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História Anjos Caídos - Linhagens


Escrita por: MissQueenBee

Notas do Autor


Oi...amores!

Recuperados da cena com a arma da semana passada? Sinto q terei que fazer um extra só pra arma do Jooheon, a verdadeira dona e proprietária dessa fic....kkkkkk

Então, simbora pra mais um capítulo semanal \o/

Boa Leitura!

Capítulo 16 - Linhagens


Fanfic / Fanfiction Anjos Caídos - Linhagens

O café da manhã na casa da família Chae costumava ser assim: O pai na ponta da mesa em silêncio trajado em seu terno caro e na ponta oposta a mãe enrolando as pérolas nos dedos enquanto comia algo pouco calórico. Nam se vestia com sua roupa social feita sob medida e a única coisa que indicava que na mesa estava sentada uma criança e não um adulto de baixa estatura, eram os cereais coloridos e repletos de sacarose que toda criança amava.

Hyungwon, quando resolvia comparecer nesse momento em família, normalmente ficava de frente para o irmão mais novo. Na mão, segurava uma caneca de café e em algumas vezes, como agora, fumava enquanto bebia a contragosto dos pais que escolhiam fingir que não viam aquela insolência logo nas primeiras horas do dia.  

A senhora Chae olhava para o marido que ajeitava os óculos e o colarinho de um modo nervoso, pois sabia o que a mulher esperava que ele fizesse.

Percebendo que o marido omisso não falaria nada, ela mesmo respirou fundo na mesa e se pronunciou.

— Hyungwon…

A voz da mãe era fina e o michê quase sentia os pelos se arrepiarem quando ela pronunciava seu nome como agora.

— Parece que você tem sido visto com muita frequência junto do pianista Shin.— olhava para o filho que a ignorava tomando o seu café e fumando em silêncio. — Admiro o seu bom gosto, mas você sabe que precisa ser mais discreto.

Nam olhou para o irmão mais velho por debaixo da franja castanha e aguardava mais uma de suas reações exageradas onde ele sairia da mesa quebrando alguma coisa pelo caminho.

Surpreendendo a todos, ele permaneceu sentado, deu uma risada debochada enquanto soltava a fumaça pelo canto da boca, balançando a cabeça em negação.

As pernas estavam juntas, próximas do peito e em cima da cadeira. Isso não passava de mais um de seus protestos silenciosos contra as exigências da família que esperava dele e do irmão atitudes mais polidas.

— Seu pai têm um alto cargo no governo e além disso, o homem é professor no Conservatório onde o Nam estuda piano.

A criança suspirou dizendo:

— Eu não me importo.

— Não é justo ele ser afetado pelo seus estilo de vida excêntrico. Isso pode corromper as suas memórias afetivas.

— Eu realmente não me importo, mãe . Eu até gosto do Professor Shin.

Hyungwon deu um sorriso fraco e cúmplice para o irmão que piscou de volta.

— Está vendo isso? Eles se protegem. Por que você nunca diz nada? — a mulher indagava o marido.

— Preciso fazer uma ligação.— o homem respondeu se levantando da mesa.

— Francamente. É por isso que seu filho mais velho tem pouquíssimos valores morais. — gritava para as costas do marido que se distanciava.

Após dizer isso, também saiu da mesa deixando os filhos sozinhos.

Hyungwon tentava disfarçar o riso entre as mãos naquela atitude de deboche tão característica. Irritar a mãe era algo tão fácil e divertido que se tornou um hábito, embora naquele momento, esse mérito tenha sido apenas de Nam e de seu pai sempre ausente.  

— Me pergunto se apenas os nossos pais são assim, irresponsáveis com a nossa saúde emocional. — Nam dizia olhando a mãe se afastar.

— Infelizmente não, mas pra ela, eu  é que vou causar danos às suas memórias afetivas.

— Como se eles dois não fossem competentes o suficiente pra isso.

Os dois irmãos sorriam com aquela última fala, embora a graça daquelas palavras fossem perdendo força conforme eles refletiam sobre elas.

Não havia motivos para risadas. Os dois carregavam marcas cruéis em suas almas por conta dessa negligência familiar.

Nam se tornou uma criança fechada, sem amigos e que escondia a insegurança por trás de uma postura adulta demais para a idade que tinha. Hyungwon era o total oposto. Sempre agindo com irresponsabilidade e provocando confusões como forma de punir os progenitores relapsos. E em ambos os casos o objetivo parecia ser chamar a atenção dos pais.

