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História Amor, segredos e mentiras (Catradora) - 52 - O confronto


Escrita por: PietraSanMarino

Notas do Autor


Boa noite, gente linda!
Voltei e estou com saudades!!
Agora, meu trabalho deu uma pequena trégua e acho que, a partir da semana que vem, vou conseguir postar dois capítulos por semana. Vamos acabar esta fic que está na reta final!
No capítulo de hoje, muitas emoções! O confronto de Catra e Adora contra Harold Prime, e vamos ver o que aconteceu com Gildo, Weaver, Micah e todos os envolvidos!
Boa leitura e obrigada por acompanharem!

Obs.: Este capítulo apresenta cenas de tiroteio, sangue e violência, e podem provocar desconforto psicológico.

Capítulo 52 - 52 - O confronto


*Universidade Etheria*

*Laboratório Coração de Etheria*

*Tempo atual*

Harold Prime desviou seus olhos verdes e selvagens de Catra e olhou para o chão. Deu um passo para frente e se abaixou, pegando a caixinha térmica com as amostras. Ele ficou um tempo olhando para aquela caixinha em sua mão e, depois, olhou novamente para Catra. O homem sorriu suavemente, mas seu sorriso era maligno. E ele disse calmamente, com sua voz grave e pausada:

− Você... sempre atrapalhando os meus planos... – e então apontou sua arma para Catra e completou – Mas esta foi a última vez.

Catra engoliu seco e sentiu seus braços tremendo enquanto seguravam o peso do corpo de Adora. E, instintivamente, apertou a loira um pouco mais forte. Harold Prime pareceu ter percebido esse sutil movimento e, tornando a sorrir com maldade, disse tranquilamente:

− Eu quero que você sofra antes de morrer... – e, dizendo isso, foi lentamente redirecionando sua arma e a apontou para Adora.

− NÃO!! – Catra gritou desesperada, e se debruçou sobre o corpo de Adora, envolvendo o tronco e a cabeça da loira com os braços, tentando protegê-la de alguma forma, usando seu próprio corpo como escudo.

− Como queira... – Prime disse com calma – Minha arma é poderosa o suficiente para atravessar vocês duas de uma vez.

Catra apertou Adora com mais força e encostou seu rosto no peito da loira. E pensou: então seria assim. Seria assim que tudo terminaria. Ela e Adora, juntas, e tudo chegaria ao fim. E, em fração de segundos, toda a vida delas juntas se passou pela cabeça de Catra, desde aquele dia na escolinha infantil em que Catra viu Adora pela primeira vez e a garotinha loira a ajudou a se livrar do garoto que a importunava, até o dia anterior, em que Adora a pediu em namoro. E ela se lembrou também dos muitos dias na escola, das muitas partidas de futebol, dos muitos finais de tarde na Floresta do Sussurro, das muitas vezes em que elas dormiram juntas na casa da tia de Adora e conversaram até de madrugada, do dia em que passaram no vestibular, do quarto delas na Zona do Medo, do primeiro beijo e daquela primeira noite que elas passaram juntas no antigo quarto de Adora. E ela se lembrou nitidamente das sensações daquela noite, de como foi sentir Adora em contato com o seu corpo pela primeira vez, de como foi sentir o corpo de Adora pela primeira vez. E ela se lembrou do beijo de Adora, do cheiro de Adora, do toque de Adora e da última noite que elas passaram juntas.

E aquela sensação de vida se esvaindo deixou Catra angustiada e profundamente triste. Pensar em tudo o que poderia ter sido e não foi, tudo o que o futuro poderia trazer para as duas juntas e não viria mais, todos os sonhos e planos não realizados, e toda a vida que estaria pela frente, mas que agora iria se acabar ali, no chão frio daquele laboratório. Catra teve vontade de gritar de desespero, mas apenas fechou os olhos, respirou fundo para sentir o cheiro de Adora pela última vez, e sussurrou para a loira:

− Adora... eu te amo!

E então tudo aconteceu tão rápido, em tão poucos segundos, que ela mal teve tempo de raciocinar. Ela sentiu o braço de Adora se movendo por trás dela e rapidamente pegando a arma do cientista que havia caído perto delas. E, passando o braço por cima das costas de Catra, sem mira e nem força, Adora deu um tiro em direção a Harold Prime.

Catra se encolheu de susto, mas logo olhou e viu que o homem apertava o próprio braço, justamente o braço que segurava a arma, e ele se inclinou levemente para frente. A manga do paletó estava com um rasgo largo e, por ele, Catra pode ver que o tiro havia atingido apenas de raspão, mas foi o suficiente para que o homem se desconcentrasse e abaixasse a arma.

