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História Anjos Caídos - O Pecado dos Anjos


Escrita por: MissQueenBee

Notas do Autor


Chegay!!

E então...o francês morreu!!!
Cs tão felizes? Eu amo deixar vocês felizes <3

Gente, esses dois últimos capítulos foram tensos até pra eu escrever...sério, mas a julgar pelos comentários, fico feliz que tenham gostado da vingança do Minhyuk. Pena que ele e o Jooheon brigaram e terminaram, será que a reconciliação vem hoje ou eu vou adiar um pouco mais o nosso sofrimento?

Vamos ler pra descobrir.

Bjkss

Capítulo 13 - O Pecado dos Anjos


Fanfic / Fanfiction Anjos Caídos - O Pecado dos Anjos

— Ele sempre foi bonito assim ou a morte lhe fez bem? — Hyungwon perguntava, abaixado próximo ao corpo inerte do francês. 

Hyungwon andou até a porta do banheiro e de lá se via a imagem de Minhyuk com a cabeça enterrada no sanitário. Para ele, era como se vomitasse não apenas o pouco que havia ingerido naquele dia tempestuoso, mas também as palavras que engoliu sem poder dizer.

Estava ali o “Jooheon, me perdoa”, o “Nada do que disse é verdade”, mas principalmente, o “Eu também te amo”.

Chorava  a cada ânsia e o peito e a garganta ardiam pelo esforço dos últimos vinte minutos em que esteve ali. Levantou o braço, acenando para Hyungwon que se aproximou, o ajudando a se pôr de pé.

— Tem certeza? Está bem para levantar?

— Sim. — respondia com dificuldade. —Eu não tenho mais nada que possa vomitar.

Os dois saíram juntos do banheiro. Minhyuk abraçado ao amigo, ainda estava sob o efeito das drogas que milagrosamente não o levaram junto com Étienne.

Próximo da porta estava o corpo do francês em meio a uma poça de sangue que se acumulava a cada hora que passava. Ao ver a imagem, Minhyuk voltou correndo para o sanitário. Nada saía. Aquilo era apenas parte do nervosismo e do estresse que sentia pelo ato cometido.

Hyungwon o levou até a pia, limpando seu rosto e caminhou com ele até um dos outros quartos do apartamento, já que o dele foi o cenário principal daquele assassinato.

Deitado na cama, Minhyuk mantinha um silêncio enlutado, olhando para o teto, piscando muito pouco e cada vez mais devagar.

— Como ele descobriu esse lugar? — Hyungwon perguntou sentado ao lado do amigo na cama.

— Eu não sei. — a voz saía rouca devido ao esforço de minutos atrás. — Ele apenas disse que tinha um informante e um detetive me seguindo.

— Detetive qualquer um pode conseguir, mas informante? — o michê se pôs pensativo. — Normalmente são pessoas próximas. Alguma aposta?

Minhyuk balançou a cabeça devagar no travesseiro. A barriga estava pra cima e as mãos cruzadas por cima dela.

— Na verdade, eu pensei em alguém, mas algumas coisas não batem.— fez um pequeno silêncio onde pareceu ponderar as próximas palavras. — Eu não confio no Taigo.

Por um momento pareceu que Hyungwon pensava a respeito. Tentava trazer a memória, alguma situação que tivesse presenciado e confirmasse as suspeitas do amigo, contudo, embora se esforçasse, nada lhe ocorria.

— Minnie, esse pobre homem assalariado nem estava aqui quando você e o Jooheon ficaram pela primeira vez. Você disse que o Étienne sabia do episódio no banheiro, e com certeza foi depois disso que as suspeitas sobre o seu caso começaram, porque até então, você sempre se manteve fiel aquele traste. — Hyungwon dizia sem tirar os olhos de Minhyuk.— O informante é alguém que sempre esteve aqui. Talvez alguém da Heaven.

— Pode ser. A verdade é que eu sequer pensei sobre isso ainda. Aconteceu tanta coisa nessas últimas horas. — Minhyuk levou a mão no rosto. — Eu nem sei mais se essa informação importa agora. Eu quero apenas tirar o corpo daquele maldito de dentro do meu apartamento e você precisa me ajudar, Wonnie.— sentou na cama.

— Eu vou ajudar. Fique tranquilo.— disse o abraçando. — É pra isso que os amigos servem. Para ajudar a esconder um cadáver.

Minhyuk sequer conseguia sorrir diante da ironia nas palavras do amigo. Apesar do clima pesado, Hyungwon ainda conseguia manter o humor ácido que lhe era peculiar e essa era uma das características de sua personalidade que Minhyuk mais amava.

— Só temos um problema. — soltou o abraço.— Étienne é alto e pesado. Precisamos de uma terceira pessoa para nos ajudar. — saiu da cama e começou a andar pelo quarto.

— Hyungwon, ninguém além de nós dois pode saber isso. Quanto mais pessoas, mais vulnerável eu fico

— Não seria qualquer  pessoa. Eu pensei no Jooheon.

Ainda sentado na cama, o anjo lançou um olhar indefinido para a direção do amigo. Ouvir aquele nome o perturbava. Bastava a sonoridade de cada sílaba entrar pelos ouvidos que seu corpo reagia com tristeza e dor.

— Jooheon sabe como esconder cadáveres, com certeza. Ele é um traficante de drogas e já matou pessoas antes. — Hyungwon gesticulava como se mostrando a obviedade daquelas palavras.— Sumir com corpos deve ser um pré requisito para conseguir trabalhar na Heaven. O Papa vive de eliminar inimigos e agora que ele é gerente, ele deve saber como o velho faz isso.

— Esquece. Eu não quero envolver o Jooheon  nisso.

— Como assim não quer? Então, eu posso me foder sendo cúmplice de uma ocultação de cadáver, mas ele não pode?

— Não é isso. É só que...— silenciou, mordendo o interior dos lábios e segurando o choro. — Eu terminei com ele hoje cedo.

O michê que estava em pé parecia surpreso com aquela informação. Se aproximou da cama onde Minhyuk estava e o abraçou uma vez mais.

Ainda que tentasse se manter discreto, Minhyuk soluçava muito. O amigo percebia pelos solavancos de seu corpo a tristeza em dizer aquelas palavras em voz alta. Não restavam dúvidas. Minhyuk estava completamente apaixonado pelo traficante e todo aquele drama  era reflexo de seu dia triste, onde se afastou de alguém que gostava e matou alguém que detestava.

