História Amar pode Machucar - "Pela Thalia? Por ela"

Tempos atuais...

Acordo atrasado, já que custei a dormir noite passada. Faço minha higiene com rapidez e me visto em um piscar de olhos, então desço as escadas correndo.

Meu pai está sentado bebendo um café e lendo um jornal, ele me olha com um sorriso de bom dia. Aceno com a cabeça de volta.

- Mãe, preciso ir. – digo apressado.

- Come alguma coisa, querido. Não pode ir sem comer. – repreende.

Pego uma maçã na fruteira e dou uma mordida. Coloco a mochila nas costas e dou beijo nela.

- Tchau mamãe. – digo já me despedindo. – Tchau pai.

Então saio correndo para meu carro e dirijo para o colégio. Por sorte sou rápido o bastante e chego cinco minutos antes de bater o sinal. Dou um suspiro de alívio antes de abrir a porta do carro.

Desço e caminho agora com certa calma. Meus amigos estão parados em frente ao carro de Will – que o pai, pelo visto, já tratara de comprar. Sorrio a eles.

- Bom dia.

- Bom dia, meu valente. Acordou atrasado? – pergunta Calipso.

Sorrio constrangido. Minha namorada apenas nega levemente com a cabeça, me dá um selinho e arruma – dentro do possível – o meu cabelo.

- Meus primos?

- Ali. – Luke aponta para um canto perto do portão.

Thalia está conversando com Nico e Clarisse, a qual parece esperar o namorado chegar. Sorrio e aceno a eles, que devolvem com um sorriso.

- Qual é a primeira aula de vocês? – pergunta Reyna curiosa.

- Hum, química. – respondo.

- Física. – responde Calipso.

- História. – diz Will.

- Geografia. – diz Luke.

- Inglês. Que ótimo, não temos aula juntos agora. É cada um por si. – diz Reyna em tom de brincadeira.

- Pelo menos ninguém vai começar o dia com matemática. Se a Sra. Dodds ainda estiver lecionando aqui, coisa bem provável, vocês vão ver que existe professor pior que o Sr. Boring. – digo os fazendo me olhar descrente.

- Ah não, pior que ele? Vamos morrer. – dramatiza Luke nos fazendo rir.

- Mas o professor de História é legal. – digo pra Will.

- Sério?

- Sim, Quíron foi meu melhor professor de história e continua sendo. Acredite, você vai gostar dele. – digo.

- Espero, porque você sabe que história não é bem a mi... – então o sinal bate. Alto e estridente.

- Vamos indo. – digo caminhando para a entrada.

Calipso ainda tem os dedos entrelaçados aos meus quando eu a deixo em frente à sua sala. Me inclino um pouco e a beijo carinhosamente.

- Até mais tarde, minha princesa. – sussurro.

- Até mais tarde, meu valente. – diz soltando os braços do meu pescoço.

***

O professor de química é um cara divertido, apesar de um pouco rígido, ele ficou brincando bastante lá na frente. No início da aula ele propôs uma atividade de reações químicas, com elementos e tudo mais, sugerindo que formássemos duplas.

Contudo, não conheço ninguém e fico esperando ver se vai ter alguém pra fazer comigo. No fim – mesmo com algumas garotas me olhando, o que foi estranho. Eu estava sujo? – apenas sobra eu e um menino de cabelos cacheados, seus dedos parecendo ter vida.

- Valdez forme dupla com o Jackson. – diz o professor ao garoto.

Ele levanta e vem ao meu encontro. O Valdez não é muito alto e é bem magro, o que me fez lembrar de mim mesmo a dois anos atrás. Sorrio a ele, simpático.

- Olá. – diz tímido.

- Senta aí. – digo bem humorado.

Com o tempo – e com a ajuda de Luke –, eu aprendera a ser mais comunicativo com as pessoas, ser mais simpático.

- Prazer, meu nome é Percy. – digo estendendo a mão.

- Leo. – diz apertando de volta.

Ele coloca as coisas em cima da mesa e deixa a mochila ao lado da sua cadeira. Percebo que ele quer falar alguma coisa.

- Você já ouviu falar de mim? Ou sei lá...? – tento.

- Ah, eu não sei disfarçar, não é? – diz constrangido.

- Nem um pouco, mas não se preocupe, eu sou horrível no quesito discrição também. – digo o tranquilizando.

- É que o Jason me falou de você. – comenta baixo, como se temesse minha reação.

