História Animals - imagine Hwang Hyunjin - Capítulo 6 - Memórias Dolorosas

Desceram algumas pedras e esquivaram-se de alguns arbustos, para poder chegar no tão famoso lugar. Changbin tagarelava sobre assuntos aleatórios de maneira rápida, fazendo S/n ficar um tanto quanto perdida em seus assuntos banais, porém, ela estava achando uma graça o jeito que o mais velho falava e tentava lhe fazer rir. A áurea que Changbin exalava era calma e dócil, bem diferente da Branca de Neve, quero dizer, Hyunjin.

— Tem certeza que nenhum lobo da sua matilha era me ver? — S/n perguntou um pouco preocupada, já que ambos estavam na área dos lobos. A mesma dava passos leves, com medo de atrair algum lobo mal-humorado.

Changbin lhe lançou um olhar risonho, negando com a cabeça logo em seguida.

— Não! Relaxa. — Balançou a cabeça e abaixou-se para passar por uma árvore. — Esse lugar é meu território exclusivo, digamos assim — Balançou as mãos suavemente. — Alguns lobos vão a esse lugar, porém, sou eu quem mais vai e quem mais cuida do lugar.

S/n concordou com o rapaz e olhou para trás por breves momentos, sentindo um frio percorrer sua espinha e uma sensação estranha tomar conta de si. Ela sentia que tinha mais alguém ali com eles, mas o lugar estava tão silencioso que parecia apenas fruto de sua mente. Talvez até seja, ou talvez o perseguidor seja tão ágil que não faça nenhum barulho.

— S/n? — Changbin tocou no ombro de S/n, fazendo a garota despertar de seu pequeno transe. — Chegamos!

Ele apontou para frente e ali, S/n pode deslumbrar o lugar maravilhoso. Era um campo vasto, repleto de flores em tons pastéis, árvores frutíferas, com frutos os quais eram belos e nunca vistos por ela. A grama era baixa e no meio do campo, havia um grande rio com água brilhante, que escorria vagamente pelas pedras brancas, as quais formavam uma pequena cascada. A garota se aproximou do rio e notou peixes! Oh, eram peixes coloridos e lindos. Suas caldas eram enormes e nelas, haviam desenhos, um tanto quanto fofos. A garota nunca imaginou que existiria peixes assim, tão belos e tão diferentes.

Tudo naquele lugar era tão mágico e bonito. Não parecia que aquele lugar era real de fato, mas ela estava ali, tocando na água com a ponta dos dedos, sentindo a grama levemente úmida em seus pés e inalando o aroma suave, porém marcante das flores que haviam ali.

Changbin encarou a garota por uns segundos, sorrindo satisfeito por vê-la tão fascinada pelo lugar, do jeitinho que ele imaginou que ela ficaria. O rapaz caminhou para perto de S/n aos poucos e ficou ao seu lado.

— É lindo, não? — Soltou depois de uns segundos em silêncio. — Esse é o meu lugar preferido. É belo, calmo e agradável. — Se sentou no chão, colocando os pés na água. — Venha, sente-se também.

Não demorou muito para S/n se sentar também e colocar os pés na água. Logo os peixes curiosos foram para perto, pensando ser algo para comer. S/n riu ao sentir os peixes passarem por seus pés e fazerem cócegas na ponta de seus dedos.

— Esse lugar é incrível! Uau. — Ela olhou ao redor e no fim, para Changbin, que sorriu largo.

— Eu disse! — Bateu as mãos. — Você vai ser sempre bem-vinda a esse lugar, sempre que quiser.

— Muito obrigada, mas eu não sei não. — Suspirou e olhou para frente, pensando. — Os outros felinos não vão gostar nada de saber que eu passei da nossa área e pior, que eu estou fazendo amizade com um lobo.

— Podemos manter isso em segredo. — Levantou o dedo mindinho. — Ninguém irá saber que somos amigos e, nem nada. Nenhum felino e nenhum lobo.

S/n olhou para Changbin por uns segundos e balançou a cabeça positivamente, lhe dando o dedo mindinho também.

Ah, aquele era o começo de uma bela amizade entre uma felina e um lobo, não, uma humana e um lobo. Mas bem, todos nós sabemos muito bem que Seo Changbin não queria uma simples amizade com S/n, não... O rapaz se encantou com a jovem e iria tentar conquistá-la, por mais que os princípios dos lobos do norte fossem contra a união de lobos e felinos. No coração de Changbin, o amor falava mais alto, porém, não podemos deixar pra trás ele, Hwang Hyunjin, que com toda a certeza iria ser contra isso tudo. Pois ele odiava os lobos do norte e também, estava começando a ter sentimentos pela S/n.

Falando no diabo, o mesmo havia chegado no local onde Changbin e S/n estavam conversando. Hyunjin estava ali a espreita faz um tempo, sem dar um pio. Coisa difícil de se acreditar, já que o normal de Hyunjin seria avançar em Changbin sem mais nem menos e afoga-lo naquele rio.

