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História Amargo - Capítulo único.


Escrita por: Jeleninhaz e bellarin

Notas do Autor


Oi, gente!
Primeiramente, Amargo é totalmente dedicada à Lali @souhamucek, que é tipo uma das pessoas mais incríveis que já conheci nesse site. Essa One-shot era para ter saído desde janeiro, mas houve alguns contratempos entre eu e a outra autora que escreveria comigo, por isso o enredo ficou parado. Ontem a Raphaela, que também é super amiga da Lali, aceitou escrever metade do capítulo (e um pouquinho mais) alegrando meu dia. Mil créditos a ela, se não fosse por isso talvez eu teria desistido. Sendo assim, Amargo se torna tão minha quanto dela ❤
Ops: deixando claro que esta é uma história sobre primeiro amor também, por isso alguns acontecimentos iniciais tiveram tanto impacto na vida da personagem.
Tenham uma boa leitura!*

Capítulo 1 - Capítulo único.



Violet Clark

Seattle

Cedar Park, 19h43 PM.

                              

Em frente ao grande espelho, tenho a visão completa do meu corpo coberto unicamente por uma lingerie rendada negra. Fazia tanto tempo que eu não usava uma peça de roupa tão sensual quanto essa, e agora percebo o quanto demorei para aceitar que Gregory não poderia ser o único a me achar atraente.

A sensação de saber que eu estava enganada nunca foi tão saborosa.

Desde a separação repentina de meus pais após um longo casamento cercado de mentiras, muitas mudanças aconteceram em pouco tempo. Mudei de cidade e, consequentemente de casa, passei a morar em Seattle com minha mãe, totalmente deslocada em um lugar diferente e sem saber como fazer novas amizades, o que sempre foi tarefa nada simples para mim. Sendo uma garota fechada, nunca dou o primeiro passo, sempre esperando que a pessoa tome a atitude primeiro.

Gregory e eu nos conhecemos no baile de formatura do ensino médio. Durante o ano letivo conheci algumas pessoas, porém poucas evoluíram daquele conhecer para uma potencial futura amizade. Eu não chamava a atenção de muitos garotos, talvez por ser ingênua, aparentemente puritana e usar roupas confortáveis ao meu ver, e cafonas para eles.

Porém, naquela noite, depois de horas ouvindo minha mãe insistir, eu deixei que Hanna me produzisse para o tão-falado baile. Mesmo que eu não tivesse um par para as danças, na mente da garota, era um absurdo eu perder uma das noites mais importantes para as adolescentes. E preciso admitir, sendo quem Hanna era e ainda é, totalmente o oposto de mim, ela havia feito um bom trabalho deixando minha imagem de garota fechada e anti-social para trás momentaneamente.

E então, eu conheci ele. Usando métodos clichês, tais como; palavras gentis, gestos cavalheiros e olhares meigos, Gregory Anthony me encantou desde a nossa primeira conversa. Fizemos companhia um para o outro durante a noite inteira, dançamos algumas músicas, e ao final da festa, ele me beijou, logo me oferecendo uma carona para casa.

Eu sabia que o loiro cheirava a encrenca, desde o inicio eu soube, e até mesmo pessoas preocupadas chegaram a me alertar. Entretanto, apenas Hanna persistiu naquilo. Nós duas discutimos incontáveis vezes por causa dele, em conversas onde ela tentava me fazer enxergar o óbvio, mas a paixão deixa as pessoas cegas o suficiente para apagar todos os defeitos. Por meses, ele foi o meu tão esperado príncipe encantado, aquele que trazia flores e chocolates no dia dos namorados, me levava para um passeio no parque e conseguia fazer-me a garota mais especial do mundo em pouquíssimos segundos.

Contudo, as coisas tendem a estarem em constante mudança, e nem sempre elas seriam positivas.

Quando comecei a enxergar meu namorado como ele realmente era, tudo já havia desmoronado. Fui convencida a ter relações sexuais quando não me sentia preparada, cuidava de suas dores de cabeça quando aparecia bêbado em minha porta nos dias que minha mãe trabalhava até mais tarde. Ele dizia ir para a casa dos pais em outra cidade, mas acabava em festas, esquecendo por completo do nosso compromisso.

Pouco a pouco, eu o pegava em uma mentira, acabando por desculpa-lo após cair novamente em sua lábia. Não tive uma confirmação de que era traída, até então, abordá-lo pela primeira vez, e escutar que tudo não passou de uma diversão. Um jeito de curtir o tempo que ele estava passando em Seattle longe dos pais. Era de meu conhecimento sua hospedagem no apartamento de alguns parentes próximos, mas não imaginei que era apenas pelo período de férias, até as aulas começarem na universidade que escolheu. No final de tudo, fui apenas uma conquista de verão.

Alguém que ele usou de todas as formas que pôde, como um lixo, algo que ele mesmo ressaltou, levou na conversa, tratou com carinho no começo, com apenas o objetivo de conseguir algo. E assim que eu me entreguei, ele havia terminado seu “trabalho”, deixando-me com os cacos para recolher.

Embora estivesse despedaçada por ter me dado conta de que os boatos não eram apenas boatos, que briguei com uma das minhas únicas amigas por nada, chegando inclusive a acusá-la de invejar o meu namoro perfeito, fui capaz de pôr um ponto final em tudo, pouco antes dele voltar para onde nunca deveria ter saído.

