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História Alma De Rainha - Harmione - Quartoze


Escrita por: HeatherChandlerX

Capítulo 14 - Quartoze



A dor devia ser algo particular.


Enquanto caminhava ao longo da praia, a rainha Lilu Potter pensava no que aconteceria.


Conselheiros.

Câmeras.

Jornalistas.

Anciãos.

Mais conselheiros.



     E, pior, haveria perguntas: quanto tempo o jovem príncipe ficou doente? Foi por isso que o público nunca viu Harry? Será que o rei Jaime Potter poderia abdicar? Será que ele deveria abrir caminho para seu irmão, o sheik Lúcio, para governar a França junto com a esposa, Narcisa, que tinha três filhos vivos e saudáveis, com olhos como os de Harry? Mas as semelhanças paravam por ali.

     Inconsolável, Lily cambaleava ao longo da praia. Pedira ao rei e ao médico do palácio aquele tempo para si, antes de seu mundo ser invadido.



— Deixe-me lamentar, deixe-me ser uma mãe e não a rainha por mais algum tempo.



     Havia um acesso direto ao aposento particular da suíte real. Degraus de pedra haviam sido entalhados nas paredes cravejadas de jóias do palácio e eles conduziam a um raro refúgio. Lily se encaminhara, cega de lágrimas, sozinha até a praia afastada, o único lugar em Paris onde podia ficar a sós consigo mesma.

     Nenhum servo era permitido, câmeras não podiam ir atrás dela. Ali ela podia ser ela mesma. Podia andar a esmo com o rosto banhado em lágrimas e gritar para um Deus que não a escutava.



— Harry — gritou ela. Sentiu que a alma dele passava através dela, arrancando sua carne enquanto partia. Ela o amava tanto que preferia morrer naquele instante a continuar vivendo sem ele. Mas era a rainha.



    Sedada, ficaria em pé ao lado do rei, enquanto ele fazia o que a honra determinava e abdicava, por conta de sua incapacidade de produzir herdeiros. Ou, talvez, prometessem ao povo de Paris, por meio de um porta-voz, que seu útero dolorido logo produziria.

Enlouquecida, Lily perambulava, gritando de ódio para o oceano, o céu, a areia, o sol, que continuaram existindo quando seu bebê desaparecera.

     Ela fora avisada de que aquele dia chegaria. O médico informara, horas antes do parto, que o filho, tão ansiosamente aguardado, era fraco e estava doente demais para sobreviver.

     Sendo uma mãe em sua essência, Lily simplesmente se recusara a ouvir e passara os sete anos seguintes se negando a aceitar a realidade, cuidando do filho enfermo e o protegendo do olhar faminto do público. A medicina moderna, ervas raras e a sabedoria milenar haviam sido visitantes freqüentes do palácio, em vão.

     Os ataques lhe arrasavam o corpo com mais freqüência. Rumores de que o jovem príncipe estava doente, fraco e que não iria jamais estar em forma para ser rei haviam se intensificado.

     Lily persistira. Ela o protegera como uma leoa. E, mesmo assim, não fora suficiente.

     A morte, o ladrão que entrara no palácio naquela noite, levara seu bebê. Ela estava desesperada para abraçá-lo, desesperada para senti-lo ainda quente.

     E agora, devia voltar ao palácio, para encarar um mundo sem ele. Mas não faria isso. Não podia.

     Enfrentando o oceano, implorava a ele que a levasse. Queria que o mar a levasse se isso significasse poder ficar com Harry.



— Estou com saudade, meu bebê! — gritava ela. — Dê-me meu bebê — implorava, mesmo sabendo ser inútil. Afinal, rezara pedindo herdeiros saudáveis durante anos. Depois de anos tentando, apenas uma criança nascera e, agora, ela fora tirada de seus braços.



     Não existia Deus. Ela sentia que o oceano a puxava, sentia que as ondas a arrastavam e, então, entrou em pânico. Percebeu o que estava fazendo. Ela era a rainha, uma soberana. Deve haver esperança, tem de haver alívio. Que lição ensinaria ao povo se deixasse que o oceano a tragasse?



     Choramingou ela, voltando para a praia. — Sinto muito, sinto muito. Por favor, me mostre o que fazer. Mostre-me o que fazer.



E lá estava ele.

     Uma sombra na praia, a pele escura se misturando com a areia molhada, as roupas amarrotadas como algas marinhas. Só podia estar vendo coisas. Ainda imersa no mar até a cintura, se movendo através das ondas, Lily sabia que só podia estar tendo alucinações, porque ali, na areia da praia, estava seu filho. Era uma ilusão, disse a si mesma, enquanto corria na direção dele. A tristeza devia tê-la enlouquecido. Ainda assim, quanto mais perto chegava, mais real aquilo se tomava: grossos fios negros, idênticos aos de Harry depois de seu banho noturno, longos cílios escuros, bochechas amareladas e, quando se ajoelhou, percebeu que estava vivo. Os pulsos estavam ensangüentados e feridos, o rosto queimado de sol e, ainda assim, apesar de seu estado, apesar dos ferimentos, era lindo: lábios bem cheios, carne e músculos sobre os ossos. Quando abriu as pálpebras, os olhos eram verdes, não o castanho ou azul tradicional que marcava a linhagem da família, mas Lily desconsiderou aquele detalhe. Aquele era Harry, nascera forte. Deus ouvira suas preces!

     Após recolhê-lo da areia, ela correu para o palácio. O tempo era curto e o prazo para revelar a morte de Harry se aproximava.

     Bem no íntimo, ela sabia que não era Harry. Ainda assim, sua esperança estava viva ao subir os degraus de pedra, segurando o corpo contra o peito, até que o médico, que ainda estava colocando a mortalha sobre o corpo de Harry, tirasse a criança de seus braços.



