- Eu estava esperando por você.
- Você!
Lucy termina de descer as escadas e para na minha frente. Se antes ela estava com uma cara acabada, agora seu estado é bem lamentável.
Seus cabelos, antes longos e sedosos, agora estão curtos na altura do pescoço, parece ter sido cortado com uma faca cega. Sua roupa está suja e rasgada, com sangue manchando vários lugares. Em uma mão ela tem sua varinha e na outra uma faca coberta de sangue.
Seus olhos estão injetados de sangue. Seu olhar me causa arrepio. É aquele olhar louco com um toque frio. É o olhar de morte.
- Vê? Nada comparado a garota de antes, não é mesmo? - ela nota meu olhar e gesticula para o próprio corpo – Sabe, ser a vilã na vida real não é tão fácil quanto parece. Bem, deixe eu te contar uma história antes de te matar.
- Lucy.
- CALA A BOCA! - raios azuis são lançados em minha direção, mas os bloqueio a tempo – Isso é culpa sua, então você vai me ouvir.
Não me mexo e busco por um plano. Preciso arrumar uma forma de imobilizá-la ou enrolar até que Samantha chegue com mais Aurores.
- Tudo bem, vou te ouvir – digo.
- Ótimo. Bem, quando planejei todo aquele esquema para que você fosse expulsa e quem foi expulsa fui eu – ela começou a andar de um lado para o outro – Meus pais não ficaram nem um pouco felizes com isso. Você sabe como é. Eles estavam tão orgulhosos de eu ter entrado para a casa mais forte de Hogwarts, e então eu sou expulsa causando a maior vergonha da vida deles.
Ela para e me olha apontando a faca.
- Essa é a droga de ser filha única. Eles esperam tudo de você. Você tem que ser o orgulho deles, ser a pessoa perfeita. E eu tentei, por muito tempo eu tentei – levantando a faca na altura dos olhos ela examina atentamente – Eu lembro muito bem da nossa amizade. Lembro que eu te achava incrível. Você remava contra a maré todo dia, e mesmo assim tinha sempre um sorriso no rosto. Não se deixava abalar por nada. Enfrentava até mesmo Severo Snape para proteger seus amigos.
- Lucy, eu sei que...
- Eu disse para calar a boca – se ela tivesse gritado não teria me dado tanto medo quanto ela ter dito tão pausadamente – Bem, então tinha o Norman. Eu me apaixonei perdidamente por ele, mas é claro que ele tinha que ter olhos para a favorita do diretor. Ele foi embora, mas você recebia cartas dele todo mês. Então tinha o Tony e os Gêmeos. Sem falar nos garotos da Sonserina, que apesar de falarem que você era uma vergonha para a casa, eles pensavam completamente diferente no quesito beleza.
Deus, Lucy. Eu não imaginava.
- Eu mau completei meus 17 anos quando fui expulsa de casa. Meus pais não queriam uma vergonha na casa deles. Eu perdi tudo por sua causa. Eu jurei que eu ia tirar tudo de você, mas dai eu pensei melhor.
Aperto a varinha em minha mão. Droga, preciso agir logo antes que ela faça algo.
- Meus planos era acabar com tudo que é importante para você, mas como eu disse eu acabei mudando de ideia, eu queria acabar com você e pronto. Mas então você foi embora e meus planos tiveram que ser adiados. Você voltou e imagina a minha surpresa ao descobrir que a senhora santinha tem andado se pegando com o morcego pelas masmorras do castelo.
- Como você?
- Ah, eu estou ferrada, mas eu ainda tenho alguns contatos. Mas chega de conversa – erguendo a varinha mais alto ela sorri – Acho que já está na hora de dizer adeus a essa vida. AVADA KEDAVRA!
Me jogo em direção à sala para escapar da maldição. Rolo pelo chão e levanto erguendo a varinha e lançando feitiços nela também que avança em minha direção. Lanço uma série de feitiços estuporantes que ela desvia e bloqueia facilmente. Tenho que admitir que ela sempre foi muito boa em feitiços.
- Lucy, pare com isso – bloqueio mais uma maldição da morte.
O feitiço ricocheteia e acerta o sofá que se incendeia imediatamente.
- Você é boa, mas não o suficiente.
Recuo alguns passos com a intensidade de seu ataque e bato com as costas na parede. Lucy sorri vitoriosa quando minha varinha é arrancada de minhas mãos pelo seu feitiço. Ela arremessa a faca em minha direção, me jogo no chão e consigo desviar a tempo de ser atingida no peito, mas a faca ainda atinge meu ombro.
- Pare de ser tão difícil.
