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História Angel - Trinta e nove


Escrita por: glfawkes

Notas do Autor


1/3

Capítulo 39 - Trinta e nove


Jisoo dirigia pelas ruas parcialmente vazias da cidade enquanto Rosé ocupava o banco do carona. O aparelho de som alternava entre música e notícia sobre o trânsito na rádio sintonizada.

Era quase fim de tarde e a escritora havia se oferecido para deixar Chaeyoung em casa antes de passar em seu próprio apartamento e só então ir para a boate que trabalharia naquela noite.

 

- Mas você não pensa mesmo em lecionar? – Rosé perguntou, olhando o perfil bonito da púrpura. – Eu realmente posso te indicar na diretoria de algum colégio daqui.

 

- Eu nunca pensei em ser professora. – A mais velha sorriu fraquinho, encarando o sinal que havia acabado de fechar. – Eu tenho o meu diploma e amo o curso que escolhi, mas não é algo que me vejo fazendo. Não sei se faz muito sentido.

 

- Está sendo um pouco difícil encontrar sentido nisso. 

 

- Eu gosto de escrever e minha licenciatura me ajudou muito nisso. E, de certa forma, eu não preciso exatamente exercer minha profissão por enquanto. Minha avó me deixou alguns galpões alugados no Japão e eu ainda tenho o prédio aqui da cidade.

 

Jisoo pertencia à uma tradicional família coreana que investia em imóveis tanto no país, como no exterior. À medida que a família crescia, seus avós se desfaziam de algum bem em prol dos filhos. Um prédio para um filho, um apartamento para um neto. Houveram vezes que apenas venderam algum imóvel para dividir o dinheiro entre os herdeiros, uma vez que ninguém tinha real intenção de continuar com os negócios da família. Jisoo havia ficado com o prédio da cidade, bem como alguns imóveis no exterior, já que era filha única de seus pais e a que ficou com sua avó até o fim.

 

- Às vezes eu esqueço que você é rica. – Chaeyoung assoviou.

 

- Eu não sou rica. – A voz anasalada saiu um pouco rouca e Rosé rolou os olhos.

 

- Eu que não sou rica. – Rebateu. O carro já havia voltado a circular. – Mas eu estou jogando todos os dias na loteria. Um dia eu acerto e fico milionária. – Rosé falou com seriedade, mas a risada que Jisoo soltou acabou por desarmá-la. – Yah, não ria! Eu tô falando sério! – Chaeyoung tentou brigar com a escritora, mas sua voz saiu risonha.

 

- Eu sei que está. – A púrpura olhou pelo espelho retrovisor e correu a língua pelos lábios de coração, tentando parar de rir. – E o que você fará quando ganhar na loteria?

 

- Primeiro irei quitar todas as minhas dívidas. – Rosé começou sonhadora. – Depois quero deixar o galpão totalmente pronto para as aulas comunitárias.

 

- E depois? – Instigou.

 

- Depois eu quero mochilar pelo mundo. Tirar um ano sabático para morar um pouquinho em cada lugar. – Concluiu com um suspiro. Estava com a cabeça deitada no encosto do banco e Jisoo a olhou quando parou em um novo semáforo vermelho.

 

- Esse é um bom plano. – Jisoo exibiu um meio sorriso. – Eu tenho vontade de mochilar. Na verdade, eu tenho esse plano de mochilar assim que for o momento certo.

 

- A gente pode mochilar juntas. – Rosé propôs com os olhinhos brilhando. – Podemos comprar um mapa e fazer um roteiro, ou então apenas ir sem planejar nada.

 

- Podemos juntar as duas coisas. – A escritora gesticulou já mergulhada no planejamento fantasioso. – Compramos um mapa, mas só marcamos depois de passar pelo lugar.

 

- Sem roteirizar nada. – A Park apontou.

 

- Isso!

 

O som alto de buzina soou bem atrás do carro, as fazendo despertarem para o semáforo aberto.

Não estavam muito longe do galpão e esse fato deixava tanto Jisoo quanto Rosé desanimadas pelo futuro distanciamento. Estavam há mais de 24 horas grudadas e aquilo havia lhes deixado um pouco mal acostumadas.

Parando em frente as portas decoradas com o desenho de uma rosa, a púrpura puxou o freio de mão sem desligar o carro.

