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História Anne with an E - continuação da série - Corações em jogo - As verdades do coração


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá, queridos leitores. aqui está o capítulo esperado. Espero pelos comentários como incentivo. Obrigada por tudo. Desculpem qualquer erro ortográfico. Beijos.

Capítulo 49 - As verdades do coração


Fanfic / Fanfiction Anne with an E - continuação da série - Corações em jogo - As verdades do coração

ANNE

O sol da manhã atingiu em cheio o rosto de Anne, que gemeu baixinho ao sentir a claridade incomodar seus olhos. Sua cabeça estava tão pesada que ela não conseguia mantê-los abertos.

O que tinha acontecido para se sentir tão mal assim? Ela se perguntou. Será que tinha bebido de mais na noite anterior e não se lembrava? Parecia ser o mais provável, pois a sensação que tomava conta dela se assemelhava a uma bela ressaca. Ela nunca fora de consumir bebida alcoólica, e raramente se permitia um copo de vinho, mas ela se recordou que tinha marcado de sair com Cole no dia anterior. Talvez tivessem se empolgado por algum motivo e exagerado na bebedeira. Não duvidava muito que se caminhasse pela casa, encontraria o amigo esparramado no sofá da sala.

De repente, ela sentiu a boca seca, e pensou que um copo de água gelada lhe cairia muito bem. Entretanto, ao afastar as cobertas devagar e tentar se levantar, braços fortes envolta de sua cintura a impediram, e intrigada Anne olhou para o lado, arregalando os olhos ao ver Gilbert deitado ao seu lado, seu rosto enterrado em seus cabelos.

O que era aquilo? Um Dèjá Vu? Parecia que tinha voltado no tempo bem naquela noite em que tomara um porre de vinho, e acabara no apartamento de Gilbert, só que desta vez estavam no apartamento dela, e ela não compreendia como ele viera parar na cama dela.

Ela forçou a mente que se recusava a despertar da névoa de letargia que a preenchia completamente, mantendo-se vazia para qualquer tipo de acontecimento que ocorrera fora daquele quarto e daquele momento, mas então, como se tivesse levado uma descarga elétrica, tudo o que seu subconsciente tentava manter escondido dela veio a torna como um tornado arrasando com sua calma aparente.

O incidente do elevador estava tão vívido em sua memória que ela começou a tremer sem perceber, enquanto o choque e o terror a faziam se encolher na cama, como se dessa forma ela pudesse se esconde da ameaça que pairava no ar como uma nuvem escura sobre sua cabeça.

Seu movimento involuntário despertou Gilbert de seu sono, e ele olhou para ela preocupado ao ver seu rosto transtornado como na noite anterior. Ele tocou seu ombro com cuidado e perguntou:

- O que foi, Anne? - ela fechou os olhos e balançou a cabeça, tentando afastar a imagem do elevador caindo de sua cabeça, e depois as palavras aterrorizantes que a deixaram apavorada.

Para tentar acalmá-la, Gilbert a puxou para os seus braços, e ela aninhou sua cabeça no peito dele enquanto ele a embalava feito uma criança, falando baixinho palavras de conforto que faziam maravilhas aos seus nervos abalados.

Não demorou muito, e Anne percebeu a posição em que estava ali na cama agarrada a Gilbert, vestindo uma camisola transparente que mal chegava as suas coxas, enquanto Gilbert sem camisa, exibia sua nudez da cintura para cima. Ela espalmou as mãos no peito dele, correndo as mãos pelo rastro de pelos escuros que continuavam bem abaixo do abdômen que a calça jeans escondia. Anne ia continuar sua viagem pelo corpo masculino, quando Gilbert afastou as mãos dela, se levantou da cama e disse apressadamente:

- Vou fazer um chá.  Você precisa se hidratar.

Anne suspirou ao lembrar de seu ato impensado de minutos atrás. O que dera nela para tocar Gilbert daquela maneira sem a permissão dele? Depois pensou amargurada, que quando estavam juntos ela podia tocá-lo o quanto quisesse que Gilbert jamais reclamava e até pedia por mais, porém, agora ele parecia não suportar ficar perto dela, como se ela tivesse uma doença contagiosa e precisasse ser mantida longe dele.

