água envolvendo a cabeça do renegado, mas não possuía controle e nem energia prima suficiente para a manter a bolha enquanto Dramyn balançava-se para se livrar.

— Acha mesmo que isso vai me parar, sua fedelha?!

— Ela não, mas foi tempo mais que suficiente para mim. – Respondeu Taylor, fincando suas unhas finas, incrivelmente fortes e afiadas no estômago do renegado.

— Seu filho de... - Antes que o Dramyn pudesse terminar, Taylor tentou cortar os tendões de seus braços para impedi-lo de fazer selos. Porém o renegado fora mais rápido e usou o braken para se esgueirar do ataque, ficando com somente o rasgo nas mangas de seu sobretudo. – Você é rápido, garoto. Até demais...

— Ele não é o único! – Respondeu Emily aparecendo atrás dele, tentando enfiar as agulhas em suas costas.

— Poupe-me, garota. – Dramyn a parou sem esforço, pegando-a pelo braço e jogando-a contra Taylor, que a aparou com dificuldades. – Você perto dele é mais lerda que uma lesma. Senti a emanação de sua prima assim que surgiu.

— Sentiu isso, também? – Usando linhas de energia prima presas em cinco agulhas longas ligadas cada uma a um dedo de sua mão direita, ela as puxou com voracidade fazendo com que penetrassem as costas do renegado que urrou de dor.

— Sua cadela! – Bradou o renegado, correndo em sua direção.

— Emily, fuja! – Pediu Taylor.

A garota fez o selo de Melyne e tentou sumir com o braken. Mas o renegado a aparou pelo pescoço quebrando sua transferência de energia com a invocação wnbraken, uma técnica ensinada somente aos formandos de nível sete do Instituto.

— Eu vou quebrar esse seu lindo pescocinho, sua pirralha maldita.

— Como você fez isso? – Perguntou Emily se debatendo.

— O que, parar você? Então não falaram para vocês sobre o rastro da alma? – Perguntou ironicamente. – Para quem executa tão bem o braken, me admira que não saibam a essência da técnica. Quando você, cadelinha, se transfere de um lugar a outro, é sua alma quem chega primeiro ao destino. Tudo em questão de milésimos de segundos. Mas essa transferência deixa um rastro e a invocação wnbraken nos permite sentir e cancelar o braken.

Os olhos de Emily perdiam o brilho e reviravam com a força da mão áspera de Dramyn agarrada a seu pescoço, enquanto ele a balançava de um lado para o outro fazendo sua explicação. Ela batia em seu braço forte e rebatia suas pernas, ficando com menos fôlego a cada movimento.

— Taylor... – suspirou cerrando os olhos.

O garoto loiro se encheu de ira e gritou, sentindo uma explosão dentro de si. Ele saltou de onde estava e sumindo e reaparecendo em diversas direções começou a enfiar suas unhas no corpo do renegado, que tentava segurá-lo com uma das mãos, mas sem sucesso. A velocidade de Taylor parecia ter triplicado, a ponto de o renegado não ser capaz de seguir o rastro de sua alma.

Ele perfurou o braço do renegado até que ele soltasse Emily, e mesmo depois, continuou a rasgar e furar a pele de Dramyn a cada vez que surgia, até sua prima se esgotar.

— Seu desgraçado, por que você não morre?! – Berrou Taylor, exausto sobre seus joelhos.

Envergado, com o sobretudo completamente desfiado e furado. O sangue fluindo e se derramando de todo seu corpo e pingando de suas mãos. O renegado sorriu maliciosamente, mostrando seus dentes banhados no escarlate de seu sangue.

— É você, quem irá morrer hoje... Junto com a sua namoradinha.

Taylor olhou para Emily, desmaiada ao lado do renegado.

— Não toque nela! – Ordenou, mas Dramyn se fez de desentendido, estendendo o braço para tocá-la. – Eu mandei não tocar nela!

Um surto de prima emanou do corpo do garoto quando ele disparou em direção ao renegado. Porém, era o que Dramyn queria que ele fizesse.

