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História Amor e Aceitação - Temporada de Tormentas


Escrita por: schrijver

Notas do Autor


Devido a pedidos, resolvi traduzir uma fic minha "Of Love and Acceptance". E, por favor, perdoem desde já qualquer erro na tradução que eu não tenha visto. :P

Capítulo 1 - Temporada de Tormentas


Aquela uma vez chamada de rainha das fadas andava pela floresta. Quase não prestava atenção a seus arredores, olhando diretamente para as árvores sem fim à sua frente sem mais pensamentos sobre o que ela via ou sentia. Descalça, ela costumava suspirar de vez em quando, o prazer de sentir o chão úmido debaixo de seus pés sendo algo muito reconfortante. Suas asas, notavelmente lindas e fortes, arrastaram-se elegantemente pela terra, deixando uma trilha onde quer que ela passasse, cobrindo as pequenas pegadas que ela deixava impregnadas na terra coberta de neve derretida

Uma semana se passou desde o início da primavera, e o ar úmido parecia impor sua presença pela densa terra dos Mouros. A chegada do calor foi abrupta, mas não inesperada. Tempestades torrenciais vieram logo depois, trazendo vida a todos os seres vivos, fazendo as flores florescer e os animais banhar-se em uma esplêndida cortina fresca e refrescante. Mas, assim como a chuva chegou, desapareceu num passageiro cortiço, permitindo que criaturas saíssem dos seus ninhos pela primeira vez em dias. Malévola destacava-se entre tais criaturas quando optou por vagar à noite. Ela abandonou seu ninho nas ruínas e decidiu caminhar sem rumo. Ela notou, no entanto, as mudanças trazidas pelo tempo, grata por saber que a Mãe Natureza foi tão gentil.

Suas terras nunca estiveram tão lindas!

Olhando para o céu, ela pôde ver o evento natural e eletricamente fenomenal caracterizado pela aparência de luzes brilhantes no casaco azul escuro que cobria suas terras. Ela parou por um momento, observando um tronco de uma árvore velha e desgastada. Uma magia dourada percorreu seus dedos delgados enquanto ela apoiava sua mão na árvore e, segundos depois, a madeira foi restaurada dos estragos do tempo e provavelmente alguns insetos indesejados.

Depois de um momento, a fada de asas magníficas estava de volta a seus passeios noturnos, caminhando e sentindo a brisa tocar suas bochechas poderosas, um barulho divertido penetrando suas orelhas pontudas, fazendo-a suspirar cansadamente devido uma falta de sono que novamente insistia em reivindicação território.

Oito estações se passaram desde o final da maldição. Desde a coroação de Aurora como governante dos Mouros até seu décimo oitavo aniversário – este, por sinal, acontecerá dentro de alguns dias. Malévola, como fada madrinha da jovem rainha, sabia que a pequena praga deveria estar planejando algum tipo de festa e ela provavelmente convidaria seus dois reinos para comemorar com ela, para sorrir e rir o tempo todo. No entanto, festas costumam trazer danças complicadas e casais sorridentes – definitivamente não o jeito favorito de Malévola de se divertir.

"Mas tudo pela praguinha." Ela pensou. Não havia nada que ela não faria pela garota, de fato, ela não podia dizer não a ela, e se a rainha Aurora lhe pedisse que dançasse, Malévola dançaria.

Um pequeno sorriso agarrou seu belo rosto.

Às vezes, ela não podia acreditar em si mesma.

À medida que as estações mudaram, seu amor pela menina tornou-se tão natural que ela sabia que tinha que se adaptar às mudanças que as circunstâncias lhe traziam. O tempo passaria e, com ele, o dia e a noite desapareceriam no horizonte, deixando trilhas para trás. Ao longo do tempo, as folhas caíram e as flores em beleza apareceriam, dias chuvosos e noites nevadas, o calor do sol e a luz da lua, todos juntos com a celebração de dezoito invernos desde o nascimento da praguinha e as palavras assim faladas de sua maldição.