Catra olhou rapidamente em volta, tentando ver o que poderia fazer para se proteger e proteger Adora, mas logo viu o Sr. Prime endireitar o corpo, trocar a arma de mão e dizer com raiva:

− Vocês vão pagar por isso!

Imediatamente, um tiro vindo da porta do laboratório atingiu o braço do homem, fazendo-o largar a arma de vez. E Micah, seguido de vários homens da Polícia Federal, entraram no laboratório e prenderam Harold Prime.

*****

Os homens da Polícia Federal que Micah havia chamado chegaram a tempo de evitar um massacre. Vários homens de Prime e de Gildo estavam feridos e um funcionário da universidade havia morrido quando Prime o usou como escudo humano para poder atravessar do auditório até a porta do laboratório.

Quando entrou no laboratório, Micah deu ordem de prisão a Harold Prime e pegou a caixinha com as amostras, que havia caído no chão. Micah olhou para aquela caixinha e seus olhos se encheram de lágrimas: seus anos de solidão e disfarce estavam chegando ao fim.

Micah examinou o cientista que estava caído perto de Catra e Adora e viu que ele estava vivo, embora estivesse desmaiado. E logo se dirigiu para Catra e perguntou, sentindo o pulso e a temperatura de Adora:

− Como ela está?

− Está cada vez mais fria e com a respiração mais fraca. Ela perdeu muito sangue!

− Os paramédicos já estão chegando e vão atender todo mundo – e, passando a mão na cabeça da loira, Micah disse – Aguente só mais uns minutinhos, Adora!

− E o meu pai? – Catra perguntou, preocupada, lembrando-se de Gildo.

Micah respirou fundo e disse, com um leve sorriso no rosto:

− Ele disse que nenhum filho de corno põe a mão nele e nem nos homens dele, a não ser o Dr. Benício. Nós vamos usar as ambulâncias dos paramédicos para levá-los até a clínica, mas o Ticão já ligou para o Dr. Benício e ele também está mandando algumas ambulâncias para cá.

− Mas... e a situação deles...? – Catra quis saber.

− Eu expliquei toda a situação pro chefe da Polícia Federal e contei o quanto eles têm ajudado desde aquele dia em Ilha das Feras. Nós já combinamos que, para todos os efeitos, eles nunca estiveram aqui e ninguém sabe da existência deles.

− Obrigada! – Catra disse, sorrindo para Micah.

− Eu é que tenho que agradecê-los! Sem eles, a gente nunca teria conseguido.

Micah foi levando as amostras e se encaminhando para a porta, para continuar dando providências para a prisão de Prime e seus homens, quando Glimmer e Bow entraram no laboratório e foram correndo ao encontro de Catra e Adora.

− Meu Deus!! O que aconteceu? – Bow perguntou, se ajoelhando ao lado de Adora.

− Ela levou um tiro no ombro e perdeu muito sangue! – Catra disse agoniada.

− Não se preocupe, Adora! – Glimmer disse, acariciando o cabelo da amiga – Vai ficar tudo bem! O socorro já está chegando!

Mas Adora estava praticamente inconsciente, e só balbuciava algumas palavras desconexas de vez em quando, enquanto apertava a mão de Catra. Eles ficaram ali com ela, esperando o socorro chegar. Estavam todos em silêncio, olhando para ela, e apenas Bow, de olhos fechados, mexia os lábios discretamente, fazendo uma oração. 

E, enquanto eles estavam ali, olhando para Adora e cada um perdido em seus próprios pensamentos e medos, uma pequena mãozinha envelhecida tocou levemente no ombro ferido de Adora. Catra se assustou ao ver aquela senhorinha com óculos de lente grossa ao seu lado, porque ela não tinha percebido a sua chegada. Glimmer e Bow também não sabiam dizer de onde aquela mulher tinha surgido e se entreolharam, estranhando.

Mas a mulher tirou o casaquinho de crochê que estava vestindo e começou, delicadamente, a amarrá-lo no ombro de Adora, que, ao sentir a pressão do tecido sendo amarrado contra seu ombro, abriu os olhos, olhou para a mulher e sorriu fracamente, sussurrando:

− Professora...

− Adora, querida... a Mara ficaria com muito orgulho de você...

*****

Em poucos minutos, o estacionamento da universidade estava cheio de ambulâncias e carros da Polícia Federal. Muita gente também se aglomerava ali tentando entender o que estava acontecendo.

Enquanto os paramédicos imobilizavam Adora na maca, Catra foi até a maca onde Gildo estava sendo preparado para ser levado à clínica do Dr. Benício:

− O senhor está bem? Está sentindo muita dor? – ela perguntou, segurando a mão dele.

