História Amada pelos Deuses - Contando o Passado part.7

De pé em frente à entrada do palácio, no meio do belo jardim, Grandine olhava em direção à cidade, enquanto seu vestido balançava com as fortes rajadas de vento que batia uma vez ou outra. Sem nenhuma força para correr e impedir os jovens príncipes e princesas, a rainha apenas chorava, sentindo as lágrimas escorrerem por sua face enquanto a preocupação tomava conta de seu ser.

Grandine – Por que estão fazendo isso? – indagou em um sussurro – Por favor, parem já com isso... Não se machuquem ainda mais... – pediu completamente inconsolável ao se lembrar de Iara toda ferida, que havia sido deixada ali mesmo na entrada, mas que já tinha sido tratada e agora repousava ainda inconsciente em seu quarto.

Ao sul dali, Wave permanecia travado no lugar, sem saber o que fazer ao perceber na encrenca em que havia se metido. Os olhos de Reef nem mesmo piscavam, naquele momento se parecia com uma besta pronta para atacar sua presa a qualquer pequeno movimento de seu irmão mais novo. E assim aconteceu. Wave deu um pequeno passo para trás, e no mesmo instante Reef avançou em sua direção a uma velocidade impressionante.

Os olhos do irmão mais novo se arregalaram, mas o mesmo deu um impulso para o lado ao ver que Reef se aproximava como um touro descontrolado. Só que aquele desvio não foi o suficiente. Como se a velocidade da arrancada não fosse nada, Reef parou por um único segundo e logo avançou na direção de Wave novamente.

Sentindo a mão do irmão mais velho se encaixar em seu pescoço, o menino rapidamente utilizou o ultimo frasco de água que tinha, fazendo com que o liquido escorresse até seu pé direito. Retraindo seu joelho, Wave acertou um forte chute no abdômen de Reef, o que fez com que o mesmo o soltasse e recuasse alguns passos.

Wave – Eu não posso vacilar... Mas o que foi aquilo? Foram apenas impulsos de suas pernas? – não podia acreditar – De qualquer forma, ele não estava fingindo... Ele realmente está exausto, senão não teria me soltado assim tão facilmente... – pensou enquanto analisava cada movimento do irmão.

Reef –... Seu controle sobre a água... Está realmente bom... – comentou calmamente – Mas eu vou te mostrar... Como realmente... Deve controla-la – falou ao levar a mão até o ultimo frasco de água que lhe restará, fazendo com que o liquido tampasse sua mão direita como uma luva.

No momento em que Reef mais uma vez avançou em direção ao irmão mais novo, Wave deu um salto para trás, chutando o ar com o pé que estava molhado, como se estivesse fazendo um voleio.

Mesmo estando longe, um corte se abriu do lado direito da parte mais baixa do abdômen de Reef até o ombro esquerdo do mesmo, fazendo com que o sangue escorresse.

Wave – Droga! Não foi profundo o suficiente! – percebeu que nem daquela forma o irmão parou.

Reef – Que idiota joga sua única arma fora? – indagou ao se aproximar cada vez mais enquanto o irmão ainda tentava manter distância – Mesmo que você pensasse... Que aquele ataque era o suficiente... Você não podia ter desfeito seu controle sobre a água... Que espadachim arremessa sua espada no inimigo? – se aproximou ainda mais, perseguindo Wave por entre os becos –... Vou te ensinar como se faz... Irmãozinho...

Wave – Droga, por que não acho mais água? E ele acabou me forçando a correr na direção contraria da parede de água... – pensou enquanto corria sem nem mesmo olhar para trás, mas sentindo que Reef estava cada vez mais perto.

Logo o príncipe mais novo sentiu algo como uma mão se prender contra seu pescoço, fazendo com que seus olhos se arregalassem. O jovem então foi suspenso no ar, e só então viu que a água que antes servia como uma luva para Reef, agora possuía a forma de uma mão, conectada a uma fina linha de água que ia até sua mão de verdade.

Reef – É assim que você deve usa-la... – comentou fechando os dedos lentamente, fazendo com que o membro de agua seguisse o mesmo movimento, apertando o pescoço de Wave cada vez mais –... E para atacar, você faz assim... – rapidamente jogou o irmão para seu lado direito, o acertando fortemente contra a parede de uma casa.

Mas mesmo assim Wave ainda permanecia preso a Reef, e como um objeto começou a ser colidido para todos os lados. Fossem as casas do lado direito e esquerdo ou até mesmo o chão mais a baixo, Reef não media forças, apenas fazia com que o príncipe mais novo acertasse com tudo os blocos de pedra. Lentamente as paredes das casas começaram a se quebrar com o impacto do corpo de Wave, mas Reef só parou quando uma delas se quebrou por completo, percebendo que o irmão mais novo já estava inconsciente...

O príncipe mais velho então trouxe Wave para mais perto de si, vendo que o mesmo realmente havia desmaiado.