Foram meses e mais meses trancada em casa, chorando enquanto olhava fotos nossas. Até que a realidade me atingiu, e admiti a mim mesma que não poderia passar mais tempo daquele jeito. Todos sofrem decepções amorosas, a primeira provavelmente é a mais dolorida de todas e infelizmente, a minha não apenas dolorida como dilacerante. Porém eu não podia deixar de viver, eu precisava ser como as outras pessoas, fazer uma faculdade, dar orgulho à minha mãe, usar roupas que fizessem eu me sentir bonita, ou seja, viver normalmente na medida do possível.

E aqui estou, exatamente um ano depois, no início da faculdade de nutrição, e fisicamente, não lembro em nada aquela jovem tola e ingênua. A maioria dos homens é igual a Gregory, assim como meu próprio pai é, tendo como a prova disso, é que em apenas meses, já estava em processo de divórcio com a ex amante. A ideia de ter um futuro bobo, casar, ter filhos e um dia descobrir que meu marido dorme com a secretária ou babá me arrepiava. Tinha que haver uma coisa melhor que isso.

Além de minha mudança física, acabei me permitindo a fazer novas experiências.

Minha atração por pessoas do mesmo sexo sempre esteve presente, porém, guardei na adolescência por vergonha e não tive oportunidade de explorar por causa do rápido namoro. Agora, pude me conhecer mais, contando apenas a Hanna sobre isso. Mesmo sempre muito aberta e compreensiva, acredito que para ela, tenha sido um choque quando passei a ficar com garotas e usar roupas mais despojadas.

Apesar dos pesares, hoje em dia, aqui sou eu, um caco por dentro. A ideia de apaixonar novamente não estava em meus planos. Apenas havia provado uma única vez, sentindo na pele o amargo do sentimento que muitos descrevem como doce, e não sinto a menor vontade de passar por aquilo de novo.

— Você tem me surpreendido, sendo convidada para festas todos os finais de semana. – viro o rosto na direção de Hanna, que deixou a revista de moda já lida ao lado da cama, e agora me observa com um sorriso contido nos lábios.

— É assim desde que comecei a me relacionar mais.

— E com se relacionar, o você quer dizer com isso? – ela solta a pergunta totalmente estranha com um tom insinuador e confusa com o rumo da conversa, franzo o cenho. — Está circulando uns boatos pela universidade, as pessoas acham que você e Katherine estão namorando sério.

Tal informação não me surpreende, se fosse pela própria Katherine, já estaríamos juntas há semanas apesar de deixar claro que nosso relacionamento não era serio. Dou os ombros, nunca havia lhe dado esperanças, realmente não pretendo ter nenhuma amarra por tempo indeterminado e isso incluía Kath.

— Ficamos algumas vezes, isso não significa namoro. – reviro os olhos arrumando meu cabelo. Ouço a risada leve de Hanna e logo em seguida, ela se pronuncia.

— Sabe, independente de quem namora, fico feliz que esteja seguindo em frente. – trocamos um olhar de cumplicidade, e decido dar o assunto por encerrado. Minha vida amorosa não era algo muito interessante de ser discutida.

Eu já deveria estar pronta. Passo tanto tempo na casa dos Mendes, que chego até a esquecer que tenho minha própria residência. Esse lugar era como uma casa para mim.

— Você viu onde deixei meu vestido novo? – pergunto para Hanna franzindo o rosto tentando me lembrar onde estava minha vestimenta.

— Alguém deve ter colocado na lavanderia por engano. – ela responde depois de verificar a cama rapidamente e checar cada canto do quarto com seus olhos super observadores.

— Vou pegá-lo, meu celular está em cima da penteadeira, se alguém ligar, diga que já estamos a caminho. – aviso-a saindo do quarto ouvindo um murmuro de concordância.

Desço as escadas descalça, sentindo o chão frio me causar tremores e andei apressada, conforme passo pelo corredor, me deparo com vários porta-retratos grandes, enfeitando as paredes em combinações. Não consigo evitar de lembrar de minha antiga casa, onde tínhamos uma decoração parecida. Mas agora, talvez minha ex madrasta tenha criado uma igual, com fotos de meu pai com ela, e do bebê que nasceu há pouco tempo. Engulo em seco, não dando espaço para o sentimento de amargura se apossar dentro de mim.

Um som conhecido atrai meus olhos curiosos para a sala escura, iluminada somente pela luz da televisão. Shawn, o irmão mais novo de Hanna, estava entretido com o filme que reconheci de primeira. Não consigo conter um leve sorriso, aquele filme era muito bom.

— Perfume? Não é muito conhecido. – comento, entrando sorrateiramente, conseguindo um movimento brusco como forma de resposta. O mais novo desliga a televisão, ajeitando os óculos de grau em seguida. Solto uma risada de leve com a reação do mesmo e abro um sorriso culpado. — Desculpe, eu não queria te assustar.

Seus olhos castanhos me fitam, como se estivessem surpresos com minha presença. O que era no mínimo estranho, afinal eu estava quase sempre por ali ao redor da casa.

— Não, tudo bem, isso...Só estou atordoado. – explicou o garoto de forma sucinta, me deixando ainda mais curiosa.

— Por que você está atordoado?

— É que a primeira vez que você puxa assunto comigo direito. – suas palavras diretas me deixam surpresa e sinto minhas bochechas queimarem ao perceber que a acusação não era mentira.

— Você passa a maior parte do tempo trancado no quarto, na companhia dos jogos, imagino. – defendo-me tentando reprimir a sensação de culpa.

“Ou talvez você fique vendo filmes pornográficos”, pensei sem pronunciar mais nenhuma palavra.