− Eu estou ótimo, minha filha! Prontinho pra outra! Já passei por situações piores! Quando teve o tiroteio no Morro do Gato, anos atrás, quando aquele desgraçado do Bento, que o diabo o carregue para o quinto dos infernos, matou a sua mãe, eu saí de lá mais furado que uma peneira. E estou aqui, não estou? E por aqui eu vou ficar! Não chegou a minha hora ainda, eu sei disso. Tenho muitos pecados para pagar nesta terra, minha filha!

Catra sorriu e deu um beijo na mão do homem, dizendo:

− Eu sei que o senhor é forte! Com certeza, em poucos dias, vai estar como se nada tivesse acontecido.

− É isso mesmo! Mas... e a loira?

Catra abaixou o olhar e disse com a voz triste:

− Ela não está tão bem. Perdeu muito sangue... – e, olhando para Gildo, perguntou, hesitante – O senhor se importa se...?

− Claro que não, minha filha! Vai lá ficar com ela! Ela precisa de você. E nós sabemos que ela fez tudo isso pra te ajudar!

− Ok! Eu vou acompanhá-la até o hospital, mas amanhã passo na clínica do Dr. Benício para te visitar, tá bom?

− Vá com Deus, minha filha! Vai dar tudo certo!

Ticão tinha acabado de chegar ao lado da maca de Gildo e Catra olhou para ele, segurou na sua mão e perguntou:

− Você cuida dele pra mim, Ticão?

Ticão ficou vermelho de vergonha e, abaixando a cabeça, disse:

− Cuido sim, patroinha!

Catra voltou para junto de Adora, entrou com ela na ambulância e, segurando a sua mão, foi com ela para o hospital.

*****

Enquanto as ambulâncias socorriam os feridos, lá mesmo no estacionamento da universidade um carro blindado se aproximava para levar Harold Prime para a delegacia. Ele estava com as mãos algemadas atrás do corpo e Micah o segurava pelo braço. Muita gente já estava se aglomerando ali e Micah pediu para outros policiais se aproximarem para garantir a escolta de Harold Prime até o carro blindado.

Prime olhou para todo aquele alvoroço e, balançando a cabeça, disse em voz baixa:

− Que circo patético!

− É pouco perto de tudo o que o senhor fez, Sr. Prime! Mas agora acabou pro senhor!

O homem riu com desprezo e revidou, olhando para Micah com seus olhos selvagens:

− Você acha mesmo? Você não sabe de nada, investigador! Sua visão do nosso esquema é muito limitada e não atinge a grandeza da nossa corporação.

− Mas agora, com o senhor, que é o cabeça do esquema, fora de circulação, a corporação começará a se dissolver.

Prime soltou uma gargalhada e falou:

− E quem disse que eu sou o cabeça do esquema? Quem disse que sou eu quem manda? O meu nome estava à frente de tudo, mas existe alguém acima de mim que tem muito mais poder que eu. E você nunca terá acesso a ele. Ninguém nunca terá acesso ao Grande Irmão! E mesmo se eu cair agora, o Grande Irmão irá colocar outro no meu lugar. Sempre haverá alguém para dar continuidade à grande engrenagem que move o nosso esquema. Por isso, a Prime nunca irá acabar! Os nossos negócios nunca deixarão de acontecer! A Prime é eterna! E, provavelmente, agora mesmo, neste minut...

Um tiro estrondoso ecoou no estacionamento da universidade e fez com que todas as pessoas presentes gritassem e se abaixassem, tentando se proteger atrás dos carros, das árvores ou se jogando no chão.

Instintivamente, Micah também se abaixou e puxou o braço do Sr. Prime para que ele se abaixasse junto, e começou a olhar em volta para tentar entender o que estava acontecendo. Micah viu que um fio espesso de sangue corria pelo seu braço e começou a ficar assustado, achando que tinha sido atingido, até que sentiu o peso daquele homem enorme tombando por cima dele. Micah olhou para ele, espantado, e viu que o sangue vivo tingia os dreads de sua cabeça e começava a pingar abundantemente, enquanto seus olhos verdes permaneciam abertos.

Antes que Micah pudesse se dar conta do que havia acontecido, o corpo de Harold Prime caiu na sua frente, com um tiro na cabeça.

*****

A confusão no estacionamento era geral. Muitas pessoas gritavam e corriam, enquanto alguns homens da Polícia Federal orientavam as pessoas a saírem dali e entrarem de volta no prédio da universidade para se abrigarem.

