1. Spirit Fanfics >
  2. Almas Trigêmeas >
  3. Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 1)

História Almas Trigêmeas - Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 1)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bom, antes de mais nada gostaria de comunicar que tive que apagar e repostar uns cinco ou seis capítulos devido a ter esquecido de postar a segunda parte do episódio "Caminho sem volta", em que Dean decide se entregar a Miguel.

Como pensei que tinha postado, fui escrevendo os capítulos na sequência e depois verifiquei que faltava a mencionada segunda parte, a conclusão. Estou avisando isso de novo para quem, por acaso, estranhou a repostagem dos capítulos e ainda não leu essa sequência. Está lá para quem quiser conferir o capítulo "Apertem os cintos... Dean quer dizer Sim! - segunda parte"

No mais, um capítulo novo para vocês. Contém spoilers do episódio "Dois minutos para a meia-noite".

Espero que gostem. Uma boa leitura!

Capítulo 55 - Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 1)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (parte 1)

Anteriormente:

– Então, quem é você? – perguntou Sam amarrado na cadeira

– Eis uma dica – o homem se sentou defronte ele – Eu estava na Alemanha, depois na Alemanha, depois no Oriente Médio... Estava em Darfur quando meu Pager apitou. E vou sair com os meus irmãos. Eu tenho três – enumerou nos dedos – Vamos nos divertir muito.

(...)

– Meu mestre é um dos Cavaleiros do Apocalipse. Todo cavaleiro precisa de um escudeiro e por assim dizer, estou meio que abrindo o caminho para meu senhor entrar. E também acabo ganhando os louros da minha função: todas as mulheres que têm um aborto serão minhas. Em breve, Washington não será meu único campo de atuação.

– Qual deles... é o seu Mestre?

– Ah, isso vocês vão descobrir logo, logo.

(...)

- Cavaleiros, é? – Dean enfatizou o tema. Vic se voltou para eles. – Nós pegamos o Guerra. Já passamos pelo Fome. Faltam dois para a coleção de quatro. Agora só precisamos do Peste e Morte.

 (...)

- Posso lhes dar o Peste. – afirmou o demônio

- O que sabe sobre ele?

- Sei como pegá-lo. – Vic e Dean prestaram mais atenção. Crowley alternou o olhar para ambos com um largo sorriso – Ficaram interessados, né?

(...)

- E minha sobrinha, hein? E Victoria? Os sentimentos dela não contam? – Sam engoliu em seco – Sam, ela já sofreu muitas perdas. Ela não vai aguentar mais uma... ainda mais sendo você. Eu a conheço bem, ela vai desmoronar se você se sacrificar.

- Sei disso, Bobby... e também pensei em algo para compensá-la da minha perda.

- É mesmo? Vai deixa-la com algum ursinho de pelúcia pra se lembrar de você?

- Bobby, isso não importa agora... Deixe comigo.

- Ela não vai concordar.

- Se você e o Dean concordarem, já é suficiente. E aí... vou precisar da ajuda de vocês com a Vic. Ela não precisa saber o que planejo.

- Como disse? – Bobby achou que havia escutado mal – Está querendo dizer...?

- Não quero que a Vic saiba. Pelo bem dela, será melhor esconder essa minha ideia.

(...)

Encurralaram Brady num beco bem escondido de olhares curiosos. Sem alternativa, ele lhes deu indicações num papel de onde poderiam achar o Peste.

- Tem certeza? – pressionou Crowley ao apanhar o endereço

- É, tenho certeza que o Peste estará aí. Obrigado.

(...)

- Faça um pedido. Posso lhe dar qualquer coisa, inclusive as coordenadas do Morte. Tudo o que me falta é...

- A minha alma. - completou Bobby com semblante furioso

- Já fiz mais com menos. Digamos que quando forem pegar seus Grammys... não deverão agradecer a Deus. Vale a pena, Bobby. Pense.

 

 Aqueles que dizem Sim, Aqueles que dizem Não (1ª parte)

Um Sam muito nervoso estava parado ao lado de Victoria e diante de Bobby na sala. Dean também estava presente sentado numa poltrona. Esboçava um sorriso malicioso ao ver a expressão de Singer que não era nada boa. Tudo porque Collins e Sam haviam anunciado seu casamento bem próximo.

Fazia poucas horas que estavam na casa. Um dos motivos pra estarem lá era se aprontarem para um plano estratégico de captura do Peste. E o outro era aquele... comunicar do enlace matrimonial de Victoria.

Haviam terminado o jantar quando Sam e Vic pediram para falar com o caçador, principalmente a uma observação deste sobre o anel que a moça usava.

E agora o casal estava ali parado à espera de qualquer manifestação explosiva do velho caçador. O silêncio de Bobby era mortal. Normalmente, antecipava a um acesso de fúria.

Mas Sam não estava nervoso por causa disso. Bom, se as circunstâncias fossem outras, sim estaria, mesmo que sua garota não dependesse da aprovação do tio para qualquer decisão. Estava nervoso se Bobby não daria com a língua nos dentes sobre seu plano que tanto ocultava de Victoria. Antes de se levantarem da mesa e passar para sala, Sam lançou um olhar significativo a Singer, como que tentando fazê-lo se lembrar de sua conversa no telefone.

 

- Não quero que a Vic saiba. Pelo bem dela, será melhor esconder essa minha ideia.

Com essa, Singer teve que rir.

- Está certo... Como se estivéssemos falando de uma amadora... – a ironia não abandonava o tom do velho caçador – Sam, Vic é a mais desconfiada e perceptiva de todos os caçadores que conheço. Ela não vai cair em nenhuma trama que inventarmos.

- Sei disso, mas... eu meio que estou conseguindo. Bolei uma forma de disfarçar... – suspirou – Eu só vou precisar de um empurrãozinho seu... uma resposta positiva pra algo que vamos ter que te contar.

- Do que está falando? O que eu preciso saber?

- Não se preocupe, não é nada grave... Quando chegarmos aí, você vai saber.

- Seja o que for pra tentar enganar minha sobrinha, eu não disse que concordava com seu plano.

- Apenas pense no assunto, Bobby... Pense. E aí... só teremos que convencer o Dean. – não houve resposta, apenas uma respiração contrariada – Pense, Bobby, apenas é isso que te peço no momento.

 

Restava saber se Bobby estava de pleno acordo ou não, se o ajudaria na farsa. Era essa sua preocupação.

- E aí, tio? – Vic o interpelou – O que você tem a dizer?

Bobby lhe lançou um olhar penalizado – ao qual Vic não compreendeu o significado –, suspirou e disse:

- Vocês são bem grandinhos, sabe o que devem fazer – virou o rosto para o lado como se não quisesse que Victoria lesse alguma hesitação em seus olhos.

- Ahm? É só isso o que tem a dizer? – Vic estranhou

- Esperava um escândalo da minha parte? Ora, desculpe se a desapontei.

Vic piscou várias vezes. Dean abriu a boca. Nenhum dos dois imaginava ouvir tal resposta de Singer em se tratando da sobrinha. Apenas Sam não se surpreendeu, embora tenha soltado um leve suspiro de alívio.