Percebo que meu corpo desprovido de roupas, com decotes evidentes, claramente o intimida, por isso seus olhos não permanecem me encarando por muito tempo. O pouco que eu sabia sobre o irmão de Hanna, é que ele possuía dezenove anos, cabelos bagunçados, do tipo que você fica com vontade de explicar o que é pente, mas ao mesmo tempo considera charmoso, ele tinha um físico nem muito atlético e nem muito franzino, e é quase um viciado em jogos, em especial os eletrônicos, ficando horas jogando, o que me levava a conclusão que era também era antissocial.

E agora, sozinha e próxima a ele, encarando seu rosto totalmente vermelho, descobri outro fato: sou capaz de envergonhá-lo até a raiz dos cabelos.

— Tenha um boa noite, Shawn. – me despeço rapidamente, decidida a acabar com o silêncio estranho.

Deixo o cômodo antes de receber uma resposta. Meu desejo é verdadeiro, quero que ele tenha uma noite proveitosa, assim como todos deveriam ter.

•••

Seattle, Downtown.
            21h39 PM.

Duas semanas depois.

Work, work, work, work.

A música de Rihanna tocava em alto e bom som na casa noturna. Como de costume, não deixei minha inibição se abalar e passei a me remexer em ritmo com a batida, pouco a pouco sentindo a sensação de liberdade que entorpecia meu corpo. Junto com as pessoas no meio da pista, eu estava em um nível entre descer até o chão e sacudir o cabelo loucamente enquanto me remexia.

Era um sentimento tão bom, a doce independência.

E então, alguém chegou por trás, de leve, mas o suficiente para que meu corpo entrasse em alerta. A principio não recuei, mas então, eu senti o perfume. Com todos os pelos arrepiados, sentindo meu coração se acelerar de uma maneira nada boa, desviei-me das mãos que passavam em minha cintura. O aperto retornou se tornando mais agressivo e senti meus músculos se tencionarem.

Eu conhecia aquele cheiro.

Porque esse era o perfume favorito dele.

— Você continua gostosa. – ouvi a voz que confirmou todos meus temores e remexi meu corpo, com todos os nervos em alerta tentando me livrar daquele toque. Ele continuou me segurando, como se estivesse querendo demonstrar o quão fraca eu era.

Como se eu ainda fosse aquela Violet ingênua que aceitava tudo vindo dele. Mas eu não era mais a mesma garota e jamais o deixaria me machucar daquele jeito de novo.

— Me larga. – crispo os lábios tentando não chamar atenção, a única coisa que eu queria era sair daquele sufoco. O toque que um dia me deixava enlouquecida, agora apenas me deixava enojada. Aquele perfume doentio parecia estar esfregado em meu nariz. — Se você não me largar eu vou gritar.

A risada debochada dele sob minha nuca faz com que todo o ódio que eu sinto por ele ficar ainda mais intenso e aproveitando sua distração, encosto meu corpo ainda mais no seu e me abençoando mentalmente o fato de não ter tirado os saltos, uso toda minha rigidez concentrando as forças em minha perna esquerda acertando seu pé.

Em um segundo, brutalmente sou largada e finalmente consigo soltar o ar que estava prendendo. Ouço seus palavrões e antes que eu pudesse sair dali, seus olhos azuis me fitam com cólera. Engolindo o asco em minha garganta, retribuo o olhar com a mesma escala de ódio que me ajudaria esconder o quanto sua presença me amedrontava.

— Violet. – murmurou Gregory, com sua voz áspera que perseguia meus pesadelos e momentos de insegurança. Aquela maldita voz.

— Não se atreva a me tocar novamente. – sibilo ignorando a súbita vontade de sair correndo, cada músculo em meu corpo estava em estado de alerta. Todas minhas instituições diziam: corra, fuja, saia.

Mas o orgulho foi mais forte que meu ataque de nervos. Eu não iria surtar na frente dele, não posso demonstrar que mesmo todos aqueles meses, somente sua presença poderia me desequilibrar. Não lhe daria esse poder.

— Você age como se fosse algo ruim, mas eu lembro de o quanto meus toques a afetavam. E pelo visto ainda lhe afetam, querida. – ele abriu um sorriso, o maldito sorriso que poderia fazer a maioria das pessoas se derreterem. Aquele sorriso que um dia havia me conquistado.

— A única coisa que você conseguiu me fazer sentir agora é nojo. – repudiei vendo-o desmanchar aquela cara cínica. O gosto de vitória, mesmo breve, fez eu me sentir melhor.

Sem perceber, eu havia atiçado o demônio. Solto um grito de susto ao sentir sua mão segurar meu pulso, erguendo meu braço no ar.  A música estava acabando e de repente senti todos os olhares sobre nós. Toda minha pouca confiança parecia se dissipar e de repente, a garota vulnerável havia voltado, com força e ainda mais intimidada.

— Só porque você está usando roupas diferentes, isso não muda o seu passado, você é ainda a mesma garota bobinha que eu comi meses atrás. E honestamente, não foi lá grande coisas. – engulo em seco, encarando-o aterrorizada com seu rosto próximo ao meu. — Você continua o mesmo lixo de sempre, Violet.

"Você é um lixo.

Deveria erguer as mãos, estar agradecida por ter alguém como eu.

Ninguém vai gostar de você da maneira que eu gosto.

Lixo."

As vozes retornaram com tudo, como se cada parte de minhas cicatrizes se abrissem lentamente. Tudo parecia estar desmoronando, meu rosto estava quente. Queimando de humilhação. Tremendo, tentando ignorar o mar de emoções que pairavam sobre minha cabeça, corri. E dessa vez, como se estivesse satisfeito com meu estado, não houve nenhuma resistência. Era o que ele sempre fazia, tocava na parte mais insegura e me quebrava.