— Harry! — falou Lily, enquanto o médico o examinava.



— Lírio! — O rei tinha lágrimas nos olhos ao implorar à esposa que agisse com bom-senso. — Este não é Harry, este é o sheik príncipe de Portugal. Isso apareceu em todos os noticiários, em todos os jornais, eu mesmo liguei para o rei Frank, para oferecer as preces do reino da França.



     Ele percebeu que a esposa estava tão imersa no problema de saúde do filho que não ouvira.



— Três dos príncipes foram arrastados para o mar, onde foram capturados por piratas. Dois deles escaparam, mas o jovem James ainda está desaparecido. Estão procurando por ele há dias, a mãe tem procurado por ele há dias. A mãe está desesperada.



— Ela não é a mãe — rosnou Lily. — Ela se casou com o rei, criou os filhos dele, como pode ser justo que tenha cinco e eu nenhum? Ela nunca deu à luz. Eu, sim.



— Lily...



— Quem iria saber? — disse ela. Porque, para ela, a solução era simples. — Cuidaremos dele até que fique bom de novo, ele pode ser nosso filho e um dia será o regente da França.



— Nosso filho está morto.



— Mas não tem que ser assim. Você não vê? Minhas preces foram ouvidas! Isso tinha que acontecer!



— Lily, por favor — implorou o rei. — Ele é membro da família real de Portugal. Se nós o devolvermos a seu povo, isso fará bem a nossa nação. Seremos vistos de forma favorável.



— Como você pode pensar nesse tipo de coisa numa hora dessas? — Ela estava enlouquecida de ódio. — Você realmente quer que Lúcio seja regente? Está dizendo que quer que esse tirano seja o rei da França?



     Ele nunca vira a mulher daquele jeito. Naquele dia soturno, ela estava deixando a esperança incendiá-lo também. Ele não queria abdicar, não queria que o irmão sádico, Lúcio, fosse rei, não queria abrir mão de seu direito.

     Talvez aquele fosse o jeito. Talvez Lily estivesse certa, fosse o destino.



— Os olhos dele não são azuis — disse Jaime com voz hesitante. — Como poderíamos explicar isso?



     E Lily sentiu uma onda de alívio ao perceber que, em vez de recusar o sonho desesperado, o rei estava tentando encontrar um jeito de fazer com que ele se realizasse.



— Não havia retratos — disse ela rapidamente. —A única foto divulgada o mostra dormindo.



— Será que poderíamos?



     O rei olhou para o médico, que fez que não com a cabeça.



— Do ponto de vista ético, não posso permitir isso. — O Dr. Hagrid pusera soro na criança fraca e a embrulhara num cobertor. Sua voz soava preocupada. — Devemos informar o palácio de Portugal imediatamente.



     Lily chamou o marido para um canto, esquecendo as regras, esquecendo como ela se comportava habitualmente. Seu bebê estava morto, por isso, não havia regras. Ali estava sua chance de segurar uma criança nos braços doloridos e ser mãe.



— Então, devemos informar ao povo que nosso irmão Lúcio será rei.



     Lily olhou fixamente para o marido e percebeu que ele se encolhia. Ah, Lúcio fingia muito bem, mas Jaime contara a ela sobre o lado cruel do irmão, sua natureza nociva.



— Quer isso para seu povo?



— É claro que não.



— Então, diga ao médico que isso irá acontecer. Faça com que aconteça. Se não por mim, pelo povo. — Lily prendeu a respiração, tremendo e molhada e ainda anestesiada pela dor. Viu quando o marido lhe concedia seu maior desejo.



— Você é o médico desta família real — disse o rei. — E entendo que isso o coloque numa posição muito difícil. Você terá de fazer visitas várias vezes ao dia para curar esta criança, o que fará com que precise trabalhar menos com seus outros pacientes. É claro que receberá uma compensação financeira adequada.



— Não posso — começou a dizer o médico, mas já concordando. E não apenas pelo dinheiro. Ele também estava assustado demais para negar um pedido do rei.



— Isso pode ser feito? — perguntou o rei novamente. Pálido e suando, o médico concordou:



— Acho que sim.



— Sabe que sim! — ordenou o rei. — Diga-me como.



— As pessoas sabem que o príncipe está doente. Se nós o mantivermos escondido por mais algum tempo, isso as deixará alarmadas.



— Há boatos sobre a morte de Harry? — perguntou o rei, exigindo uma resposta honesta.



— Há boatos de que ele está gravemente doente — disse o Dr. Hagrid. — Assim como esta criança está doente.



— Fale com os conselheiros — disse o rei. — Diga a eles que Harry adoeceu à noite e que mais cuidados foram necessários, mas que temos esperança de que, no momento oportuno, o príncipe se recuperará totalmente.



— Mas, e Harry? — perguntou o médico. — O que farei com seu filho? — Ele esperava que Lily começasse a chorar de novo, mas ela estava embalando a criança na cama, cuidando dos ferimentos nos pulsos, amando-o como havia amado o próprio filho.



— Você lidará com ele.



     O jovem príncipe foi posto em sua última morada e, cheio de culpa, o Dr. Hagrid voltou ao palácio para ver seu paciente, bem a tempo de presenciar o príncipe sheik James abrir os olhos pela primeira vez.



— Mamãe? — A criança confusa chorava, chamando pela mãe, os olhos se esforçando para enxergar direito, assustada.



— Mamãe está aqui, Harry — falou Lily.



     E finalmente, certa tarde, algumas semanas depois, já um pouco mais forte, com lábios mais vermelhos, corpo mais robusto, o jovem príncipe acordou, seus olhos se fixaram na rainha e o futuro da França foi assegurado.



— Mamãe!



A lavagem cerebral estava completa.



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