História Almas - Capítulo 14- O festival.

A noite caia, minha cabeça ainda girava, era como se o meu demônio estivesse falando comigo.
-Deus do céu, o que eu vou fazer agora?
Então voltei pra casa, minha respiração estava acelerada, eu precisava urgentemente ocupar a minha mente com alguma coisa, então fui escolher meu vestido.
Passei horas e horas olhando para o guarda roupa, até pegar um vestido, um azul longo com linhas verticais. Eu suspirei, voltando meus olhos do vestido para o armário...
*-Você está brincando, certo?
Minha cabeça correu para cima do armário e lá estava. Era uma garota, cabelos longos e lisos, olhos escuros e roupa colada.
-Quem é você?- Falei tentando manter o controle.
Ela sorriu um sorriso que me lembrava o gato de Alice no país das maravilhas. 
*-Você sabe muito bem quem eu sou querida. 
Minha garganta doeu e um arrepio subiu pela minha coluna.
*-Não se preocupe amor, nem todo mundo gosta de assumir seus demônios.- Disse ela descendo do armário e chegando perto de mim.
*-De ouvidos à si mesma uma vez na vida querida...
Ela jogou algo preto na minha cama e pude ouvir uma risada irônica antes de me dar conta de que ela havia sumido.
Um vestido preto estava lá, era curto e tinha um decote rendado, no estilo que eu sempre tive curiosidade, mas nunca teria coragem de vestir.
-Talvez se eu só...
Então, ludibriada por um demônio, decidi vestir aquilo, só pra ver como ficava em mim. Eu me pus na frente do espelho e contemplei uma eu que nunca tinha conhecido.
-Eu...
Pude ouvir uma risada irônica nas minhas costas. Então algo muito forte me puxou pelo braço, a pulseira! Ela indicava que estava na hora, e literalmente não havia como para-la, meu coração acelerou, eu estava vestindo aquilo, o que eu poderia fazer agora?
-Não, não, não, não, não!
Mas já era tarde. 

Quando pude ver estava dentro de uma multidão das mais diversas criaturas, a pulseira parou de puxar, mas meu coração não parou sequer por um segundo.
Tudo parecia estar ficando turvo com o nervosismo, até que um ponto azul passou voando pelos meus olhos.
-BLUEBERRY!!!
A pobre fada quase teve um ataque do coração, olhou pra mim e veio voando as pressas.
-Estela? O que houve com você?
-Não importa, preciso daquela sua ajuda com o vestido URGENTEMENTE, estou ridícula, por favor, me diga que consegue dar um jeito nisso.
A fada ficou sem palavras por um momento, mas então fez uma cara determinada e saiu voando como um foguete.
Meu coração parou por um momento, eu pus as mãos na frente do rosto, estava completamente perdida sem aquela fada, o que será de mim?
Mas logo um brilho mágico surgiu sob meus olhos. Ao abrir as pálpebras quase chorei de emoção, pontos brilhantes coloridos giravam em volta de mim e logo transformaram o meu vestido em um lindo vestido longo com pétalas de flores que me faziam parecer uma noite estrelada.
-Não se preocupe- Disse a pobre blueberry exausta- Colamos as pétalas com sejva, elas não vão sair de jeito nenhum.
Eu espremi aquela fada contra a minha bochecha bem forte, poderia ter machucado se não tivesse percebido a tempo o que estava fazendo. 
-Blue, você salvou minha vida.
Então um enorme grupo de jovens se aproximou, todos com enormes capas, um porta varinhas à cintura e expressões sérias.
A maior parte dos olhares logo se dirigiu à mim, seja pelo vestido ou pelo fato de que talvez eu não devesse estar ali, mas logo eu vi um balanço na multidão.
-Você veio!- falou Luke correndo ao meu encontro- Está quase na hora, você será minha convidada de honra.
Ele segurou minha mão e me guiou à um assento bem à frente da plateia, com uma vista privilegiada da árvore. Todos estavam correndo aos seus lugares, um bruxo então lançou uma rajada luminosa ao céu para indicar o início da apresentação.
Fês-se um enorme silêncio, uma horda de bruxos encapuzados surgiram proferindo algum tipo de feitiço, eles se agruparam em frente à árvore e puseram suas mãos ao chão. Enormes videiras floridas começaram à envolver o tronco da árvore, que pareceu rejuvenescer ao exalar um enorme perfume das mais diversas flores que estavam ali.
Quando parecia que tudo estava belo, um grande terremoto aconteceu e do chão brotou uma gigantesca tulipa fechada. Os encapuzados voltaram a rodear a flor, ainda murmurando algo, até que repentinamente pararam e abriram os braços.
Um dos encapuzados ficou de frente para a flor e apontou a varinha, então numa voz firme e decidida se ouviu um encanto, e da varinha surgiu uma ventania muito forte que provavelmente teria arrastado todos se não estivesse virada para a flor. 
O enorme vento arrancou as pétalas da tulipa e das flores da árvore, que agora caiam como confete sob a plateia. 
Após as pétalas da tulipa saírem, revelou-se uma bruxa de cabelos crespos sob o talo firme da flor, ela apontou a varinha para o céu e seus olhos pareceram brilhar com o luar, logo todos apontaram também.
Em coro todos lançaram seus feitiços, e enormes raios de luz surgiram ao céu e colidiram uns com os outros, formando uma colossal... Estrela.
O meu coração se emocionou, a apresentação foi linda e logo após todo o espetáculo, os bruxos agradeceram a academia e se retiraram. 
-Luke!-disse segurando seu pulso- Isso foi lindo!
-Que ótimo que gostou, a estrela foi em sua homenagem, era o mínimo que eu podia fazer.
Eu o abracei com toda a força e dei um beijo em sua bochecha.
-Foi realmente incrível, obrigada.
Então ouvi uma voz às minhas costas.
-Posso roubar seu par, meu caro?
Me virei rápido e me deparei com aqueles olhos vermelhos caídos sobre mim... Mas eles não estavam com raiva.
-Claro- respondeu Luke, um pouco inseguro.
-Senhorita, me daria o prazer desta dança?- disse estendendo a mão pra mim.
-Certamente.- Respondi rindo.
Ele segurou minha mão e minha cintura, então me levou flutuando pela noite.
-Valentine, o que você está fazendo?
-Apenas relaxe tomatinha.- íamos fazendo piruetas e mais piruetas no ar, como uma dança, eu estava rindo bastante até pousarmos novamente nas ruínas, porém não no telhado, e sim num salão de baile.
Meu coração pulsou forte, mas ele apenas segurou o meu queixo, virando meus olhos para os dele e me dando um sorriso sincero.
Ele me guiou em uma valsa lenta, nossos corpos pareciam estar em sincronia nas piruetas, até que a valsa foi acelerando e  quando vi, ele me segurava, pendida em seus braços. Nossos rostos estavam próximos, nossa respirações aceleradas. 
-Estela... 
Não pude dizer nada, apenas encarar seus olhos de rubi.
-Você aceita namorar comigo?
Então eu soltei uma risada irônica.
-Se você admitir o quão me acha irresistível.
Ele soltou um sorriso bobo e desviou os olhos por um momento, corando.
-Você sempre foi.
Meus olhos faiscaram por um momento, foi como se um demônio susurrasse ao meu ouvido.
Eu peguei a mão dele e pus na minha cintura, enquanto deslizei a minha sob seu pescoço, e então sussurrei.
-Eu aceito.
Puxei sua nuca e o beijei, como gostaria de ter feito a muito tempo.