Micah e os outros policiais começaram a olhar em volta para tentar descobrir de onde o tiro havia partido. Micah olhou para o corpo do Sr. Prime, caído na sua frente, e, pela posição do tiro na cabeça do homem, pode calcular aproximadamente a rota da bala. Então olhou para trás e chegou à conclusão de que o tiro só poderia ter vindo de uma das salas do prédio da universidade, provavelmente do segundo andar. Micah olhava para todas as janelas, procurando alguma evidência, até que viu que uma delas estava aberta e ele pode notar um vulto indistinguível se dirigindo para a porta da sala.

Sem ter tempo de avisar ninguém sobre sua desconfiança, Micah saiu correndo de volta para dentro do prédio. Ele ia o mais rápido que conseguia, empurrando as pessoas que entravam em seu caminho, esbarrando em objetos e focado apenas em chegar logo para conseguir pegar a pessoa. Ao chegar na entrada do prédio, deu um chute na porta e quase atingiu uma mulher que vinha saindo e que gritou de susto, mas ele não teve tempo de pedir desculpas e, chegando na escada, foi subindo os degraus de dois em dois, já ofegante mas sem tempo para parar. Micah se embrenhou no corredor do segundo andar, correndo, e foi se dirigindo para as salas que ficavam mais à frente, na altura em que ele imaginava ser a sala onde havia visto o vulto.

Com a arma empunhada à frente do corpo, em posição de tiro, ele chutou a porta de uma sala, olhou e não havia nada. Seguiu pelo corredor e chutou a porta seguinte. Nada. Fez isso mais duas vezes e nada. Então, quando chutou a quinta porta, viu um corpo caído no chão.

Olhando por toda a sala com cuidado para ver se não havia mais ninguém, Micah se aproximou do corpo. Pelo estilo do terno e da arma, só poderia ser um dos seguranças de Prime. Micah tocou no cano da arma. Ainda estava quente, típico de uma arma que havia acabado de ser disparada. Abaixando-se perto do corpo, segurou a mão do homem e cheirou: havia cheiro de pólvora na mão. Depois, examinando o corpo, Micah viu que o homem tinha sido atingido por um tiro na nuca. Mas por que um tiro na nuca? Dado por quem?

Então Micah analisou a situação e entendeu: alguém tinha levado o homem ali para abater o Sr. Prime e depois, a mesma pessoa, fez uma queima rápida de arquivo. Micah pensou alguns segundos e teve um insight: a mulher! Só poderia ser ela! A mulher que ele encontrou na porta, saindo do prédio. Só ela estava ali dentro, então só poderia ser ela!

Mais uma vez, Micah saiu correndo da sala, cruzou todo o corredor o mais rápido que pode e desceu a escada aos saltos, pulando vários degraus de cada vez. Empurrando a porta de entrada com o corpo, ele saiu de volta para o estacionamento e começou a olhar em volta.

Ainda havia aglomeração ali perto de onde o corpo do Sr. Prime estava caído, ainda havia gente observando de longe e curiosos por todos os lados. Micah olhava para todas as mulheres, tentando se lembrar de como era a mulher com quem ele havia cruzado na porta do prédio, mas não conseguia. Ele tinha entrado tão rápido que não havia reparado em nada. A não ser que ela era alta.

Micah girava em torno do próprio corpo, olhando para todos os lados, tentando fazer seus olhos alcançarem todos os lugares onde a tal mulher poderia estar. Mas não conseguiu ver nada. A mulher, quem quer que ela fosse, já não estava mais ali.

*****

*Nos dias seguintes*

Nos dias que se seguiram, a Polícia Federal promoveu um verdadeiro desmonte das organizações Prime-Black.

O delegado Fonseca foi afastado de suas funções e ficou em prisão domiciliar, esperando para respondendo a um processo que contava com várias acusações, assim como outros policiais envolvidos no esquema. A fábrica de Ilha das Feras foi fechada e as outras fábricas da empresa foram interditadas, enquanto seus diretores respondiam a processos. Foi marcada a primeira fase do julgamento de Hordak mas, orientado pelo advogado que Entrapta havia arrumado, ele resolveu fazer uma delação premiada e conseguiu um significativo abrandamento da pena.

Depois das informações obtidas com a delação de Hordak, Micah e o chefe da Polícia Federal conseguiram a prisão preventiva do novo reitor da universidade, assim como de Otávia, do Véio, de várias outras pessoas envolvidas com a universidade e de Weaver também. Graças aos homens de Gildo, que pegaram Weaver já com as malas prontas e fugindo da república Lua Clara, a mulher foi entregue a Micah e foi direto para a prisão temporária na sede da delegacia da Polícia Federal, onde estava Hordak.

Catra e Entrapta também foram chamadas para depor, mas Micah avisou que elas responderiam em liberdade por seu envolvimento no projeto de Ilha das Feras, e Scorpia foi chamada para dar esclarecimentos por ser herdeira de parte das empresas Prime-Black, embora rapidamente tivesse sido provado que ela não tinha conhecimento dos esquemas.

