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História Amortentia - Membro consorte da família ministerial


Escrita por: MxrningStar

Notas do Autor


Olá, minha gente. Tudo certo com vocês?
Queria desejar uma boa entrada de ano pra vocês. Que 2022 nos traga de bom aquilo que 2021 nos negou. Que seja um ano repleto de luz, amor, paz, saúde acima de tudo e união para todos nós. Feliz 2022, gente!
E agora sobre a fic: era pra ser o último capítulo, mas virou o penúltimo porque sim, escrevi além da conta. Me julguem rsrs.
Nada a esclarecer sobre ele, só desejar uma boa leitura.

PS: O último vem na semana que vem.

Boa leitura!

Capítulo 26 - Membro consorte da família ministerial


A vida era boa. A despeito da rotina que já vinham construindo há algum tempo, parece que a coisa toda tinha subido a um novo nível depois do casamento. Samantha não mentiria: amou acrescentar um Gutierrez lindo e imponente ao final do próprio nome e Lica.... Bom, Lica era.... Lica.

- Para com isso, Sammy... bora só aproveitar mais um pouco.

E lá iam elas de novo.

- Você vai se atrasar pro trabalho e eu também – um segundo de silêncio. Lica já ressonava de novo estirada sobre ela. A respiração quente dela em seu pescoço quase a fez desistir da vida lá fora e ficar por ali mesmo no aconchego dos braços dela. Mas haviam obrigações e destas, elas não poderiam abrir mão – Lica – nada – Lica, acorda, vai.... Não complica pra mim.

Heloísa ergueu a cabeça só para resmungar.

- Eu não tenho culpa se você me deu a maior canseira essa noite. Eu estou desidratada e morta. Não tenho condição de sair daqui agora.

- Meu Merlim, que drama! – Samantha revirou os olhos. Mais silêncio. Lica de novo ressonando baixinho – Heloísa Gutierrez, sai de cima de mim! Eu preciso me levantar, vou me atrasar toda pra reunião que tenho daqui a... cinquenta minutos.

- Você aparata lá e pronto – não, ela não sairia não.

- Vem cá, você já era emocionada assim quando a gente namorava ou eu que era cega? Merlim do céu, eu só vou pro trabalho, a gente vai se ver mais tarde!

Mas o problema era justamente esse: o mais tarde. Parece que o depois era sempre uma eternidade quando elas não estavam juntas. Não julguem Heloísa. Samantha ficava cada dia mais linda, mais maravilhosa, mais gata, mais gostosa e mais... Samantha, então era impossível não querer ficar grudada nela vinte e quatro horas. Lica sentia que cada segundo que passava longe de sua mulher eram segundos perdidos. Drama, ok, pode até ser, mas que era gostoso quando estavam juntinhas fosse de agarramento, fosse só aproveitando a companhia uma da outra, ah isso era.

- Você também não ajuda – Lica saiu resmungando de cima da esposa, virou para o lado e quase ficou cega com a claridade entrando pela cortina, que Samantha fez questão de abrir bem na cara dela com a varinha – Pra quê isso, caramba? Todo dia é isso. É um saco, sabia? Eu já acordo estressada!

E saiu resmungando para o banheiro, gesticulando revoltada em seu próprio monólogo. Samantha riu observando aquela cena, mas sabendo que aquela raiva toda não duraria mais que cinco segundos. Não com ela. E foi dito e feito: Lica retornou lá do banheiro, a toalha pendurada no pescoço, aproximou-se e deixou um beijinho em sua fronte.

- Bom dia, meu amor. Te amo.

E retornou por onde havia aparecido.

É, ela também amava, Lica. E definitivamente não era sacrifício nenhum.

Mas antes de caírem na rotina, o movimento. Foram exatas vinte e quatro horas depois do casamento até embarcarem no avião rumo a Londres. O meio de transporte trouxa tinha seus motivos: primeiro, que nenhum bruxo no mundo pode aparatar em outro país sem ter uma autorização prévia e a burocracia é tanta que viajar por meios mais comuns é até mais simples. Segundo, a rede de flu não te faria atravessar o Atlântico, funcionava apenas a distâncias mais curtas. Sem contar que sair do Brasil para a Europa rodopiando dentro de uma lareira pode não ser uma experiência lá muito agradável. Vassoura? Nem pensar: por mais que seja mais rápido, não chega à velocidade de um avião e definitivamente pode ser bem desconfortável passar horas na mesma posição sem ter exatamente onde se esticar sem correr o risco de cair no mar e virar comida de peixe. Há quem tente, Lica e Samantha preferiram não arriscar.

E, claro, o principal motivo: MB era o dono das passagens e fizera questão de fazer da viagem das duas uma pequena amostra de toda a pompa e circunstância da qual um Borovski goza. Começou no embarque na primeira classe, poltronas ultra-confortáveis, mais espaço para esticar as pernas e um verdadeiro banquete sendo servido durante o trajeto praticamente todo. Sanduíches de salmão, saladas disso e daquilo, café de todos os tipos que você imaginar... Sucos de frutas que Lica sequer sabia que existiam... Ok, no medo de perder as amizades, MB exagerara.

E sabe quem também exagerou? Heloísa. E começou no embarque.

- Lica, entrega a mala pro homem – Samantha sibilou já odiada da vida.

- Essa não precisa, não tem nada de mais aqui – e se agarrou à mala de mão.

- É obrigatório passar pela revista, Heloísa. Anda, põe essa mala na esteira.

- Não. Essa fica comigo.

- Senhorita, nós temos uma fila – o homem insistiu e já havia gente esticando o pescoço insatisfeita com a demora – A mala, por favor.

- Pra quê isso? É só uma mala.

- Então coloca essa merda na esteira – Samantha tentou tomar dela, mas Lica se virou, protegendo a mala como uma criança birrenta – Lica, a gente vai perder esse voo junto com todo mundo que está esperando nessa fila. Entrega a mala pro homem e para de maluquice!

Se fosse em outra ocasião, a Lambertini já teria puxado a varinha. E foi ao sentir a própria varinha no bolso interno das vestes, que Lica resolveu ceder. Mas claro que usaria de suas habilidades. Samantha que a perdoasse. A contragosto, pôs a mala na esteira e no momento em que o homem iria olhar para o monitor de raio X, ela murmurou um “Confundus” quase inaudível e deu uma discretíssima sacudida na varinha por baixo da jaqueta. O homem imediatamente retornou para a esteira e se dirigiu direto para a mala seguinte, de uma mulher mal encara que aguardava atrás.

Assim que a mala de Lica passou pelo detector sem sequer ter sido revistada, ela tratou de pegá-la sorrindo cínica e agradecendo. Só que Samantha havia visto e não só o que ela fizera.

- Eu não acredito nisso!

- Que foi? – Lica se apressou e pôs a mala no chão, saindo a passos rápidos – Qual é nosso portão?

- Lica, eu não acredito que você....

- Eu vou comprar um pão de queijo. ‘Cê quer?

- Heloísa de Almeida Gutierrez! – nome completo nunca é um bom sinal. Lica estacou – Me diz que o que eu vi....

- Nem reclama, que você depois não vai achar ruim – Heloísa sorriu convencidíssima do que dizia. Não era nenhuma mentira, afinal – É nossa lua de mel, Sammy! A gente tem passe livre pra ousar e ser feliz!

A Gutierrez retornou para ela de braços abertos e a envolveu, roubando um beijinho. A carinha emburrada sumiu com a velocidade da luz.

- Eu te odeio – Samantha riu e se deixou envolver por ela – Custava só ter me avisado pra evitar certas situações? Eu não teria te impedido, você sabe.

- Pardon moi – Lica entoou em um francês impecável, o que fez Samantha quase desfalecer nas próprias pernas bem ali. Amava quando ela falava francês, ainda mais em certas ocasiões.... bem privadas – Eu prometo que me redimo com você direitinho depois – e deixou dois tapinhas na mala.