— Étienne te obrigou a isso? — Hyungwon perguntou.

O michê apenas confirmou, balançando a cabeça no ombro do outro.

— Se eu não fizesse aquilo, ele mataria a Yu-ri. — uma nova onda de choro surgiu. — Você consegue imaginar isso? Como eu poderia dormir ao lado do Jooheon, sabendo que a Yu-ri morreu porque eu não aceitei me separar dele? Como eu poderia?

Hyungwon o abraçou forte, acariciando-lhe a cabeça e tentando se manter calmo ao mesmo tempo que acalmava Minhyuk. Aquele homem estático na sala recebeu o que merecia. E a cada nova informação que Minhyuk dava sobre os fatos que antecederam a morte, mais certeza disso Hyungwon tinha.   

Agora, que o efeito das drogas e da bebida começava a passar, Minhyuk enfrentava seus próprios demônios. Havia o medo de que a consequência de seus atos chegasse depressa, por isso, se agarrava ao amigo como a um bote salva vidas, precisava sentir apoio e ter companhia para não cometer outros tipos de loucuras até mesmo contra si.  

— Você sabe que eu faço tudo por você, Minnie. — tentava acalmá-lo, segurando em cada braço e o encarando.— E agora não será diferente. Nós vamos fazer esse homem sumir de uma vez por todas das nossas vidas.

— Como? — perguntou sussurrando.

— Mesmo com o rompimento entre vocês, nós vamos precisar do Jooheon aqui. É a nossa melhor chance de sair dessa ilesos.

— Hyungwon, eu não vou ligar para ele e pedir ajuda.— saiu da cama e andou confuso pelo quarto.— Eu falei coisas horríveis. Ele deve me odiar agora.

— Tudo bem, então eu ligo.

— Hyungwon…

— Eu vou ligar, não importa o que você diga. — o michê se aproximou. — Não percebe que essa é a chance de vocês fazerem as pazes? Tudo bem que a situação é um pouco mórbida, mas você foi forçado a terminar para proteger a filha dele, então, a menos que ele seja um fodido orgulhoso, ele aceitará as suas desculpas. E se não aceitar...então realmente não era pra ser.

Minhyuk se pôs pensativo e não contestou. Viu o amigo se aproximar, lhe dando um beijo na testa antes de caminhar até a sala e pegar o próprio celular. Voltou em pouco tempo já com o aparelho no viva voz, chamando o número de Jooheon de forma insistente e cada vez que ouvia aquele som, o coração de Minhyuk acelerava um pouco mais. Depois de cinco toques, uma voz desanimada atendeu com um suspiro.

— Alô.

Ouvir a voz dele foi como ser atingido no peito. Minhyuk começou a hiperventilar.  Saiu de perto o mais rápido que pôde, deixando Hyungwon sozinho no quarto.

No corredor vazio, se apoiava na parede, com a mão na boca e os olhos fechados. A lágrima quente escorria pelo rosto e molhava os dedos finos. Sabia que, caso Jooheon se negasse a ajudar, isso poderia significar mais do que uma simples recusa, representaria também um fim definitivo para tudo o que eles dois viveram, pois seria uma forma de dizer que não estaria mais com ele.

Àquela altura, o michê nem sabia dizer se queria que Jooheon respondesse sim ou não a Hyungwon. Envolvê-lo naquela situação complicaria sua ficha criminal já extensa. Apesar disso, não tinha como negar para si o quão bom seria poder ter a chance de olhar para ele novamente e lhe pedir desculpas. Ele precisava de uma nova chance para lhe confessar os seus sentimentos, desnudar a alma aflita e dizer o quanto precisava dele por perto. E foi enquanto pensava sobre isso que viu o som dos passos do amigo no corredor.

Hyungwon voltou do quarto, desligando o celular. O aparelho parou no bolso no mesmo instante em que olhou para o amigo que saía da parede e parava no meio do corredor de frente pra ele.  

Com um semblante tenso, Minhyuk encarava o outro, esperando o que ele tinha a dizer. Quando Hyungwon mirou o chão, suspirando e balançando a cabeça em negação, Minhyuk se pôs estático. Dos olhos que estavam marejados, apenas uma lágrima escorreu pelo canto do olho esquerdo.

— Sinto muito, Minnie. — estendeu a mão para Minhyuk, que se aproximou devagarinho.— Ele disse que não vem.— falou recebendo o amigo nos braços.

A cabeça afundou no ombro de Hyungwon e o peito doía apenas por respirar. Ainda que quisesse, Minhyuk não conseguiu chorar. Se deixou ficar nos braços consoladores do amigo, olhando para um um ponto fixo dentro do quarto em frente e mesmo que estivesse em silêncio por fora, gritava por dentro.

Resguardava um pouco da esperança de que Jooheon ignoraria tudo o que foi dito, que perceberia nas entrelinhas que havia algo de errado e que ele foi forçado a fazer aquilo, mas não foi o que aconteceu.

Aquele homem havia feito tanto por ele, que nunca poderia retribuir de volta. E sobre muitas coisas que Jooheon lhe disse nesses meses juntos, a última foi a mais verdadeira. Ninguém o amaria como ele. Restava ao anjo se conformar com o seu destino.

— Ele desistiu de mim.— disse baixo, aninhado ao ombro de Hyungwon.— E não há nada que eu possa fazer para mudar isso. — sentenciou, amargando a tristeza das próprias palavras.


      *

Anyang, Província de Gyeonggi

Ano de 2010

 

“Você aí, você estaria melhor aqui
      Engraçado como é rápido cair novamente
   Engraçado como demora se levantar novamente”

 

A voz do irmão cantando acompanhado do piano soava distante e parecia  um eco no meio do vazio. A voz dele era tão linda que o mais novo pensava se talvez ele não devesse se dedicar ao canto, ao invés do piano.

O pai sempre dizia que o que trazia dinheiro era tocar algum tipo de instrumento que os ricos valorizassem e rico gostava de música clássica, não daquele besteirol melancólico que o irmão mais velho gostava de compor, e então, se lembrava do porquê ele não cantava.


          “Descubra seus olhos e pergunte a si mesmo, onde está o meu reflexo?”

