I will leave my heart at the door
I won't say a word
They've all been said before, you know
So why don't we just play pretend
Like we're not scared of what's coming next
Or scared of having nothing left
Look, don't get me wrong
I know there is no tomorrow
All I ask is
If this is my last night with you
Hold me like I'm more than just a friend
Give me a memory I can use
Take me by the hand while we do what lovers do
It matters how this ends
Cause what if I never love again?
I don't need your honesty
It's already in your eyes and I'm sure my eyes, they speak for me
No one knows me like you do
And since you're the only one that matters, tell me who do I run to?
— All I Ask
Damon Salvatore P.O.V.
Fazia entorno de uma ou duas horas que eu havia acordado e não conseguido mais dormir. Na realidade, se não fosse pelas bebidas de ontem, eu não teria nem ao menos fechado meus olhos e não teria descansado a minha mente durante a noite. Era impossível. Agora, no relógio ao lado da minha cama, o mesmo que eu encarava durante um bom tempo sem praticamente piscar, marcava 9h30 da manhã. E, até então, não tive a iniciativa ou sequer coragem de levantar. Não queria enfrentar o mundo, os meus problemas. Não queria me olhar no espelho e visualizar minha figura horrível da qual eu sentia vergonha e desdém. Não queria procurar Elena e muito menos encará-la. Digo, é claro que eu queria vê-la, foi terrível ter que deixá-la daquele jeito no hospital e não ser capaz de poder oferecer ajuda e compaixão, que era o que ela mais precisava no momento. Foi uma dor cortante, meu coração implorava para voltar no momento em que sai de perto dela. Eu precisava vê-la mais uma vez, uma última vez, mas não era caradura o bastante e muito menos tinha a bravura de olhá-la nos olhos, segurá-la pelos braços com força e fazê-la acreditar em mim. Eu não podia fazer isso. Eu não podia cobrar nada dela. A vítima era ela, eu era o mentiroso miserável sem coração que só destruiu sua vida, suas esperanças e sonhos.
Eu estava dividido em dois. Não sabia como agir a seguir. E então, como se ouvisse os meus pensamentos e viesse em uma missão como o meu anjo da guarda, Stefan entrou pelo meu apartamento batendo portas e abrindo janelas. Gemi, sem ânimo, e voltei para debaixo das cobertas. Eu gostaria de ficar aqui para sempre. Ou então voltar no tempo e mudar tudo.
— Levanta, bela acormecida! — Ouvi a voz dele entrar pelo recinto e isso fez com que eu me encolhesse ainda mais. As cortinas foram abertas e, mesmo embaixo das cobertas, meus olhos queimaram pela luz do sol.
— Fecha a droga da cortina, Stefan! — Mandei, mas ele com certeza fingiu que não escutou.
Logo veio para cima de mim e me destapou. Levei as duas mãos para o rosto e o cobri. Minha cabeça latejava e meu estômago roncava. Não estava com humor para ir à lugar nenhum, não tinha condições de ficar em pé.
— Meu Deus! Tem um animal morto aqui? — Fechou o nariz com os dedos e fez uma careta. Revirei os olhos.
Eu estava fedido, eu sei que estava. No primeiro dia em que Elena permaneceu no hospital inconsciente, não vim para casa, pois não queria desgrudar os olhos dela por nenhum mísero de segundo, ou seja, acabei ficando sem banho ou qualquer tipo de higiene que fosse. No dia seguinte, quando ela acordou, a primeira coisa que fiz depois de ser expulso de lá, foi ir beber. É claro que eu estava cheirando mal.
— Maninho, sei que está preocupado comigo, mas tem mesmo que estar aqui? Não pode se retirar? Não quero companhia! — Eu não queria ser rude com ele, só queria ficar sozinho e me afundar no meu próprio sofrimento. Eu merecia.
— Nem mesmo a de Elena? — Perguntou cerrando os olhos. O fuzilei com o olhar por causa disso. Que pergunta besta era aquela? — Você me prometeu que iria ir vê-la hoje.
— Eu estava bêbado e emocional, poderia até ter falado que unicórnios existem e que eu estava prestes a virar um, com um arco-íris saindo pelo meu rabo.