Gilbert a estava castigando, e ela bem que merecia, mas, já não tinha sido o suficiente? Quando ele olhava para ela, Anne ainda conseguia ver a velha chama em seu olhar, mas ele era tão cabeça dura e teimoso, que insistia em sufocar o próprio desejo para vê-la implorando por seu perdão.

Esse era um novo Gilbert que estava se apresentando a ela, e Anne nunca tinha visto esse traço de teimosia nele antes. Na verdade, esse papel sempre tinha sido dela, e parecia que Gilbert tinha adotado essa característica para ele apenas para afrontá-la.

Ah, como ela queria fazê-lo despir aquela armadura de orgulho que ele resolvera encarnar somente para provar a ele que ambos ainda se queriam do mesmo jeito. Anne adoraria vê-lo se derreter por ela novamente, e fazer amor com ela do jeito que ele a fazia se sentir viciada por cada beijo de paixão que trocavam. Ela tinha sido burra por deixá-lo ir, mas agora queria-o de volta.

Não era um capricho, ela realmente o amava como sempre o. amara por toda sua vida. E sem vergonha nenhuma usara o pedido de noivado de Francesco para provocar Gilbert, e o tiro saiu pela culatra. Ele levara aquilo tão a sério que se afastara dela definitivamente, e trazê-lo de volta ia lhe dar um trabalhão. Na verdade não sabia muito bem o que fazer, nunca tivera que reconquistar um homem antes, e não tinha muito jeito para mulher fatal. Nunca se preocupara em se graduar na área da conquista, porque os namoros que tivera eram sempre por iniciativa do sexo masculino, ou seja, nunca tivera que mover um dedo para que tivesse a admiração de um homem, e tinha que ser Gilbert a forçá-la a ir por aquele caminho.

Mas, ele valia a pena, não valia? Ela disse para si mesma enquanto avaliava suas chances de tê-lo de novo em sua vida.  Foi só olhar para ele em sua cama naquela manhã para reconhecer o quanto Gilbert era sexy. Ela não se lembrava de ter notado isso nele quando eram adolescentes, e olha que naquela época Anne já lia certos romances picantes que lhe davam uma boa ideia de como avaliaria um garoto atraente, mas talvez por ter visto Gilbert como amigo boa parte de sua vida, quando seus sentimentos mudaram não foi possível para Anne enxergá-lo além da atração que sentia por ele. Porém, os anos em que passaram separados refinaram muitas coisas a respeito de Gilbert, tornando-o muito mais interessante aos olhos dela do que tinha sido desde então. E estava claro, que um bando de mulheres tinha a mesma opinião, Anne pensou com raiva, e Gabriela com certeza não era a única que arrastava um caminhão por ele naquele hospital, considerando que era muito maior do que o de Charlottetown, o número de admiradoras seduzidas pelo charme do Dr. Blythe deveria ser triplicado e elevado ao cubo.

Anne não queria admitir que estava temerosa de perder Gilbert para a bonita e sofisticada Dra. Gabriela. Os dois tinham muito em comum, principalmente a profissão, e apesar de sua fama e dinheiro, a ruivinha se sentia inferior, pois pensava que não se encaixava mais nos padrões de mulher certa para Gilbert. Ele estava em um patamar tão diferente do dela por questões que ela própria deixara acontecer, que somente conseguia racionalizar como Gabriela preenchia todos os requisitos necessários para ter Gilbert ao seu lado para sempre.

Mas, Anne estava decidida a não perdê-lo. Ela podia não ser um poço de inteligência como Gabriela, mas ela podia compensar sua ignorância em certos assuntos com sua criatividade e imaginação, e isso ela tinha de sobra.