Não importava o que ela lhe falasse, nem mesmo as coisas doces que fizesse. Nada deixaria Malévola esquecer do que ela fez e a culpa que a atormentava era às vezes grande demais para se lidar. A dor da traição de Stefan e a perda de sua posse mais preciosa - suas asas - tinham sido tão terríveis que a corromperam, e ela, tão jovem e tola, permitiu que o ódio envenenasse seu coração e amaldiçoasse uma criança, um bebê inocente que desde aquele dia fatídico sorriria para ela cada vez que seus caminhos se cruzassem.

Paredes de gelo, um dia usadas como barreiras indestrutíveis, modeladas com ódio e amargura, agora desmoronadas pela voz de uma garota simples, cujos olhos iluminavam quando sua madrinha decidia passar a tarde conversando com ela. O que restou de um velho coração foi roubado como uma joia por um ladrão numa noite de outono.

Malévola então sorriu, vendo a coincidência da praguinha ter nascido na primavera, o tempo de crescimento e renovação, o nascimento de uma nova vida, o início de tempos melhores. Aurora tinha sido sua redenção, uma maneira dos deuses dizerem que nem tudo estava perdido, que ela poderia amar novamente.

Ela olhou para aos campos floridos. Por um lindo nascer do sol, a luz na escuridão despertada por traição, perda e tristeza...por sua afilhada Aurora, a fada era extremamente grata.

O cansaço se expressou através de um longo e profundo suspiro, sua alma também implorou deliberação, tentando esquecer o passado. Era um fato que sua mente foi a razão pela qual ela deixou o ninho antes que o sol aparecesse. Ela estava em guerra com sua própria alma, que ativamente persistia em atormentar seus sonhos. Sonhar era um pouco difícil com tantas lembranças perturbadoras. Como de costume, nenhum feitiço poderia evitar espantosos monstros de ferro e, à medida que a noite desperdiçava memórias em pensamentos e sentimentos muito antigos para se considerar, a culpa consumia as emoções justas remanescentes.

Então, ela continuou andando. Ela caminhava para esquecer.

Não demorou muito para que o sinal do dia surgisse no horizonte, marcando o início do crepúsculo. A presença de luz solar fraca fez uma grande diferença, mesmo com a lua ainda podendo ser vista à distância. Malévola estreitou os olhos para protegê-los da luz próxima, e fez o caminho mais curto para o seu ninho. O inverno tinha sido muito cruel com sua árvore, que ainda estava a formar folhas, deixando a fada a opção de retornar ao seu ninho nas ruínas. Quando a praguinha descobriu isso - Diaval simplesmente não conseguiu manter a boca fechada - ela rapidamente lhes ofereceu uma das câmaras mais luxuosas de seu castelo.

Malévola teve que recusar.

"Eu preciso cuidar dos Mouros", e a rainha, a linda garota que era, aceitou os motivos da madrinha sem objeções.

E seu ninho era um lugar agradável de se viver. Tinha tudo o que ela precisava. Havia uma grande cama feita de folhas secas, palha e pele de animais, algumas flores decorativas meticulosamente colocadas por Diaval e uma lareira encantada por ela. Sua comida também era fornecida por sua magia, mas às vezes Diaval trazia algumas coisas de fazendas, e ela não sabia se essa atitude a irritava ou não. Ela havia lhe dito muitas vezes para não correr riscos porque a maioria dos humanos eram estúpidos, e podiam machucá-lo com lanças e flechas. A visão de longas cicatrizes impressas em sua pele pálida demonstrava que suas ordens foram inteiramente ignoradas, com o corvo tão disposto a ajudar e agradar. Ao curar as feridas, ela o chamou de estúpido. Ele riu, porque ambos sabiam que não havia sinceridade em suas palavras. Como poderia? Mais do que um servo, aquele corvo tolo era um amigo, e ela estaria mentindo descaradamente se dissesse que não era bom tê-lo por perto.

