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História Âmbar No Azul-Celeste - Capítulo XVII - Não É Da Minha Conta


Escrita por: Darleca

Capítulo 18 - Capítulo XVII - Não É Da Minha Conta


Fanfic / Fanfiction Âmbar No Azul-Celeste - Capítulo XVII - Não É Da Minha Conta

Jonathan estava no chão.

E, no caso, sabia que não era uma figura de linguagem; foi literalmente parar lá.

Estava desatento, com a cabeça nas nuvens de tempestade que se formaram logo acima dele; Joseph e Jotaro, além do ômega que despertara sem qualquer intenção, eram pensamentos que insistiam em ocupar boa parte de sua mente muito atribulada, que infelizmente não desapareceriam num piscar de olhos, por isso, não pôde-se prever que estaria no meio da rua bem na hora que um ciclista – que simplesmente surgiu pela esquina – passaria ali no mesmo instante, o derrubando (e derrubando-se no processo) após o choque.

Jonathan conseguia sentir contra as costas, de um modo quase opressivo, o asfalto desconfortável que parecia dizer “aqui não serve pra descansar”, exigindo-lhe que se levantasse dali.

Mas não tinha forças para isso, estava cansado demais de sentir tanta dor; e não era apenas a dor física que agravava o seu estado letárgico e depressivo. As suas mãos continuavam bem enfaixadas mas doloridas, o rosto e o abdômen ainda doíam, ainda mais com a nova trombada, mas doíam em lugares diferentes agora. Contudo, o que continuava a doer mais que tudo era o seu peito, por dentro, dilacerado e sangrando como nunca antes.

Se novas dores não pudessem fazê-lo esquecer dessa maior, nada mais o faria.

— Aí, cara... meus ovos! – exclamou uma voz masculina lamuriosa, distante. — Hey! ‘Cê ‘tá bem? Tudo bem? – Depois, parecia falar com Jonathan, com preocupação entonada em cada palavra.

Pessoas que passavam na rua na hora do acidente pararam em volta, curiosas. O trânsito também parou naquela rua. Jonathan só teve vontade de continuar ali, deitado no chão duro que quase o empurrava para cima para que ele não permanecesse naquele lugar, onde apenas os carros deveriam passar com os seus pneus.

O ciclista apareceu no seu campo de visão e parecia genuinamente preocupado, com uma feição levemente distorcida, com o seu estado. Afinal, Jonathan não se deu ao trabalho de sequer sanar as dúvidas daquele sujeito quanto à sua própria integridade física o respondendo quando perguntado.

No entanto, após uma rápida avaliação mental, Jonathan finalmente se ergueu do asfalto, ficando sentado por alguns instantes para checar as próprias mãos e passar uma delas atrás da cabeça.

— Tá bem mesmo? – insistiu o ciclista. — Não é melhor esperar uma ambulância?

— Não – respondeu Jonathan, balançando a cabeça. — Estou bem, fui desatento... – Sua voz começou a falhar, embargada. — A culpa... é minha... – Olhou para o chão, sem coragem de encarar as pessoas ali presentes ou mesmo o ciclista.

Na sua cabeça, todos que o encarravam sabiam que ele era um alfa descontrolado e raivoso, que perdera o ômega predestinado para um alfa qualquer. E que também era um péssimo irmão, porque não deu o apoio e carinho que o irmão precisava, fazendo-o simplesmente escolher entre o próprio amor, embora proibido, e a união “mais aceitável” do caçula com o ômega de uma família tradicional e muito respeitada, que também mereciam estar juntos, mas que corriam o risco de serem separados pela não aceitação de um parente próximo ser considerado aberração.

Nada disso era justo, nada disso devia acontecer.

Levantou-se com dificuldade, o ciclista acabou segurando o seu braço para dar-lhe apoio para, depois, entregar-lhe a sua bolsa.

Jonathan agradeceu com o menear de cabeça, colocando a alça da bolsa sobre o ombro esquerdo, embora achando que não merecia aquela gentileza.

A camisa de estampa florestal do ciclista estava suja de gema de ovos na parte da frente, o que fez Jonathan olhar para o rosto dele pela primeira vez, sentindo-se duplamente culpado por tudo o que causou.

— Eu... me desculpe... você... se machucou? – perguntou, receoso quanto ao que aconteceu ao ciclista, que lhe sorriu com certa timidez.

— Estou bem, não se preocupe, o meu tombo não foi pior que o seu – disse ele e Jonathan entendeu como ironia.