- Você... tem certeza?

- Ora, menina, quem entende você? Aposto que seu eu fizesse mil protestos, você ia ficar na defensiva. Se eu resolvo ficar na minha, você reclama?

- Claro que não, tio. Eu só... não esperava essa sua reação. – fitou-o desconfiada

- Só não quero gastar saliva à toa com você – evitou encará-la por muito tempo – Quer eu diga não ou sim, você já está decidida pelo que vejo – deu de ombros – Então só o que me resta é dar a minha bênção e torcer para que vocês possam ter uma vida sossegada se conseguirmos acabar com tudo isso.

- É, Vic... Se o Bobby concorda... é isso que importa – Sam se apressou em despistar qualquer vestígio de desconfiança da namorada. – Podemos ficar tranquilos, não é?

Sorria para ela como um bobo alegre. Vic lhe correspondeu e afastou a velha paranoia.

- Tem razão – ela se virou para Bobby, abaixou-se e o abraçou. – Obrigada, tio. Não sabe o que significa para mim sua aprovação.

Aproveitando que a sobrinha não podia ver sua expressão, Bobby lançou um discreto olhar reprovador para Sam que abaixou o rosto envergonhado. Dean notou a breve comunicação muda, mas mesmo ele não desconfiou e interpretou como uma forma de Singer intimidar o irmão discretamente. Balançou a cabeça e segurou o riso.

- Está certo... Não precisa vir com melação, sabe que não gosto disso – afirmou Singer incomodado em se ver no meio de um engano. Vic riu e o soltou. Em seguida, ele se dirigiu a Sam – Venha cá, rapaz... deixe que o cumprimente também.

Sam assentiu e engoliu em seco. Ao abraçar Bobby, este tratou de dizer em seu ouvido com um meio sorriso que disfarçava para Vic:

- Depois conversamos.

Soltou o Winchester bruscamente. Este o fitou com expressão exasperada.

- Bem, acredito que agora que Bobby aprovou posso cumprimentar meu irmão e minha futura cunhadinha – zombou, apesar do tom alegre. Aproximou-se de Vic e abriu os braços – Posso?

- Claro – retrucou ela.

Dean lançou um olhar para Sam buscando sua aprovação. O irmão assentiu. Dean abraçou Victoria, mas sem se demorar muito – embora o desejasse. Em seguida, abraçou o irmão e lhe deu tapinhas amigáveis nas costas.

- Quem diria, Sammy? No fim, você vai ter a vida normal que tanto sonhou. Fico feliz por você.

O tom na voz de Dean era sincero, ainda que sentisse certa angústia em saber que não teria seus companheiros mais por perto, não todos os dias. Supunha que ambos desejavam uma vida em comum longe de caçadas.

Ao soltar o irmão, notou um sorriso triste nos lábios deste e um olhar constrangido. Dean estranhou.

- Bem, agora que estamos entendidos... se não se importam, já vou dormir – anunciou Bobby fixando o olhar em Sam – Se precisarem de qualquer coisa, estarei em meu quarto.

- Claro, tio. Fique à vontade – afirmou Victoria.

Mas a recomendação era dirigida a Sam, ele bem o sabia. Na primeira oportunidade, iria falar com Singer a sós no quarto deste.

- 0 –

- O que você está pensado em fazer, idiota? – esbravejou Singer. Apontava uma espingarda para Sam de forma ameaçadora. Não havia conseguido dormir esperando que o Winchester fosse procurá-lo em seu quarto tão logo a casa mergulhasse no silêncio. Por volta da meia noite, foi o que Sam fez – Quer partir o coração da minha sobrinha e ainda espera que eu seja cúmplice?

- C... calma, Bobby... calma – Sam estava nervoso, estendia os braços com a ponta dos dedos voltadas para cima  tanto numa atitude defensiva como para apaziguar os ânimos do velho caçador – E por favor, fale mais baixo. Dean... e principalmente Victoria não podem ouvir.

- Calma uma pinoia! – tornou Singer abaixando o tom sem largar a arma – Você está enganando Victoria, vai magoar e arrasar com ela de uma maneira destrutiva e espera o meu apoio?

- Bobby, não é bem assim... deixe-me te explicar, eu...

- Silêncio! Eu entendi tudo... Entendi muito bem o que você quer fazer. Você não vai casar coisa nenhuma com ela, não é? Isso é só uma distração. – vendo o silêncio de Sam, Bobby assentiu – Deus, Sam... como pode ser tão canalha? Não esperava isso de você!

- Você acha que eu quero isso, Bobby? – foi a vez de Sam elevar o tom. Em seguida, abaixou-o ao olhar para a porta com medo de ser ouvido – Acha que não estou sangrando por dentro? Eu estou. Não só por ter que mentir e enganar a Vic, mas também por ter que deixa-la, abrir mão dela para sempre. – seus olhos umedeceram e sua garganta se travou. Singer suavizou a expressão do rosto ao ver a dor estampada nos olhos dele e abaixou a arma, sem, contudo, larga-la – O que eu mais queria era me casar mesmo com ela... poder desfrutar duma vida normal e longe de caçadas. Mas... não posso.

- Sim, Sam, você ainda pode! – Bobby tentou encorajá-lo – Esse seu plano maluco não é a nossa única alternativa.

- É mesmo? Então você tem alguma outra ideia? – Bobby abriu a boca, mas nada disse – Foi o que eu pensei. Eu não tenho mais nenhuma outra solução a não ser essa... e acredite, ponderei muito antes de toma-la e isso tem me tirado o sono... você não sabe como.

- Sam, você vai destroçar a Victoria. Ela não vai ser a mesma.

- É para protegê-la, Bobby. E temos que pensar no resto do mundo. Querendo ou não eu tenho que arrumar essa bagunça que causei.

- Se você conseguir. – seu tom foi incisivo – E se ele te dominar por completo, Sam? O que considero muito provável... e olha que sou bastante otimista. Vai poder proteger a Vic?

- Isso não vai acontecer.

- Droga, Sam! Não seja teimoso! Considere essa possibilidade... – Sam o fitou, mas abaixou o rosto – E então como vai ser se Lúcifer te dominar? Como fica a Victoria?

- Se existir tal possibilidade... ele ao menos vai poupá-la por mim.

Singer riu.

- Ah, tá... Como se não conhecêssemos bastante a fama de Lúcifer. Se ele conseguir o que quer, ou seja, você... nada o obrigará a poupar quem quer que seja precioso a você. Ele odeia a humanidade, Sam! E Victoria é humana!

- Bobby, por favor, vamos tentar pensar por outro ângulo... pode dar certo. Tenho confiança que conseguirei dominá-lo.

- Como você conseguiu com a Meg? – recordou-o Singer. – Sam, Dean e eu tivemos um trabalho danado para te libertar da possessão dela.

- Exatamente por isso estarei mais preparado. Bobby, não há alternativa. É tudo ou nada. Por favor... preciso do seu apoio... e de Dean também

Bobby balançou a cabeça.