O ar fresco da noite me atinge a partir do momento que saio, e solto um soluço sufocado. Meus olhos ardiam e em alguns segundos, as lágrimas escorreram quentes e salgadas. Estremecendo, encaro o poste de luz que iluminava a rua, a luz era um borrão. Minhas mãos tremiam, tento focar nelas mas tudo que meus olhos conseguiam produzir era água. Antes que o pânico me atinja, um nome se passa como um flash em minha mente, Hanna. Eu precisava de minha melhor amiga.

Sem hesitar, esfrego o rosto mesmo sabendo que o rímel borraria todo meu rosto e elevo minha mão ao notar um táxi chegando na rua. De imediato, o carro amarelo para próximo ao meu lado e entro no veiculo, sentindo um cheiro forte de comida mexicana. Balbucio de maneira audível o endereço, e encaro a janela, vendo as luzes se tornando borrões à medida que a velocidade aumentava.

Inspiro e expiro tentando controlar meu coração que batia de maneira frenética. Eu precisava me acalmar antes de tudo. Fecho os olhos e repito as mesmas palavras que me faziam acordar todas manhãs. Acabou, ele não pode te controlar mais. O efeito não foi tão impactante, o que só me fazia reforçar a necessidade da presença de minha melhor amiga.

Em alguns minutos, estou no subúrbio de Seattle, Cedar Park, onde Hanna residia. Sempre adorei apreciar a visão de sua casa, como se fosse um chalé por estar coberta de pedras por fora, totalmente diferente de meu condomínio espelhado e com cores neutras que só me lembravam uma frieza polida. Sem conter meu nervosismo, subi a pequena escada que me levava à porta da frente e toquei a campainha, torcendo que Hanna abra a porta.

Ouço o latido dos cachorros e antes que eu pudesse piscar, a maçaneta gira, revelando-se o caçula da família, ou melhor, Shawn, irmão de Hanna.

Seus olhos castanhos arregalam-se ao me ver e mordo os lábios, subitamente envergonhada.— Hey! A Hanna está em casa? – tento manter a voz firme, tocando em meu braço, pensando o quão ridícula eu deveria estar parecendo com as olheiras borrada de preto. Nervosa, aguardo a resposta do garoto que parecia evidentemente perturbado com minha aparência.

Ele piscou, refazendo sua postura e coçou a nuca.

— Ela saiu com nossos pais, eles tiveram um evento de inauguração de uma loja e Hanna se interessou. – senti a frustração percorrer meu corpo e assinto, pronta para me despedir, ao que parecia, eu iria ter que me recompor sozinha naquela noite.

— Ok, obrigada. – agradeço-o tentando abrir um sorriso.

— Você não quer entrar? – ergo o rosto para fita-lo, surpresa com o convite e antes que eu pudesse manifestar uma reação, ele continua. — Eu estava indo fazer chocolate quente agora a pouco, topa?

Observo-o abrir um espaço para que eu pudesse passar pela porta e hesitantemente o faço, eu poderia usar um chocolate quente. O ar aquecido da casa automaticamente faz com que meu corpo se relaxe e por um momento, me sinto mais calma. Shawn caminhava em direção á cozinha e logo acompanhei seus passos, passando pela sala, onde pude ver que a televisão exibia um jogo em pausa.

Sentindo-me culpada por ter feito ele sair de sua zona de lazer, segui o familiar caminho para cozinha, lembrando de todos os momentos que em eu e Hanna descíamos no meio da noite para pegar besteiras de madrugada quando tínhamos folga. Encontro o garoto de costas, recém ligando a cafeteira para esquentar a água, seu rosto continha uma leve ruga de dúvida na testa enquanto o mesmo lia o pote que continha o chocolate.

— Posso ajudar? – pergunto achando a cena um tanto bonitinha, a forma como ele olhava o pote era tão séria que as pessoas poderiam pensar que ele estava tentando descobrir a cura de alguma doença.

— Você pode me dizer se está dentro da data de validade? – percebo pela primeira vez que Shawn não estava usando seus óculos como de usual. Reprimo o sorriso e aceno com a cabeça, indo em sua direção para pegar o objeto.

Sinto um leve choque térmico ao sentir seus dedos quentes se encostarem brevemente nos meus, gélidos. Ignorando a sensação, procuro a data sem menor dificuldades encontrando-a quase totalmente embaçada pelo papel.

— Podemos usar sem ter dor de barriga, garantido. – ouço sua risada e instintivamente abro um sorriso, esquecendo-me momentaneamente do aperto em meu coração que me incomodava.

— Isso é ótimo, nossos planos não vão precisar de alteração. — estendo o pote de volta, dessa vez não houve nenhum contato que me causasse choques. — Você gosta de marshmalllow?

Assinto em silêncio e sento-me na cadeira, exausta, sentindo todas as memórias da noite voltarem com força. Meus olhos percorrem meu braço esquerdo, onde fui apertada por Gregory, e percebo uma mancha roxa se manifestando. Solto um resmungo baixinho sentindo dor somente de tocar na pele agredida, e então percebo um par de olhos me encarando.

Tento esconder rapidamente meu braço e retribuo o olhar, torcendo que ele não pergunte nada. Eu iria desmoronar, caso isso acontecesse. O clique da cafeteira quebra o silêncio e a única coisa que consigo ouvir são seus movimentos e o barulho da colher batendo nas canecas enquanto ele mexia o chocolate.