Pego o cabo da faca e tiro ela em um único puxão. Mordo a língua para não gritar com a dor, pressiono a ferida para estancar o sangue, minha mão rapidamente fica encharcada com o liquido quente. Posso ouvir os gritos e batidas vindo da porta da frente.
- Eles vão cansar de bater e gritar – se abaixando na minha frente ela mostra seu sorriso mais psicopata – Assim que você passou por aquela porta eu fiz questão de trancá-la. Ninguém entra e ninguém sai.
- Você é louca – digo entredentes.
- E você nem imagina o quanto – seus dedos frios tocam meu rosto – Veja bem, você foi tão fácil que estou pensando em acabar com seu querido Harry Potter.
- Não ouse chegar perto dele – rosno – Eu juro que volto do inferno se você tocar em um único fio de cabelo dele.
- Talvez eu até me divirta um pouco com o temido morcego das masmorras, bem, nem tão temido assim, não é mesmo? Quem diria que aquele homem amargurado poderia se entregar tão fácil a uma vadia como você. Vou dizer para eles que você mandou lembranças antes de morrer.
A raiva me atinge mandando adrenalina por todo meu corpo. Sinto meus membros ganharem uma força extra. Pegando a faca que eu havia deixado cair, eu a direciono com toda minha força em direção a seu peito.
- Sua va... vadia.
Lucy cai para trás com as mãos em volta do cabo da faca que é a única coisa que ficou para fora. Levanto com dificuldade e chuto sua varinha para longe.
- Vou te contar um segredo, querida Lucy – sinto o calor que emana do incêndio que está a nossa volta – Não sou uma bruxa qualquer. Posso fazer coisas que você nem imagina. Arrancar sua alma do seu corpo ainda vivo é uma dessas coisas. Eu já fiz isso uma vez, eu já matei alguém assim, é a coisa mais fácil do mundo para uma pessoa como eu.
- O qu... que diabos é você?
Lucy se arrasta no chão tentando manter distância enquanto me aproximo. Posso sentir a corrente elétrica que corre em minhas veias, o poder da necromancia.
Me abaixo e agarro sua gola a puxando para cima sem nenhum cuidado. Ela geme e se contorce tentando se soltar.
- Eu sou uma Necromante.
POV NARRADORA
O grande cachorro negro pula pela janela da cozinha na parte de trás da casa. A porta da frente estava trancada, ele percebeu isso ao passar na frente e ver a comoção dos adolescentes tentando entrar. Sem perder tempo ele vai direto para a sala, onde ele sente o calor e as vozes das duas garotas.
O animal levanta em duas patas e seu corpo muda, assumindo uma forma humana. Sua roupa listrada, claramente uniforme da prisão de Azkaban, está suja. Cabelo comprido e desgrenhado e a barba por fazer. Rosto e corpo tão magro que quase pode passar por um esqueleto ambulante.
Sirius Black.
A cena que passa ali é algo que ele jamais viu. A garota que ele conhece como Dhelila, a sobrinha de Lilian Evans, está segurando a outra pelo pescoço. As pernas da garota balançam no ar, seu olhar é apavorado, o terror está estampado em seu rosto. Dhelila permanece calma enquanto ergue a mão livre em direção a outra menina.
- Eu sou uma Necromante.
Sirius Black tinha que admitir, a imagem até que tinha uma certa beleza assustadora. As chamas à toda volta, as duas garotas paradas ali no meio, os cabelos de Dhelila chicoteavam a sua volta, sua mão esquerda com um brilho dourado.
- Eu só preciso de um único toque. Com apenas um toque eu pego sua alma e mando para o inferno. Não preciso uma varinha, não preciso de uma faca, nada, apenas minha mão. Gostaria de experimentar?
O homem sabe que aquela garota é especial para o menino Potter, ele sabe que ela é uma nova amiga de Remo, por isso ele não pensa duas vezes antes de se aproximar e pegar seu pulso, tomando cuidado de não tocar diretamente na mão.
- Você não deve fazer isso. Você vai ir parar em Azkaban, ela não vale isso.
Os olhos escuros o encaram por um momento. As emoções transbordam de forma alucinante. Já faz muito tempo que Sirius não vê um olhar daquele.
- Sirius? - ela parece confusa.
- Solte a garota – a voz do homem é rouca, claramente pela falta de uso, mas ele fala mansamente para não assustá-la – Ela está desmaiada.
Muito provavelmente pela perda de sangue da ferida no peito e pelo pouco de ar que ela conseguia tragar, ela acabou desmaiando.
Dhelila solta o corpo de sua ex amiga e olha assustada para sua mão. Respirando com dificuldade ela deixa a energia se acalmar em seu corpo e se vira para o homem.