- Oba... Quero – Samantha falou baixinho com pirraça e a beijou como ela merecia. Lábios dançando de encontro um ao outro, línguas se tocando em uma explosão de êxtase... Mas estavam em um aeroporto, afinal – A propósito, eu vi o que você fez. Não repete. Usar feitiço em trouxas é proibido e você sabe.

- Eu sei, não vou mais fazer – Lica ergueu as mãos rendida e a envolveu de novo pela cintura no momento em que a voz feminina chamou o voo delas no sistema de som – Partiu Londres?

- Bora – Samantha entrelaçou as mãos e seguiu com ela para o portão de embarque – Bora providenciar nosso herdeiros.

Embarcaram em um clima leve que só durou até pouco depois do avião levantar voo. E a culpa, ela tinha que ser de Lica de novo.

Heloísa sempre fora inquieta. Desde criança, ficar parada, para ela, era uma dificuldade. Chame de curiosa, danada, hiperativa, do que for. Permanecer muito tempo parada na mesma posição simplesmente não era com ela e a menina nunca nem se esforçara para o contrário. Viajar era uma tortura. Não o fato de conhecer novos lugares e afins, mas, em geral, os trajetos. E quando a distância era longa então.... Lica simplesmente odiava viajar de avião. Não era medo, era só... tédio. Ficar lá em cima vendo as nuvens passar, olhar para fora e enxergar somente um vazio azul.... Uma chatice sem fim.

Ao menos ali ela tinha Samantha para conversar e beijar vez ou outra, certo? Errado. Sua mulher simplesmente enfiou a cara em um livro e o mundo se esvaiu da mente dela. E embora ela ficasse fofa com aqueles óculos de grau redondinhos da armação dourada, Lica não os queria no momento. Queria a atenção dela, um carinho, qualquer coisa. Poxa, estavam em plena lua de mel, em um avião a milhares de quilômetros de altura, Samantha podia ao menos lhe dispensar um tantinho de seu tempo.

Lica começou com a cabeça no ombro dela. Em seguida, enfiou o nariz na curva do pescoço inspirando profundamente. Deixou uma mordidinha ali, ganhou um sorrisinho curto e baixinho da esposa. Foi o incentivo que ela precisou. Beijou uma vez, duas... na terceira vez, já estava no queixo dela.

- Você não tem jeito – a Lambertini largou de vez a leitura e segurou o rosto dela para aprofundar o beijo – E esse ataque de carência agora, hum?

- Eu te amo e é meio difícil não querer ficar de tocando o tempo todo com você aqui do lado.

- Amor agora é sinônimo de tesão? – Samantha respondeu baixinho, deixou mais um beijinho nos lábios dela e se esticou toda. Fechou o livro e bebeu um gole de água – Segura aí, vou ao banheiro.

Levantou-se sob o olhar abobalhado e bocó de Heloísa. Ela devia ter acertado em alguma coisa na vida mesmo para merecer uma mulher daquelas, pensou a Gutierrez sorrindo para o vento. Pena que o sorriso não durou muito. Samantha demorou a voltar e, inquieta que era, Lica acabou se levantando e indo atrás dela. A encontrou....

- .... Pois é, nós vamos passar dois dias lá de folga e depois seguimos para a Índia.

- Nossa, deve ser legal viajar o mundo todo assim – Samantha riu com olhos e tudo. Lica estreitou os próprios olhos observando a cena de sua mulher bebendo um espumante (e ela nem sabia de onde aquilo tinha saído) parada ao final do corredor enquanto papeava com uma comissária de bordo no mínimo.... Ok, ela era linda e tinha muito atributos a serem vistos.

- Mas você disse que escreve livros... É viagem a trabalho também? Você vai escrever alguma coisa sobre Londres?

- Não, é viagem de lua de mel – Lica mesma foi quem respondeu. Samantha sequer teve tempo de abrir a boca – Nós casamos anteontem, não foi, amor? – e deixou um beijinho na mulher em um claro recado. Ela esperava que aquela vara pau peituda da funcionária da companhia aérea o entendesse – ‘Cê demorou....

- Pois é, a Luciana aqui me ajudou com a porta do banheiro, que emperrou.

Lica quis perguntar por que diabos ela não usou a varinha. Era a coisa mais simples, um Alohomora e tudo se resolvia sem precisar da ajuda de... vara pau peituda nenhuma. E a mulher tinha peitos. Como tinha! E ria toda faceira para o rumo de Samantha. Por Merlim, aquela criatura não se tocava que aquela passageira boazuda ali tinha companhia não? E mulher? Que ela era casada? Olha o tamanho da aliança na mão esquerda de Samantha!

- Valeu, Luciana... Bora? – e pegou Samantha pela mão.

- O espumante, Samantha – a mulher estendeu a garrafa de vidro para a Lambertini, que a pegou toda sorridente. Ah, não.... – Cortesia da companhia pelo imprevisto do banheiro.

Merlim, foi só uma porta emperrada! Lica quis falar, mas relegou-se ao silêncio e a fuzilar a aeromoça com os olhos enquanto a mulher entregava um balde de gelo com uma garrafa de champanhe para Samantha. E no movimento de pegar os lenços que estavam no pequeno armário cima da cabeça da Lambertini, a mulher se esticou toda com os peitos praticamente parados na cara dela. Aí já era demais.

Lica puxou a varinha de dentro das vestes pronta para transformar aquela criatura em uma minhoca, mas Samantha percebeu o gesto a tempo e correu até ela, empurrando o braço para baixo e impedindo-a de cometer uma loucura.

-Ficou maluca? – a Lambertini sibilou, o movimento tendo atraído a atenção de alguns passageiros e dos próprios comissários.

- Essa mulher precisa ter tanto peito? – Lica se emburrou mais que menino birrento.

- E você vai fazer o quê? Arrancar eles no feitiço? – Samantha claramente estava brigando. Oh, Merlim.... – Me dá essa varinha, Lica.

- Me solta, Samantha.

- Me dá essa varinha, Heloísa Gutierrez – e tentou toma-la, mas Lica protegeu-a girando o próprio corpo.

- Prontinho – a comissária se virou para encontrar Samantha meio curvada sobre uma Lica igualmente recostada à parede em uma posição um tanto.... A mulher pigarreou e algo nela pareceu murchar. Mas havia uma Gutierrez ali e ela não era para amadores.

- Sammy, meu amor, eu já falei que já está mais perto do que longe. Espera só mais um pouquinho e você faz o que quiser comigo no quarto do hotel. Banheiro de avião é muito desconfortável.

A comissária, coitada, desatou a tossir. O problema foi que a fala de Heloísa simplesmente foi ouvida por metade do avião, que estava em completo silêncio assistindo ao embate das duas. Uma mãe tapou os ouvidos do filho apressada. Uma senhora soltou um “oh, my God!” e levou a mão à boca completamente constrangida e outra resmungou alguma coisa em italiano que Lica não entendeu nada, mas Samantha sim. E a frase não era das mais condescendentes não.

- Quando a gente chegar na porcaria do hotel, eu vou é te matar, Heloísa – Samantha sibilou odiada da vida e só então se deu conta de que sua mão estava no bolso dianteiro da calça de Lica, o que dava a impressão de que.... – Meu Merlim, que vergonha – ela sussurrou, se afastou e se recompôs, pegando o champanhe da comissária, agradecendo com um sorriso condescendente e se retirou pisando forte. Olhares curiosos a acompanharam. No meio do trajeto, ela bebeu um gole generoso do espumante direto no gargalo – Heloísa Gutierrez!

O chamado dela feroz fez Lica se mover rapidamente. Ela roubou mais uma taça no armário lá atrás e rumou pela mesma direção da esposa também sob olhares embasbacados. Samantha havia assumido seu lugar na janela.

- Amor...

- Cala a boca, Lica. Fica calada – uma ordem apenas e Lica ficou muda. Samantha seguira virando champanhe sem lhe oferecer uma gota sequer pelo restante da viagem. E o pior é que, agora, nem se aconchegar mais à esposa a Gutierrez se atreveria ou seria arremessada dali de cima feito um batedor rebatendo um balaço. E Samantha também era excelente como batedora.