O aroma delicioso entorpeceu minhas narinas e abri um breve sorriso agradecendo quando Shawn me entregou a velha caneca que eu sempre usava quando estava na casa. Fecho os olhos, apreciando o leve calor que emanava e ergo a caneca, pronta para tomar aquele líquido maravilhoso. Apesar de estar um pouco quente, não consigo conter o suspiro de satisfação ao sentir o gosto doce misturado com chantilly e marshmallow.  

Mas havia algo mais. Um gostinho diferente de todos os chocolates-quentes que eu já tomei.

— Então, como está? – Shawn indagou-me, erguendo as sobrancelhas assim que retirei a caneca de minha boca. Céus, aquilo estava tão bom!

— Maravilhoso! O que mais você colocou aqui? – não contenho a curiosidade e ouço sua risada.

— Não posso contar, é segredo.

Reviro os olhos e ele ri ainda mais, logo em seguida tomando seu chocolate quente. Encaro minha caneca semivazia e sinto uma súbita tristeza, aquele momento estava tão bom mas tudo que eu queria era chorar. E foi o que eu fiz. Não contive as lágrimas, e antes que eu menos pudesse perceber, comecei a soluçar. Doía tanto. Cada parte de meu corpo parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão.

— Eu vi meu ex, hoje. – senti uma súbita vontade de desabafar para me livrar da sensação angustiante que se agarrava dentro de mim. Sem encarar os olhos castanhos, narrei todos os momentos que se sucederam até chegar a parte que fui para casa dele, procurando minha melhor amiga.

Shawn não me interrompeu em nenhum momento.

A cada palavra que saia de minha boca, eu sentia um alivio e então, o peso que puxava para baixo, se equilibrou. Suspiro fundo, sem coragem de fitar o garoto em minha frente. Com o coração acelerado, ouço o barulho da cadeira se arrastar e sei que ele estava se levantando. Ergo o rosto, hesitante e antes que meu cérebro pudesse processar algo, ele toca em meu ombro e somente vendo seus olhos, entendi sua intenção.

Levantei-me de mesa e em poucos segundos, minha cabeça pousava em seu peito, seus braços rodeando minha cintura em um abraço estranhamente confortável. Nunca imaginei que um dia estaria abraçando o irmão de minha melhor amiga. E muito menos, que acharia o abraço dele tão bom. Fecho os olhos, sentindo minha respiração se acalmar e percebo quanto seu coração batia aceleradamente.

— Obrigada. – apertei o abraço, escondendo meu rosto em seu pescoço. — Pelo chocolate quente, por tudo. – recuei sentindo uma enorme gratidão pelo garoto e abro um sorriso vendo suas bochechas vermelhas, tão adorável.

— Posso te dizer algo? – sua expressão séria fez com que eu assentisse de imediato, interessada. — O seu ex é um babaca. Além disso é burro o suficiente para não saber o que está perdendo. Você é linda. É a garota mais linda que eu já conheci, e não estou falando isso só pela sua beleza exterior. Mesmo não convivendo com você, dá para perceber o quão especial você é, e...  merece mais que isso. Muito mais.

Não consigo conter a vermelhidão que se apossa instantaneamente em minha face. Embaçada com a declaração, abro um sorriso sem saber o que dizer. Estava surpresa, e internamente, uma parte minha estava estranhamente derretida. Abraço-o novamente, dessa vez, aproveitando ainda mais a sensação de paz que aqueles braços pareciam causar em mim.

Achei que o clima fosse ficar desconfortável, confesso que senti medo, mas Shawn simplesmente tornou tudo mais agradável, agindo de maneira amistosa e acabamos na sala, sentados no sofá, assistindo um filme de besteirol americano, o clássico American Pie, o que somente nos arrancou gargalhadas e quaisquer indícios de clima estranho, não aconteceu.

Durante nossa sessão filme, não consigo parar de notar tudo o que eu não havia visto antes. A risada dele é tão engraçada e, ao mesmo tempo, tão gostosa que você começa a rir junto. Ele tem uma mania de fazer caretas, sempre expressando-se a cada cena que tinha no filme.

— Admito, toda vez em que assisto How I Met Your Mother, não consigo ver a Lily e sim a Michelle. – comenta, assim que as cenas finais passaram na tela. Concordo, entendendo as referências.

— Eu espero ansiosamente para o Jim aparecer do nada, namorando a doppelgänger da Lily. Seria um crossover incrível. – ri, compartilhando minhas ideias malucas e ele concorda, reconhecendo que a ideia seria genial. — Aliás, a gente poderia fazer maratona de HIMYM um dia. – sugiro, animada, recebendo o mesmo nível de excitação vindo dele, quem assente rapidamente.

— E maratona de American Pie. – completamos juntos ao mesmo tempo.

— Feito. – me animo com a coincidência, e, antes que ele possa falar algo, meus olhos fitam as horas exibidas no relógio digital que a provedora de canais disponibilizava e de imediato, não consigo conter o bocejo. São duas e meia da madrugada.

A exaustão acabou nos atingindo em menos de dez minutos. Como estava muito tarde e eu não arriscava em pegar táxi, Shawn estava morto de cansaço, acabei decidindo, ou melhor, ele declarou que eu iria dormir no quarto da Hanna, que não chegava nunca e acabamos descobrindo o motivo, minutos depois, recebendo uma mensagem que os pais e ela iriam dormir na casa dos amigos, pois estavam muito alterados para dirigir.

Não contenho a risada, vendo Shawn responder à irmã, zoando-a como sempre, e, então, ele a avisa sobre minha presença na casa. Logo após isso, passo a receber diversas mensagens de minha amiga.

