História Amar pode Machucar - "Queria poder entender"

Era difícil não deixar que um sorriso brotasse em meu rosto quando o sinal do fim da aula tocou. Por mais que eu soubesse que eram apenas estudos, meu coração não parecia querer concordar com a minha razão e eu tinha medo de fazer besteira por causa disso.

- Vamos? – Annabeth aparece com o seu sorriso de anjo e me guia pelas ruas.

- Então, por que resolveu me ajudar? Não que eu esteja reclamando, mas fiquei curioso. – ela assente sorrindo, como se achasse minha pergunta fofa.

- O professor me disse que você tinha dificuldade na matéria, então resolvi ajudar. – concordo e desvio meus olhos para o chão. Chuto uma pedrinha enquanto o silêncio se faz presente.

Sua casa não era muito longe, então logo chegamos. Era uma casa grande com detalhes em madeira escura e tinha uma elegância própria. Annabeth me guiou até o lado de dentro e nós passamos pela sala pra depois subirmos uma escada até seu quarto.

Tudo que eu tinha visto era bonito e todos os móveis eram organizados. Sua cama tinha alguns bichinhos de pelúcia e eu achei aquilo extremamente meigo. O quarto era decorado em rosa claro e cinza, era agradável.

- Fica a vontade. – diz e eu deixo minha mochila perto de uma mesinha de estudos.

- É uma casa bonita. – elogio e de repente vejo seus olhos se iluminarem.

- Não é? Foi um projeto da minha mãe, cada detalhe foi ela que desenhou. Um dia quero poder fazer algo assim. – seu olhar é de admiração e seu sorriso parece diferente, ainda mais bonito. Sua alegria é tão pura, que isso me faz sorrir também.

- Ela deve ser incrível. – seus olhos ficam tristes depois e ela disfarça rapidamente mudando de assunto.

- Quer comer algo? Vou buscar, me espera aqui. – pede e saí do quarto apressada.

Sento-me em uma cadeira e fico pensando se disse algo de errado. Ela, em um momento, parece tão feliz e no outro, tão triste. Queria poder entender o que se passa em sua cabeça.

Depois de alguns minutos ela volta com uma bandeja com lanches de presunto e queijo, que estavam muito bons. Então nós começamos a estudar. Sinceramente, eu era muito, mas muito ruim, no entanto, Annabeth estava sendo muito paciente comigo.

- Vamos tentar de novo. – diz me dando um lápis e me indicando o exercício.

- É isso? – pergunto quando termino. Ela corrige e sorri.

- Estamos chegando em algum lugar, agora vamos para a próxima matéria. – diz pegando o livro e nós começamos tudo de novo.

- Eu não aguento mais, essa matéria não entra na minha cabeça. – reclamo.

- Você consegue sim. Olha aqui de novo. – insiste me fazendo suspirar longamente e voltar a minha atenção para os exercícios.

Passamos mais umas duas horas estudando e no final minha cabeça já estava doendo de tanto exercícios que fizemos. Eu estava com vontade de bater minha cabeça na parede pra ver se algo entrava nela, porque matemática parecia não querer entrar de jeito nenhum.

- Daqui a pouco você está conseguindo fazer tudo. – diz me incentivando com um sorriso.

- Obrigado pelo o otimismo, mas acho que não. Nada entra na minha cabeça. – apoio a cabeça com a mão e depois dou um tapa em mim mesmo.

- Hey, pode parar. – diz segurando minha mão – Nada de bater, Cabeça de Algas. – paro e olho para ela.

- Cabeça de Algas? – pergunto e ela ri.

- Sim. Cabeça de Algas e pode acreditar que até as provas você vai estar sabendo tudo ou eu não me chamo Annabeth Chase. – promete me fazendo sorrir.

- Vamos ver. – digo e nós acabamos rindo um pouco.

***

Estava no meu quarto me preparando pra dormir quando minha mãe entra pra me dar boa noite. Sorrio e ela se senta ao meu lado na cama.

- Como foi hoje? – pergunta acariciando meus cabelos.

- Bem, acho que algo está começando a entrar na minha cabecinha. – digo com um pequeno sorriso. Cabeça de Algas. Eu gostara do apelido.

- Você está com um brilho diferente no olhar – diz me analisando –, parece apaixonado. – concluí me fazendo corar fortemente.