— Agora, você é meu. – Disse ao segurá-lo pela cabeça. Taylor furava e cortava o braço que o segurava, mas o renegado suportava a dor com um sorriso estampado na cara. - Eu não sei de onde você arranja tanta prima, muito menos como aprendeu a fortificar suas unhas e deixa-las tão afiadas, mas, achou mesmo que só com isso poderia parar um renegado?

As forças de Taylor foram se esvaindo, junto com sua esperança. Uma mistura de raiva e culpa tomaram conta de sua mente, chegando até a se sentir humilhado, pois mesmo sendo da família dos Septos de Elite, ele não fora capaz de salvar a si ou a Emily.

Enfrentando aquele turbilhão de pensamentos ruins, sentiu uma dor tomar conta de seus olhos e na ponta de seus dedos, na região de suas unhas, de uma forma que nunca sentira antes.

O sangue banhava suas mãos agarradas ao braço de Dramyn. A carne de seus dedos parecia estar se rasgando, seus olhos queimavam como se os tivessem jogado água fervente. Era insuportável até mesmo para o menino prodígio.

Ele fecha seus olhos e aperta mais as suas mãos, sentindo as lagrimas molharem o seu rosto.

— Interessante... – Diz o renegado tirando um punhal de suas costas, embaixo do sobretudo retalhado pelas unhas de Taylor. Tinha a lâmina angulada feita de prata negra e o cabo era do osso de algum animal de médio porte. – Eu já matei muitas pessoas, várias crianças inclusive, mas é a primeira vez que vejo alguém chorar sangue antes da morte.

O garoto não entendeu o que ele queria dizer, pois não via o sangue misturado as suas lagrimas. Sentia que as dores aliviavam aos poucos, ficando cada vez mais suportável.

— Prometo que serei rápido. – Ironizou, com um sorriso encostando o punhal no pescoço de Taylor.

— Eu prometo que serei bem mais! – Respondeu Taylor abrindo seus olhos.

A íris verde-amarela agora dava lugar a uma pupila fina, na vertical, como a de um felino. Suas unhas estavam maiores, mais fortes e bem mais afiadas. Ele podia sentir as mudanças acontecendo em seu corpo como uma sequência de explosões: o cansaço já não existia, sua prima parecia estar totalmente restaurada e muito mais abundante, sentia como se pudesse fazer qualquer coisa com seu corpo. E fez. Num movimento rápido e invisível aos olhos simplórios, ele cortou o punho que segurava o punhal ao seu pescoço, fazendo o renegado lhe largar e berrar de agonia.

Sua visão enxergava os mínimos detalhes e movimentos, conseguia ouvir e identificar diversos sons a sua volta e até mesmo no bosque um pouco mais distante. Pessoas festejando, conversando sobre alguém que por pouco não fora pisoteado ao cair bêbado na rua principal, uma coruja agarrando um rato para o jantar, pássaros se remexendo em seus ninhos. Os sons eram incrivelmente nítidos. Olhou suas mãos, ensanguentadas, as veias em seus dedos pareciam querer estourar e as unhas tinham a metade do tamanho de seu dedo indicador, eram brancas e firmes como osso, porém tão afiadas quanto uma lâmina de prata negra.

A energia que sentia emanando em seu corpo era completamente diferente, não parecia ser prima e ampliava todos os seus sentidos.

— Você é um herdeiro?! – Afirmou Dramyn, descredito, entre um berro e outro.

Porém Taylor não lhe deu ouvidos. Sem usar o braken, foi capaz de ir ao encontro de Emily tão rápido quanto se tivesse usado a técnica, a pegou em seus braços sem nenhum esforço e ressurgiu mais distante no telhado.

— Se me seguir, retalho o seu corpo. – Ameaçou e saltou para o rumo do Instituto.

Dramyn estava estupefato, pensava somente no que presenciara e em contar o mais depressa possível a Qmwy. Envolveu seu punho cortado com uma bolha de água, uma técnica medicinal, estancando o sangramento e acelerando a cicatrização. Retirou o punhal da mão cortada, o guardou e se transferiu em direção a Ayzaq e os irmãos ArtDaves.