— Vou dormir. – anuncio, ao colocar um pijama encontrado no armário onde eu guardava algumas roupas que acabava esquecendo. Ele abriu um sorriso, causando uma estranha sensação em meu estômago.  — Sabe, se alguém como você tivesse se apaixonado por mim, tudo seria mais fácil. — sinto a necessidade de dizer, mesmo que isso tenha sido totalmente aleatório. Os olhos castanhos-mel me encaram; eles são misteriosos, não posso perceber qual emoção está refletida neles.

— Bom, eu não poderia me apaixonar por você. — coro, subitamente constrangida e não consigo de evitar a sensação de minha autoestima estar se abaixando de novo. Sem graça, assinto, pronta para fugir da situação. —  Porque eu já estou apaixonado.

Arregalo os olhos, surpresa.

— Sou apaixonado por você desde a primeira vez que te vi, Violet Clark.

— C-como? – gaguejo, sentindo minha voz falhar. Percebo sua aproximação e estanco no lugar, apenas o encarando sem disfarçar o quão surpresa estava com a confissão. Sinto meu coração falhar uma batida notando nossa proximidade.

— Quando minha irmã te trouxe aqui, você era tão fechada, reservada, usava roupas largas, tímida, mas, ao mesmo tempo engraçada, você me encantou. E, então, conheceu o seu ex, o que não me deu chances para uma possível declaração. Quando vocês terminaram, as coisas mudaram, inclusive você. Mas, para ser sincero, somente uma coisa não mudou: meus sentimentos. – engulo em seco. Sem saber o que falar, congelo ao sentir seus lábios beijarem minha testa. Ao mesmo tempo em que estou apavorada, não consigo evitar a sensação agradável, inexplicável. — Escute, não vou te pressionar, eu só quero saber se existe alguma possibilidade de você sentir alguma coisa por mim.

Ele finaliza, encarando-me de um jeito tão profundo que sinto todo meu corpo estremecer de uma maneira boa. Eu não sei o que dizer, embora a resposta seja óbvia, devido à nossa aproximação de hoje. Porém, uma parte minha estava receosa, intimidada, e, por um instante quase deixo a voz de Gregory se manifestar, desprezando-me. Respiro fundo e decido por mim mesma, algo que possa fazer a minha vida dar um salto gigante. 

— Sim, existem possibilidades.

•••

Algum tempo depois...

— Feliz aniversário! – forço um assopro sobre o conjunto de pequenas velas que formam o número vinte. O pessoal da faculdade havia organizado uma festa na casa de Hanna, dispostos a comemorarem a data. Graças a esse tipo de atitudes, ando me sentindo bastante querida, o que era definitivamente muito bom.

Após aquela noite nem tão fracassada quanto eu imaginei, não encontrei mais Gregory, escutei boatos de que ele viajou mais uma vez. E pensar nele deixou de ser dolorido conforme os meses iam correndo, claro que alguém havia me ajudado nesse processo, uma pessoa que desde aquela noite passou me encantar: Shawn.

Decidimos seguir à risca a ideia de irmos devagar. Nossa proximidade acabou crescendo dia após dia, e, com isso, manifestações de carinho como aqueles que trocamos em naquela noite se tornaram frequentes e claro, íamos além disso; a gente se beijava, o que fez com que, aos poucos, as pessoas à nossa volta fossem desconfiando, questionando e nós nunca confirmamos nada. Não havia o que confirmar.

Admito que percebi seu constrangimento diante de tantas perguntas e atenção, mas nunca chegamos a conversar diretamente sobre o assunto. A verdade é que desenvolvi um medo absurdo de dividir o que temos com os demais, fazer dos nossos momentos juntos uma coisa pública, eu não conseguia deixar de ficar apavorada só de pensar nessa possibilidade. Porém quando estamos sozinhos, a sensação que tenho é que somos apenas nós dois no mundo, desfrutando da companhia um do outro, falando sobre banalidades, trocando beijos que a cada dia ficam mais intensos.

Eu ainda sentia medo de assumir meus sentimentos para quem quer que seja, e acabar estragando tudo. Demorou tanto para que os primeiros sinais de confiança surgissem, que não sei se confio em mim mesma, com medo de estragar tudo, e isso acabaria fazendo com que voltássemos à estaca zero. Quando eu era apenas a melhor amiga de sua irmã, a garota que ele era secretamente apaixonado, arisca e fria com os homens.

— Hey! Vamos dar uma volta? – olho para trás, tendo a visão de rostos conhecidos comendo e se divertindo na pista de dança improvisada. Cortei o bolo às pressas, assentindo rapidamente com a cabeça, procurando disfarçar minha ansiedade para ficar sozinha com o garoto afastado no canto da sala, observando-me fixamente.

Todos estavam entretidos com seus assuntos, já era tarde da noite e ninguém iria notar o nosso sumiço. Ou talvez Hanna notasse, ela já havia reparado no comportamento estranho do irmão. Confesso que disfarçar a paixão ficava difícil quando ela começa a ser correspondida.

— Para onde pretende me levar? – pergunto curiosa, reparando no brilho confiante em seus olhos.

— Segredo. – ele sorri misterioso lembrando-me daquele dia em que tomei pela primeira vez o melhor chocolate-quente de todos, e logo seus braços nervosos estão ao meu redor, guiando meu corpo até a saída do apartamento. — Deixei seu presente no quarto de Hanna.