Pela cara que Stefan fez, presumo que não tenha gostado nada de me ver falando desse jeito. Ele não gostava das minhas piadas e da minha maneira cômica e babaca de lidar com as coisas. Quando tínhamos algum obstáculo ou dificuldade pelo caminho, eu costumava fugir ou ser um completo imbecil.
— Não é engraçado, Damon. — Ele permaneceu sério e eu via a determinação nos seus olhos. Meu irmão não iria ir embora até conseguir o que queria de mim. — Eu sei que está com medo, sei que deve estar achando que não tem mais nada com Elena e que não adianta insistir em um caso perdido, mas... Acredito que você deva ir lá. Não só para ver como ela está, mas para saber o que será do futuro de vocês. — Soltei um riso fraco e sem humor pelo nariz com suas últimas palavras.
— Futuro? Qual futuro, Stefan? Não adianta, eu não tenho mais pelo que lutar, eu a perdi, não tem mais volta. — Até doía falar isso, mas era a verdade. Eu não era burro, eu conhecia Elena. Ela não iria me perdoar por tudo que a fiz passar.
— Como pode ter tanta certeza? Se ela fizesse alguma coisa para lhe machucar, assim, desse mesmo jeito... Você a perdoaria? — Franzi o cenho com a sua questão. Eu não sabia o porquê daquela pergunta, mas sabia a reposta dela.
— Infelizmente, sim. Eu a perdoaria, não importa o que tivesse feito. Eu sou louco por ela, a amo mais que tudo, como não poderia? — Suspirei, derrotado, percebendo o quão dependente eu era dela. Aquela garota havia tornado de mim uma outra pessoa.
— Então! Isso vale para os dois lados! Aquela garota te ama, Damon, como pode estar tão certo de que tudo está terminado?
Pensei por um minuto sobre aquilo. E se ele tivesse razão? E se, ao contrário do que penso, houvesse algo pelo que lutar? E se existisse uma mínima e remota chance dela me desculpar e tentar novamente ficar comigo? E se pudéssemos ser nós novamente? Esses pensamentos enchiam o meu peito de expectativas e aquecia o meu coração por um instante pela probabilidade.
— Mas... — Eu comecei a argumentar, baixinho. — Ela nunca disse isso pra mim. Sempre demonstrou amor e carinho, porém nunca falou com todas as palavras. Nunca disse eu te amo de volta. — Conclui, negando a mim mesmo esperanças.
— E isso é relevante? Quando duas pessoas se amam, Damon, não é necessário dizer eu te amo. Não é uma regra. O amor pode ser ilustrado de várias formas, no olhar, na compreensão, nas atitudes, nas palavras, no toque e tudo por aí que há de bonito para expressar seus sentimentos. — Meu Deus, meu irmão era um poeta. Um sábio. Ele sempre fora assim e acho que faz parte de sua essência. Sempre se importou com as pessoas e sempre teve uma visão ampla, sensata e correta do mundo, de mente aberta e, principalmente, de coração aberto. Eu o admirava. — E eu aposto que ela lhe deu todos os sinais para você deduzir por si mesmo, não é?
É claro que ela deu. Elena, desde o início, me deu todos os alertas possíveis, desde do aviso “ei, estou ficando afim de você” até o aviso “eu te amo, seu idiota”. Ela me deixou entrar na sua vida quando não queria mais dar espaço para ninguém, quando não queria mais se envolver e muito menos confiar novamente. Ela me fez lembrar do garoto bonzinho que eu costumava ser, pois viu que, por trás de tudo que eu aparentava ser, havia muito mais. Ela acreditou em mim e viu potencial onde não tinha. Ela me tirou do breu onde eu me encontrava e me fez ver tudo com clareza. Ela me fez sentir aquilo que eu jurei nunca sentir por alguém. Ela se entregou pra mim e me deu, de si, tudo aquilo que podia oferecer.
Sim, ela me amava. Eu sei que sim. Só não conseguia falar.
Agora muito menos, pensei.
— Tudo bem, Stefan, você pode até estar certo. Nós realmente podemos achar uma saída, mas... Como? Como iremos fazer isso? Como iremos superar o que aconteceu? — Isso ainda não estava claro e convincente para mim.
