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História Amor em Quatro Acordes - Introdução em fá sustenido


Escrita por: YOUGOT7JAMS

Notas do Autor


OIEEEEEEEEEE! Todos bem por aí? ❤

Eu tava animada e ansiosa pra postar esse capítulo, e tudo graças a vocês que estão acompanhando, falando da fic nas redes sociais e me enchendo de amor. Meu coração tá quentinho e eu tô toda boba com o carinho de vocês. Obrigada pelos comentários, tweets, kudos/favoritos, surtos na DM e todo o resto, haha ;)

Mais uma vez, obrigada à Nay (@filhadedson) que betou o capítulo e me deu um feedback incrível, incrível, incrível sobre a história 🥺

Boa leitura!

Capítulo 4 - Introdução em fá sustenido


Fanfic / Fanfiction Amor em Quatro Acordes - Introdução em fá sustenido

Não é só pelo dinheiro.

O acordo tem um segundo benefício, e que atualmente é sua prioridade: servir como escudo protetor. Um escudo que possa manter Hyejin e outras groupies afastadas por trinta dias. Um mês é suficiente para que Jongin fique longe da diversão descompromissada dos bastidores, das mensagens insistentes e dos encontros casuais que vivem desviando seu foco dos estudos.

É isso. Um mês para focar na faculdade.

Um mês longe de distrações.

Um mês sem precisar pesquisar na internet como tirar marcas de batom das camisetas, e com um dinheirinho a mais no bolso ao final de tudo. Parece perfeito.

Namorar de mentira não estava nos planos, muito menos com alguém que é tão diferente dele, mas a ideia parece cada vez mais interessante.

Pelo menos até ele e Kyungsoo chegarem na Babilônia.

Baekhyun ligou ontem à tarde para convidá-lo para um churrasco na república de Kim Minseok, um veterano de Relações Internacionais. Jongin achou que fosse a oportunidade perfeita para apresentar Kyungsoo a seu grupo de amigos.

Minseok e os outros cinco caras que dividem a casa, incluindo Sehun, vivem fazendo festas. “Só pro pessoal mais chegado”, eles dizem, mas as coisas sempre saem um pouco do controle. Da última vez, um homem foi parar em cima do telhado, e tiveram que chamar os bombeiros para ajudar o sujeito a descer. O maluco nem na universidade estudava. Ninguém sabia quem era.

A Babilônia tem muros altos cobertos de hera, muitas colunas e jardins suspensos. A república recebeu esse nome porque os moradores acreditam, por algum motivo, que ela seja uma versão de baixa renda de uma das cidades mais avançadas da civilização antiga.

— Como a gente entra? — Kyungsoo pergunta, balançando o corpo de um lado para o outro em frente ao portão.

Ele está nervoso, como um genro prestes a ser apresentado para a família do futuro noivo. É bem óbvio, e Jongin acha engraçado.

— Pela porta — diz, só para vê-lo franzir a testa e relaxar um pouco. — Qual é, o que você esperava? Uma entrada triunfal ou algo assim? A gente não precisa chegar dando as mãos, nem nada. As pessoas não começam a namorar do dia para a noite, então seria suspeito. Para todos os efeitos, ainda estamos nos conhecendo.

Kyungsoo levanta uma sobrancelha.

— Nos conhecendo — repete, como se experimentasse a palavra.

— Quer dizer que ainda estamos transando sem compromisso.

Seus olhos dobram de tamanho.

— É isso que vai dizer às pessoas?

— Meu Deus, Kyungsoo, relaxa.

Mas relaxar é uma tarefa difícil para alguém ereto e rígido como um poste, vestindo uma camiseta polo e calças cáqui. Seu cabelo está arrumadinho ao extremo e o tecido das roupas muito bem passado, como se tivessem saído direto dos cabides da loja.

Kyungsoo é um ponto fora da curva. Ao lado de Jongin, que usa calças jeans despojadas e uma camiseta velha com a frase Love Will Tear Us Apart, ele destoa bastante. Jongin tem vontade de esticar a mão e desabotoar a camisa dele ou bagunçar seu cabelo.

— Se vai ficar falando sobre a nossa intimidade por aí, pode ao menos espalhar que eu transo bem? — Kyungsoo sugere de brincadeira.

Jongin estala a língua e balança a cabeça, fazendo que não.

— Eu sou um cavalheiro, e um cavalheiro nunca conta.

