História Along The Way - Capítulo XIV

 A manhã do décimo primeiro dia de viagem foi bastante tranquila. Antes mesmo do meio-dia o par de viajantes já haviam deixado de vez a floresta, percorrendo seu caminho pela extensa planície verde, onde o vento soprava forte e desimpedido por conta da parca vegetação, bagunçando seus cabelos e os fazendo se apertar contra os casacos quentes.

 Seguindo margeando o rio, eles passaram a manhã e a tarde, onde à noite se viram obrigados a se arrumar com o pequeno fogo que puderam fazer com a escassez de lenha.

 O dia seguinte teve sua manhã do mesmo modo, somente mudando a paisagem ao meio-dia, quando alcançaram um pequeno vilarejo, onde as pessoas paravam suas ocupações para olhar e se questionar a respeito dos desconhecidos viajantes.

 Peter olhava tudo e qualquer coisa com extremo interesse, enquanto Tony apenas contemplava com saudosa nostalgia o lugar onde havia muito visitava com sua mãe.

 No começo da tarde foi quando eles finalmente alcançaram os grandiosos portões dos muros do castelo. Obtiveram sua entrada permitida ao se identificar e declarar a intenção ao entrar, então sem muito tardar, mas com não pouca burocracia, eram levados à presença do rei.

 — Majestade, tenho aqui uma carta oficial de Timur, para o senhor — Tony declarou assim que questionado.

 Entregou então o envelope lacrado que havia lhe sido dado por Rogers antes de saírem. O rei rapidamente o abriu e leu com interesse e atenção seu conteúdo, para então o dobrar novamente e o guardar em uma gaveta de sua mesa.

 — Bem, se requisitam o retorno da princesa confiado sob a guarda de vocês dois — iniciou o rei, olhando de um para o outro —, assim será. Dê-me um dia para preparar a partida de Natasha, então depois de amanhã antes mesmo da aurora vocês poderão partir.

 E dizendo isso o homem se levantou e contornou a mesa, abrindo a porta e indicando para que Tony e Peter o seguissem, então continuou:

 — Enquanto isso os convido a ficar e descansar no castelo, tiveram uma longa viagem.

 Chamando uma serviçal que passava por ali, ele a instruiu a guiar os viajantes até os quartos onde se hospedariam durante sua estadia no reino, e após, prepar um banho para que se lavassem.

 Atravessando alguns corredores, chegaram a um cheio de portas, parando em frente às duas primeiras, onde foram deixados cada um com um quarto de mobília simples, sendo uma cama de casal, escrivaninha e um pequeno armário em cada.

 — Fiquem à vontade, senhores — disse a serviçal. — Eu lhes chamo quando o banho estiver pronto.

 Peter entrou em seu quarto e olhou em volta, então caminhou até a janela e a abriu, respirando profundamente e contemplando a vista privilegiada dos arredores do castelo, então se voltou para a cama, somente agora se dando conta de que Tony, escorado contra o batente da porta e com os braços cruzados, lhe observava. Sentou-se sobre o colchão e se jogou para trás, ignorando o estalo do estrado sob si.

 — Deitar em uma cama depois de tantos dias dormindo no chão é taaaao bom, Senhor Stark — Peter murmurou, ainda deitado de olhos fechados.

 Tony nada disse, apenas se permitiu apreciar o menor ali jogado de qualquer jeito sobre os lençóis, parecendo tão bem e confortável que um desejo de se deitar ali com ele se abateu sobre si, o qual logo em seguida fora varrido para os confins de sua mente, onde seus desejos impróprios para com o garoto iam e se acumulavam cada vez mais.

 Balançando a cabeça, Tony se dirigiu para seu próprio quarto, fechando-se ali e se deitando em sua cama, que por algum motivo não lhe parecia tão satisfatória quanto a de Peter. Bufou e se levantou, então soltou a correia que prendia a bainha de sua espada e a largou sobre a mesa, se livrando também das demais armas, afinal não precisaria delas ali, entretanto deixou uma ou outra por precaução.

 Não muito tempo depois, a serviçal retornou, os avisando sobre o banho. A seguiram então por mais alguns corredores, até chegarem em uma ampla sala de banho, onde um par de espaçosas tinas desprendiam espirais de vapor da água quente.

