“Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos.”
No fim do penúltimo periodo do dia ele voltou, acompanhado de um dos fiscais de corredor.
Em seus exatos poucos centímetros a mais que Jimin.
Nas mesmas botas de combate.
Em seu olhar de desinteresse exatamente igual.
Na jaqueta surrada que ainda tinha pétalas do ultimo florescer da cerejeira perdidas no preto do couro.
Tudo parecia igual.
O coração, porém, já não era o mesmo.
Jimin olhou em segredo, exatamente como sempre fazia, mas dessa vez seus olhos foram capturados pelos do garoto mais velho, que agora finalmente parecia enxergar Jimin.
Park agora era parte do cenário.
Suga acenou levemente com a cabeça, como que saudando o menor, o pequeno rabisco de sorriso ornando-lhe os lábios finos, e aquilo fez com que valessem a pena todos os empurrões e indiferenças e tentativas falhas.
Significava que o maior reconhecia sua existência.
Que a aceitava de bom grado.
Que sentiria sua falta, caso chegasse atrasado para os encontros silenciosos sob a cerejeira.
Jimin se sentia bem.
Ergueu uma das mãos para que pudesse acenar energeticamente para o rapaz, mas este apenas vestiu a velha e companheira máscara impenetrável de indiferença ao correr os olhos pela sala, fazendo o Park rir. Suga sentou-se numa das mesas vazias, pouco se importando em atrapalhar a aula da professora de meia idade com o arrastar barulhento da madeira da cadeira em atrito com o chão, respirou fundo e atirou a cabeça para a frente, como se não conseguisse suportar um segundo daquela baboseira de olhos abertos.
Dormiria pelo resto do horário, Jimin sabia.
− Eu to louco ou o Senhor-Supremo-do-País-dos-Misantropos tava sorrindo pra você agorinha mesmo? Pelo amor de deus diga que eu estou louco, isso é assustador.
O ruivo apenas olhou-lhe e sorriu, daquele jeitinho de olhos apertados, rosto levemente rubro e bochechas cheias.
Hoseok se desesperou.
− AI MEU DEUS! CARALHO. PARK. JIMIN. Que macumba você fez pra isso estar acontecendo?− O modo com que o amigo exagerava sobre tudo era um tanto irritante, mas sempre fazia Jimin perder o controle e rir como uma hiena. Não saberia onde enfiar a cara se fosse repreendido justo pela professora de estética, mas não havia como se conter quando se tratava de Jung Hoseok
– Fale baixo, Hobi! – pediu, choroso.
Hoseok sequer pareceu ouvir as súplicas.
− Pelo amor de deus você conseguiu domar a fera? Você nao tá metido com droga, e aí ces acabaram amigos pelo mesmo traficante né? Pelo amor de deus Jimin se você fumar maconha aqui, vai preso.
−Hobi, pare de viajar. − O mais novo fez uma cara de irritação. − Eu já te disse que naquela vez eu não tava fumando. Eu tava segurando o cigarro do Suga.
− É. Primeiro cê tá segurando o cigarro do Suga, depois tá se encontrando com ele pelo colégio toda santa sexta. – Jimin arregalou os olhos em surpresa. Como Hoseok sabia daquilo? − Qual o próximo passo, ter um encontro-à-luz-de-velas? Bater nuns caras juntinhos como um... − saboreou as palavras, deixando-as sair lentamente − ...casal de amantes fora da lei? Vocês vão ser os novos Bonnie&Clyde? Sr e Sra Smith?
− Jung Hoseok!
− Que é, que é, eu só tô brincando. − Riu para o amigo, e por alguns segundos perdeu o olhar na direção da mesa de Min Suga, ficando estranhamente incomodado e sério demais para sua personalidade borbulhante.− Mas você realmente me deve explicações.
E então Jimin contou. Contou sobre a árvore e o desejo de Suga de ser “gênio”. Contou sobre a loja de conveniência e os poucos sorrisos que vira escaparem do rosto do menino. Contou sobre tudo que descobrira, e tudo lhe parecia fantástico demais até para si mesmo.
− Você é um puta dum poço de carência, Park.
− Ouch. Não esfregue as verdades assim na minha cara.