Já do lado de fora, esperamos a certeza de que não temos companhia, para então selarmos nossos lábios pela primeira vez na noite. Como sempre, seus beijos eram entorpecedores, de maneira que eu não conseguia nada além de prazer.

Seus dedos em minha cintura arrancavam longos suspiros de minha garganta fazendo com que fossem necessárias muitas paradas para recuperar o ar e então voltar a beijar, cada vez mais de modo mais forte, com o toque de Shawn me enlouquecendo cada vez mais.

Os leves saltos em meus pés quebram nossa pequena diferença de tamanho, fazendo com que minhas mãos rápidas agarrem sua nuca, ajudando a beijá-lo sem muito esforço, o que neste caso não é bom, já que isso apenas me tenta a querer mais de seus beijos, mais de sua boca na minha, recheada com um leve gosto achocolatado. Com a proximidade de nossos corpos, consigo sentir sua excitação presente nas calças e, com o rosto quente, reúno todos rastros de razão, quase extintos, mas que ainda estão ali, e empurro-o delicadamente, em seguida jogando a cabeça para trás.

Isso está ficando mais intenso.

— Eu quis te beijar assim desde que a vi no início da noite, linda e coberta por esse vestido vermelho. – sussurra, recuperando o ar e abrindo-me um sorriso de tirar o fôlego.

— Este vestido ficaria ainda mais lindo, se suas mãos me ajudassem a tirá-lo mais tarde. – provoco-o, com um sorriso malicioso em meus lábios.

A cor natural de seu rosto foi substituída por uma tonalidade rosa escarlate, expressando o constrangimento que meu simples comentário foi capaz de trazer. Notei um sorriso discreto se formando no canto de seus lábios. Ele ainda envergonhado move sua cabeça lentamente, até que nossos narizes delicadamente se encostem.

— Seu bobo, é brincadeira. – desconverso, tentando disfarçar o quão quente que aquele quarto parecia. — Agora me leve para onde tanto deseja, já estamos perdendo tempo.

Reconhecendo minha razão, Shawn concordou.

•••

— Uma praia? – indago surpresa olhando a nossa volta, com uma de minhas sobrancelhas arqueadas.

Ao que tudo indica, somos os únicos por aqui, a praia estava deserta, as ondas batiam uma com as outras suavemente, apesar do ar frio, tudo estava encantador, inclusive o céu, que se encontrava repleto de pontinhos brilhantes, as estrelas. Suspirei, maravilhada, era um cenário perfeito. Abro um sorriso virando o rosto, encarando as írises receosas de Shawn e senti o mesmo relaxar ao ver o quanto que eu havia gostado.

— É, eu sabia que estaria vazia a essa hora, e pensei em ficarmos por aqui. – um sorriso de canto aparece em seus lábios, só não entendo o porquê ele não havia me levado até minha casa, se queria nos dar um pouco de privacidade, apenas sentei-me na areia, aguardando ele repetir o processo. — Acho melhor tirar os saltos. – sugere com os olhos atentos em meus pés. — É mais confortável.

Solto uma risada, assentindo com a cabeça.

— Acredite, eu já iria fazer isso, estes sapatos estão me matando. – concordo, esticando meus braços e dobrando as pernas para me livrar dos calçados.

Forcei os pés contra a areia fofinha, e deitamos na mesma direção. Seguindo o costume que peguei durante nosso tempo juntos, deitei a cabeça sobre seu peito, sentindo seu braço se alojar embaixo de meu corpo, até estar ao meu redor. E como sempre, a sensação de paz percorreu meu corpo.

Ambos nos calamos, confortável com a posição, fechei meus olhos em completa paz. Minutos se passaram enquanto compartilhamos apenas o som da água se chacoalhando no mar, e nossas respirações.  

— Eu estava pensando. – Shawn quebra o silêncio com a voz baixa. Abro os olhos e ergui a cabeça para vê-lo melhor. Não consigo evitar de encarar o charmoso buraquinho em seu queixo, aquela covinha conseguia causar diversas sensações. — Você se sente satisfeita comigo?

— Como? — pisco os olhos, desnorteada e indago-o, sem entender o que ele quer dizer.

— É que antes você namorava um cara forte, descolado e comunicativo. Em outras palavras, tudo que não sou. E, agora, você também fica com garotas. – vejo que ele fica envergonhado e sorrio involuntariamente.

— Nos últimos tempos, você tem compartilhado comigo muito da sua personalidade, o suficiente para eu ter aprendido a gostar dela. Gregory é sim tudo isso que acaba de descrever, o que não significa nada, pois, por dentro, ele é um idiota. – reviro os olhos e mordo os lábios, continuando em seguida. — E, se quer saber, parei de ficar com garotas.

Percebo que minha confissão o surpreendera, seus olhos me fitavam com curiosidade nítida.

— Por quê? — questiona interessado, com as bochechas avermelhadas, o que é bem compreensível.

— Era uma fase de descobertas – confidencio, com minha mão em sua bochecha acariciando-o. Solto um suspiro e continuo. — Após me desprender do Gregory, eu senti vontade de descobrir como era essa experiência, e descobri. Foi ótimo em todas as vezes, mas desde o nosso beijo na sala de estar, só tenho ficado com você, o que significa que é o bastante. Respondendo a sua pergunta: eu não poderia estar mais satisfeita. — murmuro, voltando a deitar sobre seu corpo.Minha resposta o calou por alguns instantes.

— A gente devia ficar junto. – pronuncia em voz baixa logo após alguns segundos.

— Nós estamos juntos.

— Não. Juntos de verdade.