— Obrigado por defender a minha relação com o Hoseok.  A sua opinião é a única que importa nessa casa.

— Não foi nada. Eu só quis participar do assunto favorito dela, você.— disse mexendo em sua tigela.— Quando falamos sobre seu estilo de vida, conseguimos algum tipo de atenção da senhora desta casa.

As palavras soaram de um modo ressentido. O irmão mais novo costumava expressar boa parte de suas frustrações em palavras e gestos sutis, mas era necessário o conhecer bem ou ter o mínimo de sensibilidade para perceber isso.

— Nam…

— Eu vou subir. — interrompeu. — Preciso estudar. Mas sabe, se quer realmente agradecer por apoiar você e o professor Shin, então, por favor, não o machuque.

— Por que está dizendo isso?

— Eu não sei. Você nunca foi conhecido pelos seus relacionamentos duradouros, até onde me lembro.

— Mas com ele é diferente.

— Tomara que sim, porque eu sempre vi no professor uma pessoa muito triste. — dizia olhando direto para o irmão.— Mesmo nos dias em que ele chegava diferente, agitado e com um ar quase que de superioridade, ainda assim ele parecia triste.— o menor respirou fundo, afastando a tigela para frente devagar. Encostou na cadeira e continuou.—  Pessoas tristes se reconhecem, hyung. Mas depois de você, ele parece genuinamente feliz. Então, por favor, não estrague tudo.

— Quando diz que pessoas tristes se reconhecem, está falando de mim?

Nam ficou um tempo com o olhar fixo no irmão até soltar um riso baixo, quase que como um sopro.  

— Nem tudo é sobre você, hyung. Às vezes também é sobre mim. — se levantou, deixando o irmão mais velho sozinho na mesa.

A atitude mais acertada seria ir atrás do irmão. Ele acabava de fazer uma confissão das mais tristes para uma criança de doze anos, mas quando Hyungwon apagou o cigarro que já estava no fim e deu o último gole no café frio, seu telefone tocou em cima da mesa.

Papa, pensou sem tirar a atenção da tela. Considerou ignorar a chamada para conversar com o irmão, mas sabia que para o velho ligar diretamente para ele, algo ruim estava por vir.

Com isso, mais uma vez,  as dores e tristezas de Nam teriam que dar conta de se curar sozinhas.

*

Fazia algum tempo que Minhyuk não tentava isso. Essa era a maior razão de seu nervosismo agora, dentro de seu carro, com os vidros fechados e o celular na mão.

Após alguns minutos de preparo, levou o celular ao ouvido e depois dos toques insistentes daquela chamada, uma voz jovem masculina atendeu do outro lado da linha.

— Alô.

— Eh...Olá! Sou eu, o filho dos Lee da casa verde na esquina. — dizia um pouco sem jeito.

— Ah. Você. Tudo bem?

— Sim. — engoliu seco após a fala desanimada do rapaz. — Eu não sei se foi com você que falei da outra vez, mas eu pedi que avisasse aos meus pais que eu ligaria hoje e a essa hora. Eles não tem telefone em casa. Por acaso eles já chegaram?

Tudo o que Minhyuk escutou após a pergunta foi um incômodo silêncio. Tentando ser positivo, o michê queria acreditar que talvez aquele momento vago na linha se devesse ao fato de um de seus pais estarem se encaminhando para atender o telefone, mas quando alguém falou do outro lado, ainda era a mesma voz do funcionário da venda próxima a antiga casa de Minhyuk.

— Olha, os Lee não vieram a loja hoje.

— Mas você realmente avisou a eles sobre a minha ligação? — perguntava como se negando aceitar a realidade.

— Sim. Talvez tenha surgido algum imprevisto, mas…

—  Eles não estão.

— Não. — disse quase que em um lamento.— Se você quiser, eu posso pedir que te liguem quando um deles passar por aqui.— tentava ser amigável.  

— Não. — respondeu com a voz falhada. — Não precisa. Eu agradeço a atenção.

Desligou, colocando o celular no banco do lado e colando a testa no volante em um choro silencioso.