Lica respirou fundo e tirou o celular do bolso para tentar não morrer de tédio de novo. Talvez morrer de tédio fosse melhor que morrer pelas mãos de uma leoa selvagem. E Samantha era uma todinha. E o pior: do tipo que tinha fome e que arrancaria o couro de um sem dó nem piedade. E a presa seria ela, Lica. Era prazeroso em alguns momentos, mas bem assustador quando ela não sabia muito bem o que esperar.

(...)

- Você vai ficar me ignorando, é isso? – ela não iria. Não mesmo. Não tinham viajado para o outro lado do mundo para ficarem naquilo. Lica se recusava – Samantha, eu estou falando com você. Já pedi desculpas. Custa aceitar?

- Eu já aceitei, mas esquecer a vergonha que você nos fez passar, eu não esqueço tão fácil, Lica. E pior do que ela, sabe o que foi? – Samantha mirou-a intensamente – Foi te ver pela segunda vez sacando a varinha pra usar magia em quem não deve. Você ficou maluca? Se te pegam executando feitiço contra um trouxa aqui, você vai presa por quebra do sigilo mágico e eu não quero nem pensar qual é a pena deles pra isso. A gente está na Inglaterra, Lica, as leis aqui são outras! Vê se acorda!

- Foi mal, eu sei que agi errado. Ainda bem que você me impediu, mas eu... – ela se sentou na beirada da cama totalmente derrotada – Eu também fiquei com ciúmes e raiva daquela comissária peituda dando em cima de você na cara dura.

- E você acha que eu não tinha percebido também? Por Merlim, Lica, eu não sou cega! – Samantha colocava as roupas no armário com o auxílio da varinha. Do contrário, ela rebolaria as malas lá de cima com tudo que havia dentro – E se você pensa que eu cairia no papo de uma trouxa qualquer, é porque realmente não me conhece. E me magoa pensar isso.

- Desculpa, meu amor, eu.... Cara, eu sou uma merda – Lica murmurou mais para si que para ter uma resposta – Olha, eu vou compensar, prometo. E me controlar também. Não vai ter uma próxima vez.

- É o mínimo que eu espero – Samantha fuzilou-a com o olhar – Mas até eu resolver que dá pra ignorar, não me testa ou te mando de volta pro Brasil na base do chute.

Ela passou por Lica feito um furacão e foi para o banheiro.

- Você pode só... – ela foi até lá, mas a porta se fechou em sua cara e ela ouviu o barulho da tranca – Samantha – tentou – Samantha – tentou e bateu.

- Ocupado! – foi tudo que a Lambertini respondeu para frustração de sua mulher. Bufando, Lica se deu por vencida e saiu resmungando. Pôs a mala sobre a cama e com um movimento de varinha, suas roupas começaram a se guardar sozinhas no roupeiro. A outra mala, a de mão, jazia esquecida na beirada da cama. Chutando-a, ela se sentou na ponta do colchão e suspirou exausta.

Mas era exausta de si e de suas burradas. Sim, porque começou antes mesmo do embarque no Brasil. Mais um pouco e ela tinha certeza que Samantha correria no juiz e pediria o divórcio dizendo que foi engano e que ela queria se separar. Baita recorde, Heloísa, estragar a própria lua de mel com só pouco mais de um dia de casada.

Suspirando, ela se levantou e foi catar a mala de mão. Abriu-a e sorriu inevitavelmente ao se deparar com os artigos que levara consigo na viagem e em como provavelmente não iria conseguir usá-los porque era boa demais em estragar as coisas. Ouviu o barulho do chuveiro no banheiro e olhou por cima do ombro.

Bom, Lica era boa sim em estragar as coisas, mas também se se esforçasse um pouquinho, poderia... Ok, só precisava mostrar para Samantha que ela era sim uma mulher madura e que conseguia pensar direitinho em suas atitudes e se redimir. Uma excelente auror das mais respeitadas que o Ministério da Magia já vira... uma mulher requisitada pelas qualidades que tinha e com habilidades excelentes.

Rindo travessa, Lica foi tirando um a um os objetos da mala. Samantha lhe perdoaria e ela conseguiria reverter aquela situação incômoda. Ou não se chamaria Heloísa Gutierrez.

Samantha saiu do banho, usou o secador para tirar a umidade dos fios e saiu do banheiro com o corpo envolto em um roupão branco felpudo. Estranhou um pouco o silêncio até se deparar com um camareiro recebendo uma gorjeta de Lica na porta e se retirando. Ele havia deixado um carrinho com o que parecia ser tudo do que elas tinham direito naquele hotel. Espumantes, uma garrafa de vinho, uvas, morangos, geleias... O que sua mulher pensava? Que lhe compraria com o menu do restaurante lá de baixo?

- Que é isso? – Samantha foi até lá e analisou uma a uma as opções servidas.

- Até que se prove o contrário, isso aqui é pra ser uma lua de mel, não é? E os casais costumam comer essas coisas na lua de mel. Tem um monte de filme trouxa que fala isso.

Foi inevitável rir com a falta de tato de Lica em se explicar. Agir por filmes trouxas, meu Merlim... Mas Samantha tinha que reconhecer: achou fofa a tentativa dela de se redimir um pouco. Talvez funcionasse: ela, Lambertini, amava geleia de frutas vermelhas como a que havia ali e uvas eram suas frutas preferidas assim como os morangos. E aqueles eram enormes.

- E você pensa que vai anular a raiva que me fez com umas frutas, uns espumantes e umas geleias? – Samantha soltou mais para provocar, não na intenção de magoar.

Lica quase murchou, mas engoliu no seco o bolo que se formou em sua garganta e assumiu uma postura firme. Iria mostrar como era uma mulher madura e que tinha plena ciência de seus atos, autoridade... que poderia sim assumir o controle. Fazia isso todo dia no trabalho. Esperava que Samantha entendesse e lhe fosse condescendente. E outras coisinhas mais, claro.

- Tentar nunca é errado – Heloísa deu de ombros e analisou sua mulher de cima a baixo. A aparência fresca e asseada dela, o perfume de jasmim que ela exalava.... Tudo em Samantha lhe era fatalmente atraente.

Mas ela a pegou no olhar.

- Que foi?

- Sabe, Samantha... todo santo dia eu ouço gente me dando os parabéns pela prisão de alguém, dizendo que quer fazer parte da minha equipe porque eu nunca erro... Eu sei fazer meu trabalho como ninguém e, modéstia à parte, sou excelente na função que desempenho.

- Caçar e prender bruxos das trevas? – Samantha franziu o cenho sem entender.

- Ter autoridade, assumir o controle e... controlar crises – o olhar de Lica estava em fogo, ela percebeu. Engoliu no seco e não sabia dizer se era temendo ou só antecipando as atitudes dela. Lica respirou fundo, parecia maior, mais alta, mais imponente, mais.... Ok, talvez ela tivesse exagerado na bebida no avião.

- Você também é boa em gerar crises, esqueceu de diz....

- Calada – e sim, dessa vez quem se calou foi Samantha, mas mais pega pelo susto que por outra coisa – No geral, quando eu assumo a situação, só falam quando eu permito e se eu disser que não, é não. Fui clara?

- Cristalina, só que eu não sou nenhuma bruxa das trevas e não pretendo me dobrar a autoridade de ninguém, marida – Samantha debochou só para ver até onde Lica iria. Conseguiu o que queria. Virou-se para desfazer o nó do roupão, mas foi parada com um toque sutil no braço. Descendo o olhar, ela viu a própria varinha nas mãos de Heloísa. Espera...?

- Nem mais um passo – Lica foi firme. O tom da voz dela quase fez Samantha desfalecer. Aquela mulher lhe causava um estrago sem sequer tocá-la direito. Podia ser menos vergonhoso?

- Ou....

- Ou eu vou ser obrigada a te fazer parar por livre e espontânea pressão.

- Tecnicamente você já está fazendo isso, mas tudo bem – Samantha ergueu as mãos em rendição – Se eu pegar uma pneumonia por ficar com roupão úmido em cima de mim, vou saber a quem culpar.