O jovem Hoseok de dezessete anos viu quando o irmão afundou os dedos nas teclas após cantar aquele último verso e se debruçou sobre o piano negro chorando forte. Não podia entender o que ele estava passando, morava com a mãe e desde a ascensão do irmão no mundo da música clássica, dificilmente conseguia encontrá-lo na casa do pai, onde morava.

Sabia apenas que ele estava triste e talvez fosse pelas pressões do Senhor Shin que nunca foi um pai exemplar, o que motivou Hoseok a escolher viver com a mãe após a separação.  

O adolescente estava tentado a consolar o irmão ao piano, mas ao mesmo tempo sentia medo dele. Seu temperamento era muito semelhante ao do pai e nunca se sabia quando estava de bom humor para conversar. Tentou sair dali antes que o pianista percebesse, mas foi em vão. O irmão mais velho levantou a cabeça devagar e o viu pelas costas.  

— Hoseok. — disse limpando os olhos rapidamente. — O que faz aqui? Pensei que estivesse na escola.

— Cheguei há pouco tempo. — disse entrando na sala e ajeitando os óculos. — Essa música...ela é bonita, hyung.  

O irmão sorriu estendendo o braço para ele.

— Eu acabei de compor.— disse dando espaço para o mais jovem sentar a seu lado. — Se chama “Você Aí”.

O adolescente riu assim que ouviu o nome. Mas aquele era Hoseok, e ele sempre tentava de alguma forma se conter. Botou a mão na boca e tentou prender o riso, mas o irmão segurou a mão dele no mesmo instante.

— Deixe vir, Hoseok. Não precisa esconder suas emoções sempre que as sente. Pelo contrário, precisa mostrar. Se está feliz, sorria, se está triste, chore, se com raiva, apenas grite.

O adolescente balançou a cabeça concordando com aquelas palavras, mesmo sabendo que parecia mais fácil dizer do que fazer. Somente ele sabia o quanto era difícil mostrar aos outros um pouco de suas emoções. Era naturalmente tímido e não fazia ideia se um dia isso poderia mudar.  

— Por que escolheu esse nome? Parece tão simples.

O irmão respirou fundo e apoiou o cotovelo no piano, deitando a cabeça na mão.

— É como um conselho meu para mim mesmo.— Hoseok franziu o cenho ao ouvir o irmão. — Confuso?

— Um pouco.

— Então...pense como se dentro de você, existissem duas pessoas, totalmente opostas uma outra. Exatamente igual a nós dois. Você é tímido e sensível e eu sempre fui ousado e irônico. — sorria dizendo. — Essa canção são as palavras do Hoseok ousado dizendo  para o sensível: Você aí! Pergunte a si mesmo onde está o seu reflexo.— silenciou por um curto espaço de tempo. — Você Aí! Qual é o seu lugar no mundo? É como se você se perguntasse...

— Quem sou eu. — Hoseok completou pensativo e baixo.

O mais velho se atentou para o rosto do irmão e mesmo surpreso, sorriu.

— É isso. — se limitou a dizer.— Você entendeu.

— Então, uma parte de você está questionando tudo o que fez até agora?

Ele não respondeu. Começou a tocar o piano de forma aleatória enquanto Hoseok não parava de olhar para aquela imagem do irmão que era sempre tão seguro, mas agora estava  frágil.

Das raras vezes que se mostrava assim, o fazia apenas para ele, já que na maior parte do tempo era como um predador, ousado e atraente para todos os tipos de pessoas. Em outras palavras, era o total oposto dele e como ele queria ser.

— O que está fazendo aí,moleque?! — a voz grossa do pai se ouviu no estúdio.

— Me desculpe...eu só…

— Saia daí!— se aproximou pegando Hoseok pelo braço.  — Não atrapalhe o seu irmão no momento de treino.

— Ei! Seu velho maldito, deixe ele em paz! Fui eu que chamei ele aqui. — o irmão saía em defesa do menor, se levantando do piano.

— Pois então, volte para seu ensaio e eu não quero distrações! Se não ensaiar não vai chegar a lugar algum.

— Qualquer lugar que eu chegue ainda é muito mais do que você já chegou.

O pai se aproximou do mais velho e lhe deu um tapa tão forte que ele caiu sobre o piano.

Hoseok assistia em silêncio, pois se falasse qualquer coisa poderia apanhar mais forte ainda do pai, um abusador incorrigível, que explorava o talento do irmão para ser sustentado por ele e vinha conseguindo fazer isso muito bem.

— Quanto a você, seu merdinha. Volte para a casa da sua mãe. Aqui você só aparece quando ele não tiver compromisso. — dizia com o filho mais velho atrás, limpando o sangue no canto da boca.

O adolescente saiu um pouco assustado sem sequer se despedir do irmão. Olhava para ele e este lhe sorria com os dentes vermelhos de sangue. Hoseok apenas abaixou a cabeça pensando sobre como aquela cena parecia tão assustadora quanto triste.

“Deixe vir, Hoseok. Não precisa esconder suas emoções sempre que as sente.”, pensava.

Saiu da casa atônito e com uma angústia inexplicável. Era como se soubesse que aquela seria a última vez que veria o irmão mais velho.


Gangnam, 2019

Hoseok acordou em sua cama, abrindo os olhos devagar, assimilando a própria realidade. Ainda era ele. Wonho costumava aparecer sempre que ele sonhava com o irmão, mas dessa vez por alguma razão, nada aconteceu. Virou o rosto sem mexer o corpo e olhou para o relógio ao lado da cama. Ainda era noite.

Quando chegou da casa de Hyungwon depois de passar a tarde com ele na mansão, tomou um banho demorado e se deitou sem intenção de dormir, mas acabou sendo traído pelo próprio cansaço. Apagou no quarto sem razão, sonhando com o homem que ele mais admirava na vida, e a quem seguia os passos, inclusive na carreira, seu irmão mais velho.

Talvez, falar sobre ele com Hyungwon tenha ressuscitado recordações esquecidas. De qualquer forma, aquele sonho foi diferente. Era mais como uma lembrança e isso o impressionava, porque ele não tinha memórias da última vez que viu o irmão, mas naquela noite ela veio como uma epifania.

A primeira coisa que lhe passou na cabeça, após repassar essas lembranças foi pegar o celular e contar para Hyungwon. Ele tinha certeza que todo aquele progresso que vinha tendo, tinha relação direta com os encontros dos dois. Pois cada vez que se viam, mais Hoseok se conhecia.