Não importava quantas vezes insistisse em fazer contato, seus pais nunca aceitariam a aproximação. Isso se deu desde o dia que a irmã mais nova contou para eles o que Minhyuk fazia em Seul. Ele nunca entendeu as razões para que ela fosse tão cruel a esse ponto, mas também não conseguia odiá-la, mesmo que ainda hoje, a jovem reforçasse aquele sentimento ingrato de revolta contra ele, evitando ao máximo o contato, mas ainda aceitando o seu dinheiro.

Minhyuk recebia e aceitava de volta as migalhas de atenção, porque ela era a única família que ele tinha por perto e talvez, ainda existisse em seu coração a esperança de que a irmã lhe pediria desculpas e tentaria consertar a relação entre ele e os pais.

Gostava de divagar sobre o dia em que poderia voltar para a sua antiga cidade sem que seus pais cuspissem próximo do seu pé como da última vez. Seria bom trazê-los a Seul e lhes mostrar a vida confortável que tinha e oferecer a eles o mesmo estilo, como forma de gratidão por terem o criado mesmo com tanta dificuldade.

Afastou o rosto do volante e secou as lágrimas olhando para o retrovisor. Embora a primeira missão não tivesse sido tão bem sucedida, havia uma segunda programada para aquele mesmo dia.

Com alguns produtos que tinha na bolsa, deu uma leve suavizada nas marcas que o choro deixou e após se acalmar, desceu do carro e entrou no teatro em frente onde estava. A recepcionista o recebeu com um sorriso tão amigável que Minhyuk se sentiu bem pela primeira vez naquele dia e isso lhe fez pensar sobre o quanto um sorriso e simpatia poderiam fazer tamanha diferença no dia difícil de alguém.

— Bom dia, eu vim pra audição da escola de balé.

— Você é um dos candidatos?

Minhyuk se deu um tempo, refletindo sobre aquela pergunta e sorriu dizendo:

— Não.

— Que pena. Você tem o biotipo de um bailarino.

— Eu sou um bailarino, mas não estou me candidatando a vaga. Vim para assistir alguém que está tentando entrar na companhia.

— E qual é o nome da pessoa ?

— Lee Soo Ha.

A recepcionista olhou para o computador e após conferir o nome de Sooha na lista e pegar os dados de Minhyuk, entregou uma pulseira de identificação para ele e lhe deu o acesso necessário para acompanhar as audições.

Quando entrou no espaço, por coincidência,  era o momento da apresentação da irmã.

*

Assim que entrou na luxuosa sala do velho Papa, a primeira coisa que sentiu foi o odor forte do charuto que impregnava o lugar e lhe sufocava junto com o nervoso do momento.

Hyungwon parou em frente a mesa dele, mantendo aquela postura ereta como a de um autêntico aristocrata.  O seu olhar altivo, analisou toda a sala, cruzando as vistas rapidamente com Jooheon, ao lado do patriarca. O traficante não parecia à vontade naquela posição, mas seu cargo lhe exigia ser co-partícipe desse momento, limitando as suas opções.

— Você sabe porque está aqui, Hyungwon? — Papa perguntou no silêncio da sala.

— Na verdade, não. — respondeu firme.

Jooheon abaixou a cabeça evitando olhar a reação do Papa que não falou nada por um curto período de tempo após aquela resposta dissimulada de Hyungwon.

O velho homem mordia o charuto pelo canto da boca sem tirar os olhos do michê. Se levantou e caminhou até mais perto, analisando o jovem de cima a baixo. Papa rodeou o michê e parou diante de seu rosto, ainda que sua estatura mediana o deixasse em uma ligeira desvantagem em relação ao anjo.

De forma provocativa, soltou a fumaça no rosto de Hyungwon que fechou os olhos e foi nesse rápido instante que a mão marcada da idade se levantou muito próximo da cabeça do michê e atingiu em cheio a bochecha. O som estalado daquele tapa ecoou pela sala e Jooheon ao ver a cena arregalou os olhos assustado.

— Os seus deboches não são engraçados quando me fazem perder dinheiro, seu merdinha metido a besta. — vociferou.  

Com a cabeça ainda virada, Hyungwon voltou o rosto para lugar aos poucos com a mão no local onde recebeu o tapa. Na boca, um gosto desagradável e metálico indicava que ela estava ferida e isso se devia ao machucado feito pelo anel de ouro do Papa ao se chocar com o seu rosto.