- Sam, isso que vamos fazer com a Vic...

- É para o bem dela... e de toda a humanidade. Pense nisso.

- Mas... e você, filho? Estamos falando de seu futuro. É bem provável que não consigamos te trazer de volta... não se isso for libertar o Diabo outra vez.

- Tenho certeza disso. E não espero nada do futuro, Bobby.

- Sam, você vai sofrer por toda a eternidade.

- Eu sei – engoliu em seco. Suspirou – Mas vou suportar qualquer agonia para que todos fiquem bem, principalmente vocês.

- Como poderei viver com isso? Seu sacrifício!

- Você pode viver sim, Bobby. Sabendo que foi minha escolha, que foi o meu desejo. Ninguém está me obrigando a nada. Eu que decidi.

- A Vic, Sam, pense... – Bobby insistia – Ela não vai conseguir seguir em frente, eu sei. Posso ver o quanto ela te ama. Vai ser a pior dor para ela, mais terrível do que todas as outras perdas juntas que teve.

- Ela vai ficar bem com o tempo, Bobby... Dean estará com ela.

- Como...?

- Bobby, você com certeza deve ter notado que Dean está apaixonado pela Vic há muito tempo.

Singer abaixou a cabeça. Sim, ele notará. Dean até que disfarçava bem, mas um observador mais atento como ele notaria. Só que nunca comentou com nenhum dos três. Que bem isso faria?

- E daí? Você acha o quê? Que Victoria simplesmente vai se entregar nos braços do Dean e se esquecer de você?

- Sim, é o que espero... pelo bem dela.

- Sam, as coisas não são assim... a Vic...

- Também está apaixonada pelo Dean, Bobby. – Singer arregalou os olhos. Em seguida, assumiu um ar incrédulo – E não estou enganado. Ela me ama, disso não tenho dúvida, mas sente algo pelo Dean... É complicado, não tenho tempo pra te explicar, mas acredite em mim, eu sei.

- Ainda que seja assim, vai ser um golpe para ela. Não será de um dia para outro que ela vai se acertar com Dean.

- Pode ser que não, mas com o tempo, Bobby. E quero que você apoie aqueles dois nisso. Sei que Dean não é o tipo de cara que você gostaria com a Vic, mas acredite ele é o único que pode fazê-la feliz, que vai fazê-la se recuperar de qualquer dor ou tristeza que minha decisão possa lhe causar.

- Sam... que ideia mais absurda.

- Não é, não, Bobby. E sabe disso – fez uma pausa – E então? Você está de acordo?

- Se Dean concordar... não farei nenhuma objeção. – suspirou e abaixou o rosto. Não queria que o Winchester visse a dor estampada.

Sam assentiu.

- Então... amanhã falaremos com ele. Vou precisar de sua ajuda para afastar a Vic daqui enquanto conversamos.

Bobby apenas acenou com a cabeça incapaz de erguê-la e encarar Sam no momento. Este colocou a mão sobre o ombro do velho, mas não disse mais nada.

O Winchester saiu do quarto e fechou a porta.

- Sam? – a voz de Collins o sobressaltou. Este se virou. Ela estava a uma curta distância dele no corredor.

- Vic... O que está fazendo acordada a essa hora? – indagou tentando disfarçar o nervosismo.

- Eu poderia fazer a mesma pergunta. – retrucou ela – Eu fui à cozinha beber um copo d’água. O que você estava fazendo no quarto do Bobby?

- Ah... bem, eu... ele... ele queria se convencer de que eu realmente estou certo em querer me casar com você. Ele...meio que me intimou mais cedo pra vim conversar.

- É isso mesmo? – o tom de voz dela estava carregado de desconfiança.

- Claro... Que mais poderia ser?

- É que você parece bastante nervoso.

- Ora, Vic... Você sabe como é o Bobby – ele riu sem graça – Até uma arma ele usou pra o nosso “amistoso bate- papo”

Esta última parte era verdade. Contar uma mentira usando meias-verdades é a melhor forma de mentir. Ele esperava que conseguisse convencê-la, o que acabou funcionando ao vê-la arregalar os olhos.

- Não, o Bobby não fez isso!

- Shhh, Vic... deixa pra lá. – Sam colocou o dedo sobre a boca e olhou a porta do quarto de Bobby com expressão de quem está mesmo intimidado – Eu já conversei com ele, já nos entendemos.

- Deus do Céu! O Bobby não existe – ela se aproximou do namorado e abraçou-o.

- É, não existe mesmo – Sam procurava imprimir um tom despojado em sua voz – Agora... vamos voltar para nossa cama?

- Hum... para dormir ou para fazer certas coisinhas? – ela brincou com os dedos sobre o peito dele coberto pela camisa

- O que você quiser.

- 0 –

Na manhã do dia seguinte, Sam abordou Dean.

Haviam acabado de tomar café e Bobby tratou de inventar um pretexto para tirar Victoria da casa. Pediu que ela fosse entregar uma carta no correio. Ela o encarou de um modo estranho. Mesmo assim, não fez nenhuma pergunta ou qualquer objeção, o que o aliviou.

Ora, não havia nada demais em seu pedido. Ele não tinha condições de ir prontamente e teria pedido a Sam e a Dean, se não fosse um pretexto. Por que deveria se sentir nervoso? Porque sua consciência lhe recriminava por sua cumplicidade no engano de Sam. Simples assim.

Tão logo Collins saiu – o correio distava uns bons quarteirões dali, por isso, ela demoraria uma meia hora para regressar – Bobby e Sam trocaram olhares. A um sinal de Singer, o Winchester se aproximou de seu irmão mais velho que analisava pela décima vez da pia da cozinha o endereço entregue por Brady.

- Dean, eu... preciso falar com você – anunciou Sam

- O que é? – indagou o loiro levantando minimamente a cabeça do papel

- É que... andei pensando...

- Hum?

- Sabe, o negócio dos anéis é um belo plano pra aprisionar o Diabo, mas...

- Mas...?

- Tem o problema de como vamos atrai-lo até a jaula.

- Hum... é, Sam, eu sei. Isso também é um enigma pra mim. Mas vamos resolver um problema de cada vez. OK? Vamos nos concentrar primeiro em apanhar os anéis... a começar do Peste. Olha, se o endereço que o Brady nos indicou estiver mesmo certo...

- Sei como podemos fazer Lúcifer se jogar naquela jaula

- Mesmo? – Dean pareceu surpreso – Uau! Isso é bem animador. Como?

- A única forma que encontro... – começou ele evitando fitar o irmão diretamente –... bem, a única coisa que pensei foi... em dizer Sim para ele.

- O... quê? – Dean pronunciou as duas palavras lentamente quase fechando os olhos como se não quisesse acreditar no que tinha acabado de ouvir.

- Pense comigo, Dean. Eu digo sim para ele, ele se apossa do meu corpo... mas eu não vou deixar ele controlar minha mente... e me jogo na prisão.

Com essa, Dean soltou uma gargalhada.

- Sam, essa é a piada do século, não... do milênio.