O rabo-de-cavalo loiro balançou suavemente atrás do ciclista, que apontou para trás, para onde estava uma bicicleta meio de pé e meio caindo parada, cheia de adereços no guidão, mas com a roda da frente ainda mais torta do que o esperado e algumas cartas de baralho espalhadas pelo chão.

Da cestinha da frente, de uma caixa pequena, a gema dos ovos – certamente quebrados – escorria pelos ferros do pára-choque da frente da bicicleta.

— Deixe-me pagar pelos seus ovos! – exclamou Jonathan de supetão, embora quisesse também garantir o conserto da bicicleta, repor os ovos que foram quebrados pareceu-lhe mais urgente.

O ciclista ergueu as sobrancelhas em surpresa, depois riu enquanto as bochechas ficavam levemente rosadas. Jonathan não sabia como reagir, mas também riu um pouco engasgado e sem graça por osmose, mesmo sem saber o motivo, e, logo em seguida, tirou do bolso da calça a sua carteira e tirou de lá o único dinheiro que tinha; uma nota de 20 libras esterlinas que a ofereceu para o rapaz.

Então, o ciclista parou de rir.

— Não – disse ele, agora parecendo ofendido —, não precisa, é sério.

— Por favor, aceite, por culpa minha, acabei destruindo a sua compra. Além da bicicleta, que também faço questão de mandar arrumar. Mas aceite, compre uma nova cartela de ovos e qualquer coisa que tenha sido danificada também... por favor, aceite... minhas desculpas... foi... minha culpa.

Jonathan era bombardeado por pensamentos que sempre voltavam para a conversa que tivera com Joseph, mesclando para o momento em que despertara o ômega no dormitório, e se fundindo com os lapsos de memória com o que acontecera mais cedo, na cafeteria, que, embora fossem apenas flashes, a conversa que tivera com o próprio instinto alfa, já soava absurda demais, uma loucura inexplicável. Estava mesmo perdendo o juízo?

Por um momento, enquanto andava cegamente pelas ruas acreditou ter conseguido afastar tais pensamentos que pesavam ainda mais àquela dor terrível em seu peito, mas agora, voltavam com força como ondas de um mar revolto explodindo num quebra-mar.

Jonathan acreditava mesmo ter uma força de vontade inabalável, mas agora ela sequer deu as caras. Sentiu o gosto salgado das lágrimas em seus lábios tarde demais.

O ciclista parecia em completa perplexidade diante de um rapaz que chorava por não ter conseguido convencê-lo a aceitar as 20 pratas.

— Hey, cara, eu aceito a grana, está tudo bem – disse o ciclista em tom solicito que escondia a expressão de cautela nos olhos. — Não precisa chorar...

Jonathan o assistiu pegar a nota de sua mão e balançá-la próximo do rosto com um sorriso um pouco forçado, mas como quem quisesse provar que estava mais que agradecido pela gentileza, embora aquilo tudo parecesse ainda mais embaraçoso do que poderia ser.

De corpo todo curvado como um completo derrotado, Jonathan apenas secou o rosto molhado na manga da camisa e fungava com vontade, ainda que se sentisse ridículo por chorar na frente de um estranho.

Teve medo de ter aquela voz opressora de seu instinto em sua mente de novo, o reprimindo por simplesmente chorar feito uma criança que machucou o joelho. Mas nada aconteceu e por ora, sentiu-se menos culpado por se aliviar de sua dor.

— Aceita tomar um sorvete comigo? – Jonathan ergueu os olhos ao ouvir aquele convite e encontrou os do ciclista, que tinha um sorriso sincero tanto nos lábios quanto naquele par de íris brilhantes. Ele parecia muito comovido com Jonathan e repetiu o convite esperando que, desta vez, o causador do acidente o ouvisse com mais clareza. — Então, aceita tomar um sorvete comigo? Tá precisando de um, a não ser que prefira cerveja, então, podemos ir ao pub aqui perto depois que você me acompanhar ao mercado.

— Sorvete? – perguntou como se não tivesse entendido nem pela segunda vez.

— Sim – o ciclista respondeu com objetividade.

— E quer que eu vá junto com você ao mercado?

Para Jonathan, pareceu óbvio perguntar, afinal, apenas imaginou que trocariam de endereços e telefones e que depois combinariam o melhor lugar para consertar a bicicleta, onde acertariam as contas, e nunca mais se veriam depois disso.

Agora, o convite para um sorvete (ou para um pub) foi muito inesperado, inusitado e... algo que talvez precisasse e só não sabia ainda.