Finalmente, o sol se elevou completamente de sua cova, e as terras foram atingidas com luz branca brilhante, mais quentes do que nunca.

A guardiã dos Mouros deixou a floresta e atravessou os campos abertos. O vento bateu em suas asas, confortando-as depois de tantos anos presas em uma gaiola de vidro com visitas únicas do rei humano.

Malévola franziu a testa, pois, embora seu coração já não batesse mais por ele, sua lembrança ainda era desconfortável.

Ela respirou o ar puro e úmido, uma brisa calorosa e reconfortante atingindo seu rosto, fazendo com que ela sentisse como se esquecendo essas lembranças.

Abrindo suas asas, ela voltou para casa.

Pousou na margem da janela, apenas para abrir as cortinas e entrar. Havia uma porta escondida na parte mais baixa das ruínas, uma passagem secreta que um dia tinha sido usada por seres sem asas e ela mesma, quando ela havia perdido as dela. No entanto, a porta tinha sido esquecida logo que suas asas foram ligadas às suas costas. Os únicos que sabiam de sua existência eram Diaval - porque ele acompanhou sua senhora onde quer que ela fosse por mais de dezesseis anos - e Aurora, que obviamente não tinha asas, mas tinha que usar a porta toda vez que ela visitava sua madrinha em seu ninho. A jovem rainha esteve lá várias vezes, passando dias inteiros falando sobre seu reino, pedindo conselhos, e parecia ter apreciado o lugar e o quão limpo era.

Malévola não aceitaria o contrário. Ela podia ser uma criatura selvagem para os olhos humanos, mas como fada, embora não pura, mas a mais poderosa de todas, Malévola era cheia de peculiaridades e maneirismos, sempre deixando claro que sua palavra deveria sempre ser ouvida e, obviamente, não aceitando nada menos que o melhor tratamento para o lugar que ela chamaria de lar.

Era em momentos como esses que ela apreciava ter escolhido um corvo como servo.

Os tempos eram difíceis e ela dificilmente podia dormir devido aos pesadelos com asas de ferro e homens com correntes. Suas costas ainda doíam, sua magia estava começando a curar as feridas, e ela não conseguiu se concentrar em algo que não fosse a maldição. Ela sabia que era necessário que o resto das feridas curassem o mais rápido possível, e a ideia do quão alta sua árvore era bastante perturbadora. Dormir em um de seus ganhos resultaria em uma morte dolorosa, com seu corpo caindo do penhasco.

Desta forma, ela pediu a Diaval para ajudá-la a encontrar um lugar para um novo ninho. Ele tomou uma tarde para fazer isso, e outra tarde para levá-la até lá. Ela reconheceu o lugar como as ruínas que já haviam sido seu refúgio em tempos difíceis, e soube então que o corvo que tinha visto naquele dia fatídico era seu criado. Sua confiança nele aumentou imensamente durante o processo de construção do ninho, e ele parecia tão feliz ao fazê-lo. Malévola ainda podia lembrar do carinho especial que seus olhos negros floresciam quando ele coletava galhos e procurava flores. Ele tinha sido bastante dedicado em sua tarefa, mas quando se fala de um corvo, o pássaro mais metódico dessas terras, não se pode esperar menos do que perfeição.

O resultado de seu trabalho foi um pequeno, mas confortável ninho.

As cortinas tinham um tom azul escuro, parecido com o céu noturno, e deu ao lugar um olhar distorcido e interessante. Um calor confortável parecia prevalecer, circulando todo o seu corpo, o suficiente para dar-lhe um súbito desejo de deitar-se em seu ninho e dormir por sete dias.

Quando seus olhos cansados se recaíram para o ninho, no entanto, ela sentiu seu coração espremer-se em sua própria gaiola de ossos.

Diaval tinha desaparecido.

Malévola esperou três segundos para soltar um palavrão.

