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História AMÉRICA - Capítulo 02


Escrita por: foolsliamwgold

Capítulo 3 - Capítulo 02


Liam

Minha cabeça dói tanto, que até parece que me bateram com tacos de beisebol no crânio. Preciso me lembrar de não beber tanto, mas eu sempre esqueço quando começo a beber.
No espelho acima da pia do banheiro, vejo meu rosto morto. Os olhos estão raiados pelo vermelho que denuncia a minha noite de bebedeira, que eu mal me lembro do que aconteceu. Na verdade nem sei como vim embora.

Pego meu celular do bolso da minha calça, e procuro por alguma mensagem de Bradley, mas não vejo nenhuma. Essa puta cretina nem para me mandar uma mensagem serve. Me traí e não tem a coragem de pedir desculpas.

Tá decidido, nunca mais vou me apaixonar novamente. De agora em diante, vou só usar as mulheres para me satisfazer, sem nada de relacionamento. Só sexo.

(...)

Pago o rapaz do caixa, e pego o saco com pães e analgésicos, já que minha resseca ainda não passou completamente. Saio do estabelecimento com um cigarro preso entre meus dentes, e caminho para o meu carro parado do outro lado da rua. Abro a porta dele, jogo as sacolas no banco do passageiro, e entro nele.

Olho para a rua enquanto enfio a chave no carro, e instantaneamente fico imóvel vendo a mesma garota que conversou comigo ontem na boate, atravessando a rua. Ela usa um vestido rodado cheio de maçãs verdes, e um laço também verde na cabeça. De longe ela é a garota mais brega que eu conheço, mas não nego que é bonita.

O que impressiona é que mesmo sem guia, ou uma pessoa ao seu lado, ela anda confiante sabendo para onde vai. Me pergunto se ela é mesmo cega para se comportar tão normalmente, como uma pessoa que enxerga.

Vejo um ônibus fazendo uma curva para passar exatamente na rua que ela está, me congelando por dentro. Ela ainda está distante da calçada, e posso imaginar sua cabeça com lacinho verde sendo esmagada pelos pneus do ônibus.

Saio do carro assim que o ônibus está preste a passar pela rua que ela está, e grito:

- Cuidado!

Ela se vira para mim seguindo o som da minha voz, e o ônibus que está quase em cima dela, freia. O som do pneu no asfalto é ensurdecedor, me arrancando uma careta. Mas me acalma em saber que o motorista parou a tempo de alguma tragédia.

Corro até a garota, que está assustada.

- Ei, tá tudo bem? - pergunto olhando suas sobrancelhas trêmulas de medo.

- Liam o que está fazendo aqui?

Como ela sabe o meu nome?

- Eu estava no mercado, e te vi quase sendo atropelada. Porque não têm ninguém contigo?

O motorista e algumas pessoas da rua vêem até nós para perguntar se está tudo bem, o que me deixa longe da garota, e sem chances dela me esclarecer algumas coisas.

- Cadê seus pais? Precisamos ligar para eles - uma mulher morena diz.

- Não precisa, eu estou bem. Não aconteceu nada. - A cega fala já começando a se irritar com tantas pessoas preocupadas por algo que nem foi grave.

Passo por dois homens que estão na minha frente, e a alcanço. Seguro em sua mão, e seus dedos apertam a minha pele como se ela soubesse que sou eu. Saio levando ela para o meu carro, longe de qualquer tumulto. Passo minhas compras para o banco de trás, e ponho a garota no lugar. Volto para o lado do motorista, e dou a partida para qualquer lugar longe daquelas pessoas preocupadas por nada.

- Está me levando para onde? - ela pergunta alguns segundos depois de silêncio.

- Hum, para a minha casa - respondo sem na verdade ter pensado em levar ela até lá, mas agora me parece uma boa opção.

- Ok, obrigada. - Passa as mãos sobre a saia do seu vestido, fazendo algumas dobrinhas dele ficarem retas.

Ela parece pensativa, enquanto mira seu rosto para frente, como quem observa a rua. Mesmo querendo fazer algumas perguntas à ela, eu me contenho e continuo a dirigir.

Não entendo porque estou me preocupando com essa garota. Ok que ela me distraiu um pouco ontem, e eu fiquei com medo dela quase ser atropelada hoje, mas como eu me conheço, deixaria ela na rua para alguém a ajudar, não seria eu o boa alma.

Provavelmente eu esteja tocado por ela ser cega, claro nunca conheci pessoas cegas antes, e mesmo que eu tente ser frio com as pessoas, tenho a educação que minha mãe sempre me ensinou tanto.

Estaciono na garagem da minha casa, e ajudo a garota a descer do carro. Ela segura em meu braço com firmeza, enquanto caminho com ela para dentro da minha casa. Ainda não sei pra quê estou a trazendo para cá, muito menos se é a coisa certa, mas se já estamos aqui, vamos ver no que dá.
- Quer água? Suco? - ofereço depois de a colocar sentada no sofá. Agradeço por ser cega e não poder ver que a minha casa está uma bagunça só. Há roupas espalhadas pelo chão da sala, e uma pilha de louças sujas na pia. Se minha mãe aparecer por aqui, provavelmente vai me insultar de todos os xingamentos possível.

- Vodka, porfavor - diz.

Meus olhos se arregalam surpresos pelo seu pedido. Ela é tão ousada e meiga ao mesmo tempo, isso me intriga até.