— Consegue andar? – O ciclista fechou a cara de maneira caricata enquanto arqueava uma sobrancelha, como quem duvidasse da capacidade alheia, mas claramente dando a entender que era só uma zombaria de sua parte.

— S-Sim, sim, consigo. – Jonathan endireitou a postura, e ainda que sentisse dores por quase todo o corpo, não eram insuportáveis, não como a que causava um buraco em seu peito.

O ciclista sorriu de novo.

— Então, tá bom, vamos às compras.

O ciclista seguiu até a bicicleta, recolheu as cartas de baralho do asfalto e as guardou no bolso da calça boca de sino, segurou os apoios emborrachados do guidão, levantando o pé de apoio, e seguiu com a bicicleta do seu lado para onde veio, pela esquina.

Só parou no meio do caminho, na calçada, para confirmar se Jonathan o estava seguindo. A essa altura, o fluxo da rua voltava ao normal.

Jonathan, por sua vez, acompanhou o ciclista e sua bike acidentada com inegável fascínio enquanto o aro torto da roda da frente sempre causava um solavanco inesperado na direção.

O ciclista, bastante conversador, era constantemente interrompido quando a parte torta da roda passava no chão, mas Jonathan não o viu sequer chateado com este fato.

Ao chegarem no mercado, deixando a bike no lado de fora, Jonathan finalmente sentiu-se aliviado, apesar de tudo, com a conversa despretensiosa que tinha com o ciclista enquanto terminavam as compras e, por fim, tomavam o sorvete de casquinha sabor baunilha com chocolate e pistache.

O ciclista dizia como na família dele gostava, cada qual à sua maneira, de ovos cozidos no café da manhã; gema mais mole ou mais cozida, com sal ou sem, ou usando outro tempero que desse mais sabor. Descobrindo por tabela como o próprio ciclista gostava de seu café da manhã.

— Uma torrada com geleia de morango é sempre bem-vinda de manhã. Ou de blueberry, também – dizia ele, entusiasmado e eventualmente lambendo o seu sorvete de casquinha. — Mas minha mãe sempre quis que eu me dedicasse ao esporte quando eu era mais novo, lançamento de disco, e regulava bastante a minha alimentação. Agora que me dedico a outro tipo de lançamento de disco, não a deixei pegar no meu pé quanto ao que eu como hoje em dia. – Ele riu. — Que ela não me ouça – completou, arrancando risos cúmplices de Jonathan, que só se tocou com o fato do ciclista ter mães e não pais tardiamente, guardando para si qualquer comentário a respeito disso.

E embora não soubesse que outro tipo existente daquele esporte o ciclista se referia como o seu atual passatempo, Jonathan também não fez tanta questão de se aprofundar aquele assunto.

Assistiu ao ciclista jogar um guardanapo do sorvete para dentro de uma lixeira com uma pontaria invejável.

— Bom... – Jonathan pigarreou, limpando os lábios de sorvete com a língua rapidamente depois. — Não sei o seu nome. O meu é Jonathan. – Se adiantou, estendendo a mão enfaixada para cumprimentar o ciclista enquanto a outra segurava o sorvete, e se arrependeu logo em seguida por se lembrar o que aquilo na sua mão significava, recolhendo-a com vergonha. — E-Eu agradeço o sorvete e o papo – acrescentou com insegurança inexplicável, desviando o olhar para longe, qualquer lugar, mesmo sem prestar atenção para onde.

Uma mão gelada, intrusa e levemente trêmula, repousou no lado esquerdo de seu rosto, guiando-o para ver novamente o ciclista, que agora parecia analisar a face contundida de Jonathan com zelo e preocupação, mas com um misto de coragem surgindo naquele olhar diante da postura tomada para obter a atenção.

— Me chamo Robert, mas pode me chamar de Speedy, é como todos me chamam... – O sorriso que surgiu enquanto dizia seu nome, foi substituído por uma mancha rosada sobre as bochechas. — Sei que não é da minha conta e não vou perguntar o que aconteceu, Jonathan, mas se me permite dizer, o seu sorriso é bonito demais pra escondê-lo.


Notas Finais


Se é pra tombar, o Jonathan diz “tombei”.
Por que estou fazendo isso?

AAAAA!!! EU TAMBÉM NÃO SEI, DESCULPAAA!!! NUNCA MAIS USAREI SORVETE DE PISTACHE NUMA FIC!!! -q

HAUAHSUAHUAAHUSHAUAHSUAHUAHSUSHAUHAHA


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