Ponto de Vista de Monique:
Desde sempre ouvi que meus gostos são peculiares. Esse fascínio pelo estranho me acompanha desde a infância. Tenho memórias vividas de na adolescência ter uma fixação por casos criminais. Eu passava minhas tardes vendo séries como Dexter e Criminal Minds, quando mais macabro e brutal fosse, melhor. Durante minhas refeições, eu assistia vídeos sobre casos criminais. Minha mãe não entendia como eu conseguia comer enquanto ouvia alguém falar sobre como Jeffrey Dahmer comia a carne de suas vítimas. Eu nunca consegui dizer como conseguia fazer isso, então só segui minha vida.
No fundo, sempre soube que queria ser investigadora, mas só verbalizei esse pensamento na adolescência. Eu passava noites e mais noites imaginando, sonhando com a excitação de tentar resolver um caso, bem como a glória de conseguir. A partir desse ponto da minha vida eu me dediquei 100% aos estudos. Meus pais ficaram orgulhosos, muito orgulhosos. Eles falavam o dia inteiro sobre como sua filha mais velha era um gênio. Minha irmã fingia não se importar, mas no fundo eu sabia que ela estava feliz por mim.
E tem ele também, uma das pessoas mais importantes da minha vida, meu melhor amigo, Edgar Xavier. Nós nos conhecemos desde o útero basicamente. Nossas mães engravidaram com poucos meses de diferença e somos amigos desde que me entendo por gente. Na infância, passávamos o dia inteiro correndo pelas ruas do bairro brincando de pega-pega. Com o passar do tempo envelhecemos, mas nem por isso nos afastamos. Edgar decidiu que queria ser químico. Nunca fui boa demonstrando meus sentimentos, mas para tentar incentivá-lo a seguir seus sonhos me ofereci para estudar com ele. Não é muito, eu sei, mas ele pareceu bem feliz com isso.
Nem tudo são flores, uma tragédia aconteceu na família de Edgar. Por isso, no primeiro ano do ensino médio, ele se mudou para São Paulo. Foi triste vê-lo partir, mas tentei ficar feliz por ele ter uma chance para recomeçar. Nós conversávamos todos os dias por mensagem, mas não era a mesma coisa que conversar pessoalmente. Sem meu melhor amigo eu fiquei muito solitária. Ele era uma das únicas pessoas que conversavam comigo na escola. Novamente recorri aos estudos como mecanismo de enfrentamento. Afinal, existe maneira melhor de ocupar a mente e esquecer os problemas? Se sim, eu desconheço.
Assim que me formei no ensino médio e fiz o ENEM eu me mudei para São Paulo. A adaptação foi bem difícil, confesso, a pior parte era ficar longe da minha família. O lado bom de tudo isso? Me reencontrei com Edgar, foi um momento feliz para mim em meio aquele caos. Eu também demorei um tempo para escolher qual faculdade fazer. Para ser investigador não necessita ter uma faculdade específica, mas precisa ter conhecimento em algumas áreas, como por exemplo investigação criminal, segurança, direito, psicologia e comunicação. De todas essas áreas sempre tive mais facilidade com psicologia, então foi ela que cursei.
Alguns meses após minha formatura tive meu triunfo, conquistei meu maior e mais profundo desejo, me tornar uma detetive. Eu entrei para a delegacia de polícia de São Paulo. Óbvio, por ainda ser novata não seria escalada para casos grandes, mas eu já estava muito feliz com minha conquista. Um passo de cada vez.
Isso nos leva ao dia de hoje, meu primeiro dia como detetive.
Nervosismo, um estado mental no qual uma pessoa se sente agitada, como se estivesse em um estado de excitação negativa. Essa é a palavra perfeita para me descrever nesse exato momento. Eu realmente estou feliz por ter conseguido esse emprego, mas como toda pessoa ainda tenho meus medos. Será que vou dar conta de tudo? Vou me dar bem com meus novos colegas? Vou conseguir me sustentar? Somente o tempo tem a resposta para essas perguntas.