— Se vocês, de fato, se amam, vocês irão dar um jeito. Isso é certo. O amor é assim, meu irmão, pode não ser perfeito, mas quando se trata de vencer as complicações, contrariedades e contratempos, ele é a melhor resposta. E não há nada que duas pessoas destinadas a ficarem juntas possam fazer para mudar isso. Elas sempre encontram o caminho de volta uma para a outra e arranjam uma solução. — Sua mão estava tocando meu ombro em sinal de consolo e seu semblante firme e relaxado me passava sinceridade e certeza.
— Você é um verdadeiro filósofo, Stefan, muito melhor que Sócrates e Plutão. — Elogiei ele, sorrindo como um bobo. Ele era um irmão de ouro, gostaria de ter aproveitado mais, ter sido menos recalcado e ter cuidado mais dele, brincado mais com ele e, especialmente, ter conversado mais com ele. Eu certamente, hoje, seria uma pessoa melhor e teria aprendido muitas coisas. — Muito obrigado, bro. Isso significa muito para mim. Você acabou de me dar a coragem que me faltava. — Agradeci, sem jeito, socando de leve o seu ombro.
Nunca tínhamos nos abraçado, pelo menos, não depois de grandes. Isso era triste e constragedor.
— Só estou fazendo o meu trabalho, cuidando do meu irmão mais velho. — Ele fez piada e rolei os olhos com isso. Eu sabia que era o irmão mais velho que deveria cuidar do mais novo, mas o que eu posso fazer se ele saiu com mais juízo e cérebro do que eu? Isso se eu tivesse um. Quando eu estava a ponto de sair da cama, ele me puxou pelo braço, me mantendo no lugar. — Damon?
— Sim?
— Me perdoe.
Fiquei confuso. O que ele havia feito?
— Pelo quê? — Perguntei.
— Por tudo. Pela nossa infância. Pelo nosso pai. Pela nossa mãe. Por ter sido um pateta e não ter percebido o que você passava. Por ter te julgado ruim e achado que o culpado da história era você. Me desculpe por ter te deixado ir naquela noite em que saiu de casa e por ter te insultado com vários nomes. Me perdoe por, só agora, ver as coisas como elas de fato são. Me perdoe por começar a ser o irmão que você merece tarde demais.
Ele estava em prantos ao meio de seus pedidos. Parecia profundamente arrependido e sobrecarregado por muita coisa. Meus olhos, sem eu querer, inundaram de lágrimas. Nós dois sofríamos com isso e ambos nunca procuraram um ao outro para se redimir.
— Não, Stefan, não. Você não é culpado de nada disso. Você não sabia e era o mais inocente da história. Eu que peço perdão por ser mesquinha e achar que você fazia de propósito para chamar a atenção. Me desculpe por não enxergar que você não tinha nada a ver com o que acontecia dentro daquela casa e que sim Giuseppe era o único culpado. Ele e Lily. Me desculpe por não ter te protegido mais. E me desculpe, oh meu Deus, por favor me desculpe por isso... — Solucei alto, não conseguindo olhar para ele. A impressão que dava era que tínhamos regredido e voltado a ser aqueles dois menininhos ingênuos que brincavam de jogar terra para cima e escalavam as árvores para olhar a cidade de longe. — Me desculpe por ter te abandonado depois que o velho faleceu. Mamãe me mandou ir embora, mas eu não devia ter ido, eu devia ter ficado, ter ditado as regras, permanecido ao seu lado, tomado conta de você e te mantido longe daquela louca. Ou devia ter te trazido comigo... — E então, no meio do meu momento de pura fraqueza, ele me puxou para um abraço. O nosso primeiro abraço de verdade.
Era bom. Era aconchegante. O amor fraternal que eu sentia por ele, agora mais do que nunca, era imenso, quase não dava para suportar no peito. Lágrimas de tristeza, mas também de alegria, escorriam pelo meu rosto, e ele não estava diferente. O apertei ainda mais dentro dos meus braços e bati nas suas costas.
— Nenhum de nós é responsável. Nós dois fomos vítimas daqueles dois. Não devíamos estar nos desculpando. — Ele disse, se afastando de mim, fungando.
— Você tem razão.
— Pense no lado bom... O filho que Giuseppe tanto disse à você que era o seu verdadeiro orgulho, tornou-se gay. O que ele diria se soubesse, hã? — Falou rindo, provavelmente para quebrar o gelo.
— Isso não tem graça, Stefan. — Tentei falar sério, mas não consegui esconder o meio sorriso. Eu realmente ainda não tinha pensado nisso.
