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História Among the Shadows - Capítulo 36- A dor precisa ser sentida


Escrita por: IzaaBlack

Notas do Autor


Hey
Demorei mais do que o previsto, mas isso deve-se ao fato de que estou lidando com a entrada na faculdade e tal... Enfim, como eu disse antes estamos basicamente na reta final. Ontem depois que terminei o capitulo estava pensando sobre isso, o roteiro em si, e se eu conseguir encaixar tudo como o planejado, temos apenas mais dois capitulos pela frente. Então eu já vou agradecendo vocês que me acompanharam até aqui, e também pedindo pra quem não favoritou ou comentou ainda que faça isso nesses últimos capítulos, isso vai fazer uma autora feliz pra carambaaaaaaaa.
Obrigada a quem comentou no anterior, e a quem favoritou nesse tempo.
Boa leitura, pessoal.
bjss

Capítulo 36 - Capítulo 36- A dor precisa ser sentida


POV Allyra

Ainda com a mente em branco e os pedaços de madeira em mãos, tenho a vaga noção de Daryl se aproximando. Ergo os olhos para fixar nos seus e um pouco de mim reage, se tranquiliza.

-Allyra?- chama baixinho, movendo as mãos sobre as minhas e pegando os pedaços do taco, me fazendo soltar.

Pisco algumas vezes, tentando me obrigar a focar no presente  e em onde estou. Em quem eu sou. Solto a respiração pela boca e ergo a cabeça ao mesmo tempo em que ajeito a minha coluna. Estou mais no modo automático que qualquer coisa.

Aperto as mãos de Daryl nas minhas, me sentindo um pouco como eu mesma e um tanto mais segura, para então me virar para os poucos e patéticos salvadores restantes.  Estão alvoraçados ao mesmo tempo que encurralados.

-Acho que é o fim, não é?- pergunto sem emoção, a voz saindo dura e sem abertura para negações. Olho séria para eles, e vejo um vislumbre de medo e respeito.

A sensação é boa, e entendo que talvez esse tenha sido um dos fatores para a queda de Negan nesse mundo de loucura. O poder vicia.  Armas caem no chão aos montes, em sincronia, fazendo um baque seco contra o chão de terra.

-Revistem todos eles, tirem todas as facas e qualquer outra arma- digo para ninguém em especial, e logo depois Tara, Aaron e Jesus estão revistando-os, enquanto  Morgan, Carol e outros mantem as armas preparadas.

Não me preocupo realmente, uma vez que não acho que sejam burros o suficiente para reagir.

-Simon? – pergunto  a Daryl, que me oferece um sorriso de canto.

-Dwight também- diz e eu aceno satisfeita. – Spencer e Eugene? Não os vimos ainda.

-Traidores- informo e ele acena, me dizendo com os olhos que já sabia- Spencer está morto, Negan o matou. Já Eugene não sei.

-Vou encontrar o filho da puta- diz e eu aceno. Gostaria de encontra-lo também.

Sem que eu espere os braços de Daryl estão ao meu redor, apertando-me contra seu corpo, me preenchendo com calor e carinho. Algo dentro de mim se aquece e eu aperto meu rosto contra seu pescoço.

-Fiquei tão preocupado- resmunga e eu sinto lagrimas no fundo de meus olhos. Trinco os dentes, evitando que essas caiam. Procuro força dentro de mim quando ele se afasta.

Jesus se aproxima e me lança um sorriso.

-Que bom que está bem- diz e eu aceno em concordância- Tentei chegar antes que te alcançassem...

-Ah- digo me lembrando do vulto que vi tentar se aproximar- Era você. Tudo bem, estou  bem.

Daryl entrelaça os dedos nos meus, e me puxa para ir até Rick. John aparece em algum momento, me abraçando  com força e resmungando, o que me tras um sorriso rápido.

Rick, Ezekiel e Maggie discutem sobre os sobreviventes, os trabalhadores e os salvadores que se renderam.  Não dou muita atenção, apenas me encosto na arvore mais próxima, sabendo que logo teremos que entrar na fabrica agora conquistada, mas sem muita vontade disso.

Analiso o Santuario de longe. Mesmo os walkers  que antes foram usados de barreira agora se limitam a poucos retardatários patéticos. Portas e janelas quebradas, pessoas de confiança andando pelos corredores em ultimas varreduras. 

-Vamos entrar-me chama Daryl e volto os olhos para ele por alguns segundos.- Juntaram todos para alguns anúncios ou algo assim.

Sorrio de lado, sabendo que ele gosta tanto das diplomacias quanto eu.  Estendo a mão e pego na sua, seguindo para dentro a passos lentos. Ele parece tenso, preocupado, e não sei se é sobre mim ou se é sobre tudo.