Ela não sabia exatamente o que pensar. Ela simplesmente saiu sem avisá-lo porque não queria incomodá-lo novamente. Ele estava cansado depois de um dia inteiro voando sobre os Mouros em busca de problemas para resolver e ela queria que ele descansasse. Por sinal, ela ordenou que ele descanse depois de calá-lo com um feitiço porque ele continuava perguntando sobre seu bem-estar ao invés vez de se preocupar com seu próprio estado de espírito e corpo, para se dizer.

Malévola suspirou, massageando suas têmporas.

O pássaro estúpido tinha que voar atrás dela. Claro que sim, ela não sabia o porquê essa atitude ainda a pegar desprevenida.

Certamente, ele era um bom servo, cuidando dos pertences de sua senhora e sabendo o que fazer para agradá-la sem a necessidade de palavras, mas sua preocupação, na maioria das vezes, excedia qualquer tipo de expectativas. Ele acaba esquecendo das coisas mais frívolas, como quando foi a última vez que ele comeu, ou a última vez que dormiu.

Absurdo era dizer que ela não apreciava o que ele fazia por ela - onde encontrar um servo tão leal como ele? -, mas a falta de importância que ele dava ao seu "lindo ser", do qual ele se orgulhava tanto, era preocupante. Ela se importava com dele, tanto quanto ela fazia com a praguinha, e ela sabia que seus sentimentos eram mútuos, porque se fosse o contrário, ela teria encontrado o corvo adormecido no ninho.

Malévola não conseguiu evitar que um sorriso cansado se formasse no rosto.

Seu corpo estava inquieto depois de acordar de um pesadelo.

Era uma coisa comum para ela, mas nunca foi tão frequente e perturbador como tem sido recentemente. Nem mesmo no tempo mais sombrio de sua vida, quando a dor mental e física pela perda de suas asas a levou a um estado caótico de chorar e gritar.

Não obstante, a noite passada tinha sido inquieta.

Suor cobria o rosto, caindo por seu pescoço, com seu peito ardendo devido à respiração rápida, a imagem do brilho da lua bem em frente aos olhos dela. As cortinas abertas revelaram o horizonte dos Mouros e o silêncio do resto das criaturas que vivem lá. Quando ela ousou respirar, a sensação das folhas e das flores cercou seus sentidos e, debaixo de seus dedos, havia ramos - que serviam incessantemente de apoio - tentando manter a libertação da ardente magia negra em suas veias.

A visão de seu servo deitado ao lado dela fez com que ela segurasse os soluços que sua garganta, tão amarga quanto sua alma, emitia perigosamente. Levando uma mão para acariciar as penas negras que ficavam ao topo da cabeça de seu servo, ela percebeu que ela estava tremendo, assim como o resto de seu corpo, que parecia congelar com a brisa fria após a chuva. Ela suspirou e acariciou o tecido macio de camisa escura dele, já que seu casaco grosso havia sido dobrado e colocado abaixo sua cabeça como um travesseiro.

Ela se virou para trocar de roupa.

Lançar a maldição do sono foi mais fácil do que não olhar para trás ao voar pela janela, e as cortinas se fecharam pelo som repentino de poeira contra o ar.

Um suspiro profundo deixou sua boca.

Ele voltaria logo, ela sabia, provavelmente gritando, reclamando de não ter de ser incomodado, e ela sabia que sentiria vontade de quebrar sua promessa de nunca o transformar em nada que ele desprezasse - principalmente cães e lobos -, mas ela já sentia falta de seu balbucio irritante, então ser repreendidos como uma criança quase não a incomodou.

Valeria a pena. O desejo de ter sua silhueta escura ao seu lado era maior do que sua irritação de saber que ela teria que ouvir sua voz cheia de repreensões. Pois ela precisava que ele estivesse lá, pois se ele estivesse lá, ela sabia que ela ficaria bem. Poderia ser rotulado como profundamente errado e perigoso depender de alguém, mas se preocupar era a última coisa em seus pensamentos, pois apenas vê-lo dormindo ao lado dela era um consolo para seus medos.

