História Amar é Deixar Ir - Eu acho melhor você ir embora

Narrador

Fazia cerca de um ano que Fátima e William estavam juntos novamente. Após uma recaída, o jornalista terminou de vez o namoro com Natasha (que ainda não estava tão sério) e voltou com a apresentadora. Desde então, eles estavam namorando e apenas poucas pessoas próximas sabiam. No início, essa foi uma decisão de ambos, que concordaram em manter o sigilo, mas com o passar dos meses, Fátima já dava indícios de que queria assumir publicamente a relação, mas William mostrava receio e sempre se negava, o que era a razão das brigas que tiveram durante esse tempo.

Sempre que Fátima o questionava sobre a relutância em revelar que estavam juntos, ele acabava a conversa sem dar uma justificativa direta, o que irritava a apresentadora, que por vezes pensou que ele não tivesse a intenção de permanecer com ela.

O que Fátima não sabia, era que esse comportamento de William era reflexo dos traumas que ele carregava desde o divórcio, em 2016. Pra ele, foi extremamente duro ler e ouvir tantas coisas ruins, o que mudou a sua vida da água pro vinho. As pessoas não sabiam de nada, mas insistiam em acusa-lo de traição e não perdiam a oportunidade de falar que Fátima aparentava estar muito melhor sem ele, que de tanto ler e ouvir isso, passou a acreditar que provavelmente ela não era mesmo feliz com ele.

Quem convivia com o William viu a luz dele ir se apagando aos poucos e o jornalista se isolava cada vez mais, se tornando ainda mais caseiro do que já era. Ele estava muito fragilizado com tudo isso e foi aí que Natasha entrou em sua vida. O medo de ficar sozinho e a necessidade de uma companhia fizeram com que ele ficasse com a fisioterapeuta.

William não se abriu sobre esses traumas e as razões pelas quais ele estava tão abatido, apenas Marcos, seu fiel amigo, conhecia todos os fantasmas que assombravam o jornalista desde o difícil divórcio com a ex esposa.

Fátima também sofreu e muito com a separação, não negava isso pra ninguém. Mas recebeu tanta ajuda e atenção durante aquele período difícil que acabou tendo uma certa “facilidade” em voltar para a sua vida normal, mesmo que não deixasse de sofrer e pensar nele um dia sequer.

A princípio, estava até sendo bom viver um namoro “escondido”, mas nos últimos meses, o desejo de aparecer em locais públicos sem medo de serem fotografados veio aumentando em Fátima, e ela decidiu chama-lo para acompanha-la numa cerimônia onde ela receberia um prêmio pelo programa. Ele apenas disse que tentaria ir, porém não garantia, pois tinha muito trabalho acumulado para organizar os seus últimos dias de folga. Aquilo a entristeceu, mas, mesmo assim, esperou por ele durante todo o evento, o procurando com os olhos a cada minuto na multidão, mas não o viu. Ele não foi. Na verdade, ele quis muito, porém não teve coragem. Achava que se as pessoas o vissem com ela, voltariam a ataca-lo com cada vez mais ódio e aquilo o assustava, além de deixa-lo com medo de que de alguma forma aquilo respingasse sobre ela, e a última coisa que queria era fazer Fátima sofrer por sua culpa.

Após chegar em casa com as filhas, que logo foram dormir, Fátima estava na cozinha bebendo água quando ouviu o barulho do carro entrando na garagem. Sabia que era ele, e sabia também que estava muito brava, o que dava a ela uma certeza interna de que uma briga feia aconteceria naquela noite.

Ouviu ele abrir a porta da cozinha e entrar devagar. O olhou e o viu de terno. Ele estava arrumado para a festa! Ele estava de férias do Jornal Nacional, então não havia outra razão para aquela roupa. Mas se ele estava daquele jeito, por quê não foi?!

- Me desculpa, mas a minha casa não é hotel pra você chegar na hora que quer, William. – Ela queria ter ficado quieta, mas estava com muita raiva e não aguentou ficar calada.

- Será que eu posso conversar com você um instante? – Ele perguntou receoso.

- O que você quer, hein?! Aliás, quem é você? Um cara que dorme comigo, só isso? – Ela retrucou, com raiva.

- Como quem eu sou? Eu sou o William, o mesmo William!

- O problema é que você mal atende pelo seu nome quando te chamo, afinal de contas você nunca vem, você nunca está!

- Como nunca venho, Fátima? Eu tô aqui agora, tô aqui todas as noites, a gente tem tudo!

- Você tem tudo, William! Na sua hora, do seu jeito! Mas eu não!

- O problema é justamente esse! É sempre o que você quer, as suas expectativas que eu não sei se estou pronto pra suprir! – Ele ia continuar falando, mas Fátima o interrompeu, irritada com o que acabou de ouvir.

- Expectativas? Sério isso? Eu querer que você vá numa premiação importante pra mim depois de mais de um ano que estamos juntos de novo é querer demais? – Ela respondeu já com o tom de voz mais alto.

- Você sabe que eu gosto de ter a minha vida pessoal guardada e sabe também que não vão dar sossego pra gente depois que assumirmos publicamente! Eu só quero ter paz, Fá! Por favor, entenda! – Ele mantinha a calma, na esperança de fazê-la entender.

- Essas são as suas vontades, mas e as minhas? Não contam? – Ela respondeu ainda sem baixar a guarda.

- Sendo sincero, acho que eu não posso te dar o que você precisa, o que você quer. – Ele disse com a voz trêmula, sentindo uma dor gigante por falar aquilo.

- Tem razão, provavelmente você não possa mesmo. Eu fico querendo me convencer de que você pode, fico sempre insistindo nisso, mas... acho que nós vamos acabar nos machucando, né?! – Ela respondeu sentindo a voz falhar, o choro vindo e sabia que não conseguiria mais controlar.

- Eu acho que vamos mesmo. – Ele só conseguiu responder isso. Queria conseguir se abrir e falar pra ela todo o medo que estava guardando dentro de si. Queria dizer que estava apavorado com a possibilidade de sofrer todos aqueles ataques de novo. Queria dizer tanta coisa! Mas naquele momento, só essa frase saiu de sua boca.

- Bom, William... a gente é adulto pra saber o suficiente que isso não pode ir pra frente. Acho que estamos querendo coisas diferentes, só isso. – O homem deu um passo a frente, se aproximando com a intenção de tocá-la, mas ela recuou, impedindo o contato. – Não, William. Eu acho melhor você ir embora. Mas vai embora de verdade, porque eu preciso te esquecer, e se você ficar vindo atrás de mim, eu não vou conseguir.

William não conseguiu responder mais nada, não tinha força e muito menos coragem. Apenas atendeu ao pedido dela e saiu, sentindo as lágrimas banharem seu rosto em silêncio. Quando ouviu o carro dele sair, Fátima desabou. Chorou por um longo tempo e só queria dizer para si mesma que aquilo não era verdade, mas sabia bem que não adiantava negar. Daquela vez não foi só uma briga, sentia que foi o fim, o namoro com William havia acabado ali.

Continua...