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História Amor Além do Tempo - Dor e Cura


Escrita por: SamusAran

Notas do Autor


Olá, gente!

Esse capítulo ficou tão grande que eu vou pedir desculpas antecipadamente porque só revisei uma vez e vocês com certeza vão achar algum erro.

Espero que valha a pena, apesar disso, porque ele é bem emocional. Só não disse que emoções. Hehe!

Boa leitura! :)

Capítulo 65 - Dor e Cura


Fanfic / Fanfiction Amor Além do Tempo - Dor e Cura

Muita coisa mudou na vida dos Price após a quase morte de William, principalmente na de Chloe, já que a garota precisou ajudar mãe nos cuidados dos primeiros meses de recuperação do pai, assim, diminuindo seus momentos gastos com outras atividades, especialmente as de lazer de qualquer espécie.

Mas Chloe não se importava muito, afinal sua melhor amiga continuava ao lado dela, muitas vezes abrindo mão de seu próprio divertimento para auxiliá-la em suas tarefas árduas e diárias, tornando tudo menos complicado e o fardo de tantas responsabilidades menos pesado.

O que também mudou bastante em Chloe foi seu visual. Os antes longos cabelos loiros deram lugar a um corte curto e mais prático, enquanto suas roupas começavam a consistir em calças surradas, camisas com logos de bandas, botas e jaquetas. Pelo menos, na maioria do tempo.

Entretanto, a principal mudança sofrida pela garota loira se deu em sua postura em relação à Max, já que, em vez de encarar o acidente do pai como um aviso de que a vida talvez não fosse tão generosa em conceder segundas chances, ela simplesmente ignorou o fato, buscando a qualquer custo sufocar o que sentia pela fotógrafa.

Assim, Chloe transformou o período imediatamente posterior ao acidente em nada mais do que sucessivas tentativas de abrir mão completamente do sentimento secreto que nutria por sua melhor amiga, começando a sair com os garotos do colégio que insistiam em flertar com ela, como forma de ter sucesso nessa missão.

E, numa tentativa desesperada e consciente de causar ciúmes ou qualquer reação contrária ao seu comportamento na fotógrafa, Chloe sempre fazia questão de deixar bem evidente para a amiga o que estava fazendo em todas as vezes que o fato se repetia.

Fosse ficando com alguém em algum lugar bastante visível da escola ou recusando compromissos com Max para sair com algum novo pretendente, Chloe sempre buscava novas formas de atingi-la. Mas a garota de sardas nunca reagia, nem esboçava um mínimo indício de que tentaria fazê-la parar. E, naqueles momentos, Chloe odiava o fato de sua amiga ser tão compreensiva e tão diferente dela.

Fracassando totalmente em seu plano inicial, as ações de Chloe tiveram o efeito inverso, levando Max a se distanciar mais dela à medida em que cultivava novas amizades e passava cada vez menos tempo consigo.

Nesse ritmo, Chloe se sentia pior, dia após dia, com uma sensação de derrota gritante martelando seus pensamentos ao perceber como, em vez de apagar o sentimento que nutria por Max, na verdade o tornava mais intenso à medida que os dias passavam e a distância entre elas aumentava. E todos os relacionamentos em que a garota loira insistia em investir só serviam para fazê-la se sentir mais vazia quando acabavam.

Mas o pior de tudo para Chloe era saber que estava perdendo sua melhor amiga, talvez de uma forma irreversível.

__________________________

Depois do período mais caótico de sua vida, Chloe decidiu que era hora de consertar a bagunça que ela própria causou, enquanto ainda havia tempo. Sua primeira atitude foi tentar se reaproximar de sua melhor amiga e passar a maior parte de seu tempo ao lado dela como costumava ser antes.

Max nunca questionou o afastamento súbito dela, apenas demonstrou muita felicidade com a reaproximação inesperada. E essa foi uma das poucas vezes em que Chloe agradeceu aos céus o fato de a nerd ser tão compreensiva, já que, de outro modo, aquela volta seria bem mais difícil.

O único efeito colateral de seu afastamento se deu nos "treinos de beijos", que obviamente pararam quando Chloe começou a sair com garotos e não voltaram a acontecer quando desistiu de insistir naquilo. 

Depois de tudo aparentemente dentro dos eixos, num dia em que andava distraída ao lado de Max e Kate pelos corredores do colégio, após o término da última aula do dia, comentando sobre assuntos triviais, ela viu que não seria tão simples assim.

A conversa animada só a deixou notar a aproximação súbita de um de seus colegas quando este gritou há alguns metros de distância, para chamar a atenção do trio.

- Agora não, Zac! Eu tô com pressa. 