Eu entro na delegacia. Respiro fundo e conto até dez para me acalmar. Logo sou recebida por um homem mais velho. Ele parecia beirar a casa dos 50 anos, cabelos pretos com mechas grisalhas, olhos castanhos e alto, muito alto. Este homem sorri calorosamente para mim e se apresenta.
— Oi, você é a nova investigadora, não é? Monique Ferreira Dubois, nome bonito.
Eu sorrio sem jeito e agradeço, logo ele continua.
— Eu sou o delegado Antônio Duarte. Muito prazer em te conhecer.
Damos um aperto de mão e ele começa a me explicar como a delegacia funciona, onde fica cada lugar, coisas desse tipo. Ele também menciona como a equipe estava ansiosa para me conhecer. Não sei como devo me sentir em relação a isso, mas espero que possamos conviver bem. Depois dessa breve introdução o delegado me avisa que ele tem que sair, um delegado não pode ficar o dia inteiro sem fazer nada, não é? Ele me deixa algumas instruções do que fazer e assim meu primeiro dia começa.
Durante meu expediente eu conheci alguns membros da equipe. Dentre todos destacou-se Ana. Ela é uma investigadora assim como eu e foi super legal comigo. Diferentemente de Ana, Marcos também se destacou, mas não por bons motivos. Ele me olhou de cima para baixo e mordeu os lábios, as intenções dele são mais do que óbvias. Não querendo causar confusão no meu primeiro dia eu simplesmente ignorei esse detalhe, não é como se ele fosse tentar alguma coisa, eu acho. O resto do meu dia foi tranquilo, conheci outros membros da equipe e fiz as instruções que o delegado tinha passado. No fim do dia me despeço de Ana e vou para o ponto de ônibus. Como sempre, o ônibus chega com uns bons minutos de atraso. Eu compro minha passagem e procuro algum lugar vago no fundo.
Para minha sorte, somente um lugar estava vago no fundo. Rapidamente eu chego lá e espero. O sono consome meu ser, quase caí no sono 3 vezes pelo que me lembro. Apesar disso me forço a ficar acordada, das últimas vezes que dormi no ônibus eu perdi o ponto. Eu coloco meus fones de ouvido e procuro algo para assistir. Depois de um tempo decidi ouvir meu podcast favorito. O resto do caminho foi tranquilo (exceto quando fingi estar dormindo para não ter que ceder meu lugar e quase acabei dormindo de verdade).
Como não tenho tanto dinheiro sobrando, eu divido apartamento com Catarina, uma amiga que fiz em São Paulo. Assim que chego no meu apartamento vejo Catarina dormindo no sofá e com a televisão da sala ligada. Eu dou risada e desligo a TV. Eu deixo minhas coisas na bancada da cozinha e começo minha rotina da noite, o de sempre: Jantar, tomar banho, escovar os dentes, passar alguns cremes e ir dormir.
Ponto de vista de ???
Ela é realmente linda, a mulher mais bela que já vi. Seus cachos negros como o céu noturno e olhos azuis que me lembram cristais ela faria qualquer homem desmaiar com apenas um olhar. O cansaço em seu rosto é evidente, pobrezinha. Ter que trabalhar o dia todo e ficar uma hora e meia no ônibus é exaustivo. Se ela fosse minha não precisaria passar por isso. Eu iria garantir que ela tivesse tudo do bom e do melhor, cuidaria para que ela não precisasse enfrentar esse tipo de desgaste. Ela merece muito mais, e eu sou capaz de oferecer isso a ela.
É realmente uma pena que ela não saiba do potencial que tem, para ela pelo menos, eu fico feliz com isso. Quanto menos competição, melhor, não é? Mas como é o nome do colega de trabalho dela mesmo? Márcio? Marcos? Isso, Marcos. Eu vi o jeito que ele olhou para ela hoje, isso não me agradou nem um pouco. Eu não vou matá-lo, ainda não. Talvez eu devesse dar um aviso? Quem sabe.
Olha que gracinha. Ela está tão cansada que esqueceu de fechar a janela. Como ela mora no primeiro andar seria fácil entrar lá, olha-lá, senti-lá. Talvez eu devesse esperar ela dormir primeiro. Bom ela ainda não é minha, mas que mal tem fazer uma visitinha?
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