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História Alter Ego - Livro I - Dejá Vu


Escrita por: CSFukuda

Notas do Autor


Olá, leitores!
Desculpa pela demora, aqui está o novo capítulo!
boa leitura.

Capítulo 10 - Dejá Vu


A garotinha bufou aborrecida. Ela se remexeu na cadeira desconfortável e cruzou os braços roliços ao redor do seu peito, a sua pele branca e macia estava rasgada por cascas de machucados que saravam lentamente, ainda coçavam de vez em quando, mas ela resistia a tentação de cutucá-las, porque se o fizesse, voltaria a chorar como naquele dia.

A Sra. Lewis, a mais antiga, passou a alça da sua bolsa pelo ombro e, junto da Dra. Judity, elas levantaram-se e apertaram as mãos. Na sala de espera, Samanta pouco conseguia ouvir o que a avó conversava com a psicóloga, esse era o trabalho dela? Psicóloga? Samanta não compreendia como conversar poderia ser uma profissão desde o dia que a avó lhe contara que teriam de visitar o consultório da doutora.

— Ela foi internada. – comentou a Sra. Lewis, havia tristeza em como olhou para a outra mulher em busca de conforto.

— Era a melhor alternativa, Sra. Lewis. – Respondeu ela. A doutora segurou nas mãos enrugadas da senhora, estavam frias e ásperas e assim como o seu rosto, transbordavam cansaço. — É importante que Samanta esteja protegida.

Os olhos da avó encheram-se de lágrimas, ela usou o resto da sua força que tinha para segurar o choro. Não queria que Samanta a visse naquele estado. A doutora passou-lhe um copo de água e com mãos trêmulas ela deu um gole ligeiro, sua garganta estava seca e até falar era doloroso.

— Estou aqui para qualquer coisa. – Concluiu a doutora.

Uma semana depois, Samanta e a avó estavam na cozinha da vivenda Lewis em New Ohoa, quando Judity ligou-lhe. Samanta coloria uma borboleta no momento em que a avó desligou a chama do fogão e correu as pressas para atender o telefone. A conversa começara bem, a Sra. Lewis estava com o seu tom bem-humorado de sempre, mas o tom de voz da avó foi se tornando, gradualmente, mais baixo, até simplesmente desaparecer.

Samanta desconcentrou-se do desenho quando ouviu soluços vindo do corredor, a menina levantou-se e caminhou até o arco que ligava a cozinha. A avó estava sentada numa poltrona, tinha as mãos tapando o rosto e os seus ombros balançavam. A sua mãe havia se automutilado no banheiro do hospital psiquiátrico. Quando os médicos conseguiram arrombar as portas, a banheira já estava coberta de sangue, envolvendo o corpo da mulher.

Samanta não chorara, mas, de vez em quando, ainda ouvia a voz da mulher chamar-lhe.

Samanta, Samanta, Samanta...

— Samanta? – A inspetora abanou a mão em sua direção. — Senhorita Lewis?

— Sim. – Falou ela, desconcentrada. — Desculpe, não estou muito bem.

A inspetora assentiu, cruzando as pernas.

— Não se preocupe. – A mulher tinha um caderno em seu colo e mesmo antes de falar algo, ela já estava fazendo anotações. — Precisamos do seu depoimento, vamos ser rápidas. Sua colega Caroline me contou sobre o jogo, mas foi você a primeira pessoa que abriu a porta do porão quando o mascarado atacou Thomas, então, me diga, o que viu?

Ela pensou por um instante.

— Estava tudo escuro no porão..., mas a luz do corredor ajudou a iluminar um pouco a escada. – Falou ela cruzando os braços. — Eu tive apenas um pequeno vislumbre do mascarado, a máscara dele é igual á todas as réplicas que vendem por aí, ele também estava usando um traje preto.

— Imagina o porquê de o mascarado ter escolhido Thomas? – Ela pôs uma mão debaixo do queixo e apoiou-se sob a sua perna.

— Talvez... por que era uma vítima vulnerável? – Falou.

A inspetora não parecia satisfeita.

— Isto é óbvio. – Seu tom era seco. — Mas há algum motivo? Thomas brigou com alguém nesta noite?

O primeiro pensamento que chegou a sua cabeça foi do relato, contado pelo próprio Thomas, sobre o estupro. Aquele assunto a enojava e era a única razão pela qual o Thomas poderia ter sido jogado para a fila do abate.

— Bem, o Thomas nos revelou que...

Um agente adentrou a sala de estar, estava ofegante e gotas de suor escorriam da sua testa.

— Inspetora, precisamos da sua averiguação.

Ela levantou-se num salto.

— Samanta, vamos continuar amanhã cedo.

A inspetora desapareceu no corredor e a presença dos universitários foi requisitada para o dia seguinte, e claro, a festa foi abortada e os alunos expulsos da residência de Thomas, que seguia para a ambulância numa maca.