Kyungsoo solta uma risada seca e sem humor, prestes a rebater, mas antes que possa abrir a boca de novo, Jongin toca a campainha.

Eles não entram de mãos dadas. Não fazem disso uma grande cena e muito menos trocam carícias exageradas para gritar ao mundo que estão juntos. Ele apresenta Kyungsoo a algumas pessoas, oferece uma latinha de cerveja e é isso. Uma festinha universitária como qualquer outra.

Seu plano é nunca deixá-lo sozinho. Jongin o mantém sempre por perto, guiando-o com a mão na base da coluna. O corpo de Kyungsoo reage nas primeiras vezes em que é tocado com uma pressão leve na lombar, mas eventualmente se acostuma, como se fizessem isso o tempo todo.

Jongin encontra os amigos no gramado, todos sentados em cadeiras de praia coloridas perto da piscina e com uma caixa térmica a seus pés. É o cenário mais praiano que consegue imaginar, já que o litoral mais próximo fica a quase cem quilômetros.

No primeiro semestre da faculdade, ele se atreveu a pular na piscina da Babilônia uma vez ou outra, sempre no fim das festas, de roupa e tudo. Não dá mais para fazer isso porque os donos da casa, depois de um ou dois meses, desistiram de cuidar da manutenção e limpeza.

Não é mais uma piscina. É um pântano.

Oooi — Baekhyun cumprimenta com um sorriso divertido.

Em saudação, Chanyeol ergue uma garrafa de Baden Baden puro malte, porque ele é uma espécie de sommelier de cerveja. O fato de abominar bebida popular, mas sair de bermuda e chinelão no pé, sempre intrigou Jongin.

Sehun desvia os olhos das folhas e galhos que flutuam na água do pântano.

— E aí — diz, encarando fixamente o braço com o qual Jongin envolve as costas de Kyungsoo. — Veio acompanhado, hein?

— Eu disse que ele traria alguém, não disse? — comenta Baekhyun.

— Só um milhão de vezes — Chanyeol confirma, já tratando de abrir mais duas cadeiras. Eles se sentam, esquisitos e desconfortáveis, e é o baterista quem os salva do silêncio constrangedor. — Como é que é? Não vai apresentar pra gente?

Isso é inusitado. Jongin nunca precisou apresentar ninguém para os amigos da banda. Está acostumado a aparecer com uma garota a tiracolo, sem dar explicações, ou simplesmente ser visto saindo de um canto escuro com algum cara. É sua primeira vez apresentando alguém, e soa tão oficial que ele tem vontade de rir.

— E aí, gente. Esse aqui é o Kyungsoo — diz, ainda com o riso preso na garganta. Jongin o segura pela nuca, massageando seu pescoço, porque precisa de alguns segundos para relembrar seu sobrenome. — Do Kyungsoo. Ele é da nossa faculdade.

— Ciências Biológicas — Kyungsoo acrescenta, antes que Jongin possa dizer alguma besteira.

Baekhyun parece curioso.

— Nossa! E como vocês se conheceram?

Chanyeol se inclina na cadeira, igualmente interessado.

— Na faculdade — mente Kyungsoo.

— Na Snacks & Co — conta Jongin.

— No El Dorado — Sehun responde.

Os três falam ao mesmo tempo. É uma bagunça.

Kyungsoo parece prestes a levantar e sair correndo, mas Jongin coloca uma mão sobre o joelho dele, e seu corpo relaxa na cadeira de praia.

— A gente se viu pela primeira vez no show do El Dorado. Depois esbarrei com ele de novo na Snacks & Co, porque o Kyungsoo trabalha lá, mas a gente só começou a sair depois de se reencontrar na faculdade — Jongin explica, surpreendentemente calmo. — Faz o quê? Um pouco mais de uma semana?

Ele olha para Kyungsoo em busca de validação para seu álibi.

— É, tipo isso — ele concorda.

Chanyeol abre uma segunda garrafa de cerveja e distribui entre os copos de plástico de Sehun e Jongin, que já estão quase vazios.

— Tava no El Dorado pro nosso show? — questiona ele. — Tu curte rock?

Kyungsoo aperta a latinha em suas mãos com força.

— Na verdade...

— Tá brincando? — Jongin solta. — Ele é super fã da banda.

Seu namorado de mentira arregala os olhos, mas é tão sutil que ninguém percebe. Depois sorri, um sorriso forçado sem mostrar os dentes, enquanto seus olhos parecem planejar mil maneiras de exterminar Jongin e sumir com o corpo. 