— Qual é, tem um pouquinho de graça, sim! É irônico! Imagine, ele iria ver que no fundo era você o menos pior de nós dois. Ele com certeza preferiria o bastardo.
Isso não era para ser engraçado, mas acabou sendo para nós. Acho que era porque agora, finalmente, estávamos livres de uma vez por todas disso, e éramos iguais, estávamos desprovidos de mágoas e mentiras, tínhamos o direito de rir da cara de Giuseppe, o qual queimava no fogo do inferno. Estávamos gargalhando do quão lixo de ser humano ele era.
— Tudo bem, chega de assunto, vá... Tome um banho, pelo amor de Deus, e escove esses dentes, ou então Elena irá lhe expulsar na mesma hora. — Assenti rindo ainda mais. Nós realmente tínhamos desperdiçado muito tempo, até que funcionávamos juntos. Ele não era tão ruim como eu imaginava e isso era bem surpreendente. — Vá ver sua garota.
Elena Gilbert P.O.V.
Meu médico me deu alta e garantiu que eu estava em um bom estado. Fisicamente, óbvio. Os cuidados agora poderiam acontecer em casa, com medicamentos, soro e muito repouso. Meus pais queriam me matar quando revelei que queria ir para a minha casa. “A sua casa verdadeira é com nós!” eles disseram, mas eu não quis ouvir. Agora eles se importavam, não é? Não quis entrar muito em detalhes na explicação que dei para eles, mas resumidamente conclui que não queria me aborrecer e sim ficar com Caroline, a qual me passava tranquilidade e iria me entender como ninguém, concedendo aquele colo bom de amiga que eu precisava. Eles aceitaram depois de muito discutirem. Eu queria esclarecer minha cabeça e não era indo para a mansão que eu teria êxito. Não queria que eles me fizessem um montão de perguntas e ainda me julgassem por ter engravidado. Mesmo tendo perdido o bebê, a ideia dele ter estado, em algum momento, dentro da minha barriga, não ia passar despercebida por eles.
Deus, como era doloroso pensar nisso. No caminho, fui chorando fortemente, o som agudo e alto ocupava o carro inteiro, fazendo o motorista me olhar apavorado e Caroline me apertar mais forte em seus braços. Minhas mãos agarravam meu ventre com força como se fosse trazê-lo de volta. Não sei exatamente o momento certo, mas passei a puxar meus cabelos e a arranhar meus braços com a intenção de me machucar e me fazer pagar pelo que fiz com o meu bebê. A loira ao meu lado ficou desesperada com a minha atitude e me imobilizou até chegarmos em casa.
Ela me deu vários remédios para dor quando entramos no apartamento, mas... Não era só isso. Com certeza no meio deles havia tranquilizantes, não reconheci dois deles. Ela me levou até o quarto e lá arrumou a cama direitinho para mim deitar. Em silêncio, sabendo que eu não tinha condições para conversar, ela arrumou meus travesseiros, me deu a mão e me ajudou a subir na cama, colocando minha perna com gesso para cima de três almofadas. Tudo era um borrão, eu estava aérea e não conseguia raciocinar. Não era sono, era incapacidade. O fato de estar abatida e completa de dores por todas as partes do meu corpo estava me derrubando aos poucos, me tirando aquela vontade que temos de viver e respirar.
Algumas horas se passaram e minha amiga veio me ver diversas vezes. Ela veio tentar conversar, mas eu continuei parada, sem muito animação, apenas assentindo e lhe dando respostas curtas e até mesmo grossas. Depois, no meio da tarde, ligou a televisão, me auxiliou na troca de posição, pois meu pescoço estava doendo e trouxe sanduíches, o qual dei duas pequenas mordidas e recusei. Não queria comer. Tivemos um breve discussão em função disso, mas não liguei. Continuei com os olhos fixos na tela de plasma e descobri que todos filmes, desenhos e séries TEM CRIANÇAS. Não há nenhum deles que não tenha um bebê, uma garotinha ou um garotinho. Isso era um absurdo. Me irritei e desliguei. Caroline veio me avisar que iria sair por, talvez, meia hora, em busca da nossa janta. Falei que estava tudo bem e que dali, tão cedo, eu não sairia. Foquei em olhar para o teto fixamente até, quem sabe, adormecer.