Muitas vezes, ela transformou Diaval em humano para ter seus braços ao redor dela, trazendo algum tipo de breve alívio para sua alma atormentada. Não demorou muito para que eles compartilhassem o ninho. Contra todas as probabilidades, tê-lo deitado ao lado dela não era assustador. Ele era seu criado. Seria ridículo temê-lo.

Embora isso, dentro de pouco tempo, ela não podia mais ser vista dormindo sem sua presença do outro lado do ninho. Portanto, sua forma humana sempre foi necessária, como tem sido em suas memórias mais recentes.

Era estranho pensar, mas aconteceu por um pedido dele. Ele era um pássaro. Ele era observador e, sob seu olhar preocupado, estavam todos os pesadelos que ela já teve. Ele sabia que ela perdia qualquer linha de raciocínio após um pesadelo. Ela nunca tinha falado sobre eles, mas ele provavelmente sabia do que se tratavam: a perda de suas asas, as palavras de sua maldição e a forma adormecida de Aurora.

"Deixe-me dormir como um homem de agora em diante. Desta forma, você nunca terá que se preocupar em me transformar de novo."

O pássaro era inteligente. Ele sabia da dependência que ela tinha sobre ele e não se importava.

Sabendo o quão egoísta eram suas atitudes, o segundo pensamento necessário para toda decisão racional não fazia sentido para ela, pois tudo estava bem quando Diaval estava por perto. Nenhum gesto indicou tal necessidade. Seu calor era como um cobertor, seus batimentos cardíacos acabavam por ser como uma canção de ninar, e a sensação de sua respiração na pele do pescoço a fazia sentir-se viva.

Quão estranho seu relacionamento era às vezes. O vínculo que eles construíram com amizade e lealdade – com amor, ela se atrevia a dizer – era tão forte quanto o que ela compartilhava com a praguinha, e fez dos sentimentos que ela teve por Stefan parecerem nada mais do que borboletas em seu estômago, uma varredura gelada pelo corpo.

Um sorriso agraciou seu rosto, felicidade e satisfação tomando conta de suas veias enquanto ela se deitava no ninho.

A visão de gencianas azuis e orquídeas brancas, campainhas roxas, ervas daninhas alaranjadas, marrons e cor-de-rosa forneciam um mar de cores para as pérolas esmeraldas que ela parecia ter ao invés de olhos. A faculdade de perceber aromas foi iniciada pela visão de um casaco preto dobrado, escondido entre ramos e flores. Houve certa relutância de sua parte, mas dois ou três segundos depois, o casaco já estava em suas mãos, e seu toque desencadeou a sensação do tecido grosso e o aroma que ele emanava. O cheiro de bagas molhadas e silvestres começou o incessante batida de seu coração, de repente pulando em seu peito, arrancando-lhe o fôlego e fazendo que suspiros deixassem boca. Malévola dobrou o casaco embaixo de sua cabeça e deitou de lado, suas asas espreguiçaram-se para cobrir parte de seu corpo.

Seus pensamentos ainda estavam em seu criado enquanto ela ouvia com atenção as canções dos pássaros. Poucas horas após o nascer do sol e os seres vivos e mágicos dos Mouros já estavam acordados. Era incrível como a felicidade parecia penetrar suas veias e fazer com que seus olhos brilhassem.

A luz branca refletia infinitas cores em contato com as cortinas escuras de seu ninho e momentos interessantes depois as paredes ganharam um tom azul brilhante, um show de cores dignas de admiração. Os restantes traços de luz que foram capazes de passar pelas cortinas chegaram a partes aleatórias, como a lareira – agora fora – até a própria Malévola, quem ficou encantada com o calor do sol aquecendo seu sangue.