Reef – Não foi por causa das pancadas, mas sim devido ao sufocamento, já que eu estava apertando seu pescoço no mesmo instante... – pensou, vendo apenas algumas pequenas esfoliações pelo corpo do irmão – De qualquer forma... Vou leva-lo de volta... Para o castelo – murmurou completamente exausto, colocando Wave sobre seu ombro e partindo em direção onde Grandine se encontrava.

Naquele mesmo momento, Worer e Marco se encaravam sem nem mesmo piscar em meio à água, analisando qual seria o próximo movimento um do outro.

Worer – Quão forte esse infeliz pode ser? – indagou tentando entender como ainda não havia conseguido derrotar o irmão, mas logo passou a encarar o Tridente em sua mão – Não... Quão fraco EU sou? Mesmo com o Tridente, parece que estou prestes a ser derrotado... – voltou a encarar Marco, percebendo que algo mais ao fundo se aproximava dos dois cautelosamente.

Marco – Já vai fazer um dia inteiro que estamos lutando, mas não consigo quebrar esse impasse... Se eu conseguisse pegar o Tridente, talvez... – seu pensamento foi interrompido ao sentir alguém o abraçar por trás, prendendo seus braços e restringindo seus movimentos – O QUE? – virou a cabeça, mas não conseguiu ver quem era.

Worer não perdeu a oportunidade, balançou o Tridente horizontalmente em uma velocidade acima da média, mesmo de baixo da água, fazendo com que uma navalha de tal elemento cortasse tudo a sua frente. Mas no puro reflexo, Marco fez com que a água rotacionasse sobre as palmas de suas mãos, mesmo seus braços estando colados ao corpo, o que fez com que seu corpo subisse, desviando por pouco do ataque de seu irmão.

O ataque de Worer foi tão forte, que chegou a atravessar a parede “invisível” que impedia a água de entrar, o que fez com que uma pequena quantidade desse mesmo elemento invadisse a capital, parecendo chover por alguns segundos próximo a aquele local.

Mas mesmo Marco tendo desviado, o garoto não teve a mesma reação ao sentir uma massa de água o atingir pelas costas junto com a pessoa que o segurava, os empurrando rapidamente em direção a Worer.

O príncipe mais velho então apontou o Tridente em direção a Marco, com a intenção de perfura-lo com a arma, mas seu irmão mais novo então se encolheu em uma posição fetal, de forma que sua cabeça e a do garoto em suas costas ficassem apontadas para a relíquia.

Worer hesitou. Mesmo que fosse capaz de tudo para assumir o trono, ainda amava a todos seus irmãos, sendo que a única vida que pretendia tomar era a de Natsu e talvez a de Marco que tanto atrapalhava. Então, antes que os dois a sua frente fossem perfurados, Worer abaixou o Tridente e ergueu sua perna com tudo em um chute, atingindo parte dos joelhos e da face de Marco, já que o mesmo até então permanecia em posição fetal.

Marco – Isso machucou... Droga! – pensou com a visão embaçada enquanto subia devido ao chute, percebendo através de um borrão que Worer já estava a se aproximar novamente.

O príncipe mais velho parecia prestes a desferir um soco com toda sua força em Marco, mas antes que o atingisse, o irmão girou sobre si mesmo, fazendo com que aquele que o restringia recebesse o golpe em cheio em meio as costas.

O jovem que prendia Marco paralisou com o ataque, não conseguindo mais segurar o rapaz. Sem nem mesmo pensar duas vezes, Marco se livrou do abraço e se afastou, vendo que quem estava ali era Rhain, seu irmão mais novo.

Marco – Rhain? O que ele está fazendo aqui? Isso significa que um dos nossos perdeu? Mas se for isso, ele poderia ter ido atrás do Natsu, então... Será que...? – se preocupou – Eu preciso voltar logo!

Marco então partiu com tudo para cima de Worer, mas o rapaz meio que usou a mesma artimanha de seu irmão mais novo, passando a usar Rhain como um escudo. Colocando o pequeno a frente de seu corpo, Worer acreditou que Marco pararia, mas esse não foi o caso. A poucos centímetros dos dois, o rapaz bateu com a mão sobre a cabeça de Rhain e virou um mortal para frente, passando por cima dos dois irmãos.

Sem tempo para reagir, Worer apenas pode sentir a sola do pé de Marco bater fortemente contra suas costas, fazendo com que o mesmo largasse Rhain. O príncipe mais velho então rodou com o Tridente posicionado horizontalmente com a intenção de acertar o irmão, mas acabou falhando, pois quando se deu conta Marco já estava com Rhain sobre seus domínios.

Worer – Como ele consegue ser tão forte? – não se conformava – Me desculpe Rhain, mas não posso atacar direito se estiver preocupado com você...

Worer então partiu com tudo para cima de seus irmãos, dessa vez sem se importar se Rhain estava ou não no caminho.

Vendo as pontas do Tridente se aproximarem, Marco afastou o pequeno que já estava desacordado. Mas dessa vez o rapaz não permitiria que seu irmão mais novo continuasse a interferir. Marco então criou um forte vórtice de água que empurrou Rhain com tudo em direção à cidade.