***

Na Torre dos Doze, Myrael desperta de sua meditação e chama pelos herdeiros, Andryw e Mykael, convocando todos ao salão dos doze tronos.

— O que houve, por que nos trouxe aqui? – Pergunta Andryw.

— Um herdeiro despertou. – Responde preocupada. – Onde estão os batalhões?

— Ordenei que guardassem as fronteiras, minha senhora. – Responde o sacerdote da serpente.

— Não devia ter feito isto, eles deveriam estar guardando Barsest e o Instituto! – Diz Mykael. – Chame-os para cá, agora!

— Sim, meu senhor!

— Onde está o herdeiro, Myrael? – Pergunta Andryw.

— Creio que a caminho do Instituto... – responde, confusa. – Suas decisões estão alterando, suas ações estão turvas, é como se estivesse em conflito consigo mesmo.

— E está. – Afirma Mykael. – As duas almas entraram em colapso. Comigo foi da mesma forma.

— Sim.... É isto mesmo. – Concorda ela. – Não é o garoto quem está controlando o corpo, é Tywin, o Grande Ser Tigre. – Diz ao ter uma visão rápida da face de um felino com olhos como se estivessem em chamas.

— Precisamos ajudá-lo! – Brada Andryw.

— Não podemos, os renegados estão a nossa procura. – Diz Myrael. - Se aparecermos lá, Qmwy manda todos que tiver para nos matar, e ainda não estamos prontos para enfrentar os seus escolhidos.

— Então o que faremos, minha senhora? – Pergunta o ancião sacerdote do lobo.

— Confiaremos na alma que despertou para livrar seu herdeiro e nos batalhões que estão a caminho. Alerte os Moustres! – Ordena ao seu ancião. – Espero que o herdeiro suporte a Ensu de Tywin até chegar ao Instituto. Sinto que ainda mais, acontecerá.

***

Kathryne e Nathan já podiam ver ao longe o grande portão do Instituto e não havia sinais de que estavam sendo seguidos, o que preocupava Kath ao lembrar que Monkey estava sozinho.

— Nathan, talvez seja melhor você continuar sozinho a partir daqui.

— Do que está falando?

— Monkey está sozinho, se o outro renegado não está atrás de nós...

— Entendi. – Disse, parando e olhando para trás. – Você continua, eu vou atrás de Monkey.

— Mas Nathan...

— Eu sei que não sou o melhor para ajudá-lo, - interrompeu – mas se um de nós precisa ir, esse sou eu. – Ele deu uma pausa, lembrando de seu primeiro dia. - Estou em dívida com ele.

Kathryne assentiu, balançando a cabeça, enquanto Nathan partiu na direção de Monkey.

— Espero que o encontre. – Sibilou Kath, voltando a correr.

***

Monkey corria cortando entre as árvores rumo as fronteiras de Barsest com a Província Leste, gastando sua prima com o braken. Não havia sorriso em seu semblante, somente uma preocupação com todos. Sua respiração já estava ofegante e sua velocidade já não era a mesma, sinais de que sua energia estava esgotando. Então decidiu parar entre a escuridão das árvores, escondido atrás de uma miska, descansando e comendo um biscoito para restaurar nem que fosse um pouco de sua energia.

Galhos se estalaram e passos ouvidos, mas já era tarde.

— Regra número um dos fugitivos: jamais pare! – Disse Grywvo, aparecendo da penumbra de um cecol. Aquele conselho era real, pois ele por muito tempo fugia dos Septos. – E você estava bem, sabia? Tinha ganhado uma boa vantagem de distância, além do fato de que fiquei em dúvida em seguir seus amigos e cheguei até a mudar minha rota algumas vezes.

Monkey nada disse, limpou a boca dos farelos do biscoito e esperou pelo movimento do homem com moicano.

— Só isso aí não vai te ajudar a recuperar prima o suficiente para conseguir fugir. – Ele tirou um frasco com liquido azul do lado esquerdo do sobretudo. – Aceita? É o que está precisando, uma poção para recuperar completamente sua prima.