O celular do michê chamava sem respostas. Hoseok achou melhor deixar uma mensagem dizendo que estava com saudades e que assim que ele pudesse, que o ligasse de volta, não importasse a hora.

Se levantou da cama em direção a sala e ligou a tv enquanto buscava água na cozinha. Vestia apenas a calça do pijama, transitando pelo imóvel do jeito confortável que costumava fazer sempre.

A tv apresentava uma grade de programação diversa, embora Hoseok não se interessasse por nenhuma em específico. Por fim, parou de trocar os canais deixando no noticiário. 

Com os pés sobre o tampo da mesa de vidro, relaxava o corpo no sofá, com uma mão na nuca e a outra segurando a garrafa. Parecia distraído demais, como se apesar da tv ligada diante de si, não estivesse de fato assistindo. Lembrava do sonho de forma insistente e como em uma espécie de coincidência, quando finalmente olhou para  a tela, o irmão apareceu no jornal.

Hoseok tirou os pés da mesinha, largou a água e se ajeitou no sofá se atentando as informações na tela. Pegou o controle remoto e aumentou o volume o mais rápido que pôde.

 

“No começo desta noite, os assassinos confessos do jovem pianista, Wonho, saíram do complexo prisional onde estavam.

Após um processo longo com vários pedidos negados, os advogados dos dois homens envolvidos na morte de Wonho, conseguiram o direito de cumprir o restante da pena em liberdade, 9 anos após o crime.

Apesar das tentativas de contato com os representantes da família do pianista, ninguém se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta matéria.”

 

A respiração ficava mais forte que o normal. Ainda que estivesse com o peito nu, Hoseok suava frio. Passou a palma da mão no tórax e estava molhado.

Aquele era o tipo de notícia que poderia desestabilizá-lo e podia perceber  o outro se aproximando. Foi diagnosticado com Transtorno Dissociativo de Identidade aos dezessete anos. Então, sabia reconhecer os sinais de uma crise à caminho.

Se levantou, tentando controlar a respiração conforme o Doutor Han lhe ensinou durante o tempo em que ele ainda se dispunha a tratar o transtorno. Caminhou até o banheiro onde um grande espelho acima da pia se encontrava e olhava para a própria imagem, controlando o ritmo da respiração. Enquanto estivesse acordado e pudesse se reconhecer no reflexo diante dele, estava seguro.

— Deixe vir, Hoseok.

Olhou para trás. Não havia ninguém. Ele sabia que a voz vinha de dentro de sua cabeça. Apertou os olhos cancelando aqueles pensamentos, conforme também tinha aprendido.

— Deixe vir, Hoseok. Não precisa esconder suas emoções sempre que as sente.

Abriu o armário por trás daquele espelho e derrubou alguns frascos antes de achar o que queria. Quando pegou o remédio, percebeu que o frasco estava vazio e para seu desespero não tinha como comprar outro, já que a receita que tinha do Doutor Han era antiga e não serviria mais.

— Droga!— jogou o frasco no chão.

— Se está feliz, sorria…

Hoseok levava as mãos a cabeça. Não queria deixar de existir, pois era assim que se sentia quando o outro chegava. Não queria perder o controle sobre si.

— Se está triste, chore…

Hoseok apoiou a mão no espelho e se encarava com lágrimas escorrendo pelo rosto. A dor de cabeça aumentou de um modo que o olhos pareciam avermelhados. Seu reflexo ficava cada vez mais embaçado e o pianista coçava os olhos em uma tentativa de manter o foco. Apesar disso tudo o que via era o mesmo borrão.

— Se  está com raiva…— a voz na cabeça parafraseava o irmão mais velho. — Grite.

Os pulmões se encheram e ele gritou no meio daquele banheiro, caindo de joelhos no chão.  

Ele não podia ir agora. Não podia deixar Hyungwon com Wonho. Batia na cabeça pensando que deveria ter escutado Jo. Deveria ter voltado ao tratamento.   

— Deixe vir, Hoseok.

Cansou de lutar. Os olhos piscavam devagar enquanto ouvia o irmão falando em sua cabeça: “Deixe vir” .

Se deitou no chão do banheiro com os braços abertos e a  vista embaçada que começava a ficar escura.

— Me deixe vir, Hoseok.

Foi a última coisa que se lembrou de ter escutado naquela noite.

*

A madrugada chegava e do lado de fora do apartamento de Minhyuk, havia um prenúncio de chuva.

Hyungwon colocava dentro de um saco preto as roupas rasgadas e ensanguentadas de Étienne, deixando o corpo do francês totalmente nu.

— Vamos guardar esse saco com a gente e queimaremos as coisas dele, incluindo o passaporte.  

— O que vamos fazer com o corpo?

— Eu não pensei sobre isso ainda. Uma coisa de cada vez.— Hyungwon deixou o saco em um canto da sala. — Mas talvez a gente consiga tirar ele do prédio se enrolarmos o corpo naquele tapete.— apontou para o meio da sala. — Ele é bem grande, maior que o Étienne, então seria mais fácil dele sair daqui dentro disso.

— E se alguém nos ver carregando esse tapete no meio da madrugada?

— Acho difícil. São duas da manhã. De qualquer forma, se aparecer alguém, estamos apenas nos livrando de umas coisas velhas. — Hyungwon pensou um pouco sobre o que disse. —E não estaremos mentindo. — ironizou a idade do francês.

Minhyuk concordou com a ideia e os dois se encaminharam para o centro da sala. Precisavam tirar a mesinha de cima do tapete e arrastar os sofás e as poltronas.

Cada um segurou de um lado do móvel que embora pequeno era pesado. Enquanto levantavam o mesmo há poucos centímetros do chão, a campainha tocou. Assustados, se entreolharam, abaixando a mesinha devagar e em silêncio.

A campainha insistia e os amigos não sabiam como reagir aquilo. O momento era o mais inoportuno de todos, não apenas pela hora, mas pela situação em que o apartamento estava. Havia um corpo na sala e isso não seria fácil de esconder.

— Quem deve ser? — Hyungwon sussurrou.

— Não sei.— Minhyuk respondeu no mesmo tom. — Pode ser Lucien, o assistente dele. — os olhos aumentaram de tamanho como se estivesse se dando conta de algo.—  Droga! Ele não deve ter vindo sozinho. Ele nunca vem para o país sozinho. Como eu não pensei nisso?! Eu tô fudido. Vão descobrir tudo.