Hoseok riu, escandaloso.
Como sempre.
Foram repreendidos pela mulher mais velha que insistia em discorrer sobre aspectos das arquiteturas helênicas clássica e pós homérica ocidentais, e abaixaram as cabeças, curvando-se como podiam, sentados em suas carteiras, pedindo desculpas.
Deveria saber que uma conversa com Jung Hoseok só acaba quando Jung Hoseok diz que acaba.
Jimin logo sentiu uma bolinha de papel voar, parando diretamente na depressão entre suas coxas. Olhou para o amigo e este apenas gesticulava do Park para a bolinha, da bolinha para o Park, querendo que ele se apressasse na abertura da mensagem.
"Você vai me apresentar pra ele, não vai? Faz mais de um ano que eu tento conversar com esse cara, ele é um desafio de vida."
Pensou em dizer “não”. Não, não, não, mil vezes não, nada de bom sairia de um encontro desses.
Então ponderou por alguns segundo, vendo a cara de excitação de Hobi se transformar numa careta indignada pela demora, como se a resposta fosse óbvia.
Bem, Junte-se a eles se não pode com eles, não é esse o ditado?
Rabiscou uma resposta torta na folha amassada e atirou-a de volta para Hope, que ergueu ameaçadoramente uma sobrancelha fazendo a situação toda parecer dramática. Jimin apenas rolou os olhos e riu.
" Se ele não me matou até agora, pode ser que não te mate também. Hoje, na hora de buscar o Kookie pra noite obrigatória de sexta com os amigos."
Hoseok silabou um "é disso que eu to falando", enquanto rebolava da melhor maneira que podia em sua cadeira e Jimin tentou segurar o riso escandaloso que teimava em sair, – o que só serviu para deixá-lo mais escandaloso ainda − mas acabou gargalhando e novamente recebendo uma repreensão.
Suspirou fundo e abriu seu caderno na matéria. Deveria fazer algo de produtivo.
Seria um longo dia.
A tarde de sexta feira parecia absurdamente mais atrativa quando não havia um pequeno projeto de Sol berrando em seu ouvido de cinco em cinco minutos que “Jimin prometera apresentar Min Suga na sexta dos amigos no trabalho de Jungkook”.
− Você realmente veio até aqui só pra ficar me lembrando disso?
Hoseok riu, atirando-se do lado do amigo na cama pequena de solteiro do quarto do ruivo.
− Mas é claro. Tá na sua cara que você gosta de enrolar os outros, Park. Você ia dizer tipo: “Ah, que droga, esqueci que tinha que pegar o Jungkook”, com uma vozinha escrota e fingida no telefone. Ou ia mudar o horário.
Hobi o conhecia tão bem.
− Droga.
Ele gargalhou. Do jeito que fazia sempre.
Daquele jeito que iluminava cavernas e esquentava qualquer um dos polos da terra.
Nunca conseguia lhe negar nada.
Mas, ah! Como gostaria de poder negar-lhe Min Suga.
− Cara, você tá se roendo de ciúme. Relaxa. Não vou roubar seu novo amigo – o mais alto virou-se de lado de forma a encarar o rosto de Jimin. Pôde perceber a expressão de alarme passar por seu rosto, mas assim que presumiu que o amigo retrucaria, continuou. – Nem tente responder nada. Essa resposta vai ser mais pra você mesmo do que pra mim. Você tem que parar de se enganar, Chimchim.
E Jimin realmente se enganava demais.
Ignorava dores em potencial com o pretexto de que não as sentia quando ocupado com a dança, mesmo que fosse mentira.
Dizia a si mesmo todos os dias que não precisava de mais nada em sua vida perfeita, mesmo que suas relações fossem superficiais, sua vida fosse uma constante repetição, seus amigos pudessem partir a qualquer momento, ele mesmo pudesse partir a qualquer momento.
Jimin preferia não pensar.
Pensar tornaria as coisas reais demais, e ele não tinha tempo para o que era real.
Suspirou, imitando a posição de Hoseok na cama e encarando-o também, um de frente para o outro.
− Se eu não me enganar, vou ficar doido que nem você. Me deixe em paz.
− Jimin.