Sentindo-se mais segura, Anne foi tomar banho, depois se vestiu com cuidado e colocou um par de shorts branco e justo que realçava suas pernas torneadas, e uma blusa azul de malha com as mangas cavadas que modelava suas formas de maneira bastante feminina. Ela deixou os cabelos soltos, e cruzou o espaço entre o quarto e a cozinha descalça, onde encontrou Gilbert preparando o café.

Ele continuava sem camisa, e Anne engoliu em seco ao olhar para a figura dele de costas, cada movimento destacando os músculos salientes daquela região. Gilbert a olhou assim que ela entrou no pequeno espaço que ele ocupava naquele momento, e Anne percebeu que ele mordeu o lábio inferior enquanto corria seus olhos pela figura dela.

- Está melhor? – Ele perguntou, assim que ela foi até a geladeira pegar um pote de geleia e um pacote de torradas no armário.

- Estou sim. Desculpe o trabalho que devo ter te dado durante a noite. - Anne respondeu, se sentando à mesa e cruzando as pernas. Ela viu o olhar de Gilbert descer por suas coxas expostas, e riu internamente ao perceber que ainda conseguia afetá-lo daquela maneira.

- Não foi trabalho nenhum, Anne. – Ele disse dando-lhe as costas novamente, evitando olhar para Anne, fato que a deixou chateada, enquanto pensava como Gilbert era teimoso, mas, ele não ia fugir dela daquele jeito, pois faria com que ele prestasse bastante atenção nela naquele momento.

Ela se levantou da mesa e foi pegar uma xícara de chá na pia da cozinha. Propositalmente, ela passou perto de Gilbert e deixou seu corpo roçar no dele de leve, fazendo-o retesar o músculos, mostrando a ela o quanto estava tenso com aquela situação.

Anne voltou a se sentar na mesa, e dessa vez Gilbert a acompanhou, observando atentamente todos os movimentos dela com o canto do olho, mas não a encarava diretamente. Ele se serviu de uma xícara de café, enquanto Anne tomava o chá de camomila que ele lhe preparara.

- Agora vai me contar o que te aconteceu ontem para te deixar daquele jeito? - Gilbert perguntou assim que ela tomou o último gole de chá. Anne sentiu seu coração se acelerar pela lembrança do que acontecera, mas disfarçou seu mal-estar dizendo:

- Não quero falar sobre isso.

- Por que não? Se precisa de ajuda eu quero saber. Não esconda as coisas de mim, Anne. - Gilbert disse com uma voz tão suave que fez Anne olhar para ele.

Naquele rosto lindo, havia preocupação por ela, e uma outra emoção que ela queria acreditar que fosse amor. O mesmo que se agitava dentro dela naquele momento, e que a fazia desejar nunca mais sair da segurança dos braços de Gilbert.

- Eu não estou escondendo nada. - ela disse de maneira evasiva. Não queria estragar aquele momento com Gilbert falando de algo que somente lhe faria mal.

- Eu te conheço e sei que não está falando a verdade. Do que tem medo, Anne? Me diga para que eu possa te ajudar.

Do que ela tinha medo? Ela pensou na pergunta e descobriu que havia muita coisa que a assustava, mas, do que mais tinha receio era nunca mais ver o rosto de Gilbert tão amado ali na sua frente, de não ouvir a voz dele mesmo quando ele usava seu tom frio para falar com ela, de ver o sorriso dourado que embalava muitas vezes seus sonhos durante a noite. Ela tinha um medo terrível que ele fosse embora para longe, e que ela deixasse em algum momento de significar algo para ele, e nem mesmo a ameaça que estava tão perto dela agora conseguia assustá-la mais do que Gilbert deixar de amá-la.

Porém, estava claro que não diria aquilo tudo para ele, não queria que ele soubesse que sua única fraqueza era ele próprio, e que nada a arrasaria mais do que perdê-lo para sempre. Em vez disso ela disse:

- Não estou com medo de nada. Acho que foi apenas estresse do trabalho e dessa vida social maluca da qual ando participando. - ela tentou parecer casual enquanto falava aquelas coisas, e viu Gilbert abrir a boca para dizer algo, mas ele mudou de ideia e apenas se limitou a perguntar.