— Calma, Minhyuk! Não sabemos se é ele realmente. E se ele veio com o Lucien, o assistente só deve esperar por ele quando o dia amanhecer, afinal, a ideia dele era passar a noite contigo. Vamos fazer o seguinte, arraste o corpo do Étienne até o seu quarto e se tranque com ele lá dentro.

— Mas e o rastro de sangue e essa poça no meio da sala?

— Faça o que eu disse. Vou tentar me livrar de quem quer que seja.

Minhyuk correu para perto do corpo e o pegando pelos pés, arrastou Étienne até o quarto onde horas antes lhe deu a primeira facada

Quando Hyungwon viu que o amigo se trancou no quarto, andou até a porta da sala e antes de abrir, olhou pela câmera a imagem da pessoa que estava aguardando. Assim que reconheceu o rosto, sorriu emocionado.

Minhyuk caminhava de um lado para o outro com o corpo de Étienne estendido no meio do cômodo. Parou encostado na porta, apoiando a cabeça na madeira fria. Um turbilhão de pensamentos lhe invadia. Poderia ser Lucien, o cão fiel de Étienne, ou ainda a polícia. Talvez algum vizinho tenha escutado ou suspeitado de algo.

As chances de ser descoberto, mesmo com os cuidados que tomou, por mais remotas que fossem eram reais. Não existe crime perfeito e ele era um amador. Tentou afastar os pensamentos pessimistas da cabeça e contava com Hyungwon para despistar quem quer que fosse.

Atrás de si e do outro lado da porta, ouviu o barulho de alguém batendo nela. O coração acelerou na hora e ele se afastou quase tropeçando no corpo do francês.

— Sou eu. — a voz de Hyungwon fez o michê respirar aliviado.

Minhyuk abriu a porta devagarinho, de forma que quem estava do lado de fora via apenas parte de seu rosto ainda olhando pela fresta com medo.

— Não era nada demais. Quer dizer...— Hyungwon saiu da frente de Minhyuk dando espaço para que ele olhasse no fim do corredor. — É só um bobo apaixonado que veio esconder um corpo pra você.

Atrás dele, estava Jooheon.

Por mais que Minhyuk quisesse se manter ali, controlando a contagem da respiração e esperando qualquer sinal da parte dele que indicasse que estava tudo bem, foi traído por suas próprias emoções. Passou pelo portal que dividia o quarto e o corredor, andando devagar e observava o traficante olhar pra ele de volta com um semblante que parecia muito com alguém que se segurava pra não chorar.

Minhyuk esperava um sinal a mais. As emoções do outro não estavam claras. Ele estava ali para ajudá-lo? Estava para perdoá-lo?  Ele ainda não conseguia entender.

Os pés de Jooheon estavam parados sobre o sangue de Étienne e em seu  tênis branco havia marcas daquele vermelho vivo. Ignorava tudo a sua volta ao se deparar com a imagem de Minhyuk e as mãos cheias de sangue. Ele era como um anjo rebelado que matou o próprio deus e trazia no rosto a culpa e o descaramento de quem se sentia enfim liberto. Nenhum dos dois entendia porque esse cenário dantesco os atraía tanto, mas isso era o que menos importava agora.

— Você veio. — Minhyuk disse quando chegou perto o suficiente.

Jooheon abaixou a cabeça mordendo o interior dos lábios, as mãos se apertando em um nervosismo evidente. Balançou a cabeça, fechando os olhos e disse pra baixo:

— Eu tentei, Minhyuk. Eu tentei acreditar em toda aquela merda que você me disse. Eu até usei isso pra segurar a vontade de correr de volta pra você quando o Hyungwon ligou, mas eu não consigo. — a voz falhou. — Eu sei o que estou sentindo agora e sei que não sinto isso sozinho, porque é algo tão maior que eu, que não cabe só em mim. — levantou a cabeça e chorava enquanto dizia. —  Eu precisava vir. Precisava atender a esse chamado porque meu lugar é com você. — olhava para ele.— Meu lugar é do teu lado.

— Jooheon, eu sinto muito. Eu não queria fazer isso.  — Minhyuk levou as mãos até o rosto dele, o acompanhado naquele choro de reconciliação. Percebeu de forma tardia que o sujava com o sangue do francês.— Oh meu Deus! — exclamou, se afastando rápido mas sendo impedido pelo outro.

— Não. Não se afaste.— puxou Minhyuk para si pela nuca.— Não se afaste... Nunca mais. — disse antes do beijo.

Sentiu os lábios de seu anjo e ele nunca havia o beijado daquela forma antes, com todo aquele sentimento e poder. Minhyuk prendia as mãos na camisa que ele usava e lhe invadia a boca com a língua, provando do gosto daqueles lábios que há poucas horas acreditava que nunca mais tocaria.

Hyungwon observava a cena feliz ao mesmo tempo que se sentia demais. Se não tivesse um corpo no quarto, teria saído do apartamento para que Minhyuk e Jooheon terminasse aquela reconciliação na cama, mas havia um assunto com maior urgência para se resolver.

— Sabe...eu não queria atrapalhar esse momento romântico e simbólico de vocês dois se engolindo no meio do sangue do embuste, mas se a gente não der um jeito de sumir com ele agora de madrugada, de manhã será mais difícil. Fora o cheiro.

O casal se afastou um pouco, mas ainda mantinham os rostos unidos e sorriam emocionados em ter uma segunda chance. Havia tanto para se dizer, mas Hyungwon estava certo, aquele era o melhor momento de agir. Desaparecer com o que incriminava Minhyuk era a prioridade.

— Eu posso...— Jooheon disse, apontando para o quarto.

Minhyuk assentiu devagar enquanto via seu atual amante caminhar lento até o lugar onde jazia o corpo do antigo.

No corredor, os rastros que Étienne deixou tentando pedir ajuda, se misturavam com as marcas da sola do tênis de Jooheon.

Chegou ao cômodo em passos mínimos e quase que calculados. Olhou primeiro para a cama que foi cenário para muitas noites em claro dos dois e ela estava cheia de sangue. As palavras de Minhyuk sobre a cama cheirar a morte se cumpriu. Eles jamais poderiam ou conseguiriam se deitar ali de novo.