Então, em um súbito, ouvi minha janela se abrindo e nem isso me fez pular da cama, apenas virei o rosto, sem mover o corpo, e vi que se tratava de Damon. Ele estava de costas, entrando no meu quarto pé por pé, tentando não fazer barulho. Eu tinha esquecido desse detalhe, Damon, quando quer e está decidido, vira o verdadeiro homem-aranha em pessoa. Quando ele se virou, dando de cara comigo o observando, se assustou.
— Achei que estava dormindo. — Explicou. Seu rosto estava péssimo. Ele não parecia ter dormido nada. Seus cabelos estavam molhados e mal ajeitados, o que era estranho, pois era uma das prioridades dele na hora de sair. Seu semblante demonstrava nada mais que zelo e precaução. Ele se aproximou, devagar, como se estivesse prestes a dar o bote, temendo que eu fosse cuspir fogo nele a qualquer momento, chutar suas bolas, bater em seu peito e gritar feito uma louca. Mas não, eu não iria fazer nada disso. E o mais importante: eu não conseguia.
— Quer dizer que veio só porque achou que eu estava dormindo? — Perguntei. Meu Deus, eu parecia uma drogada, falava lentamente, pronunciando cada sílaba com paciência. — Por acaso está com medo de mim?
Ao sentar do meu lado na cama, um pouco distante de mim, ele me olhou nos olhos de forma carinhosa.
— Para falar a verdade, estou... Achei que fosse me colocar para fora assim que entrei, talvez até ameaçar a me atirar pela janela.
Como ele é lindo.
— Não, é claro que não! Como pode pensar tão pouco assim de mim? Eu de fato jogaria, não só ameaçaria.
Vi que ele sorriu largo com o meu tom de brincadeira, talvez vendo alguma luz no fim do túnel ao me ver mexendo com ele. Coloquei a mão sobre os lábios, evitando sorrir também. Eu não sei porque diabos falei aquilo. Como eu podia estar, praticamente, flertando com ele? Com o garoto que me machucou e tirou de mim a minha felicidade? Com o garoto que quebrou meu coração e despedaçou a minha alma?
— Não se preocupe, eu não vi o seu sorriso. — Ele garantiu quando me viu tentar esconder o riso.
Qual era o meu problema? Só podia ser os medicamentos me causando algum tipo de loucura ou amnésia. Eu não queria mostrar os dentes à ele e muito menos lhe mostrar confiança. Ele não podia ter esperanças falsas. Eu também não podia. Nós não tínhamos jeito. Tudo havia acabado.
— O que veio fazer aqui, Damon? — Suspirando fundo e pesado, eu perguntei de forma seca.
Ele se assustou com a minha mudança de humor repentina e ergueu a guarda, ficou na defensiva, hesitando e endurecendo a sua posição. Sua resposta não veio tão rápido quanto eu pensei que viria. Ele abaixou o olhar e olhou para as minhas mãos, focando em uma delas que tinha um arranhão profundo. Eu via vergonha na sua expressão, muito dela.
— Precisava te ver. — Falou, simplesmente, com a voz quase inaudível quebrando ao meio. Eu não sabia o que responder e vi que ele tinha mais o que falar, então fiquei em silêncio, esperando que ele se pronunciasse mais uma vez. Sua mão, com uma delicadeza incomum, se entrelaçou com a minha. Olhei para baixo e vi nossas dedos juntos, se encaixando, colados uns nos outros. O seu dedão estava acariciando o meu corte e seu semblante estava contorcido. Eu devia me afastar do contato, eu sei que devia, mas estava sensível e aquilo, de alguma forma, me fez bem. Me confortou. — Elena... — Ele sussurrou como uma súplica, como se estivesse segurando na garganta o choro.
— Não. — O interrompi, tendo força para afastar a minha pele da dele.
— Olha, eu sei... Eu sei que não há palavras no mundo que eu possa te dizer para amenizar isso que você está sentindo aí dentro. —Apontou para o meu coração. — Mas eu sei que você me ama. — Ao falar isso, eu o olhei surpresa. Como ele sabia? Era tão óbvio? — Eu vejo seus olhos marrons, Elena, eles me dizem tudo. Até mesmo agora, nesse momento, que eles estão cheios de machucados, e até mesmo um pouco furiosos, eu vejo o brilho, só meu, que eles tem ao me fitar. O sorriso que você ia me dar agora pouco, os míseros, mas significantes, segundos que você segurou a minha mão... Tudo isso prova o que eu já sei. E você não precisa me falar ou admitir, se não quiser, está tudo bem. Eu só preciso que aceite isso, uma última vez. Eu só preciso que repense nesse sentimento e analise bem. Quer mesmo jogá-lo fora?