Micah revirou todos os arquivos da polícia nacional e da internacional e não conseguiu descobrir a verdadeira identidade de Harold Prime: todos os documentos do homem eram falsos, e era como se ele só tivesse começado a existir nos últimos 15 anos, quando as empresas Prime-Black começaram a ganhar força no mercado. Antes disso, não havia nenhum registro de sua existência. Micah então teve certeza de que o suposto “Harold Prime” não passava de um testa de ferro.

*****

*Clínica do Dr. Benício*

*4 dias depois*

Durante toda aquela semana, Catra tinha se revezado visitando Adora e Gildo, embora dormisse toda noite no hospital com Adora. A loira tinha precisado receber algumas bolsas de sangue, mas estava cada dia melhor. Num dos dias em que a tia Teela havia ido visitar Adora, o médico explicou para ela e para Catra que o fato de a bala ter atravessado o ombro e saído do outro lado tinha evitado uma cirurgia mais delicada. Por isso, Adora já estava prestes a receber alta.

Gildo também estava bem. Tinha passado por uma cirurgia na qual teve que retirar um pedaço do intestino, por isso sua recuperação seria mais lenta. Mas o homem já estava totalmente sem paciência de ficar no hospital e mais ainda de ter que comer as comidas insossas que eram servidas ali. Catra tentava acalmá-lo e animá-lo, dizendo que logo ele estaria de volta à ativa.

Num dos dias em que Catra foi visitá-lo, ao entrar no quarto, a garota deu de cara com quatro pessoas que ela não conhecia: uma mulher e três rapazes. A mulher era uma senhora de meia idade, gorda, alta e muito branca, com os cabelos na altura do ombro e tingidos de loiro. Os rapazes aparentavam estar na faixa dos vinte e poucos anos, também eram todos gordos e muito brancos, dois deles eram altos como a mulher, mas um era baixinho e, embora jovem, já apresentava sinais de calvície.

E todos os quatro ostentavam uma enorme quantidade de correntes, pulseiras, anéis, brincos e relógios de ouro.

Catra parou na porta e ficou olhando para aquelas pessoas sem saber o que fazer ou dizer. Olhou para Gildo na cama e viu que o homem arregalou os olhos e ficou pálido, nitidamente constrangido e desconfortável. A mulher loira, por sua vez, olhou para Catra e, medindo a garota de alto a baixo, colocou as mãos na cintura e, virando para Gildo, perguntou, com um tom de voz meio desconfiado:

− Hermenegildo, quem é esta garota?

Gildo se mexeu na cama, pigarreou, esticou a perna, empurrou o lençol, pigarreou novamente e não respondeu. A mulher, com as mãos na cintura, olhava para ele começando a ficar nitidamente impaciente. Catra, por sua vez, estava imóvel, parada na mesma posição em que estava quando entrou no quarto, enquanto os três rapazes cruzaram os braços, olhando para ela ou se entreolhando.

E quando o silêncio já estava mais do que constrangedor e a situação estava insustentável, Ticão, que estava encostado na janela sem dizer nada, saiu de onde estava, atravessou o quarto, parou ao lado da garota, e, todo desajeitado e sem graça, segurou na mão de Catra e disse para a mulher:

− Ela é minha namorada, patroa. Eu pedi pra ela vir visitar o chefe...

Um dos rapazes deu uma gargalhada e disse:

− Você tá brincando que um cara burro e feio igual a você conseguiu arrumar uma namorada bonita desse jeito!

Ao ouvirem isso, os outros dois rapazes também caíram na risada e Ticão abaixou a cabeça envergonhado. Mas Catra disse:

− Eu peço desculpas por ter vindo sem avisar. Não sabia que a família estaria aqui reunida. Eu volto outra hora.

− Não! – Gildo disse rapidamente e, vendo que a mulher tornou a olhar para ele desconfiada, emendou – Pode ficar se quiser... moça...

− Não... o senhor deve estar precisando descansar e ficar perto da sua família. Eu volto outro dia – Catra disse, virando as costas para sair.

Ticão foi acompanhá-la até fora do quarto e, quando fechou a porta atrás de si, disse para Catra:

− Não fica chateada, não, patroinha... O chefe te adora! Mas é que a mulher dele...

− Tá tudo bem, Ticão! Eu entendo! E obrigada por livrar a nossa barra! Você foi muito inteligente e pensou rápido!

Ticão fez uma cara de quem não estava acreditando que havia sido chamado de inteligente, e abaixou a cabeça envergonhado. E Catra completou:

− Você me avisa quando ele estiver livre para receber visitas?