O menino moreno permaneceu calado, levando a mão lentamente ao envolto com os pergaminhos atrás de sua cintura.

— É, parece que você não quer conversa. Não é?

O renegado guardou o frasco e partiu em direção a Monkey, desferindo um soco, mas acertou apenas o tronco da árvore. O menino esquivou-se com um pulo para trás, abraçando o tronco.

— Vai precisar ser mais rápido que isso, tio. – Instigou e então tentou saltar, mas o renegado o segurou pelo calcanhar e o lançou no chão.

— Rápido demais, pirralho? – Perguntou Grywvo, pisando em suas costas e retirando um punhal igual ao usado por Dramyn, pequeno e de lâmina como foice. Ele agachou-se sobre a criança, o puxou pelo cabelo e encaixou o ângulo do punhal na altura de sua jugular. – Quando chegar ao Plano Infinito, dê minhas condolências aos seus amigos, que por essas alturas já devem estar por lá.

Monkey tentou resistir e se livrar do renegado, mas estava cansado e sem forças, não tinha como resistir. O menino fechou os olhos, aceitando que seria seu fim, que não poderia ser como seus pais e pior, que não conseguiria encontrar seu tio, de quem tanto se orgulhava, o dono do vulgo Monkey. As lagrimas correram por seu rosto por sentir que seria ali, em meio as árvores da fronteira, que perderia sua vida sem ao menos ter conquistado seu título como Septo.

Naquele instante, as folhas secas ao redor deles se agitaram, o vento assobiou e quebrando o tempo e espaço Nathan surgiu berrando o nome de Monkey e acertando um chute na cabeça do renegado, forçando-o a sair de cima do garoto, que abrindo os olhos no susto, se alegrou e logo se pôs em pé, agradecendo a Nathan.

— Acho que agora estamos quites. – Respondeu Nathan.

— Quem sabe depois que me pagar um dôgun. – Brincou Monkey.

Os garotos prontamente pegaram os pergaminhos de suas renascenças, prepararam o selo para ataques de Kalldorf, acumulando o máximo de prima para ampliar a força do ataque no renegado que se levantavam, limpando o sangue que escorria de seu nariz.

— Belo ataque, pena não ter tanta força. Aposto que se fosse mais velho, teria feito um estrago maior.

— Vamos ver o que acha deste. – Ameaçou Nathan, apalmando o pergaminho. – Aeris invocus!

Bradou, invocando o único ataque que praticara durante as duas semanas após a ameaça de Qmwy. Uma forte ventania que consumia praticamente toda sua prima, empurrou o renegado, que pôs os braços atravessados diante de sua face. Monkey aproveitou a chance e fez sua invocação, envolvendo o renegado com água, o deixando dentro de um casulo.

— Muito bem, Monkey! Agora aguente firme até que ele morra afogado.

— Não o segurarei por muito tempo, Nathan. Veja!

Dentro do casulo, Grywvo fazia seu contra-ataque. Um túnel de barro que lhe dava saída para fora da esfera de água.

— Foi uma bela combinação de ataque, pena vocês serem tão fracos.

— Você sente pena de muita coisa. – Retrucou Nathan e puxou o pergaminho do fogo. Monkey o olhou com indiferença, afinal não era sua renascença e ele havia consumido muita energia com a invocação da ventania, mas ele abriu o pergaminho no chão e fez o selo novamente. – Flames invocus...

Um círculo de chamas se formou ao redor de Grywvo, na altura de sua cintura. Monkey não conseguia acreditar que a invocação havia dado certo, acreditava que Nathan não conseguiria, e agora, achava que ele não teria mais energia pois aquilo teria consumido o dobro de sua prima, que já estava baixa.

— Vamos, Monkey! – Disse Nathan puxando seu braço.

— Como fez aquilo? – Perguntou Monkey, enquanto se esgueiravam entre as árvores.

— O que? Foi só uma invocação.