 

- Você não quer entrar? – Rosé ofereceu com intenção de ter a mais velha por perto por mais algum tempo. – Você pode descansar mais um pouco e se arrumar pra ir daqui pro serviço.

 

- Eu adoraria, mas. – Jisoo tinha um sorriso desanimado no rosto e a mão que segurava o volante apenas ergueu o indicador para apontar algo na calçada. – Acho que você tem visita.

 

Rosé franziu o cenho e olhou para a porta de entrada do galpão, encontrando Sooyoung por ali com o celular na orelha. Fechou os olhos e soltou um suspiro. Seu celular havia descarregado mais cedo e nem se lembrava mais que havia marcado algo com a mulher.

 

- Right. - A professora voltou-se para Jisoo que sorriu sem mostrar os dentes.

 

Estava triste porque queria aceitar o convite e ficar mais um tempo com Rosé. Também estava triste porque achava que estava tendo algum tipo de progresso, esquecendo-se completamente da existência de Sooyoung naquela equação.

Tentou ao máximo não demonstrar sua frustração, até porque não tinha nenhum direito sobre a mais nova, mas Rosé conhecia o sorriso forçado e os olhos apagados da escritora muito bem. Ela sempre era muito transparente aos olhos da australiana.

 

- Te vejo amanhã? – Rosé perguntou já soltando o cinto de segurança. Havia colocado Sana em contato com Jisoo e também se responsabilizado para levar a Minatozaki até o apartamento desocupado o mais breve possível para acertarem a questão da locação temporária do imóvel.

 

- Uhum. Só me falem o horário com antecedência pra eu poder me organizar.

 

- Ok.

 

Rosé recolheu suas bolsas com calma, as enganchando na mão direita e então se inclinou para perto de Jisoo. Sua mão esquerda repousou delicadamente no rosto bonito da escritora e seus lábios carnudos acertaram um beijo macio no canto da boca de coração.

A púrpura sentiu o polegar de Rosé alisar sua bochecha antes de se afastar. Viu o sorriso que a Park exibiu ao se despedir, mas só voltou a respirar normalmente quando a porta bateu e se viu sozinha dentro do automóvel. O canto de sua boca ainda formigando com o breve contato.

 

- Hi! – Rosé saudou Sooyoung que saltou de susto no mesmo lugar. – Sorry.

 

- Tudo bem. – A morena sorriu largo, puxando Rosé para um abraço. – Eu estava te ligando, mas só caia na caixa postal.

 

- É, meu celular acabou descarregando. – Disse enquanto abria o portão de entrada. – Pode ficar à vontade. Só vou fazer um chá e então conversamos.

 

~

 

Sooyoung estava sentada na cama de Rosé. Ela usava um vestido longo em um tom azul e seus cabelos negros estavam amarrados em um coque. Suas mãos estavam ocupadas segurando a xícara de chá bem como o pratinho que acompanhava o jogo de porcelana. Seus olhos bem delineados não fugiam do rosto de Chaeyoung nem por um segundo, apenas se estreitavam vez ou outra anunciando um sorriso.

 

- Não vou mentir pra você. – Sooyoung falou, enquanto colocava o jogo de porcelana sobre a mesinha de cabeceira. – Estou triste por perder você, mas estou feliz por você estar feliz.

 

- Você não vai me perder. – Rosé apoiou uma mão no joelho da professora de química e balançou. – Eu ainda estou aqui pra você.

 

- Você entendeu o que eu disse, não se faça de desentendida. – Sooyoung exibiu seu sorriso compreensivo. – Não vou poder mais ter sexo com você. Se eu soubesse disso antes teria me aproveitado mais na última vez.

 

A confissão causou uma gargalhada em Rosé. Havia acabado de contar sobre Jisoo e seus sentimento para Sooyoung. Não conseguia mais levar aquela relação com a professora enquanto sua cabeça estava em Jisoo. Ela não sabia quando exatamente aconteceu aquilo, talvez quando Jennie deixou escapar que a escritora queria algo real com ela e tal informação lhe deixou tão empolgada que se pegou fantasiando como seria ter algo com a mais velha.

 

- Eu realmente espero que dê tudo certo entre vocês. – Sooyoung segurou na mão de Rosé e a apertou levemente. – Essa mulher é muito sortuda por conseguir ter seu coraçãozinho.