- Falo sério, Dean. Não estou brincando.

O riso de Dean morreu.

- Não, pior que não está mesmo. Você não é disso – o tom dele era sombrio – Mas eu preferia que fosse uma boa piada.

- Dean, pense. Eu posso fazer isso. Posso controlar, é o único jeito.

- Nem a pau! – esbravejou o Winchester e saiu da cozinha se recusando a ouvir.

- Dean! – chamou-o Sam

- O que há com você? Não me venha com “Dean.”

- Mas...

- Você teve ideias estúpidas no passado, mas essa... – foi para onde estava Bobby, que sentado à sua escrivaninha analisando livros, revistas e recortes. Dirigiu-se a ele – Você sabia disso?

- Do quê? – ele se fez de desentendido

- Do plano genial do Sam de dizer sim ao diabo? – Bobby assentiu. Não tinha por que negar. Dean arregalou os olhos – Obrigado pelo aviso.

- Não se trata de mim. – retrucou Singer na defensiva

- E como sempre eu fui o último a saber.  – levantou os braços para o alto – Sim, porque a Victoria até saiu. Aposto que para deixar que você me convencesse dessa loucura.

Bobby e Sam permaneceram em silêncio por instantes. Dean alternou o olhar de um para o outro.

- O que foi? – o Winchester abriu a boca como se entendesse – Espere um momento... a Vic ainda não sabe... Vocês não contaram para ela. Claro, ela nunca aceitaria algo assim. – encarou Bobby – Foi por isso que você pediu para ela ir ao correio... Era só uma desculpa pra ela sair e não ouvir nossa conversa – fitou o irmão – Sam, você...

- Não, não pretendo contar nada pra ela. Eu só preciso que você e Bobby estejam de acordo.

- Isso não vai rolar – ele apontou o dedo – OK? Não vou concordar com essa sua ideia louca e nem vou deixar a Vic no escuro.

- Dean, você não pode...

- Uma ova! Meu Deus, Sam! Você vai casar com ela! E vai deixa-la viúva numa velocidade The Flash?

- Eu não vou.

- Como?

- Não vou casar com ela.

- Er... pode me explicar?

- Sam não vai casar com minha sobrinha, Dean – Bobby se adiantou – Depois que vocês acharem os anéis, ele vai marcar uma data num cartório bem distante com a Vic para afastá-la.

- O quê? – Dean encarou o irmão com perplexidade – Quer dizer que... seu pedido de casamento é uma mentira? – Sam assentiu – Então... enquanto a Vic vai estar em algum lugar esperando por você, você vai estar dizendo o seu Sim é para o Diabo. – balançou a cabeça. Sam abaixou o rosto constrangido – Por Deus, Sam, nem eu agiria com tanta frieza... Como você pode fazer uma coisa assim com ela? – virou-se para Singer – Como você pode estar de acordo com algo assim contra sua sobrinha, Bobby?

- Eu não quero nada disso... acredite – Singer replicou – Mas se Sam está decidido, não posso deixar Vic no caminho daquele arcanjo psicopata.

- Nós só queremos protege-la, Dean. Você também faria o mesmo no meu lugar. – tornou Sam

- Pode até ser que eu faria algo do tipo se fosse para protegê-la, mas não nesse caso... Não vou dar meu apoio pra sua loucura e muito menos ajudar vocês dois a sacanearem a Victoria.

Sam ia retrucar, porém, se deteve ao ouvir outra voz além deles se pronunciar:

- É bom saber disso, Dean.

- Vic? – disse Sam com expressão de espanto. Dean e Bobby se voltaram para a direção em que ela estava. – Há... há quanto tempo você está aí?

- Tempo suficiente pra ouvir toda a conversa de vocês. – fitou a Bobby e Sam com mágoa e acusação, sobretudo a Sam. Bateu palmas com expressão de deboche – Meus parabéns! O teatrinho de vocês foi muito bem ensaiado... a mentirinha foi muito bem contada... só que a espectadora não é tão burra quanto parece e resolveu dar uma espiada nos bastidores.

- Olha, Vic, eu não sabia nada a respeito – Dean tratou de se justificar – Foi só agora...

- Não se preocupe, Dean – ela o interrompeu – Como eu disse, ouvi tudo.

- Vic, eu posso explicar – Sam ia se aproximar – Eu...

- Fica longe de mim, cara! – ela sibilou com o dedo em riste. Sua voz reprimia a fúria que sentia. Sam parou onde estava.

- Victoria... – Bobby também quis se aproximar, mas Collins levantou a palma no alto para detê-lo.

- Não quero ouvir suas explicações também... tio – disse a última palavra com desdém. Deu uma risada curta – Sabe o que é engraçado? Eu até esperaria algo assim de Dean... – o caçador revirou os olhos como quem pensa “Eu é quem levo a fama?” –... mas de vocês dois, não.

- Vic... – Sam tentou se acercar.

- Eu já disse pra ficar longe de mim – ela o advertiu. Sam engoliu em seco. O olhar dela era assassino. Em seguida, Victoria tirou o anel do dedo e o mostrou – Acho que não preciso mais usar essa porcaria! – jogou o objeto no chão com toda força e fúria que empregou. Os três ficaram estarrecidos, principalmente Sam – Eu não quero mais isso! E também não quero mais você!

Ela lhe deu as costas e saiu correndo.

- Vic! Vic! – Sam quis atrás dela, mas Dean o segurou. Ela abriu a porta e fechou-a com estrondo – Vic!

- Fica frio, Sam, - aconselhou Dean

- Eu não posso deixar ela sair assim!

- Pode e vai. – Sam se debateu, mas Dean o segurava – Você não viu o olhar dela? Se você for falar com a Vic agora, ela é bem capaz de te bater ou até te matar.

- Dean está certo, Sam – Bobby suspirou – Dê um tempo a ela. Deixe que esfrie a cabeça.

- Droga! – ele se soltou esbravejou – Não era pra ela saber... e muito menos assim. Mas como ela...?

- Na certa, desconfiou do meu pedido, deu a volta, entrou pela porta dos fundos lá do quarto do pânico, subiu e ficou escondida ouvindo nossa conversa. Eu te avisei que ela não ia cair nessa trama. Victoria é muito perceptiva e observadora.

- Avisou, mas concordou – alfinetou Dean – Mas quer saber? Fico feliz que ela tenha se inteirado – dirigiu-se a Sam – Assim você tira essa estupidez da cabeça.

Sam não retrucou. No momento, estava mais preocupado em se explicar e se acertar com a Vic do que insistir em sua ideia. Viu o anel que dera a ela jogado no cão. Sentiu uma pontada feri-lo. O celular de Dean tocou.

- O papo não acabou – disse uma última vez para seu irmão antes de atender o aparelho. Sam e Bobby trocaram um olhar desanimado. A reação de Vic os incomodava – Alô?

- Dean? – uma voz respondeu do outro lado da linha

- Cass? – Dean se surpreendeu

- Ele está bem? – indagou Sam

- Achei que estava morto. – Dean fez um gesto para o irmão aguardar – Onde está?