Chloe o dispensou simplesmente, sem lhe dar chance de explicar suas intenções. Mas o que a garota não percebeu foi que o alvo do interesse de Zac não era ela.

- Mas eu não quero falar com você. - O garoto respondeu, fazendo Chloe arquear as sobrancelhas confusa. - Eu quero falar com ela.

Chloe ficou tão surpresa ao assistir seu colega de sala apontar para sua melhor amiga e se dirigir a ela para iniciar um diálogo, que não conseguiu ter nenhuma reação quando, depois de algum tempo de conversa fiada, o assistiu finalmente criar coragem para chamar a garota de sardas para sair.

E Chloe não reagiu nem mesmo quando, após várias negativas, Max se deu por vencida e aceitou o convite do garoto insistente.

Durante todo o caminho até em casa e na tarde que passou sozinha em seu quarto tentando estudar, a garota loira não conseguiu impedir, nem por um minuto, que aquela cena parasse de se repetir insistentemente em sua memória. E tudo só piorou quando Max apareceu em sua casa no começo da noite para lhe propor algo que só tornava sua situação ainda pior.

- Por favor, Chlo, eu não posso ir sozinha... - Max insistiu num tom choroso, mas sem chegar nem perto de comover sua amiga a aceitar sua proposta.

- De jeito nenhum. Eu não vou segurar vela pra você. - Chloe respondeu prontamente, sentada na cama de braços cruzados e olhando para um lugar a esmo do quarto com sua cara emburrada, evitando o olhar de sua melhor amiga a todo custo.

- Você não vai segurar vela. O Zac disse que vai levar um amigo pra ser seu par.

O que Max acreditava ser um ponto positivo para Chloe, na verdade só a fez perder o chão. Ela não conseguiu mais evitar o olhar da fotógrafa. Com o seu ferido, buscava no dela alguma pista de um sentimento oculto que poderia estar desenvolvendo pelo garoto.

- Então você realmente vai ficar com ele... - Chloe comentou numa voz quase inexistente, quando cansou de analisar Max, suspirando e direcionando seus olhos para o chão, tentando disfarçar a tristeza que sentia com a iminência daquele acontecimento.

- O que...? Não... eu aceitei sair com ele. Nada além disso. - Max se defendeu instintivamente, sem nem entender porque.

- O que significa, em outras palavras, que ele quer te pegar... - Chloe insistiu, começando a deixar o ciúme afetar ainda mais seu mau humor - Eu finalmente entendi porque ele tá me cercando há duas semanas... era por sua causa.

- Mais um motivo pra você ir comigo. - Max insistiu, quase em tom de súplica, se sentando ao lado de Chloe.

- Chame a Kate. - Chloe se esquivou imediatamente olhando para um ponto na direção oposta.

- Você sabe que a mãe da Kate nunca a deixaria ir pra um lugar assim, nem que ela implorasse. E eu não quero ir sozinha.

- Então você não deveria ter aceitado. - Chloe devolveu, mal conseguindo disfarçar o próprio ciúme.

- Qual é, Che? Você viu o quanto ele foi insistente e, ainda assim, bastante gentil. Eu não consegui continuar negando.

- Então ele certamente vai usar a mesma estratégia pra conseguir ficar com você, já que não conseguir  dizer "não" parece ser seu grande defeito. - Chloe comentou a encarando, sem conseguir mais evitar o tom irritado em sua voz.

- É totalmente diferente.

- Pra mim, é igual. - Chloe rebateu num tom de voz mais exaltado - E eu não pretendo ir pra essa droga de festa assistir esse cara avançando em você toda hora, quando você simplesmente poderia ter dispensado ele quando teve a oportunidade.

- Por que você está agindo assim? Sendo tão hostil comigo? O que eu fiz de errado pra merecer suas patadas?

Chloe poderia ter confessado tudo ali, jogado na cara de sua amiga tudo o que guardava em seu peito há tantos anos, mas a verdade é que sua versão de 15 era muito mais medrosa que a de 13.

- É que... é que você é minha melhor amiga e eu não quero te assistir sendo assediada por um idiota qualquer bem na minha frente. Pronto, é isso!

Max sorriu finalmente, observando a expressão irritada da garota loira se transformar numa incomodada. Então a nerd circundou a cintura da garota com um dos braços e repousou a cabeça no ombro dela.

- Mais um motivo para você ir e ser minha guarda costas como prometeu anos atrás. - Ela acrescentou, encarando Chloe - Por favor?

Chloe se manteve em silêncio por alguns minutos com uma expressão séria, abalada pela proximidade de Max e observando a expressão ansiosa dela atentamente, até suspirar, fechando os olhos e fazendo a garota de sardas saber que havia vencido antes mesmo de receber a confirmação.