 

A australiana acenou com a cabeça enquanto sorria fraquinho com seus próprios pensamentos. Sentia-se uma adolescente boba quando pensava nas possibilidades que poderia ter com Jisoo e aquela sensação lhe deixava ansiosa.

 

- A sortuda será eu se conseguir o coração dela.

 

-x-x-x-

 

Jennie tinha sua atenção toda nas propostas para a próxima coleção da empresa. Pastas e mais pastas se empilhavam sobre sua mesa, algumas que já havia decidido queimar de tão ruins que eram, outras que merecia uma segunda olhada mais amorosa, mas raras eram as que de fato pareciam promissoras.

Do lado de fora de seu escritório, os funcionários corriam de um lado para o outro, tentando adiantar ao máximo o serviço para que todos tivessem suas merecidas folgas no feriado de ação de graças que estava próximo.

A estilista estava tão mergulhada em suas analises que não percebeu quando sua porta foi aberta, tão pouco quando sua gerente de marketing se aproximou da mesa. Apenas acordou quando a mão delicada que exibia um delicado anel de diamante no dedo anelar se materializou na sua frente.

Jennie olhou para cima, encontrando Irene com um sorriso enorme no rosto bonito.

 

- Não me diga que...

 

- Seulgi me pediu em casamento ontem. – Contou eufórica.

 

- Mentira! – Jennie arrastou a cadeira para trás pra se colocar de pé.

 

- Verdade!

 

Jennie definitivamente não era de demonstrar afeto no serviço, mas sua exceção sempre foi Irene, por isso abraçou Joohyun com força.

 

- Meus parabéns! – Disse antes de se afastar e segurar nas mãos da mulher. – Como foi que isso aconteceu?

 

- Ontem foi nosso aniversário de namoro e ela fez questão de preparar um jantar romântico pra nós duas. Quando eu vi, ela já estava abrindo a caixinha de joia e me fazendo a proposta. Eu quase desmaiei.

 

Jennie riu, puxando a mulher para se sentar ao lado dela no sofá que ficava no canto do escritório.

 

- Você já estava esperando? – A estilista quis saber. – Ou não tinham conversado sobre isso ainda?

 

- A gente sempre falou sobre casamento, mas na minha cabeça eu que faria o pedido. Eu jamais pensei que ela tomaria essa atitude, inclusive quem fez o pedido de namoro foi eu!

 

- Ela te surpreendeu então, hein. – Jennie exibiu seus dentes pequenos em um sorriso de covinha e Joohyun ruborizou rodando a aliança em seu próprio dedo. – Eu realmente estou muito feliz por vocês. Quando vi vocês duas juntas pela primeira vez eu não achei que chegaríamos à um pedido de casamento!

 

Irene riu quando Jennie a chacoalhou animada. De fato, nem ela pensava que chegariam naquele ponto.

Certa vez Seungi foi cobrir uma fashion week em Shanghai onde tanto Irene, como Jennie marcavam presença. Naquela época, a fotógrafa não era exclusiva da empresa e a estilista necessitava da presença de Joohyun em alguns eventos em que não se sentia confiante, afinal, fazia pouco tempo que havia tomado posse da presidência da empresa.

Jennie se lembrava que em uma manhã foi bater na porta do quarto de Joohyun, a fim de descerem juntas para tomarem o café do hotel, mas ver a mulher saindo um tanto quanto descabelada do quarto de Seulgi. Para ela, era algo aventureiro das duas, até porque Irene sempre foi muito fechada e reservada com sua vida pessoal, mas meses depois veio a notícia exclusiva do namoro discreto das duas.

 

- Mas e agora? – Jennie cruzou as pernas um tanto quanto interessada. – Vocês vão ficar exibindo essas alianças lindas por aí até quando? Temos uma data pro casório?

 

- Ainda não sabemos. – Irene mordeu o lábio. – Precisamos falar com nossos familiares também, estamos pensando em contar no dia de ação de graças. Você foi a primeira pessoa a saber.

 

- Isso é sério?

 

- Sim. – Joohyu sorriu. – E nós ainda não sabemos mesmo quando iremos nos casar, mas queremos você como uma de nossas madrinhas. Você aceita?

 

A declaração fez Jennie ficar sem reação por alguns instantes. Ela nunca tinha ficado tão próxima de alguém para receber aquele tipo de convite e agora ela sentia como a sensação era boa, principalmente por ter acompanhado o relacionamento das duas desde o surgimento.