— Mesmo? — Baekhyun se anima, ajeitando-se na cadeira. — Qual música você gosta mais? Já ouviu nosso último álbum?

Uma vez que Jongin começou a mentir, não consegue mais parar.

— Ah, ele sabe todas as letras, juro!

Ai! Jongin sente um beliscão na lateral da perna, mas se esforça para não fazer careta.

Tudo bem, ele mereceu essa.

— Vai ver ele já te admirava de longe, então — especula Baekhyun, alheio às provocações acontecendo bem debaixo do seu nariz. Ele se vira para Kyungsoo. — O Jongin é o queridinho de todo mundo, sabia? Normalmente essa é uma maldição dos vocalistas. Mick Jagger, Ozzy Osbourne, Freddie Mercury, Axl Rose, Kurt Cobain… as pessoas só conhecem os vocalistas, mas ele é uma exceção à regra. Ele chama atenção, sabe? O menino é disputado, e difícil de se amarrar também.

O sorriso de Kyungsoo se transforma, tornando-se maligno. Jongin quase consegue ver chifres imaginários crescendo em sua cabeça e a palavra “vingança” escrita na testa. Ele tenta evitar a catástrofe, oferecendo mais bebida como distração, mas é tarde demais.

— Engraçado — Kyungsoo pondera, em tom ácido. — Não parecia ser assim tão difícil, pelo jeito que ele implorou pra sair comigo.

É assim que o caos começa.

Jongin pigarreia.

— Eu pedi com jeitinho — corrige, entredentes.

— Ele pediu de joelhos — Kyungsoo emenda.

— Porque um dos meus anéis tinha caído no chão!

— O Jongin quase chorou.

— Era alergia.

Kyungsoo semicerra os olhos e inclina a cabeça.

— E aí me olhou de um jeito...

— Um jeito sedutor.

— Como um cachorrinho perdido.

— Totalmente másculo — Jongin diz, cruzando os braços.

— E aí eu me fiz de difícil e...

— Aceitou de primeira.

— Porque não queria que você chorasse!

Ele balança a cabeça.

— Isso nunca aconteceu — Jongin murmura, mas o efeito é nulo, e os amigos continuam olhando para a cena como se tivessem levado um tapa na cara.

Que fiasco.

Ele encara Kyungsoo, que o olha como quem diz “Foi você que começou”. E, francamente, ele tem razão. Jongin se empolgou um pouco na mentira e recebeu o troco mais do que merecido.

Todos continuam quietos, hipnotizados, até que Baekhyun corta o silêncio com uma risada escandalosa.

— Eu sabia! Soube desde a primeira vez que vi vocês juntos hoje.

Jongin sente a garganta seca.

— Você… sabia?

— É claro — o vocalista aquiesce. — Era óbvio desde o começo.

— Sério? — Kyungsoo pergunta, afundando as mãos no rosto com um longo suspiro.

Jongin murcha na cadeira.

Ele sabia que um namoro falso seria trabalhoso. Sabia que seria difícil manter a farsa e as mentiras, mas não imaginava que seriam pegos logo no primeiro dia.

Está tudo acabado.

Adeus, grana.

Adeus, escudo protetor.

Adeus, foco na faculdade.

— Eu sabia que vocês tinham sido feitos um pro outro — Baekhyun diz, enfim.

Jongin engole em seco e Kyungsoo se endireita outra vez, aliviado, ostentando a mais rápida mudança de expressão já vista. Ninguém parece notar o teatro.

— Tá na cara! — Baekhyun continua, gesticulando com o copo na direção do amigo. — Nunca vi o Jongin tão à vontade com ninguém em tão pouco tempo. Tenho certeza de que vocês vão dar super certo!

— Verdade — Sehun concorda, balançando a cabeça, mas seu tom não tem ânimo algum.

— Têm nossa benção — aprova Chanyeol, e todos brindam com seus copos, latas e garrafas de cerveja.

Por sorte, a conversa logo segue outro rumo e, ao menos por enquanto, eles estão a salvo.

É só o começo. Eles têm ainda vinte e nove dias para sustentar a farsa sem cometer qualquer erro ou deslize. Honestamente, é bem mais difícil do que Jongin imaginava. Não se trata apenas de desfilar com Kyungsoo em uma festa ou outra, colocar a mão na cintura dele, apresentá-lo aos amigos e esperar que tudo se resolva sozinho.