No chão frio, o rosto de Étienne tomava uma cor cada vez mais pálida. Os lábios já começavam a ficar esbranquiçados e de cima, Jooheon o observava. O traficante via o francês pela primeira vez. Sabia que era um importante empresário e poderia pesquisar sobre ele na internet se quisesse, mas evitava a todo custo ver o rosto do homem que aprisionava o seu anjo em uma espécie de gaiola de ouro.

Étienne o encarava de volta já que os olhos não foram fechados. Aquilo ainda lhe rendia um ar de humanidade, embora ele não tivesse nenhuma mesmo em vida.

Jooheon acreditava que o odiaria ainda  mais quando olhasse para aquele rosto, mas não sentiu nada. O ser desprezível que ousou ameaçar a filha estava morto. Yu-ri estava a salvo, Minhyuk não precisaria mais se sujeitar a seus abusos. Nada mais importava agora, a não ser se dedicar a fazer sua filha e seu anjo feliz.

Sentiu os braços do michê lhe envolverem pela cintura, quando este chegou de surpresa por trás.

— Hyungwon disse que podemos descer o corpo enrolado em um tapete. O que acha disso?

— É uma ótima ideia. — se virou ainda nos braços do michê.

— Ainda não sabemos onde... você sabe... deveríamos sumir com o corpo.

Jooheon encarou aqueles olhos suplicantes de Minhyuk e após olhar para Étienne estirado no chão, voltou a atenção para seu anjo e sorriu dizendo:

— Eu conheço um lugar.

*

As luzes dos postes eram refletidas no vidro do carro andando a toda velocidade no meio da madrugada. Jooheon guiava um furgão que praticamente roubou do estacionamento da boate. Era o mesmo que eles usavam para transportar a mercadoria e quando decidiu ajudar Minhyuk, se utilizou de seus privilégios como gerente e pegou o furgão sem que ninguém soubesse.

O corpo de Étienne, enrolado dentro do tapete era vigiado por Hyungwon e Minhyuk na parte de trás do furgão. Os dois estavam sentados no chão do carro, um ao lado do outro, olhando para o tapete com um certo nervosismo. Não era como se o francês fosse sair dali a qualquer momento, mas os dois só ficariam em paz quando aquele corpo não pudesse ser vistos por mais ninguém.

Com as mãos dadas e os dedos entrelaçados, os michês alisavam e apertavam a mão um do outro em demonstração de apoio e carinho mútuo. Minhyuk deitou a cabeça no ombro de Hyungwon e respirava forte. O ambiente era mais tenso do que o normal para pelo menos dois dos três naquele veículo. Jooheon já estava acostumado aquela energia pesada, por isso, dirigia com uma tranquilidade que os outros não sentiam. Por vezes, olhava para o seu anjo pelo retrovisor para saber se estava bem e dentro do possível ele estava. Poderia ao menos contar com seu melhor amigo que fazia tudo por ele. Isso o deixava em paz.

Na rádio, tocava por coincidência uma das músicas do DJ favorito de Minhyuk, o som era um house progressivo, que parecia refletir toda a morbidez da situação. Ele havia escutado aquela música tantas vezes na boate, em casa e em festivais que se agora escutasse de novo, se lembraria sempre do dia em que matou um homem e escondeu o corpo com seu amante e o melhor amigo.

— Estamos chegando em Mapo Gu.— Jooheon disse ao volante sem tirar os olhos da direção.

Minhyuk levantou a cabeça do ombro do amigo e olhou pelo parabrisas a placa na estrada que indicava a chegada ao distrito.

— Mapo fica há uma hora e meia de onde estávamos, mas parece que estou sentado aqui há uma eternidade. — Hyungwon dizia.

— Para onde estamos indo, Jooheon? — Minhyuk perguntou baixo e arrastado.

A resposta veio com um pequeno delay, pois ele se atentava a toda a câmera da rua, mesmo sabendo que a placa do furgão era adulterada.

— Para o Parque Ecológico de Sangam.

Os amigos se olharam ainda confusos.

— Pelo parque teremos um acesso melhor ao Rio Han. A essa hora o lugar é mais deserto do que o normal, então podemos carregar o corpo pela trilha sem sermos vistos.—  dizia de forma segura.

— Espera! Você está me dizendo que eu terei que entrar no meio do mato? — Hyungwon protestou.

Jooheon se riu balançando a cabeça e escolheu não responder a pergunta.

— Minhyuk, eu sei que pessoas como Jooheon não fazem ideia de que os meus sapatos levam cerca de três meses para ficarem prontos e que são ítens exclusivos, mas você sabe. Diga a ele para abortar esse plano. Deve ter um outro jeito. — dizia quase que desesperado.

Ele realmente sabia, mas diante da situação em que estavam, não poderia se dar ao luxo de pensar nisso e mesmo com o nervosismo, ver Hyungwon, um autêntico playboy, surtar diante da possibilidade de perder seus sapatos, trazia um pouco de graça e até leveza para aquele cenário caótico.

—  Se vamos jogar no Han, por que viemos para tão longe? Poderíamos ter feito isso em Gangnam. — o michê continuou.

—  Quanto mais distante do local onde ocorreu o crime, melhor. Não acha? —  Jooheon respondeu.

Hyungwon ponderou com a cabeça e percebeu que ele tinha razão. Ficou em silêncio durante o tempo que ainda restava daquela viagem. Tentava de alguma forma se acostumar com a ideia de que faria uma trilha no meio da madrugada e de que provavelmente perderia o seu coturno italiano Stefano Bemer de dois mil dólares.

Quando pensava a respeito, isso lhe parecia ainda pior do que esconder um cadáver.

Jooheon deixou o furgão estacionado em um ponto da estrada. Correu a porta lateral e ajudou Minhyuk e Hyungwon a descer do veículo. Juntos, os três arrastaram o volume para fora do carro e com o corpo no chão, ainda enrolado ao tapete, restava a eles se embrenhar pelo meio do mato, usando o acesso do parque até chegar a beira do Rio Han.

— Vocês acham que podem levar ele até a beira do Han sozinhos? O furgão não pode ficar parado aqui. Vai parecer suspeito se alguém passar de carro. —  Jooheon disse.

—  São três e meia da manhã, quais as chances? — Hyungwon se manifestou e no mesmo instante, ao longe, os faróis do que parecia ser um carro surgiram na estrada.—  Porra! Que boca é essa? — o próprio michê protestava, dando tapas nos lábios grossos.