 

- É claro que eu aceito! – Disse em alto e bom som, puxando a mulher para mais um abraço. – Eu faço questão de pagar a lua de mel. Onde vocês querem? França? Grécia? Havai?

 

- Pare com isso! – Bateu no ombro de Jennie.

 

- Eu estou falando sério. É o dever da madrinha dar um bom presente.

 

- De toda forma, eu não sei nem quando iremos nos casar, quanto mais onde queremos passar a lua de mel. – Gesticulou com uma careta. – Ainda preciso analisar onde seria o lugar mais romântico.

 

- Bae Joohyun romântica. – Jennie provocou. – Não conhecia esse seu lado.

 

- Nem eu, mas Kang Seulgi descobriu esse meu lado e agora estou aqui: uma trouxa apaixonada. -  Disse com o braço dobrado no encosto do estofado e a cabeça descansando em sua mão. – E você e Lisa? – Irene perguntou. – Estão bem?

 

A menção do nome de Lisa na conversa provocou um sorriso diferente em Jennie. Sentiu seu coração dar uma acelerada só de pensar no anjo e em como estavam em uma fase boa.

 

- Sim, estamos progredindo. – Esfregou as mãos nas próprias coxas. – Ela é incrível.

 

- E vocês pensam em formalizar isso ou está bom do jeito que está?

 

A pergunta pegou Jennie de surpresa já que nunca havia chegado naquela parte. Não havia pensado em formalidades, já que o relacionamento que estavam mantendo parecia sólido mesmo sem ter rótulos. Mas pensando bem, gostaria de proporcionar ao anjo um romance clichê com tudo aquilo que ela via nos filmes.

 

- Eu quero formalizar. – Jennie respondeu um tanto absorta. – Só preciso pensar em como.

 

-x-x-x-

 

Jisoo estava confusa e nervosa.

Confusa porque não sabia se Rosé tinha algo com Sooyoung e tinha medo de perguntar e receber uma resposta que não gostaria. Ela queria acreditar na hipótese de que as duas eram apenas amigas e que realmente estava tendo progressos com Rosé.

Nervosa por se lembrar das mãos de Chaeyoung em seus braços, em seus dedos e em seu rosto. O canto de sua boca ainda pinicava com o beijo que havia recebido no outro dia e ela não conseguia assimilar se tinha sido intencional ou apenas um acidente.

Se lembrava de todos os detalhes da noite em que Rosé se declarou para ela e no fundo tinha esperanças de que alguma fagulha daquele sentimento ainda estivesse no coração da australiana, assim como ainda permanecia no coração dela.

Queria ter a coragem de falar tudo o que tinha guardado durante tanto tempo, até porque, nunca havia contato à Chaeyoung que também era apaixonada por ela. Sentia-se frustrada porque ao pensar em querer falar, também pensava que o tempo já havia passado e, com ele, a oportunidade havia desaparecido. Não valia à pena se expor em algo e abrir feridas que já estavam cicatrizadas. Talvez Rosé nem quisesse mais falar sobre aqueles sentimentos do passado, já que parecia tê-los superados tão bem.

E assim Kim Jisoo ficava em um loop infinito entre a vontade e o medo. A dificuldade de se expressar verbalmente era apenas a ponta do iceberg.

 

- O basculante do banheiro está com o vidro quebrado. Então só tome cuidado pra não cair em cima de você quando for fechar ou abrir. – Jisoo falava para Sana que olhava o apartamento de maneira minuciosa. – Eu pedi pro rapaz vir trocar na semana passada, mas ele não teve tempo. E como você pode ver, ele já é todo mobiliado e equipado. É só entrar e morar.

 

Já era noite e Rosé as olhava de uma certa distância para não se intrometer. Usava um vestido estilo cigano em tons escuros e seus pulsos eram cobertos por pulseiras. Os cabelos claros estavam soltos, misturando-se com a gargantilha que decorava seu pescoço.

Não era o dia que haviam marcado de ver o apartamento, já que Sana ficou presa na empresa e mandou mensagem remarcando a visita para terça-feira. Em tempos normais, a visita remarcada não seria um problema, mas naquele momento era, já que Jisoo havia sido informada de que seu voo para o Japão estava marcado para a noite daquele mesmo dia. Suas malas estavam prontas no corredor, apenas esperando dar o horário de ir para o aeroporto.