- No hospital – respondeu Cass, a voz num sussurro cansado.

Estava num leito com o corpo coberto de hematomas e machucado. Uma agulha e um tubo ligados ao seu braço esquerdo lhe injetavam soro. Mal conseguia erguer o tronco. Usava o telefone do quarto.

- Está bem?

- Não.

- Quer explicar?

- Simplesmente acordei aqui. Os médicos ficaram surpresos. Achavam que eu tinha tido morte cerebral.

- Então, no hospital?

- Parece que depois de Van Nuys... eu apareci do nada, ensanguentado e inconsciente... em um pesqueiro de camarão de Delacroix. Perturbando os marujos.

- Pois lhe digo que ligou na hora certa – Dean balançou a cabeça um tanto confuso. Era difícil imaginar Cass numa situação daquelas – Descobrimos uma maneira de abrir a caixa de Satã.

- Como? – gemeu ao tentar se levantar mais ansioso

- É uma longa história, mas... Vamos atrás do Peste agora. Se quiser zapear para cá.

- Não posso zapear para parte alguma.

- Como assim?

- Minhas baterias estão no prego.

- Acabou o seu vudu angélico?

- Estou dizendo que estou com sede e minha cabeça dói. E uma mordida de inseto não melhora quando coço. Estou dizendo que estou incrivelmente...

- Humano. – completou Dean com estranheza. Precisou se sentar. – Uau! Sinto muito.

- Não posso ir a parte alguma... sem dinheiro para a passagem de avião. E comida. Mais analgésico seria bom.

- Certo. Não se preocupe. Bobby está aqui. Vai mandar a grana.

- Eu vou? – a expressão de Bobby não foi muito satisfeita

- Dean, espere... Você disse não ao Miguel – concluiu o anjo após se lembrar do motivo que o levou ali – Eu lhe devo desculpas.

- Cass. Tudo bem.

- Você não é o mau caráter que eu pensei que era.

- Obrigado – esboçou um leve sorriso amarelo – Eu agradeço.

- De nada.

E desligou.

- Está tudo bem com ele? – indagou Sam

- Vai sobreviver. – voltou-se para o irmão – E agora... retomando a nossa discussão...

- Dean... – Sam revirou os olhos

- Rapazes, acho que é melhor vocês adiarem essa conversa pra outra ocasião. – opinou Bobby – De qualquer jeito, vocês têm que pegar os anéis dos cavaleiros restantes. E é melhor se apressarem se quiserem alcançar o Peste neste lugar que o tal Brady lhes indicou.

- Bobby está certo – assentiu Sam querendo dar o assunto por encerrado naquele momento.

- OK – concordou Dean com um bico. Em seguida, apontou um dedo para Sam – Mas pra mim é fim de papo, você não vai dizer Sim pra aquele demente.

- Dean, chega – interrompeu Bobby ao ver Sam suspirar e abrir a boca para retrucar novamente – Algum de vocês vá lá chamar a Vic... Ela certamente vai querer ir junto atrás do Peste.

- Certo... eu... vou – disse Sam trêmulo – Eu ainda... tenho que me explicar para ela.

- Melhor não, Sam. Acho melhor eu ir.

- Dean...

- Sei que você precisa resolver as coisas com ela, mas... ela ainda deve estar uma fera com você. É melhor você ficar na sua.

- Concordo – assentiu Bobby.

- Eu vou lá chamar ela.

Mas antes que Dean desse mais um passo, Victoria voltou com passo firme e decidido. Seu olhar dava medo e ela o direcionava para Sam. Este até engoliu em seco com medo de que ela avançasse e fosse lhe bater.

- Vic, eu já ia te chamar pra gente... – começou Dean, mas ela fez um gesto para que ele se calasse.

- Eu só vou te dizer uma coisa... – dirigia-se a Sam. Lutava para reprimir a raiva na voz. Seus olhos estavam levemente marejados pelas poucas lágrimas que havia derramado – Eu não vou concordar com essa loucura de modo algum. Posso não querer mais estar com você e... sinceramente desejo te mandar para o inferno... mas não vou aceitar esse seu plano louco de se entregar a Satã. Desista, Sam Winchester!

Sam apenas a fitou embasbacado, sem conseguir emitir qualquer argumento contrário. Dean esboçou um sorriso satisfeito. Ótimo! Eram dois contra dois. Sam podia ter o apoio de Bobby, mas não ia fazer nenhuma besteira contra a vontade de seu próprio irmão e nem da mulher que amava.

- Acho que quem cala, consente – declarou Dean. Todos permaneceram calados, Vic e Sam se fitando num conflito silencioso. O loiro colocou a mão no ombro de Collins como para acalmá-la – Vic, está na hora. Temos que ir atrás do Peste.

- Ótimo! Estou precisando mesmo de um pouco de ação para descarregar energia – olhou para ele e depois de volta para Sam – Pego minhas coisas e espero vocês no carro.

E saiu.

- É, Sam... Ela é o tipo de mulher para quem é perigoso dizer não – afirmou Dean colocando os braços em volta dos ombros do irmão.

- 0 –

 

Entraram os três no Impala, Vic no banco de trás, como de costume.

- Tenham cuidado – desejou Bobby do lado de fora, mas sua recomendação era mais para a sobrinha que o ignorava. Ele suspirou.

Dean apenas assentiu. Partiram.

As horas passaram. A viagem prosseguia sem que qualquer um deles ousasse quebrar o silêncio; Victoria ignorava Sam e este não se atrevia a lhe falar. Quanto a Dean, não queria travar conversa com nenhum deles por medo de se ver novamente como intermediário nas conversações do casal como da vez em que brigaram por causa da Meg. Felizmente, até o momento não havia sido solicitado para tal. E se recusaria a assumir tal papel.

Chegaram à noite no local. Do Impala, vigiavam através de binóculos a movimentação da Casa de Repouso Serenity Valley. Aparentemente só havia idosos inofensivos.

- Esse é o covil do Doutor Maligno, é? – perguntou Dean

- É mais deprimente do que maligno – comentou Sam com um suspiro

- As aparências enganam – retrucou Victoria. Sam a olhou admirado por falar com ele – É de onde menos se espera que saem as punhaladas.

Sam engoliu em seco e virou para frente. Era uma indireta para ele. Dean fez uma cara feia como se fosse ele a receber a alfinetada. Bom, pelo menos ela falou com Sam e não o usou como pombo-correio.

- Pode ser – falou Dean para desanuviar o clima – É como um folheto colorido de como morrer jovem. Mas para o Peste, deve ser maravilhoso.

- Ótimo. O prédio está cheio de gente – observou Sam – Não sabemos quem é humano, que é demônio e quem é o Peste.

- O que fazemos, Dean? – Collins fez questão de acentuar para quem se dirigia. Sam torceu a boca.

- Esperamos – respondeu Dean com a atenção fixada no prédio.

Teve uma ideia ao localizar a câmera de vigilância do lado de fora.

- Pensando bem... – voltou-se para Collins – Está na hora de você entrar em cena, Vic.