— Você largou um cliente no meio de um programa? — perguntava, recebendo silêncio.— No que estava pensando?!— gritou, pegando no pescoço do michê.

Em um reação instintiva, Jooheon andou até um pouco mais a  frente afim de livrar o michê das mãos de seu chefe, mas o velho soltou Hyungwon mais rápido do que ele esperava, evitando que o gerente também se complicasse com essa tentativa de ajuda.

— Você acha que é melhor do que os outros que estão aqui ?

Hyungwon mantinha o olhar cínico que vagava por todas as direções daquele espaço, com o objetivo claro de evitar os olhos do Papa.

—  Talvez  eu não tenha deixado explícito, já que é o meu anjo mais valioso no momento, mas  quando eu olho para você e os outros anjos, eu não vejo diferença alguma. Não importa se você nasceu em uma família rica ou se é apenas um miserável filho de agricultores como o Minhyuk.

Jooheon levantou os olhos ao ouvir o nome de seu anjo ser citado na conversa.

— Pra mim, tanto você quanto ele são as mesmas cadelas insignificantes.

Os punhos do gerente cerraram próximo da perna. A ofensa dirigida a Minhyuk irritava Jooheon.  O Papa continuou:

— A única diferença entre vocês, é que você é uma cadela com pedigree.— sorriu debochado.— Mas ainda assim, Hyungwon, você continua sendo uma maldita cadela adestrada sob as minha ordens e fazendo tudo o que eu mandar. — enfatizou o fim da frase batendo na mesa.

O corpo de Hyungwon deu um pequeno salto com o barulho. Após o tapa e aquelas palavras, manter a pose foi quase que um suplício. Ele estava tão humilhado que tentava apenas não chorar na frente do velho e lhe dar o prazer de o ver derrotado.

Somente o Papa falava e ele falava muito. Era como qualquer ditador que esbravejava seu discurso de ódio diante de um insubordinado e Hyungwon tinha a sua atitude subversiva lançada em rosto diante dos seguranças do Papa, de Taigo que estava ali por causa da presença de Jooheon e do próprio Jooheon que se sentia como qualquer traidor por não poder fazer nada para ajudá-lo.

Às vezes, os olhares dos dois se cruzavam, e Jooheon percebia o quão irritado ele estava com aquela situação, mas então, Hyungwon voltava a atenção para o Papa, ignorando a presença do traficante.

— Saia da minha frente. Eu não quero sequer cruzar com você nesses corredores hoje. Jooheon vai tentar consertar a merda que você fez. Então, esteja pronto para encontrar com esse cliente de novo e não espere que ele seja legal com você dessa vez.

Assim como entrou, Hyungwon saiu em silêncio e a impressão que tinha era que seus passos pareciam tão lentos, que a distância da mesa para porta parecia maior do que normalmente era. Fechou os olhos devagar e de costas para o Papa finalmente a lágrima represada caiu. Ainda teve tempo de ouvir o Papa dizer para Jooheon:

— Entre em contato com o cliente. Veja se ele ainda quer o Hyungwon. Se não quiser ofereça outro com o mesmo biotipo. — gesticulava com a mão que trazia o charuto. — Nessas horas seria bom ter o Minhyuk disponível.

Jooheon sentiu o corpo tremer ao ouvir aquilo.

— O que me faz lembrar que ele me perguntou ontem se o francês tinha feito algum contato comigo nesses dias. — se pôs pensativo. — Étienne parece que foi tragado pela terra. Não está falando com Minhyuk e também não me procurou pra avisar quando vinha para fecharmos a compra definitiva dele. Isso é estranho.

— De qualquer forma, não podemos oferecer o Minhyuk para esse cliente, Papa. Mesmo sem o contato do francês, ele ainda é parte do acordo. Devemos esperar. — Jooheon dizia um pouco tenso.

— Sim, eu estava apenas dizendo. Bom, ligue para o cliente e pergunte se ele gosta de mulher também e se disser que sim, mande duas, sendo uma por nossa conta. Eu não sei! Dê seu jeito para reparar essa merda toda. — olhava para o gerente que não respondia. — Não quero a imagem da minha boate sendo manchada por um moleque mimado. — dispensou Jooheon com as mãos.