- O seu noivo te trata bem, Anne?

- Por que quer saber? - ela respondeu com outra pergunta.

- Por que eu quero entender se o seu estado de ontem tem a ver com seu noivo de alguma maneira.

- Fique tranquilo, Gilbert. Francesco é um cavalheiro, e sempre me tratou com respeito. - ela só não disse que estava desconfiada que seu noivo tivesse duas faces, e não sabia se lhe agradaria ficar cara a cara com a que ele ocultava dela.

- Bem, mas você sabe que pode contar comigo, não é? Sou seu amigo e jamais te abandonaria em uma situação ruim. – Anne quis gritar quando ouviu-o dizer a palavra amigo. Não conseguia nem dizer em voz alta a raiva que aquilo lhe provocava. Ela se levantou da mesa em um salto, largou Gilbert sozinho na cozinha, e foi se refugiar no quarto, mas, logo foi seguida por ele que não engoliu sua súbita e intempestiva saída, e foi atrás dela para exigir explicações.

- O que foi que eu disse de tão errado para te deixar brava dessa maneira? - Anne, que estava de costas se virou olhando Gilbert nos olhos, e perguntou a si mesma como ele não percebia os sentimentos dela tão às claras, refletidos em seu rosto. Será que teria que falar com todas as letras para que ele pudesse entender?

Anne venceu o espaço entre eles, enlaçou-o pelo pescoço, beijando Gilbert exatamente como estava louca para fazer desde que acordara aquela manhã, e descobrira que ele dormira a noite toda a seu lado.

Ao sentir os lábios femininos sobre os seus, Gilbert gemeu baixinho, empurrando Anne até imprensá-la contra a parede, e colar seu corpo no dela impedindo-a de escapar. Mas, fugir era a última coisa que passava pela cabeça de Anne, pois por ela ficaria assim com Gilbert o resto da vida. Ele desceu as mãos pelas laterais do corpo dela, até alcançar os quadris estreitos de Anne e os puxar contra os seus, fazendo com que Anne desse um impulso, e entrelaçasse suas pernas na cintura dele, enquanto o beijo continuava, e Gilbert parecia estar em um controle precário de suas emoções, assim como Anne.

Caminhando pelo quarto, ele a levou até a cama onde deitou Anne e cobriu o corpo dela com o seu, subindo um pouco a blusa dela e acariciando o abdômen liso e macio da ruivinha. Porém, quando sentiu as mãos dela no zíper de sua calça, ele levantou a cabeça e a impediu de continuar. Anne olhou-o confusa ao notar que ele havia interrompido os carinhos que trocavam sem pudor, e se levantava passando as mãos pelos cabelos, então, ele disse olhando-a ainda deitada na cama.

- Eu juro que tento te entender, Anne, mas não consigo.

- O que quer dizer com isso, Gil? - ela usou o apelido que sabia que ele gostava.

- Eu apenas gostaria de saber o que você realmente quer. - Gilbert disse olhando-a seriamente.

- Eu pensei que estivesse óbvio. – Anne disse insegura pelo tom que ele usara ao falar com ela.

- Não para mim. - ele respondeu, Anne tomou coragem e disse exatamente o que se passava em sua cabeça.

- Eu quero você. – ele olhou-a com espanto, e depois sorriu. Não era um sorriso cheio de alegria como Anne pôde observar, e sim um sorriso cheio de ironia que fez seu coração gelar.

- Você é inacreditável, Anne. Meses atrás quando voltei da Alemanha, disposto a tudo para te reconquistar, você atirou meu amor na minha cara, e disse que não podia mais confiar em mim. Depois, no seu aniversário, mesmo sabendo o quanto me faria sofrer, você fez questão de aceitar o pedido de noivado de outro homem bem na minha frente, e agora que estou finalmente conseguindo reconstruir minha vida, você diz que me quer.  Sinto dizer, mas, não acredito nisso. - o jeito de Gilbert falar foi duro e Anne quis desesperadamente que ele acreditasse nela quando disse:

- Mas, é verdade cada palavra que eu disse. Desculpe-me se te magoei, eu estava confusa e nem sabia o que estava fazendo direito. Eu sei que fui caprichosa, e agi como uma criança mimada, mas estou disposta a recomeçar se você quiser.

