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História Amortentia - Prova de amor


Escrita por: MxrningStar

Notas do Autor


Olá, minha gente! Tudo certo com vocês? Bora de capítulo?
Alguns esclarecimentos sobre o de hoje:
1. Quando a Lica abre o mapa do maroto, aparece os nomes Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas. São os mesmos que aparecem nos filmes de HP. Os criadores do mapa. Na história original, eles são Remo Lupin, Pedro Petigrew, Sirius Black e Tiago Potter, pai do Harry. Aqui na fic, também temos esses coleguinhas, mas claro que não vou dizer quem são rsrs. Mais na frente, vocês descobrem kkkkkk.
2. Protego é o feitiço que a Lica lança no meio da prova. Ele é um dos feitiços escudos, que cria uma espécie de redoma em quem o executa e expele ameaças. Bem útil.
3. Josefina, mãe da Benê, é, aqui, professora de herbologia. Isso explica ela ter "um estoque de guelricho".

No mais, é isto. Boa leitura!

Capítulo 7 - Prova de amor


Lica fez uma careta e se afastou. Samantha demorou demais a responder. Ela que não ficaria ali prolongando o momento. Deu um passo para trás e assentiu com a cabeça. Ao menos a ida até lá não tinha sido em vão. Sabia agora nas mãos do que ela morreria. E sendo sincera: encarar as profundezas do Lago Negro lhe era bem mais aprazível que ficar ali sob a mira hesitante dos olhos da menina que amava.

 

- Tudo bem – disse e se virou para ir pegar o ovo na beirada da piscina. Já tinha conseguido o que queria. Não o que realmente queria, mas ao menos a ida até ali não tinha sido em vão – Eu vou indo, porque já passou da hora de estar na cama.

Lica deu um último mergulho para ter ao menos como disfarçar com a água da banheira a lágrima teimosa que lhe escapou. Não tinha nem coragem de se virar. Catou o ovo, colocou-o cuidadosamente dentro da mochila, mas então se lembrou que não tinha uma toalha. Sentiu um arrepio incômodo de frio ao sair da água.

- ‘Cê pode me emprestar uma toalha? Eu vim direto pra cá, não peguei uma.

Samantha assentiu e saiu da banheira também. Abriu o próprio armário e tirou de lá de dentro uma toalha verde musgo com o brasão de sua Casa. Mas ao invés de entrega-la a Lica, envolveu-a nos ombros dela agasalhando-a e enxugando.

De tão próximas que estavam, sequer se deram conta de que as respirações começaram a se confundir.

- V-valeu – Lica gaguejou.

- Eu vou pensar em um jeito de te ajudar a respirar debaixo d’água por uma hora, mas até lá... – Samantha veio mais para perto – Eu queria esquecer por um tempinho tudo de errado que tem acontecido e só aproveitar o momento.

- T-tudo de errado? – ela parecia um gravador repetindo tudo que a Lambertini falava.

- Umhum. Não tem como eu achar certo minha namorada correr risco de vida a cada quatro semanas. E é por isso que eu vou te ajudar... de novo. Porque eu quero que isso acabe logo e a gente possa ser como os casais normais, sabe, que... planejam um futuro e não que fiquem pensando em como não deixar uma das partes morrer.

Lica tinha parado de ouvir no “minha namorada”. Um zumbido chatinho ecoando em seu ouvido sendo preenchido com o eco da voz de Samantha. Pensou que estivesse alucinando, mas o toque dela em seu rosto e a leve inclinação em sua direção lhe provaram por A mais B que aquilo ali era sim muito real. Real demais.

E muito bom também.

- Você falou namorada? – Lica perguntou baixinho.

- E você ainda tinha alguma dúvida?

- Na real? Tinha.

- Eu também – Samantha admitiu e sorriu próxima demais dos lábios dela – Mas se eu não me jogasse ia me arrepender depois quando te visse com outro alguém. E sendo sincera, Lica... você não combina com mais ninguém a não ser comigo. Eu sinto te dizer isso.

Fingindo uma falsa modéstia, Samantha riu travessa. E Lica relaxou e exalou o ar que nem sabia que estava prendendo.

- É pra me prender então?

- Um-hum – Samantha negou – Eu também gosto demais de você pra deixar passar uma oportunidade dessa. Na verdade, Lica, eu sempre te admirei muito. Mas é aquela coisa, eu tinha que manter a pose de sua inimiga por causa da tradição das nossas Casas – ela brincou.

- Ai, fala sério, Samantha... – Lica riu e se permitiu envolvê-la em seus braços – Então isso é um sim? Você aceita namorar comigo?

Samantha não respondeu. Não em palavras. Preferiu os gestos. Era de agir, não de discursar. Lenta e delicadamente, encostou os lábios nos de Lica dando seu recado. Permitiu-se explorar a boca dela com a língua e o que era só um beijo casto se tornou uma verdade briga pelo domínio da coisa. Foi impossível segurar o gemidinho sôfrego que lhe escapou quando sentiu a língua de Heloísa serpenteando pela sua, massageando, provocando....

E de provocar, elas entendiam bem. Não eram amadoras no assunto. Samantha aproveitou a deixa e desceu uma carreirinha de beijos pela mandíbula e pescoço de Lica. Fez uma trilha de fogo, sentindo-a se contorcer toda em seus braços. Subiu de volta para a boca, onde tomou-a com vontade. E Heloísa devolveu. Enquanto beijava Samantha, se pôs a guia-la em direção ao balcão da pia no lado oposto do banheiro, mas acabaram tropeçando no meio do caminho e foram as duas parar dentro da banheira de novo.

Entre risos e gargalhadas, se permitiram envolver-se novamente em mais um beijo lânguido e cadenciado.

- O que a gente está fazendo, Sammy? – Lica perguntou, boca na boca de Samantha.

- Não sei, mas eu estou gostando – pausaram as carícias só para se encararem por breves instantes – Muito.

Sem mais, Samantha voltou a buscar os lábios de Lica em um gesto mais lânguido dessa vez. Mas ainda assim faminto. As línguas se tocaram e as duas sentiram aquela corrente elétrica percorrer o corpo inteiro como se tivessem levado um choque. Se deixaram levar pela miríade de sensações, de desejo e de necessidade. Já não o usavam muita roupa e as poucas que ainda tinham estavam só atrapalhando. E o fato de estarem dentro da água parecia potencializar tudo.

Sem dúvidas restantes, Lica e Samantha se permitiram ir. Foram juntas. Juntinhas. A Gutierrez encostou a namorada... (sim, ela era sua namorada, viva!), no parapeito da banheira e se pôs a castigar o pescoço dela em busca de ar mas sem querer perder o contato. Enfiou as mãos nos cabelos da Lambertini fazendo um carinho gostoso ali ao mesmo tempo em que sua perna foi parar no meio das pernas dela. Sentiu-a se insinuar em sua direção e foi a vez dela gemer baixinho.

- Roupa demais, Lica... – Samantha pareceu ronronar contra sua pele e em uma súplica, dirigiu a mãos até o fecho do sutiã de Lica para abri-lo. Não encontrou resistência nenhuma e sentiu ela repetindo o gesto em sua própria peça. Mãos tatearam erráticas e livres de obstáculos pelas costas sentindo, reconhecendo e querendo. Querendo muito.  Samantha gemeu mais agastado quando Lica pousou as palmas em seus seios apalpando e apertando em uma carícia lenta e para lá de gostosa.

- ‘Cê me deixa louca, Sammy – externou sôfrega, se ponto a beijá-la novamente – Eu te quero tanto... quero seu corpo, sua pele, seu cheiro... você inteira.