− O que?
− Você já é doido. Deixe fluir.
− Seok, não vem com good vibes, por favor. Não agora.
Outra gargalhada preencheu o cômodo.
Jimin gostava das pequenas covinhas que se formavam imediatamente acima dos cantos dos lábios de Hoseok quando sorria, pegou-se reparando.
Depois lembrou-se da afirmação.
“Estar com ciúmes de Suga”. Ora, não havia o menor cabimento.
Havia?
Jimin não era do tipo que sentia necessidade de possuir as pessoas.
Sentia ciúmes de Jung Hoseok e Jeon Jungkook, porque tinha medo de perdê-los.
Seria então medo de perder Min Suga para Hoseok? O amigo era tão melhor em tudo...
E Jimin era morno.
Percebeu que tinha medo de parecer pequeno, sem graça, sem qualquer atrativo que pudesse manter Suga interessado em continuar falando com ele.
Havia, sequer, algum atrativo?
Jimin sabia tocar um pouco de piano. Mas nada que se comparasse a composições profundas.
Cantava um pouco. Mas nada tão próximo do timbre angelical de Jungkook.
Dançava. E amava dançar.
Mas nunca seria Jung Hoseok.
Pessoas interessantes sempre acabam com pessoas interessantes, refletiu.
E não se considerava interessante o suficiente para que os olhos de Suga mantivessem-se fixos nos dele quando o sol de algo realmente brilhante e digno de observação estivesse a seu lado.
Posteriormente saberia.
Seu calor morno seria tudo que Yoongi mais precisaria.
E mais temeria.
− Chimchim, caralho! Olha a hora! A gente tem tipo, vinte minutos pra chegar lá!
Um clique em seu cérebro fez seu rosto automaticamente virar-se para o relógio em cima da escrivaninha, e realmente faltavam apenas dez minutos para as sete e meia.
Levantou apressado da cama, com um Hoseok tagarela berrando para que fosse rápido, ou acabariam perdendo o loiro que sempre saía no horário.
Ponderou realmente chegar atrasado, fingir uma dor de barriga, talvez tropeçar e bater com a cabeça, fingindo perder todas as memórias, como num clichê de novela romântica.
Mas logo se lembrou das palavras de Suga.
“−Vá para a sala. Assine o papel de presença. Espere o fim do turno. Seja, sei lá, um aluno respeitável. E me encontre na loja mais tarde.”
Rapidamente, buscou suas chaves, sua carteira e um tanto de dinheiro extra, enquanto decidia com Hoseok o que fariam para essa noite de sexta com os amigos.
− Por mim voltaríamos pra cá e nos entupiríamos de bebida, como sempre. – o castanho ditou.
− Seok, não! A gente precisa é sair de verdade, fazer alguma coisa maior hoje, voltar de madrugada... É o ultimo ano.
O último ano em que estariam juntos, Jimin sentiu-se murchar.
− Você quer acabar com meu dinheiro, com essas saídas. – Ele riu, e agarrou os ombros de Jimin, descendo com ele as escadas, pulando dois degraus por vez, quase como se sua vida dependesse disso.
Se percebeu a tristeza nos olhos pequenos de Jimin, não se pronunciou.
E o amigo estava grato por isso.
Jimin parou ao pé da escada apenas para fazer uma reverência à sua mãe e responder às tão comuns perguntas de mãe.
Sim, voltaria antes das duas da manhã.
Sim, estava levando dinheiro para emergências.
Sim, teria carona pra voltar e sim, evitaria contato com bebidas alcoólicas e diria não para qualquer tipo de entorpecente.
Mesmo que não fosse inteiramente verdade.
Assistiu Hoseok abraçá-la com ternura e calçou os sapatos à porta de casa, guiando o Jung pelo caminho mais próximo até a pequena loja de conveniências.
Chegaram mais rápido do que gostaria.
Já podia ver a cabeleira loura ao virar a esquina. E não sabia se corria com toda a sua força para o pequeno estabelecimento, ou se corria de volta para casa e se encolhia feito um caracol.
Ele não era assim. Era sociável e adorava que conversassem com ele e os amigos.