- Eu não sei do que você está falando. – digo desconversando e minha mãe apenas ri.

- Filho, você sabe que não vamos te proibir de nada, não é? – pergunta delicadamente.

- Ah, não. Não! Não vamos falar sobre aquilo. – digo com as faces rubras de vergonha.

- Querido, precisamos falar sobre isso sim. Você é um garoto bonito e daqui a pouco está iniciando suas atividades sex... – tampo os ouvidos.

- Lalalala. – canto – Não estou te ouvindo. Lalala. – cantarolo novamente.

- Percy! – chama – Perseu! – paro e olho pra ela, que suspira – Apenas quero que se previna, ok? – pede e eu concordo, envergonhado.

- Tudo bem, mamãe. Me desculpa. – ela sorri afetuosamente beijando minha testa.

- Durma com os anjos, meu bem. – diz me cobrindo com a coberta.

Fecho os olhos quando ela apaga as luzes. E nos meus sonhos tinha mesmo um anjo, ela era loura e seus olhos cinzas. Seus lábios sorriam pra mim, com alegria.

***

Na semana em que se seguiu, fui todos os dias estudar com Annabeth e acabei descobrindo algumas coisas sobre ela. Primeiro, era seu sonho se tornar arquiteta; segundo, aprendi que ela na verdade era uma garota meiga e doce, e que nada do que eu via dela na escola era ela verdadeira. E por último que conviver com ela apenas fez com que eu me apaixonasse ainda mais por ela.

- Por que você age assim? – pergunto e seus olhos mudam um pouco, ficando opacos.

- Esse é o único jeito que eu conheço Percy. Me desculpa por todas as brincadeiras que eu fiz com você – pede parecendo realmente arrependida. Assinto.

- Tudo bem. – digo. Ela não olha pra mim durante alguns minutos, então muda de assunto.

- Quer assistir um filme? – pergunta de repente.

- Quero sim. Já cansei de estudar. – digo a fazendo rir.

Isso era outra coisa que eu não sabia como poderia aprender. Annabeth era instável, suas emoções mudavam muito rápido e era difícil acompanhar as suas reações. Tinha horas em que ela estava bem e na seguinte, ela mudava totalmente. Eu não fazia ideia de como seguir o mesmo fluxo que ela.

- Vou fazer uma pipoca. Escolhe o filme. – pede saindo do quarto.

Depois de alguns minutos, onde eu escolho o que iríamos assistir, ela volta com um balde grande de pipoca e dois copos de refrigerante. Annabeth se senta ao meu lado me dando um copo e me oferecendo um pouco de pipoca.

- Já colocou? – pergunta e eu apenas aceno com a cabeça, porque estava de boca cheia.

Eu havia escolhido uma comédia romântica, então teve vários momentos em que rimos e em outros em que ficamos meio tristes, mas no final ficou tudo bem. Eu gostava de filmes assim, apesar de preferir filmes de aventura.

- Eu adoro esse filme. – diz ela assim que acaba.

- É bom mesmo. – concordo ajudando ela a levar as coisas sujas pra cozinha.

- Eu acho que você vai muito bem na prova amanhã. – diz sorrindo e isso me incentiva.

- Obrigado. – ela se senta na bancada da cozinha e balança as pernas no ar.

- Sabe, foi bom te ensinar. Eu não achava que seria tão legal. – diz com um sorriso.

- Mesmo eu reclamando a todo instante? – ela ri.

- Mesmo assim. Fez com que eu sentisse que fiz alguma coisa certa. – diz parecendo confusa de repente. Ela tomba a cabeça de lado por um momento, pensando.

- Você fez. Você ajudou uma pessoa carente em aprendizado em matemática. – tiro ela de seus devaneios a fazendo rir.

- Você só precisava que alguém tivesse paciência com você. – diz parecendo sincera.

- Muita paciência nesse caso – ela ri novamente. Eu amava quando ela ria, era um som muito agradável.

- Você é um garoto inteligente, apenas precisa se esforçar mais. – diz sorrindo e eu a olho descrente, pra depois sorrir.

- Obrigado, Sabidinha. – seus olhos brilham como se gostasse do apelido.

***

Depois de dois dias da prova, onde eu não fazia ideia se tinha conseguido a nota que precisava, o resultado saiu. Por mais incrível que parecesse, eu tinha ido bem e tinha conseguido a nota que precisava.