- Eu já estou aqui, não estou? – Samantha provocou e sem mais, se virou de costas, a pele tocando os mamilos rijos de Lica. Foi impossível não se contorcer toda. Jogando os cabelos molhados para o lado, ela permitiu que a namorada fizesse o que queria e bem entendia com sua pele exposta. E enquanto beijava e suas mãos trabalhavam nos seios dela, Lica sentiu as mãos de Samantha em sua calcinha invadindo o cós e descendo a peça. Se afastaram só para ela se livrar do tecido com pressa antes de ela se dirigir à lingerie da Lambertini e sacá-la longe.

Livres, completamente nuas e sem restrição nenhuma. Observaram-se e se reconheceram por breves momentos. A água da banheira a esta altura estava quente quase em ponto de ebulição.

- Você é linda – Samantha se derreteu inteira e envolveu Lica pelo pescoço.

Lica não respondeu em palavras. Preferiu mostrar. Lenta e delicadamente trouxe Samantha para si colando o corpo ao dela e a beijou profundamente. Corpo com corpo, pele com pele, as duas se entregaram envoltas em uma névoa de sedução, desejo e necessidade. E completude também. Lica voltou a encostar Samantha na borda da banheira e enquanto sua língua explorava a boca dela, seus dedos lá em baixo fizeram o caminho que tanto precisavam.

Lenta e delicadamente, ela contornou a intimidade de Samantha alcançando o ponto de prazer. Massageou a carne ali sentindo a namorada estremecer em seus braços. Samantha gemeu sôfrega ao ter seu sexo invadido por Lica. Em seguida gemeu arrastada e baixinho contra a boca dela durante o beijo e à medida que invadia os lábios da Lambertini com a língua, Lica cadenciava os movimentos lá embaixo até que teve que ir para o queixo e pescoço dela, porque Samantha buscava ar. Gemia baixinho ao ouvido da namorada, pedia por mais e suplicava para que ela não parasse.

- Lica... – mais de uma vez Samantha pronunciou o nome dela em prazer e no mais puro deleite. E incentivada pelas interjeições dela, Heloísa aumentou a intensidade e o ritmo de seus movimentos. E o que começou lento e prazeroso se tornou forte, rápido e faminto.

- Vem, Samantha... – foi a vez dela suplicar, mas acabou soltando um gritinho sôfrego pega de surpresa pela mão de Samantha entre suas pernas. Sentiu-a invadi-la e permitiu. E se deu. Deu e se entregou – Sammy....

E entre darem e sentirem prazer, os corpos foram estremecendo cada vez mais forte, cada mais necessitados e cada vez mais desesperados até que Lica e Samantha atingiram um orgasmo tão, mas tão intenso que fraquejaram nas pernas. Dizer que viram estrelas parecia eufemismo perto das sensações que as invadiram. Samantha quase cedeu indo para o fundo da banheira tamanho o nível de relaxamento a que chegou seguida por Lica que entoou seu nome em alto e bom som e aos quatros cantos em êxtase.

Ofegantes e satisfeitíssimas, as duas permaneceram agarradas e se permitiram trocar um olhar terno que dizia bem mais do que qualquer palavra que pudessem proferir. Lica saiu de dentro de Samantha enquanto a beijava. E diante da sensibilidade que tinha no momento seria capaz da Lambertini gozar novamente só com os toques sutis dela. Embolaram-se ali mesmo, testa com testa tentando compassar a respiração.

- Isso foi...

- Uau!

- Isso... uau!

Riram em contentamento e beijaram-se novamente. Samantha prendeu o lábio inferior de Lica entre os dentes e mordiscou puxando-o antes de selar as bocas novamente. E sem dizerem palavra, mas com os corpos ansiando por mais, saíram da banheira. Entre beijos e tropeços, acharam o caminho da poltrona do outro lado, que Samantha conjurara do nada.

Foi lá que teve-a para si mais uma vez. Foi lá onde assistiu à namorada se entregar de novo sem qualquer restrição. Foi lá onde Lica se ajoelhou e se pôs a fazer uma prece nem tão silenciosa assim cultuando o corpo da namorada. Dando a ela tudo que podia dar e recebendo em troca tudo o que queria. E foi lá mesmo onde foi retribuída, e tinha que admitir... não sabia o que escolher como seu momento favorito no mundo: beber e provar de Samantha como se estivesse em um deserto com sede e fome e ela fosse sua fonte; ou dar-se inteira para ela e permiti-la lhe mostrar universos e galáxias longínquas sem nem sair dali.

Nomes pronunciados ao vento, gemidos desesperados, duas pessoas se fundindo em uma e dois corpos buscando satisfação um no outro.

Deu certo.

Deu muito certo.

A prova foi a situação em que as duas se encontravam depois do que pareceram horas. Estavam deitadas no chão sobre os lençóis felpudos que Samantha conjurara para forrarem o piso e se cobrirem. Nuas, braços e pernas entrelaçados, dois corpos se confundindo e embaraçados como se não pudessem mais se soltar. Lica fazia um carinho terno fios de Samantha enquanto a namorada desenhava contornos aleatórios sobre seu peito. O silêncio era cortado só por algumas palavras carinhosas proferidas baixinhas ao pé do ouvido e lábios se fundindo em beijos apaixonados.

- Eu nunca pensei que isso pudesse rolar entre a gente – Lica admitiu. Foi bem fácil, na verdade – Quer dizer... eu acho que sempre tive um crush em você, mas nunca, nunca me passou pela cabeça que pudesse acontecer, sabe?

Buscou o olhar de Samantha que ria o sorriso mais lindo do mundo.

- Acho que sim. Eu te entendo – ela externou – Ter um crushzinho na filha tapada do diretor não é muito confortável não.

- Então você confessa que tinha uma quedinha por mim?

- Nem vem, Lica. Você acabou de admitir que me queria.

- Queria mesmo – Lica roubou um beijinho – Quero.

Beijaram-se lentamente até que Samantha suspirou e se virou para encarar o teto ainda colada a Heloísa.

- A gente perdeu a hora – comentou em um suspiro.

- Quais as chances de eu ser expulsa por transar com a chefe dos monitores no banheiro da escola?

- As mesmas minhas por transar com a filha do dono da escola no banheiro dos monitores – Samantha respondeu, riu fraquinho e se sentou – Eu também posso ser chutada daqui mesmo sendo foda como sou – a serpente sonserina dentro dela silvou e Lica se apaixonou mais uma vez – E não esquece, a gente ainda tem que pensar em um jeito te de fazer ficar viva na prova de amanhã. Não quero e nem posso ficar viúva agora.

Sentada, a coberta amontoada nas pernas e com o torso livre, Samantha ergueu os cabelos para prendê-los em um coque frouxo, se espreguiçou e deixou à mostra o desenho de um olho na nuca.

- Não sabia que ‘cê tem tatuagem – Lica comentou e ergueu o tronco para deixar beijinhos pela nuca da namorada sobre o desenho gravado na pele. Envolveu-a pela cintura e sentiu-a pousar as mãos sobre as suas, mantendo-as firmes ali – O que significa?

- Percepção – Samantha respondeu se derretendo toda – Eu gosto de me manter atenta e alerta a tudo. É mais ou menos isso.

- Vigilância constante – Lica riu contra a pele dela, fazendo-a estremecer – É linda. Eu adorei.