Ao mesmo tempo que ele me empurrava do precipício, era cruel e impiedoso, desejando o meu fim, ele também me salvava, pegava nas minhas mãos e me puxava para cima. Como era possível o mesmo rosto lhe fazer tão bem, mas também trazer tanta dor? E, sim, eu o amo, nesse instante, nesse presente de agora. Amo tanto que dói. Dói amar uma pessoa que lhe magoou tanto. Você não consegue controlar e nem afastar o mal que ela te faz. Assim que ele entrou pelo quarto, meu peito doeu, todo as vozes no meu consciente avisavam para mandá-lo embora, mas o meu coração gritava por ele e pedia pela sua companhia, pedia pelo seu abraço e pelo seu beijo. Não consegui mandá-lo embora. Será que seria para sempre assim? Eu não conseguiria fazer a coisa certa, colocar um ponto final nessa relação?
— Não podemos continuar. É errado, é imprudente e é burro. Não faz sentido. Você me quebrou. Acabou com nós. — Minhas palavras pareciam ser facas afiadas que perfuraram seu peito.
— Não fala isso, por favor. Não me diz que acabou. — Ele pediu com os olhos azuis marejados e suplicantes, balando a cabeça de um lado para o outro. — Eu só tenho você, Elena. Você é a única coisa que me importa, sem isso, como eu vou viver? Eu não posso fazer isso. Eu não posso te deixar ir, escapar pelos meus dedos.
— Mas eu vou. — Afirmei com firmeza. — Assim que eu melhorar, irei para longe de Atlanta. Preciso sair, respirar novos ares e esquecer por um tempo você e todo o resto que aconteceu. — Expliquei o pensamento que eu estava colocando em prática na cama do hospital depois que Damon saiu de lá.
Foi um baque forte para ele. Damon pareceu em choque com a minha decisão e seus olhos arregalaram como duas bolitas grandes.
— Não, Elena, você não pode ir. Não, não... Eu... Eu não... Elena... — Ele tentava dizer algo, mas a emoção não deixava. Ele parecia estar sufocando, entrando em estado de nervos pelo que eu havia dito. — Você não pode simplesmente ir embora.
— Eu posso e vou. — Permaneci de forma consistente, mostrando segurança e convicção.
— Não, eu não vou deixar. — Ele estava chorando.
Ai, eu não aguento vê-lo assim, tão frágil... Ele está tão suplicante e parece tão triste...
Porém, fique forte, Elena, seja resistente.
— Você não tem que deixar nada, Damon. Eu decido o que fazer com a minha vida. E, no momento, a minha decisão é ficar bem longe de você. — Enquanto eu falava, ele apenas negava com a cabeça.
Isso ia ser difícil... Bem difícil. Ele não ia colaborar e não ia aceitar o nosso futuro separados. Eu via na sua cara o sentimento de negação estampado.
— E você acha que vai resolver? Fugir da gente? Correr pra longe de mim? Tentar escapar do inevitável? — Sim, eu estava tentando escapar. Sim, eu estava evitando o amor insuportavelmente insuportável que não ia embora e não se acabava mesmo depois de todas as mentiras. — Temos que superar o que aconteceu e tentar seguir em frente. Estávamos a dois passos da felicidade e ainda podemos estar, só precisamos fazer isso dar certo, lutar e acreditar em nós dois. — Ele aproximou de mim perigosamente. Sentou do meu lado e quase colou seu rosto no meu. Seu hálito quente com ar fresco de menta batia no meu rosto, me deixando inebriada, arrastando meus pensamentos para longe.
— Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. — Mudei de assunto, olhando no fundo dos seus olhos, tentando enxergar a pessoa que estava na minha frente. A verdadeira. — Cheguei a pensar que você era apenas uma projeção daquilo que eu sentia e que meu amor não me permitia ver a realidade. Acontece que eu estava certa. — Tudo que eu dizia parecia pesar para ele, em suas costas, como se a cada coisa que eu falava e mostrava sentir, sua culpa aumentava mais. — Eu não sei quem você é mais, Damon. Tudo passou a ser uma completa farsa, eu vi o quanto eu fui ridícula e boba. Você me quebrou de todas as formas nesse relacionamento e saiu ileso.