Max não hesitou em comemorar, pulando sobre a garota mais velha, a abraçando e beijando o rosto dela, exultante.

- Eu vou me arrepender tanto disso. - Chloe choramingou, antecipando sua desgraça inevitável.

- Pare de ser tão negativa.

- Você já teve um pedido atendido hoje. Não seja tão exigente.

__________________________

Tudo na noite em que teria que cumprir a promessa feita no fatídico dia em que aceitou o convite de Max foi péssimo para Chloe. Desde seu desconforto por estar usando um vestido, passando por como Max parecia mais bonita ainda trajada no dela e piorando drasticamente quando Ryan Caulfield as deixou no local onde ocorreria o evento e elas finalmente encontraram o garoto que parecia tão admirado com a aparência de Max quanto ela.

Chloe assistiu os dois andarem a sua frente, lado a lado e de mãos dadas, enquanto rangia os dentes e tentava se manter sob controle, especialmente quando Zac sentou ao lado de Max na mesa, passando a buscar em cada interação se fazer mais próximo dela e, por vezes, até tocá-la em qualquer oportunidade que surgia, enquanto ria exageradamente de algo bobo que a nerd dizia.  

A garota também assistiu, sem tentar disfarçar seu mau humor, quando, depois de muita conversa, Zac finalmente criou coragem para chamar Max para dançar e sentiu uma pontada no coração quando, dando de ombros, a nerd sorriu e deu a mão ao garoto, se levantando para acompanhá-lo, como se não tivesse outra escolha.

Enquanto isso, Chloe ignorava a tentativa frustrada de seu próprio par de fazer o mesmo com ela, já que tudo em que conseguia se concentrar naquele momento era no fato de sua melhor amiga não conseguir dizer não e de que ela diria sim para Zac a noite inteira.

Chloe olhava fixamente para a garota de sardas dançando muito próxima de seu colega e agora arqui-inimigo, rindo abertamente de algo que ele falava e parecendo estar se divertindo bastante com tudo aquilo.

Enquanto observava tudo à distância, Chloe sentia seu interior revirar insistentemente, enquanto o ódio crescente borbulhava dentro dela e a sensação de impotência dominava cada célula do seu corpo. Ela só conseguia pensar em sua derrota antecipada e em como sempre soube que aquilo aconteceria inevitavelmente um dia.

Chloe não conseguia deixar de se martirizar por ter hesitado tanto, por nunca ter tentado, fazendo com que qualquer chance mínima que tivesse de sucesso em seus sonhos fosse reduzida a pó, agora que sua única opção era assistir da primeira fila o encontro de sua amiga evoluir para um provável namoro sem pode fazer nada para impedir.

Depois de um tempo, a garota loira não pôde mais aguentar aquilo, era doloroso demais, principalmente porque tinha certeza de qual seria o próximo passo de Zac e ela não estava pronta para assistir sua melhor amiga ser beijada por ele sem surtar completamente. Ela precisava sair dali antes que aquilo acontecesse.

Assim, com o peito doendo, como se tivessem lhe cravado uma faca e já a ponto de chorar, ela se levantou da mesa e foi embora sem explicar nada para o garoto que insistia em puxar assunto com ela, completamente alheio ao seu estado emocional, muito menos avisou algo para Max, que estava muito distraída para notar seu acesso de fúria e sua fuga subsequente. 

Chloe andou apressadamente pelo salão e saiu pela porta dos fundos já completamente destruída pelos pensamentos do que inevitavelmente aconteceria em sua ausência, o quais não eram cenários nenhum pouco animadores quando reforçados pelos que ela já tinha presenciado ao vivo.

Sentada nos degraus da escada do portão de saída, ela digitou uma mensagem para que seu pai fosse pegá-la, torcendo para que ele respondesse o mais rápido possível, enquanto sentia como se sua cabeça fosse explodir, se continuasse fazendo o mesmo esforço descomunal e contínuo para não se descontrolar totalmente e cair no choro.

- Chlo, o que houve? Aquele cara tentou fazer algo com você...?

Max perguntou preocupada assim que enxergou a amiga sentada no chão, observando a rua sozinha, com uma expressão sombria no rosto.

- Ele não tentou nada... eu me senti mal e quis sair. Só isso. Eu vou voltar pra casa. - Ela respondeu com uma voz embargada, ainda com os olhos fixos em algum ponto perdido a sua frente, sem a mínima intenção de encarar a amiga.