- É minha. Não podia ser menos que isso – Samantha gracejou, virou o rosto para trocarem mais um beijinho e se levantarem. Com um feitiço simples, secaram as peças íntimas, vestiram-se entre brincadeirinhas e provocações e Samantha tratou de dar fim em qualquer vestígio de que aquele local fora palco de uma transa quente e maravilhosa minutos antes.

Lica recolheu o ovo, guardou-o cuidadosamente na mochila e então perceberam que tinham um problema: como sairiam dali sem serem vistas ou chamarem atenção? Ok que àquela hora, os corredores do castelo já estavam vazios mas era por isso que a coisa complicava: sem ninguém perambulando qualquer barulho ou movimento delas seria um sinal de alerta para algum professor aparatar do nada e surpreendê-las. Samantha ainda poderia se justificar com alguma ronda ou algo assim, mas e Heloísa? Ela nem deveria estar naquele banheiro e fora da cama em primeiro lugar. Estava cumprindo toque de recolher mais rígido por causa da briga com Rafael.

- Eu não trouxe a capa – explicou com só a cabeça para fora da porta. Samantha checava o corredor para ver se não havia ninguém por ali.

- Lumos! – a Lambertini acendeu a varinha – Começa a deixar ela na mochila.

- Huumm... significa que vai acontecer mais vezes? – a Gutierrez provocou e roubou um beijinho na bochecha dela.

- Nem se anima: isso aqui é um banheiro, não motel. Anda, me segue. Não acende a varinha e fica calada.

Lica o fez. Se colou a Samantha e seguiram as duas silenciosamente pelos corredores, cuidando para não chamarem atenção nem acordarem quadro nenhum. Mas não tiveram tanta sorte assim: um cientista retratado em uma pintura no final do corredor que levava às escadarias fez o favor de se incomodar com a luz da varinha da sonserina e reclamou.

- Desligue isso! – o homem resmungou com cara feia – Estou tentando dormir!

Samantha abaixou o foco de luz, mas ouviu passos vindo do outro lado do hall.

- Quem está aí? – ah, não....

- É a Malu! – Lica sibilou.

- Deixa que eu me viro – Samantha arrulhou e empurrou Lica para se esconder atrás de uma pilastra. Ela foi os tropeços e sumiu de vista no exato momento em que o facho de luz da varinha da professora iluminou a namorada.

- O que faz fora da cama a uma hora dessas, Lambertini?

- Boa noite, professora. Eu ouvi um barulho. Fiquei pra trás na ronda, porque fui checar a área externa e estava indo pra sala comunal quando pensei ter ouvido passos por aqui. Sabe como é, sempre tem alguma aluno que acha que consegue fugir do horário.

- Sei sim... – Malu se lamentou – Principalmente aqueles grifinórios metidos que se acham os donos da escola só porque têm a filha do Edgar entre eles.

Lica cerrou os punhos com força e Samantha rezou a tudo que foi entidade para que a namorada permanecesse quietinha onde estava. Ser pega fora da cama em horário avançado sem uma justificativa plausível ou sem autorização era motivo de advertências e detenção. E como Lica já andava encrencada com os problemas com Rafael e o Torneio, poderia ser expulsa antes que pudesse dizer “quadribol”.

- Pensei justamente que pudesse ser um deles, por isso vim conferir – Samantha devia era ganhar um prêmio pela atuação. Sonsa não. Atriz.

- Encontrou algo?

- Um-hum. Já rodei tudo aqui mas nem sinal. Deve ser só a gata do zelador pregando peça. Ela gosta de dar voltinha pela escola de noite.

- Certo. Muito bem então, vá para o dormitório. Não deve ser nada demais.

- Certo. Vou só ao banheiro rapidinho de lá eu vou. Boa noite, professora.

- Boa noite, Samantha.

Malu devolveu e se retirou. Samantha caminhou no sentido oposto uns cinco passos com a varinha acessa para fingir que realmente se retiraria e então desligou-a e retornou contando os passos até dar um encontrão em Lica que seguia o caminho oposto indo atrás dela. Quase foi parar no chão.

- Ai, Heloísa! – massageou o braço – Não piora tudo mais ainda! – e deixou um tapa no ombro da namorada.

- Foi mal... eu pensei que ‘cê ia me deixar aqui sozinha – as duas sussurravam.

- Na próxima vez, traz a porra da capa e me ajuda!

- Eu sei, seu sei... – mas Lica tinha mais o que fazer. Levou a namorada para o vão onde estivera escondida e sacou de dentro do bolso um pedaço de pergaminho em branco. Tocou-o com a ponta da varinha – Juro solenemente que não vou fazer nada de bom.

Contornos em tinta e arabescos começaram a se formar até que a inscrição “Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas apresentam o Mapa do Maroto” surgiu no alto do pergaminho.

- Que é isso? – Samantha se interessou e quando Lica o abriu e ela viu o mapa do Grupo com faixas em movimento sinalizando o nome de cada um de seus habitantes.... – Heloísa, que porra é essa?

- É o Mapa do Maroto. Mostra o Grupo e todo mundo que está aqui dentro em tempo real o tempo todo. Onde estão e o que estão fazendo.

- Que absurdo é esse? – Samantha arrancou o mapa das mãos dela para espiá-lo.

- Ei devolve aqui!

- De onde foi que isso saiu? E como mais ninguém sabe da existência disso?

- O MB achou na sala do Valdemar durante uma detenção e me vendeu. Agora dá licença.

- Isso me mostra, Heloísa! – Samantha estava revoltada – Se eu souber que você andou me espionando....

- Eu não fazia isso – ela se defendeu ofendida – Não muito.

- Eu devia te matar!

- E ficar sem meus beijos?

- Cala a boca! Procura a Malu aí.

Ela tinha acabado de entrar na própria sala nas masmorras. Os passinhos sinalizavam que a mulher estava parada dentro do banheiro....

- Eca – Lica fez uma careta – Anda, eu vou te deixar e aí sigo pra minha torre. Você pode ser monitora, mas é mais fácil eu desviar de gente indesejada com isso aqui.

E nisso combinado, seguiram para as masmorras onde Lica se despediu de Samantha com um beijo mais que apaixonado e a promessa de se verem no dia seguinte. Quase não conseguiam se desgrudar.

Teria sido perfeito se no dia seguinte elas tivesse conseguido se ver. Samantha simplesmente sumira. E Lica, que já estava com os nervos à flor da pele por causa de uma tarefa mortal que não sabia nem como começar a executar, ficou quase à beira de explodir sem saber da namorada e sem ela ali para lhe dar suporte.

- Tina, eu estou ficando preocupada – Lica insistiu pela milésima vez. Já estavam quase ao meio dia e Samantha simplesmente nunca dera o ar da graça em canto nenhum daquele castelo – A Samantha não sumiria assim.

- Ela chegou ontem bem tarde ao dormitório. Disse que estava fazendo a ronda, mas parecia feliz demais pra quem procurava aluno fujão pelos corredores.

- Eu sei, ela estava comigo.

- Ah, sim, então... – Tina se atinou do que a amiga havia dito – ELA O QUÊ?

- Fala baixo!

- Vocês estavam juntas? E você nem pra me contar, sua desgraçada! – deixou um tapa doído no braço da Gutierrez, que se encolheu massageando-o e catando com os olhos a namorada pelas cabeças do salão, mas sem sucesso algum – O que vocês estavam fazendo até aquela hora?

- Decifrando o ovo.

- Umhum... – Tina não pareceu nem um pouco convencida – Decifrar o ovo é um sinônimo novo pra tran....

- Shiu! – Lica pediu silêncio – Isso é íntimo, Tina.