- Têm certeza? Você pode ficar zonza e ver tudo embaçado...

Ela ri alto, me fazendo perceber a besteira em que eu disse. Me sinto como uma criança envergonhada por algo que falou, e novamente fico embaraçado pela situação. Tenho que lembrar que algumas coisas que falo para qualquer pessoa, não posso falar para ela, porque não vale de nada dizer - lhe.

- Com gelo - acrescenta depois que para de ri.

Caminho para a cozinha, e abro a dispensa onde guardo várias garrafas de bebidas. A de vodka está pela metade, me fazendo lembrar que a bebi na última vez porque havia brigado com Bradley. Ela saiu com alguns amigos, sem ao menos ter me convidado, e além disso mentiu dizendo que estava doente, só para quê eu não fosse até sua casa.

Levo um copo cheio com vodka e gelo para a cega, que assim que o pega, dá um longo gole na bebida. Eu fico ao seu lado observando ela cheio de curiosidade, surpresa, e medo. Deus lá sabe o que essa garota está planejando, ela já provou que mesmo sendo cega é bem inteligente, e independente. Quem não ficaria com medo dela fazer algo?

- Senta ai Liam, sei que está curioso sobre alguma coisa. - Ela fala, me confirmando que eu tenho mesmo motivos para ter medo.

Mas de qualquer forma, eu tenho a vantagem da visão se ela tentar algo contra mim.

Sento no sofá ao lado dela. Ela gira os cubos de gelo no copo, e bebe mais um pouco da vodka. Observo seus lábios ficarem rosados por causa do líquido gelado, e sua língua desliza entre eles devagar.

- Se lembra de mim? - pergunta me tirando o foco da sua boca.

- Sim...Adelaide certo? - me arrisco, sem lembrar do nome que ela disse que se chamava.

- América - corrige, sorrindo mais uma vez.

- Isso, América. - Passo a mão sobre meu cabelo, arrumando alguns fios bagunçados. Não que isso faça diferença para ela. - É mais fácil te chamar de cega. - Disparo sem pensar muito, e por um minuto me sinto mal por imaginar que ela tenha se ofendido. Mas a risada que ela solta me acalma, tirando o peso da consciência que já estava se formando.

- Não sabia que era engraçado assim.

- Você me conheceu em um momento não tão bom.

- Se vingou ontem?

- Não - entorto a boca. - Acho que não vale mais a pena. Bradley vai ter sua lição algum dia.

América fica alguns segundos em silêncio como se pensasse no quê eu disse.

- Você é legal Liam, um dia vai encontrar uma boa pessoa para você. - Fala, me deixando pensativo.

Já ficou tão impossível encontrar uma pessoa que seja a certa para mim, que não acho que um dia isso irá acontecer. E voltando a lembrar da minha promessa, eu não quero mais relacionamentos.

- Você sempre foi assim? - pergunto mudando o rumo do assunto.

- Assim como? - suas sobrancelhas se franzem.

- Cega. - Esclareço.

O assunto parece a incomodar, já que ela começa a girar seus polegares em volta um do outro. Mas eu honestamente não me importo, quero mesmo é matar a minha curiosidade.

- Sim, - responde segundos depois de silêncio - sempre fui cega. Nunca enxerguei nada na minha vida.

- Isso deve ser horrível - eu digo com pena dela. Não enxergar as coisas que toca, ou que sente, me parece cruel demais.

- Não é. - Fala, me deixando confuso.

- Como não? Você não ver as coisas, não sabe como são...

- Liam, você não pode achar ruim ser cega, sendo que nunca enxergou. Eu não me sinto diferente que você por não ver, porque eu não sei o que é ver, e você não sabe o que é ser cega. - Sua voz é mansa, como quem conta histórias de dormir para criancas.

Ela é tão inteligente. Se somar a inteligência de todas as meninas que já fiquei, ainda sim não chega perto da dela. 

- Você então não sente falta enxergar?
- Como vou sentir falta de algo que eu nunca tive?

Ela bebe o resto da vodka, enquanto um sorriso se abre em meu rosto. Ela é demais mesmo.

(...)

Deixo América na porta da sua casa. Não é uma casa tão grande, mas também não têm o porque dela ser, já que América mora com seu pai e sua mãe. Ela me disse que adora sua casa por saber onde cada coisa está, e por ter o melhor quarto que poderia ter.

Não ficamos tanto tempo conversando, mas algumas coisas básicas nós falamos.

- Obrigada Liam - tira o seu cinto de segurança.

- Por nada - observo ela abrir a porta do carro, e logo depois sai dele.

América se vira para fechar a porta, e nisso se inclina sobre a janela.

- Vamos sair? - pergunta.

Ela é bem direta nas perguntas, não é como algumas pessoas que para tomar uma iniciativa precisa pensar tanto.

O sair com ela me faz refletir. Ela quer sair tipo em um encontro? Ou seria apenas sair para sei lá, só sair? América tem interesse em mim?

- Sábado às 17 horas estarei livre - ela fala sem esperar alguma resposta minha.

- América...

- Me busque aqui, vou te esperar. Até mais Liam - se despede, e gira seus calcanhares para ir para sua casa.

Fico parado sem reação. Acabo de ter um encontro marcado sem ao menos dizer una palavra sobre isso. O quão estranho tudo o que está acontecendo é? E eu ao menos posso recusar, já foi marcado e não aparecer aqui no sábado muito provável vai decepcionar a América. Não que eu me importe.

Continua... 



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