- Por que você fala tanto, hein? – Lica debochou – Merlim do céu, eu não me lembrava de você ser tão tagarela assim.

- Eu sou jornalista, meu amor. Falar é meio que um pré-requisito.

- E saber ouvir também, ou estou errada? – Lica desfez o nó do roupão dela com a varinha sem, no entanto, usar feitiço nenhum – Vira.

- É sério?

- Vira, Lambertini! – Lica usou o melhor tom impositivo que conseguiu e acabou sobressaltando a mulher, que não sabia dizer se seu corpo se retesou de medo ou de tesão - Pra cama, anda.

Era de tesão. Samantha teve certeza pela cachoeirinha que se formou entre suas pernas. Se encaminhou para a cama e se sentou na beirada do colchão.

- É pra deitar vestida ou.... – ela ainda tinha o desplante de debochar.

Lica se aproximou e desceu pelos ombros dela o roupão revelando o corpo inteiramente nu e para seu completo deleite. Quis se jogar sobre Samantha e beijá-la inteira, mas deu tudo de si pra permanecer firme e prosseguir com o que havia planejado. Mostrar que sim, ela podia ter controle quando queria.

A boca de Samantha: ela amava ter na sua e em si. Os seios, ela os idolatrava como algo sagrado e único. A intimidade dela era sua perdição. Sua mulher era bem a antítese perfeita: a santidade e o pecaminoso coabitando em harmonia. Lhe elevava e lhe condenava a um toque. Lhe bendizia e lhe maldizia com uma única palavra e lhe fazia se sentir às portas do paraíso e ir bater às portas do inferno em milésimos de segundo. Heloísa amava essa contradição: o que é o ser humano senão contraditório? Um eterno movimentos de quereres e não quereres?

Naquele momento, Lica queria Samantha, mas queria também que ela lhe quisesse, lhe implorasse.

- Levanta – Samantha ficou de pé até que o roupão virou um amontoado de tecido ao chão – Vai pra lá.

- O quê? Pra cabeceira?

- Faz o que eu mandei – Samantha quase ajoelhou e rezou uma prece indecente ali mesmo para sua mulher na qual não só ela entoaria a oração. Com o corpo estremecendo, Samantha se colocou à cabeceira da cama e Lica, com a varinha, fez levitar um par de algemas, que se prenderam nos pulsos dela e o ergueram para cima, amarrando-os as arabescos entalhados na cabeceira da cama.

- Lica....

- Eu não mandei ninguém falar aqui – ela a interrompeu autoritária e, então, fez levitar um tapa olho, que foi direto para o rosto de Samantha – Regra número um da formação de auror: nunca se deixe ser visto. Um auror precisa agir antes que percebam a presença dele e tenham tempo de preparar um ataque – Lica caminhou lentamente e engatinhou sobre o colchão até colar a boca ao ouvido de sua mulher – Quanto mais rápido ele agir, melhor – e deixou uma mordidinha no lóbulo que fez a Lambertini estremecer. E ela sentiu, porque soltou um riso baixinho antes de se afastar.

- Certo, isso está ficando desnecessário. É punição por eu ter ficado com raiva da sua atitude? Pode punir à vontade, eu continuo com raiva. Sabe, Lica, quem não deve, não teme. Eu não tenho motivo pra ter medo de auror nenhum porque, adivinha só... Nunca fiz nada de ilegal, então nem começa.

Samantha fazia pouco caso do que ela preparava? Ainda não havia entendido que aquilo ali era só uma forma diferente dela se desculpar e dar início à parte boa da lua de mel? Ou simplesmente tinha Lica em tão baixa conta que até quando ela tentava se impor virava motivo de chacota? A Gutierrez se encolheu um pouco, mas manteve-se séria e engoliu no seco.

- Qual a parte do “eu mandei calar a boca” você não entendeu? – a voz de Lica veio firme e grave como um trovão que fez as nuvens de Samantha se desmancharem em uma chuva tão forte a ponto de alagar o meio de suas pernas. Mais um pouco e a situação ficaria ainda mais vergonhosa – Sabe, Samantha... você consegue ser bem teimosa quando quer e eu não gosto de gente teimosa não....

- Imagina – Samantha debochou – A teimosia em pessoa odeia teimosia... Conta outra, Lica.

Com um movimento de varinha e já se estressando, Heloísa acendeu a lareira com um fogo crepitante. O barulho da labareda ganhando vida fez Samantha se assustar, assim como o súbito calor que invadiu a suíte.

- Pelo amor de Merlim, o que é isso? – se assustou e se debateu com as algemas mantendo-a bem presa à cama.

- Isso sou eu cansada de joguinho. Eu vou te mostrar, Samantha, como que funciono. Eu posso ser idiota, posso fazer besteira na maioria das vezes, mas também sei como agir direitinho quando a situação exige, sei como gerir uma crise e, acredite... Isso aqui é uma crise.

- Crise causada por você mesma q.... – mas Samantha terminou a frase com um gemido sôfrego ao sentir algo tocar sua pele. Um líquido gelado em meio à onda de calor que invadia o quarto. Um líquido gelado bem na altura de sua barriga. A sensação foi prazerosa sim, ela não negaria. E nem tinha como. Seu corpo em brasa se acendeu ainda mais.

O gemido virou um gritinho quando ela sentiu uma pedra de gelo – ela achava que era uma – deslizar do vale de seus seios e ir escorregando até próximo do umbigo. Arrepiou que a fez estremecer de deleite.

- Resolveu calar a boca, senhora Lambertini Gutierrez? – Lica debochou. Estava de joelhos ao lado dela sobre a cama comendo uvinhas e rindo do aparente desespero de sua mulher. Se Samantha podia debochar, ela também podia.

- Eu acabei de tomar banho e você está me melando tod.... Licaaaaa – outro gemido, mas desta vez seguido de uma mordida de lábios para refrear outra interjeição maior quando ela sentiu os lábios de sua mulher deslizando lentamente sobre seu abdômen. Lica sorvia o líquido que escorria ali, segurou a pedrinha de gelo derretendo nos lábios e a arrastou pela pele dela fazendo-a tremer não exatamente de frio.

- Eu adoro um bom espumante e esse aqui... – agora foi a vez de Lica gemer, o que fez Samantha apertar as próprias pernas para tentar conter o assomo que lhe atingiu lá no baixo ventre. Aquela nariguda desgraçada de linda e gostosa ainda lhe pagaria – É rose, sabia? Suave. Quer provar?

- Umhum – Samantha suplicou, mordendo os lábios. E de olhos fechados, todos seus outros sentidos pareciam potencializados. Lica, então, sorveu mais um pouco do espumante e derramou outro tanto nos lábios de sua mulher. Umas gotinhas apenas, o suficiente para fazer dar sede e não exatamente matar a sede. Atiçar Samantha, era isso que ela queria. Levou os lábios aos de Samantha em um beijo quente e lascivo embebido em champanhe francês. Sentiu a língua dela serpentear pela sua, o corpo se arquear e as algemas tilintarem de encontro à cabeceira com o aparente desespero dela – Me solta, pelo amor de Merlim.

Um a zero para Heloísa.

- Pra quê a pressa, meu amor? – Lica riu de encontro à boca dela desceu os beijos para o queixo, pescoço, clavícula... – Prova desse outro aqui também – e enquanto beijava, derramou agora um pouquinho de vinho na pele dela, sorvendo um tanto e retornando para a boca. Samantha gemeu em completo deleite – Consegue identificar esse aqui, sommelier?

Samantha era entendida de vinhos e isso não era mais nenhuma novidade. Educação de Alice Lambertini, que sempre prezara pela filha ter acesso a tudo do bom e do melhor, inclusive à melhor instrução. Lica agradecia, porque ela sempre aparecia com a bebida certa para as ocasiões mais certas ainda. Uma vez ela já lhe dissera que os vinhos tintos secos sempre lhe atiçavam o paladar ao passo que os tintos suaves caíam perfeitamente com qualquer prato. Tintos secos para as entradas e tintos suaves para as refeições, era seu mantra.

E ali, aquilo era só um aperitivo, então...