- Rolou! – a menina vibrava como uma torcedora em final de Copa do Mundo de Quadribol – Limantha é real, caralho!

- É sim, real pra caramba, real pra porra! E a minha namorada sumiu! – Lica se levantou catando Samantha de novo, mas sem encontrar nada.

- Namorada?!

- Quem é namorada? – Benê.

- A Lica da Samantha – Tina externou.

- Cala a boca, Tina!

- Vocês estão namorando? Então ficou firme mesmo? – Keyla ria feliz da vida – Parabéns, amiga. Cuida direitinho da Samantha, eu gosto dela. Maior gata.

- Ela é sim – Lica respondeu meio aérea – E não está em lugar nenhum. Eu vou procurar a Dóris.

Já ia se levantando quando sentiu uma presença atrás de si. Dóris Bonfim, a própria, sorrindo animada e parecendo ter lido os pensamentos dela.

- Heloísa, querida, como estamos? Tudo pronto para a prova de mais tarde?

Lica queria dizer que não, que não tinha ideia de como respirar por uma hora debaixo d´água e que morreria afogada ou passaria vergonha. Preferia mil vezes a segunda opção. Ao menos ainda teria uma vida longeva e linda para viver com a menina que gostava.

- Tudo sim, professora. Tudo... nos conformes – mentiu na cara dura, mas Dóris pareceu não perceber.

- Eu vim desejar boa sorte, Heloísa – e se a coisa já estava ruim, ficou ainda pior. Malu brotou atrás de Dóris com aquele sorriso presunçoso no rosto e deboche pintado em casa centímetro de suas feições. E Lica não estava para deboches – Espero que você esteja preparada, querida. Do fundo do meu coração.

Até para um surdo, a ironia na frase dela ficaria clara. Dóris suspirou cansada e revirou os olhos.

- Pode apostar que ela está preparada, Malu – a diretora da Grifinória devolveu e ajeitou a postura – Vamos? Precisamos vistoriar a estrutura da prova.

- Claro – Malu assentiu, ainda rindo feito uma bocó – E Heloísa, querida, já que você está desocupada e tranquila demais para mais tarde, por que não faz algo de útil?  Sua colega, a Benedita, está precisando de ajuda na biblioteca com a arrumação de uns livros. Vá até lá. Mate seu tempo com algo produtivo.

Como se ela fosse uma desocupada na vida. Mas Lica que não iria prolongar aquilo.

- Ok. Eu só preciso encontrar a....

- A Samantha teve um pequeno imprevisto e precisou se ausentar por umas horas – Malu pareceu ler a mente dela.

- Imprevisto? – Lica se alarmou – O que aconteceu com ela?

- Calma, minha querida... foi só um problema em casa – Dóris foi que respondeu – O ministro adoeceu de um resfriado e ela pegou uma folguinha para ir visita-lo. Não é nada demais. Pediu para eu deixar o recado já que lhe procurou mais cedo e não lhe achou.

Estranho, mas ainda assim, plausível. Lica acenou em agradecimento, o coração se aquietou um pouquinho e então seguiu para a biblioteca conforme lhe fora ordenado pela sucubus que era sua madrasta.. A cabeça a mil e a última coisa que ela queria e conseguiria fazer no momento era se concentrar em ordenar livros em prateleiras.

Ao menos aquele final de manhã foi mais, bem mais produtivo do que o que ela calculara de início. Pensara em mandar uma coruja para Samantha perguntando se estava tudo e desejando melhoras ao ministro. Quer dizer, seria de bom tom com seu futuro sogro, certo? Mas sabendo que quem lhe esperava na biblioteca era Benedita Teixeira Ramos, ela preferiu não deixá-la esperando. Sem contar que a ordem partira de Malu e ela não perderia a oportunidade de jogar na cara de quem quer que fosse que ela lhe desobedecera. Correu até biblioteca lá para encontrar a amiga de varinha em riste empilhando livros e mais livros no ar.

- Oi, Benê – cumprimentou-a com um beijinho no rosto, ao que recebeu uma cara de poucos amigos – Como está por aqui? A Malu falou que ‘cê precisa de ajuda.

- De ajuda, não de alguém atrapalhando. E você, Lica, geralmente atrapalha.

- Valeu aí pela parte que me toca – a Gutierrez riu e deu de ombros, se sentando sobre o tampo da mesa – Por onde eu começo?

- Empilhando estes – Benê apontou para um amontoado de livros do outro lado – Por ordem alfabética de autores e de títulos. E separe por assunto também. É mais fácil para os alunos encontrarem depois.

Assentindo, Lica se levantou e se pôs a trabalhar. Era bem chato, na verdade e mentiria se dissesse que aquilo ocupou sua mente. Na verdade, estava uma pilha por dentro. Em algumas horas teria um Lago Negro para enfrentar e ela não tinha a menor ideia de como fazê-lo. Estava se apegando à ideia de que alguém na organização tivesse pensado nisso. Se não... morreria afogada. Fim. E nem Samantha estava ali para poder ajudá-la. Com certeza ela teria uma resposta pronta, uma ideia que fosse para lhe garantir que viveria.

- Algum problema? – Benê inquiriu, percebendo Lica bufar com a cara ligeiramente desanimada. Expressão de quem comeu e não gostou. Ou só de quem estava passando fome mesmo.

- Nada, de boa – a Gutierrez mentiu, mas não escapou do olhar perscrutador da amiga. Benê a conhecia como ninguém. Talvez só Ellen, Tina e Keyla também o fizessem. E por ela fazer parte daquele grupo seleto de pessoas a quem Lica tinha em alta conta e amava mais que tudo, foi que ela abriu a boca – Eu estou perdida, Benê – se deixou cair numa cadeira, apoiando a cabeça na mão – A segunda tarefa é no Lago Negro, parece que a gente vai ter que recuperar alguma coisa importante que vão nos tirar e eu não faço a mínima ideia de como respirar debaixo d´água por uma hora.

- Então você descobriu a segunda tarefa – a amiga concluiu o óbvio – Quando foi isso? Você podia ter nos pedido ajuda antes.

- Ontem de noite. O banho com o ovo no banheiro dos monitores deu certo. O grito que ele solta na verdade é uma canção sereiana dizendo que nós vamos ter uma hora pra encontrar aquilo que de mais importante nos tirarem. Eu vou morrer afogada com um minuto de prova.

- Por que você não usa guelricho? – Benê soltou tão, mas tão naturalmente, que Lica demorou uns segundos para entender que era com ela que ela falava.

- O que é isso?

- É uma erva. Ela permite que você respire debaixo d’água te dando brânquias. É bem útil para os pesquisadores marinhos.

A centelha de luz no fim do túnel.

- Como que isso funciona, Benê? E mais importante: onde eu consigo isso?

(...)

Os momentos de marasmo que antecediam a segunda tarefa pareceram ter dado lugar à euforia pelo desconhecido. A escola inteira já sabia que a prova seria feita no Lago Negro. Foram erguidas arquibancadas verticais no meio da água para acomodar a audiência e servirem de ponto de apoio para os campeões. Gritinhos animados ecoavam ao vento, barulhos de cornetas e, claro, MB coordenando sua central de apostas nem tão clandestina assim.

Dizer que Lica estava nervosa era eufemismo. Estava para sair correndo pedindo por socorro e dizendo que aquilo tudo não passou de um engano. Tinha mesmo sido um em verdade. E nada de Samantha. Seria muito mais confortável com a namorada ao seu lado, Dóris lhe garantira que ela voltaria para vê-la cumprir (ou morrer) na tarefa, mas até aquele momento, ela ainda não tinha aparecido. A situação do ministro estaria tão ruim assim? Ou ela teve algum imprevisto para embarcar no expresso para a escola?