— Ileso? Elena, eu não posso explicar a dor que estou sentindo agora, vendo você se afastar mais e mais, partindo de um modo tão fácil. Me sinto com as mãos atadas, incapaz de fazer alguma coisa para impedir. Eu sei que fui cruel e desumano com você. Sei que, mesmo sabendo de todos os seus medos e dores, continuei mentindo e lhe fazendo mal. Sei que isso nos levou até onde estamos agora. Você, devastada por ter me amado e se decepcionado, e eu, por perder a pessoa mais fundamental na minha vida. Sei que tivemos efeitos e que perdemos um filho. Elena, eu sei de tudo isso e cada pedacinho dessa história está me quebrando por dentro. Nós dois estamos claramente machucados, mas sabe o que eu penso? Antes de tudo acontecer, antes de você desconfiar de mim, antes de Lily aparecer, antes de tudo vir à tona, estávamos felizes, não estávamos? Nosso amor era o bastante, não era? — Assenti, desse vez, soluçando. Por que ele fazia isso? Me pegava e me soltava, me acabando por dentro, me derrotava e enfim voltava. Por que me tinha nas mãos com todo esse poder? — Então, amor... — Falou, suavemente, pegando meu rosto com cuidado nas mãos. Fiz uma careta pela fissura que havia ali e ele, na mesma hora, passou a mão devagar pela ferida, como se quisesse aliviar o latejar dela. Fechei meus olhos e, por conta disso, as lágrimas caíram. Ele pegou algumas nos dedos antes delas alcançarem minhas bochechas. — Por que agora seria diferente?
Continuei olhando nos seus olhos, quase cedendo e acreditando nas suas palavras. Fitá-lo dessa maneira nunca era bom, pois eu sentia aquela emoção me demolir e meu estômago revirar.
— Porque tudo mudou, Damon. Não é mais a mesma coisa. Eu nunca mais vou voltar a confiar em você e você nunca mais vai me ter por inteiro. Esse amor é prejudicial, começou da maneira errada, com a pior das intuições, o que te faz pensar que não iria terminar em tragédia? Nada restou. Eu não quero continuar com algo que só trouxe desgraça e tristeza pra mim.
— Só? E o lado bom? Vai esquecer, deletar da mente? — Abaixei minha cabeça. — Eu sei que todos os seus outros relacionamentos foram sofridos e cheios de desilusões, mas você passou por cima de todos eles, não é? Chegou a pensar que a sua dor não teria fim e que não encontraria ninguém para lhe amar de verdade. Mas encontrou. — Ao perceber que ele falava de si mesmo, o olhei desconfiada. — Você sabe que é verdade. — Como se lesse os meus pensamentos, ele mais uma vez me lembrou que seu amor era real. — Não acha que, agora mais do que nunca, pode fazer isso de novo, com a minha ajuda? Vai mesmo deixar isso que temos se acabar, se privar de ser feliz e não se arriscar?
— Damon... Não.
O meu “não” definitivamente encerrou o assunto, ele viu a minha determinação. Apesar de hesitante, eu realmente não queria recomeçar e quebrar a cara de novo.
— Então, o que vai ser de nós? — Perguntou ele com um tom de medo terrível na voz.
— Eu sinceramente não sei.
Ficamos nos olhando depois disso, sem respostas, sem rumo. Vi ele abaixar a cabeça e segurar minha perna boa com força, como se estivesse me segurando.
— O que vai ser de mim sem você? — Ele perguntou mais para si mesmo, num som grave.