Ouço uma movimentação em uma sala a esquerda e paro bruscamente, virando para ver o que é. A sala está trancada e pelo local onde estamos a janela deve dar para fora. John se vira franzindo a testa e pensando o mesmo que eu.

-Fugitivos- murmura Daryl irritado, soltando minha mão e se afastando para  arrombar a porta. Limito-me a dar espaço. John e Rick pegam em armas.

A porta se escancara depois do golpe e então podemos  ver com clareza Eugene planejando pular a  janela, acompanhado do que acredito ser o ultimo tenente vivo de Negan, que por sua vez segura minha lança. Gostaria de dizer que meu sangue se agitou em minhas veias por ódio, mas estaria mentindo. Não estou ligada o suficiente para sentir muita coisa.

O Dixon avança contra Eugene cheio de ódio e o soca diretamente no rosto, o que faz com que ele caia no chão como um saco de batatas.  O outro cara ergue minha lança para meu homem e isso me deixa um tanto quanto exasperada. Daryl  ergue a arma sem nada mais que  um olhar  rápido e atira na cabeça do cara.

-Você achou que ia poder se livrar, seu pedaço de merda?- diz irado, puxando Eugene pela gola e o sufocando contra a parede- Que poderia por minha mulher em risco e sair dessa vivo?

-Desculpe Daryl, desculpe- murmura entre uma arquejada e outra, desespero dançando em seus olhos. –Eu estava com medo, só isso. Tentei um acordo.

-Enfie seu acordo no cu- responde dando outro soco e então puxando a arma. O medo de Eugene é tão forte que acho que ele vai se mijar a qualquer momento. Rick dá um passo para dentro da cena, e Rosita aparece na porta, mas nada disso pode mudar o que está acontecendo. Nada muda o que Daryl vai fazer.

O tiro ecoa pela sala e o corpo sem vida de Eugene escorrega para o chão. Não me sinto bem, e tampouco me sinto mal. Apenas acontece. 

Daryl passa por cima do corpo, pega minha lança do chão e volta para perto de mim, me entregando. Sinto-me um pouco melhor ao colocar a lança de volta no suporte, mas meu coração ainda dói e ainda estou vazia. Aceno em agradecimento e deixo que pegue minha mão.

Seguimos para o pátio, onde os líderes fazem seus discursos. John se oferece para lidar com os trabalhadores e sei que vai fazer um trabalho excepcional.  Não dou tanta atenção quanto gostaria, ocupada demais organizando a bagunça em minha mente.

(...)

Deixo que Daryl me arraste para o carro, e então me leve para Alexandria. Não falo muito, e tento não pensar também. Sinto como se um nó permanecesse constantemente em minha garganta, mas permaneço o mais firme que posso, com os olhos fixos na estrada além de nós.

 O percurso não é grande. Ou talvez eu não tenha conseguido acompanhar o tempo muito bem.  Daryl está completamente inquieto e preocupado, mas não consigo nem mesmo me dar ao trabalho de acama-lo. Assim que o carro para, salto para fora e sigo a passos rápidos em direção a nossa casa. Carl se aproxima correndo e me abraça, e eu retribuo meio que no automático.

Ele pergunta algo. Não entendo ou processo, apenas me desvencilho em silencio e sigo em frente. Bato a porta atrás de mim com um baque seco e subo a escada em passos rápidos. Preciso chorar, preciso surtar, mas nada vem. Então apenas fico ali, olhando para o nada e sentindo minhas mãos tremerem, até que a porta é aberta lá embaixo e o barulho me tira do torpor em que me encontro.

Entro no banheiro em passos rápidos e me deixo escorregar até o chão. Ouço a movimentação pesada no quarto e sei que é Daryl. Eu sempre sei quando é ele. Os passos contra o assoalho me dizem que ele está andando de um lado para o outro, e isso me faz pensar em um animal selvagem encurralado e nervoso.

-Allyra?- pergunta parando bruscamente, e sei que está próximo a porta. Talvez encostado.

Arranho a garganta, buscando minha voz. É como se eu simplesmente estivesse em um deserto durante todo o dia, e tudo em mim se resume a sequidão e cansaço.

-Sim?- pergunto e mesmo minha voz parece estranha.

Silêncio. Ele não sabe lidar com isso. Sorrio para mim mesma e suspiro. Eu também não sei.

-Estou aqui- é tudo o que ele diz, mas sei o que quer dizer. Ele está ali por mim. Sorrio, ainda sentada no chão, com os olhos fixos na pia.