Naquele mesmo instante, entendo o que ele quer dizer, na verdade eu sempre soube, mas negar para mim mesma era mais fácil. Arregalo os olhos, sentindo meu coração acelerar. Sinto todos meus músculo se tencionarem, e tento conter a vontade absurda que cada parte de meu corpo me instigava a fugir.

— Não estou te pressionando a sair por aí dizendo aos outros que tem um relacionamento sério comigo só por capricho, jamais faria isso. – permito que ele continue explicando. — Só quero ficar com você, sem medo de que notem, sem sentir que estamos fazendo uma coisa errada quando não estamos. Quero que você seja minha, Violet, minha do mesmo jeito que eu já sou seu desde que a vi pela primeira vez.

Um milhão de pensamentos diferentes invadiram minha mente, Shawn está propondo um namoro, e a vontade que tenho é a de sair correndo para longe. Mas contra tudo que sinto, fico ali no mesmo lugar. Você pode sair disso machucada.Minha mente insiste em mostrar o lado negativo de tudo, algo tão involuntário e automático que não julgo ao menos a possibilidade de me condenar por pensar assim.

Mas, sim. Eu podia sair machucada, porém era um risco.

Com o passar dos dias em sua companhia, me tornei dependente dele. Mesmo que eu nunca demonstre nada forte, o sentimento está aqui, louco para explodir, principalmente agora. Eu tenho certeza que não cheguei nem em 50% do quanto posso me apegar ao Shawn. E ainda assim, a dura possibilidade dele se cansar da espera me impossibilita de respondê-lo.

— Violet. – sussurra, chamando minha atenção. — Sei o sofrimento que seu ex namorado babaca te causou, mas eu não sou ele. Sou diferente, tenho certeza que posso ser um namorado perfeito, posso te fazer feliz.

Eu estava nervosa, mais do que eu poderia até mesmo sentir.

Shawn não é o Gregory, Shawn não é o Gregory.

Repeti mentalmente, mordendo os lábios com força.

— Você não me quer? – detecto uma apreensão em sua voz.

— Eu quero. – respondo apressada, soltando o ar que não percebi na hora que estava prendendo. Ergui a cabeça para encará-lo novamente, apreciando Shawn com um sorriso puxado para o lado tão incrível, que me desestruturou no mesmo segundo, mandando todas as dúvidas para o mais longe possível. — Eu quero. – repito assegurando que tenho certeza. Não só para ele, como para meu próprio coração.

— Eu vou fazer você me amar, Violet, um dia você irá me amar tanto quanto eu te amo.
Respiro profundamente, pronta para deixar claro que já correspondo aos seus sentimentos, talvez ainda não na mesma intensidade, mas ele de fato, já ocupava um grande espaço em meu coração. Era apenas questão de tempo até que esteja perceptível para qualquer um que encarar em meus olhos.

— Shawn, eu… – não pude completar.

— Não. – seu polegar direito toca meus lábios, impedindo-me de prosseguir. — Só diga isso quando for o seu momento. Nosso acordo de ir com calma continua valendo, a diferença é que agora tenho passe livre para te beijar sempre que der vontade.

Com outro sorriso idiota nos lábios, balanço a cabeça em concordância.

— E isso também significa que eu tenho passe livre para usar o seu corpo de todas as maneiras que imaginei. – sussurro próxima à seu ouvido, arrepiando-o.

Ainda não tínhamos ido até o fim por dois motivos. Primeiramente, sua insegurança, ele era alguém que percebeu há pouco tempo que ainda não existe um game excelente a ponto de ensinar um garoto como agir na hora do sexo. E depois, havia a minha própria insegurança.

Gregory foi o meu único até agora, era só isso que ele queria e conseguiu arrancar de mim. Contudo, sabendo que não posso continuar nutrindo um pensamento tão tolo, beijo-o de surpresa, prendendo seu corpo abaixo do meu.

Não demos a mínima importância para a probabilidade alta de algum curioso parar para nos assistir.

Apenas seguimos nossos instintos, os hormônios a flor da pele ajudaram, mas eu nunca havia sentido tamanha intensidade nas trocas de intimidade com Gregory. Sentimentos são o ápice de tudo, amar e ser amado é essencial para uma relação, e eu errei mais uma vez, errei quando afirmei a mim mesma que jamais voltaria a cair na armadilha do amor.

As mãos suadas, borboletas no estômago e vontade absurda de não largá-lo nenhum pouquinho se fizeram presentes ali, provando que a nova Violet não é forte nesse sentido, não como demonstrava.

Sei que ainda teremos um longo caminho pela frente.

Shawn não será o meu príncipe encantado e não vou procurar nele o que pensei ter encontrado em Gregory. Pois, tal como os contos de fadas, príncipes encantados não existem. Eu sei que ele possui defeitos, os quais que ainda não enxerguei, porém, quando acontecer, terei que aprender a lidar com eles, da mesma forma que hoje, ele lida com os meus. E eu não me importo, irei fazer tudo diferente agora.

Shawn não precisa ser perfeito para os outros em exatamente todos os sentidos, mas só por ter sido o responsável por mudar meu pensamento convicto, ter me consolado naquela noite e me dado a chance de viver aquele sentimento do jeito correto, ele já é perfeito, perfeito para mim de todas maneiras possíveis.

Encarando-o agora, sinto a certeza cada vez mais evidente: eu já estou pronta, pronta para me livrar do amargo, pronta para experimentar o doce do amor novamente.


Notas Finais


Ficou meio grande não é? O tamanho fugiu um pouco do nosso alcance.
Para quem conseguiu ler até aqui, um enorme obrigada ❤


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