 

- Roseanne já havia me falado que o apartamento estava com alguns problemas. – Sana disse calmamente, deixando um rastro de sotaque pelo ar. – Mas pra mim está muito bom. São só detalhes que não vão me atrapalhar muito enquanto eu estiver aqui.

 

- Mesmo assim eu queria arrumar esses detalhes antes de te entregar as chaves, mas com essa minha viagem iria atrasar tudo.

 

- Eu entendo totalmente. – Sana sorriu, voltando para a sala junto com a proprietária. – E como vamos fazer? Eu faço um depósito pra você primeiro ou pode ser depois?

 

- Não precisa fazer depósito de segurança nenhum, menina. Você trabalha pra Jennie, não tem nada mais seguro do que isso.

 

O cheirinho de café recém passado na cafeteira expresso deixava o ambiente mais aconchegante do que o habitual e Sana gostava daquilo. Ela havia gostado de tudo por ali, principalmente o fato de só haverem dois apartamentos. Aquilo lhe dava uma sensação de tranquilidade.

 

- As cópias das chaves já estão com a Chaeng. Ela quem vai te auxiliar na mudança enquanto eu estiver fora do país. – Jisoo falou alto, enquanto fechava as cortinas do quarto.

 

Sana estreitou os olhos por trás de sua xícara de café, alternando o olhar entre Jisoo e Rosé. A maneira como conheceu a australiana foi um tanto quanto interessante, já que havia sido regado de flertes e até acontecido um encontro, mas já fazia certo tempo e com certeza Rosé não era alguém que ficaria sozinha por muito tempo.

 

- Vocês são namoradas?

 

A pergunta inocente da Minatozaki acabou por ocasionar reações adversas. Chaeyoung quase cuspiu o café que bebia e Jisoo, que voltava do quarto, trombou violentamente com a poltrona.

Sana riu.

 

- O quê? – Jisoo perguntou com um riso nervoso. – Eu e Chaeng namorando? Não.

 

Sana arqueou as sobrancelhas e olhou para Rosé que permanecia em silêncio, mordendo o próprio lábio.

 

- Desculpe se causei algum desconforto. – Sana tentou apaziguar a situação constrangedora que acabou provocando. – É que vocês parecem tão próximas e ficam lindas juntas. Julguei errado.

 

- Nós somos amigas desde o colegial. – Rosé respondeu com um sorriso sem graça.

 

A Minatozaki conseguia enxergar que algo tinha na relação das duas, mas preferiu apenas acenar para a informação que a australiana havia trazido para a conversa. Se eram amigas desde o colégio, a história deveria ser muito mais complicada do que ela imaginaria.

 

- And of course, Jisoo unnie foi a primeira mulher que me deu um fora, mas passo bem. – Rosé jogou ao cruzar as pernas, deixando Jisoo boquiaberta.

 

- Chaeng! – A escritora estava tão atordoada com aquele ataque repentino que quase não conseguiu falar. – Eu não te dei um fora.

 

Sana arqueou uma sobrancelha para a cena que se desenrolava a sua frente.

 

- Bom, eu não fui correspondida. – Rosé carregava uma aura de deboche ao seu redor. – Quando não somos correspondidas, levamos um fora. Mas está tudo bem, unnie. Já passou. – A professora sorriu graciosamente porque realmente estava tudo bem para ela fazer daquilo uma piada.

 

Mas para Jisoo não estava.

Ela queria falar para Rosé que seus sentimentos eram recíprocos. Que o amor que sentia por ela quase a sufocava e que seu coração parecia querer pular para fora de seu peito toda vez que a via sorrir. Queria falar que sonhava com ela quase todas as noites e que jamais a havia esquecido mesmo durante o período em que estiveram distantes. Que odiava ter perdido o timing e consequentemente a chance que teve de estar com ela.

Mas lá estava a falta de coragem unida à dificuldade em se expressar a sabotando novamente.

 

Sana já havia ido embora e Rosé usava o carro da própria Jisoo para leva-la ao aeroporto.

 

- Você está bem? – Chaeyoung perguntou, incomodada com a silêncio da escritora no banco do passageiro.

 

- Sim. – Jisoo se encolheu dentro do confortável conjunto de moletom que vestia. – Só um pouco ansiosa.