Como tinha sido a última aula, logo o sinal bateu. Então na hora da saída eu estava procurando Annabeth no meio de todas àquelas pessoas. Quando a encontro, vejo que estava lendo um livro, distraída.

Chego perto dela e me sento ao seu lado inclinando a minha cabeça pra poder ver que livro estava lendo. Ela repara em mim e me olha indagando.

- Como foi? – não consigo evitar o sorriso – Você conseguiu! – então ela inesperadamente me abraça.

- Sim, eu consegui. – digo sorrindo devolvendo o abraço.

- Parabéns Cabeça de Algas. – ela sorri alegremente pra mim, fazendo meu coração acelerar.

- Obrigado, mas isso tudo graças a você, então, muito obrigado Annabeth. – digo sincero. Seus olhos cinzas brilham com a luz do sol.

- O mérito é todo seu. – diz sorrindo com alegria – Isso merece uma comemoração. – afirma.

Então nós passamos a tarde inteira juntos, onde ela realmente parecia feliz. Seu sorriso, o brilho em seus olhos e até mesmo as suas ações pareciam mais verdadeiras do que nunca e isso me fazia perceber que era por essa garota que eu tinha me apaixonado.

***

Eu tinha acabado de chegar em casa. Deixara Annabeth em sua casa no final da tarde e estava muito feliz quando cheguei. Já fazia uns dias que eu não conversava com os meus primos e vê-los ali me fez sorrir. Todos nós jantamos juntos e quando estávamos terminando de comer, meu pai chamou a atenção de todos.

- Hoje vamos celebrar que conseguimos mais um vitória. Abriremos uma filial da empresa em Los Angeles. – diz meu pai com um sorriso.

- Parabéns pai! Ah, adivinhem. Eu consegui tirar a nota que precisava em álgebra. – digo feliz e minha mãe sorri pra mim.

- Parabéns, querido. Um dia você tinha que trazer a sua amiga para nós conhecermos. – diz me fazendo lembrar que Thalia e Nico não sabiam de nada.

- Que amiga, Percy? – coro com a pergunta de Thalia e logo ela entende quem é. – Ah não...

- Então pai, nós não vamos precisar nos mudar, né? – mudo de assunto impedindo minha prima de falar.

- Não filho, vamos ficar aqui. Uma vez ou outra eu terei de ir para Los Angeles, mas o previsto é pra dar tudo certo sem eu precisar ir pra lá. – diz sorrindo. Concordo ignorando o olhar dos meus primos sobre mim.

Mais tarde, antes de irmos dormir, meus primos me olharam com olhares inquisidores. Suspiro já sabendo o que eles iriam dizer.

- É ela, não é? – balanço a cabeça levemente, assentindo.

- Justo ela, Percy. – diz Nico e eu abaixo os olhos com vergonha por não ter contado nada a eles.

- Me desculpa por não ter contado. – murmuro. Ouço o suspiro que os dois dão.

- E como foi? – pergunta Thalia levantando o meu rosto para eu olhá-la.

- Ela está diferente, está sendo legal comigo. – digo quase sorrindo. Me lembrar de Annabeth fazia meu coração se derreter.

- E você acha mesmo que ela está mudada? – pergunta Nico.

- Sim. – enfatizo balançando a cabeça. Os dois trocam um olhar e olham pra mim de novo.

- Só queremos o seu bem, sabe disso, não é? – pergunta Thalia me fazendo concordar.

- Eu realmente acredito que ela mudou. – digo com sinceridade.

- Então estaremos do seu lado quando você precisar. – diz Nico e os dois me abraçam, carinhosos.

Eu sabia que os dois estavam preocupados e isso era a última coisa que eu queria, mas por outro lado era bom, porque eu sabia que acontecesse o que acontecesse, eles estariam ao meu lado.

No entanto, eu não mentira quando disse que realmente acreditava que Annabeth estava mudada. O jeito como ela me tratava agora era diferente e eu acho que verdadeiro também. Negar que eu estava apaixonado já não era uma opção, porque uma parte de mim já achava que isso era algo mais do que se apaixonar.

Me separo dos meus primos e sorrio a eles, os quais devolvem a ação. Com isso eu apago as luzes e me deito em minha cama vendo os dois se acomodarem na beliche que tinha ali.