Eu preciso chorar e colocar isso para fora, mas não vou conseguir fazer isso assim. Com ele ali, lidando com minha dor junto comigo.  Não posso colocar isso em cima dele.

-Obrigada- digo por fim, me levantando e abrindo a porta, para encontra-lo quase grudado a mesma. Seus olhos azuis transbordam alivio quando se fixam em mim e eu tento parecer forte. Tento com tudo de mim, parecer bem.

Ele acena em concordância, desconfortável e perdido. Sei que quer me confortar e ajudar, mas não sabe como. Alguém bate a porta, e ambos piscamos atordoados. Descemos juntos, em passos rápidos e preocupados, para então  encontrarmos Rosita pedindo ajuda na enfermaria.

Nós vamos.  E eu fico no automático o resto do dia.

(...)

Exaustos demais, chego em casa seguindo para o banheiro, louca para tirar a sujeira, restos e sangue de mim. Meu corpo todo dói muito, agora que a adrenalina passou. Sinto como se não fosse hábil o suficiente para mover meu rosto, e  sinto que o mesmo começa a inchar.  Saio do banheiro e encontro Daryl também recém saído do banho. Suponho que tenha usado o banheiro social, enquanto usei a suíte.

-Little Monster-  começa a falar, claramente preocupado, e eu apenas sigo até alcançar sua mão e faço sinal negativo com a cabeça.

-Hoje não- sussurro de volta, olhos fixos nos seus azuis.- Só vamos dormir.

Ele acena e me puxa para a cama, me abraçando apertado. Aconchego-me contra seu corpo, deixando seu calor me preencher. Sinto quando ele começa a fazer carinhos hesitantes e isso aquece meu coração.  Estabilizo minha respiração, e fecho os olhos, focando apenas em seu cheiro e sua presença.

Tenho plena consciência de seus movimentos, de seu corpo tenso, dos carinhos hesitantes e finalmente, de sua respiração mais calma indicando que caiu no sono. Abro os olhos e encaro a escuridão ao meu redor. Não consigo dormir, e não tem nada a ver com dor física. O bolo em minha garganta cresce tanto que acho que vai me sufocar.

A presença do Dixon de repente some e eu me sinto sozinha, afogando em um mar de lembranças e afundando com o peso da dor e das minhas escolhas.  Desvencilho-me dos braços de Daryl o mais suavemente que consigo e sigo para o banheiro, fechando a porta atrás de mim, trancando-a.

Fixo os olhos no meu próprio reflexo e não sei se me reconheço. Não sou mais quem eu era, e o peso do assassinado encurva minhas costas. Ouço a voz de Negan – de meu pai- em minha cabeça, em um misto de lembranças boas e ruins, de sonhos e pesadelos, amor e ódio.

“- Eu sempre vou estar com você, Red Sugar. É isso que os pais fazem”

“- É o meu sangue que corre nessas veias, Allyra. Você é como eu.”

Em um acesso de raiva que não sei de onde vem, soco o espelho. Cacos entram em minha mão, conforme o espelho se parte em  baixo de meu punho fechado e a dor dos cortes é o meu estopim. Puxo a mão de volta e observo o sangue escorrendo contra minha pele, enquanto um soluço escapa do fundo  de minha garganta.

Daryl começa a bater na porta incessantemente,  gritando meu nome, preocupado. Não consigo responder.

Sinto-me suja, conforme  entendo o que fiz e a afirmação do fato ecoa em meus pensamentos, me perfurando como facas. Eu matei meu pai. Em desespero, tropeço pelo banheiro até chegar no box e abro o chuveiro em  cima de mim, de roupa e tudo.  A batidas na porta continuam, assim como os gritos de Daryl.

A água gelada me faz tremer, mas eu esfrego as mãos em meus braços tentando tirar a sujeira de mim, não só o sangue, mas tudo. Mesmo a sujeira interna. Ainda tremendo, deixo minhas mãos caírem ao lado de meu corpo e escorrego para o chão sem saber o que fazer, lágrimas escorrendo por me rosto. A porta é arrombada e Daryl entra correndo, passando os olhos rapidamente pelo sangue no espelho e em mim encolhida no chão. 

Ele derrapa pelo banheiro e então está embaixo da água, comigo. Os braços fortes me puxam contra seu peito e isso desencadeia ainda mais o choro em mim. Os soluços ecoam pelo banheiro enquanto aperto sua camiseta molhada entre os dedos. Tenho a vaga noção dele puxar meus pulsos e analisa-los, antes de voltar a me apertar.

-Estou aqui- ele murmura contra meu ouvido- Estou com você, amor.

