Os gêmeos aparentemente estavam observando toda a briga há um bom tempo, ou pelo menos o suficiente para captar a gravidade da situação.
— Maria Luciane, você deve ir para sua sala, mas antes quero falar com você. Nik, leva a Izis para dentro da sala. Quero conversar um pouco com a Maria a sós.
— Tudo bem. Vamos, Leny, vamos nos sentar e guardar um lugar para a Maya.
Entramos na sala e deixamos as meninas lá conversando. Eu ainda estava irritada com a Malu, mas estava mais concentrada em entender por que a Maya se envolveu entre nós. Ela não estava com ciúmes de mim com o irmão dela? Então, por que ela nos mandou entrar sozinhos, sem ela?
— Nikolas, sua irmã está brava comigo?
— Claro que não. Vamos sentar aqui no meio da sala. Ela deveria estar brava?
— Se ela não está brava, por que agiu de maneira tão estranha comigo? Ela parecia querer que eu ficasse o mais longe possível de vocês.
— Ela teve seus motivos, mas é melhor você perguntar para a May. Não quero mais problemas com minha irmã, e tenho certeza de que ela nunca me perdoaria se eu falasse sobre isso.
— Tudo bem, mas então está tudo bem entre nós?
— Claro, está tudo bem. Você parece ser uma boa pessoa, e tanto a May quanto eu admiramos isso nas pessoas. Portanto, você não se livrará facilmente de nós. Quanto à sua amiga, sei que não deveríamos nos meter nisso, mas acabamos presenciando a briga toda e achamos melhor intervir antes que a situação piorasse. Você estava realmente muito alterada. Se quiser minha humilde opinião, você deveria dar uma segunda chance para a Maria Luciane se explicar com mais calma, e talvez possam retomar a amizade linda que tinham.
— Se vocês realmente entenderam a briga, devem ter percebido que ela estava completamente errada.
— Mas você também estava errada por só agora, depois de tantos anos, jogar na cara dela essas coisas. Então, não venha de vitimismo. Nenhuma de vocês estava correta na briga.
— Obrigada por tudo, mas eu prefiro ficar sozinha por enquanto, sem ninguém me atormentando.
— Tudo bem, mas uma hora ou outra você terá que enfrentar seus erros e resolver essa briga.
Eu odeio admitir, mas ele estava certo. Fui para o fundo da sala, onde pude ficar sozinha com meus pensamentos. Percebi que, quando a Maya entrou, ela cochichou algo para o Nikolas, que me lançou um olhar como se eu fosse uma criança desinformada.
Passei o restante da aula pensando sobre a amizade que eu e Malu temos. Tudo o que eu falei para ela era verdade, mas eu não achava mais que ela só era minha amiga por pena. Ao longo dos anos, construímos uma amizade profunda e essa era uma das poucas brigas que tivemos.
Será que eu realmente queria ficar brigada com ela? Eu ainda estava revoltada por ela ter dado chilique por eu estar fazendo amigos. Não era ela mesma que, ainda hoje, disse que eu precisava de amigos?
A aula de espanhol passou rápido, e a próxima era livre. Normalmente, eu iria até o pátio conversar com a Malu, mas hoje era diferente. Será que ela estaria disposta a falar comigo depois de tudo que dissemos uma à outra?
Como eu não tinha nada a perder, fui em direção ao pátio e logo a vi no nosso lugar habitual. Para minha surpresa, ela não estava sozinha. Sentados sob a nossa árvore, estavam os gêmeos Lancaster. Maya parecia estar consolando Malu, enquanto Nikolas lhe explicava algo. Era estranho, considerando que o motivo da nossa briga tinha sido justamente eles.
Eu já estava desviando o caminho para não atrapalhá-los quando Maya me viu e veio em minha direção. Tentei disfarçar, mas ela me alcançou rapidamente.
— Izis, você poderia vir comigo, por favor? Preciso que você fale com a Maria Luciane, ou pelo menos deixe ela se explicar. A garota está desesperada, achando que você nunca mais vai querer olhar na cara dela. Coitada, está realmente arrasada.
— Eu estava indo falar com ela, mas parece que vocês dois estão cuidando bem dela. E, considerando que o motivo da nossa briga foi justamente o ciúme dela por eu estar perto de vocês, agora ela, toda amiguinha de vocês, só prova a hipocrisia dela.
— Deixa de agir feito criança, garota. Conheci vocês hoje, mas já deu pra perceber que vocês não sabem ficar separadas. Ela mesma me disse que não sabe viver sem você.
A Malu não é dessas que sai falando das amizades pra qualquer um. Ela realmente devia estar mal, então, era melhor acabar logo com essa babaquice.
Fui em direção ao local onde Malu e Nikolas ainda conversavam. Ela estava de costas para mim, e Nikolas, ao me ver, começou a se afastar, temendo que eu fosse brigar com ele.
— Ei, garota, bonito, né? Você dá chilique de ciúmes e agora tá melhor amiga deles. Que hipocrisia a sua, hein?
Ao ouvir minha voz, Malu se virou em minha direção. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar. Confesso que fiquei com dó, mas mantive minha postura.
— Zizis, deixa eu me explicar, por favor. Eu reconheço que não agi de forma correta e peço inúmeras desculpas.
— Tenho certeza de que você ensaiou isso o dia todo, mas é claro que eu te desculpo. Sei que você deve estar péssima para ter que ensaiar um pedido de desculpas.
— Você me desculpa mesmo? Estamos bem, então? Você não quer mais me matar?
— Ei, eu não queria te matar. Só pedi um tempo sozinha para pensar. Nunca estive mal com você, apenas nos desentendemos um pouquinho.
Eu até tinha esquecido que os causadores de tudo ainda estavam ali, nos observando como se fôssemos duas crianças que brigaram e estavam se entendendo. Eles tinham esse péssimo hábito de se achar os adultos da situação, mas, no fundo, eram exatamente como nós.
Depois do início tumultuado do dia, tudo correu tranquilamente. Tivemos várias aulas e só voltamos a falar sobre nossas vidas fora da escola quando as aulas estavam quase no fim.
— Afinal, depois dessa briga toda, eu ainda vou ao shopping com você e o Jonas?
— Claro que vai! Eu prometi para a sua mãe que você iria comigo. E, afinal, ela não precisa saber que brigamos. Já que você tocou no assunto, posso chamar os gêmeos para ir conosco? Eles me contaram que são novos na cidade e não conhecem quase nada. Achei que seria bom mostrar um pouco da cidade para eles.
— Chame quem você quiser para ir conosco. Eu sou só sua convidada, então não posso dar pitaco. Isso é uma decisão sua. Mas ainda acho estranha essa amizade de vocês.
— Então está combinado. Os Lancaster vão com a gente, e lá eles explicam a nossa amizade para você.
Eu não estava gostando nada dessa história de amizade entre eles. Não era ela mesma que estava odiando os gêmeos? Mas, como eu não tinha muito o que fazer a respeito, deixei as coisas fluírem. Quem sabe não podíamos todos ter uma amizade?
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