Como continuar convencendo seus amigos de que aquilo é real se nenhum dos dois acredita nisso?

O relacionamento deve ir além de apenas parecer natural. Para isso dar certo, eles vão precisar de muito mais do que uma mãozinha aqui e outra ali, de sorrisos dissimulados e mentiras mal contadas.

Jongin se inclina para perto de Kyungsoo.

— Vem — chama, porque não aguenta mais se sentir tão observado pelos amigos. — Vamos pegar alguma coisa pra você comer.

Eles levantam e dão a volta na piscina (ou pântano), lado a lado.

— Essa foi por pouco — Jongin murmura.

Recebe um suspiro como resposta.

— Pois é.

Kyungsoo não parece nem um pouco animado ao ver a movimentação perto da churrasqueira. Seus olhos percorrem desde as carnes na grelha até a fumaça espiralada que sobe em direção ao céu. Tem muita gente em volta, e ele caminha devagar, adiando o momento.

Jongin move a mão para perto da sua, querendo confortá-lo, mas desiste assim que seus dedos se esbarram. Eles ainda não conversaram sobre dar as mãos em público.

“Vai acabar logo”, promete em pensamento, em vez de simplesmente dizer em voz alta.

O cheiro está incrível. Quando se aproximam da bancada, Jongin espeta uma das carnes com um garfo, assopra um pouco e ergue até a boca de Kyungsoo. Como previsto, sente os olhares se concentrarem neles, curiosos com a movimentação. É uma ótima oportunidade de vender a imagem de casal perfeito.

— Experimenta — ele pede, em expectativa. — O Minseok é um ótimo churrasqueiro.

Kyungsoo não abre a boca como esperado. Em vez disso, franze a testa e olha para os lados, em pânico.

— Não liga pra eles — sussurra Jongin.

Ele não é nenhum extrovertido, então entende as inseguranças de Kyungsoo ao conhecer pessoas novas, principalmente em um lugar com tantos desconhecidos e jovens excêntricos.

— Não é isso — ele desconversa.

— Que foi? — Jongin pergunta baixinho, tocando seu braço de leve. — Tem algo errado?

Ele ainda segura o garfo com o pedaço de carne rejeitado, mas sua mão começa lentamente a recuar e ceder. Todos assistem ao que parece uma discussão silenciosa. Que climão.

Kyungsoo olha para a grelha e depois para ele.

— Jongin, eu sou vegetariano — diz, o mais baixo que consegue.

Merda.

Ele trouxe um vegetariano para a droga de um churrasco.

Oficialmente o pior namorado falso do planeta.

Em resposta, Jongin enfia a picanha na própria boca e começa a mastigar, apressado. Hoje a carne parece borrachuda como sola de sapato.

Meu Deus, que grande idiota.

Ele percebe, pela primeira vez, como sabe tão pouco sobre Kyungsoo. Pior: percebe como nem se deu ao trabalho de conhecê-lo.

— A gente pode ir pra outro lugar? — pergunta Kyungsoo, arrancando-o de seus pensamentos. — Preciso de um tempo pra respirar.

Jongin sorri, animado com a ideia. A culpa é toda sua, e o mínimo que pode fazer é garantir que ele se sinta confortável. Aproveitando a deixa, larga o garfo na bancada e pisca para Kyungsoo.

— Conheço o lugar perfeito.

 

***

 

— Tenho quase certeza de que estamos infringindo alguma lei federal — Kyungsoo dispara, encarando a janela.

Já está quase anoitecendo quando Jongin destrava a fechadura dourada com a ajuda da sua palheta da sorte, aquela que carrega sempre no bolso. Ele se impulsiona para cima do parapeito da janela com facilidade, como se invadisse repúblicas com nomes excêntricos todos os dias.

Jongin estica o braço e ajuda Kyungsoo a subir.

É uma cozinha. Provavelmente a melhor cozinha que Kyungsoo já viu, porque ele gasta alguns segundos admirando a bancada de granito e o modo como ela brilha na luz que atravessa a janela. Eles estão no limbo entre o dia e a noite, quando o sol ainda não se deitou e o mundo todo se tinge de sépia.

Os dedos de Jongin formigam. Ele queria poder registrar o momento com sua câmera, capturar a brisa bagunçando a franja antes perfeitamente arrumada de Kyungsoo e a luz que toca metade do rosto dele. Seu olhar cinematográfico desperta nas horas mais inesperadas.