- Se acalme, minha querida, você vai encontrá-la – Dóris tentou acalmar – Concentre-se no que tem que fazer agora, hum? Concentre-se na sua prova.

Lica não queria fazer prova nenhuma. Queria Samantha. Foda-se o Torneio Tribruxo.

- Lica! – a voz de Benê chamou sua atenção em meio às cabeças que se dirigiam para as margens do lago onde botes os aguardavam para os levarem até o local da tarefa – Consegui.

Um pequeno alívio em meios ao caos. Benê havia dito que sua mãe, Josefina, tinha um estoque de guelrichos guardado em sua sala e que havia gentilmente cedido um a ela. Lica anotou mentalmente o lembrete de agradecer à professora de Herbologia depois por ter literalmente salvado sua vida. Recebeu a gosma verde de aspecto duvidoso das mãos da amiga, que chegou junto com Keyla, Tina e Ellen.

- Você deve mastigar duas vezes e engolir quando for pular na água – Benê explicou.

- Benê... tem certeza que isso funciona? Parece... meleca – e fez uma careta para a coisa.

- Se você tem dúvidas, é só não usar.

Um tapa teria doído menos. Lica assentiu e embarcou em um bote com as amigas em direção à morte. Correção: em direção à segunda tarefa. Desceu do barquinho na arquibancada do meio catando Samantha com os olhos, mas nada dela. Avistou Gabriel, tentou ir atrás do sonserino para saber da namorada, mas foi impedida por braços. Malu, a própria, a arrastou de volta para onde estavam os demais campeões.

- Não tente fugir, Lica. Pega mal.

- Eu posso te mandar pro inferno sem ser expulsa?

- Tente – a mulher riu para disfarçar – O que foi? Medo? Pensei que a filha grifinória do Edgar não conhecia essa palavra.

Lica buscou o olhar dela. Havia escárnio em cada centímetro de pupila dilatada.

- Você adoraria que eu morresse, né?

- Ora, ora... mas é tão agradável ver essa relação familiar – a voz grave e ligeiramente rouca soou ali do lado. Um homem alto, esguio, os cabelos acobreados e o rosto quadrado ligeiramente familiar se aproximou com o andar displicente e as mãos para trás – Por favor, Malu, não atordoe nossa outra campeã. Vim lhe desejar boa sorte, Gutierrez.

Ele lhe estendeu a mão e ela a segurou por educação. Lica reconheceu Danilo Gimenez, juiz da Suprema Corte Bruxa e pai de Rafael. O homem era os olhos e os ouvidos do Ministério da Magia no torneio. Atuava como uma espécie de árbitro para que a coisa tivesse lisura. Uma tremenda duma ironia ele ser pai de um campeão e o fato de que a fraude toda já tivesse acontecido logo na seleção do torneio. Bem duvidável o trabalho deste senhor.

Algo na expressão dele faiscou quando pousou o olhar em Lica e ela se retesou.

Danilo riu, mas seu sorriso podia facilmente ser confundido com uma serpente silvando. As íris exalavam um brilho assustador, quase demoníaco. Lica sentiu um arrepio incômodo percorrer sua espinha como se seu corpo todo estivesse se colocando em alerta. Sentiu o aperto da mão dele em seu braço ficando mais forte, embora o olhar seguisse no dela como se a analisasse. Assustada, Lica ela se desvencilhou do Gimenez, soltando a mão dele como se tivesse levado um choque, mas sentiu o olhar do bruxo queimando sobre si o tempo inteiro.

Qual o problema daquele homem?

- Campeões, aqui, por favor – Edgar pediu, a voz amplificada pela varinha. O homem sorria tanto que a qualquer momento seu rosto poderia se rasgar. Dividia um palanque com Bóris, os demais professores e.... Espera, aquele era Marco Lambertini? Mas o Ministro da Magia não estava....

- Ei... – Lica ficou alheia ao grito ensurdecedor da multidão quando um canhão soou e os campeões pularam no lago. Demorou a se atinar. O que diabos Marco fazia ali se Samantha tinha ido para casa porque ele estava doente?

- Lica, vai – sentiu mãos lhe empurrado. Keyla e Tina.

- Espera....

- Engole isso – Ellen empurrou a mão dela contra a boca de modo a fazê-la engolir o guelricho. E ele tinha um gosto horrível de lodo que por pouco não fez Heloísa vomitar. Cambaleou tossindo – Anda, vai!

- Mas....

Sem mais, foi empurrada pelas amigas no lago. Caiu toda torta, se debatendo. Sua respiração começou a ficar curta, sua pele parecendo formigar com a falta de ar. Abriu os olhos e se viu afundando. Agoniou-se com sua traqueia se fechando como se alguém, uma mão invisível apertasse sua garganta. Se debateu mais, indo mais para o fundo. Só havia escuridão para todo lado. O Lago Negro realmente era negro. Não conseguia enxergar um palmo na frente do nariz.

- Meu Merlim... eu matei a Lica – Benê se desesperou, levando as mãos à cabeça quando percebeu a superfície da água parada demais em um claro sinal de que ali não tinha nada se movendo embaixo. E se Lica tivesse se afogado? E se o guelricho não tivesse funcionado e ela tivesse simplesmente perdido o ar e a força para retornar para cima?

De repente, ouviram um borbulhar. Benê se virou rapidamente bem ao ponto de ver um corpo esguio e branquelo demais emergir da água em um salto, rodopiar duas vezes como um golfinho se exibindo para a multidão e retornar para dentro. Lica.

Ouviu-se um grito animado dos alunos, aplausos de alguns professores... e bom. Que bom que Benê não tinha matado ninguém.

Viva. Vivíssima e com guelras. Lica respirou fundo para garantir que estava mesmo inteira e bem para ir mais para baixo. Suas mãos e pés se assemelhavam às barbatanas de um peixe. Havia uma ranhura perto do ouvido por onde ela respirava e podia captar os sons ambiente com uma clareza absurda. Checou o relógio de pulso: tinha perdido cinco minutos naquilo. Puxou a varinha presa na perna e seguiu nadando sem direção. Queria ter um Mapa do Maroto ali. Ele seria de grande valia.

Não sabia sequer o que estava procurando. Perdeu a noção de quanto tempo ficou ali nadando... nadando... nadando... atenta a todo e qualquer movimento suspeito, a cada planta que roçava seu corpo... nem tinha ideia de quantos metros abaixo da linha d’água estava. Provavelmente bem longe, porque o fundo do lago parecia emitir um ruído de sucção como se a qualquer momento fosse puxá-la para alguma espécie de buraco negro. Girou no próprio eixo apurando a vista, mas nada... tudo o que via eram plantas, alguns peixes e criaturas estranhas seguindo seu curso ocupadas demais em notá-la, e aquela escuridão lhe envolvendo que dificultava horrores sua orientação.

Até que sentiu um movimento repentino do lado esquerdo. Virou-se rapidamente, mas não encontrou nada. O mesmo movimento se repetiu do lado direito. Virou-se. Nada. Até que olhou para trás. Sentiu algo grande se aproximando. Tentou desviar, mas sem sorte. Não se tratava de algo grande, mas de criaturas pequenas que, em conjunto, se tornavam seres enormes e assustadores. E havia mais de dois vindo na direção dela.