Um vento suave atravessou os limites do ninho, abrindo as cortinas e permitindo que uma brisa perfeita percorresse os ramos e as flores até o rosto. A paz que Malévola procurava foi sentida dentro de seu peito, acalmando seu coração ferido. Assim que a brisa quente desapareceu, as cortinas foram fechadas de novo, e a escuridão sobrepôs o ninho pelo o que parecia ser tempo permanente.

Malévola fechou alegremente os olhos e soltou um suspiro contente.

Cá! Cá! Cá!

Um alívio infinito tomou conta de sua respiração, que estava sendo segurada por mais tempo do que esperava. Malévola sentou-se no ninho para olhar expectante para a janela. Ela sorriu um pouco ao ver um pássaro de penas tão negras quanto a noite e asas fortes e leais entrando no ninho.

O corvo pousou em um de seus chifres. Ele inclinou a cabeça e bicou sua testa.

Cá!

Malévola levantou uma sobrancelha. Ela sabia que o pássaro tinha ido atrás dela de manhã cedo e não tinha certeza de como deveria prosseguir pelo jeito que ele olhava para ela agora.

"O que foi?"

Cá!

Ela revirou os olhos. "Estou bem, Diaval".

Ele pousou em um de seus joelhos e balançou a cabeça em resposta às palavras anteriores. Ela estendeu a mão e acariciou suas penas. A criatura ronronou, tirando uma pequena risada dos lábios de sua senhora. "Criatura mimada..."

Cá! Cá! Cá!

O corvo bateu as asas em seu rosto.

"Diaval!"

O arfar de Malévola logo foi esquecido quando o pássaro pousou aos seus pés para se transformar em um homem.

Ele só pedia para mudar de forma à noite, poder abraçá-la e confortá-la, mas ela ficou tão emocionada com suas palavras que, quando a coroa foi colocada na cabeça de Aurora, e sem nenhuma palavra, Malévola o enfeitiçou. Diaval agora tinha controle absoluto sobre suas transformações, um presente por todos os anos de servidão e amizade inquestionável que ele ofereceu. Ele era uma das poucas criaturas em que ela podia confiar, provavelmente a única que ela poderia considerar como um amigo, e definitivamente alguém muito querido para ela, tanto quanto Aurora, que se referia tão carinhosamente a ele como padrinho. Malévola ainda podia ver o brilho no rosto de praguinha quando eles foram visitá-la há uma semana.

"Madrinha! Padrinho! É tão bom ver vocês dois aqui!"

Segundos se passaram para que penas de ébano se transformassem em pele branca coberta de cicatrizes, juntamente com um nariz pontiagudo e um cabelo liso com algumas penas escuras na parte superior da cabeça. Um olhar tão típico surgiu em seu rosto pálido, fazendo com que Malévola rolasse os olhos em irritação.

"Outro pesadelo?"

O tom preocupado usado por sua voz foi notado por ela. Ela suspirou. Ela podia ver em seu rosto no canto de seus olhos verdes. Ele estava irritado.

Que maravilhoso.

"Eu não pedi para você se preocupar com meus sonhos." Ela suspirou cansadamente ao som de um resmungo. Recordando os tantos anos de pesadelos consolados por seus braços, ela não pôde evitar, mas sentir um cansaço imenso atravessasse seus músculos. "Eu aprecio a sua...bondade. É bom saber que alguém se importa. Mas você precisava descansar, depois de ajudar tantos com suas preocupações. Então eu fui embora."

Ela pensou que sua resposta, cheia de falácias e um tom exagerado de preocupação, viria imediatamente. Mas não foi assim que aconteceu. Não, em vez da repreensão antecipada, da qual ela estava tão acostumada de ouvir desde o início de seus pesadelos, lembrando-a de um pai que brigava com uma criança, seu amigo corvo ficou em silêncio, um simples cenho franzido.

Ele não estava com raiva. Ele estava confuso e ferido.

Nunca foi sua intenção machucá-lo.

