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História Amarelo é a Cor Mais Fria - BillDip - Realidade


Escrita por: Byunue

Capítulo 2 - Realidade


Dipper

Quando senti que não aguentaria mais o aperto em minha garganta, tentei gritar, mas foi em vão.

No mesmo momento em que minha boca se abriu, acordei dando um berro doloroso no chão do quarto, embolado em meio aos lençóis.

Foi tudo um sonho? Não, não é possível...

Passei a mão pelo meu pescoço e senti o suor de minha testa escorrer para o queixo, enquanto as batidas de meu coração gradativamente desaceleravam.

Fiquei sentado no chão por algum tempo, ofegante e em silêncio, apenas pensando no que diabos acabou de acontecer.

Minha mente parecia não querer colaborar, eu estava muito confuso, porém, sem nem pensar duas vezes, me levantei num impulso e troquei de roupa o mais rápido possível. Escovei os dentes na velocidade da luz — bem, não exatamente, mas tenho certeza que a impressão foi a mesma — e corri com tudo para o andar de baixo.

— Oi, Dipper, bom dia! — disse Mabel, surgindo atrás de mim, o que realmente me assustou.

— A-ah, bom dia...! — disse meio frouxo e me virei para olhá-la. — Você vai aonde?

— Ah, bem, eu vou tentar me socializar por aí, né? Talvez eu encontre a Candy, a Grenda, ou até mesmo a Pacífica, você também deveria fazer isso e... Espera, o que é essa coisa no seu pescoço?

— Hã? Como assim?

— Seu pescoço está com uma marca roxa... Dipper! Eu já te falei para você não se meter em brigas! — exclamou brava e eu fiquei parado por um tempo, como se estivesse entrando em transe, sem dizer nada. — Ehr... Dipper?

— Não foi nada. — respondi baixo.

Aquilo estava muito estranho, mas tudo o que fiz foi sair de perto de Mabel, em disparada à saída da cabana, largando-a sozinha e sem me importar com o tempo nublado lá fora.

apenas preciso checar aquela coisa... Eu só preciso ter certeza...

Corri pela floresta, sentindo os respingos de chuva caírem sobre mim e me apoiei numa árvore quando a coisa realmente começou a tomar forma e pesar as gotas.

Calma, Dipper, calma! Está de manhã, você acabou de acordar e nem tomou café! Se a estátua estiver quebrada, você já sabe o que aconteceu.

Respirei fundo, ajeitei o meu boné de forma que ele protegesse meu campo de visão do toró e saí correndo para o local reservado da floresta, o local da estátua.

Ah... Que ótimo!

Ela estava inteira.

— Mas que droga! — praguejei com raiva, observando o triângulo de pedra soterrado de musgos e plantas.

Me sentei debaixo de um pinheiro e senti lágrimas de frustração virem à tona para escorrer por meus olhos.

— Tsc, por que você tinha que ser tão idiota?! — indaguei para meu subconsciente e atirei uma pequena pedra úmida na estátua.

Se eu fosse destruir essa porcaria, certamente seria na força do ódio! Mas, afinal, se eu destruísse a estátua como no sonho, iria fazer alguma diferença?

Depois de um longo debate interno, acabei não fazendo nada além de observá-la, enquanto a chuva erguia o véu cinzento da neblina natural da floresta na altura de meus tornozelos.

Aproveitando a quietude e a beleza do clima para pensar no sonho, reparei que, normalmente, quando momentos assim acontecem nos filmes, sempre são um mal presságio de algo. Porém, oh, acorde, Dipper! Aqui é a vida real! E a vida real, realmente, não lhe faz o menor sentido!

Talvez fosse melhor voltar, não tenho razão alguma para ficar aqui olhando uma estátua inútil dessas, enquanto corro o risco de pegar um resfriado!

Mais uma vez frustrado, levantei e enterrei as mãos nos bolsos da calça, no entanto, de repente, logo quando estava me afastando do lugar, encontrei aquele mesmo bode de antes, comendo as plantas por perto da estátua.

Será que...?