- Sinto muito, Anne. Não vai ser assim tão fácil.  Você não sabe o inferno que me fez passar, e não vou cair de novo no meio desse redemoinho que tende somente a me puxar para baixo – ele pegou a camisa que deixara em cima da cadeira no quarto e a vestiu.

- O que está fazendo, Gilbert? Não pode ir embora assim.- ela disse desesperada ao ver que o médico pegava as chaves do carro em cima do criado mudo.

- Eu tenho uma vida lá fora, e um emprego me esperando. Não posso ficar aqui satisfazendo seus caprichos. – Ele se encaminhou para a porta e Anne ainda tentou detê-lo dizendo:

- Gilbert, não vá embora.  Eu te amo. – Ele parou de repente, ao ouvir as palavras dela, se virou devagar e respondeu:

- Então, terá que fazer por merecer. - ele se virou novamente saindo do quarto e deixando-a sozinha com os olhos marejados e o coração se contraindo de dor.

 

GILBERT

Gilbert entrou no carro e encostou sua cabeça no volante, respirando fundo. Nunca em toda sua vida tinha feito algo tão difícil quanto deixar Anne naquele momento. Nem mesmo quando fora para a Alemanha sem ela, ele sentira aquela agonia profunda.

Se seguisse seu coração, estaria naquele quarto naquele mesmo instante fazendo amor com ela até que se sentisse completamente exausto e saciado da saudade que sentia do gosto da pele dela, e de seu toque de fogo.  Gilbert sabia que Anne não o teria impedido, pois ela deixara bem claro que queria aquilo também, e no fim ele sairia magoado, pois com certeza depois que ela tivesse conseguido o que queria dele, voltaria para o noivo como se nada tivesse acontecido, e só lhe restaria curar suas feridas bem longe dali.

Anne acabaria deixando-o louco, se não tomasse cuidado. Ainda bem que seu bom senso não o abandonava nesses momentos tão críticos, impedindo-o de fazer a besteira que seu coração ordenava que ele fizesse. Gilbert ainda a amava, mesmo que escondesse muito bem o que sentia dela, mas, não podia ceder ao seu desejo por ela, não era certo e nem decente.

Mas, só Deus sabia como fora difícil para ele resistir aquela manhã quando ele a abraçara para acalmá-la, e as mãos dela deslizaram sobre seu corpo. Ele fugira para a cozinha como um último recurso para não agarrá-la ali mesmo. Não passara a noite ali para seduzi-la e nem ser seduzido. Sua única preocupação fora cuidar de seu bem-estar físico e mental, mas, ele deveria saber que ele e Anne sozinhos no mesmo espaço jamais daria certo. A palavra amizade não funcionava mais com eles, e sempre acabariam em uma situação que os faria expor seus sentimentos mesmo sem querer.

Gilbert sabia que tinha sido duro com ela mais uma vez, mas não tivera saída. Ela o provocara tanto que se ele não tomasse uma atitude, os dois estariam rolando pelos lençóis e depois ele se odiaria por ter cedido aos seus instintos.

Desde que saíra do quarto e fora até a cozinha após acordar, Anne fizera de tudo para deixá-lo maluco. Seu cruzar de pernas intencional fizera os olhos de Gilbert enxergarem bem mais do que era prudente, e seu roçar de pele quando ele estava de costas perto da pia da cozinha, deixara Gilbert a ponto de gemer alto.