− Aviso sim! – Ticão disse, voltando para dentro do quarto enquanto Catra ia de volta pelo corredor.

E ela ia pensando: por que havia ficado tão triste e chateada? Ela já sabia que ele tinha uma família, que tinha mulher e filhos e que eles não sabiam da existência dela. Ele já tinha explicado para ela que não tinha ficado com sua mãe justamente por causa dessa família e que, embora não falasse muito sobre ela, era a família com a qual ele tinha escolhido ficar. Então por que ela tinha se abalado tanto em vê-los ali? Ele nem era pai dela de verdade...

Catra não sabia explicar seus sentimentos, mas iria aproveitar que tinha ficado com a tarde livre para resolver uma outra situação pendente.

*****

*Delegacia da Polícia Federal*

Catra chegou na delegacia da Polícia Federal, se identificou e pediu para fazer uma visita à Sandra Weaver. O delegado pediu a um policial que colocasse Catra e Weaver na salinha sem janelas, a mesma sala em que Entrapta costumava encontrar Hordak.

O policial acompanhou Catra até a sala e pediu que ela se sentasse e aguardasse. Alguns instantes depois, ele trouxe Weaver algemada, levou a mulher até a cadeira em frente à Catra, tirou as algemas e deu instruções para que elas não se tocassem. Weaver sorriu e disse:

− Não se preocupe, policial. Não haverá abraços nem carinhos aqui...

Catra revirou os olhos e respirou fundo, tentando manter a paciência. A mulher, esfregando os punhos no lugar onde estava a algema, perguntou com calma, sem olhar para Catra:

− O que você veio fazer aqui?

− Vim ver se você está precisando de alguma coisa – Catra respondeu secamente.

Weaver sorriu novamente e, olhando para Catra e cruzando as mãos sobre a mesa, disse:

− Sim, eu preciso sim. Preciso sair daqui. Pode fazer isso por mim?

− Claro que não! Você sabe que a sua situação está complicada. Mas, pelo que eu saiba, você tem um bom advogado.

− Tenho sim. E já que você não pode fazer nada para me ajudar, pelo menos não me atrapalhe! – Weaver disse com grosseria.

− Como você é mal agradecida! Eu vim aqui para ver como você está e você me trata desse jeito?

− Eu não preciso de você pra nada! Até hoje você só me atrapalhou e me trouxe aborrecimentos!

− Quer saber de uma coisa? – Catra disse já irritada – Quem sempre me atrapalhou foi você! Pegou todo o dinheiro que o Gildo mandava para mim, nunca foi uma mãe decente e, pra piorar, quando eu te abriguei na república da Adora, você ficou falando aquele monte de besteiras para me afastar dela. Mas não adiantou nada! E quer saber? Eu preciso te agradecer! O que você me disse aquele dia na república me fez ver que eu e Adora realmente precisávamos ter um relacionamento mais saudável. E agora nós nos entendemos e vamos ficar juntas pra sempre!

Weaver riu com desdém e perguntou:

− Você realmente acha que a Adora vai ficar com você por muito tempo? Logo ela vai se cansar de você! Você não tem atrativos suficientes para uma pessoa especial como ela.

As palavras de Weaver doeram em Catra, mas ela se controlou. Não iria cair mais uma vez nos joguinhos mentais da mulher. Então Catra disse:

− Isso é o que você gostaria que acontecesse, não é? Mas não é o que vai acontecer! Nós estamos juntas e felizes!

− Então aproveite o pouco de felicidade que você tem, porque você não tem mais nada! Nem pai você tem... – Weaver disse, rindo.

− Eu não vou cair nas suas provocações! Ele gosta de mim mesmo assim! – Catra disse, tentando convencer a si mesma.

− E por acaso ele já sabe que não é seu pai? – A mulher perguntou com um sorriso maldoso.

− Não... não sabe... mas tenho certeza de que ele vai entender e...

As palavras de Catra foram interrompidas pela risada de Weaver. A mulher se inclinou levemente em direção à Catra e disse, num tom de voz mais baixo:

− Entendo... e será que ele vai continuar gostando de você quando souber que, além de não ser filha dele, você não é nem filha da Norminha?

Catra arregalou os olhos e ficou atônita. E só conseguiu murmurar:

− O quê?

Weaver riu, balançando a cabeça, e disse:

− Você deve ser muito tola, assim como ele, para ter acreditado que é filha da Norminha. Mas você não é. Você não é filha dele, nem dela, nem de ninguém! Você não é nada! Você é uma qualquer! Você era apenas uma favelada que não tinha onde cair morta! E eu te dei um lar e uma vida boa, e como você me retribuiu? Sempre me trazendo desgostos e decepções!