Lica só teve tempo de distinguir criaturinhas de chifres, verde-pálidas e altamente decididas a escalpelarem quem estivesse na sua frente, ou seja, ela mesma. Ela reconheceu os Gryndilows, pequenos demônios marinhos encontrados no fundo dos lagos. De cor verde doentia, os longos e fortes dedos das criaturas se fincaram na pele de Lica que não tinha quem soltasse. Foram direto em seu pescoço. Normal. Ela aprendera na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, em seu terceiro ano, que estrangular era a especialidade daqueles seres horrendos.

- Merda, merda, merda! – se viu dizendo, mas o som que saiu de sua boca foi só e somente um borbulho esquisito. E aqueles demônios seguiam se enrolando nela – Me solta!

Nada. Parece que quanto mais se debatia, mas aqueles troços se enroscavam. Respirou fundo, tentou se manter quieta e mexeu só a mão com a varinha. A claridade que irradiou de lá e iluminou tudo ao seu redor fez as criaturas em volta de si se encolherem. Então eles não eram fãs de luz. Lica repetiu o movimento e sentiu os dedos afiados irem um a um se soltando de sua pele. Conseguiu libertar o braço, girou-o como uma bola de luz, o que iluminou mais ainda o cenário ao redor e fez os Gryndilows se encolherem e sumirem pela escuridão. Aproveitando o facho de brilho que ainda restava, Lica iluminou ao redor para se atinar de onde estava. E percebeu ao longe uma leva das mesmas criaturas nojentas se aproximando dela com tudo. Nadou no sentido contrário com pressa, lançando clarões sobre o cardume de demônios (isso existe?). Perdeu as contas de quantas vezes teve que sacudir a varinha com veemência, o braço já cansando... até que conseguiu aparentemente se livrar daquelas coisas. Exalando acelerado, ela se viu flutuado no meio do nada e de mais escuridão, querendo no fundo se dar por vencida.

Girou no próprio eixo, olhou em volta, mas nada. Escolheu uma direção que não fosse aquela da qual tinha acabado de sair e seguiu por lá. Lhe pareceu o Norte, mas também onde estava não tinha bem como saber. Até que percebeu um facho de luz do outro lado. Atraída por ele, nadou mais depressa, o relógio em seu pulso marcando meia hora de prova corrida. Apressou o nado e o facho de luz foi se transformando em um clarão. Ficou tudo tão iluminado a ponto de quase cega-la. Parecia um sol colocado estrategicamente debaixo d’água. De varinha na mão, Lica se aproximou mais e parou para analisar ao redor. Parecia uma cidade em ruínas. Seria lá a tal Atlântida perdida que já lera nas histórias dos trouxas uma vez?

Mas nem sinal de algum ser vivente além dela. Poderia ser ótimo, mas também um péssimo sinal. Lica nadou mais um pouco seguindo na mesma direção até que seu pé bateu em alguma estrutura de pedra. Se virou para baixo para ver o que era e entendeu que se tratava de uma espécie de altar. Sem dar muita importância, seguiu em seu curso para se deparar com quatro pilastras enormes erguidas no meio das ruínas, cobertas por musgo. De cada uma delas pendia....

Sentiu movimento vindo de trás. Se afastou rapidamente em reflexo a tempo de ver uma pessoa com cabeça de tubarão se aproximando em um nado vigoroso. Correção: Dogão, o campeão da Aclimação, com a cabeça de um tubarão no corpo musculoso e definido, nadando determinado em direção à primeira pilastra. E nela havia uma mulher presa. Uma senhora. Jovem, mas ainda sim uma senhora. Longos cabelos loiros ondulavam ao redor do rosto pálido parecendo petrificado. Sem delicadeza nenhuma, Dogão cortou com os dentes afiados de tubarão as cordas que a prendiam e a pegou nos braços. Sumiu pela escuridão na mesma velocidade com que chegara.

Então era isso: o que fora tomado dos campeões para ser recuperado não eram coisas. Eram pessoas. Lica entrou em desespero. Nadou mais depressa até as pilastras para encontrar uma garotinha negra de cabelos blackpower na segunda coluna; uma mulher de cabelos acobreados e lisos com cara de entojo totalmente inerte e petrificada na terceira, e na quarta e última pilastra....

- Não....

Samantha Lambertini, a própria, jazia pálida parecendo morta presa por cordas nos pés e nos pulsos. Os cabelos cacheados flutuando ao redor do rosto inerte. Olhos fechados... o coração de Lica acelerou em completo horror. Se apressou até ela para tirá-la, mas quase foi atropelada por um corpo que veio da lateral. Reconheceu Rafael com a cabeça envolta em uma bolha gigante, varinha em riste com a qual lançou um filete de luz contra as cordas e libertou a senhora da terceira pilastra. Lica deduziu ser a mãe dele. Recebeu um sorriso de desdém do rapaz e um batidinha no relógio de pulso sinalizando que o tempo da prova estava se esgotando. E assim como foi com Dogão, ele sumiu pela escuridão.

Lica checou o tempo. Faltavam exatamente dez minutos para que a prova encerrasse. E então o desespero começou a bater. Haviam quatro campeões e quatro “coisas” a serem recuperadas, mas só três deles haviam chegado ali até o momento. O que aconteceria se um deles não conseguisse reaver o que lhe fora tirado? Onde diabos havia se metido Thaís Dayanne, que ainda não tinha aparecido para salvar a irmã. Lica deduziu que seria a irmã dela ali. Deu mais dois minutos e nada, nenhum movimento sequer.

Tomada pelo temor, se aproximou de Samantha, com um feitiço desamarrou-a da pilastra, envolveu seu corpo gelado e duro pela cintura colando-a a si e se dirigiu para a menininha ao lado. Mas foi parada por um grupo de sereianos que brotou do nada ameaçando-a.

Imagine a maravilha que é você ser acuada por dezenas de criaturas parecidas com sereias, mas com aparência de répteis e cabelos humanos. Os sereianos eram metade peixe, metade gente, embora não fossem mestiços. Lica os estudara ainda em seu segundo ano e sabia que eles cultivavam hábitos... bem resistentes para com aqueles que se aproximavam de seus territórios. Viviam em uma sociedade altamente organizadas e quem quer que chegasse sem ser convidado... bom, eles não costumavam poupar.

- Só uma.... – um deles pareceu sibilar em serêiaco, o mesmo tom de voz da canção do ovo.

- Mas ela não pode ficar aqui – Lica devolveu com o óbvio na esperança de que eles lhe entendessem.

- Um pra cada campeão....

Ah, que ótimo! Faltando cinco minutos para o fim da prova, tendo exatos trezentos segundos para voltar à superfície, Lica se meteu em uma briga com os sereianos que eram os verdadeiros donos daquele lago. Lançou um feitiço em um para afastá-lo, só conseguiu deixa-lo mais raivoso a ponto de mais um grupo deles brotar para tentar lhe parar. O que se seguiu foi ela sendo praticamente engolida por um redemoinho de tentáculos lhe envolvendo e lhe puxando para baixo.

Quase sem forças já, ela conseguiu mexer a mão e lançar um Protego muito do mal proferido, fazendo uma claridade absurda invadir o ambiente e afastar os sereianos, que foram se esconder afugentados debaixo das ruínas. Lica quase perdeu a pouca força que ainda lhe restava e se deixou ser carregada para o fundo do lago com Samantha presa a si. E foi ao encontrar a expressão gélida e aparentemente morta da namorada, que ela sentiu aquele breve assomo de coragem. Não terminaria daquele jeito. Não teria nadado o lago inteiro para morrer ali com a mulher que amava.