Mabel

O que será que houve com o Dipper? Ele nunca saiu de casa desse jeito, tão apressado, sem nem me dar um "Tchau"...

Bem, de qualquer forma, esse dia está bastante entediante. Eu preciso sair!

Motivada, então, peguei meu guarda-chuva e saí pelas ruas de grama e barro, rumo ao centro da cidade.

Eu não falei direito com a Grenda nos últimos meses... Acho que ela me bloqueou nas redes sociais, mas, tudo bem! Ela e a Candy estavam bem estranhas, espero que isso tenha sido apenas uma brincadeira, porque nem a Pacífica falou mais comigo.

Mas, bom, isso não importa agora, bem, importa sim, mas... Não é a coisa mais importante no momento, eu não preciso delas, consigo fazer novos amigos!

Acho que eu poderia até escrever um livro sobre isso, afinal, eu sou super sociável!

Saltitante, quando cheguei no centro depois de uma pequena caminhada, fui para o único shopping que havia e entrei em algumas lojas, afim de olhar umas roupas e jogar conversa fora com qualquer pessoa que eu encontrasse.

— Nossa, esse vestido é muito bonito, não é mesmo?! — perguntei sorrindo para a garota ao meu lado, que não era muito agradável e apenas continuou a mascar seu chiclete sem ter reação alguma — Bem, você parece ter gostado, então que tal experimentar? — tentei novamente, mas a garota nem me olhou e deu as costas!

Nossa, que grossa! Não sabia que os jovens daqui seriam desse jeito!

Respirei fundo e tentei mais uma vez, porém, com um grupo de amigos que estavam conversando extasiados perto de uma loja de salgados.

Com cuidado, me aproximei cheia de expectativas e decidi me apresentar.

— Olá, eu sou a Mabel, posso me juntar a vocês?

Todos do grupo me olharam de cima à baixo com desprezo. Eu estava congelada. Que situação horrível! Quando senti que iria morrer, uma garota de cabelo curto e verde deu um passo à frente.

Certo, isso não pode ser tão ruim, não é? Tirando o rímel exagerado e as roupas curtas, rasgadas e muito coladas, ela parece... Agradável? Sim, agradável. Por dentro.

— Olá, estranha, eu sou a M- — fui interrompida pela garota cuspindo no meu sapato.

O quê?!

— Uhg! Você é só uma garotinha da cidade, patética e irritante, por que não se manca e vai com sua doidera de metrópole para a casa do caralho? — disse e os amigos dela começam a rir.

Acho que nunca me senti tão pra baixo em toda minha vida. Que nojenta!

— O-okay, então... — disse sorrindo fraco, enquanto recuei e escutei os outros me chamarem de mais nomes feios.

Duas experiências ruins em menos de cinco minutos. Sério isso?!

Estou começando a achar que foi uma péssima ideia voltar para essa cidade, não sabia que as coisas seriam desse jeito, o que eu estou fazendo de errado?

Com certeza é a minha aparência, eu pareço uma palhaça!

Com raiva, fui para o banheiro feminino e me olhei no espelho, começando a retirar tudo o que, com toda certeza, faziam as pessoas se afastarem de mim.

— Eu odeio esse cabelo maldito! — exclamei desfazendo o rabo de cavalo e soltando minhas madeixas nem tão lisas, nem tão cacheadas.

Também arranquei minhas pulseiras coloridas, tirei o adesivo de estrela de minha bochecha, desamarrei o suéter da cintura e o vesti para esconder minha camisa de gatinhos. Puxei com força meu colar e escutei as missangas em forma de estrelas caírem no chão.

Depois disso, me olho no espelho novamente e fiquei insatisfeita com o resultado. Eu não gosto de ser assim, me sinto bem sendo estranha e colorida, mas... Parece que nada vai dar certo sendo assim. Eu não quero ficar sozinha.

Forcei um sorriso e percebi mais um detalhe que provavelmente incomoda as pessoas: meu aparelho. 

Talvez aquilo pudesse ser doloroso, mas já vi gente arrancando com um lápis por acidente e sem sentir nada, então, puxei o ferrolho com força, por mais que doesse, e o joguei no lixo junto com as outras coisas antes de sair do banheiro.

