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História Alter Ego - Livro I - Em Ascenção


Escrita por: CSFukuda

Notas do Autor


Olá, leitores! Peço desculpas pela demora :(
Os exames estão me matando.
Boa leitura

Capítulo 16 - Em Ascenção


Os universitários corriam aos tropeções pelo pátio do campus, levavam bolsas cujo zíperes estavam prestes a explodir e rumavam a nenhures, movidos exclusivamente pelo medo. Medo de terem os seus corpos decepados e largados numa vala qualquer. As luzes vermelhas e azuis dos camburões iluminavam os prédios das faculdades como um nascer do Sol apocalíptico e os policiais guiavam a caravana de alunos para instalações e abrigos provisórios para fora dos portões que circundavam a Universidade Das Santas Luzes.

O reitor Merne rompeu pelas portas da reitoria. Trajava um robe azul-marinho, tinha os cabelos grisalhos bagunçados e uma expressão carrancuda expressa nos vincos que se formavam por todo o seu rosto.

— O que você fez? – Inquiriu o homem.

A inspetora, acomodada na poltrona de couro que pertencia ao homem a sua frente, lançou-o um olhar reprovador. A reitoria – a reitoria de Merne – estava cheia de homens e mulheres fardadas que inspecionavam cada centímetro da divisão, apontando lanternas UVs para maçanetas e armários, caçando incansavelmente pela menor das evidências que pudessem incriminar o homem.

— Acho que a pergunta deveria ser o que o senhor deixou de fazer. – Corrigiu-o a inspetora, cruzando as pernas.

— O que estão fazendo na minha sala e o que é toda aquela confusão lá fora?

— Não é o senhor que vai fazer as perguntas, reitor. – Falou a mulher num tom ríspido e cortante. — Serei eu.

Merne aproximou-se da mesa – a sua mesa – encolhido como um dos universitários que costumavam visitar o seu gabinete quando eram convocados. Havia desconforto na maneira como ele assistia os agentes da inspetora revirarem as suas gavetas e analisarem as suas pastas repletas de documentos que, naquele instante, caiam dançando no ar como flocos de neve.

— Não podem fazer isso. Não podem! – A sua voz foi tomada por uma impaciência inquietante, o que intrigou a mulher sentada na poltrona mais importante da universidade.

Era de se esperar que um homem de quase sessenta anos não reagisse bem ao encontrar o seu escritório tomado por policiais, mas a maneira como Merne fitava-a, com olhos atemorizados, sugeria que as palavras não fossem de raiva. Na interpretação da inspetora, soavam mais como um alerta, um conselho, um aviso.

A mulher pousou um documento sob a mesa. Uma folha branca, redigida e assinada com o estandarte do Ministério Público de Tommenham logo abaixo. O reitor aceitou o documentado lentamente, correndo os seus olhos pelos parágrafos e sentindo as palavras espetarem-no nas costas como um ataque sorrateiro.

— Destituído? – Murmurou Merne, incrédulo com as palavras que lera.

— Surpreso? – Perguntou a inspetora. — Eu alertei ao senhor das consequências. A Universidade deveria ter sido encerrada até a captura do assassino.

Ele voltou a pousar a folha sob a mesa, sentindo o seu mundo desabar.

— Não podíamos encerrar. – Explicou-se com a mão no peito. — As aulas tiveram início há poucas semanas e depois como faríamos para recuperar o tempo perdido?

— Como o senhor recuperará a vida dos alunos que foram assassinados? – Ripostou ela, levantando-se da poltrona.

Silêncio.

A inspetora Megan estalou os dedos, chamando pela atenção de todos os seus agentes. A mulher deu ordens para que saíssem da divisão e, como num piscar de olhos, a porta do gabinete fechou-se, deixando o reitor e a inspetora confinados a sós, como ambos a se encararem mutualmente.

— Reitor Merne. – Chamou-o ela, calmamente, numa clara iniciativa de recomeçarem o diálogo. — Há algo que queira me contar?

— Não tenho nada a falar.

Ela suspirou. Puxou do seu bolso um par de algemas.

— A não ser que o senhor queira ser apreendido, eu sugiro que comece a falar!