Abro um pouco a boca, pensando no que dizer. Eu decidira que tentaria ser amigo – ou algo assim – de Jason, então talvez eu estivesse indo pelo caminho certo.

- Hum, bem ou mal? – brinco.

- Ele disse que você era legal, mas que nunca tivera a oportunidade de ser seu amigo. – diz sorrindo levemente.

Sem perceber, eu abro um sorriso também. Aquilo aqueceu meu peito de alguma forma. Talvez fosse o fato de que Thalia tinha razão, meu primo mudara e estava tão disposto quanto eu a mudar as coisas. Ou que, no fundo, estávamos errados ao não ter tentado nos aproximar no passado. Acho que não era hora. Agora parecia que as coisas estavam começando a tomar o rumo certo.

- Vamos começar antes que o professor brigue com a gente. – digo pegando dois tubos de ensaio.

- Você é bom nisso? – pergunta me olhando.

- Mais ou menos. – olho os frascos com certa dúvida.

- Espera. – diz se abaixando e pegando o livro de química. – Piper me mata se eu aprontar ou se eu causar outra explosão.

Rio.

Depois disso nós começamos a tentar seguir as instruções do livro. Pelo menos não explodimos nada. Não seria um bom primeiro dia de aula.

Na hora do almoço – depois de aulas tediosas – encontrei meus amigos e acenei pra Leo com um sorriso. Ele fez uns gestos esquisitos que me fizeram rir, até que uma menina de cabelos escuros bateu em seu pescoço, sorrindo. Deduzi que aquela era Piper.

Viro-me para meus amigos com um sorriso contido.

- Já fez amigos? – pergunta Calipso.

- Aquele é o Leo. Temos aula de química juntos. – respondo a abraçando.

- Ele é meio agitado, né? – diz avaliando-o. Dou risada.

- Ele é legal. – digo apenas.

- Se é seu amigo, é meu também. – diz se aconchegando em mim.

- Aquele menino é mais agitado que meus irmãos. – diz Luke olhando de soslaio para Leo.

- Os três juntos seriam uma bomba nuclear. – digo rindo.

- Com certeza. Que eles nunca se conheçam, amém. – diz fingindo orar.

Damos risada.

- Vamos sentar. – digo puxando Calipso até uma das mesas.

Todos nos sentamos em uma mesa próxima a bancada de comidas do refeitório. Levanto, assim como Will e Reyna, e seguimos para a fila.

- Então, como foi a aula de vocês? – pergunto puxando papo.

- Hum, legal. – responde Reyna.

- Interessante. – responde Will.

- Ah que ótimo. Essas respostas são muito específicas. – digo virando para pegar uma bandeja.

- O professor de história é realmente legal. – diz Will ao meu lado.

- Viu? Eu disse. E você...

- Percy! – ouço alguém gritando meu nome.

Viro-me bruscamente reconhecendo a voz. Um par de braços logo me envolvem e tudo que posso fazer é absorver o impacto.

- Grover! Quanto tempo. – digo apertando meu antigo melhor amigo.

- Você nunca mais deu notícias. Senti sua falta. – diz se soltando de mim e pegando meu rosto entre as mãos, como se pra verificar que eu era real.

- Estou vivo e muito bem. E você? Thalia disse que você está namorando. – pergunto sorrindo.

Eu estava feliz. Muito feliz. Fazia dois anos que eu não via Grover e sentia falta das suas risadas estranhas.

- Thalia também disse para você não sair correndo desse jeito, que ia acabar assustando o primo dela. – diz a própria Thalia vindo na nossa direção com Nico ao seu lado.

- Próximo! – interrompe a mulher da cantina.

Vou pegar meu almoço, pago e vou conversar de novo com Grover.

- Vem, sente-se comigo. – peço.

- Mas... – ele aponta para uma mesa ali perto, onde estava sentada duas garotas. Uma ruiva com sardas e outra de cabelos trançados com flores.

- Por favor. – peço pidão.

- Tá. Só hoje. – concorda indo comigo até nossa mesa.

Sento-me ao lado de Calipso e puxo Grover para a cadeira ao lado da minha. Então ficamos ali conversando. Thalia e Nico se juntaram a nós e não passou despercebido por mim que meu primo e Will trocaram olhares. Sorrio vendo isso.