— Minhyuk…

O michê parecia confuso e agora que uma possível testemunha poderia surgir, se apressou em responder a Jooheon.

— A gente dá conta. —  disse.

— Certo. Eu vou fazer a volta. Enquanto não me verem passar, não venham para a estrada. Se mantenham escondidos. É mais seguro.

— Como saberemos que é você nessa escuridão?— Hyungwon perguntou.

— Vou piscar o farol duas vezes.

A dupla de michês se entreolhou e concordou com o que foi combinado.

Com a porta do furgão aberta, Jooheon se apressou em entrar no veículo para sair dali, já que o carro visto há pouco se aproximava mais.

Minhyuk olhou os faróis ficando cada vez mais perto e sabia que deveria se enfiar no mato com Hyungwon logo que possível, mas ao mesmo tempo, dentro de si, uma adrenalina forte começava a correr pelo corpo.

Antes que Jooheon ligasse o furgão andou até ele e lhe pegou pelo braço. O traficante de forma instintiva, se virou para o michê que não se conteve e o beijou segurando o rosto com força.

Correspondendo aquele beijo desesperado, o traficante esqueceu por alguns momentos tudo o que estava volta e o perigo do veículo que se aproximava. Segurou o anjo pela cintura, apertando o corpo dele contra o seu e devolvia a ele a mesma medida de paixão e entrega que ele lhe oferecia.

Quando enfim os rostos se afastaram, os dois se olharam em silêncio por um curto tempo antes de Minhyuk lhe dizer no silêncio daquela madrugada:

— Eu te amo.

O som das palavras saíram mais fáceis do que imaginava. Jooheon se manteve parado olhando para ele de volta sem qualquer reação de fácil leitura.

O próprio michê depois de dito isso, não sabia como se comportar. Parecia demasiado cedo dizer aquilo, mas ele não conseguia encontrar outra palavra que pudesse definir o que sentia. Além disso, Jooheon já havia se declarado antes de uma forma menos direta, então, ignorando toda a racionalidade que o mundo exigia, ele apenas disse o que tinha que dizer.

Hyungwon presenciava um pouco ansioso por conta do carro vindo na estrada, mas entendia a atitude inesperada do amigo. Tudo em Minhyuk era demais, urgente e intenso. Ele não saberia viver menos do que no limite de suas paixões.

— Minhyuk…— Jooheon sussurrou.

Era possível ver a luz dos faróis refletindo forte no rosto de ambos.  Antes que Jooheon começasse a formular palavras para responder a declaração, o michê se afastou ainda olhando pra ele e sorrindo fraco. Entrou na mata com Hyungwon e os dois iniciaram a caminhada até o rio.

Jooheon também voltou a si, ligando o furgão e saindo com ele faltando muito pouco para o carro lhe alcançar.

Na direção, parecia ouvir o som que vinha de dentro do peito. Era o coração que batia forte após a declaração inesperada. O motorista do outro veículo o ultrapassou, olhando para dentro do carro, ao que Jooheon abaixou o boné que usava na intenção de dificultar a vista de quem o observava.

Com o carro a uma distância segura, o traficante se permitiu tirar o boné e seguiu pela estrada sorrindo aparvalhado após ouvir dos lábios de seu anjo que também era amado.

*

A chuva que ameaçava cair mais cedo, finalmente chegou. O som dela abafava o barulho dos passos da dupla de michês. Levaram cerca de quinze minutos para atravessar a pequena trilha que os deixaria às margens do Rio Han, em Sangam.

Ao se aproximarem do lugar, soltaram o tapete ao mesmo tempo. Estavam exaustos e a escuridão aliada a chuva, dificultava tudo.

— Minhyuk...está pronto? — Hyungwon perguntou ofegante.

O michê confirmou em silêncio e juntos os dois desenrolaram o tapete que logo revelou o corpo nu do francês já frio. Minhyuk olhou para o amigo que o encarou de volta.

— Chegou a hora, Minnie.— disse tirando as luvas do bolso e entregando um par para o cúmplice. 

O que falou, segurou aquele corpo inerte pelos braços enquanto o outro segurou com dificuldade as pernas. Os dois andaram então até um pouco mais perto da margem.

— Conte até três, e na última contagem o lançamos, certo?

Mais uma vez, Minhyuk apenas concordou com o amigo que o direcionava em tudo. Balançaram o defunto por três vezes, fazendo uma contagem a cada movimento para ao final dela, lançarem o cadáver nas águas gélidas.

O corpo de Étienne se chocou com a água e no mesmo instante em que isso aconteceu, as mãos dos amigos se entrelaçaram em um silêncio cúmplice. Minhyuk pareceu tentar dizer alguma coisa, mas não conseguia. A garganta estava com um imenso nó e tudo o que ele fazia era abrir a boca e tentar respirar por ela.

Hyungwon apertou a mão do amigo lhe mostrando apoio naquele pequeno gesto, enquanto os dois avistavam o que há poucas horas foi um ser humano afundar rio abaixo.

— O que vai acontecer agora, Wonnie?  — finalmente falou. — Eu estou com tanto medo.

— Eu também, Minnie. — segurou com firmeza a mão do amigo. —  Eu também.

Os corpos molhados pela chuva se mantinham unidos na incerteza de seu futuro, mas contavam que talvez com um pouco mais de sorte, aquelas  águas turvas dariam conta de ocultar para sempre o pecado de ambos.

*

A volta para Gangnam foi silenciosa e sequer o rádio foi ligado no trajeto.

Minhyuk cochilava intranquilo no ombro de Jooheon na direção e Hyungwon apoiava o queixo na mão olhando pela  janela com um semblante vago e pensativo. Por algumas vezes, seu olhar se cruzava com o de Jooheon quando observava o amigo dormindo no meio deles dois. O michê mantinha aquela encarada firme para o traficante como se os dois secretamente jurassem um para o outro que fariam de tudo para proteger Minhyuk, e então, logo voltavam a atenção para a estrada.