E então acontecera o beijo no quarto, que o pegara de surpresa e sem que percebesse ele baixou a guarda que o estava protegendo das investidas dela, e acabaram na cama onde era o último lugar onde deveriam estar. Por pouco não a despira inteira, e a tornara sua como antigamente, pois a queria tanto que seu corpo o impedia de raciocinar. Não sabia como conseguira encontrar forças para negar o que Anne queria, e também não compreendia como conseguira ficar indiferente quando ela dissera que o amava. Gilbert esperara que ela dissesse aquilo por meses, e agora que tinha acontecido, Gilbert fora forçado a ignorar.

 Ele tivera que se lembrar que ela ainda tinha compromisso com outro homem, e assim como ela não queria dividi-lo com a Medicina, Gilbert jamais aceitaria que outro homem também a tivesse além dele.

Ele levantou a cabeça, ligou a chave do carro e dirigiu até seu prédio, Assim que o elevador parou em seu andar, ele abriu a porta do apartamento e foi direto para o chuveiro tomar um banho frio, tentando apagar de sua mente seus momento ardentes com Anne naquele manhã.

Porém, ela insistia em atormentar suas lembranças, tanto que ele não conseguia se concentrar. Ele tivera que ralhar consigo mesmo para deixar de lado o apelo de seu corpo, e dar mais ouvido à sua razão.

Gilbert saiu para correr, tentando gastar toda a energia acumulada dentro de si, depois, tentou estudar um caso difícil de um paciente do hospital que precisava de um diagnóstico urgente, mas sem avisar, o rosto de Anne surgia em sua mente e os olhos dela cheios de desejo o faziam arfar.

Inquieto, ele foi até a geladeira, tomara um copo de água gelada, e depois se atirou no sofá de olhos fechados. O que teria que fazer para arrancar Anne de dentro de si? O que mais teria que fazer para que pudesse viver sua vida em paz? Toda vez que achava que ela não estava mais lá, ela ressurgiu e colocava de pernas para o ar todos os seus planos de esquecê-la completamente.

Ela dissera que não era um capricho, mas poderia confiar nela? Ele sacudiu a cabeça com força, tentando colocar seus pensamentos no lugar. Não podia viver à mercê do que Anne desejava ou deixava de desejar. Precisava dar um rumo a sua vida como vinha pensando nos últimos tempos. Ele precisava convencer a si mesmo que todo seu caso com Anne tinha se acabado, e se havia uma coisa naqueles meses todos que aprendera era que precisava deixar para trás seus sonhos de adolescência.  O homem que era agora não tinha mais nada a ver com o rapaz que fora no passado, e sua única missão era salvar vidas de pessoas que realmente precisavam dele, e deixaria que o noivo de Anne cuidasse dela, se a ruivinha tivesse um outro surto. No que lhe dizia respeito, seu futuro estava indo na direção contrária de tudo o que desejara para si mesmo um dia, e era muito melhor assim.

Ele resolveu tirar um cochilo, pois seu turno no hospital começaria às quatro horas, e tinha pelo menos cinco horas pela frente de descanso. Gilbert conseguiu dormir por três horas, as duas horas restantes ele utilizou para organizar seu apartamento, e quando finalmente tudo estava limpo e em seus devidos lugares, ele tomou outro banho, se vestiu e foi para o trabalho.

Seu turno naquele domingo estava calmo demais, o que o desagradou profundamente, pois sobrava-lhe tempo para pensar, e não estava disposto a lutar contra seus pensamentos inquietantes naquele dia.

Gabriela veio falar com ele quase na hora de sua pausa para o jantar e ela notou sua agitação assim que colocou seus olhos sobre ele.

- Turno difícil? - ela perguntou simpática na porta do consultório de Gilbert.

- Na verdade não. Está até calmo demais para o meu gosto. - ele respondeu sem sorrir.

- Então, por que parece que você está preocupado com alguma coisa? - Gabriela perguntou, sentando na cadeira do paciente de frente para Gilbert.

- Será que você tem tempo para lanchar comigo? Acho que preciso desabafar ou vou explodir. - ele disse passando a mão nervosamente pelos cabelos.

- Claro, vamos lá. – Gabriela disse se levantando de onde estivera sentada.

Em questão de minutos ambos estavam sentados na cafeteria do hospital, e esperavam pelos seus pedidos.