Os olhos de Catra estavam cheios de lágrimas e ela disse, já se levantando para ir embora:

− Eu só não entendo como é que eu pude decepcionar você se, no fundo, você nunca esperou nada de mim, nunca confiou em mim, nem na minha capacidade! Nunca gostou de mim e nem conseguiu ter um pingo de afeto!

A mulher apenas olhou para o lado e disse em voz alta:

− Policial... esta visita acabou!

− Acabou mesmo! – Catra disse, virando as costas e saindo da sala.

*****

*Hospital Pedra da Lua*

Catra saiu da delegacia e foi direto para o hospital ver Adora. Mas, antes de entrar, ela se sentou no banco do jardim em frente ao hospital e chorou. Ela precisava chorar um pouco e colocar para fora tudo o que estava sentindo para não entrar nervosa e deixar Adora preocupada. Adora estava bem, já estava quase totalmente recuperada, mas Catra queria poupá-la.

Depois de chorar, Catra respirou fundo e entrou. Subiu dois andares e, chegando no quarto de Adora, abriu a porta e encontrou a loira acordada e tentando movimentar lentamente o braço que havia sido operado.

− Hey, Adora! Como está se sentindo?

− Oi, amor! Vem cá me dar um abraço! – Adora disse esticando o braço bom.

Catra chegou perto dela e a abraçou com cuidado, sentindo que seu coração tinha ficado mais leve só de estar perto de Adora.

− Estou me sentindo bem melhor hoje – Adora disse, movimentando devagar o braço operado – Já quase não dói mais e o médico disse que, em breve, eu já posso começar a fisioterapia. Minha tia acabou de sair daqui e disse que já ia entrar em contato com um bom fisioterapeuta para agendar as sessões.

Catra se sentou na beirada da cama, perto de Adora, e a loira acariciou o rosto da garota, dizendo:

− Eu estou bem, mas você, pelo jeito, nem tanto. Você estava chorando, né? Seus olhos estão vermelhos. O que aconteceu?

Catra sorriu e pousou a mão sobre a mão de Adora no seu rosto:

− Eu não consigo esconder nada de você, não é? Ahnn... por onde eu começo? Pelo fato de eu ter ido ver o Gildo e ter dado de cara com a família dele e ele ter ficado sem saber o que fazer... ou pelo fato de eu ter ido visitar a Weaver e ela me dizer que, além de eu não ser filha do Gildo, eu também não sou filha da Norminha?

− O quê?? Como assim? Me conta isso tudo!

Catra contou para Adora tudo o que havia acontecido e, ao final, como ela estava com os olhos cheios de lágrimas, Adora a abraçou com um braço só e disse:

− Vai ficar tudo bem, Catra! Assim que você puder, converse com o Gildo e conte tudo para ele. De qualquer forma, ele tem muito carinho por você e você não mentiu pra ele. Você também foi enganada.

− É, acho que você tem razão. A única coisa que eu posso fazer agora é contar tudo pra ele – Catra olhou para Adora e sorriu e tornou a abraçá-la, dizendo – Que bom que eu tenho você pra me dar apoio!!

− Eu sempre vou te apoiar em tudo! Você é a pessoa mais importante pra mim! E agora eu te devo a minha vida!

− O quê? Como assim? – Catra perguntou, se soltando do abraço – Quem salvou a sua vida foi o Micah, Adora. Eu só estava lá esperando para ser morta junto com você.

− Isso não é verdade. O Micah só conseguiu salvar a gente porque nós ganhamos um pouco mais de tempo quando eu atirei no braço do Sr. Prime.

− Então, quem salvou a nossa vida foi você!

− Na verdade, até aquele momento eu estava praticamente inconsciente. Não sei se é porque eu havia perdido muito sangue, mas eu estava apagada, e acho até que, se eu não fosse socorrida logo, iria morrer. Mas eu só consegui recobrar a consciência, pegar a arma e ter forças para atirar por causa de você. Por causa do que você disse...

− Eu? Eu disse alguma coisa?

− Você não se lembra?

− Eu não me lembro exatamente do que eu disse, porque eu pensei tanta coisa naquele momento que eu nem sei mais o que eu falei em voz alta ou só pensei.

− Bom, naquele momento, eu já estava prestes a desistir, achei que não conseguiria mais resistir. E então... então você disse meu nome e disse que me amava... e eu nunca tive tanta vontade de viver como depois de ouvir aquilo!

− É sério isso? – Catra perguntou emocionada – Fui que te ajudei a continuar viva?

− Foi! Você me deu forças para continuar lutando!