- Um... tinto seco? – Samantha arriscou e passou a língua pelos lábios. Era meio difícil raciocinar com Heloísa fazendo brincadeiras indecentes em seu colo, as mãos percorrendo às cegas as laterais de seu corpo – Lica, tira a roupa.

Dois a zero para Heloísa. Quem ganharia o pomo?

- Calma, meu amor. Deixa eu te aproveitar um pouco. E não se esqueça, eu ainda estou te mostrando como um auror trabalha. Os sentidos... – pegou outra pedrinha de gelo – Precisam estar bem aguçados – e arrastou-a lentamente pelo seio esquerdo de Samantha, parando no mamilo e deixando que ele derretesse ali. O resultado: ela se debateu violentamente.

- Heloísa, pelo amor de Merlim....

Três a zero. Ponto para Heloísa Gutierrez.

E enquanto a boca de Lica trabalhava nos seios de sua mulher, as mãos.... Com a ajuda de uma pequena espátula, Heloísa derramou um tanto de geleia no colo, na ponta do queixo... e deixou uma lambida despudorada ali. Samantha gemeu e nem sabia mais dizer se era de tesão ou de frustração por saber que sua esposa lhe torturaria até onde podia.

Geleia de frutas vermelhas servida sobre a pele de Samantha Lambertini. Se não era um néctar dos deuses, Lica não sabia mais o que era. Seguiu derramando o conteúdo do vidrinho sobre o corpo dela e lambendo por onde passava, por vezes mordiscando e enlouquecendo Samantha até onde podia.  Se divertia com a aparente necessidade dela por si ao mesmo tempo em que se deleitava em assistir e se deliciar com o banquete de prazeres que era sua mulher nua coberta das iguarias que ela mais amava. O melhor menu do mundo.

Lica viajou com a língua até o baixo ventre dela assistindo a Samantha arquear os quadris como quem diz “me toma que sou tua, só faz alguma coisa”. A Gutierrez riu vitoriosa e plantou alguns beijinhos na virilha descendo e descendo.... Até que pescou outra pedrinha de gelo, pôs na boca e a arrastou lentamente pela entrada de sua mulher. Samantha faltou rosnar quando sentiu o gelo derreter inteiro em contato com a quentura que era ela lá embaixo. Suplicou chamando o nome de Lica em sofreguidão e....

É, mais um ponto para Heloísa. Ela já tinha perdido as contas.

- Dá pra ir logo? Eu já entendi qual é a sua e ok, parabéns, você é uma mulher e tanto, eu amo quando você assume controle, agora para de enrolação e faz logo o que tem fazer!

O pomo de ouro definitivamente foi para Lica. Mas Samantha se enganou se pensou que ela tinha terminado.

- Eu gosto de agir com calma.

- Calma é o caralh... Aaaaaah! – Samantha soltou um gritinho quando sentiu a língua de Lica perpassar sua entrada sorvendo alguma coisa que ela tinha derramado lá embaixo – Lica, para de brincadeira! Eu sou não bandeja, muito menos estou no menu do restaurante.

As algemas tilintaram na cabeceira da cama. Se ela pudesse ver a cara de arteira que sua mulher tinha, já teria matado ela ali mesmo com uma maldição imperdoável. Era impossível não se divertir com o desespero de Samantha. Lica nunca fora adepta do sadismo não, mas tinha que admitir que aquela cena estava sim para lá de interessante e prazerosa.

- Não posso fazer nada se você é meu prato favorito – Samantha sentiu Lica retornando para cima e a perna dela no meio das suas. Se insinuou na direção dela se esfregando na tentativa vã de se aliviar. Mas claro que a Gutierrez tiraria.

- Então come logo de uma vez e para de enrolação!

Lica não conseguiu refrear a gargalhada que saiu de sua garganta. Vibrou no ambiente e foi reverberar no coração e em partes mais vergonhosas de Samantha. Samantha essa que gemeu e não sabia saber se era de frustração ou de tesão. Aquela filha duma mãe ainda lhe pagaria por aquilo!

- Apressada a senhorita.

- Eu quero é te matar!

- Se fizer isso, vai passar necessidade.

- Lica, pelo amor de Merlim, cala a boca! Anda, me solta e me deixa de tocar! Para de enrolação e faz logo o que quer fazer, eu não aguento mais!

- Aguenta sim. Só mais um pouquinho.... Não foi você mesma que disse que nada te derruba fácil?

- Você me derruba fácil. Fode meu juízo e outras coisas também, só que no momento você não está fodendo e, adivinha só, é esse o problema! Me solta dessa merda!

Lica riu grande e se apoiou nas mão observando sua mulher se mexer inquieta na cama, as algemas sacudirem lá na cabeceira.

- Está com fome?

- De você? Sim, muita.

- Eu perguntei de comida.

- Vai pra puta que pariu!

- Que boca suja, Lambertini.... – Lica cantarolou e abriu a garrafa de licor, derramando nos lábios e colo de sua mulher. Samantha lambeu com a língua como se estivesse morrendo de sede em um deserto infernal – Eu adoro quando você perde a compostura, sabia?

Sem dar tempo dela responder, Lica levou um morango à boca e tocou os lábios de Samantha delicadamente. Mordeu a frutinha nos lábios dela, que repetiu o gesto, e beijaram lenta e languidamente sentindo o gosto adocicado nas línguas se misturando com.... O desejo talvez? Samantha prendeu o lábio inferior dela entre os dentes, sugou antes de soltar e contornar o desenho da boca com a pontinha da língua. Agora foi a vez de Heloísa gemer sem pudor. Mas será que até amarrada aquela mulher conseguia lhe tirar de órbita?

- Tira essa roupa e faz amor comigo.

Foi isso. Sem palavras sujas, sem pedido desesperado. Uma única frase, a mais simples do mundo, e Lica entendeu que ficar torturando Samantha, por mais prazeroso que fosse para as duas, não chegava aos pés de tê-la de verdade em seus braços. Senti-la arfar, suspirar, pedir por mais e se dar inteira a ela. Sem responder nada, Heloísa tomou a boca dela novamente em um beijo lânguido e cadenciado e estendeu a mão com a varinha, libertando os pulsos de sua mulher.

Samantha respondeu envolvendo-a em um abraço apertado e aconchegante como se assim pudesse coloca-la para dentro. Talvez o pudesse mesmo. Lica tirou a venda e quando os olhos se encontraram a explosão que ainda estava sendo represada ali se soltou em uma tempestade. A Lambertini livrou-a da jaqueta e ajudou-a se desfazer da camisa, revelando o torso alvo e pronto para receber seus toques. Beijou os ombros, o colo de Lica ouvindo-a suspirar em prazer. Deixou uma mordidinha na base do pescoço dela que a fez estremecer e, então, dirigiu-se para o fecho do sutiã. Com uma mão, massageou um dos seios enquanto a outra abria com uma habilidade incrível o botão da calça.

Heloísa ficou de joelhos para se livrar do jeans enquanto puxava Samantha pelo tronco para coloca-la sentada em seu colo. Beijou-a ardentemente a boca, deslizou para o pescoço enquanto, lá embaixo, sua mão chegava aonde queria. Invadiu sua mulher lentamente até que sentiu ela se insinuando contra seus dedos e não conseguiu mais se refrear. Com a mão na base das costas dela, a mantinha ali colada a si enquanto entrava e saía com perícia e necessidade. Samantha a envolveu pelo pescoço para sustentar o peso e, quando deu por si, coreografava um sobe e desce lascivo sobre Lica, sobre os dedos dela lhe explorando por inteira.

Enterrou o rosto no pescoço dela, porque foi beijá-la e lhe faltou o ar. Os movimentos foram ficando mais frenéticos, mas descontrolados até que Samantha sentiu as primeiras ondas de um orgasmo poderoso irem se apoderando de seu corpo e de todo seu ser. Lica tocou um determinado ponto dentro de dela que a fez estremecer a ponto de quase convulsionar e ver estrelas. Deixou sair um grito de libertação preso na garganta e mais outros... mais outros... Chamou por Lica e por todos os anjos e demônios existentes até que sentiu-se explodir em mil pedacinhos de chama nas mãos dela e nela inteira.