- Você é inocente.
A garota não fazia ideia como ela sabia disso, mas algo lá no fundo dizia que aquelas palavras estavam certas. De alguma forma ele é inocente e acaba de impedir que ela cometesse um assassinato.
- DHELILA! ESTOU AQUI, VAMOS ENTRAR.
A voz preocupada que grita da porta da frente é inconfundível. Samantha acaba de chegar.
Com preocupação no olhar, Dhelila percebe que ter Sirius Black em sua casa nesse momento é uma péssima ideia. Afinal, sendo inocente ou não ele ainda é um fugitivo de Azkaban. Ela junta sua varinha do chão e aponta para uma pequena coruja de cerâmica sobre a lareira.
- Accio!
A coruja voa diretamente para Sirius que por reflexo a pega. Se ouve um estalar e um segundo depois ele não está mais no aposento.
A coruja é uma chave de portal. Dhelila pediu para Alvo criá-la como uma forma de fazer o caminho para Hogwarts mais rapidamente. Como é impossível aparatar dentro de Hogwarts, o portal leva para a orla da Floresta Proibida. Sirius terá que ser rápido para não ser pego por um dementador que possa patrulhar por aquele lugar.
Ao perceber que o homem se foi, ela suspira aliviada só então cedendo ao cansaço e a dor. A força abandona suas pernas e seu corpo vai ao chão. Ela apaga tão profundamente que mesmo com seu braço caindo sobre as chamas, ela não acorda.
Felizmente nesse momento, Samantha, dois aurores e Severo Snape, esse último que estava chegando no Três Vassouras junto com o professor Flitwick quando George Weasley chega correndo pedindo ajuda, conseguem quebrar a barreira que Lucy havia colocado na parte da frente (aparentemente apenas Sirius usou a cabeça e foi pela parte de trás da casa).
- Saiam da frente! Saiam da frente! - Sam libera caminho para o moreno passar com Dhelila em seu colo.
Ele a deposita no chão enquanto Samanta conjura algumas ataduras para seus ferimentos. Severo tira alguns frascos de ditamo das vestes e juntos começam o trabalho de curar as feridas maiores, como o braço esquerdo que tem queimaduras de terceiro grau e a facada no ombro.
Ali do lado, os outros dois aurores tentam curar a ferida no peito de Lucy. Infelizmente a facada não é fatal e não pegou em nenhum órgão. Ela apenas perdeu muito sangue.
- Levem essa coisa para Azkaban. Cuidem dela lá. Eu ficarei por aqui até ter certeza que ela está bem. Podem ir – ordena Samantha.
- Como ela está?
- Ela vai morrer?
- Espero que aquela vadia nunca mais saia daquele lugar.
- Conseguimos apagar o fogo.
As vozes se misturavam à volta dos três. Severo que continuava a enrolar faixas na garota, Samantha que estava dividida entre chorar pela situação da amiga e ir até Azkaban e dar uma surra na vadia que fez aquilo. E Dhelila, que resolveu escolher o momento que Severo se preparava para pegá-la no colo novamente para abrir os olhos.
Olhos castanhos com olhos negros. Ambos tinham o costume de se perderem naquele ato de encarar as órbitas um do outro.
- Ág... água, agora... o fogo – a garganta ferida pela inalação da fumaça dificulta as palavras de saírem – Você... sempre... está... lá.
Com um sorriso fraco, Dhelila volta a desmaiar.
Sem dizer uma palavra pelo caminho até Hogwarts, Severo ficou remoendo aquelas palavras. Era a segunda vez que ela quase morria, e nas duas vezes ele estivera lá. Pensar na possibilidade de em algum desses momentos, ninguém ter chegado a tempo, doía. Não era algo que ele queria admitir, mas que causava um grande desconforto nele.
Os dois cabeças duras não percebiam, que a cada dia estavam mais envolvidos um no outro. Porém, naquele momento, outras pessoas perceberam, a cena não passou despercebida por Fred e Hermione que estavam atentos a cada detalhe.
- Você acha que está acontecendo algo entre eles? - Fred se aproxima da garota e sussurra para ela.
- Bem – Hermione olha para os lados para ter certeza que Rony não está ouvindo – Já que você mencionou, eu tenho notado umas coisas estranhas ultimamente, acho que isso pode ser bem possível.
- Mas tinha que ser justo o morcego? - o garoto soa frustrado.
- Devia estar preocupado com a saúde dela e não com quem ela tem se relacionado – a garota diz ríspida e adianta o passo.
- Nossa, não precisava ser tão grossa – Fred volta ao lado de seu gêmeo.
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