"Diaval-"

Ele ergueu uma mão, fazendo com que ela parasse de falar.

"Eu realmente pensei que depois de tantos anos você saberia que eu não me importo em servir. Nós até falamos sobre isso. Tantas vezes que o meu belo ser está ferido ao ouvir suas palavras, senhora." Uma carranca profunda tomou conta do rosto dela. Ela odiava o som de tal palavra e ouvi-lo chamá-la desse jeito era irritante. Ela olhou para ele para vê-lo correndo os dedos por seus cabelos escuros, suspirando dramaticamente. Ao levantar os olhos para encontrar os dela, ele sorriu ligeiramente: "E, ignorando tudo dito sobre sonhos, é meu dever me preocupar com o que acontece em sua mente enquanto você dorme, mesmo que nunca tenha me contado o que é, seja que eu precise dormir ou não.” Ele parou para observá-la, rindo por saber que estava com raiva dele. "Somos amigos e amigos se ajudam, certo?"

"Eu só queria-"

"Ser boa, sim, acredito, a Senhora de Todo o Mal se compadecendo por seu pobre servo." Ele disse em um tom brincalhão, para fazer que expressão séria em seu rosto desaparecesse de uma só vez. Uma tapa na cabeça foi sua recompensa. "Tudo bem, tudo bem, talvez não a Senhora de Todo o Mal, mas..."

"A Senhora de Todo o Mal nunca teria piedade de ninguém." Ela disse suavemente. "Mas ela cuida de seus amigos."

Diaval sorriu, e seu olhar não o deixou o dela quando sua mão tocou em um de seus joelhos.

"Prometa." Ela ergueu as sobrancelhas para ele, surpresa com a expressão séria e, ao mesmo tempo, protetora em seus olhos escuros.

Com cuidado, ela finalmente respondeu: "Tudo bem. Agora vá descansar, passarinho. Eu sei que você está cansado."

"Muito cuidado com seus servos, eu vejo."

Agora foi. Malévola bateu na parte de trás da cabeça de Diaval novamente. O homem corvo parecia ter certa apreciação em irritá-la, e ela sempre tinha vontade de fazê-lo lembrar quem ela era e o que ela poderia fazer com ele. Claro que ela nunca faria nada, mas adorava brincar, afinal de contas, era bom tê-lo perto e, acima de tudo, foi bom saber que ele queria estar perto dela.

"Você fala como se esquecesse de todas as vezes que você voltou de uma fazenda com uma cicatriz nova." Ela disse secamente, não gostando de se lembrar de tal coisa.

Seus olhos caíram sobre a pele exposta do homem, revelando seu forte torso coberto por cicatrizes que, sem dúvida, causaram grande dor. Maravilhando seus olhos através de seus traços, ela logo percebeu a mancha de sangue muito mal coberta pelo tecido de sua camisa preta.

"Você é um tolo, passarinho." Ela murmurou e rastejou até ele, parando a poucos centímetros dele, sentindo sua respiração contra sua testa. Pernas tocando, dedos habilidosos desfazendo os laços de sua camisa. Ele corou, não ousando fazer ou dizer nada. Tocando o sangue com as pontas dos dedos, ela estreitou seus olhos verdes para ele, "O que isso fez com você?"

A resposta de Diaval foi simples, "Um falcão."

Ela não disse nada em resposta, e pousou sua mão sobre a ferida em sua barriga, mágica dourada brilhando através de seus dedos e sendo passada para a sua pele pálida. Ele soltou um som dolorido, porque sua pele queimava como fogo. Quando a luz dourada desapareceu de repente, tudo o que sobrou foi outra cicatriz.

"Como é possível que um falcão tenha causado essa ferida?"

Diaval suspirou cansadamente.

"Senhora-"

"Você não se transformou." Seus olhos verdes de repente ficaram escuros. "Você tinha que lutar em sua forma natural, porque você pode lutar sem o uso de magia!" Flashes de lutas se enfiaram em sua mente e ela não pôde deixar de se queixar: "Por que homens são tão orgulhosos?"