***

Durante a última aula foi avisado que todos os alunos do último ano precisavam estar em uma atividade extracurricular, por isso tive que ir na secretária quando o sinal bateu. Caminho até a pequena sala que ficava no final do corredor principal. Chegando lá ouço vozes.

- Sinto muito, Srta. Chase e Sr. Grace, mas vocês terão que se inscrever em outra atividade.

Aproximo-me e vejo que os dois estão falando com a recepcionista. Encosto na parede e espero.

- Tudo bem. O que tem além disso? – pergunta Annabeth.

Sinto meu coração acelerar ao ouvir sua voz, não sei se por nervoso ou por outra coisa.

- Tem o grupo de teatro, de xadrez, de vôlei e o de música. – diz a mulher.

- Você pode entrar no grupo de música com a Piper. – ouço meu primo falar a ela.

- Não. Minha voz é horrível, Jason. Nem pensar.

- Xadrez? – sugere.

- Não sei nem diferenciar o bispo da torre. Também não. – ela suspira, depois mexe no cabelo. – Eu vou ficar com o vôlei.

- Excelente Srta. Chase e você, Sr. Grace?

- Hum, acho que natação, Sra. Fisher. – responde dando de ombros.

- Você devia ir para o futebol, Jason. É onde você vai melhor. – diz Annabeth.

Meu primo finge não ouvir, como se isso não fosse uma boa opção.

Nesse momento me sinto impelido a falar alguma coisa. Talvez por que quero voltar a falar com meu primo ou pra ignorar que a voz de Annabeth ainda faz meu coração saltar.

- Ela tem razão. Você sempre foi bom no futebol, principalmente que o seu físico vai te ajudar. – digo chamando a atenção pra mim.

- Ah, oi Percy. – Jason coça a nuca sem saber o que dizer.

Dou-lhe um meio sorriso pra tentar facilitar as coisas.

- Viu? Até seu primo concorda comigo. Vamos lá, Jay. Futebol é a melhor opção. – diz colocando a mão em seu braço.

- Além que todos sabemos que água é a minha praia e não a sua. – digo incentivando-o.

- Tá bom. Futebol, Sra. Fisher. – diz Jason por fim com um sorriso pequeno.

- Muito bem, Sr. Grace. E você, Sr. Jackson. Deduzo que vá querer natação. – diz me olhando através dos seus óculos pequenos.

Sorrio a ela.

- Sim, senhora.

Annabeth se vira pra Jason depois de pegar seu horário. Tento não reparar que a sua blusa azul combina com seu tom de pele, ou que seus olhos cinzas estão bonitos hoje. Foco meu olhar em meu primo, ignorando, também, a vontade que tenho de sorrir bobamente.

- Te vejo depois. Vou atrás da Piper agora. Até. – então ela se vira pra mim. – Foi bom rever você, Percy.

Aceno com a cabeça em resposta, porque eu não faço ideia se foi bom ou ruim revê-la. Ela se afasta com a bolsa sobre o ombro.

Que droga. Ela continua linda e eu continuo sem saber o que falar pra ela.

- Então, foi bom voltar? – pergunta Jason acanhado.

Começamos a caminhar pelo corredor praticamente vazio, apenas alguns funcionários estavam ali. Todos os alunos deviam estar lá fora agora.

- Foi. É bom rever a família. – digo propositalmente.

Ele sorri.

- Eu vou fingir que acredito. – diz brincando.

- Hey, é verdade. – digo batendo em seu braço.

Sorrimos. Mas, no fundo, nós dois sabemos que essa brincadeira tem um fundo de verdade. Não sei se ainda me ressinto de Jason, na verdade, agora, não consigo sentir raiva dele. Acho que o tempo que passei fora apagou as mágoas que tenho dele. Que eu tinha dele, melhor dizendo. Talvez fosse melhor que esquecêssemos o passado.

- É sério, Jason. Vamos fazer um trato, pode ser?

Ele fica tenso mas concorda.

- Tudo bem.

- Do zero. Vamos começar do zero e nada de falar do passado. Você era um babaca e eu não fazia nada a respeito, então vamos esquecer isso e começar de novo. Não quero que Thalia fique no meio de uma rixa boba novamente. – digo com sinceridade.

Ele suspira.

- Pela Thalia? – sugere.

- Por ela. – concordo.

Apertamos as mãos.

Então trocamos olhares e rimos. Acho que porque estamos, no íntimo, felizes por não ter mais implicâncias entre nós.

Agora eu podia dizer que Jason era meu primo e amigo.