 

Samanta tamborilou os dedos sob a madeira escura, ela era a única numa mesa para oito pessoas. O Terra Rossa estava desértico e com exceção de Samanta, os dois funcionários que perambulavam de um lado eram as únicas almas vivas por ali.

Sozinha e amontoada no meio das suas malas e as de Caroline, Samanta assistia o caos instaurado no lado de fora do restaurante. Carros apressados de pais desesperados levavam os seus filhos para longe daquele lugar, ou então iam por conta própria, mas aquilo fez pesar a sua respiração, saber que não haveria ninguém para buscá-la.

As portas do banheiro abriram-se e Caroline apareceu trazendo o seu celular em mãos e chacoalhando-o na direção de Samanta como se tentasse dizer algo.

— Meus pais vêm nos buscar. – Avisou Caroline, sentando-se na cadeira de frente a amiga.

Talvez estivesse errada, alguém ia buscá-la.

— Seus pais não vão se importar se eu ficar na casa de vocês? – Perguntou Samanta.

— Meus pais iriam se importar caso eu não tivesse te convidado. – Respondeu a vizinha, tocando na tela do celular repetidamente. — Não faça perguntas idiotas.

— Sim, mas... A minha única preocupação é incomodar, eu disse que posso voltar para Birmingham pela manhã.

— Samanta! – A vizinha elevou o tom de voz. — Para. – Caroline deslizou a palma pela mesa e apertou a mão da amiga, parecia um gesto de repreensão, mas era como um carinho. — Você não me incomoda. Não vou te deixar aqui.

Naquele instante, ela amou Caroline, amou a maneira como a amiga fê-la sentir protegida e fazia um longo tempo que Samanta não se sentia daquela maneira. Segura. Ainda precisava telefonar aos seus avós e contar as recentes atualizações da série de assassinatos, entretanto, o convite de Caroline para passar algumas noites em sua casa faziam-na repensar sobre ligá-los e deixá-los preocupados com algo que não estava ao alcance deles.

A porta de vidro do restaurante abriu-se para que Emily, George e Frederick adentrassem o recinto aquecido. Traziam as suas bolsas e trajavam a maioria dos seus casacos para ocuparem menos espaço nas malas.

— O que aconteceu com o "vamos passar a noite aqui"? – Perguntou Caroline quando o terceto se sentou à mesa junto delas. — Deixaram Elias sozinho?

— Não é óbvio? – Ripostou Emily, impaciente com o tom da amiga.

— O ceifador ataca novamente! – Diz Frederick, imitando um narrador de desenhos animados — e em seguida somos expulsos do quarto de Elias.

Emily reparou no olhar de confusão que Samanta e Caroline trocavam. Decidiu antecipar-se.

— Foi o Ethan. – Explicou ela. — Ele foi atacado no mini palácio da Shakespeare.

— O que? – Caroline tinha os olhos arregalados. Um reflexo fê-la segurar no braço de Samanta, talvez com mais força do que queria. — O assassino matou Ethan? – Sua voz quebrou e o seus olhos encheram-se de lágrimas numa pergunta a qual ela não queria saber a resposta.

— Não não! – Acalmou-a George, cruzando os braços. — Ele foi apenas esfaqueado. A Joana estava lá e salvou-o antes que o pior pudesse ter acontecido.

Emily fitava os seus sapatos, entediada com o rumo da conversa e como George esforçava-se para apaziguar os ânimos de Caroline. Aquilo não parecia verossímil, a não morte de Ethan era teatral demais e as suas consequências resumiam-se a uma ótima oportunidade para despistar os olhares das investigações do seu cabelo ruivo.

— Forjado. – Disparou Emily, ainda fitando os seus sapatos sujos de lama e algo vermelho.

Samanta e Caroline entreolharam-se e George calou-se, viraram-se todos para a host do podcast mais lucrativo da universidade.

— O que quer dizer com isso? – Questionou-a Samanta.

Emily soltou uma risadinha.

— O assassino não estava no quarto de Ethan. – Deduziu ela. — O assassino nem se quer estava no mini palácio da Shakespeare. Ethan forjou as facadas para deixar de ser um suspeito e assim desviar a atenção da inspetora e fazê-la perder tempo.