- Mas o que aconteceu pra você ficar assim? Você tá chorando... - Max insistiu, ao se aproximar e ter uma visão melhor de Chloe, sentando ao lado dela sem pedir licença.

- Nada. Só foi uma péssima ideia eu vir pra cá. - Chloe desconversou, enquanto enxugava os olhos com uma das mãos.

- Como nada, Chloe? Olha seu estado... - Max acrescentou preocupada e confusa com o mal súbito e sem explicação de sua amiga.

- Você deveria voltar lá pra se divertir com o Zac. Meu pai já deve estar chegando e eu não quero ser responsável por estragar seu encontro.

Nem seu autocontrole conseguia impedi-la de deixar aparente o tom ferido em suas respostas, muito menos o ciúme descomunal que sentia naquele momento, mas Max continuava alheia àquilo. Ela só conseguia ficar irritada com as tentativas da garota loira de afastá-la.

- Em primeiro lugar, eu não vou te deixar aqui nesse estado. Em segundo, eu já disse que isso não é um encontro. Pare de ficar repetindo isso. Que coisa irritante! 

- Tem certeza? Porque, do meu ponto de vista, você estava se divertindo muito, rindo das piadas dele, dançando e sei lá mais o que pode ter acontecido depois que eu saí. E desculpa porque eu provavelmente devo ter atrapalhado. - Chloe ironizou, se deixando levar pelas memórias bastante vivas em sua mente e esquecendo qualquer filtro que poderia conter suas reações.

- Chloe, o fato de eu estar tentando ser gentil não significa que eu pretendesse ficar com ele, só que eu não tenho nenhum motivo pra ser hostil. 

Max tentou manter uma abordagem mais calma, embora Chloe estivesse fazendo muita questão de testar a paciência dela.

- Então vocês obviamente tem propósitos bem diferentes.

- Não importa o que ele quer. Eu não quero. E por que diabos estamos falando sobre isso em vez de sobre o que você está me escondendo?

Antes que qualquer coisa pudesse ser dita ou mesmo que a hipótese de que algo realmente estava acontecendo pudesse ser refutada novamente por Chloe, a porta voltou a se abrir agora revelando o garoto que motivara tudo aquilo.

- Ela tá bem? - Ele perguntou, analisando Chloe à distância.

- Claramente, não. - Max respondeu num tom ríspido, motivada pela insistência de Chloe em se manter negando o óbvio. 

- Bom, eu posso deixar ela em casa e depois a gente volta pra cá.

- Não precisa. Meu pai está vindo me buscar. - Chloe respondeu num tom seco, tentando disfarçar o ódio mortale e crescente que sentia só de ouvir aquela sugestão.

- Desculpa, Zac, mas eu vou voltar com ela. - Max acrescentou em seguida, para a surpresa dos dois.

- Você não precisa... - Chloe acrescentou num tom baixo, quase frágil, agora mantendo os olhos fixos no chão.

- Eu não preciso mesmo... eu quero ir. Você é minha melhor amiga e eu não vou te deixar sozinha quando você parece estar tão mal. Eu já disse. - Max respondeu com uma voz firme e irritada - E, a menos que seu pai me negue carona e sua mãe me expulse da sua casa, não há nada que você possa fazer pra me impedir.

- O quarto ainda é meu... - Chloe desafiou, ainda sem conseguir encarar a garota de sardas para ver a reação dela àquela frase dita com o claro propósito de atingi-la.

- Tem um quarto de hóspedes do lado do seu. Eu posso ficar gritando com você através da parede.

Max acrescentou fazendo Chloe rir pela primeira vez depois de toda aquela confusão e, finalmente, olhar em sua direção.

- Tudo bem, mas você pode ao menos me dar seu telefone pra gente continuar se falando?

O garoto insistiu ao se aproximar, atrapalhando o momento e fazendo o pouco de senso de humor que Chloe havia resgatado ser pulverizado e seu incômodo com a presença dele ficar cada vez mais evidente quando ele se sentou ao lado de Max com o próprio celular em mãos.

Sem dizer nada, Max pegou o aparelho e começou a digitar um número, enquanto Chloe observava de esguelha, tentando disfarçar sua curiosidade, até a hipster devolver o celular para o garoto e se despedir dele com um aceno.

- Max... - Chloe a chamou depois de vários minutos de total silêncio.

- Hum?

- Aquele número não era o seu.

- Claro que não... você acha que eu daria meu telefone pra alguém que mal conheço. - Ela respondeu com os olhos fixos nas construções do outro lado da rua, mas sem deixar de notar, com sua visão periférica, o sorriso que brotou nos lábios de Chloe ao ouvir aquilo. - Por enquanto, vou fingir que não notei o quanto você está agindo estranhamente e me escondendo algo, mas espero que me conte algum dia porque, por mais que eu goste muito de você, às vezes é quase impossível lidar com esses seus momentos.