— No começo vai doer, muito, assim como está doendo agora. — Involuntariamente, peguei sua mão. Ele olhou para o meu toque e o cantinho da sua boca se levantou um pouquinho. — Seu cheiro vai demorar pra sair de mim, o seu rosto vai vai estar em todos os lugares... Vai machucar quando eu for em um lugar que costumávamos ir juntos. Poderei mudar o caminho, mas a memória permanecerá inerente. Vou lembrar de como era ser abraçada por você e do seu beijo... — Seus olhos cintilavam pelas lágrimas e seu semblante lastimoso apertava o meu peito. Ele estava entendendo o que aconteceria. — Com você vai ser a mesma coisa. Todos os dias vai querer fazer uma coisa diferente para não pensar em mim, mas quando, em algum momento do dia, colocar a cabeça no travesseiro e esvaziar os pensamentos, vai ter uma vontade louca de voltar a me ver. Vai querer retomar aquilo que tínhamos. Sentirá vontade nenhuma de tentar algo com outro alguém. — Enquanto eu falava o que podíamos esperar do amanhã, ele imaginava em seus pensamentos como seria e isso estava lhe fazendo sofrer por antecipação. — Pode doer hoje, amanhã, depois de amanhã, depois de uma semana e quem sabe nos próximos meses ou anos, mas uma hora vai passar. Teremos um novo caminho e um novo estado de espírito. Iremos perceber que, assim como os dias vêm e vão, nada é pra sempre e tudo melhora. Iremos, finalmente, entender que tomamos a melhor decisão e que foi por alguma razão, seja ela boa ou ruim, que tudo isso aconteceu. Ninguém passa pela vida de uma pessoa simplesmente por passar. Com certeza, mais para frente, vamos ter uma lição e aprender muito com ela. — Vi que ele me olhava com admiração, mesmo estando triste com a minha posição final. — Quem sabe, até lá, iremos encontrar alguém melhor, hã? — Brinquei, mas não detectei humor na minha voz. Doía sequer pensar nisso. Eu não me via com outro alguém futuramente, não queria estar com mais ninguém além dele.
— Não, eu não irei. Pra mim é você que eu quero e amo... Sempre será você. — Declarou, segurando meu queixo de forma terna.
Ele olhava para mim com amor, muito amor, e isso fazia meu coração martelar. Como suportar isso? O olhei de volta, retribuindo a intensidade com que ele me observava, sem tirar a atenção do seu rosto. Damon, calmamente, levantou a outra mão para segurar a minha bochecha e se aproximou ainda mais. A mão que segurava o meu queixo deslizou pela minha nuca com seus dedos tocando a minha orelha. Fiquei estática, ainda sentada na cama, agora respirando de forma curta e ofegante enquanto ele, gentil e ansioso ao mesmo tempo, me trazia para mais perto. Ele começou o beijo lento, aos poucos, apenas roçando os lábios nos meus, me deixando ainda mais sôfrega e sedenta pelo seu gosto. Eu precisava sentir mais uma vez.
— Eu posso? — Perguntou respirando pesado no meu rosto. Eu sabia que ele estava pedindo permissão apenas para ser cortês, pois seus olhos me diziam que ele iria fazer aquilo, eu dizendo que queria ou não. Assenti, passando a língua pelo lábio inferior, agarrando seu braço com força. Ele mordeu a boca, tentando se controlar. — Mas isso não vai contra os seus planos de me deixar? Não vai apenas dificultar o futuro?
Droga, ele está certo.
Mas eu não posso evitar.
— Vamos fingir que nada vai acontecer, vamos esquecer do medo... Vamos aproveitar essa chance de ficarmos juntos, só por uma noite. — Ele me olhou com incerteza, não confiando muito no que eu dizia. Parecia estar sonhando e tentando escutar bem o que ouvia. — Eu quero que você me beije.
Ele não pensou muito depois disso. Sua boca colidiu com a minha no segundo seguinte, suprimindo meu desejo. Gemi de surpresa quando ele não engatou um beijo demorado e arrastado e sim um beijo forte e rápido. Sua língua quis mergulhar com a minha e eu deixei. Meu Deus, como eu o amava. Fogos de artifícios explodiram no meu interior e fluíram por todo o meu corpo. Minha mão segurou seu cabelo com vontade e ele desceu os lábios pelo meu pescoço, indo em direção a linha do meu queixo até morder a pontinha do ouvido.
— Eu te amo tanto... — Ele sussurrou e me arrepiou dos pés a cabeça. Depois, me agarrou mais forte e com isso gemi de prazer, mas também pela dorzinha nas costas que me atingiu, o que fez ele se afastar na mesma hora.
— Desculpa, eu não me segurei. — Pediu ofegante. — Elena, eu sou um... Ah, você tá toda machucadinha e dolorida... Eu não devia...
— Shhh... — Eu o calei com o dedo indicador. — Eu quero. Eu quero que me ame uma última vez.
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