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História Amor em Quarentena - Capítulo 1


Escrita por: maviautora

Capítulo 1 - Capítulo 1


Sexta-feira, 13 de março de 2020

Olá. Meu nome é Ana. Se hoje fosse há 10 anos atrás, certamente eu iniciaria com "querido diário". Só estou escrevendo aqui porque li em um site e acho que confirmei com a psicóloga — minha memória não é lá essas coisas — que ter um diário ajuda a controlar a ansiedade. Acabei de ser "liberada" do trabalho e da faculdade ao mesmo tempo por causa da pandemia — primeiro porque sou fodida por natureza, segundo porque tenho asma. O segundo confirma o primeiro.

Meus professores da casa dos "enta" dizem que é desnecessário suspender aulas se o país só tem pouco mais que dez casos confirmados até agora. Sendo preciso ou não, esse isolamento me deixou desempregada. Nenhum aluno que sobrevive sozinho ou com ajuda de pais pobres — 90% dos meus clientes — em sã consciência compraria fatia de torta por Delivery. Nem moto pra fazer entrega eu tenho. E os filhinhos de papai que até poderiam pagar já tão de bucho cheio com as empregadas cozinhando pra eles, por que diabos comprariam algo a mim?

Se eu não tivesse economizado no primeiro semestre de aulas, a essa hora eu já estaria sendo despejada. Sabe, isso é o que não te contam sobre ser adulto. Os palhaços ainda romantizam morar sozinho, estudar e trabalhar na cabeça dos adolescentes — jurando que além disso você ainda é capaz de ter relacionamento amoroso, sanidade mental e vida social, tudo ao mesmo tempo. 

Nos fazem acreditar que depois da escola a ansiedade acaba e tudo se torna flores — como se a vida real fosse um livro de ficção adolescente com milhões de leituras na internet. Às vezes eu fico lembrando da Ana com 12 anos de idade que sonhava em morar na capital com a melhor amiga quando crescesse para poder farrear e fazer o que desse na telha — sem represálias. Eu conto ou vocês contam? KKKKK

Como se não fosse o bastante todos os canais do receptor estarem falando do Corona e a porcaria da caneta estar falhando nesse exato momento, O INFELIZ DO VIZINHO TÁ COM UMA MENINA QUE GEME IGUAL UMA CACHORRA ATROPELADA, ATRAPALHANDO O MEU DESCARREGAMENTO DE STRESS NO PAPEL E MEU FUTURO SONO. Eu preferia ouvir a Cardi B falando “Corona Vairus” de madrugada com o meu pé descoberto e acessível pra o demônio puxar.

— NEM PRA LIGAR UM SOM?! — Gritei já sem paciência.

Tive como resposta a cabeceira da cama dele batendo igual uma furadeira contra a parede. Inferno.

Enquanto tento ligar a caixinha de som bluetooth, a infeliz começa a gritar do outro lado. Eu só queria saber se ela está transando ou tirando um rim sem anestesia.

Uma coisa que esqueci de escrever no diário: As músicas não deveriam romantizar a perturbação de sossego causada por gemidos alheios. São duas da manhã. Tem noção? Eu posso parecer uma idosa com 13 gatos falando isso, mas é a realidade que todos negam para não parecerem chatos. E só para fixar: não é inveja, é enxaqueca. E eu só tenho 1 gato.

Os memes foram uma benção dos céus — o silêncio que surgiu depois que coloquei para tocar sons de choro de bebê no Youtube foi mais prazeroso do que seja lá o que eles estavam fazendo do outro lado da parede. Graças a um influencer que fez isso e o vídeo viralizou, há dois meses atrás ganhei o apelido de “empata foda” e hoje vou conseguir aproveitar minhas três horas de sono diárias em paz.

***

Eu já estava pronta para dormir e fui pegar um copo de água, quando me assustei com alguém querendo derrubar minha porta. Peguei uma faca peixeira na cozinha — me sentindo a própria Tiringa girl — e fui em direção ao barulho, pronta para surpreender seja lá quem fosse.

Não me ache uma completa doente mental por me prevenir assim, semana passada conseguiram passar pelas portas do saguão de entrada. Como diria Dona Hermínia: "o porteiro vive em todo lugar, menos na portaria". Roubaram quase todos os apartamentos do andar acima do meu. À mão armada. Terminou que o porteiro foi ameaçado de morte por alguns moradores e teve que pegar um empréstimo parcelado em três encarnações para poder pagar o prejuízo com seu salário mínimo. Sem contar que foi despedido. Esse sim se fodeu. Talvez ele monte um grupo de assaltantes de banco como em La Casa de Papel para tentar quitar a dívida. Certeza que ele se chamaria "Recife" e ficaria chavoso na beca. Já chegaria metendo o passinho, carregando uma caixinha de som do Paraguai tocando brega funk no talo.

Moral da história: nunca abandone a portaria para comer a coroa divorciada do segundo andar. Os moradores não jogaram a culpa nas costas dele por não estar vigiando a portaria, mas sim por serem moralistas e descobrirem que ao mesmo tempo em que eram assaltados, acontecia esse fato curioso. Já dizia um velho sábio, "é melhor não foder a ser fodido".

Eu vi a hora da pessoa que batia à porta terminar arrombando-a de vez e peguei a primeira coisa que me pareceu útil no caso de não ser necessário esfaquear alguém — um porta-retratos de madeira e ferro, que era da minha avó.

— ABRE ISSO AQUI LOGO, DESSA VEZ VOCÊ ME PAGA! — Bradou raivosamente.

Ao abrir a porta de supetão e notar que o indivíduo vinha furioso em minha direção, taquei o porta-retratos em sua cabeça.

Meu pai não ficou bonito manchado de sangue.



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