E uma criança que nada tinha a ver com aquilo no meio.

Bateu os pés impulsionando-se para cima, desprendeu a irmã de Thaís das amarras, segurou-a firme pela cintura, mas aí se viu em outro impasse. Somou seu peso, o de Samantha e o da menina, ela quase não conseguia subir. E no meio do caminho, o guelricho começou a perder efeito. Sentiu suas brânquias começarem a sumir. As barbatanas em seus pés e mãos começarem a se dissolver como se estivessem se rasgando. E o ar, esse começou a lhe faltar. Colou mais forças nos braços para manter os dois corpos juntos de si e tentou impulsionar mais as pernas. Mas não conseguia sair do lugar. Checou o relógio de pulso: dez segundos para o fim da prova. Reuniu forças que nem sabia de onde vinham e deu impulso com os braços para jogar Samantha e a menina para cima. Os corpos flutuaram um tempo até emergirem, mas ela mesma não teve tempo de ver mais nada.

Sentiu os olhos irem se fechando à medida que seu peito ardia e parecia queimar em busca de ar. Mãos e pés sem qualquer resquício de que um dia Lica fora um peixinho. A varinha quase se afrouxou em sua mão à medida que ela afundava. Quase. Em um movimento hercúleo, num esforço sobre-humano, ela girou a mão em um feitiço que sequer sabia qual era. Valia qualquer coisa que a impulsionasse para fora daquele martírio.

Sentiu seu corpo subir na velocidade de um foguete, a pressão diminuir à medida que chegava à superfície e o ar lhe invadir os pulmões de uma vez e de forma incômoda quando ela alcançou a superfície e aterrissou de mal jeito e com um baque surdo na estrutura de madeira sobre o lago.

- E a última campeã a terminar a prova: Heloísa Gutierrez!

A voz de Juca soou alta e incômoda por todo canto e Lica sentiu mãos e lhe envolvendo. Algumas tentavam lhe acudir, outras lhe davam tapinhas de congratulações até que um corpo veio de encontro ao seu. Um corpo quente, molhado... o sopro de ar e de vida que ainda lhe faltava. Samantha a envolveu em um abraço desesperado checando cada centímetro dela. E então, sem aviso, os lábios dela envolveram os seus em uma sequência de beijinhos afoitos.

- Lica! – beijo – Você está bem? – beijo – Está respirando direito?

- Ela estaria respirando melhor se você saísse de cima dela, filha – a voz grave de Marco Lambertini soou atrás de Heloísa – Dá um tempinho pra ela, vai... a menina acabou de sair do Lago Negro, precisa de ar.

- T-tudo bem, S-sammy – Lica respondeu como pôde e riu. Estava com frio, seu corpo tremia. Os cabelos pingavam água nas vestes de banho encharcadas – B-bem melhor a-agora – e aí foi a vez dela selar as bocas em um beijo. E seu corpo automaticamente esquentou. Trouxe Samantha para si em ânsia.

- Eu fiquei com tanto medo....

- Ah, o amor juvenil. Ele não é lindo? – Bóris se materializou ali, sorrindo de orelha a orelha acompanhado por Dóris – Meus parabéns, Lica! Você foi a melhor colocada nessa prova.

- E-eu? – Lica liberou-se de Samantha, mas se manteve agarrada a ela – Mas eu fui a última a voltar.

- Mas foi a primeira a encontrar os demais.

- Heloísa! – um corpo forte e quente aterrissou em cima de Lica e se agarrou a ela que não tinha no mundo quem soltasse – Obrigada, muito obrigada por ter salvado minha irmã!

Era Thays Dayanne, a própria, em vestes de banho, coberta por um roupão verde piscina repleto de bordados. Tinha os cabelos molhados e gestos desesperados.

- Bom, vamos à colocação da prova: o campeão Douglas Moreira foi o primeiro a recuperar o que lhe foi tomado utilizando o feitiço cabeça de tubarão. Bem engenhoso eu diria – Edgar anunciou no microfone. Em segundo lugar, o campeão Rafael Gimenez, que se utilizou o feitiço cabeça de bolha. Articulado – Edgar trocou um sorriso com Malu e Lica quis vomitar – Em terceiro lugar a campeã Heloísa Gutierrez, que se utilizou de guelricho para cumprir a prova. A campeã do Colégio Cora Coralina, Thays Dayanne, não conseguiu completar a prova e perdeu pontos. No entanto, sua falta levou a um ato de... bravura. Conforme decidiram os jurados, a senhorita Heloísa Gutierrez fica com o primeiro lugar por ter sido a primeira a chegar aos demais participantes e, portanto, ter sido a primeira a tecnicamente concluir a prova. Soma-se duzentos pontos para ela pela coragem em permanecer além do tempo em prova para salvar uma participante que não era sua. Heloísa Gutierrez é a campeã da segunda tarefa do Torneio Tribruxo.

Edgar parecia anormalmente exultante com o feito de sua filha. Mas não era bem por Lica. Era mais por ver seu sobrenome no topo. E Lica começou a cogitar usar o Almeida de sua mãe no lugar do Gutierrez do pai dali em diante.

- Parabéns, Heloísa. E obrigada mais uma vez por salvar minha irmãzinha – Thays Dayanne, que seguia jogada sobre ela, envolveu-a em um abraço e deixou um beijo caloroso em sua bochecha, mas perto demais dos lábios. Lica corou violentamente e retribuiu com um sorriso torto. Ele não durou muito. Só até sentir o olhar gélido de Samantha ali do lado. Sua felicidade morreu. E foi enterrada quando a namorada arqueou a sobrancelha em um claro questionamento.

- Sabe como é... cooperação internacional em magia – Lica respondeu como pôde e coçou a nuca.

- Umhum – foi tudo que Samantha respondeu. Apertou os lábios, estreitou os olhos e se levantou para falar com o pai.

Pai esse que assistia à cena toda de camarote. Literalmente de camarote. Marco Lambertini analisou Heloísa de cima a baixo e acenou brevemente com a cabeça antes de se aproximar.

- Podemos conversar, Heloísa?

Ok... sobreviver ao Lago Negro até que não tinha sido tão ruim assim. Não perto do que estava por vir. Lica acenou em afirmação, pediu licença, foi se secar com os demais campeões e retornou minutos depois para encontrar com Ellen, Tina, Keyla e Benê esperando por ela em um bote.

- Lica, você foi demais! – Ellen estava maravilhada – Sério, começou em grande estilo e terminou também.

- Eu amei seu suspense no final, amiga. Tipo, deixou todo mundo pensando que você tinha morrido e voltou com tudo! – Tina estava exultante.

- Eu devia era te dar uns tapas por você se atrever a brincar desse jeito com a gente, Lica. Mas pelo menos foi por uma boa causa. ‘Cê ganhou a gatona do Cora, hein? – Keyla.

Lica riu e negou com a cabeça.

- Pode ficar com a gatona do Cora. Eu já tenho a minha – respondeu convicta.

- Então o lance com a Samantha é sério mesmo?

- Vocês assumiram para a escola inteira ver. As demonstrações de afeto por parte da Samantha não negam que você e ela têm uma ligação muito forte – Benê pontuou sábia.

- Nós estamos oficialmente namorando e eu espero que continuemos assim depois de hoje – Lica buscou a namorada por ali, mas não encontrou – Ela não ficou muito feliz com a Thaís e....