— Sabe muito bem que invocar um elemento que não seja nossa renascença requer muito mais prima, no seu caso, o dobro já que fogo é o elemento sucessor do ar. Você deveria estar exausto!

— Mas não estou. Precisamos sair daqui! Aquilo não irá segurá-lo por muito tempo.

Grywvo realmente não deu importância aquela invocação. Usando o selo de Melyne fez a terra se ergue diante de si e cair por sobre o fogo, apagando-o. Com o braken logo chegou onde os garotos corriam, observando-os de cima das copas, e deu um sorriso ao pensar em como seria fácil matá-los. – Dois garotos de nível um, esgotados de prima, seria até vergonhoso para minha reputação. – Pensava.

— Pode usar o braken? – Perguntou Nathan. 

— Eu? E você? – Respondeu Monkey.

— Pode ou não?

— Acho que sim...

— Ótimo, vamos voltar em direção ao Instituto.

— Mas e os ArtDaves?! – Perguntou Monkey fazendo o selo de Melyne.

— Não temos como ajudá-los!

— Ele está certo. – Disse Grywvo saltando da copa em que estava. – São vocês que estão precisando de ajuda.

— Vai Monkey, usa o braken e sai daqui!

Monkey relutou, mas acabou utilizando a técnica. Porém, não seguiu o plano de Nathan. Ao invés disso foi para o Bosque da Alvorada, ao encontro dos ArtDaves.

— Parece que seu amigo prefere ir de encontro ao perigo. – Comentou Grywvo.

— Como sabe disso?

— Simples, o rastro da... Esquece, você não precisa mais saber disso. – Ele fez o selo de Kayus. – Taer invocus!

O chão ao redor de Nathan tremeu e se ergueu a sua volta, envolvendo-o em uma esfera de barro.

— Lhe farei um grande favor, garoto. – Disse Grywvo com a mão aberta erguida, fazendo com que a esfera se deslocasse do chão e levitasse. – O enterrarei aqui mesmo... nem precisarão de um caixão.

O renegado foi fechando a mão bem devagar, fazendo com que a esfera fosse diminuindo seu diâmetro. Com os ouvidos atentos para ouvir os gritos de Nathan dando um sorriso torto, ele olhava atento para as rochas da esfera que conforme diminuía, se desfazia em areia.

Mas nada se ouvia, além das rochas virando pó. Grywvo apertou a mão mais depressa para acelerar a morte da criança, mesmo assim, nem mesmo um grunhido foi feito.

— É assim que se faz um funeral! – Gritou lançando o punho cerrado no chão, como se batesse um martelo enorme e pesado contra um prego torto que insiste em não fincar na madeira, fazendo com que a esfera se chocasse na terra e se dissipasse em poeira.

Mas Nathan não estava lá.

— Eu sábia. Moleque maldito! – Berrou aos céus, pulou e usou o braken para chegar ao pico da copa do cecol mais alto que tinha por perto. – Como você foi capaz de usar invocações? Deveria estar esgotado de prima. – Reclamava enquanto olhava o bosque ao redor, tentando sentir a presença de Nathan.

Ele esperara até ser envolvido completamente, quando já não via mais nada e nem mesmo o ar entrava na bolha de barro, ele tentou usar o braken. Sem sucesso, ele se viu a beira da morte quando o espaço que tinha começou a diminuir. Ouvia Grywvo bodejar palavras, mas não conseguia entender. O ar que mantinha, aos poucos foi se acabando. Estava completamente espremido, usando as forças que tinha para impedir que as paredes o apertassem mais.

Sem esperança de que sairia daquela situação, lembrou-se de sua família e uma lembrança lhe ocorreu. O sorriso de todos no dia em que festejaram juntos o ano que se iniciava, aos pés da Velha Árvore Ribeira. O abraço e as brincadeiras de seu avô, sua mãe com Abby nos braços ao lado de Ferdinand. Por um momento desejou voltar aquele lugar e reviver tudo aquilo novamente.

