História Amor em Quarentena - Capítulo 20

“Talvez eu tenha sido infantil ao trancar a porta. Muito infantil. Entretanto, estou certa de que não tomei a decisão errada. É controverso, eu sei. Na real, eu não permitiria que ele estragasse a própria vida em um momento de raiva. Ao menos, não enquanto estivesse entorpecido. Quando saí daquele apartamento ele estava acordado, mas não sóbrio. Não tinha sã consciência.

Já faz quase cinco horas que o deixei sozinho. Até agora não deu nenhum sinal de vida. Melhor assim. Não se brinca com gente de pupila dilatada.

Desde que voltei — até algum tempo atrás — eu estava tentando stalkear todos aqueles nomes. Ainda não consegui assimilar tudo o que acabei de ver. Se eu vim desabafar com você, diário, acredite. Estou surtando. 

Descobri que Carolina é modelo e faz residência médica no hospital de uma das universidades públicas da cidade. A maioria de suas fotos vêm de ensaios profissionais. O mais recente era parte do catálogo de uma grife a nível nacional. Ela é linda. Pelos destaques dos stories, reparei que começou a montar o próprio consultório. Não sei como ela consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo. Eu mal dou conta dos trabalhos da faculdade. Morro de medo de baixar as notas e perder a bolsa de estudos.

Por outro lado, Ricardo é um típico fantasminha. Além de duas selfies postadas, só achei marcações dele em fotos de aniversário de amigos e das empresas onde foi estagiário. Rodrigo segue a linha do irmão. Não achei quase nada útil sobre o indivíduo. Ao que tudo indica, é dono do escritório de advocacia onde trabalha, em Fortaleza. 

Tudo parecia estar nos conformes. Até dei uma olhada nos perfis e sites oficiais da faculdade onde eles estudam — às vezes, as instituições postam fotos dos alunos. Nenhuma pista. Eu estava ficando sem lugar onde pesquisar. Foi quando a ideia mais absurda me veio à cabeça. 

Qual a probabilidade dele já ter parado nas páginas de “crush” do campus? Ele não é tão bonito. Mas também não é feio. Ele é quase gostoso. Razoável, eu diria. Nada mais que isso. Sei que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas não custava tentar. Vai que.

Foi bem na mosca, diário. Em um post de três meses atrás, lá estava ele em uma foto num jogo de futebol do time da faculdade. Só que o “crush” da vez não era ele. Era um Deus grego sem camisa, que estava ao seu lado. O goleiro, para ser mais exata.

Nos comentários um nome conhecido estava marcado repetidamente: Henrique. Será que é o mesmo de quem eles falaram na briga de ontem? Mesmo que fosse, não fazia sentido. Não achei nenhuma ligação lógica entre ele e os outros três. Porque ela disse que deixaria o tal de Henrique por Ricardo, se é noiva de Rodrigo?”

Os meus devaneios no papel foram interrompidos pelos avisos do meu celular. Eram notificações. Um “desconhecido” me mandou mensagens no direct.

Direct on

— Tá me stalkeando?

— Achei seu perfil pela notificação

— Você curtiu uma foto da minha mãe de 2018

— A conta dela tá logada no meu celular

Merda. Como foi que isso aconteceu? Puta que pariu, eu sou muito burra!

Eu vou achar essa foto para descurtir, e é agora. Mas eu não lembro de ter visto foto alguma da mãe dele. Nem achei o perfil dela ainda!

Espera aí, rapaz...

Já saquei a malandragem. Na certa, Ricardo deve estar achando que sou tão previsível quanto ele é. Se eu responder a mensagem, vou entregar o jogo. Ele que espere sentado, se quiser.