A pouco mais de um metro de ser atingido pelo Tridente, Marco deu uma estrela, batendo com a mão direita sobre a arma e acertando o pé fortemente sobre o rosto de Worer. Apesar de tudo o príncipe mais velho ainda conseguiu manter o Tridente em sua posse ao voltar a se afastar.

Worer – Droga! Não dá... Sozinho eu não vou conseguir... Esse Tridente é completamente inútil pra mim nesse momento... – pensou ao perceber que Marco era superior –... Eucliffe, aquele maldito, cadê as tropas que ele me prometeu? Eu deixei um de meus aliados na superfície para que os trouxessem até aqui quando chegassem, mas já se passou um dia inteiro e nada... Por acaso ele teria me traído? – começou a direcionar toda sua raiva ao novo rei do Reino do Céu –... De qualquer forma, eu me acerto com Eucliffe depois... Para o Rhain ter vindo até aqui eles já devem ter dado jeito no Natsu... Então eu preciso esconder o Tridente... Infelizmente isso estava fora dos meus cálculos... Não tenho força o suficiente ainda... Se Marco pegar o Tridente, acabou... E mesmo se não pegar, não terei força para assumir o trono, já que o papai é dezenas de vezes mais forte que o Marco... Preciso ficar mais forte antes de reivindicar o trono... E precisarei disso quando esse dia chegar – pensou enquanto encarava a relíquia em sua mão.

Marco então viu o irmão mais velho partir a toda velocidade na direção contraria a da cidade, mas mesmo assim não o perseguiu de imediato – O que faço? Será que Natsu está bem? Eu quero ir conferir... Worer-nii percebeu que não pode vencer e por isso fugiu... Estaria tudo bem se ele não estivesse com o Tridente, mas não posso deixa-lo com ele... DROGA! – logo partiu atrás do irmão mais velho.

Enquanto isso, Reef já chegava ao portão do castelo quando avistou Grandine mais a frente. Os olhos de sua mãe brilhavam em um azul intenso enquanto as lágrimas não paravam de rolar por sua face.

Grandine – P-Por que? Por que estão fazendo isso? – indagou com a voz banhada pela tristeza assim que Reef parou a sua frente com Wave em seus braços, colocando o menino deitado no chão.

Reef –... Ele está bem mãe – respondeu com o coração apertado ao ver a tristeza daquela mulher que era tão importante para eles –... Nós só estamos... Tentando proteger... O Natsu... Ao que parece Worer-nii quer mata-lo... Para ficar com o trono do Reino das Águas – explicou ainda exausto, surpreendendo Grandine.

A mulher ficou sem palavras, não conseguindo dizer nada ao ver o filho abrir um sorriso de canto.

Reef – Mas não se preocupe... Iara, Maya, River, Marco e eu vamos protegê-lo com tudo que temos... Então não se preocupe, o traremos mais uma vez para os seus braços... – concluiu em um tom gentil.

Grandine – S-Só vocês... Então... Os outros... – foi interrompida.

Reef – Sim, são os que, assim como Worer-nii, querem tomar a vida de Natsu – a respondeu.

Grandine – M-Marian! Marian que o pegou... – já estava a ser tomada pelo desespero novamente, até que Reef voltou a interrompê-la.

Reef – Não se preocupe! Ao que parece ela está se escondendo com o Natsu enquanto o protege... Assim que neutralizarmos os outros, a traremos junto com nosso irmãozinho – tranquilizou a mulher de certa forma, e logo saiu mais uma vez em direção à cidade.

Grandine – Por favor... Voltem todos bem! – pensou ao ver o filho se afastar.

Mas logo algo chamou a atenção de todos. Reef, Trent, Talise, Maya, River, Hurley e Grandine puderam ver algo atravessar o domo pela parte de cima, caindo a uma velocidade impressionante em direção à cidade.

O único que percebeu o que realmente era foi Hurley, já que o mesmo estava muito próximo de onde a tal coisa se chocou.

Hurley – Aquele era o Rhain! – correu até onde o irmão havia caído.

Assim que chegou ao local, o rapaz percebeu que o irmão mais novo havia caído sobre uma casa, atravessando o teto da mesma.

Hurley – Droga, preciso ver se ele está bem! – adentrou no local sem nem mesmo pedir, mas o jovem foi surpreendido ao ver a cena.

A surpresa não foi pelos blocos de pedra e toda a destruição que havia sido feita no local, muito menos seu irmão mais novo que estava inconsciente e ferido sobre tais pedras. Os olhos de Hurley se arregalaram ao perceber que além dos donos da casa e seu pequeno irmão, sua irmã Marian também estava ali com Natsu em seu colo, encarando espantada toda aquela cena.

Hurley –... Então era aqui que você estava... – comentou calmamente, chamando a atenção da pequena.

Com o espanto se intensificando ainda mais sobre si, a garota pode ver um sorriso macabro estampar a face de Hurley.