Eu me senti estranha. Eu era outra garota. Mas acho que depois posso me acostumar com essa nova cara.

Tomando fôlego, mais uma vez me aproximei de uma outra pessoa, era uma garota com o cabelo preso em um coque frouxo e estava sentada num canto. Ela parecia meio triste ou entediada, acho que se eu conversasse um pouco com ela, talvez ela pudesse ser minha nova amiga!

Ah, já até imagino nós duas juntas na praia, de mãos dadas e correndo descalças na areia enquanto cantamos uma música!

Me sento ao seu lado e ela me olhou revirando os olhos em seguida.

Não, eu não posso desanimar! Eu preciso tentar!

— Oi eu... — mal comecei e fui interrompida por uma batida na mesa.

A garota se levantou.

— Porra, Fernanda! Você demorou pra caramba! Eu já estava criando teia aqui! — disse e a menina recém chegada à sua frente com uma bandeja de lanches em mãos riu e as duas saíram juntas da mesa.

Mais uma vez, eu estava sozinha.

Okay, o que fiz errado dessa vez?! Eu não estou mais tão chamativa, meu cabelo está solto e eu nem sorri... Eu odeio essas pessoas! Argh!

Frustrada, baixei minha cabeça e uma atendente se aproximou.

— Vai querer alguma coisa? — perguntou sem entusiasmo e eu segurei o choro para lhe responder.

— Um milkshake de morango com chantilly e um abraço, por favor... 

A mulher torceu o nariz desgostosa, claramente achando meu pedido estranho, mas foi embora para preparar o milkshake.

É, Mabel, talvez você devesse até mesmo mudar de nome, é muito idiota e combina com crianças.

Depois de poucos minutos, meu milkshake chegou e eu segurei a taça de vidro sobre meu colo, antes de sugar tudo com o canudo e ficar olhando para meus sapatos de tecido roxo.

Oh, como aquela taça era fria... Igualzinha ao meu coração!

De repente, em meio a minha tristeza, um par de tênis brancos apareceu ao lado dos meus.

Achei que fosse só mais uma pessoa idiota, então nem me atrevi a olhar. Perdi as esperanças.

— Ehr... Você está bem? — perguntou uma voz suave ao meu lado e de imediato olhei para a pessoa.

Era um garoto pálido, com uma fisionomia delicada e olhos azuis. Seu cabelo era tão azul quanto seus olhos e ele tinha uma franjinha adorável penteada para o lado, caindo um pouco sobre seu olho direito. E sem falar em seu chapéu preto que era super lindo!

— Acho que não, eu não sei... As pessoas daqui parecem não gostar muito de mim... — respondi forçando um sorriso.

— Oh, entendo. Sei bem como é.

— Você já passou por isso?

— Todos os dias.

— É totalmente desestimulante! Da vontade de morrer! — disse e ele suspirou em concordância. — Mas, então, eu me chamo Mabel, qual é seu nome?

— Eu... Bem, Mabel, antes de dizer meu nome, eu gostaria de lhe oferecer uma coisa... — disse e eu o olhei, confusa. — Eu posso sentir sua tristeza, sua decepção e também posso enxergar o quanto você se esforça para agradar a todos, inclusive seu irmão...

— Espera, como...?

— Eu te conheço, Mabel, mais do que você pode imaginar. Eu consigo ver o que você tem aqui dentro — disse levando a mão para o próprio peito. — Não pense que sou louco, apenas quero ser seu amigo. Eu sou capaz de te retribuir tudo o que você dá aos outros, cada gota de bondade... Você quer ser minha amiga?

Olhei para ele, perplexa. O que esse cara era? Como ele- meu Deus, não é possível!

Ele era estranho, aquela conversa foi estranha, tudo ali era estranho! Mas, caramba, veja bem, eu também sou estranha!

Então, é lógico que aceitei. Melhor ter amigos do que inimigos!

— Tudo bem! — disse, pondo a taça pela metade na mesa e me sentei de frente para ele. — O que você quer em troca?