- Eu sei. Desculpa.

Chloe murmurou resignada, cedendo em sua postura defensiva e recostando a cabeça no ombro da garota menor, que a abraçou de lado em resposta, numa singela tentativa de confortá-la.

- Você vai me contar? - Chloe assentiu, se mantendo na mesma posição.

- Mas não agora. - Ela completou depois de um longo suspiro, tentando adiar o inadiável mais uma vez.

- Tudo bem... até porque seu pai já chegou e eu acho que você não vai querer continuar essa conversa na frente dele, certo?

Chloe confirmou com um novo aceno e logo se aprumou para levantar, sendo imitada por Max no exato momento em que William buzinou, anunciando sua chegada e parando o carro na lateral da pista, enquanto aguardava as duas.

- O que houve? Algum desses garotos tentou fazer algo com uma de vocês? Porque eu juro... 

- Eles não tentaram nada, tio William. A Chloe só não estava se sentindo muito bem e a gente decidiu que era melhor voltar. - Max intercedeu para que Chloe não tivesse que inventar outra história.

- Mas ela nem me disse que você viria junto. - William comentou confuso.

- Eu meio que insisti. - Max respondeu evasivamente - Não tem problema, né?

- Claro que não, Max. Você já é de casa. - William a confortou, esboçando um sorriso ao mesmo tempo que observava a expressão ainda cabisbaixa de sua filha, conseguindo identificar parcialmente o que devia ter acontecido. - Só avise a seus pais que você vai passar a noite com a gente, se é que eles já não sabem.

- Claro. Eu vou fazer isso agora mesmo.

- Depois de alguns momentos de silêncio em que apenas observava Max pelo retrovisor e Chloe de canto de olho, William resolveu agir e tentar confirmar, se suas suspeitas eram verdadeiras.

- Max, aquele rapaz de hoje... vocês estão em algum tipo de relacionamento?

Ao ouvir a pergunta nada sutil do pai, uma Chloe totalmente constrangida esfregou o rosto com uma das mãos, sentindo vontade descer do carro e sair correndo dali para bem longe o mais rápido possível, antes que Max tivesse oportunidade de dizer algo.

- Não... claro que não... por que todo mundo continua achando isso?

Max respondeu, incomodada com o ressurgimento do assunto, enquanto William sabia que tinha acertado em cheio nas suas suposições sobre o motivo do mal estar de sua filha.

- Desculpa invadir sua privacidade, querida. É que me sinto tão responsável por você quanto pela Chloe.

- Tudo bem... eu sei que o senhor se preocupa e agradeço... é só que esse assunto e essa saída só me trouxeram dor de cabeça até agora e eu queria evitar falar a respeito.

- Eu entendo. Daqui pra frente, vamos continuar em silêncio até em casa. É melhor pra todos.

Max assentiu com um meio sorriso, enquanto Chloe continuava petrificada no assento com a atenção voltada para a estrada, sem ousar trocar nem sequer um olhar de esguelha com seu pai ou sua amiga.

__________________________

- Você não vai se trocar?

Max quebrou silêncio que já perdurava desde o trajeto de carro, enquanto procurava uma roupa no armário de Chloe e notava a hesitação dela em executar aquela simples tarefa. Em vez disso, ela permanecia sentada na cama, escorada na cabeceira, com uma muda de roupa no colo apenas observando a observando.

- Não na sua frente.

- Hum... agora você é tímida? Essa é nova. - Max debochou, ao fechar o armário e sair de lá com suas próprias escolhas de roupa.

- Eu só não quero ser atacada logo que você perceber o quanto estou irresistível agora. - Chloe brincou, tentando disfarçar seu incômodo com aquela situação que não acontecia há muitos anos e, para seu alívio, tendo sucesso imediato.

- Agora isso parece bem mais com você. - Max devolveu ironicamente com um sorriso. - Eu vou me trocar no banheiro e, quando voltar, bato na porta pra não arriscar ver a Afrodite de Arcadia Bay sem alguma peça de roupa. Aproveita e escolhe um filme pra gente assistir antes de dormir.

Quando Max voltou ao quarto, após se trocar e selecionar lanches para as duas fazerem enquanto assistiam o filme, encontrou Chloe pensativa e com a mesma expressão estranha de todo o tempo em que ficaram fora, como se estivesse muito preocupada com algo que ela ainda ignorava.