Assim que se viu longe das vistas do Papa, Jooheon soltou um suspiro de alívio e pedindo que Taigo o esperasse na sala, saiu em direção aos corredores a procura do michê.  Pelo pouco tempo que conhecia aquele rapaz, ele já tinha uma vaga ideia de onde Hyungwon poderia estar.

*

A última cadeira ao final do teatro foi ocupada por um jovem de máscara cirúrgica. A ideia era manter o anonimato para não atrapalhar a irmã em sua apresentação.

O michê já esteve nessa posição antes, ele mesmo havia sido candidato a uma vaga na companhia no mesmo ano em que entrou na Heaven. Na verdade, foi para ser parte daquele corpo de balé que ele saiu de sua cidade natal para Seul. Minhyuk conseguiu a vaga, mas precisou abrir mão para buscar trabalho e pagar os estudos de Sooha.

Observar a irmã tentar uma vaga na companhia que um dia foi o seu maior objetivo, lhe trazia um certo conforto. Era como se ela pudesse viver o seu sonho e fazer com que tudo o que ele passou vivendo no submundo de Seul tivesse valido a pena, ainda que a própria beneficiada não fosse capaz de reconhecer isso.

Sooha estava linda em suas roupas de ensaio. Escolheu dançar contemporâneo ao som de Anthemoessa de Amethystium. Os movimentos eram precisos e Minhyuk se orgulhava tanto dela agora, amadurecida na casa de seus vinte e poucos, soando a todos como a excelente profissional que era.

O mais velho não podia perceber suas expressões da distância em que estava mas torcia para que ela estivesse dando o melhor de si nesse quesito, visto que era uma de suas maiores fraquezas na dança.

Sooha não conseguia dissimular. E assim como era fora dos palcos, onde a aversão a vida que Minhyuk levava a motivava a se afastar e desprezá-lo, era também na dança, não conseguindo disfarçar o próprio nervosismo.

A coreografia soava perfeita e com a música lenta e comovida, Minhyuk sentia seu coração palpitar de orgulho e seus olhos marejaram. A canção falava sobre qualquer coisa relacionada a mitológica ilha de Anthemoessa, berço das sirenas ou sereias que encantavam os que ouviam o seu canto. E era assim que estava Minhyuk, hipnotizado pelo talento da irmã.

Era chegado o ápice da dança, mas quando Sooha se preparou para fazer um de seus movimentos, perdeu o controle da respiração e como uma dançarina iniciante, algo que ele não era, caiu no centro do palco, ficando ali parada, com as mãos apoiadas no chão, respirando forte e olhando para ele, enquanto  a música prosseguia tocando ao fundo.

— Se levante. —  Minhyuk sussurrou de onde estava. — Se levante daí, Sooha. —  prosseguia em um pedido agoniado. — Não desista.

A visão da bailarina se turvou. Tudo o que conseguia ver adiante era o embaçado das lágrimas. A música parou e ela se levantou olhando para a banca julgadora e os demais bailarinos que concorriam à vaga com ela. Olhou mais adiante e viu no fundo a imagem irreconhecível de um estranho solitário, sentado na última cadeira da última fileira.

O técnico de som aguardava apenas a autorização dela para soltar a música mais uma vez, mas Sooha abaixou a cabeça, pegou sua bolsa jogada no canto do palco e saiu correndo para as coxias, desistindo de tudo.

Minhyuk pensou em ir atrás dela, mas sabia que seria uma péssima ideia. Talvez ela o odiaria ainda mais se soubesse que ele a viu fracassar em algo que ele havia ido bem em outros tempos. Mas por um único instante, ele queria que toda aquela realidade fosse uma mentira e que sua irmã ainda o amasse para que ele pudesse agora apenas a abraçar, dizendo a ela que tudo ficaria bem.

*

— Você não deveria estar a essa hora me vendendo para aquele cliente nojento? — Hyungwon perguntou a Jooheon quando ouviu o som da porta da cobertura se abrir.

O traficante se aproximou do michê que fumava olhando para a cidade movimentada abaixo de si e com o pensamento longe.

— Peguei isso no bar. Coloque na boca. Vai diminuir o inchaço.—  Jooheon passou uma bolsa de gelo improvisada para as mãos de Hyungwon.

— Que gentil.

— Posso? — pediu o cigarro e após Hyungwon passar para ele, Jooheon deu uma tragada suave antes de continuar a dizer.— Eu não vou te oferecer para aquele cliente. Nem você e nem ninguém. — soltou a fumaça.— A única coisa que pretendo oferecer é um bom valor em dinheiro e torcer para que ele aceite.