As duas se abraçaram novamente e Adora deu um beijo suave nos lábios de Catra, e depois disse:

− Sabe, nós nunca vivemos coisas tão perigosas, nunca nos envolvemos com gente tão barra pesada e nunca foi tão difícil conseguir o que a gente queria. Mas... há tempos que eu não me sentia tão feliz! Eu sei que aconteceu muita coisa ruim com muita gente e eu fico até com remorso de me sentir assim, mas, se eu for muito sincera, devo admitir que estou mais feliz do que nunca!

− Sério? Por quê? – Catra perguntou, sem entender exatamente o que Adora queria dizer com isso.

− Por causa de você! Eu estou feliz por estar com você! Estou feliz que nos reaproximamos, estou feliz por ter conseguido fazer isso tudo com a sua ajuda, e não mais contra você, como era meses atrás. Estou feliz por você ter se mostrado tão corajosa e ter ajudado tanta gente, mesmo se arriscando, e estou feliz por ter podido contar com você. Estou feliz por termos conseguido resolver esse caso e por termos colocado um ponto final nisso. E estou muito, muito feliz por ter você por perto de novo, poder ver o seu sorriso, poder ouvir a sua voz e ver esse brilho nos seus olhos... aquele tempo todo em que nós ficamos separadas... eu realmente senti muito a sua falta, Catra... mas agora eu sei que nós vamos ficar juntas para sempre!

Catra abraçou Adora com força, nem se lembrando que a loira estava com o ombro operado, e respirou fundo, antes de dizer:

− Eu também senti a sua falta, e me arrependo por cada dia que passei longe de você e que fiz de tudo para te atrapalhar. E fico feliz por você ter me perdoado de verdade e ainda gostar de mim, depois de tudo o que eu fiz.

− Pra mim isso já é passado! A alegria de ter você por perto e de ser sua namorada supera qualquer coisa ruim que tenha acontecido! – Adora colocou a mão no rosto de Catra e completou – Obrigada por ter salvado a minha vida!

Catra segurou o rosto de Adora com as duas mãos, aproximou seus lábios dos lábios da loira e, antes de beijá-la, disse em voz baixa:

− Eu acho que salvei a mim mesma. Eu simplesmente não saberia viver em um mundo onde você não existisse!

*****

*Clínica do Dr. Benício*

*1 dia depois*

No dia seguinte, Catra recebeu uma mensagem de Gildo dizendo que era para ela ir visitá-lo, pois a família dele não iria lá naquele dia. Quando ela entrou no quarto, se surpreendeu ao ver o homem em pé, trocando os passos devagarzinho e se apoiando na cama para andar, enquanto arrastava o suporte do soro pelo quarto.

Catra correu até ele para ampará-lo e disse, preocupada:

− Meu Deus! O que o senhor está fazendo? O senhor não pode ficar em pé e fazer força! Pode abrir os pontos! Sua cirurgia foi delicada!

− Eu não aguento mais ficar nesse inferno desta cama, deste quarto, comendo essa comida sem sal, sem gordura, sem gosto! Diabo de cirurgia!!

Catra segurou no braço gordo do homem para que ele se apoiasse nela e o ajudou a se sentar na beirada da cama. E disse:

− O senhor precisa ter um pouco mais de paciência! Logo, logo estará bom! Mas não pode ficar aí fazendo estripulias!

Gildo, sentado na beirada da cama, olhou para Catra e disse emocionado:

− Vem cá, minha filha! Me dá um abraço! Perdoa esse burro velho que é o seu pai! – e, passando o braço forte ao redor do pescoço de Catra, a puxou para um abraço apertado, quase a enforcando.

Catra o abraçou e perguntou, meio sem ar:

− Perdoar o senhor pelo quê?

− Por ontem, minha filha! Por eu não saber o que fazer perto da minha família. Por eu não ter te chamado de filha na frente deles!

Catra, se soltando do abraço, disse em voz baixa:

− O senhor não tem que me pedir desculpas por nada! O senhor não fez nada de errado!

− Claro que fiz, minha filha! Mas isso não vai se repetir! Eu vou falar com eles, vou contar tudo!

− Não! – Catra disse rapidamente – Eu não quero que o senhor se sinta culpado e muito menos que faça isso! Não conte nada para eles!

− Por que não, minha filha? É o certo a se fazer!

− Mas é que... eu... – e uma lágrima escorreu pelo rosto de Catra.

Gildo olhou para ela intrigado e perguntou:

− O que foi, minha filha? O que aconteceu? Por que você está chorando?

− Porque... porque eu... eu não sou sua filha...


Notas Finais


O momento que muitos esperavam! Finalmente, Catra vai contar para Gildo que não é sua filha. Como ele irá reagir? Façam suas apostas!!!
RIP Harold Prime, mas... ele não é o Grande Irmão!!!! Então, quem será que é?
Mais emoções no próximo capítulo!
Até lá!


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