Não querendo insistir na conversa de antes por achar que a garota loira iria mais uma vez se negar a lhe dar qualquer resposta, a nerd decidiu agir normalmente, ignorando o comportamento pouco usual de sua amiga e esperando ser ela a ter a iniciativa de dividir seu anseio.

Assim as duas permaneceram por mais de uma hora com os olhos fixos na tela do notebook, com Max fazendo comentários esporádicos sobre o filme aos quais Chloe respondia quase sempre monossilabicamente, sem intenção de desenvolver o assunto.

Depois de todo um tempo confabulando, sem prestar atenção em nenhuma cena do filme, Chloe decidiu enfrentar seu embrulho no estômago, seu nervosismo crescente e todos medos que a dominavam naquele momento, pausando o vídeo e deixando Max confusa durante o processo.

- Qual é, Chlo? Não faltavam nem 10 minutos. Será que você não podia esperar pra ir no banheiro? - A garota de sardas protestou, notando de imediato que o problema de sua amiga não tinha nada ver com sua bexiga.

- Não é isso. Eu preciso conversar com você.

Chloe respondeu com um tom de voz sério, que deixou Max apreensiva e esta imediatamente colocou a vasilha de pipoca de lado, limpou as mãos e se voltou para ela, a aguardando dar início a conversa.

- Quais motivos te fariam deixar de ser minha amiga?

Max arqueou as sobrancelhas, raciocinando, sem nenhuma pista de aonde aquela conversa iria levá-las, mas decidindo colaborar para que ela prosseguisse.

- Acho que só se você traísse minha confiança. As outras coisas que eu penso que podem acontecer são todas reversíveis.

Chloe balançou a cabeça, fechando os olhos e suspirando longamente, se preparando tomar uma atitude que havia adiado por tempo demais.

- Eu venho escondendo algo de você há anos. - Ela falou encarando as próprias mãos. - Algo que eu tenho medo que acabe com nossa amizade, que te faça perder a confiança em mim ou até me detestar.

- Você está me assustando.

- Eu tentei te contar antes, - Chloe voltou a falar, ignorando o comentário de Max. - mas sempre acontecia algo pra atrapalhar ou então eu me acovardava e deixava pra depois. Um depois que nunca chegava.

Chloe parou por um momento, levantando a cabeça para finalmente encarar o rosto preocupado de sua amiga e a baixando em seguida para procurar a mão dela e segurar entre as suas, sem receber qualquer resistência.

- Eu tive uma conversa com meu pai há muito tempo em que ele me disse pra não deixar as coisas pra depois porque pode ser tarde demais. Eu ouvi e concordei com o que ele disse, mas acabei deixando pra lá porque era mais cômodo.

- Chloe, o que...?

- Aí, algum tempo depois disso, aconteceu o acidente e eu podia ter perdido ele pra sempre ali - Ela começou a dizer, enxugando com uma das mãos as lágrimas que agora caíam de seus olhos. - E, em vez de enxergar isso como um novo sinal, eu acabei ficando com mais medo ainda. Eu não queria arriscar perder ninguém, muito menos você. Por ironia, foi o período em que mais nos afastamos. 

Chloe deu um meio sorriso para uma Max confusa, que a encarava consternada, mas ainda distante de entender o discurso dela.

- E hoje. Na verdade, essa semana toda eu senti como se finalmente tivesse deixado a oportunidade passar, como se fosse tarde demais. Eu tinha perdido sem nem sequer ter tentado, por pura covardia e aquilo estava me massacrando por dentro, me fazendo ter ódio de mim mesma. Eu quero, antes de tudo, pedir desculpa por descontar mais isso em você quando você já aguentou tanto de mim.

Max levantou a mão livre, tocando no rosto dela e tentando livrá-la ao menos parcialmente das lágrimas que insistiam em molhá-lo.

- Chloe, você é minha amiga nos bons e nos maus momentos. Nós vamos brigar e, algumas vezes, magoar uma à outra, mas não vamos deixar de ser amigas por isso.

Max tentou consolar a garota mais velha em vão, já que a pressão que ela sentia naquele momento só poderia ser liberada quando falasse até a última palavra que havia guardado a sete chaves em sua cabeça.

- Eu gosto de você, Max. - Ela disse finalmente, causando o aumento da confusão da nerd. - Mais do que como amiga, mais do que como melhor amiga e certamente não como irmã. Nunca como irmã. 

Chloe confessou finalmente, segurando a mão da fotógrafa instintivamente com mais firmeza, motivada pelo medo de que ela tentasse se soltar antes do fim de seu discurso, o que para seu alívio não aconteceu.