Tentou manter os olhos abertos, mas sem sucesso. Era tudo forte demais, entorpecente demais para se manter em sã consciência. Cerrou as pálpebras, mordeu o lábio, libertou uma longa interjeição de prazer e se desfez inteira. O peito subia e descia frenético, talvez a materialização do que era Samantha dentro. Um vórtice, um caleidoscópio tomando de conta de tudo. Agarrou-se a Lica como se ela fosse sua tábua de salvação em meio a um oceano furioso. Fincou as garras como uma tigresa na pele dela sentindo o suor se confundir com o seu, o cheiro, o calor. Elas inteiras juntas e misturadas.

Ainda tremendo e tentando compassar a respiração, Samantha foi recebida nos lábios de Heloísa em um beijo calmo e compassado. Um suspiro, um sorriso e a constatação de que elas estavam sim muito bem e que aquilo ali era só o começo.

- Meu Merlim – Samantha se deixou cair de costas na cama completamente extasiada. Nunca tinha sido daquele jeito. Nunca tão forte. Riu, esfregando o rosto com as mãos e encarou Lica. Uma Heloísa tão....

- Você fica linda assim.

- Toda descabelada e acabada?

- Depois da gente transar e com essa carinha de quem me quer de novo no meio das suas pernas.

Samantha estremeceu. Obrigada, universo, por aquela mulher.

- Eu quero você no meio das minhas pernas, em cima de mim, embaixo, de lado.... De todo jeito, Lica.

Heloísa riu em contentamento e deitou-se sobre ela, deixando um beijo casto nos lábios.

- Então é melhor eu me apressar – sussurrou baixinho e brincou com a boca de sua mulher, depois com os seios, barriga... Assistia Samantha se contorcer inteira aos seus toques sempre pedindo por mais. Assistiu-a se dar inteira, se abrir por completo a ela quando, com a boca, a provocou lá embaixo. A fez quase subir pelas paredes e se permitiu também elevar ao sétimo céu levada pelas interjeições dela, pelo gosto dela e por tudo que aquela mulher era e lhe permitia ser.

Com a língua, invadiu, com os lábios, provocou. Com os dedos, massageou e explorou. Beijou a intimidade de Samantha como quem beijava a boca dela, querendo tudo que ela tinha a oferecer e mais um pouco até que sentiu-a estremecer sob seu paladar e se derramar inteira. E aí Lica entendeu que a iguaria que ela mais amava no mundo não eram as melhores geleias nem os melhores champanhes não. Era sua mulher e tudo que ela tinha a lhe dar, o gozo, o amor. A parte física e a emocional também.

E por falar em parte física, a Gutierrez amou constatar que a flexibilidade de Samantha tinha subido assim a outro nível. Estavam casadas e em lua de mel, pelo amor de Merlim! Podiam ousar sim, tentarem de tudo um pouco para se satisfazerem e se darem prazer. Aquela cama ficou pequena. Aquele quarto, menor ainda. E quando a Lambertini finalmente atestou ao vivo e a cores o motivo da mala de mão de sua mulher ser protegida a sete chaves....

- Quase lá, Sammy....

- Mais rápido, Lica... mais.... – ela tentava proferir frases completas, mas era meio complicado quando tinha sua mulher em cima dela invadindo-a com tudo com o auxílio de um dos... artefatos que ela levara. Basicamente uma cinta ou seja lá que nome tinha aquilo, mas que Heloísa sabia usar como ninguém. Samantha quis bater palmas para o trouxa que desenhara aquilo. A coisa tinha uma anatomia tão bem pensada que permitia que tanto ela quanto Lica fossem estimuladas ao mesmo tempo. O resultado não podia ter sido outro. Um orgasmo intenso e violento assomou o corpo das duas, que caíram exaustas naquele colchão pela milésima vez naquela noite. O pessoal da limpeza do hotel depois teria um trabalhão para pôr ordem naquela suíte.

Lica ia sair de dentro dela, mas Samantha a manteve presa em seus braços.

- Espera – pediu mordendo o lábio – Me deixa te sentir mais um pouco.

Lica assentiu e beijou-a lentamente. Foi se mexer para se ajeitar, mas a Lambertini estava sensível e acabou gemendo baixinho.

- Tudo bem? – a Gutierrez se preocupou. Nunca tinham usado nada durante o sexo além do que a biologia lhes dera naturalmente. Ela ficou com medo de ter machucado Samantha de alguma forma.

- Tudo ótimo – Samantha suspirou e mordeu de leve o lábio dela, roubando um selinho. Dois segundos de silêncio dela encarando o teto e.... – Ainda bem que você não tem um desses de verdade ou coitada de mim. Faria um estrago e eu estaria lascada com essa sua pontaria toda.

Lica riu que gargalhou.

- Eu tenho pontaria, é?

- Muito – Samantha assentiu e virou o rosto para o lado, analisando a mala aberta no aparador – A gente já usou tudo?

- Pra quem não queria saber da minha malinha....

- É, mas agora que eu vi o que tem nela, meu amor, pode ir se preparando, porque eu só saio desse quarto depois que a gente tiver testado coisinha por coisinha.

- Você não cansa não? – Lica brincou e mordeu o queixo dela provocando.

- De você? Nunca! – Samantha devolveu e tirou uma mecha de cabelo do rosto dela. Roubou um beijinho – Bora tomar um banho? Eu não sei nem que horas são mais.... – se esticou para checar o relógio sobre a mesa de cabeceira. Quase quatro da manhã. Dali a pouco o dia começaria a clarear – A gente pode dormir um pouco, repor as energias, tomar um café mais tarde e sair pra dar uma volta. Eu queria ir ao Beco Diagonal daqui. É o maior centro de compras mágico do mundo. Parada obrigatória. Ah, e Hogsmeade. O povoado perto do castelo de Hogwarts. Você já ouviu falar dela, né? A maior....

- A maior escola de magia e bruxaria que o mundo já viu – Lica completou em completo fascínio. Foi pega pelo olhar dela no seu – Eu te amo tanto, Sammy. Merlim, como eu te amo.... Chega a ser vergonhoso até – e riu meio sem jeito.

Samantha ficou tocada com aquilo e se pôs a fazer um carinho nos cabelos dela. Lica fechou os olhos em completo relaxamento e suspirou.

- Não tem nada de vergonhoso em amar. E se consola, eu também te amo tanto que chega a ser constrangedor. Me chamem de bocó apaixonada, rendida, entregue, exagerada, do que for. O que eu sinto por você e o que a gente tem aqui ó – apontou para o espaço entre elas – É forte, é certo e é lindo. O maior amor do mundo.

- Você fala tão bonito – Lica riu e deitou com a cabeça no peito dela, recebendo um cafuné para lá de gostoso – Aumenta assim em cem por cento meu crush.

- Você tem tesão no que eu falo e eu tenho tesão no seu nariz.

- É sério? – Lica ergueu a cabeça para ela.

- Seríssimo, meu tucano de estimação! – deixou um beijinho na ponta do nariz dela – Agora bora. Sai de dentro e de cima de mim que eu preciso de um banho, dormir um pouco, porque mais tarde quero ser turista.

Lica se ergueu, jogou a cinta para o lado e ficou ali encarando o teto. Samantha saiu da cama e rumou para o banheiro. Cinco segundos de silêncio.

- Lica!

Ela foi correndo. Estavam em lua de mel, afinal. E aproveitariam como deveria ser.

E como aproveitaram!

Tomaram café no hotel e agora sim provaram do menu como ele deveria ser provado embora Lica ainda tenha considerado que servi-lo sobre Samantha fosse ainda mais gostoso. Naquela manhã, se dedicaram a dar uma volta pelas ruas do comércio popular do mundo mágico. Pararam para provar das famosíssimas sopas do Cadeirão Furado, um popular pub e hospedaria de Londres. Era interessante como para os trouxas, o local parecia uma loja velha em ruínas em frente à Charing Cross Road. Mas por trás escondia uma das maiores pérolas do mundo bruxo.