- Então, Gilbert. Me diga o que o aflige? - Gabriela perguntou se ajeitando na cadeira.

- A mesma coisa que tem sugado todas as minhas energias todos esses meses: Anne. - ele confessou.

- O que aconteceu dessa vez? - Gabriela perguntou interessada na história de Gilbert. Assim, ele contou tudo o que acontecera entre ele e Anne desde o dia anterior até aquela manhã.

- Você acredita que ela teve a coragem de dizer que me ama- ele estava indignado ao dizer isso.

- Ela finalmente se declarou? E vocês se acertaram no final? - Gabriela perguntou tomando seu café expresso.

- Na verdade não nos acertamos. - Gilbert disse sério sem encarar a moça.

- Mas, como assim não se acertaram? Você não gostou da confissão de Anne?

- A questão não é essa. - Gilbert respondeu. 

- É qual é então?

- Anne continua noiva de Francesco Agipi.

- Só me responde uma coisa. Você a ama ou não? - Gabriela perguntou colocando a xícara de café sobre a mesa.

- Com todo o meu coração. – Gilbert disse com sinceridade.

- Então, você sabe o que fazer. – Gabriela concluiu.

-  Gabriela, não posso deixar que Anne brinque assim comigo. Eu fiz tudo o que podia pelo nosso relacionamento, e ela sequer me deu uma chance.

- E você quer fazer a mesma coisa com ela. -

- Não, eu só acho que se ela me quer mesmo, terá que lutar por isso. - Gilbert por fim disse.

- Vocês são dois adultos, e agem como duas crianças birrentas. Eu sei que é difícil para você perdoar Anne depois de tudo o que ela te fez sofrer, mas, vocês não podem simplesmente conversar e acertar as coisas?

- Talvez. – Gilbert disse incerto. Gabriela estava certa, mas mesmo assim, ele não facilitaria as coisas para Anne. Ela o machucara muito, e ele não se permitiria sangrar por ela novamente.

- Gilbert, eu só tenho uma coisa a te dizer. Não espere demais, nunca sabemos o que o amanhã nos reserva. Olhe para mim. Eu perdi o amor de minha vida, e sei que nada vai preencher esse espaço vazio em meu coração.  Tome minha história como exemplo, esqueça o que passou, e viva seu amor da forma mais plena possível. Você não sabe quanto tempo ainda terá para desfrutar dele.- Gabriela disse sorrindo, mas dentro dos olhos dela, Gilbert pode ver sua dor.

- Prometo que vou pensar nisso.  - Gilbert disse terminando de comer seu lanche.

Quando voltaram ao trabalho, ele continuou pensando nas palavras de Gabriela. Será que estava sendo teimoso demais? Que riscos estava correndo ao assumir aquela postura rígida em relação aos seus sentimentos por Anne?

Por mais que soubesse que Gabriela estava certa, ele não ia mudar suas concepções agora. Ele correra atrás de Anne demais, e agora era a vez dela de fazer algo realmente significativo pelo amor dos dois. Ele não voltaria atrás.  Estava na hora de Anne Shirley Cuthbert deixar de ser a garotinha mimada que era, e provar que o que realmente sentia por Gilbert era real, e não somente mais um de seus devaneios.

 

GILBERT E ANNE

 

Cole chegara no apartamento de Anne naquela tarde e a encontrou sentada na janela olhando o movimento da rua. Quando ele entrou usando a chave extra que ela lhe dera à algum tempo atrás, ela se virou e ele viu seus olhos inchados de chorar. Cole chegou mais perto, sentindo seu coração doer de tristeza pela amiga e perguntou tocando-a no ombro.

- O que aconteceu Anne? Está passando mal? - ela balançou a cabeça em negativa, desanimada demais para falar.

- Então, qual é o problema? Deixei Gilbert cuidando de você ontem à noite, pois tinha um compromisso importante com um cliente, e agora te encontro desse jeito. Você e Gilbert brigaram? - Cole perguntou, imaginando que a aparente tristeza de Anne tivesse a ver com o jovem médico, e percebeu que acertara na mosca quando a viu fechar os olhos, e o peito dela subir e descer como se estivesse em agonia.