- Quando eu te vi com aquele idiota hoje, eu senti tanta raiva e, ao mesmo tempo, me senti tão impotente que simplesmente não consegui suportar. O que eu mais queria era que fosse eu no lugar dele, mas eu nem ao menos tinha tentado e a consciência disso estava me matando. Por esse motivo, eu tive que sair, antes de fazer algo completamente irracional e estúpido, que só iria te magoar e te deixar confusa. E eu não queria isso porque você merece ser feliz e eu não pretendo ficar no caminho, mesmo que isso signifique... você e o Zac... ah, você sabe. Eu não preciso dizer.

Chloe continuou, mirando a garota que agora se mostrava chocada, mas não fazia qualquer menção de se afastar.

- Eu gosto de você há tanto tempo que nem sei direito e meu maior medo nesse momento é que você saia por aquela porta, sentindo nojo de mim e nunca mais queira minha amizade. Eu já tô conformada com a certeza de não ser correspondida, mas por favor não deixe de ser minha amiga, eu não iria aguentar, eu preciso...

Qualquer coisa que Chloe estivesse prestes a dizer foi sumariamente interrompida no meio do caminho quando, num movimento súbito, sua jovem amiga segurou o rosto dela com a mão livre e se aproximou a beijando.

A reação imediata de Chloe foi arregalar os olhos ainda marejados, fechando-os apenas quando se recompôs da surpresa e pôde corresponder ao gesto, mas esbarrando no fato de o beijo ter sido breve demais.

- Desculpa interromper seu discurso. É que eu não aguentava mais te ver tão triste.

- Você me beijou... - Chloe falou, ainda se sentindo um pouco aérea pela mudança inesperada de eventos. - foi só pra eu calar a boca ou...? Quer dizer... não ficou muito...

Max revirou os olhos, admirada com a insegurança estampada no rosto de Chloe e se aproximando novamente, agora para abraçá-la.

- Você não é tão lerda assim, Chlo. - Ela murmurou fazendo a garota rir.

- Eu não sou, mas com certeza estou. - Chloe confessou, relaxando no abraço. - Pensei que fosse desmaiar antes de terminar de falar tudo. Obrigada pela interrupção.

- Foi a vez de Max sorrir, desfazendo o abraço, mas se mantendo ligada à amiga, segurando as mãos dela.

- Acho que agora está mais do que óbvio que também gosto de você e que também não fui honesta a respeito. - Max começou sua própria confissão. - Quer dizer, assim como você, eu também tive algumas oportunidades pra confessar, mas acho que sou muito covarde pra isso. Às vezes me odeio por ser assim.

- Pois pare com isso ou vou ter que te bater. - Chloe declarou no mesmo segundo. - Ninguém odeia Maxine Caulfield na minha presença e sai ileso.

Max riu novamente da tentativa de Chlo de reestabelecer o humor dela, mas logo voltou a sua história.

- Aí você começou a sair com aqueles garotos, a se afastar e, pra mim, aquilo significou que não valia a pena nem tentar. E, assim como você, eu valorizo muito nossa amizade pra pôr ela em risco por qualquer outra coisa.

- Eu me sinto uma idiota. - Chloe comentou para uma Max cabisbaixa - Eu fazia aquilo pra tentar parar de pensar em você daquela forma ou mesmo te fazer ciúme, mas a única coisa que quase consegui foi te afastar.

- Pode ter certeza que você conseguia me causar ciúme, mas o que eu ia fazer? - Max falou num tom melancólico e resignado, fazendo a outra garota se sentir mais culpada. - Foi horrível no começo, mas eu acabei me acostumando com o tempo.

- Não era agradável pra mim também. Eu sentia o tempo todo como se estivesse te traindo e ficava mal depois, sem poder desabafar com ninguém. Era tão esquisito.

- Vamos simplesmente parar de pensar nisso agora, tá? - Max falou, interrompendo o momento de remorso de Chloe. - já tivemos muitos momentos ruins por um dia. Vamos deixar essa conversa pra quando eu estiver com raiva e quiser usar isso contra você.

- Acho justo.

Chloe respondeu em meio a um sorriso, voltando a abraçar Max logo em seguida e agora respirando aliviada depois de tudo.

- Então quer dizer que, a partir de agora, eu posso fazer isso? - Ela voltou perguntar com um sorriso empolgado enquanto distribuía beijos no rosto da nerd - E isso? - depois outros leves na boca dela - Sem inventar nenhuma desculpa idiota?

Max apenas balançou a cabeça, sorrindo timidamente, mas ainda assim respondendo aos avanços de Chloe com os seus próprios. Notando isso, a garota mais velha resolveu intensificar em suas investidas, contornando a cintura dela com os braços e a beijando mais profundamente, de uma forma mais intensa, à qual Max ia se adequando pouco a pouco.