O rapaz de cabelos brancos, observou os dois conversando alegremente e foi embora dali depois de uns segundos. Era difícil saber o que se passava em sua mente, mas coisa boa não era.

[...]

S/n voltava para a vila dos felinos saltitante, ela estava feliz por enfim ter relaxado naquele lugar, na companhia de um bom amigo. Félix era um bom amigo também, mas o mesmo era mais difícil de se lidar para alguns assuntos mais delicados.

Era quase de noite, alguns felinos já estavam dormindo e outros estavam em suas cabanas, comendo.

S/n caminhou calmamente para sua cabana, mas sentiu novamente aquela sensação estranha percorrer sua espinha. A garota olhou ao redor por alguns segundos e seu corpo ficou gelado ao ver Hyunjin ali, em sua frente com o olhar sombrio.

— A-ah, que susto você me deu... — Colocou a mão sob o peito, nervosa.

Hyunjin se aproximou da garota aos poucos, sem desfazer o olhar assustador que estava carregando consigo.

— Traidora.

— Como?

— Traidora. — Repetiu a frase em um tom sério, a encarando friamente. — Sabe o que fazemos com traidores iguais a você?

Hyunjin se abaixou e pegou o crânio de um cervo já morto e amassou num piscar de olhos, fazendo S/n se assustar e dar passos para trás.

— Credo homem, por que isso? O que eu fiz?

— Você sabe o que você fez. — Sorriu sarcástico. — Virou amiguinha daquele vira-latas? Hã?

S/n percebeu ali que ele estava falando de Changbin e juntou A mais B. Ele era a sensação estranha que estava a perseguindo o tempo todo, era ele.

— Hyunjin, chega! Ele sim é meu amigo, ele nunca me fez mal, eu sei que você odeia os lobos, mas ele é uma boa pessoa. — S/n falou, fazendo Hyunjin rir alto. — Ele sente muito pelo que houve, ele não queria essa rivalidade toda dos felinos e dos lobos...

— Você acredita nele? Acredita?! — Elevou a voz. — A porra dos lobos do norte fizeram uma guerra, mataram milhões de felinos, eles que começaram essa merda toda. Eu nunca vou ser amiguinho daqueles vira-latas sarnentos! Nunca!

O grito de Hyunjin faz S/n recuar e suspirar baixo. Era compreensível essa raiva toda de Hyunjin.

— Não pensa na ideia deles terem mudado-

— Mudado? Oh sim, eles viraram ainda mais filhas da puta, isso sim. — Ele se aproxima. — Eu não quero ver você perto do Changbin novamente, entendeu? Como líder dos felinos, você deve me obedecer.

— Não.

— Não? Você tem que parar com essa mania do caralho de me desobedecer, ouviu?

— Ele é meu amigo! Eu sei que você tem raiva dele, mas ele não tem culpa da morte da sua mãe.... — S/n engoliu a seco e notou a mudança de expressão de Hyunjin.

Ah, tocar no assunto da mãe de Hyunjin era um assunto e tanto. Hyunjin amava sua mãe como ninguém, perdê-la foi a pior dor que ele já sentiu na vida e essa dor estará sempre com ele. Como todos nós sabemos, seu ódio pelos lobos foi por causa disso principalmente.

A imagem de sua mãe com marcas de garras no pescoço e peito, sangrando e chorando nos braços de Hyunjin, lhe atormentavam dias e noites.

— Hyunjin eu não queria-

— Nunca mais fale dela. Nunca mais. — A encarou. — Se continuar encontrando com Changbin, você não será mais uma felina. Não vou te matar, mas não será bem-vinda a esse lugar nunca mais.

Hyunjin saiu dali rapidamente e sumiu no meio da escuridão. S/n se sentiu mal por ter mencionado a mãe dele assim, ela não queria deixá-lo mal, mas ela estava com tanta raiva em vê-lo lhe ordenando que soltou sem pensar. Ela juraria ter visto os olhos de Hyunjin encheram-se de lágrimas.

Ela não sabia mais o que fazer, ela queria ir atrás de Hyunjin pedir desculpas, mas estava com medo da reação do mesmo. Estava com medo dele. Ele não é como um humano, que simplesmente só explodiria de raiva e a xingasse de tudo que é tipo de nome feio, ele é um tigre branco, que pode facilmente matá-la e não seria julgado por isso.

— Parada ai parece uma assombração. — Félix falou, saindo de dentro da cabana.

— Ah, eu só estava pensando...

— Eu ouvi tudo. — Falou se aproximando, ficando ao lado dela. — Vai lá. Eu sei que você quer ir atrás dele.

— E se ele me matar?! — Falou apavorada.

— Se ele quisesse te matar, já teria feito isso faz mo cota. — Deu dois tapinhas nas costas de S/n. — Para de ser cagona e vai lá. Qualquer coisa é só gritar que eu vou lá te socorrer, gatinha.

S/n viu Félix piscar para si e a empurrar de leve para frente. A garota começou a caminhar na direção que Hyunjin tinha ido, enquanto Félix a observava andar.

— Será que mandei ela pro abatedouro? — Félix cochicha. — Coitadinha.