— Isso pode te prejudicar com o Papa.

— Eu me viro com ele depois.

Os dois ficaram em silêncio um tempo com apenas as buzinas fazendo trilha ao fundo.

— Você pode me proteger agora, mas não poderá me proteger pra sempre. —  dizia com a bolsa encostada no canto da boca e sem olhar para o traficante. — Não pode defender todos os anjos, então, de alguma forma, você também acaba sendo parte desta exploração sexual que acontece aqui.

Apenas o som do papel queimando se escutava e Jooheon parecia refletir sobre as palavras do michê como se assimilando a cruel verdade contida nelas.

— Você é o braço direito daquele velho. E ainda que tente nos ajudar, existem coisas que vão além da sua capacidade. Quer um exemplo? —  Hyungwon colocou a bolsa na mureta e se encostou, ficando lado a lado de Jooheon. — Minhyuk não tem mais um patrocinador e você ouviu o velho dizer o quão insignificantes nós somos. Pense um pouco, Jooheon, você já deve ter uma ideia do que vai acontecer  com Minhyuk quando o Papa se der conta que o Étienne não vai mais voltar.

Jooheon coçou a cabeça com um dos dedos livres e suspirou mantendo o silêncio reflexivo.

— Se você tem um plano para tirar o Minhyuk daqui, eu sugiro que comece a agir desde agora. —  se virou de volta para a frente da cidade. — Se não tiver...é bom pensar em algum. — pegou a bolsa de gelo e encostou no rosto mais uma vez.— Conte comigo se precisar de dinheiro pra isso. 

O ambiente de repente se converteu em uma total melancolia. Hyungwon colocou para tocar no celular a gravação amadora que fez de “Silhoutte” e tentava curar as lembranças daquele tapa, mesmo sabendo que dificilmente esqueceria aquilo como a pele um dia deixaria de se lembrar da dor.

A sensibilidade das notas ao piano, de alguma forma também tocavam o coração de Jooheon naquela sensação agoniante de que ainda que tivessem se livrado do maior problema de Minhyuk, outro igualmente pior poderia estar à caminho.

*

Com o final daquele dia, Jooheon deixava os sapatos na entrada do apartamento com a música do pianista ainda se repetindo na cabeça. Se não fosse a enxurrada de pensamentos que o invadia e a quantidade de coisas que aconteceram naquele dia, teria falado para Hyungwon convidar Hoseok para um programa de casais. Adoraria dizer a ele pessoalmente o quanto “Silhouette” era bonita e sensível.

Chamou o nome de Minhyuk mas ele não respondeu. Andou devagar até o quarto e o encontrou encolhido em cima da cama apenas com uma luz fraca, vinda de fora refletida no rosto. Ele sequer piscava com os pensamentos tão distantes.

A mente estava nos pais que o ignoravam, na irmã que naquele momento devia estar sofrendo sozinha e nele mesmo com a sua impossibilidade de mudar aquele cenário.

Sentiu a cama afundar atrás de si, mas não se mexeu. Os braços de Jooheon passaram devagar pela cintura e seu corpo se acomodou ao do michê ainda de costas para ele.

Nenhum dos dois dizia nada, embora a mente de ambos trabalhasse muito naquele instante. Jooheon sabia que havia algo de errado, mas escolheu deixar Minhyuk em paz com o seu silêncio. Talvez pudessem permanecer ali, aninhados até pegarem no sono juntos, mas apesar de não querer causar outros motivos para entristecer o seu anjo, ainda precisava fazer algo que considerava justo. Foi quando em meio ao silêncio do quarto, Jooheon começou a dizer:

— Minhyuk...eu preciso te contar uma coisa.—  não conseguiu terminar de falar pois o celular do outro tocou no mesmo instante.

Com um movimento leve, Minhyuk se levantou na cama e esticou o braço para pegar o celular no criado mudo.

— Oi, Woonie. — disse um pouco desanimado.

— Você está perto do Jooheon?

— Sim. —  respondeu, estranhando a pergunta.

— Minhyuk, o Lucien está morto. — disse de uma vez.  

O rosto do michê se converteu em surpresa e no mesmo instante se virou para a cama onde Jooheon estava.