Uns pularam para dentro de carros e outros aceleravam as suas bicicletas. Samanta desceu as escadas do alpendre em busca de Caroline, mas quando chegou ao gramado, a amiga já estava apertando o cinto de segurança no banco do passageiro do carro do namorado tatuado. Era a única ainda ali, junto dos policiais que passavam por ela as pressas e aos tropeções, gritando um "Desculpe" quando já estavam longe demais.

— Poderiam me levar até a minha república? – Perguntou ela para uma policial que estava de passagem.

A agente franziu o cenho como quem diz "O que você ainda está fazendo aqui?"

— Hum... Claro. – Respondeu ela. — Mas só poderemos te levar quando terminarmos de recolher as evidências. Se importa de esperar um pouco?

Samanta fez que não com a cabeça e agradeceu-a.

Sentou-se no degrau do alpendre, recostada a uma viga de madeira. A ambulância deu marcha ré e saiu do jardim, deixando um rastro enorme pelo gramado. Ficou ali por dez minutos, quando a noite começou a esfriar ao ponto de sentir os seus dedos da mão serem devorados pelo frio cortante. Depois de vinte minutos, estava encolhida ao redor do casaco que Caroline escolhera, já estava cansada de ouvir os agentes chamando pela inspetora como crianças a chamarem pela professora do jardim de infância e depois de meia hora o seu estômago estava revirado e não sabia do que estava mais arrependida, de ter saído de casa ou de ter comido aqueles salgadinhos gordurosos.

Ela pediu para ficar na sala de estar, mas os policiais limitavam-se a negar o seu pedido e a revirar os olhos, depois de uma hora, ela estava a caminho da república. Os postes iluminavam a calçada enquanto as casas das repúblicas e irmandades estavam em escuridão total. Samanta sentia os dedos formigarem, ela suava e o seu estômago suplicava para que ela vomitasse.

Segurou o máximo que pôde, ela caiu de joelhos, próxima a uma lata de lixo, e deixou o líquido ácido fugir da sua garganta. Ela tossiu sentindo as mãos tremerem e vacilarem. O cheiro de podre vindo o líquido escuro no fundo da lata fê-la vomitar ainda mais.

Ela despencou para o lado, sentindo a insuportável pulsação das veias da sua têmpora quase a levarem a loucura. Ele estava ali também, emergindo da escuridão do bairro, em passos silenciosos e calculados, a sua máscara brilhou quando deu um passo à frente, posicionando-se debaixo de um poste. Estava somente a alguns metros e por mais que ela tentasse reagir e sair correndo, o seu corpo prendia-a no chão, aliás, a sua mente prendia-a no chão, dizia a Dra. Judity há anos.

O seu traje preto arrastou pelo chão úmido à medida que se aproximava do corpo de Samanta. Ela deveria gritar, mas ficou quieta, perdendo os sentidos do seu corpo enquanto assistia a escuridão da rua cegar a sua visão por completo.

(+)

Caroline rompeu pelas portas do dormitório.

A vizinha estava vestindo um robe azul e empunhava o seu taco de basebol. Samanta acordou ofegante, seu cabelo preso ao seu rosto graças ao suor, soltou um grito quando viu a vizinha aproximar-se empunhando o taco.

— O que te deu? – Perguntou ela. Voz rouca e aos poucos dando-se conta de onde estava. Samanta ainda vestia as roupas da noite anterior e sua maquiagem era um borrão vermelho e marrom.

Havia algo de estranho. Pela abertura da porta, atrás de Caroline, uma agitação estranha enchia o corredor da república de vozes e passos apressados.

— Pensei que ele pudesse estar aqui. – Explicou Caroline, abaixando o taco. — Você precisa ver isso.

Caroline puxou-a da cama e arrastou-a pelo corredor, outros universitários também faziam o mesmo caminho, comentavam com horror sobre algo que os ouvidos recém acordados de Samanta eram incapazes de compreender.

No hall de entrada, próximo à porta de vidro, um caminho vermelho guiava os olhares dos alunos até um corpo despido deitado de costas. Era um homem, barba cheia e membros separados do tronco. O corpo já estava esbranquiçado e exalava um odor preliminar que fazia alguns ansiarem. Havia sangue nas cortinas, no piso de azulejo branco e nos sofás; grandes pedaços de vidro estavam espalhados por toda parte como espinhos cortantes e outros fragmentos estavam gravados no corpo esquartejado como lantejoulas brilhantes, reluzindo a luz que pela porta entrava e refletia nos cristais sangrentos.

Um olhar mais zeloso repararia nas marcas encrustadas na sua pele fedorenta, palavras escritas em feridas, redigidas por uma adaga que escrevera, cautelosamente, Samanta Lewis por todo o corpo.  

 


Notas Finais


Obrigado por ler!


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