Foi com os olhos fechados revendo tal lembrança que ele, mesmo sem usar um selo, invocou o braken e surgiu aos pés da Velha Árvore. Era a segunda vez que aquilo ocorria e ele não tinha ideia em como era capaz de conseguir fazê-lo.

Nathan se levantou, ainda atordoado, e notou que os simplórios a sua volta o olhavam estranhamente. – Será que me viram surgir? – Se perguntou. Mas isto não era importante naquele momento. Monkey ainda corria perigo.

A Velha Árvore Ribeira ficava ao lado da ponte, era uma miska de tronco largo e galhos grossos, com uma copa triangular de folhas verdes com pontas brancas. Nathan subiu para debaixo da ponte levadiça, entre as engrenagens alaranjadas e o cheiro forte de urina dos Castos que se abrigavam da chuva e do sol, tinham aquele lugar como casa e banheiro.

— Vamos lá, se eu fui capaz de chegar aqui, posso ser capaz de ir ao Bosque Alvorada. – Falou consigo mesmo, ao calcular a distância da transferência de onde estava com o renegado e para onde tinha chegado, se houvesse usado o braken normalmente com sua prima, não seria capaz de alcançar tal distância. E mesmo que conseguisse, não seria capaz de se mover, pois realmente estaria esgotado. Olhou para trás verificando se algum simplório o observava e então concentrou-se na única lembrança que tinha do Bosque Alvorada, o dia em que acampou com seu avô e Ferdinand. – Vamos lá... vamos lá... – Repetia, mas nada acontecia. Ele fechou seus olhos e respirou fundo.

— Braken...— disse, mesmo sem fazer o selo e sentiu como se fosse arrancado dali.

O vento frio bateu em suas costas, o fazendo sentir as suas roupas sujas e enlameadas. Novamente ele havia conseguido, mesmo sem saber como, tinha se transferido para o Bosque.

— Ora, eu não acredito que formandos do segundo nível só tenham isso a oferecer. – Escutou Nathan, vindo da parte mais aberta da clareira. Era Ayzaq. – Essas invocações simples nem se quer foram capazes de me cansar.

Nathan se esgueirou até uma moita para poder observá-los. Os irmãos estavam a volta de Ayzaq, a uma distância que consideravam segura, e já pareciam cansados.

— Achei que renegados fariam muito mais que só se esquivar. – Rebateu Tobey, a direita de Ayzaq.

— Gosto de brincar com minhas vítimas, vê-las ficando exaustas, sem condições de correr e por fim, quando resistem, amo ouvi-las pedindo misericórdia por suas vidas. – Ayzaq suspirou. – Afinal, que graça tem matar, se não houver poesia?

— Você é só mais um louco... – expressou Flynt, a esquerda de Ayzaq.

— Talvez sim, talvez não... mas se eu sou, vocês também são. – Ele apontou na direção do festival. – Vocês poderiam escolher ter fugido com seus amigos e retardar suas mortes, mas ao invés disso, me trouxeram com vocês para um lugar escuro e frio. Isso também não é loucura?

— Fizemos isso pelo bem dos simplórios, é para isso que seremos Septos. – Disse Ray.

— Besteira! – Num piscar, Ayzaq se pôs frente a Ray. – Vocês se sacrificam por pessoas que nem se quer sabem que existem e não se importam. Vivem suas vidas de merda sem dar um pingo de valor ao que as protegem, acreditando que tudo é graças aos Grandes Seres, enquanto Septos morrem todos os dias para que esses porcos imundos possam gastar seus laures em luxos e aquela droga de comida! – Ele deu as costas, para Flynt com um olhar distante na penumbra do bosque. – Qmwy abriu meus olhos. Jamais quis servir aos Simplórios, meu desejo sempre foi o poder... Certa vez ele me disse e agora eu digo a vocês... não somos nós que deveríamos servi-los, eles que devem nos servir. Nós temos o poder. Somos o poder. E esses vermes miseráveis devem dobrar seus joelhos diante de nós!