 — Podem deixar suas roupas aqui mesmo, elas serão lavadas e logo estarão prontas para o retorno de vocês — a mulher falou. — Assim que terminarem, o jantar já deverá estar servido, portanto eu aguardarei aqui fora, e qualquer coisa que precisarem é só chamar — dito isso, ela saiu e fechou a porta atrás de si, deixando os dois sozinhos.

 Peter olhou em seu entorno, notando que sobre uma mesa ao lado de cada tina havia uma toalha dobrada sobre o que devia ser uma muda de roupas, e uma barra de sabão. Notou também que não havia nada que impedisse a visão de uma tina a outra senão a própria distância, o que não significava muita coisa. Com as bochechas adquirindo alguma cor, Peter se voltou para o Stark, mas desviou os olhos em seguida ao notar que este já estava livre da capa e casaco, e agora abria a camisa.

 — O que foi? — Questionou Tony ao terminar de tirar sua camisa, notando que Peter sequer se moveu para despir suas próprias roupas. — Não vai tomar banho?

 Peter o olhou de esguelha por um momento, desviando o olhar rapidamente e corando vigorosamente diante da visão do torso nu de Tony, então olhou para seus próprios pés, envergonhado demais com a ideia de terem de tomar banho no mesmo recinto.

 — Eu já lhe vi sem calça antes, não há do que se envergonhar — Tony disse divertido, começando a soltar as amarras de suas botas.

 Peter sequer se moveu, apenas o fazendo quando notou que o Stark começava a tirar sua calça, então rapidamente se virou de costas, sendo perceptível ao homem suas orelhas vermelhas. O garoto, envergonhado, se questionou sobre a falta de pudor do outro, que sequer hesitava em se expor aos olhos alheios em um momento tão íntimo que era o banho.

 — Vamos, garoto, não pode ficar aí a noite toda — disse o Stark, entrando na tina e se sentando na relaxante água quente.

 — Vira de costas, Senhor Stark.

 — O quê?

 — Por favor, Senhor Stark — pediu Peter, espiando o homem na água. — Não olhe.

 Tony curvou levemente seus lábios em um sorriso divertido com o embaraço do menor, mas vendo que este não se moveria enquanto estivesse sendo observado, decidiu ceder, virando-se então para o lado contrário, dando as costas ao garoto que timidamente começava a tirar suas roupas, também virado de costas. Mesmo tentado, Tony não ousou se virar, não querendo aborrecer Peter, mas foi impossível controlar o impulso de dar uma espiada quando ouviu o barulho da água, capturando com o canto do olho o momento em que Peter se sentava na tina, por um brevíssimo instante podendo ver as curvas de sua pele alva e lisa afundando na água, tendo certeza naquele momento que toda a paisagem que vira durante a viagem sequer chegava perto da beleza do corpo nu de Peter.

 — Posso me virar agora? — Perguntou divertido.

 — Não! — Respondeu Peter, depressa. — Tome seu banho virado para lá!

 Tony riu, mas não se virou. Não era preciso, pois toda vez que fechasse os olhos, a bela visão de Peter estaria lá para sua apreciação pessoal, mesmo que não se orgulhasse nem um pouco disso.

 Com um ótimo humor Tony se banhou, se esfregando bem com o sabão e limpando toda a sujeira acumulada dos dias de viagem, lavando cada canto de sua pele e cabelo, sabendo que Peter fazia o mesmo às suas costas.

 Na hora de se secar e vestir foi outro drama para o Parker, que virado para o outro lado se demorou um pouco mais na tina enquanto Tony colocava suas roupas, esperando até que o homem saísse da sala de banho dizendo que o esperaria do lado de fora.

 Finalmente sozinho, Peter saiu da água quase fria, indo rapidamente se enxugar e colocar as roupas que foram separadas para ele, as quais eram de algodão simples e quentes, bastante confortáveis. Vestido, o garoto saiu, encontrando na porta o Stark e a serviçal, para então os três seguirem juntos à sala de jantar, onde a comida já estava sendo servida.