Então por que Suga tinha o efeito de acabar com todo o planejamento em sua cabeça? Não podia simplesmente seguir com o Script?
Será que nunca ficava mais fácil para Jimin?
Respirou fundo. Trouxe o amigo para mais perto e, limpando os sapatos no pequeno tapete de entrada, empurrou a porta – e seu próprio corpo – para dentro.
Pensou que congelaria, ou entraria em combustão, com o peso dos olhos caídos sob si.
Quando o sino pendurado acima do vão da porta avisara da presença de potenciais clientes, Suga parecia estar esperando pelo ruivo, ele percebeu. Então quando deu por conta da presença do garoto que lhe torrava a paciência todos os dias de sexta debaixo de sua árvore, sustentou o olhar por mais alguns segundos, como que para ter certeza do que estava vendo.
Ver Suga agora, em um ambiente totalmente diferente – no ambiente onde conversaram pela primeira vez−, e cercado de outras pessoas, era um tanto quanto estranho.
Hoseok empurrou as costas do amigo, que ainda olhava para o loiro, com o ombro. Jimin suspirou, e seguiu.
Aproximou-se do balcão, Hobi praticamente pulando do seu lado. Riu baixinho da animação do amigo, e fez um sinal tímido para que Suga o notasse.
O loiro parou de etiquetar as caixinhas de chiclete e virou-se na direção do Jung, uma das sobrancelhas erguidas, e a maior expressão de desgosto que podia oferecer.
Depois revirou os olhos e voltou-se para os chicletes, voltando a etiquetá-los.
– Ah. São vocês. – jogou-lhes, aparentemente desinteressado − Vão querer o que?
Sorriu um tanto na direção de Jimin enquanto falava, e se havia alguém que nunca imaginou calado, mas que agora não dizia sequer uma palavra, esse alguém era Jung Hoseok.
Riu da expressão perplexa do amigo, e pousou os olhos em Suga novamente.
Dessa vez o loiro o encarava de modo quase amigável, esperando uma resposta.
− Nós viemos buscar o Jungkook. É a noite-
− Noite de sexta obrigatória de reunião dos amigos. – Hoseok completou.
− É, é, tanto faz, Jung.
Era como se Suga realmente desprezasse a existência de Hobi, e seria cômico se não fosse trágico.
− Você sabe se ele tá lá nos fundos? – Jimin voltou a conversar, a animação claramente crescendo ao perceber que conseguia manter uma conversa com o loiro mesmo fora dos limites do colégio.
Suga pareceu forçar-se a lembrar de alguma coisa. Depois pôs no rosto aquela expressão de confusão, as sobrancelhas unidas, o lábio inferior quase formando um bico.
− Quem é Jungkook mesmo?
Jimin ficou pasmo.
Até Hoseok engasgou com a saliva.
Suga trabalhava há meses com Jeon e realmente não sabia seu nome?
Era absurdo pensar que Jungkook tinha razão quando disse que Suga poderia não saber sequer seu nome.
Quer dizer... Era?
− Você... realmente não sabe? – o de cabelos castanhos perguntou, um tanto quanto exageradamente pasmo.
− Se eu soubesse, por que caralhos me prolongaria numa conversa dizendo que não sei?
− Mas-
− É o seu colega de trabalho.−Jimin interviu, tentando deixar o clima leve novamente, ou ao menos não tão pesado – Nós sempre passamos aqui nas sextas feiras pra buscá-lo.
Suga ponderou.
− Jungkook o garoto alto e estranho que parece um coelho?
Hoseok fez aquela cara.
A de quem estava morrendo por dentro tentando segurar o riso.
Jimin não teve o mesmo reflexo e apenas gargalhou livremente.
Era a descrição fiel de Jeon Jungkook, feita pela pessoa mais aleatória possível.
− É. Esse mesmo. – Jimin recuperou-se da crise de riso. – Vamos sair daqui para um bar que conhecemos, no fim do turno de trabalho dele.
− É.− Hoseok se manifestou. Num segundo, Jimin pôde perceber uma luz passando pelos olhos do melhor amigo, e teve medo do que quer que estivesse vindo a seguir. – Ei, cara, você DEFINITIVAMENTE tem que vir com a gente.