- Não mesmo – Marco se materializou atrás delas – Mas se eu conheço minha filha, sei que isso passa logo, logo. A Samantha adora um teatro às vezes – o homem sorriu simpático para as demais, que pareceram paralisar – Muito prazer, senhoritas. Marco Lambertini.

Um tanto surpresas, as meninas o cumprimentaram uma a uma. Mas Lica mesma parecia tesa e assustada. Não estava preparada e nem com roupa decente para ter um tete à tete com o sogro agora. Samantha poderia ao menos estar ali, mas nem isso.

- Vocês podem ir andando, eu... eu vou ficar por aqui.

Entendendo o recado, Tina, Ellen, Keyla e Benê se retiraram deixando a sozinha com Marco. Se puseram a caminhar lado a lado, o homem com a pose austera e as mãos para as costas.

- Então... a famosa Lica de quem a Samantha tanto fala é uma campeã Tribruxo e filha do Edgar.

- Sim – foi tudo que ela respondeu – Ou quase tudo – Mas não é como se eu me orgulhasse muito das duas coisas.

Ele iria querer sinceridade, certo? Ela esperava que sim.

- Eu sei bem como você veio parar aqui. É de conhecimento geral que houve um... descumprimento de regras.

- Eu não fiz nada, ministro- Lica se defendeu – Realmente não sei como meu nome foi parar naquele cálice.

- Eu sei que não – Marco perscrutou a expressão dela e Lica viu algo ali dentro perto de... compreensão. Se o homem não estivesse sendo sincero, era um excelente ator. E era impressionante como os traços dele, a pose, até a forma como falava lembravam tanto a de Samantha. Sua namorada era a cara do pai e ela se pegou perguntando até que ponto isso poderia ser bom e ruim – Ninguém engana o Cálice de Fogo assim, Heloísa... exige magia muito poderosa, algo além da capacidade de uma aluna concludente.

- Ao menos uma alma sensata – Lica soltou e fez uma careta depois – Desculpa, eu....

Foi interrompida pela risada do homem. Lembrava um pouco a de Samantha também, embora fosse mais comedida. A namorada quando desatava a rir, não tinha quem parasse.

- Sem filtros, hum? Isso é bom... eu acho que pra alguém namorar com a Samantha, tem que ser igualmente sem filtros como ela.

Namorar? O homem havia dito “namorar”? Samantha havia dito a ele que as duas estavam juntas? Foi o quê? Ela sumiu o dia inteiro para trocar figurinhas com o pai sobre seu relacionamento e depois ser colocada no fundo do lago? Aliás, como diabos Samantha fora parar lá no meio de sua prova?

Marco parecia ter lido os pensamentos dela.

- Sabe, Heloísa, eu sou um homem muito bem informado. É pré-requisito para o cargo – ele riu ameno – E tenho a sorte da minha filha ser aberta comigo e confiar em mim para... contar coisas. Não é de hoje que ela fala em Lica... Lica... eu meio que já desconfiava que devia ter algo acontecendo. Só fiquei de fato surpresa quando me enviaram uma coruja no Ministério informando que precisariam petrificar e enfeitiçar minha filha para colocá-la no fundo do Lago Negro como parte de uma tarefa do torneio. Eu realmente não esperava por isso. E aposto que você deve estar se perguntando por que a Samantha.

Lica engoliu em seco. Marco tomou ar e suspirou.

- Não é tão difícil entender, vai... ninguém que foi colocado naquela prova, foi por acaso. O Douglas, ele vive com a avó. É de longe a pessoa mais importante no mundo para ele. Do mesmo jeito que a Thays Dayanne é a maior inspiração da vida da irmã. A melhor aluna do Cora Coralina, capitã do time de quadribol deles e agora campeã Tribruxo... deixar a pequena Lúcia de fora seria até falta de respeito. As duas têm uma ligação muito forte. O Rafael... todo mundo sabe que para ele a mãe é o equivalente a Merlim. Para o bem ou para o mal, os dois são o espelho um do outro. O maior impasse, pelo que me explicaram era com você. Quem podia ocupar o posto de coisa mais importante da sua vida, que te faria tanta falta a ponto de você não conseguir viver sem?

Lica abriu e fechou a boca na tentativa de falar. Se manteve em silêncio.

- Eu fiquei lisonjeado de saber que petrificariam a Samantha porque tem alguém no mundo que a ama a ponto da ausência dela ser quase insuportável. Que pai não ficaria?

Lica ficou muda. Talvez atônita.

- E acredite, a recíproca é verdadeira. Poderia ser você no fundo do lago caso a Samantha fosse a campeã – Marco inspirou profundamente – Heloísa... eu conheço minha filha como ninguém e sei que ela nunca se envolveu tanto e tão profundamente assim. Você tem a minha menina nas mãos – e tão tranquilamente quanto quem diz que vai beber água, o ministro sacou a varinha e apontou-a displicente para a Gutierrez – E se fizer alguma besteira a ponto de a Samantha sofrer ou chorar, eu não vou pensar duas vezes antes de te lançar uma maldição e dizer que foi em legítima defesa. Fui claro?

- C-cristalino – Lica gaguejou assustada – M-ministro, eu... – pigarreou – O senhor pode ter certeza que eu seria incapaz de fazer a Samantha sofrer. Eu... eu... – bora lá, Heloísa – Eu amo sua filha – foi tão simples dizer aquilo. Tão certo. Precisava correr para falar para Samantha – Eu amo a Samantha e nunca a trataria mal. O senhor tem minha palavra.

- Ótimo – Marco guardou a varinha – Eu espero realmente que sim, ou do contrário... você não vai querer arrumar briga comigo. Trate minha Samantha como a princesa que ela é. A rainha! E por favor, fique viva até o final desse torneio, não quero ver minha menina sofrendo porque o amor da vida dela morreu.

O amor da vida dela... Lica amou ouvir aquilo. Então ela era o amor da vida de Samantha? Lhe pareceu tão certo.

- O senhor pode deixar que eu... – mas ela não teve tempo de concluir. Um raio vindo de dentro das árvores passou pelos dois e quase, quase atingiu Heloísa em cheio. Só não o fez, porque Marco empurrou a menina para o lado e saltou para longe em reflexo. Os dois rolaram pelo chão, a varinha de Lica indo parar longe – Ministro! O senhor está bem?

Mas automaticamente sombras começaram a se mover ao redor deles. Pareciam vultos aparatando. Um, dois, três, quatro... homens encapuzados e de varinha na mão.

Ah, pelo amor de Merlim! Lica se pegou maldizendo sua existência e se perguntando desde quando sua vida tinha se tornado uma série ridícula de eventos desastrosos. Conseguiria ao menos completar a maioridade? E o pior: escapara de um dragão e dos sereianos no fundo do Lago Negro pra morrer com a merda de uma maldição imperdoável e potenciais bruxos das trevas lhe cercando. Haveria fim de vida mais clichê?


Notas Finais


Well, well, well... morrer de um avada kedavra? Realmente é meio blé pra quem passou por um dragão e pelo Lago Negro kkkkkkk.
Gente, fiquem calmos, tá? Essa fase "vamos eliminar a Lica" vai passar (eu espero).
E dez pontos para a casa de quem acertou na Samantha na prova. Nem tinha como ser outra pessoa, né? Mas agora eu quero saber das teorias? Será que a Lica e o ministro estão muito encrencados? E esse povo brotando do nada?
PS: Thays Dayanne, minha filha, a Lica já tem namoradinha. Se sossegue aí que a consagrada dela executa um Estupore como ninguém.

No mais, eu agradeço pela leitura e nos vemos no próximo capítulo!


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