 Pouco tempo de espera depois, a mesa estava pronta, assim como o rei e a rainha acompanhados da princesa Natasha que se sentavam.

 Peter sorriu amplamente ao ver a amiga de infância, sendo igualmente retribuído, e, sentados lado a lado, engataram uma animada conversa, colocando seus assuntos em dia entusiasmadamente. Imerso em seu próprio mundo compartilhado exclusivamente com a princesa, Peter sequer notou os olhares de esguelha que recebia de Tony, nem as vezes que este bebia de sua taça de vinho para conter a irracional irritação.

 O Stark via a interação do garoto com Natasha como sendo um tanto inapropriada. Não era certo ignorar todo o resto da mesa por conta de uma única conversa paralela, ainda mais tal conversa sendo a de um garoto solteiro com uma princesa prometida em casamento a um príncipe de outro reino. Simplesmente não era certo. E lhe agradava menos ainda o fato de que depois da garota entrar no salão, Peter não ter lhe dirigido nem ao menos um olhar. Bebendo mais um gole do vinho, Tony se perguntou se toda a viagem de volta seria assim.

 O jantar correu de uma maneira que pareceu uma eternidade para o Stark, que embebido em ciúmes (que ele jamais admitiria) não via a hora dele terminar. Mas quando ele finalmente acabou, Tony quase rosnou em irritação ao ver Peter parecer tão feliz em aceitar o convite da princesa para conhecer a biblioteca do castelo. Olhando para sua taça vazia ele decidiu que precisava de uma bebida mais forte que vinho.

 Saindo do castelo, Tony caminhou calmamente até a primeira taverna que pôde encontrar, e ali gastou uma boa quantidade de suas moedas, bebendo tanto quanto conseguiu antes de quase esquecer seu próprio nome.

 Tropeçando nos próprios pés em meio ao escuro da noite já bastante avançada, o Stark tentou voltar ao castelo, perdendo-se algumas vezes, mas enfim encontrou o caminho certo, porém precisando de ajuda para chegar ao quarto.

 Sentado em sua cama ele franziu o cenho. Não era uma boa cama. Não lhe parecia confortável, nem quente, e definitivamente não queria dormir ali. Porém, ele sabia onde havia uma cama muito boa, onde ele queria dormir.

 Tropeçando para fora do quarto o Stark alcançou a porta fechada do cômodo vizinho, a abrindo depois de errar a maçaneta algumas vezes, para então adentrar no recinto, caminhando a esmo pelo quarto escuro.

 Peter, assustado pelo barulho acabou acordando de seu sono, quase tendo um ataque do coração ao sentir um corpo cair pesadamente ao seu lado na cama.

 — Uma cama boa…

 Suspirando aliviado, o garoto reconheceu a voz enrolada que soou perto de seu ouvido.

 — Senhor Stark, acho que errou de quarto.

 Tony nada respondeu, apenas se debateu um pouco até conseguir entrar debaixo das cobertas e passar um braço pela cintura de Peter, o puxando para perto enquanto se acomodava na cama.

 — Esta cama é melhor — murmurou meio grogue de embriaguez e sono, com os olhos fechados e quase caindo na inconsciência.

 — Senhor Stark! — Peter exclamou, surpreso pelo seu estranho ato. — Por favor, Senhor Stark, me solte e vá para seu próprio quarto.

 Sem obter resposta alguma, Peter cutucou gentilmente com o cotovelo o corpo atrás de si, mas a respiração ritmada que batia contra sua nuca lhe dizia que Tony já havia pegado no sono.

 Se dando por vencido, o garoto desistiu de tentar acordar e persuadir o homem a voltar para seu quarto, então apenas se deixou relaxar na cama. O abraço de Stark não era de todo ruim, era quente e confortável, lhe passava uma estranha sensação boa de segurança, e por algum motivo ter o companheiro tão próximo de uma maneira tão íntima, longe de parecer estranho e repulsivo como deveria, lhe era tão indescritivelmente bom e agradável que intimamente desejou nunca precisar sair dali, então somente por aquele momento e ocasião, Peter se permitiu acomodar entre os braços fortes de Tony e adormecer em um sono tranquilo e sem pesadelos.