Ele acende uma das luzes e abre a geladeira, quebrando a magia.

— Relaxa, não estamos invadindo.

Kyungsoo levanta uma sobrancelha.

— Não estamos?

— Tudo bem, estamos invadindo. Mas não precisa se preocupar, sou praticamente de casa. O Sehun também mora na república — explica ele, enquanto vasculha a geladeira e as gavetas do armário, empenhado na Missão Alimentar Kyungsoo. — Eles sempre trancam a casa quando chamam a galera, porque ninguém quer ter o trabalho de limpar a bagunça. O pessoal faz coisas inimagináveis quando enche a cara, juro.

— Aposto que sim.

Com exceção da estética, não há nenhum luxo na cozinha de seis universitários. A geladeira é um conjunto de restos, panelas com comida velha e verduras que já estragaram. O armário é um estoque interminável de tranqueiras: pacotes de macarrão instantâneo, salgadinhos, biscoitos e, para equilibrar, algumas latas de legumes enlatados.

Jongin encontra leite, achocolatado e pega dois copos no armário.

— Você é vegetariano estrito? — ele pergunta, mas Kyungsoo faz que não com a cabeça. — Leite você bebe, né?

— Uhum. Eu ainda consumo ovos, leite e laticínios.

— Beleza. Gosta de amendoim?

— Gosto.

— Então pensa rápido — ele diz, e Kyungsoo é bombardeado com duas embalagens de amendoim crocante no peito. Tem uma etiqueta com o nome de Sehun nelas.

Os dois ficam perto da janela, sentados sobre a bancada enquanto comem e assistem o mundo escurecer aos poucos lá fora. Dividir o silêncio com Kyungsoo é mais confortável do que ele imaginou. Também é ótimo respirar longe dos olhares interrogatórios e da pressão de sustentar um namoro de mentira. Com o tempo, ele pensa, talvez fique mais fácil.

Para quem não queria cometer uma invasão a domicílio, Kyungsoo detona o pacote de amendoim em tempo recorde e ainda incentiva Jongin a cometer um novo crime: abrir duas latinhas de legumes em conserva. Tão ousado.

Jongin ri, remexendo a comida enlatada com uma colher. É uma miscelânea muito entediante de cenouras, ervilhas e batatas cortadas em cubinhos.

— Que tal aí?

— Péssimo — Kyungsoo responde, mas acaba abrindo um sorriso.

Jongin o observa, também sorrindo.

— Nosso primeiro jantar juntos. Foi mal, não é muito romântico para uma primeira vez.

— É romântico o suficiente para um namoro de mentira — Kyungsoo diz, dando de ombros. — Obrigado, aliás, por fazer isso por mim. Não precisava ficar aqui comigo quando tem um montão de comida boa pra você lá fora.

— E deixar meu namorado aqui sozinho comendo seleta de legumes com uma colher de sobremesa? — Ele estala a língua. — Que tipo de cara você acha que eu sou?

Kyungsoo quase cospe os legumes. Engole, tosse uma ou duas vezes e começa a gargalhar. Ele se curva, os ombros chacoalhando de leve e os olhos quase fechados. Jongin sente seus braços se tocarem, os corpos pressionados um no outro.

É a primeira vez que o vê rir assim.

Na verdade, é a primeira vez aprendendo várias coisas sobre ele.

Graças ao acordo, Jongin o fez mergulhar de cabeça em seu universo agitado e descuidado, sem aviso prévio. Ele sempre soube. Com a coisa toda do namoro falso, seria inevitável que seus dois mundos colidissem em algum momento. Kyungsoo conheceu seus amigos e sobreviveu a um dia na Babilônia. Nada mais justo do que conhecer o mundo dele também.

— Da próxima vez, me chama pra conhecer seus amigos? — Jongin pede.

Kyungsoo coloca uma colherada de ervilhas na boca e olha para ele, ligeiramente surpreso.

— Sério?

— Claro. Por que não? Vou ter que conhecer eles uma hora ou outra mesmo.

Kyungsoo toma um gole do achocolatado com leite e murmura:

— Bom, não espere nada muito… social.

— Eu deveria ter medo? — Jongin questiona, sorrindo.