Certo.
Claro.
O QUE?
De todas as asneiras e ideias estranhas de Jung Hoseok, convidar Min Suga para uma “noite num bar entre amigos” parecia a mais estúpida dentre elas.
Não sabia onde enfiar a cara.
Suga olhou para Hoseok novamente com aquela expressão confusa, e Jimin sentiu nesse momento seu pé sendo pisado com tanta força que provavelmente ficaria latejando por algumas horas.
Era o código que Hobi para que o apoiasse.
Que tipo de amigo fui arranjar, Pensou.
Era realmente uma boa ideia? Deus do céu, Hobi tambem conseguia mandar para o inferno todos os planejamentos de Jimin.
Talvez por isso gostasse tanto dos dois, de Hoseok e de Suga.
Pensando calmamente, não era como se o loiro fosse aceitar, de qualquer forma. Poderia transformar a situação numa alternativa, e ajudá-lo a dizer não ao convite educadamente.
Limpou a garganta, e apertou o braço do melhor amigo como que para avisar-lhe que lhe devia uma.
− É, você poderia vir junto. A gente não vai ficar na rua por muito tempo, vamos ser só nós três bebendo e falando coisas aleatórias. É claro que você pode recusar, não precisa ir se não quiser. Assim, de verdade. Não tem problema não ir.
Hoseok pisou em seu pé novamente.
Jimin beliscou seu ombro.
Ambos sorriram para Suga.
Suga com certeza os via como uma dupla de patetas.
− Tá. Eu não to fazendo nada mesmo. – o loiro se pronunciou, deixando novamente os dois amigos perplexos. O mais velho percebera o desconforto existente, e apenas deu de ombros – Que foi? Meu estoque de cervejas acabou e eu não tenho disposição pra levar um saco daqui pra casa a essa hora. To indo pela cerveja.
Certo, aquela era uma boa hora para dar meia volta e correr para casa.
− Jimin,− Jungkook finalmente apareceu, partindo da porta dos fundos e chegando perto do mais velho rapidamente, como se estivesse um tanto nervoso − posso falar com você um instantinho?
O ruivo olhou para Suga.
E para Hoseok.
Hoseok percebeu a oportunidade e apenas sinalizava para que fosse.
Suga quase pediu socorro com o olhar.
− É que...
− Só venha, hyung.
Suga realmentte estava quase a ponto de gritar por ajuda com os olhos.
− Vai, Jimin! Eu vou ficar aqui e papear com nosso amigo Suga. – Hoseok tentou passar o braço no ombro do loiro, mas ficou no ar quando o menor desviou habilmente do contato.
− Não esconsta, Jung.
É... aquilo não iria dar certo.
Ainda assim, considerando a expressão de poucos amigos de Jungkook, apenas decidiu acompanhá-lo, deixando os dois na parte posterior da loja enquanto esperavam por Jooheon e Yugyeom.
Pôde ouvir apenas parte do que seria uma conversa por alguns segundos antes que a porta dos fundos fosse fechada atrás de si.
− Então, Suga...
− Nem pense nisso.
− Yah! Por que você tem que ser tão ranzinza? Vamos lá, nós precisamos nos conhecer melhor se vamos sair juntos!
− Nem em um milhão de anos, Jung Hoseok. Só cale a boca.
− Eu te pago uma cerveja.
Uma pausa.
− Três e a gente pode começar a negociar.
− Fechado.
Jimin riu alto.
Ainda que o Min estivesse claramente desconfortável e fosse matá-lo quando estivessem sozinhos, era divertido ver Hobi tentar.
Seu riso, porém, não durou muito ao esbarrar-se na expressão séria de Jungkook.
− Você vai me dizer que não tem nada a ver com isso e que foi tudo ideia do Hobi, não vai? – Jungkook começou.
Ele ouvira.
Droga.
− O que é que eu posso fazer pra você não ficar irritado e ir com a gente? – fez sua melhor cara de arrependido com um toque de fofura, a que sabia que derretia Jungkook quando se irritava com algo estúpido que o ruivo fazia.
O mais novo revirou os olhos.
− Eu tenho escolha?
− Alguém mais tem que estar lá pra evitar que o Suga acabe dando um tiro no Hobi.
