Depois do meu desabafo por meio de lágrimas, tive uma noite menos difícil do que as anteriores. Armando curiosamente não se esforçou para que eu dissesse algo, muito menos tentou puxar algum assunto. A única coisa que ele fez o resto da noite foi ficar ao meu lado, e me amparar de uma maneira que só ele sabia como. Acordei algumas vezes no meio da noite, como costumava acontecer naquelas ultimas semanas. Tive alguns pesadelos, mas todas as vezes que eu acordava de algum, eu conseguia me acalmar ao perceber que o braço dele estava em volta de minha cintura, e assim ficou durante toda a noite. Acordei ao menos três vezes durante a madrugada, mas não me senti tão mal como das outras vezes.
Mas, foi quando acordei na manhã seguinte que me surpreendi. Ao despertar, olhei para o lado e a cama estava vazia. Me sentei à cama e olhei em volta, procurando por Armando. O quarto estava intacto, da mesma maneira que ficava todos os dias em que ele saía para trabalhar. Estranhando o silencio da casa, e percebendo que nem mesmo Pongo estava na cama, eu me levantei devagar por conta das cicatrizes que ainda me incomodavam um pouco. Ao andar pela casa procurando por Armando, não encontrei nem sinal dele. Olhei para a mesa próxima à porta de entrada e percebi que sua carteira e suas chaves não estavam ali. Voltei para o quarto para buscar meu celular e ligar para ele, e nesse meio tempo, diversas coisas passaram em minha cabeça.
Talvez ele tivesse apenas saído para espairecer, depois daquelas semanas tão pesadas e tensas. Talvez tivesse recebido uma ligação do hospital e não quis me acordar para isso, mas essa era pouco provável. Ou talvez ele simplesmente tenha preferido voltar para o trabalho à ter que passar um dia inteiro trancado em um apartamento com uma péssima companhia como eu, desanimada e cabisbaixa. Mas, logo quando voltei para o quarto e me sentei à cama para pegar o meu celular sobre a cômoda e notei um papel sobre ela. Parecia um bilhete. Peguei o estranho papel e o abri, percebendo que era um tipo de carta. A letra era do Armando, e eu logo a reconheci. Antes mesmo de começar a ler, senti o meu coração disparar imaginando o motivo daquela carta, e pela primeira vez praguejei a minha mente criativa de escritora. E se ele me abandonou por não aguentar tudo isso? E se ele percebeu naquelas últimas semanas que não queria passar o resto da vida com alguém assim? Mas, antes de criar conclusões precipitadas, resolvi começar a ler a "carta", e o assunto me chamou a atenção.
🔹"Querida Betty, antes de mais nada, quero deixar claro que esse não é um bilhete de despedida, como deve estar pensando no momento."🔹
(Sorri divertida ao ler aquela frase.)
🔹"Mas talvez seja um bilhete útil, que deixe o seu dia mais feliz. Ao menos, assim espero".🔹
(Me ajeitei à cama.)
🔹"Venho me esforçando durante essas semanas para tentar animá-la, e tirar todo esse medo do seu coração. Sei que não tenho muito o que fazer, e fiz o que esteve ao meu alcance. Até perceber que talvez eu precisasse ir um pouco mais além. Ontem à noite, quando você começou a chorar em minha frente, eu percebi que isso era mais grave do que pensei. Você pode não se dar conta disso, mas você esteve se entregando à tristeza de forma lenta e dolorosa durante esses dias. Quando voltamos do hospital na primeira semana, você estava confiante de que tudo daria certo. Estava certa de que Augusto conseguiria passar por todas essas barreiras, e nós dois também. Isso me surpreendeu, porque eu pensava que fosse algo difícil para nós dois, ao menos nos primeiros dias. Mas, à medida que as coisas ficaram mais tensas com o passar dos dias, você foi desanimando. Uma das piores sensações que já tive foi ver a mulher que eu amo se desanimando aos poucos, sem que eu pudesse fazer nada para ajudá-la."🔹
(Senti meu coração se partir e meus olhos se encherem de lágrimas.)
🔹"Alguns dias atrás você me disse que se sentia péssima por não conseguir fazer nada para ajudar Augusto, e eu também me sinto assim. Mas, me sinto ainda pior por não conseguir fazer nada para te ajudar. Ao menos, eu não sabia o que fazer até então. Mas, passei a noite em claro pensando no que poderia fazer por você, enquanto me preocupava a cada vez que você acordava durante a noite por causa de algum pesadelo. Talvez você não tenha notado, mas todas as vezes que você acordava, eu a olhava e me certificava de que você estava bem e de que conseguia voltar à dormir. E passar a noite em claro me fez chegar em uma conclusão: A única coisa que posso fazer para ajudá-la, é demonstrar que estarei ao seu lado em qualquer situação, tanto nas boas quanto nas ruins. Estamos passando, talvez, pelo pior momento que já passamos juntos, e ficar ao seu lado é uma maneira de te deixar melhor. Mas, ficar ao seu lado apenas não basta. Eu preciso dizer à você, o quanto você é uma mulher forte e maravilhosa, para que você nunca se esqueça disso, principalmente em momentos como esse."🔹
(Armando realmente conseguiu me arrancar lágrimas, e ainda estava na metade da carta. Limpei o rosto rapidamente e continuei à lê-la.)