— Eu lutarei até o fim dos meus dias para impedir isto! – Respondeu Ray, com o selo de Melyne ele intensificou a prima em suas mãos e com o selo de Kalldorf as preparou para o ataque. – Taer K’On!— Chancelou, esmurrando o chão, abrindo uma fenda até Ayzaq, que em segundos saltou se esquivando.

— Técnica das mãos de pedra... – comentou Ayzaq.

— Ele não é seu único oponente! – Flynt surgiu aos pés aplicando uma rasteira.

Ayzaq pulou, mas foi recebido com Tobey girando e lhe enterrando um chute, que ele defendeu com os braços. Ray aproveitou a brecha e lhe desferiu um soco na região do tórax, que o pegou em cheio, lhe lançando longe no chão. Ele cai, bolando e causando um rastro da terra, como uma trincheira rasa.

— Muito bom, garoto. – Ayzaq se levantou, batendo o barro de seu sobretudo com seu sorriso psicótico. – Acho que já chega de papo.

Ele se prepara para atacar os irmãos, mas para sua surpresa e a de Nathan, Monkey aparece no meio do escuro das árvores, correndo até os ArtDaves.

— Demorei? – Perguntou ofegante, se apoiando em seus joelhos.

— Para ser sincero, chegou na hora. – Respondeu Flynt.

— O que está fazendo aqui?! – Exclamou Ray.

— Deveria ter fugido com os outros! – Completou Tobey.

Antes que Monkey responda, Dramyn surge no alto, aterrissando ao lado de Ayzaq.

— Temos um problema. – Diz ele, segurando o punho que fora cortado. – Os garotos fugiram.

— Não me diga. – Debocha Ayzaq, com os olhos em Monkey e nos ArtDaves.

— Mas esse não estava comigo.

— Não, ele estava comigo. – responde Grywvo, brakeando a esquerda de Ayzaq.

— Vocês são mesmo uns imprestáveis! – Ayzaq olha para Dramyn e gargalha. – Você é o pior de todos, não me diga que perdeu a mão para uma criança?!

— Agora você é a droga de um renegado maneta! – Brada Grywvo, rindo alto.

— Ele era um herdeiro, está bem?! – Responde em defesa.

— Mas ainda assim era uma criança! – Retruca Grywvo, gargalhando.

— O que você disse? – Ayzaq pergunta, o sorriso some de seu rosto e dá lugar a um olhar sério e frio.

— E você, ainda está com esses, já não devia tê-los matados? – Debocha Grywvo.

— Não me compare a vocês, seus vermes. – Ayzaq lança seu olhar psicótico sobre ele, como se fosse capaz de enxergar o fim de sua alma. – Cuidado com as palavras, Grywvo. Elas podem ser suas últimas. – Ele se volta para Dramyn. – O que foi que você disse?

— Ele... Era um herdeiro. – Diz receoso.

— E você o deixou escapar?! – Grita.

Dramyn tropeça nas palavras, sem saber quais usar, sente o medo subir por sua espinha ao olhar nos olhos de Ayzaq. Monkey e os ArtDaves os observam sem entender do que ou de quem estariam falando.

— Perder a mão foi o pior de seus problemas... – Ayzaq põe a mão sobre seu rosto e arruma seus cabelos. – Qmwy não precisa de merda como você.

Grywvo tentar dizer algo, mas em segundos a cabeça de Dramyn cai aos pés do seu corpo, que perde as forças em seguida e vai ao chão. As crianças ficam paralisadas com tal cena. Ayzaq olha para Grywvo e sorrir.

— Sei que era seu irmão, mas vamos combinar, ele era um idiota e... Eu nunca fui com a cara dele.

— Seu...

— As palavras, Grywvo.... As palavras...– alerta Ayzaq, com tapinhas. – Você cuidou do restante, não é? Aquele pirralho foi o único que escapou?

— Eu... – Grywvo lembrou de Nathan, olhou para a cabeça de seu irmão e com receio respondeu. – Eu cuidei dos outros.

— Ótimo! – Ayzaq caminhou rumo as crianças. – Então acho que vocês serão nossos últimos brinquedos, então por favor, me divirtam.



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