Um silêncio desconcertante instaurou-se entre os amigos, todos dividiam olhares que foram, inevitavelmente, recair sob Caroline que devolvia uma expressão de irritação à Emily. O fato de Samanta ser uma "personagem de segunda temporada" como ela mesmo se descrevia, impedia-a de saber o motivo pelo qual todos, mais propriamente, George e Frederick esperavam por uma resposta de Caroline. Samanta não fazia parte do ciclo de amizade deles na "primeira temporada" e tudo o que ela podia fazer, era imaginar o porquê da vizinha ser tão sensível quando o assunto era Ethan.

— Qual o seu interesse em incriminar Ethan a todo custo? – Rebateu ela, pousando os cotovelos sob a mesa. Seu tom de voz elevando-se a cada palavra dirigida à Emily. — E quem garante que o assassino é um de nós?

Emily fez menção de responder, mas Frederick interrompeu-a, tornando-se a figura principal da mesa, iluminado no seu lado esquerdo pela luz tênue e amarelada do Terra Rossa e submerso no lado direito pelas luzes azuis e vermelhas das ambulâncias que provinham das janelas do restaurante.

— Caroline. – Começou ele, calmamente. — Eu sei que Ethan é um dos seus melhores, ou pelo menos, foi um dos seus melhores amigos... – Corrigiu-se ele, esforçando-se para não gaguejar tanto quanto o habitual. – Mas há algo de estranho acorrentado à Ethan Montero.

Caroline bufou.

— Vocês estão loucos! – Ela bateu sob o tampo da mesa. — Ethan nunca mataria alguém, mesmo que essa pessoa merecesse muito ter as suas tripas arrancadas e os seus pescoços degolados!

Emily afastou-se ligeiramente da mesa.

— Certo... – Disse a Silver. — Isso foi suspeito para caralho.

— Emily, eu sei que a maioria dos seus amigos são estupradores e por algum motivo desconhecido você está lá sempre para acobertá-los, mas eu preciso ser sincera, se você fosse uma vítima de algum dos que morreram até agora, eu desejaria, sem medo algum, que os culpados fossem depenados até a morte. – Ripostou Caroline, quase que sem respirar. — O assassino está caçando a escória dessa universidade e se isso significa ver estupradores e pedófilos recebendo o que merecem, eu estou do lado do assassino.

Emily cruzou os braços e dirigiu um sorriso malicioso à Caroline.

— Para além de eticamente incorreto fazer justiça com as próprias mãos, você acabou de provar o meu ponto de vista. – Sorriu Emily. — Se Ethan é tão bom, por que o assassino foi atrás dele?

Caroline gaguejou.

— E digo mais. – Continuou Emily. — Ou Ethan é tão grotesco quanto os "meus" amigos, ou então, ele forjou o seu ataque para se livrar dos olhos da inspetora. – Ela levantou os ombros e inclinou-se sob a mesa, encarando-a profundamente nos olhos. — Então cabe a você decidir no que quer acreditar, Ethan é o assassino ou Ethan é um assediador? Qual vai ser?

Caroline empurrou a sua cadeira com força e afastou-se da mesa, quase fuzilando os funcionários do Terra Rossa com um olhar flamejante e atravessando as portas do restaurante, unindo-se ao caos que acontecia lá fora. Samanta levantou-se, apressadamente, e foi atrás da amiga que já havia desaparecido no meio daquelas luzes e na multidão de pais revoltados e alunos desesperados.

Frederick, George e Emily permaneceram sentados ao redor das bolsas e malas.

— Talvez você tenha sido um pouco... – Disse Frederick.

— Realista? – Emily chacoalhou os ombros e voltou a sua atenção para a janela.

George aclarou a garganta e pôs-se de pé.

— Aonde vai? – Perguntou-o Frederick.

— Tenho que arrumar algumas coisas na vã antes de irmos embora. – Ele apontou para a porta traseira do Terra Rossa que dava acesso ao estacionamento privado do restaurante.