— Como...você soube disso? — perguntava a Hyungwon no telefone, olhando para Jooheon, que franzia o cenho, estranhando o comportamento de Minhyuk.

—  Você sabe que eu tenho amizade com a recepcionista. Pelo que soube, ele foi encontrado desacordado dentro do quarto com um corte profundo na cabeça. Já estava começando até a feder. A polícia está no local, mas o pessoal da administração está fazendo de tudo pra isso não vazar para a imprensa. O que pra gente é muito bom.

— Como assim? O que nós temos a ver com isso?

—  Talvez mais do que a gente imagine. Eu estive lá ontem e vi o Taigo no hotel.

O coração de Minhyuk batia forte e ele se sentava na ponta da cama devagar.

— Não sei se existe algum tipo de conexão, Minhyuk, mas eu acho que você deveria conversar sobre isso com o Jooheon.

— É exatamente o que eu vou fazer.

— Min, é pra conversar e não discutir. Além do mais, se ele tiver responsabilidade nisso você sabe que foi apenas para te proteger.

— Eu te ligo de volta.—  desligou sem sequer dar a chance de Hyungwon se despedir.  

—  Minhyuk? — o traficante se aproximou do michê que afastou o corpo como se repelindo o contato.

Jooheon não teve uma reação imediata diante daquilo e após algum tempo, deu a volta na cama e parou de frente para Minhyuk.

— O que aconteceu? — ele perguntou notando o clima pesado.

Minhyuk levantou os olhos que mostravam tristeza e decepção

— O que você tem? — se abaixou, tocando o rosto dele com as mãos e dessa vez ele não repeliu o toque.—  Eu fiz alguma coisa errada ?

— É isso que eu preciso saber, Jooheon. — a voz rouca denunciava o nó na garganta. — Que porra você fez?

— Do que tá falando, caralho?—  começava a perder a paciência.

— O Lucien está morto. —  respondeu com a mesma grosseria.

Jooheon se afastou devagar, ainda encarando seus olhos coléricos e tristes.

Minhyuk esperava ver nele alguma reação que confirmasse ou não que era ele o responsável por esse crime, mas o seu rosto se resumia a uma expressão indiferente e que não dizia absolutamente nada.

— O Hyungwon viu o Taigo no hotel ontem.— se levantou e se aproximava de Jooheon como se pudesse o intimidar com aquilo.— O que você tem a me dizer sobre isso?

— Minhyuk...— Jooheon tentou dizer.

— O que você fez, Jooheon?— gritou no rosto dele, batendo em seu peito repetidas vezes.

Segurando as mãos do michê e o prendendo em seus braços, Jooheon tentava conter aquele ataque de fúria do seu anjo.

— Você me prometeu! — ele dizia, tentando se desvencilhar de seus braços.

— Minhyuk, me escuta…

— Era isso que você iria me contar agora a pouco, não é?! Você mandou o seu cão de guarda matar uma pessoa no seu lugar. — o michê fez força e após conseguir se soltar, empurrou Jooheon para longe.

Se deu um tempo, mantendo uma das mãos no rosto e com a outra pedia para que o traficante não se aproximasse.

— Então, é isso? —  disse baixo secando as lágrimas. — Jooheon, você... mentiu pra mim?

E quando o traficante ouviu a voz sofrida de seu anjo lhe perguntando aquilo, foi como ter o coração partido em mil pedaços.

Jooheon havia cometido muitos pecados ao longo da vida, mas certamente, ver Minhyuk chorar por sua causa lhe parecia agora ser o maior de todos eles.

 


Notas Finais


Ai gente...olha a treta.

Agora pergunto a vocês, será que o Jooheon fez isso mesmo?

As coisas estão indo bem pra eles dois, o Honey não pode cagar as coisas, né...por favor! Vamo tomar um chá de camomila pra ver se acalma um pouco esses ânimos aí... kkkkkk

Vou deixar vocês uma semana teorizando sobre como isso aí vai terminar.

Abaixo, segue a musiquinha que a Sooha dançou na audição:

Amethystium - Anthemoessa: https://www.youtube.com/watch?v=txF-nWwj0M4

Até semana que vem, amores! E um beijo especial para os membros do Monbepxtxs, esses ícones que a cada comentário ou me matam de chorar ou me matam de rir ...kkkkkk

😘❤️


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