Foi para lá que Lica e Samantha se dirigiram. Para a parte detrás do Caldeirão Furado. Com a varinha, Lica tocou em alguns tijolos na parede, que foram se abrindo e revelando a passagem para o Beco Diagonal, o maior centro de compras mágico do mundo. O interior do beco era basicamente um emaranhado de lojas, mas que fascinava o olhar pela variedade de atrações.

Agarrada a Heloísa, Samantha gostaria de ter mais um par de olhos para poder dar conta de tudo. Passaram pela loja de uma tal Madame Malkin cujo nome não podia ser mais claro: Roupas Para Todas as Ocasiões. Entraram na Artigos de Qualidade para Quadribol, de onde Lica saiu levando um par de Firebolts novinhas para ela e para sua mulher e uniformes originais do Harpias, o time para o qual torciam; visitaram o Empório das Corujas, pararam na histórica sorveteria Florean Fortescue e Samantha se perdeu entre as prateleiras infindáveis de livros na Floreios e Borrões. Saiu de lá com uma sacola cheia de exemplares clássicos, outros novinhos em folha... Aumentaria sua biblioteca particular. A Lambertini entro também que faltou não querer sair mais foi da Instrumentos de Escrita Escribbulus, uma papelaria bruxa com coleções infindáveis de pergaminhos, penas e tintas de todos os tipos.

Na outra ponta, do Beco Diagonal, Lica faltou se perder entre os artefatos e curiosidades mágicas vendidas na Gemialidades Weasley. Era sabido que aquele estabelecimento pertencia a uma famosa família de bruxos londrinos e era administrada por dois irmãos gêmeos que ganharam fama na escola pelas... brincadeirinhas e peças pregadas em alunos e professores. Eram cunhados da ministra da Magia britânica. O marido dela também trabalhava ali, mas mais na parte administrativa. Queria encontrar diversão no mundo bruxo era só procurar por Fred, Jorge e Ronald Weasley.

Ao saírem de lá, parada obrigatória na sede inglesa do Profeta Diário. Na verdade, aquela ali era a matriz do impresso. Pelo sobrenome que tinha e pela fama que vinha conquistando com suas publicações, Samantha foi recebida com toda a pompa do mundo pelo editor-chefe. E enquanto ela papeava em um inglês impecável com Barnabas Cuffe, Lica se viu em certo... apuro.

- Ora, ora, ora se não é a grande campeã do Torneio Tribruxo do Colégio Grupo.... – os cabelos de uma amarelo gema desbotado, os lábios em um batom carmim chamativo e as eternas vestes verdes denunciavam: Rita Skeeter em carne, osso e fofocas para contar. Considerada uma das maiores colunistas sociais do mudo bruxo, ela não era muito adepta do que se pode chamar de verdade e colecionava processos. Mas também parecia não estar nem aí. Expor as pessoas era seu passatempo preferido. Chegou em Lica alisando os ombros dela com interesse descabido – Seria muita audácia conseguir uma exclusiva?

- Eu vim a passeio. Estou visitando Londres com minha mulher, a Samantha Lambertini, conhece? Estamos em lua de mel.

- E ainda por cima, casada com a primeira-filha brasileira... O clã perfeito! – Rita riu faceira, piscou para ela e Lica deu um passo para trás acuada. Mas a mulher veio junto – Heloísa Gutierrez, vinte anos....

- Vinte e cinco.

- .... Campeã Tribruxo, herdeira do Grupo e membro consorte da Família Ministerial do Brasil.

- Falando assim, parece até uma monarquia – Lica riu-se e se afastou mais, desviando pelo outro lado – Eu agradeço o interesse, mas tenho que ir. Licença.

- Sabe, Heloísa... – mas a mulher a cercou e aquela pena de repetição-rápida ridícula dela ficava lhe fazendo cócegas na bochecha – Você tem uma história e tanto, hum? Já pensou em publicá-la?

- N-n-ñão....

- Mas eu sim, e pode ficar tranquila que se alguém for escrever, vai ser eu – Samantha se aproximou com o maior cinismo do mundo. Lica correu até ela desesperada – Sabe como é, narrador-personagem. Conta a história e vive ela ao mesmo tempo. Autora e mulher da protagonista. Muito prazer, Rita. Samantha Lambertini – estendeu a mão para a mulher.

- É uma honra conhecê-la, minha querida – e analisou Samantha de cima a baixo. Empinou o queixo e riu amarelo – Mande lembranças de Londres ao ministro. Com licença.

Bastou a mulher sair e a Lambertini bufou.

- Mas que mulherzinha mais.... ah! – cerrou os punhos como se fosse socar alguém.

- Eu não fiz nada, juro. Ela que veio pra cima de mim.

- Eu vi, Lica. Conheço a fama daquela ali. Bora, que eu ainda quero passar no banco. Trocar dinheiro trouxa por dinheiro bruxo. Não sei porque ninguém aqui aceita cartão.

E entre conversas amenas, foram seguindo o caminho.

E a vida, como dito lá no comecinho, ela era boa. Mas também... cheia de surpresas.

Quando o inesperado vem, há momentos e momentos. O silêncio que precede a euforia ou o silêncio que precede a incredulidade. Talvez o silêncio da perplexidade ou, quem sabe ainda, o silêncio pela simples falta de reação. Não reagir já é uma reação, entendam. E ninguém fica mudo porque quer, é só que.... quando vem, vem e pronto. Não tem o que fazer nem o que falar.

Samantha preocupou com Lica por conta do silêncio dela. Sabe, alguém como Heloísa Gutierrez, que não sabe parar quieta nem calar a boca, passar quase um minuto inteiro completamente muda não é bem o tipo de reação que se espera.

- Eu acho que ela está em choque.

- Lica!

- Alguém dá um tapa nela – Tina levantou a mão, mas Samantha interferiu.

- Ninguém vai bater em ninguém aqui – e se agachou diante de sua mulher, que seguia encarando o vazio e completamente dura feito uma pedra – Lica, meu amor, olha pra mim.

Mais silêncio. Por dentro, Heloísa gritava, mas por fora....

- G-g-g-gr....

- Ela está tentando dizer algo.

- BENÊ! – quatro vozes soaram em uníssono.

- Eu trouxe um água. Dá pra ela beber ou joga nela? – Clara tinha um copo em mãos.

- Ninguém vai jogar nada em ninguém, meu Merlim! Vocês querem parar? – virou-se para a esposa de novo – Lica, olha pra mim. Fala alguma coisa.

- E-eu... é... – a Gutierrez pareci fora de órbita – V-você está... Grávida?

- Sim. De oito semanas, o que, pelas contas, dá dois meses inteiros.

- BENÊ!

- Lica!

Samantha se agachou visivelmente atordoada quando viu o corpo esguio de sua mulher simplesmente ir ao chão feito uma jaca mole. Inconsciente, Lica foi parar no assoalho e lá mesmo ficou.

- Meu Merlim, até pra notícia boa, essa bocó tem que dar defeito – Tina suspirou e alteou voz – Leide, acode aqui que eu vou chamar um médico. A Lica caiu dura!

A despeito do desespero de Samantha, Lica só foi acordar mesmo depois de uma boa dose de alguma poção de cheiro marcante que Leide lhe fizera engolir. Despertou tossindo e ligeiramente desorientada. Em sua mente, as palavras “Samantha grávida” ecoando feito um grito ensurdecedor.

Foi levada para o quarto amparada pela mulher e as amigas enquanto aguardavam o ministro da Magia retornar por aparatação com o médico. Lica se deitou na cama respirando acelerado.

- Sammy, vem cá – chamou a mulher, que já estava ali do lado dela – Eu... eu ouvi direito? Você está grávida?

A resposta dela veio em um sorriso lindo se rasgando no rosto. E Lica foi atingida por algo que nunca pensou que um dia pudesse sentir. Alguma coisa perto de devoção talvez. Era bom, mesmo sem poder ser definido em palavras. E era forte e lindo também. Algo quentinho, gostoso que aconchegava a alma e fazia acelerar o coração.