− Você fica me devendo uma das grandes. Eu não gosto dele.
− Eu sei.− e sabia, ainda que não entendesse toda a aversão do garoto.
Talvez tivesse algo a ver com o fato de que Suga não se importara o suficiente nem para aprender seu nome. Mas era só um palpite.
Só um palpite.
Estava prestes a sair do pequeno cômodo, quando a voz de Jungkook lhe trouxe novamente para a discussão que estavam tendo.
Soava mais grave. Um tanto mais profunda, um tanto mais triste, ousaria dizer.
− Vocês dois realmente se aproximaram, não é? – Jungkook encarava os pés quando Jimin finalmente virou-se em sua direção. Tinha as mãos nos bolsos e se balançava dos calcanhares às pontas dos pés, uma mania que tinha.
Jimin suspirou.
− Sim. – respondeu, sincero. Ouviu o dongsaeng suspirar, e correu para seu lado, ficando na ponta dos pés e alcançando seus ombros, abraçando-o de lado desajeitadamente por conta da diferença de altura. – Não é igual ao nosso “nós”, Jungkookie.
− Não é?
− Não. Vocês são a minha casa. Ele só precisa de alguém que seja o mesmo pra ele. No final do dia, você sabe, eu sempre vou voltar pra você. Pra vocês dois.
− Eu só me preocupo. Não quero que nada acabe te fazendo mal.
O mais novo abriu um sorriso doce, deixando-se diminuir de tamanho arqueando as costas, para que Jimin pudesse abraçá-lo melhor. Passou seu braço pela cintura do mais velho e assim, juntos como deveria ser para sempre, saíram do cômodo pequeno e apertado, sorrindo ante à pequena promessa silenciosa que validavam mais uma vez naquela situação.
Estariam juntos.
Quaisquer que fossem as circunstâncias.
Qualquer que fosse a tempestade.
Ainda que os olhos caídos lhe parecessem queimar.
Sobreviveria,
Pois sempre haveria uma parte de si vivendo em Jeon Jungkook.
− Eu sei, Kookie. Eu sei.
-
Jimin ainda esperou à porta por Jungkook por alguns instantes, já que a criança avoada havia esquecido-se de buscar o casaco nos fundos da loja. Pôde ouvir um resmungar alto vindo de Hoseok e a voz um tanto rouca e levemente alterada de Suga. No mesmo momento, dirigiu-se ao balcão, pronto a apartar qualquer briga que pudesse estar acontecendo naquele lugar.
Estava redondamente enganado se achou que encontraria duas pessoas prestes a se estapearem.
− É claro que não dá pra comparar! A qualidade da música é testada de verdade quando você passa pros monitores. Fone de ouvido não te passa a vibe correta na hora de remixar.
− É o que eu sempre falo, caralho! Jung Hoseok, você acabou de ganhar uma cerveja.
− Eu ainda vou ter que te pagar uma, que droga de prêmio é esse?
− Eu to sendo generoso porque você entende da coisa, não enche o meu saco demais ou eu soco a sua cara.
− Não tá mais aqui quem falou.
Viu Hoseok rir, e assistiu maravilhado enquanto Suga abria um sorriso tão natural quanto...
Quanto...
Não sabia dizer quando o vira sorrir daquela maneira.
Talvez nunca tivesse visto.
Balançou a cabeça, afastando quaisquer pensamentos inoportunos sobre sua falta de atrativos. Jungkook materializou-se ao seu lado, agasalhado e pronto para sair. No mesmo momento Jooheon e Yugyeom passaram pela porta para a troca de turnos, silenciando os dois garotos que conversavam animadamente sobre música no balcão.
Suga dirigiu-se aos fundos imediatamente, procurando por sua mochila e seu casaco. Ao passar por Jimin e Jungkook, ignorou completamente a presença do mais alto e anuiu brevemente para o menor, deixando que o quase-sorriso costumeiro emoldurasse seu rosto e desse novas formas a ele.
Formas que Jimin ainda não conhecia, mas que estava pronto para descobrir.
Mesmo que demorasse.