 

 

A guerra da independência deveria ter parecido com aquilo. Samanta viu-se emaranhada na multidão que se aglomerava pelas ruas do complexo da universidade, a caravana de alunos e pais dividiam-se em dois grupos: aqueles que corriam para fugir daquele lugar e os outros que tomavam o sentido contrário das ruas e marchavam em direção ao pátio central do campus, sedentos por justiça e motivados pelo luto e ódio.

Samanta punha-se nas pontas dos pés em busca de ter algum sinal de Caroline, mas ali, no meio de empurrões e cotoveladas, a garota estava encurralada, não só pelas pessoas, mas também por causa da sua própria mente. Ao aperceber-se de onde estava e como aquele caos iria bagunçar ainda mais o que acontecia dentro da sua cabeça, Samanta travou.

As vozes e gritos por justiça tornaram-se murmúrios perturbadores e a universidade havia se transformado num cenário de Jogos Vorazes. A luz vermelha das ambulâncias por de trás dos prédios fazia parecer que a universidade flamejava no inferno. Samanta pôs a mão sob o peito e, com a respiração descompassada, ela tentou acompanhar a multidão numa tentativa desesperada de sair dali.

 

O estacionamento do Terra Rossa estava mais vazio do que a parte de dentro do estabelecimento. A vã de George estava estacionada próxima à um Ford velho do início dos anos dois mil. Ele ouvia as vozes da multidão enfurecida, mas não era capaz de vê-la já que o estacionamento era todo circundado por arbustos altos e com um pequeno portão automático por onde os automóveis entravam e saíam.

Emily, George e Frederick iriam ficar na casa de veraneio dos avós de Emily até que as coisas melhorarem ou até que a inspetora concedesse permissão para que o ano letivo prosseguisse. Emily fora relutante em levar os equipamentos de gravação do podcast e como não sabiam quanto tempo ficariam na casa de veraneio, eles deveriam continuar as gravações por lá, principalmente, agora que o podcast atingia um novo ápice de ouvintes desde o início dos assassinatos.

George cobriu a cabeça com o capuz do seu blusão e chutou uma pedrinha que rolou para debaixo do carro ao lado da vã. Aproximou-se do contentor de lixo e sentou-se sob a tampa, fazendo um barulho metálico ao acomodar-se. Ele puxou um cigarro do bolso – Sabor menta e bolor, havia-o encontrado no porta-luvas da vã há uns dias e nem se lembrava que tinha aquele maço guardado. – Ele pôs o cigarro entre os lábios e acendeu-o com um isqueiro cromado, puxou o fumo e segurou-o por alguns segundos, então esvaziou o peito com uma tranquilidade que não se encaixava no contexto em que se encontravam.

Uma notificação fez vibrar o seu telefone.

"A universidade está na televisão" – Dizia a mensagem de Meredith, sua irmã mais nova.

George digitou rapidamente, sentindo os seus dedos congelarem.

"Eu só quero voltar para casa" – Respondeu ele.

"Estamos preocupados. O pai já não dorme há dias. Quando voltar, vamos assistir aquele anime novo que te disse"

George abriu um sorriso.

"Ok :)"

Ele sentiu algo atingir a sua cabeça. Algo leve o suficiente para somente chamar a sua atenção para o estacionamento vazio. Ele apagou o cigarro, atirou a bituca para o chão de concreto e saltou de cima da lixeira. Ele soltou um risinho, já lera o livro da Matança vezes o suficiente para saber que corria perigo, mas George sentia-se intocável e até ofendido em pensar que o assassino o achava burro o suficiente para cair naquela armadilha ultrapassada de filmes de terror.

George olhou para a porta dos fundos, a luz do restaurante trespassava o vidro e iluminava pobremente o estacionamento, havia pessoas ali, aliás, havia pessoas em todo o lugar naquela altura do campeonato, o assassino não poderia fazê-lo mal ali.

Ele caminhou em direção a porta dos fundos e espreitou pela janela o restaurante vazio, as bolsas e malas de Caroline e Samanta ainda estavam ali, mas Frederick e Emily haviam desaparecido. Ele franziu o cenho e baixou a maçaneta da porta.