Devia mesmo ter imaginado algo dessa natureza, afinal sua mulher não recusaria vinho do nada durante um jantar. Nem se furtaria de uma boa cerveja amanteigada num final de semana qualquer por motivos torpes. Ah, e os enjoos matinais que quase levaram Lica à loucura: mais de uma vez Samantha foi obrigada a ameaçar amarrá-la no pé da mesa caso ela saísse atrás do médico pelo que, segundo ela, “não era nada de mais, só uma indisposição alimentar”.

A indisposição alimentar pelo visto tinha nome, sobrenome e quem sabe viesse ao mundo com os cabelinhos cacheados mais lindos que alguém pode ter. Ou quem sabe com aquela boquinha farta que era a coisa mais perfeita do mundo. Ou talvez com um narizinho avantajado.

Claro que a inseminação havia dado certo e agora, fazendo o retrospecto, Lica se pegou pensando em como não percebera todos os sinais do mundo que Samantha lhe dera sobre isso. Primeiro, que ela a acompanhara até a clínica nas consultas quase intermináveis. Exames de sangue, exames hormonais.... Uma bateria completa e o aval da médica pra prosseguirem com o procedimento. E Lica também participara, claro, da escolha do doador. Não interessava nomes, só que as características físicas do dito cujo batessem um pouco com as de Heloísa. Encontraram o material que a elas parecia perfeito e marcaram a data da inseminação.

Lica estava com Samantha na hora. Sempre esteve o tempo todo. Inclusive no dia em que ela lhe pediu para passar na farmácia antes de voltar para casa e lhe comprar um remédio pra cólica. Heloísa bem quis tocar no assunto quando chegou e encontrou a mulher reclamando do incômodo no baixo ventre e tirou suas próprias conclusões: não, não seria agora que realizaria o sonho de ver uma mini Lica ou uma mini Samantha correndo pela casa. Sua mulher aparentemente havia menstruado.

Tentou mais de uma vez tocar no assunto com Samantha, mas ela simplesmente não parava. As respostas sempre se resumiam a “está tudo bem, não precisa se preocupar” e um beijinho roubado antes de ir cada uma para seus próprios afazeres. Foram semanas nisso até um desabafo: Lica um belo dia aparatou na casa de Keyla reclamando que seu casamento andava... estranho.

- A Sammy está de boa, está agindo normal, sabe? Mas eu sei que tem algum coisa errada, Key. Eu pergunto, mas ela não diz nada! Poxa, ela podia só compartilhar comigo o que está passando. Eu sou mulher dela, quero poder apoiá-la, dizer que tudo bem se não tiver dado certo gora, que nós podemos tentar de novo depois. Mas ela está só.... Indiferente.

Keyla entendeu na tarde seguinte que não havia indiferença por parte de Samantha. Que na verdade a impassibilidade dela se resumia a: não havia motivos para alarde nem nada. Os enjoos matinais, a indisposição e a súbita vontade de comer as combinações mais esquisitas que podem existir falavam por si só.

- Samantha...?

- Eu não acredito que a Lica está achando que deu errado e que eu estou sofrendo em silêncio – Samantha quis gargalhar. Merlim do céu, e aquela criatura ainda era chefe dos aurores – Se ela me olhar um pouquinho mais atentamente.... – e aí sim ela riu.

- Samantha, conta pra ela. Você já fez o teste?

- Tenho consulta marcada pra mais tarde pra fazer o exame. Quer vir comigo?

No papel, o resultado material daquilo que ela já vinha sentindo a semanas. Ah, por Merlim! Era mulher, conhecia o próprio corpo melhor do que ninguém. Havia notado certas diferenças com o passar dos dias. A sensibilidade nos seios, as curvas começando a se acentuar mais.... E o colapso hormonal que resultou numa verdadeira montanha russa emocional. Era só seu cérebro reagindo às mudanças físicas, mas pelo visto para uma certa nariguda acolá, tratava-se de uma baita TPM e um “negativo” do tamanho do mundo brilhando em neon. Até a cólica que ela sentira outro dia era perfeitamente normal: o útero se adaptando para receber um moradorzinho novo. Simples assim. Lica sequer notara que a receita que ela enviara com o nome do medicamento estava assinada pela obstetra que vinha lhe acompanhando e não tinha contraindicações para mulheres gestantes.

Foi por decisão própria que Samantha segurou por mais umas semanas a confirmação. Queria esperar o estágio de risco passar para poder compartilhar a boa nova depois do que Keyla lhe informara que Lica sequer notara a situação toda. Teria mesmo que desenhar na cara de sua mulher um “estou grávida, surpresa!” para ela se tocar. Resolvera fazer isso da forma mais clichê e romântica possível. Um jantar só as duas inteiramente preparado por ela, a sobremesa preferida de Heloísa e a bandeja coberta ao final com o sapatinho de crochê.

O resultado? Lica ficou muda. E o resto, é história.

- É verdade? Você... – Heloísa meio riu, meio chorou. A confusão se refletindo em suas reações – Sammy, nós vamos ser mães!

E foi-se embora o mal-estar. Em um pulo, Lica ficou de pé e depositou um beijo caloroso nos lábios da mulher que amava. Foi retribuída na mesma intensidade e carinho. Sussurrou um “eu te amo” contra a boca de uma Samantha completamente rendida e se agachou para falar diretamente à barriga dela.

- Ei, filhote... Eu... Eu nem sei se você consegue me entender nem qual seu tamainho já, mas eu só queria dizer que eu já sou completamente rendida por você e que te amo mais que tudo no mundo – acariciou o ventre da esposa em pura devoção. Samantha riu baixinho completamente enlevada pelo gesto dela e limpou aquela lágrima teimosa que insistia em cair sem ser convidada.

- Lica....

- São filhotes, no plural – Benê foi mais rápida.

- Hã? – de tão absorta conversando com a barriga de Samantha, Lica não entendeu – O que é no plural, Benê?

- Filhotes. É no plural.

- P-plural? – a gagueira voltou. Virou-se para a mulher – S-Samantha...?

- Pois é, a inseminação, ela... – Samantha riu maior ainda – Ela deu muito certo e.... Bom, tem dois limantinhos aqui.

- Dois?

A vista escureceu, o quarto rodou e Lica só lembra de ter encontrado de novo com a superfície dura e fria do chão.

- E lá vamos nós de novo – Samantha revirou os olhos e massageou as têmporas. Foi até a cama para onde as meninas tornaram a levar Heloísa. Suspirou e encarou o semblante da esposa dando espaço pra Leide voltar com mais poção – Uma estava pouco... – disse baixinho e riu quando viu a mulher voltando aos poucos à consciência murmurando um “Sammy” sem sentido.

Afastou-se, alisando o próprio ventre, um sorrisinho de canto de boca lhe pintando o rosto.

- Aquela ali é a outra mãe de vocês, estão vendo? Meio fora da casinha, mas o melhor ser humano do mundo. Peguem leve com ela e comigo também, hum? Nós vamos aprender junto com vocês e... – virou-se para olhar pra Lica tentando se desvencilhar de Tina – Eu prometo que nós vamos dar o nosso melhor.

Elas iriam sim. A mamães mais fofas da galáxia com a família mais linda que o universo inteiro já viu. Duas que virariam quatro. Era amor dobrado e esse, elas tinham para dar e vender.


Notas Finais


A Lica é doida, mas ama a Samantha. Disseram isso nos comentários anteriores e estou replicando porque resume melhor do que tudo nossa nariguda kkkkk.
Gente, é isto: sem mais. Vem aí os limanthinhos e o happy end delas.
Quem pegou as referências do capítulo sobre HP? rsrs. A cena da Rita Skeeter eu tentei referenciar a entrevista dela com o Harry no Cálice de Fogo sobre o torneio. Ela escreve que ele tem 12 anos na reportagem. O pobre tinha 14 e corrigiu ela trocentas vezes no decorrer da conversa kkkk.

No mais, torçamos para que a Lica não siga desmaiando toda vez que a Sam abrir a boca kkkk

Eu agradeço pela leitura e nos vemos no próximo capítulo:


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