- 0 –

Na sala das câmeras, encontrava-se o segurança do estabelecimento. Viu os três caçadores entrarem, mas não lhes deu muita atenção, seu celular era tudo o que lhe interessava no momento. Ouviu uma batida na porta. Foi atender de má vontade, mas esta sumiu ao abri-la e se deparar com Victoria.

- Oi. – cumprimentou-o com um sorriso.

- Er... oi – respondeu ele alargando o sorriso. Colocou desajeitadamente o braço sobre o umbral da porta. Mediu a bela mulher à sua frente. – Em que posso... servi-la?

- Procuro a minha avó... O nome dela é Eunice Kennedy. – respondeu com voz bem sensual

- Você... – engoliu em seco – Você tentou falar com a enfermeira?

- Ah, é mesmo! Que cabeça a minha. – ela colocou a mão na cabeça. O guarda sorriu condescendente – O senhor se importa de me ajudar?

- Claro que não. É... um prazer.

- Posso entrar?

- À vontade. – o tom era insinuante

Vic fechou a porta. O guarda mordeu o lábio

- Olha, vou te descrever como ela é – o guarda assentiu prestando mais atenção nas curvas da caçadora do que no som de sua voz – Ela é pequena, grisalha e usa fralda.

Vic se curvou levemente a ponto de mostrar o decote de sua blusa. O olhar do guarda bem como parte de seu corpo convergiram para baixo acompanhando a bela visão que Collins lhe oferecia. Até que ela o esmurrou com força total, fazendo-o perder os sentidos.

Balançou a mão para aliviar a dor que sentia.

- Homens – murmurou para si mesma e deu uma batida na porta, um sinal para seus companheiros entrarem.

- Deu certo? – indagou Dean

- Claro. Ele é homem.

O Winchester tratou de agarrar os braços do vigia e arrastá-lo. Quanto a Sam, encarou Vic com certa irritação. Não havia gostado nada do plano de Dean, porém, não ousou se interpor quando Victoria concordou. Sabia que ouviria alguma resposta bem ácida, embora preferisse isso a ser ignorado.

Vic apenas esboçou um sorriso de desdém e um olhar de desafio do tipo “Diga alguma coisa para você ver”

- Eunice Kennedy? – zombou Dean ao perceber o conflito mudo e tentar dissipá-lo.

- Isso se chama improvisação, Dean. – ela se virou para ele – Vai o que sair da cabeça...

- E dos peitos? – ele sorriu malicioso

- Sim. Está vendo como é boa a estratégia do decote?

- Claro.

- E que conste que foi você quem sugeriu.

Os dois riram. Sam permaneceu calado e com expressão fechada.

Ao ver a expressão do irmão, Dean parou repentinamente.

- É melhor nos concentrarmos agora – disse e foi até o painel com as câmeras. Vic se postou à sua esquerda e Sam à direita.

- O que vamos procurar exatamente? – indagou Collins

- O Peste. Um sujeito com uma cara bastante doente.

- Todo mundo aqui tem. – retrucou Sam

- OK, mas... vai ter algo fora do comum. A gente vai saber de alguma forma.

- Então peguem seus ingressos e olho vivo – disse Victoria e puxou uma cadeira.

- Só faltou a pipoca – comentou Dean fazendo o mesmo.

Sam também se sentou sem dizer mais nada.

Os três vigiaram um bom tempo as imagens. Às vezes, levantavam-se para não caírem no sono. Depois, retornavam aos lugares quando sentiam o corpo mais cansado. Em dado momento, num dos monitores, Sam viu um homem alto e magro sair de um quarto. A câmera dava uma interferência ao focar o rosto do indivíduo.

- Ei – chamou a atenção de Dean que estava de pé. – Vic... – pôs a mão no ombro de Collins que começava a cerrar as pálpebras.

- O que é? – ela fez um movimento brusco para evitar seu contato, o que o magoou.

- Descobriu algo, Sam? – Dean interviu

Sam voltou sua atenção para o painel e apontou os monitores. Em todos eles, o misterioso homem provocava uma distorção de imagem nas câmeras na altura do rosto. Tudo o que viam dele era seu terno preto.

- É ele, com certeza – comentou Vic

- Agora sim – concordou Dean.

Rapidamente, trataram de pegar suas espingardas e percorreram os corredores em busca da figura de terno preto. Tomavam o máximo de cuidado para não serem vistos por ninguém, principalmente se fossem demônios. Passaram pelo meio de um corredor. A porta de um dos quartos estava aberta e uma enfermeira sentada de costas para a entrada. Ela levantou o rosto como se sentisse a presença deles, embora não se detivessem pelo local. Virou seu rosto, mas eles já não estavam lá.

Imediatamente, a funcionária se dirigiu a um leito de hospital. Um homem alto, magro e velho de terno preto, com crachá que o identificava como um médico e um estetoscópio, limpava o rosto com um lenço. Era parte do vômito esverdeado que uma paciente idosa acabara por expelir antes de falecer. Uma cobaia das experiências com mistura de doenças do suposto doutor, o Peste.

- Senhor – a enfermeira se dirigiu a ele. Seus olhos enegreceram – Os irmãos Winchester e a Indomável estão aqui. É melhor irmos.

Ele soltou um leve riso.

- Está brincando? – indagou

- Eles têm um passado com cavaleiros e com os Tormentos... inclusive o seu.

- Meus irmãos... meu escudeiro. – limpou o vômito dos óculos – O que eles fizeram com meus irmãos e meu servo... O Vingador dos Anjinhos teria me facilitado mais as coisas... – murmurou com raiva. – Não. A única coisa razoável a se fazer... é tirar a saúde dos corpinhos sarados deles.

- Recebemos ordens expressas de não matar os receptáculos – a demônio murmurou engolindo em seco – E até mesmo poupar a companheira deles.

- Se Satã os quer tanto, que os conserte de novo! – esbravejou. A demônio se assustou e não ousou contestá-lo. Vendo sua reação, o Cavaleiro se acalmou e abriu os braços, num gesto convidativo – Venha, venha.

A moça não tinha opção a não ser obedecer e se aproximar. Tremia e abraçou-o com desconfiança ignorando os vestígios de vômito que ele ainda conservava na roupa e no rosto. Peste a acolheu paternal e lhe deu tapinhas amigáveis nas costas.

- Agora. – ele girou o anel

- 0 –

- Avise quando ela estiver morrendo. – pediu um médico legítimo no corredor

- Sim, doutor – respondeu uma enfermeira

Súbito, o médico começou a vomitar e caiu no chão. A funcionária que estava com ele foi acudi-lo, mas acabou por também passar mal.

Em outra parte, Vic e os rapazes continuavam a buscar o Peste. Então começaram a tossir e a sentir náuseas. Depararam-se com várias pessoas caídas e mortas no chão, acometidas pelo Peste.

- Acho que estamos chegando perto – comentou Sam em meio à tosse que ficava mais forte

- Acha mesmo? – retrucou Dean

Passaram pelos corpos, mas cada vez os três tossiam, ficavam mais febris, suas visões se turvavam, curvavam os corpos e se escoravam nas paredes.