Mesmo que fosse preciso passar por todas as estações para voltar à primavera e se sentar livremente à sombra de uma árvore ao lado de Suga.
Eram quase dez quando finalmente saíram da loja de conveniências. Que os visse, acharia a cena um tanto comum: Apenas quatro amigos reunidos à porta de uma loja, prontos a aproveitar a noite e a viver tudo que existia para além da madrugada.
Jungkook foi o primeiro a se mover, seguido de perto por Hoseok, que o abraçava de lado e tentava melhorar seu humor daquele jeito tão sol que tinha.
Jimin olhou novamente para o amigo, e lembrou-se de quão facilmente conseguira conversar com o loiro agora a seu lado.
Às vezes desejava ter a confiança do amigo. Naquela situação então, estava mais assustado ainda. Tinha medo que a noite acabasse sendo terrível para Suga, tinha medo de acabar parecendo comum demais. Sobre o que falariam? Jimin era bicho de primaveras e risos soltos, frases bobas e brincadeiras fora de hora. Suga parecia feito para a tempestade, coberto pela cortina de ferro dos palavrões, poucas frases, cabelos descoloridos e sorrisos de canto.
Quis muito ir para casa.
Muito mesmo.
Então encontrara, novamente naquela noite, os olhos caídos encarando-lhe como se tivessem o poder de queimá-lo por inteiro num milésimo de segundo.
Os olhos que, num futuro próximo, sempre o fariam caminhar para frente.
Ainda que quisesse recuar.
Suga o observava sem pudor algum, sem hesitação nenhuma.
− Você vai ficar aí parado?
− Sabe, você realmente não precisa ir se não quiser. Eu não quis invadir seu espaço, é só que Hoseok-
−Jimin, você fala demais. – o loiro procurou por um cigarro dentro do bolso do casaco, e por um momento deixou-se admirar o céu escuro da noite que se anunciava.
O mais novo seguiu o seu olhar.
Era lindo, o céu.
Um infinito negro que tinha o poder de hipnotizar quem quer que parasse por tempo suficiente para acostumar-se à escuridão e passar a ver as estrelas, escondidas na claridade do cotidiano.
Sentia que olhar para o céu em noites limpas como aquela, se já o tivesse feito, teriam o mesmo efeito que olhar para dentro dos olhos de Suga. Com certeza teriam.
Teriam?
Ousou descer os olhos para o garoto ao seu lado. Correu-os pelo maxilar levemente desenhado, pela boca levemente aberta... e parou nos olhos.
Tinha tanta curiosidade, tanto a perguntar, tanto a conhecer.
E ainda assim...
Ainda assim queria mantê-lo daquela forma.
O infinito sobre o qual jamais saberia muito.
A escuridão que, sabia, lhe engoliria se chegasse muito perto.
O motivo pelo qual desejava ser a melhor versão de si mesmo.
Suga desceu os olhos para o rosto de Jimin.
Jimin nunca esteve tão nervoso.
Ainda assim, não recuou.
Não desviou o olhar.
Queria saber até que ponto seu eu caberia no infinito de cor escura dos olhos de Min Suga.
Queria saber se havia espaço, ainda que no cantinho atrás da porta, ou em cima da prateleira mais abarrotada, ou em algum armário de coisas antigas.
Queria saber se podia ficar.
Se Suga ficaria por ele, caso pedisse.
Nenhum dos dois quebrou o contato, nem por um segundo. Era como se realmente enxergassem um ao outro pela primeira vez.
E Jimin pôde perceber, enquanto via e era visto, que não era tão pequeno quanto acreditava.
Viu certo brilho nos olhos do louro, como se estivesse de certa forma feliz de estar ali.
Feliz de estar com Jimin.
− As noites de sexta com os amigos podem ser um saco – advertiu mais uma vez, sem realmente oferecer a Suga a opção de ir embora dessa vez.
Queria que Suga ficasse.
− Eu concordei com isso, Park. Pare de pensar demais e só faça a minha noite valer a pena.
Sorriu.
Era uma boa vida.
E ele a aproveitaria ao máximo, ainda que não soubesse muito bem a profundidade do infinito no qual estava se atirando.
− Pode deixar. Eu vou fazer valer a pena.
“Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.”
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.