E eu choro como se meu mundo estivesse acabando. Em meio ao choro, ele me levanta em seus braços  e me tira de baixo do chuveiro. Acho que ele fecha  o registro com uma das mãos antes de me levar para o quarto. Enrola uma toalha em mim e me coloca sentada  na beira da cama.

Puxa minha roupa molhada para fora de meu corpo, e me veste com uma camisa sua. Se afasta para vestir uma calça de moletom, e volta logo depois me puxando para seus braços. Volto a chorar. Não me lembro de parar em nenhum momento, então tenho a impressão de que o faço até adormecer em seus braços.

POV Daryl

Allyra está quebrada. Total e completamente. E eu sinto sua dor em mim.  Ela cai no sono ainda em meio as lagrimas, e eu não sei o que fazer. Tudo o que sei é que ao acordar com o barulho no banheiro e não encontra-la ao meu lado foi desesperador. Bater na porta e não obter resposta foi a pior coisa que me aconteceu em muito tempo.

Quando arrombei a porta, tudo o que eu conseguia pensar era que ela poderia estar fazendo besteira, como Beth tentou fazer no começo de tudo.  E eu não conseguiria suportar perder Allyra.

Pensando nisso aperto-a com mais força contra mim, gostando de sentir sua respiração contra minha pele, principalmente porque quer dizer que ela está viva.  Não consigo dormir durante toda a noite, com medo de adormecer e ela escapar por entre meus braços novamente.

A luz do sol começa a entrar pela janela  e ela gira escondendo o rosto.

-Vou fechar a cortina- digo e ela nega com a cabeça, me segurando no lugar.- Allyra você precisa levantar para comer.

Ela resmunga e se senta bruscamente, gemendo de dor em seguida.  Sento na hora, amparando-a.

-Eu to quebrada- resmunga, deixando que eu a ampare. Observo seu rosto com preocupação, notando diversas contusões.

-O que aconteceu com você lá dentro?- pergunto baixinho e ela ergue os olhos para mim. Estão absurdamente claros, me falando de emoções fortes e doloridas.  O rosto está bem inchado e há contusões por todo o corpo.  Os braços estão arranhados, com diversos roxos, assim como as pernas.

-Negan aconteceu- ela diz  e a voz sai quebrada. Ela desvia o olhar e suspira. – E então eu aconteci.

-Se não quiser falar sobre isso tudo bem, little monster- digo me sentando melhor. Ela fecha os olhos e suspira.

-Adoro quando me chama assim. Faz tudo em mim responder- murmura e então abre os olhos-  A dor precisa ser sentida, então eu provavelmente preciso falar a respeito de tudo.

E ela fala. Conta desde o momento que acordou até o momento que a encontramos. E eu sinto muito por ela e pelo tanto que sofreu. Lagrimas silenciosas escorrem por suas bochechas, mas ela se mantêm firme todo o tempo. Conta tudo, tudo o que está  atormentando-a e sufocando-a e eu só consigo imaginar  a dor  e o peso que estão sobre ela.

Eu nunca fui muito fã de contato e de abraços, mas ela foi mudando isso aos poucos e agora eu quero toca-la sempre.  Isso já vinha acontecendo antes, mas agora eu sei que é sobre conforto. Quero conforta-la e se pudesse evitava que ela tivesse feito o que teve que fazer. Sei o peso que é matar um pai, apesar de que as situações não tenham sido exatamente as mesmas.

O meu era um bosta desde sempre, me bateu durante toda a infância e nunca demonstrou amor. Morreu afogado na bebida e na poça do próprio vomito, e coube a mim acabar com o walker que ele virou. A historia de Negan e Allyra era diferente.

Ele a amou e apoiou por um tempo. Aparentemente ele virou o filho da puta que conhecemos depois do apocalipse  e ela, como qualquer filha nesse mundo, não teve coragem de se virar contra ele de inicio.  E se sentiu culpada por isso. No fim das contas, o peso que Allyra carrega é total e completamente Negan e eu o odeio por isso.

-Desculpe- murmura limpando o rosto e fazendo uma careta- Odeio ser fraca.

-Já te disse antes, quando ainda nem estávamos juntos, mas eu estava definitivamente caindo por você, que você é a mulher mais forte que conheço. Isso não mudou.

Ela sorri e se inclina me beijando lentamente. Tomo cuidado ao passar os braços ao redor dela  e me aproximar, com medo de machuca-la ou algo assim. O beijo é puro carinho e cuidado.

-Amo você- diz com a testa encostada na minha.

-Amo você- respondo e dessa vez não tenho que puxar as palavras do fundo de mim. É natural e me dou conta de que posso dizer isso para ela pelo resto da vida, porque é verdade e nunca vou deixar de sentir isso.



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