 

- Vai dar tudo certo. A viagem não é longa e eu coloquei algumas barras de chocolates na sua bagagem de mão.

 

Jisoo viu a professora piscar cumplice para ela e sorriu fraquinho. Gostava daquele jeito que a australiana tinha de saber exatamente do que ela precisava mesmo sem falar nada. A escritora só queria que a mais nova fosse mais um pouquinho além e descobrisse por si só o quanto aquilo a fazia ficar ainda mais apaixonada por ela.

O carro já estava no estacionamento do aeroporto e Chaeyoung arrastava a mala de carrinho pelo saguão ao lado da púrpura que ainda se afundava em pensamentos. Remoía o passado como se tivesse ocorrido a dois minutos atrás e se achava uma dupla covarde diante daquilo. Ela não tinha tomado iniciativa com Rosé quando mais nova e não estava tomando a iniciativa agora. Achava até mesmo injusto com a australiana privá-la daquela informação, já que foi tão corajosa em dar o primeiro passo mesmo quando tudo era uma grande incógnita.

Ela sabia que precisava falar, era só falar. Mas quanto mais pensava naquilo, mais tudo se transformava em uma grande bola de neve que fazia sua garganta fechar e seu corpo tremer.

 

- Bom, está entregue. – Rosé parou em frente ao salão de embarque. Haviam acabado de despachar a mala. – Pode deixar que vou cuidar bem do seu carro e tomar conta do prédio.

 

- Eu confio em você. – Jisoo declarou com um sorriso nervoso.

 

Pensar muito não estava lhe fazendo bem. Pensar muito antes de fazer algo nunca lhe fazia bem.

 

- Eu estou te sentindo tão estranha. – A professora esfregava os próprios braços por causa do frio ocasionado pelo ar condicionado. – Tem certeza de que está tudo bem?

 

- Sim. Não se preocupe. – Um sinal soou no alto falante, anunciando o embarque do voo da escritora. – Eu preciso ir.

 

Rosé estreitou os olhos sabendo que algo estava acontecendo, mas que estava sendo impedida de saber e aquilo a deixava levemente inquieta. Com um suspiro derrotado, soltou os braços e abraçou Jisoo para desejar uma boa viagem.

Jisoo sentiu o abraço afrouxar e então novamente um beijo delicado no canto de sua boca antes de Chaeyoung se afastar com o mesmo sorriso travesso do outro dia.

O chamado para o voo soou novamente pelo aeroporto e então Jisoo ajeitou a mochila no ombro, dando um pequeno tchauzinho para Rosé que foi prontamente retribuído. A escritora mordiscava a carne interna da bochecha quando deu as costas para a australiana e seguiu em direção ao salão de embarque.

Rosé permaneceu no mesmo lugar, suas mãos voltando a esfregar os próprios braços para aliviar o frio. Aguardou a púrpura passar pela catraca de embarque e sumir de suas vistas para só então pensar em ir embora. Com um suspiro cansado, começou a caminhar para fora dali.

Do outro lado das catracas, Jisoo seguia uma fila para passar pela máquina de raio-x, mas uma sensação horrível de deja vu pesava em seu peito. Estava indo para o Japão, justamente o lugar para onde fugiu quando Rosé se declarou para ela. E mesmo assim a australiana estava ali, a poucos metros dela.

A escritora olhou para o painel com os horários dos voos e parou de pensar. Ela podia ter muitos problemas para falar, mas não tinha muitos para agir. E ela tinha mais alguns minutos até fecharem o portão de embarque de vez.

Talvez ela teria tempo.

Ela esperava ainda estar em tempo.

E com isso em mente ela saiu de seu lugar, andando apressada em sentido contrário ao da fila. Seu pulso disparava na garganta enquanto os passos rápidos se transformavam em uma corrida. Ela conseguia ver a cabeleira cor de champagne andado em direção às portas automáticas quando pulou a catraca de entrada.

 

- Hey, senhora! Não pode pular as catracas!

 

O guarda gritou do meio do salão, mas a escritora apenas continuou a correr porque ela não tinha muito mais tempo.

 

- Chaeng!

 

Rosé pensou ter alucinado a voz da mais velha, mas mesmo assim virou em direção ao chamado, recebendo um baque contra seu corpo e as mãos de Jisoo segurando seu rosto para colar as bocas em um beijo afoito.

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Até amanha :)


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