S/n olhou para todos os lugares possíveis que Hyunjin poderia estar. Ela andou por vários minutos e estava se cansando. Onde diabos esse garoto pode ter se metido?

A garota passou a mão pelos cabelos e quando estava prestes a desistir, viu o de cabelos brancos em cima de uma árvore, olhando para a lua. Hyunjin encarava a lua com uma expressão serena. Era esquisito vê-lo sem estar com a expressão de puto.

— Hyunjin!

S/n o chamou e ele a olhou por uns segundos e depois desviou o olhar, revirando os olhos.

— O que você quer, traidora? — Balbuciou rouco.

— Pedir desculpas... eu não queria ter falado da sua mãe assim. Me desculpa mesmo. — Juntou as mãos, um pouco acanhada.

— Hm. Agora sai daqui. Me deixa em paz.

A garota torce o nariz em uma careta e suspirou baixinho. Ela olhou ao redor e se aproximou um pouco da árvore. A mesma dedilhou os dedos na árvore e assobiou, chamando a atenção do rapaz novamente.

— Posso subir também? — Indagou baixo, recebendo um olhar de desdém do mais velho. — Deixa, vai.

— Af’, sobe logo.

Ela comemorou baixinho e tentou subir a árvore, porém, estava um tanto quanto difícil. Aquela árvore não tinha galhos baixos para ela segurar e subir, então estava sendo uma tarefa impossível para a jovem. Hyunjin encarou a mesma tentando subir na árvore e suspirou, lhe oferecendo ajuda.

— Como você é sonsa até pra subir uma árvore, hein. — Falou, enquanto lhe ajudava a sentar no galho onde ele também estava.

— Ei, me deixa. Não é sempre que eu fico subindo em árvores. — Se ajeitou ali e o olhou, depois encarou a lua. — Está linda.

— É. — Respondeu frio.

S/n apertou os lábios por uns segundos e tentou se acalmar. Falar com Hyunjin era ainda mais difícil do que subir essa árvore.

— Os meus pais também morreram, foi bem recente aliás... — Começou a falar.

Hyunjin nada falou, apenas continuou olhando para a lua em silêncio.

— Minha mãe foi assassinada e o meu pai cometeu suicídio em seguida, depois que descobriu que minha mãe havia falecido. — Suspirou baixo, ao lembrar dos dias dolorosos nos quais passou. — Foi tudo tão rápido.

O vento batia no rosto de ambos e a melancolia tomava conta daquele ambiente. Hyunjin olhou para S/n por uns segundos e depois olhou para os próprios pés.

— Seu pai devia ter amado muito sua mãe, para ter feito isso. — Falou, depois de longos segundos em silêncio.

— Ele amava. — Sorriu melancólica. — Minha mãe foi o primeiro amor do meu pai. Eles se conheceram desde adolescentes. — O encarou. — Ele disse que iria estar do lado dela para sempre, por isso ele tirou a própria vida, para ficar ao lado dela.

— Uau...

— Seus pais eles...

— Não. — Respondeu simples, sem deixar ela terminar de falar. — Meus pais não tinham esse amor todo, pelo menos não o meu pai. — Colocou a perna em cima da outra, se encostando mais na árvore. — Meu pai apenas marcou minha mãe para fazê-la como objeto sexual. Minha mãe o amava, mesmo ele sendo um nojento, que transava com todas as outras felinas e deixava minha mãe grávida de lado.

O ódio percorria sua espinha ao lembrar de seu pai, oh seu pai, como ele o odiava.

— Quando minha mãe estava grávida do Félix, eu cuidei dela, enquanto o meu pai a tratava como lixo. Quando ela morreu, ele não derramou uma lágrima sequer! Nenhuma! — Bateu a mão na árvore, fazendo-a tremer.

S/n se segurou no tranco e encarou Hyunjin com a expressão de fúria, mas não era a mesma expressão raivosa de sempre. A fúria que ele estava sentindo estava misturada com tristeza. Ela arrastou seu palmo pela árvore e colocou a mão em cima da mão de Hyunjin, que suspirou.

— Hoje, meu pai vive como um rei, cercado de mulheres e servos humanos. Oh, que idiota. — Soltou a mão de S/n e cruzou os braços.

— Pelo menos você tem seu irmão...

— É... por mais que eu não queira admitir, ele é muito importante para mim... aquele pirralho... — Ele riu baixinho. Hyunjin dando um riso sincero, parece que vai chover. — Você tem irmãos?

— Tenho um irmãozinho. Ele também é muito importante para mim. — Sorriu boba e seu olhar se entristeceu, a saudade e o medo de perdê-lo era grande. — Eu o amo e não me imaginaria sem ele... seus olhinhos pequenos, seus cabelos encaracolados e seu sorriso com janelinhas. — Suspirou. — Como eu tenho saudades do meu pequeno Peter.

Hyunjin a encarou por uns segundos e levantou o dedo, falando em seguida:

— Você acabou de descrever um humano que está aqui.

S/n e sua boca grande.