— Nada de mais, apenas sua compaixão. — disse sorrindo e eu arqueei uma sobrancelha.

Compaixão? Do que raios esse menino está falando?!

— Só isso? — perguntei entrando na onda e ele fez que sim com a cabeça.

Não entendi direito o que ele quis dizer com "compaixão", mas é melhor deixar isso de lado e me esforçar para ser uma boa amiga.

— Prazer, Mabel Pines, sua nova amiga! — disse estendendo minha mão.

— Prazer, Will Cipher, seu novo amiguinho! — disse segurando minha mão e sorrindo gentilmente.

Ele era um pouco estranho, quase senti um formigamento ao apertar sua mão, mas fiquei feliz por eu ter conseguido fazer um amigo!

Ah, mal posso esperar para contar ao Dipper! “Cipher” me é um nome tão familiar, com certeza ele vai saber do que se trata!

Dipper

Ah, eu desisto!

Estava chovendo mais do que o suficiente para encharcar minhas roupas e eu já tentei de todas as formas fazer esse maldito bode falar!

— Sai logo daqui! — afugentei-o, fazendo com que o animal corresse atônito para dentro da floresta.

Olhei para a estátua e lhe acertei com um chute. Aquilo era inútil!

— Estátua imbecil! — disse e examinei pela milionésima vez cada detalhe de seus adornos.

Eu não quero que ele volte, mas gostaria de saber o que diabos está acontecendo aqui, afinal, até agora nada de bizarro aconteceu, nenhum gnomo, unicórnio, porra nenhuma com glitter ou garras passou por aqui!

Essa não era a Gravity Falls que eu esperava.

Andei para longe da estátua, quase a abandonando e indo para a cabana, quando enlouqueci e dei meia volta com um pedaço de madeira, começando, numa última tentativa de quebrá-la, a bater com tudo contra a pedra.

A madeira se quebrou e tudo o que consegui foram algumas rachaduras rasas.

Joguei o pedaço de madeira para longe e me sentei perto da estátua, chorando por algum motivo ridículo demais para raciocinar sobre.

— Mas que merda... — disse enquanto tentava segurar aquelas malditas lágrimas que se misturavam com as gotas de chuva.

Sem mais opções, arranquei meu boné e deixei a chuva encharcar meus cabelos que, até então, foram a única coisa que se manteve seca.

— Quebre a estátua. 

Eu paralisei.

Olhei para os lados, não havia ninguém, mas, por algum motivo, o sussurro em minha mente foi um gatilho para a onda de raiva que me consumiu e me fez começar a chutar a estátua com toda minha força, até rachá-la e, por fim, quebrá-la.

Meu pé estava dolorido, mas eu consegui quebrar a estátua. 

Nada aconteceu. 

Ou melhor, alguma coisa estava acontecendo, mas eu só me toquei quando olhei em volta.

O tempo parecia ter parado, tudo estava oscilante em preto e branco.

— Mas o quê...? — minha voz era um eco pela floresta.

Olhei para o céu e a chuva havia parado de cair. Entre as nuvens, eu consegui ver um rasgo brilhante. Era bonito, mas sua beleza se foi logo que o reconheci como um rasgo interdimensional, do tipo que houve há cinco anos atrás.

Eu estava alerta, pronto para lutar (ou fugir), porém, ao invés de sair um monte de aberrações, apenas uma luz escapou de lá e algo caiu num som abafado, bem do meu lado.

Quando olhei para o chão, vi um garoto. 

Aparentemente, morto.

Fui até ele e, receoso, o toquei, precisava ter certeza do que via, se estava mesmo morto, mas antes que eu pudesse fazer algo, ele abriu os olhos. Aqueles malditos olhos amarelos!

Quando ele se levantou, eu senti como se estivesse sendo puxado para baixo. Quando ele me olhou, eu me senti zonzo. E quando ele sorriu, eu apaguei.


Notas Finais


Bem, não sei se irei publicar capítulo todos os dias, mas estou morrendo de tédio então é isso :')


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