🔹"Não preciso começar dizendo que você é uma mulher encantadora, de uma beleza esplêndida e um coração enorme, mas quero enfatizar essa parte. É impossível olhar para você todos os dias e não perceber que está ainda mais bonita à cada dia. Pode parecer exagero da minha parte, mas acredite, não é. Até mesmo quando você está em casa, vestindo apenas uma camisa minha por preguiça de procurar o seu pijama preferido, você continua estonteante."🔹
(Sorri balançando a cabeça.)
🔹"Você tem uma animação contagiante, e um bom humor que deixa impossível que qualquer pessoa em sua volta se sinta triste ou desanimado. Até mesmo quando você tem os seus ataques explosivos e briga por qualquer coisa, você ainda consegue manter sua essência, e fazer com que as pessoas te admirem ainda mais. Sou suspeito de falar, principalmente porque tento dizer todos os dias que foi o seu jeito que me fez apaixonar tão rapidamente por você. Mas, não apenas quero elogiá-la, mas também quero dizer algo que eu talvez não tenha dito tão abertamente: Todos os dias eu me pergunto o que fiz em minhas outras vidas para poder merecer alguém como você. Eu acordo pela manhã e olho para você, e não consigo fazer ou pensar em outra coisa a não ser agradecer por ter você ao meu lado. Ainda não sei o que eu fiz para te merecer, mas espero continuar fazendo o que é certo para continuar sendo merecedor."🔹
(Não me lembro a última vez que chorei tanto lendo algo. Nem mesmo os filmes dramáticos do Armando ou histórias do Nicholas Sparks me arrancaram tantas lágrimas daquela maneira.)
🔹"Eu espero que isso seja suficiente para que você saiba que por mais difícil que possa parecer, eu vou estar sempre ao seu lado. Eu te amo, Beatriz Rincón. De todas as maneiras possíveis."🔹
Não precisei olhar sua assinatura no fim da carta para abrir um largo sorriso meio às lágrimas e abraçar a carta logo depois. Aquilo era o que eu precisava. Armando me disse coisas que já tinha me dito antes, mas de uma maneira que me fez repensar em tudo o que já vivemos até ali. Enquanto juntássemos nossas forças e nossos pensamentos positivos, mais rápido Augusto viria para casa e enfim poderíamos ter nossa família completa. Somente eu conseguiria dar a volta por cima e me sentir forte para continuar, mas as palavras doces dele me ajudaram à perceber isso.
Logo depois, me levantei da cama e guardei a carta com carinho dentro da minha agenda. Tratei de tomar um bom banho e me arrumei como não fazia há algum tempo. Ajeitei o cabelo, vesti uma roupa que não fosse um pijama ou qualquer roupa larga que me deixasse à vontade. Me senti viva como não me sentia há um bom tempo. Quando me preparei para ir até a cozinha preparar o café da manhã e repor toda a energia que eu perdi naqueles dias, escutei o barulho da porta se abrindo. Era Armando e Pongo.
A-Oi!(me olhou assim que fechou a porta.)
B-Oi.(Sorri.) Onde estavam?
A-Dando um passeio.(soltou Pongo da coleira, que correu diretamente para mim, pulando em minhas pernas.)
B-Oi, Pongo!(Falei acariciando sua cabeça.) Aproveitou o passeio?(Pongo abanou o rabo animado e correu pelos cômodos.)
A-Pensei que ainda estivesse dormindo.(disse se aproximando.)
B-Acordei há alguns minutos.
A-Por que está sorrindo assim?
B-Eu li sua carta.
A-Ah... Você já leu?
B-Sim. Logo quando acordei.
A-Espero que não tenha achado exagerada.
B-Pelo contrário.(Falei me aproximando.) Eu adorei.
A-Mesmo?
B-Sim. E foi muito importante para mim.
A-Isso me deixa muito feliz, Betty.(sorriu, me envolvendo pela cintura.) Sei que não é muita coisa, mas foi a maneira que encontrei de te animar ao menos um pouco.
B-Me animou mais do que apenas "um pouco", acredite.(ele sorriu satisfeito.)
A-Eu sei que não devemos exigir muito de nós mesmos nesses dias, porque toda essa situação com Augusto é preocupante. Eu só não quero que você se sinta tão mal assim, e principalmente que não se sinta culpada.
B-Eu sei.(Toquei em sua camisa, brincando com a gola.) Eu só quero que tudo dê certo para ele.
A-E vai dar.(acariciou meus ombros.)
B-Obrigada. Por tudo.(Ele sorriu, e eu o abracei. Talvez um simples "obrigado" não seria suficiente para agradecê-lo, mas naquele abraço eu esperava que ele pudesse sentir minha gratidão. Por ele ser o companheiro perfeito, o pai perfeito, e o homem perfeito para mim.)
A-Então...(disse assim que soltei o abraço depois de alguns minutos.) Agora que está se sentindo melhor, quer fazer alguma coisa?
B-Na verdade, tem uma coisa que eu quero fazer sim.(Sorri.)
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