- Eu... eu não... – Vic colocou a mão na testa e caiu, a cabeça encostada na soleira de uma porta

- Vic! – gritou Sam com o pouco de forças que lhe restava e se aproximou da namorada, tentando ampará-la. Dean também veio em auxílio de Collins, porém, suas forças o abandonaram e ele caiu encostado na outra parede, de frente para a mesma porta.

- Dean... – Sam murmurou o nome do irmão, mas não se mexeu. Localizou com a visão turva o número na tal porta onde parecia que a vibração de doença ficava mais forte. Juntando o restante de suas forças, bateu o corpo na porta e empurrou-a. A demônio assistente do Peste o recebeu.

- O doutor os verá agora – disse sarcástica sem hesitar diante da lâmina que Sam empunhava.

Saiu do campo de visão do Winchester para que ele vislumbrasse o cavaleiro sentado no leito da velha paciente morta.

- Sam. Dean. Victoria. – disse ele com animação na voz, sorriso convidativo e acenou para que se aproximassem. Sam não suportou mais e estatelou no chão. O cavaleiro o observou e espichou o pescoço para divisar o cabelo de Victoria na porta e parte do corpo de Dean no corredor – Vão entrando.

A demônio arrastou o corpo dos três caçadores para o interior do quarto. Eles levantaram o rosto minimamente com um pouquinho de força restabelecida, um alívio temporário que o Peste lhes concedeu para conversarem. Continuavam tossindo.

- Hum... Vocês não parecem bem – murmurou o Peste com falso semblante analítico – Pode ser escarlatina. Ou meningite. Ou sífilis – olhou para os rapazes e, depois para Collins – No seu caso, querida, talvez câncer de útero.

- Vá... para... o... inferno – murmurou Vic com dificuldade.

- Tsc, entendo... Revolta com o diagnóstico é compreensível, mas... inútil. – abaixou-se, passou a mão nos cabelos da caçadora com falsa postura paternal e levantou-se outra vez – Seu estado requer cuidados. Bom, se você ainda tiver algum tempo para isso, o que acho difícil – disse cada vez mais sarcástico ao consultar o relógio de pulso. Olhou para os três – Isso não está divertido. – aproximou-se de Sam e ergueu sua cabeça para que ele o encarasse – O que estiver sentindo agora... vai piorar tanto, mas tanto... Alguma pergunta? – O Winchester não conseguiu murmurar nada.  O cavaleiro largou bruscamente a cabeça dele e se aproximou de uma mesa onde estava uma garrafa de álcool. Passou-o em suas mãos e começou a andar pelo quarto – As doenças são mal afamadas, não acham? Por serem imundas. Caóticas. Embora isso se aplique à pessoa que pega a doença. A doença em si é muito pura. Determinada. A bactéria tem um objetivo: dividir e conquistar.

Dean estava prestes a apanhar a lâmina especial, porém, o Peste esmagou seus dedos com o pé. O caçador gemeu.

- É por isso que, no fim... ela sempre ganha – sorriu com satisfação e chutou a arma para longe. Afastou-se – Mas por que será que Deus deposita todo seu amor... em algo tão bagunçado... e fraco! – gritou. Depois, acalmou-se – É ridículo. Só posso mostrar que ele está errado, uma epidemia de cada vez. – tirou seus óculos do bolso da camisa, colocou-os e aproximou-se dos três – Em uma escala de um a dez, como é a sua dor?

Nisso. A porta se abriu e, por ela, entrou Castiel meio cambaleante, mas firme. Peste o encarou entre surpreso e curioso.

- Cass... Como... chegou aqui? – indagou Dean

- De ônibus. – replicou o anjo e foi se aproximando – Não se preocupe, eu...

Caiu de joelhos e começou a vomitar sangue.

- Veja só. – o Peste abaixou minimamente o tronco e contemplou extasiado o estado do anjo como se analisasse a descoberta do século – Um receptáculo ocupado, mas indefeso. Fascinante. Não há um pingo de anjo em você, há?

Aproveitando da distração do cavaleiro, o anjo apanhou a lâmina, ergueu-se, empurrou o Peste até uma mesinha e cortou seus dedos. A criatura urrou de dor.

- Talvez só um pingo – retrucou Castiel

O Peste gritou e segurou os dedos decepados. A demônio pulou em cima do anjo, derrubando-o, mas este a trespassou com a faca, pondo um fim em sua vida.

Imediatamente, as enfermidades nos corpos de Vic, Dean e Sam desapareceram e eles se levantaram. O Winchester mais velho apanhou de cima da mesa o dedo cortado com o anel.

- Não importa – murmurou o Peste ainda com ar vitorioso e segurando a mão ensanguentada – Tarde demais.

E desapareceu.

- 0 –

 

 Na casa de Bobby, Dean lançou o anel do Peste sobre a mesa para mostrá-lo a Bobby e este rodou até cair.

- É bom fazer um home run pelo menos uma vez – comentou o velho caçador se dirigindo brincalhão mais para Vic que estava de pé. Esta, porém, desviou o rosto. Ele suspirou. Fitou os rostos de Sam e Dean, sentados à sua frente e o de Castiel escorado sobre a lareira. Pareciam desanimados – O quê?

- A última coisa que o Peste disse. – declarou Sam – Tarde demais.

- Ele não foi mais específico?

- Não.

- Temos medo que ele tenha deixado uma bomba por aí. – replicou Dean

- Algo como uma nova peste em grande escala – sugeriu Vic sem fitar Bobby

- Então, nos diga se tem alguma boa notícia

- Chicago está prestes a sumir do mapa. – tornou Bobby – Tempestade do milênio. É o começo de uma série de desastres. Três milhões morrerão.

Os três caçadores o fitaram com estranheza, até mesmo Collins.

- Não entendi porque a notícia era boa – Castiel expressou a indagação de todos

- Bem... Morte, o Cavaleiro... vai estar lá. E se não o determos antes que ele dê início à tempestade e pegarmos o anel dele...

- Você faz parecer tão fácil. – retrucou Dean

- Só estou tentando florear a coisa.

- Bem... – Sam olhou de Dean para Singer confuso – Bobby, como você descobriu isso?

- Eu tive alguma ajuda.

Ouviram um barulho de tilintar de um copo na mesa e um líquido se despejando. Olharam na direção oposta. Era Crowley se servindo de uísque.

- Não seja modesto – disse ele – Quase não ajudei.

Os caçadores e o anjo encararam Singer com surpresa. Ele revirou os olhos. O demônio se aproximou com seu sorriso sardônico.

- Olá, rapazes. – saudou os Winchesters e fez uma reverência com a cabeça para Vic – Senhorita. Prazer, etc. – cheirou a bebida da bodega de Singer que lhe pareceu de mau gosto. Deixou o copo sobre um armário – Continue. Diga a eles. Não há vergonha nisso.

- Bobby. – Sam começou a abordá-lo. Dean e Vic atentos – Dizer o quê?

Singer permaneceu calado.