- Definitivamente melhor do que os de antes. - Chloe comentou ainda de olhos fechados quando elas finalmente se separaram.

- Eu não lembro de fazermos desse jeito nos "treinos". - Max ironizou o upgrade funcional que sua amiga fez no meio da ação, a levando a rir.

- Nós certamente teríamos feito, se continuássemos com aquilo. Seria a aula avançada. 

Chloe respondeu, bem humorada, acariciando o rosto da nerd e a beijando rapidamente, antes de voltar se deitar na cama, agora relaxada, enquanto observava a expressão pensativa dela e esperava o comentário que ela parecia prestes a fazer.

- Então... o que nós somos agora? - Max perguntou finalmente, com um olhar incerto no rosto, denotando a insegurança que ainda sentia, apesar da declaração de sua amiga.

- Eu espero sinceramente que não sejamos solteiras. - Chloe respondeu em tom de brincadeira, tentando e conseguindo, ao menos parcialmente, fazer Max se sentir mais à vontade com a situação.

Apesar disso, a garota de sardas permaneceu tímida em seu lugar, sem responder nada ou mesmo insistir na questão, enquanto Chloe revirou os olhos impaciente, se levantando da cama, indo até o armário e voltando alguns minutos depois com um objeto, ainda desconhecido para Max, nas mãos.

Ainda sem explicar suas ações, Chloe sorriu novamente para a fotógrafa, segurando uma das mãos dela com a sua que permanecia livre.

- Max Caulfield, você que já me aguenta em tempo quase integral, quer continuar me aguentando agora na condição de minha namorada? - Ela perguntou sorridente, observando a garota corar a olhos vistos e responder com um aceno tímido.

Satisfeita com a resposta positiva, Chloe abriu a mão, exibindo o objetivo antes escondido nela, que Max agora percebia ser um anel multicolorido, o qual Chloe cuidou de colocar no dedo dela antes de dar qualquer explicação.

- Eu encontrei isso na mesma época do colar e, sempre achei muito maneiro, mas não sabia exatamente o que fazer com ele. - Ela confessou enquanto Max examinava o objeto de perto. - Agora eu descobri. 

- Um anel de compromisso...

- É mais como uma forma material de oficializar nosso namoro. Até porque já temos os colares pra simbolizar nosso compromisso. - Chloe respondeu, a beijando no rosto e se sentando ao lado da garota de modo a colocar um dos braços sobre o ombro dela - Espero que você tenha gostado.

- Claro que gostei. Só que eu me sinto mal por não ter nada pra te dar em troca.

- Você não precisa me dar nada, hippie. Eu tô em dívida e já ganhei muito mais do que eu esperava num dia só. - Chloe comentou com sinceridade - Ainda tô tentando me acostumar com a ideia de que posso simplesmente virar pro lado e te beijar.

Ela acrescentou fazendo Max rir e aproveitando o momento de descontração para demonstrar seu ponto, a beijando de surpresa e a notando responder positivamente ao avanço.

- Só acho que não podemos fazer isso em todo lugar, senão todos vão ficar sabendo. - Max comentou no intervalo entre um beijo e outro. - Por exemplo, na escola.

- E qual o problema? - Chloe questionou, parando abruptamente o que fazia para voltar sua atenção total por diálogo. - Eu quero mais é que todos saibam mesmo.

- É... mas assim isso vai acabar sendo descoberto por nossos pais, o que pode nos trazer grandes transtornos.

- Você tem razão...  eu não tinha pensado nisso. - Chloe comentou, enquanto refletia sobre o novo obstáculo em seu caminho - Quer dizer... meu pai já sabe como me sinto em relação à você, mas acho que deveríamos manter nosso namoro em segredo, pelo menos enquanto a gente se adapta a essa nova situação. Porque tenho certeza que, quando eles descobrirem, não vão te deixar mais passar a noite aqui ou eu na sua casa, fora todas as outras liberdades que temos.

- Mas sem mais segredos entre nós, ok? - Max exigiu logo que ela concluiu a explicação.

- Sem mais segredos. - Chloe respondeu exultante, voltando a beijá-la antes de se deitar para ensaiar dormir. Dessa vez, se sentindo leve e com a garota de sardas em seus braços.


Notas Finais


Espero que o coração de vocês tenha ficado apertado, achando que eu ia separar as duas.
A sorte de vocês é que, como os acontecimentos são como flashs, acabam se resolvendo no mesmo capítulo. Hehe!

Beijos e bom fim de semana! :)

P.S. Voces notaram que houve uma referência a esse momento em um dos capítulos antigos? Espero que sim.


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