Jooheon deixou Hyungwon no prédio de Hoseok a pedido do mesmo. Depois daquela madrugada, tudo o que queria era encontrar o pianista, então, após prometer ao casal de amigos que não contaria nada sobre o que houve, se despediu de Minhyuk com um abraço, confirmando a sua presença mais tarde, no apartamento fora de Gangnam, onde os três combinariam os próximos passos para manter as suspeitas do desaparecimento do francês bem longe de Minhyuk

Em silêncio, Hyungwon viu o furgão se afastar com Minhyuk e Jooheon dentro dele. O dia começava a clarear e apesar do estado lastimável em que o michê se encontrava, ele precisava de seu pianista. Entrou no elevador e usou aquele tempo para pensar no que diria a Hoseok sobre aparecer de forma tão repentina e às cinco da manhã em seu apartamento.

De frente para a porta, suspirou. Digitou a senha de acesso, algo que Hoseok havia lhe informado há algumas semanas, e entrou no apartamento sem dificuldades.

Esperava encontrar seu pianista dormindo e intentava ir direto ao banheiro, tomar um banho, vestir qualquer coisa do armário dele e se deitar ao seu lado de forma que ele não acordasse.

Caminhando lento até a porta do quarto, viu que Hoseok não estava lá. Aquilo lhe pareceu estranho. Hoseok não havia dito que dormiria fora naquela noite, mas seu celular estava descarregado, então, talvez ele tivesse tentado avisar, mas sem sucesso.

Suspirou diante da ausência do pianista e começou a tirar as roupas se encaminhando para o banheiro. A porta estava entreaberta e quando Hyungwon a abriu por completo, a primeira reação que teve foi de levar as mãos a boca assustado com a imagem de Hoseok caído no chão.

— Hoseok! —  correu em auxílio, levantando a cabeça de seu pianista e a apoiando em seu colo. — Hoseok! Fala comigo! —  dava batidinhas em seu rosto.

O homem não reagia a princípio e o desespero tomava conta de Hyungwon. O dia tinha sido estressante o suficiente, mas parecia que sempre havia a possibilidade de piorar um pouco mais. Levou a cabeça do pianista ao peito e chamava o nome dele ainda desacordado.

Aos poucos, ele voltava a si, como se tentasse assimilar o lugar onde estava, mas principalmente com quem estava.

— Oh...meu Deus! Você está bem? —  dizia se sentindo aliviado e lhe beijando o rosto. —  O que aconteceu?

O pianista tentava falar ainda confuso, mas não conseguia formular as ideias. Ficou apenas parado olhando para o rosto de Hyungwon e tentando entender o que ele fazia ali.

— Você escorregou ou algo assim? Bateu a cabeça?—  perguntava enquanto o ajudava  a se levantar.  — Banheiros são perigosos. Qualquer pessoa corre o risco de se acidentar neles e pelo que vejo você estava sem os óculos. — acompanhou ele até a sala, onde o sentou no sofá.—Talvez seja bom procurar um médico. Eu vou até o quarto pegar uma roupa pra você e te levo até um hospital.

Ao fazer menção de ir até o cômodo, o pianista o segurou pelo braço e o puxou, levando o michê a cair direto em seu colo.

— Hyungwon. —  disse um pouco rouco.

— Oh!— deu um soluço curto ao cair no colo dele. —  Ainda sabe meu nome, então não está com amnésia. — sorriu e teria falado mais se aquele homem, mesmo confuso, não tivesse o puxado pela nuca, selando os lábios vermelhos em sua boca farta.

O pianista o beijou intenso e de uma forma tão sexual que o outro sentiu a ereção em sua bunda. Se afastou devagar, ainda com as mãos fortes na nuca.

— Hoseok...— sussurrou. — Você bateu a cabeça. Precisamos procurar um médi....— o michê era silenciado mais uma vez.

A mão livre do pianista alisou a parte interna da coxa de Hyungwon sobre a calça. Ele deslizava a mão até chegar ao pau que já estava duro. O michê gemeu fraco ainda em sua boca antes do provocador se afastar, olhando para ele.

— Você deveria...— tentava dizer, mesmo com o pianista lambendo a sua orelha. — Deveria pôr os óculos para não cair outra vez. Ah...Hose...— gemeu e foi beijado antes de terminar de pronunciar o nome.

Este último beijo foi mais rápido do que o anterior e parecia como algo feito apenas para que Hyungwon não terminasse de dizer aquele nome.  

— Está tudo bem. Não se preocupe com os meus óculos. Eu não preciso deles agora. — o pianista falou ao ouvido.

Voltando a encará-lo e sem tirar os olhos do rosto perfeito, o pianista ajudou Hyungwon a contornar as pernas em sua cintura, encaixando a bunda em seu pau ainda sob as roupas. O admirava de um jeito tão lascivo que  estava quase irreconhecível para o michê.

— Vamos para o quarto?— Hyungwon perguntou em um sussurro.

— Não. Eu vou te comer aqui, nesse sofá. — disse esfregando a bunda dele em seu pau.

Hyungwon mordiscou o lábio inferior e afundou o rosto no pescoço do pianista.

— Que safado.— disse em um gemido.— Do jeito que fala, nem parece o meu príncipe romântico. — mordia o maxilar do outro.

O pianista sorriu, enquanto sentia os dentes do mais novo.

— Esqueça o príncipe.— puxou Hyungwon pelo cabelo e o encarou malicioso. — Não é ele que está aqui agora.  

 


Notas Finais


E cabô na melhor parte, né?! mas semana que vem eu continuo esse lemon, prometo.

ô gente...vcs se ligaram em quem é o irmão do Hoseok ou terão que esperar semana que vem pra descobrir?

Assistente, detetive, informante... alguma dúvida de que nosso trio vai ter trabalho pra esconder o que fizeram? Então conte com mais tretas nos próximos capítulos...isso eu prometo, mas teremos muito momentos softs tb pq nem só de passar nervoso os leitores de "Anjos Caídos" vivem kkkkk

Como sempre faço, vou deixar links do Youtube para as músicas que faço referência no capítulo.

Na cena do Hoseok com o irmão, a música que ele compôs realmente existe. Segue o link:

Aquilo - You There: https://www.youtube.com/watch?v=LlefHgF0kPA

Ah...e o DJ favorito do Minhyuk ( na fic kkk) é o Deadmau5. A música que toca na rádio enquanto eles estão indo esconder o corpo é essa aqui embaixo.:

Deadmau5 feat. Grabbitz - Let Go : https://www.youtube.com/watch?v=NOybQ7-hfsA

Até semana que vem...meus amores...<3


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