- Anda, Bobby! Nos diga de uma vez a merda que você aprontou! – esbravejou Vic atraindo a atenção de todos com espanto por sua raiva, inclusive a de Crowley – Como se não bastasse seu conluio com certas pessoas!

E apontava Sam. Este a fitou pasmo e quis retrucar, mas Dean mais uma vez o segurou. Cass os encarava sem entender; quanto a Crowley, embora não estivesse muito ciente, divertia-se com o conflito familiar.

- Olha a boca, mocinha! Tenha mais respeito! – retrucou Bobby

- Respeito? Ora, por favor! – ela estreitou os olhos e sorriu com desdém

- Ei, ei! Vamos parar com isso! – interveio Dean e voltou-se para Singer – Bobby, quer nos dizer logo o que tá rolando?

- O mundo vai acabar – justificou-se Bobby pressionado – É estupidez ficar de frescura com uma alminha.

- Vendeu sua alma? – Dean o interrogou perplexo

- Beleza! – Vic estendeu os braços para o alto e riu sarcástica

- Ele só penhorou. Tenho intenção de devolver – Crowley se prontificou a explicar

- Então, devolva! – ordenou Dean

- Eu vou.

- Agora!

- Você o beijou? – Sam intrigado perguntou a Bobby

- Sam. – censurou-o Dean

- Só perguntando.

Todos na expectativa encararam o velho caçador.

- Não! – Bobby rechaçou a ideia

- Arrã... – Crowley pigarreou e mostrou uma foto em seu celular... em que o velho caçador tascava um beijo em sua boca com expressão de repugnância.

Singer fechou os olhos constrangido. Dean e Sam observaram a imagem perplexos; Collins sentiu náuseas; Castiel apenas arqueou a sobrancelha.

- Por que tirou uma foto?  - Bobby indagou reprimindo a irritação

- Por que usou a língua? – devolveu Crowley

De novo, os quatro voltaram sua atenção para Bobby. Ele permaneceu calado e mais constrangido.

- Querem saber? Cansei. – Dean se levantou e se aproximou do demônio – Devolva a alma dele agora.

- Sinto muito. Não posso. – replicou Crowley

- Não pode ou não quer?

- Não quero. É um seguro.

- O que está dizendo?

- Você matou demônios. O gigante ali tem um problema de temperamento. – indicou Sam com um movimento da cabeça. Em seguida, apontou Victoria – Sem falar na garota ali de pavio curto. Mas não me matarão... enquanto eu tiver aquela alma no banco.

- Seu filho da mãe – praguejou Bobby

- Eu devolvo. Depois que tudo estiver terminado, e eu ter ido em segurança. Será que estamos entendidos? – esbravejou a última frase.

- Uma ova! – foi a vez de Collins gritar. Todos voltaram os olhares para ela – Já chega de tudo isso! Qual o seu problema e o do Sam? – ela se dirigiu a Bobby. Este ia replicar, porém, Victoria não lhe deu tempo – Vão montar o esquadrão suicida agora? Não, porque se for assim, pode deixar que eu mesma faço isso por todos – em seguida, voltou-se para Castiel – Cass, o que há em mim que pode impedir a batalha entre Lúcifer e Miguel?

O anjo a fitou sem entender. Ou pelo menos, se fez de desentendido.

- O que quer dizer? – indagou

- Quando Gabriel nos informou sobre os anéis, ele insinuou algo sobre eu ser a última esperança, caso o plano da gaiola falhasse. A que ele se referia?

Crowley estreitou os olhas bastante interessado. Havia escutado através de sua moeda enfeitiçada o vídeo de Gabriel porque o puseram no laptop de Sam em cima do carro. Não se atentou muito ao que ao arcanjo havia dito sobre Victoria por se fixar mais no plano dos anéis e porque sabia tanto quanto os caçadores a esse respeito. Nada.

E nenhum dos três caçadores debateu a respeito; os Winchesters por temerem que pudesse ser algo que colocaria a vida de Collins em perigo, e ela, porque não estava tão segura de que o arcanjo falasse a sério. Mas agora com o aparecimento de Castiel, talvez pudessem tirar suas dúvidas.

- Não sei... Nunca ouvi nada a respeito – Castiel afirmou sem hesitar.

- Não sabe... ou não quer dizer?

- Não sei. – Cass prosseguia em sua mentira. Ele não podia contar sobre Isabel – Pode ser um blefe de Gabriel. Sabe como ele era.

- Sei, mas ele parecia bem sério assim como nos falou sobre os anéis.

- Mesmo que exista algo, desconheço.

- Então descubra.

- Se for verdade... pode ser arriscado para você. – tratava de dissuadi-la de qualquer maneira

- Não me importo. Apenas...

- Não! – foi a vez de Sam se levantar – Cass tem razão. Pode ser perigoso para você. Não vou permitir.

- Nem eu – afirmou Singer

Collins riu.

- E quem são vocês para me permitirem alguma coisa? – ela se voltou para Sam – Você me consultou a respeito quando decidiu simplesmente dizer sim a Lúcifer? – Ele engoliu em seco. Não tinha como argumentar. Castiel os olhou sem entender. Vic fitou Bobby com acusação– Ou você, quando fez um pacto com esse daí? – apontou Crowley.

- Esse daí vírgula – retrucou Crowley – Eu...

- Cale a boca. – Sam, Bobby e Collins disseram ao mesmo tempo

O demônio levantou os braços em sinal de trégua.

- Vic, Sam está certo – Dean acudiu – Mesmo que o que Gabriel disse faça algum sentido, a gente não vai por a sua vida em risco. – suspirou e apontou o irmão – Eu já tenho que convencer esse cabeça-dura de desistir do plano louco dele, Bobby nos aparece com uma dessas... Não vai você também pirar!

Victoria o fitou. Em seguida, alternou o olhar de Bobby para Sam.

- Quer saber? Dane-se tudo isso – deu-lhe as costas – Pra mim, chega.

Saiu e bateu a porta. Um silêncio tenso permaneceu. Sam se voltou para Dean e Bobby

- Olha, eu...

- Vá falar com ela agora – os dois concordaram e disseram ao mesmo tempo.

- Alguém pode me explicar o que a Victoria quis dizer sobre o Sam dizer Sim ao Lúcifer? – perguntou um Castiel confuso olhando de Singer para Dean, assim que o Winchester mais novo saiu.

- Hum... isso está ficando interessante – murmurou Crowley                                                                                                                                                     


Notas Finais


Bem, é isso aí. O Sam bem que tentou, mas não conseguiu enganar a Vic por muito tempo. Agora é saber se ela vai perdoá-lo apesar de tudo. Eu particularmente também ficaria puta, enfim.

O título deste capítulo parodia a peça de teatro "Aquele que diz Sim, Aquele que diz Não" do célebre Bertolt Brecht

Espero que tenham gostado! E me mandem reviews, gente. Não custa nada. Se vcs se dão o trabalho de ler, cinco minutos a mais para comentar não vai lhes fazer perder o avião, rsrsrs...

Até a próxima.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...