Um braço longo e camuflado rastejou silenciosamente debaixo da vã como uma cobra negra, em seus punhos cerrados, a adaga que assombrava a universidade aproximou-se do calcanhar de George e num gesto ligeiro, a lâmina, afiada como um fio de cabelo, rompeu a carne num corte lancinante e ardente. O sangue jorrou no asfalto escuro do estacionamento e George soltou um grito, deixando-se cair contra a parede.

As mãos enluvadas agarram-se ao concreto frio e puxaram o corpo camuflado que se escondia debaixo da vã. George cambaleou até a porta de vidro, num ritmo lento e doloroso, à medida que os seus olhos estavam presos na criatura que se punha de pé, erguendo-se em volta de um manto negro.

O líquido vermelho envolvia o seu pé dentro do calçado e era como se ele tivesse pisado numa profunda e quente poça de sangue. Caminhar só não era tão doloroso quanto o que lhe esperava se continuasse mais alguns segundos ali.

— Socorro! – Gritou George. A sua voz uniu-se à voz das outras centenas de pessoas que protestavam pelas ruas.

As mãos enluvadas do ceifador seguraram-no com força o suficiente para fazê-lo perder o equilíbrio e apoiar todo o peso do seu corpo sob o tornozelo dilacerado, a carne rompeu e o jovem caiu de joelhos gemendo de dor e usando os seus braços para se afastarem do corpo do assassino.

A adaga cortante esbarrou na pele quente do seu pescoço, enquanto outra mão segurava George pelo capuz, retirando-lhe toda a coragem de se debater. George era, naquele momento, um servo, ajoelhado em reverência a um deus sombrio. O ceifador puxou-lhe o capuz, revelando o rosto pálido e amedrontado de George.

— Por favor. – Suplicou ele. — Eu não fiz nada.

Os olhos negros e enferrujados da máscara estudavam cada centímetro do seu rosto. Havia algo de errado. George queria gritar para todos os manifestantes que cercavam a universidade, queria dizer-lhes que o assassino que tanto procuravam estava ali, mas a lâmina tão próxima ao seu pescoço fazia-o repensar.

O assassino soltou os cabelos de George e o garoto arrastou-se para longe, gritando por ajuda. As suas mãos ensanguentadas golpearam o vidro, deixando marcas vermelhas na base da porta. George olhou de relance para trás e deparou-se com o estacionamento vazio, outra vez.

 

Samanta já não sabia para onde os seus pés a guiavam, entretanto, à medida que seguia a caravana de pais e colegas revoltados, viu a estátua do pensador erguer-se sob as placas dos manifestantes e câmeras dos jornais ingleses. Havia chegado ao centro do campus.

— Queremos justiça! – Gritavam as vozes em uníssono. — Queremos justiça!

As suas mãos tremiam e o ar parecia não ser o suficiente para encher os seus pulmões, Sam tentava esquivar-se pelos manifestantes, mas os seus corpos eram como um muro, prendendo-a naquele espaço sufocante cujo barulho acelerava o seu coração e aturdia o seu campo de visão.

Alguém pousou uma palma sob o seu ombro e, em seguida, deslizou até a sua mão direita e puxou-a com força. Samanta mal teve tempo de raciocinar, apenas deixou-se ser rebocada para longe daquela multidão. Encontraram abrigo na calçada do prédio da secretaria, a sua salvadora era justamente quem havia a colocado no meio de toda aquela gente.

— Onde você estava? – Perguntou Samanta, fitando Caroline nos olhos, sua voz havia abandonado a calma habitual e soava raivosa.

— Meus pais já chegaram. – Desconversou Caroline. — Vamos encontrá-los e sair daqui.

As ruas traseiras aos prédios principais da universidade estavam vazias e pouco movimentadas. Samanta e Caroline correram pela calçada húmida desviando de câmeras profissionais e fios de energia.

Samanta esbarrou contra as costas colossais de um jornalista. Ele nem se moveu, mas virou-se de imediato, encontrado um olhar desconcertado e inúmeros pedidos de desculpa da jovem. Caroline, ao reparar na situação, voltou a puxá-la para frente, mas o jornalista, com mãos grossas e rijas, segurava Samanta pelo outro braço.