Seu celular acende sobre a bancada, silencioso. A essa altura, o dia já foi substituído pela noite e a tela iluminada não passa despercebida. Ele recebeu uma mensagem. Algumas mensagens, na verdade.

Seu sorriso morre.

Jongin devia ter previsto isso.

Ele pega o celular e espia as notificações, sem de fato visualizar o chat.

 

Choi Hyejin:

oi, lindo

tô aqui na babilônia

onde vc tá? posso te ver?

 

Ele analisa suas opções.

1) Dizer que está acompanhado e voltar lá para fora. Mas Kyungsoo parece cansado, e ele não quer deixá-lo desconfortável de novo. Há muitas coisas ainda que precisam conversar antes de tirar o falso relacionamento da gaveta.

2) Agir como um ser humano decente e contar a ela a verdade. Jongin sabe que aquela conversa precisa acontecer mais cedo ou mais tarde, mas ele ainda não está preparado para essa discussão.

Ele decide seguir uma terceira opção.

A pior delas.

 

Kim Jongin:

Oi, desculpa

Hoje eu to indo embora mais cedo

 

Choi Hyejin:

o que aconteceu?

jongin?

jongin, a gente pode pelo menos conversar?

preciso falar com você

 

— Kyungsoo — ele chama. — Você acharia loucura se eu dissesse pra gente dar o fora daqui, tipo, agora?

Ele balança a cabeça.

— Não. Eu diria que é a melhor ideia que já saiu da sua boca.

— Mas precisa ser rápido, e em segredo.

— Tá fugindo de agiota, Jongin?

— É quase isso... — ele brinca, comprimindo os lábios em um sorriso. — E aí? Pronto pra fazer essa loucura por mim?

Kyungsoo dá de ombros.

— Não é pra isso que servem os namorados?

Antes de sair, Jongin tira uma nota da carteira e deixa em cima da bancada, junto com um bilhete que diz: “Foi mal, tive que alimentar um vegetariano faminto. Sehun, eu sinto muito, mas também comemos seus amendoins.”

Um minuto mais tarde, se esgueiram para fora da cozinha como agentes secretos em uma missão. De longe, Jongin vê Hyejin conversando com seus amigos, sondando o terreno. Ele se pergunta o que disseram a ela.

Que Jongin estava acompanhado?

Que ele trouxe… um amigo?

Que desapareceu com outro cara no meio da festa?

Bom, não importa mais.

A vantagem dos muros cobertos de hera é que são mais fáceis de escalar. Eles sobem e pulam, caindo com um baque no asfalto. Agora livres da Babilônia e de Hyejin, a primeira coisa que fazem do lado de fora é soltar um longo suspiro sincronizado.

Eles conseguiram.

Ou é o que parece.

Até que alguém diz:

— Pularam o muro!

— Quê?

— Onde?

Um burburinho de vozes, cadeiras arrastando e passos no gramado.

Kyungsoo segura em seu pulso e começa a correr, e Jongin o acompanha, sem saber direito porque estão correndo. É uma fuga de verdade agora. Eles só param ao virar a esquina. Deixam-se cair na calçada, sob a luz forte e amarelada de um poste de rua, ofegantes. Suas respirações são intercaladas por risadas.

Pela segunda vez no dia, Jongin sente que poderia registrar aquela cena: suas pernas juntas, esparramadas no chão, os tênis encostados um no outro. As mãos estão próximas, a sua descansando por acidente sobre a calça cáqui de Kyungsoo. Os anéis brilham.

Sem pensar muito, ele abre a câmera do celular e tira uma foto.

— O que você tá fazendo? — Kyungsoo pergunta.

Jongin sorri, satisfeito com o ângulo, as luzes, as cores, as tatuagens no antebraço se destacando na imagem. Tudo é perfeito. Essa é a foto. Ele nem precisou adicionar um filtro.

— Tornando oficial.

— Tornando o que oficial?

— Nós dois, Kyungsoo — ele diz.

E então pressiona enviar.

 


Notas Finais


Os bichinhos estão se aproximando, gente, pelo amor de Deeeeeeus 🥺
Sobre a fic: a previsão é que ela tenha uns 20 capítulos (sim, tudo isso!!!) e eu já tenho quase 10 capítulos prontos, então temos atualização por mais 6 semanas yaaaaaas! Feliz demais com o feedback e doida pra compartilhar mais dessa história com vocês. Mais uma vez, obrigada pelo carinho ❤

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Mil beijos, abraços e até a próxima sexta!


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