Como uma criança humana faria, seus olhos negros olharam para ela, mostrando a mesma inocência e boa vontade das ninfas mais puras e a coragem dos duendes das florestas, protegendo as árvores que lhes serviram como lar. Complacência espremeu seu coração, cuja dor súbita a fez sorrir amorosamente, mas não esperando a resposta que viria com palavras suaves cheias de paixão:

"Ele não queria me dizer onde você estava, senhora."

Ela arqueou uma sobrancelha para ele, silenciosa foi sua surpresa e secreta satisfação e carinho pelo pássaro. Ela ergueu uma mão e acariciou as cicatrizes logo acima da linha de suas sobrancelhas grossas, e então deslizou seus dedos através de seus cabelos escuros, penteando as penas em cima de sua cabeça. Tais movimentos arrancavam suspiros fracos dele pelo o que parecia ser um minuto antes do pedido:

"Deite-se comigo?"

Ignorado completamente, os olhares de saudade que ele lhe dava quando ele pensou que ela não estava olhando abrigavam sua alma. Ela sabia de seu tempo observando-a dormindo de noite e até mesmo voando pelos céus por nada, rindo ao sentir o vento em seu rosto.

Mas era tão doloroso para seu coração admitir isso. Malévola simplesmente não podia acreditar no amor aclamado que seu criado tão obviamente tinha por ela num segredo tão claro. Seria muito doloroso se render à paixão e às fantasias inebriantes de apenas vê-lo ao lado dela, e depois perceber que tais sentimentos não passavam de piedade. Ela já havia tido o suficiente da pena dos outros habitantes da terra dos Mouros. Esses, na maior parte, também a temiam, apesar de ela ter demonstrado mais de uma vez que nunca lhes faria mal, criando até um muro de espinhos cruéis para protegê-los da intrusão humana que certamente viria com a maldição da filha do rei humano.

Pequeno, no entanto, foi o impacto de tal medo, pois ela sempre esteve sozinha, como filha da escuridão e da luz, e ela esperava o momento em que os seres dos Mouros, de quem desejava respeito e carinho absoluto, dariam as costas para ela.

Era apenas uma questão de tempo.

Tal tempo de abandono doloroso, no entanto, ameaçou piorar, com a visão de seu corvo amado rejeitando seus sentimentos.

Porque mais doloroso do que a perda de suas asas seria ver sua silhueta deixando seu ninho e nunca mais voltar, pois ele era suas asas e sempre seria. Então ela o mantinha com ela, como seu servo, e sua liberdade viria se ele pedisse. Às vezes, Malévola achava que ele nunca faria tal coisa, não porque ele gostava dela, não, mas porque seu coração sabia que ela não poderia ter paz sem ele. Ela tinha se tornado tão dependente do seu calor, agora mais do que nunca, com a praguinha não mais morando nas proximidades, e era terrível pensar em não o ter por perto. Outras vezes, como agora, Malévola se enchia de esperança; a esperança de ter seu coração - uma vez governado por ódio e rancor - aceito e amado, pois fim da solidão e pesadelos foi encontrado em seus braços.

Pelo menos, tanto quanto ele estava disposto a pôr fim a ambos tormentos, ela ficaria bem e simplesmente se debruçaria ao lado dele, como fazia agora, a batida forte de seu coração debaixo de sua orelha enquanto suas mãos quentes acariciavam as penas de suas asas, fazendo com que elas se movessem inconscientemente.

Um sentimento de gratidão silenciosa perdurou através da escuridão causada por cortinas que bloqueavam a luz do sol, que era tão forte e brilhante como as emoções transparentes que floresciam em ambos os corações batendo ali de tanto amor

Era uma linda manhã na terra dos Mouros.


Notas Finais


Obrigada pela leitura! Espero que tenha gostado! O próximo capítulo será traduzido e postado amanhã!


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