— A senhorita é Samanta Lewis? – Perguntou o homem, prendendo-a na sua presença. — Poderíamos falar por uns segundos? – O jornalista fez um gesto com as mãos e um feixe de luz cegante cobriu o rosto de Samanta. Uma grande câmera logo atrás do homem registrava o desenrolar da ação.

— Desculpe, nós temos de ir. – Falou Caroline, puxando Samanta do foco da câmera. Ela pôs-se a caminhar, mas as mãos do jornalista seguraram-na outra vez.

— Senhorita Lewis! – Suplicou ele. — Qual o seu envolvimento com todos os assassinatos e por que o seu nome estava inscrito no corpo de Jason? – Ele apontou o microfone em sua direção. Samanta não sabia o que responder, nem sabia que ela havia ganhado tanto reconhecimento. Ela ainda não havia recuperado o seu fôlego da corrida e o seu coração ainda se debatia contra o seu peito violentamente.

Samanta fez menção de responder à pergunta, mas antes que pudesse formar uma palavra, a mão avermelhada de Caroline agarrou o microfone do jornalista e arremessou-o para longe. As duas correram enquanto o homem rogava-lhes pragas e xingava-as com todos os palavrões que conhecia.

O carro dos pais de Caroline era um Ford Focus cinzento e estava estacionado na calçada do Terra Rossa, ao lado de uma ambulância. Uma mulher, uma cópia idêntica de Caroline, colocou-se para fora do carro e fez um sinal para que se aproximassem o mais rápido possível. A vizinha abraçou a mulher com força e essa beijou a testa da filha com olhos marejados.

Um homem barrigudo, de óculos e trajando um casaco preto, alocava as bolsas de Caroline dentro do porta-malas. Ele aproximou-se de Caroline e apertou-o com tanta força que, por um minuto, Samanta pensou que ele iria quebrar-lhe os ossos. A vizinha virou-se e os seus pais acompanharam o gesto da filha.

— Você deve ser a Samanta. – Falou a mulher mais velha num tom caloroso. Ela aproximou-se e segurou as mãos de Sam. — Oh! Richard, Ela está congelando.

— Conversaremos melhor em casa, entrem no carro. – Indicou o pai de Caroline abrindo as portas traseiras do automóvel.

As malas de Samanta ainda deveriam estar no interior do Terra Rossa. Ela pediu para que eles aguardassem um segundo e encaminhou-se para a entrada do restaurante. O calor do recinto era reconfortante, mas os gemidos agonizantes de George faziam-na tremer. Emily e Frederick tentavam ajudar os paramédicos, mas só atrapalhavam o trabalho dos homens.

Samanta passou as alças da sua mochila pelos ombros e pensou em oferecer ajuda, mas os gritos de Caroline para que se apressasse do lado de fora fizeram-na virar as costas e abandonar o restaurante. Ela pulou para o banco e fechou a porta, cruzando o cinto de segurança em seu peito logo em seguida.

— Pegaram tudo? – Perguntou o pai de Caroline, olhando-os sob o ombro.

— Tudo que deu tempo. – Ripostou a filha.

Os pais da sua vizinha eram extremamente atenciosos e desde o momento em que entrou no carro até o momento que atravessaram a avenida principal do bairro universitário, eles já a haviam perguntado umas três vezes se ela estava bem ou ferida. Samanta respondia-os com poucas palavras, ainda que tentasse soar simpática. A sua atenção estava toda centrada na universidade, nas pessoas que levantavam placas de papelão e marchavam para o jardim principal do campus, os seus olhos não desgrudavam do estranho contraste das luzes avermelhadas das sirenes dos camburões e nos cartazes com ilustrações da máscara do assassino cuja maior parte era coberta por um grande X em vermelho. O carro acelerou e, com olhos ainda presos à janela, Samanta assistiu o bairro universitário afastar-se cada vez mais, com o prédio principal e a catedral sendo engolidos por uma luminescência escarlate. Sentiu um aperto no coração. 


Notas Finais


Obrigado por lerem!
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