- O que aconteceu dessa vez? Anne? - Cole insistiu assim que viu que Anne não iria falar nada. Ela abriu os olhos e disse com a voz abafada:

- Eu disse que o amava e ele me rejeitou.

- Como assim ele te rejeitou? Conta essa história direito. - Cole pediu, se sentando no sofá ficando de frente para ela.

- Não há muito o que contar. Eu disse que o amo e ele simplesmente respondeu que eu tinha que fazer por merecer o amor dele.- Anne passou as mãos pelo rosto, secando as próprias lágrimas com a ponta dos dedos.

- Olha, não quero aborrecê-la ainda mais, mas tenho algo a lhe dizer, e sei que não vai gostar. Mas, vou falar assim mesmo. Nessa história, você fez sua própria cama agora se deite nela. - Anne olhou para Cole incrédula, e perguntou

- Afinal de contas de que lado você está?

- Sempre do seu, querida, mas você parece que se esquece de certas coisas, e eu como bom amigo que sou, estou aqui para lembrá-la. - Cole disse com seus olhos inteligentes fitando Anne.

- Sobre o que está falando, Cole?  Anne perguntou sem a menor paciência para as charadas de Cole naquele dia.

- Estou falando sobre o fato de você ter esnobado Gilbert Blythe durante um bom tempo quando ele voltou da Alemanha, e também por tê-lo feito engolir seu noivado a seco meses atrás. Agora, os efeitos colaterais de suas más escolhas estão te cobrando, e se você bem se lembra, eu te avisei, mas você não quis ouvir, portanto, querida, ou você engole o seu orgulho e vai atrás do homem que ama implorando pelo seu perdão, ou vai passar o resto da vida amargurada por ter deixado sua felicidade ir embora.

- Mas, eu pedi perdão a ele, Cole, e ele sequer me ouviu.  – Anne disse não querendo enxergar a verdade por trás das palavras de Cole.

- Você também não ouviu quando ele quis explicar a sua ausência por mais tempo do que tinha planejando quando voltou da Alemanha. Então, são elas por elas.

- Você sabe mexer na ferida quando quer, Cole. - Anne reclamou.

- Que espécie de amigo eu seria se passasse a mão na sua cabeça pelas burradas que faz? Anne sua teimosia e seu orgulho são seus piores inimigos. Errar faz parte da vida, mas não querer reconhecer e não consertar é burrice.

- Eu sei que está certo, Cole.  Mas, eu juro que estou tentando consertar tudo, só não sei como. - Anne parecia desolada, mas, Cole sabia que ela estava naquela situação por sua própria culpa. É ele não iria aliviar a consciência dela por pena. Anne tinha que aprender que todo ato tinha a sua consequência, e ela teria que lidar com cada decisão tomada em qualquer circunstância.

- Por que não começa terminando esse noivado ridículo? Francamente, Anne, você tem que concordar comigo que Francesco não tem nada a ver com você.  Só tem uma pessoa que é o par perfeito para você e sabemos quem é.

- Como vou fazer isso, Cole? Francesco está viajando, e somente voltará daqui a algumas semanas. Enquanto ele não voltar, não posso fazer nada. - Anne respondeu.

- Use a imaginação, pois sei bem o quanto pode ser criativa quando quer. Ou se prepare para perder Gilbert Blythe. Ele não vai esperar para sempre, e como você mesma pode perceber, o nosso lindo doutor ficará sozinho somente se quiser. – Anne não disse nada, mas aquilo estava bem claro para ela. E também não era nenhuma novidade. Desde que ela e Gilbert se reencontraram novamente depois de sete anos, Anne notara a popularidade de Gilbert entre as mulheres, e não era nada que ele fizesse intencionalmente.  Na maioria das vezes, Gilbert nem notava o frisson que causava ao seu redor. Ele estava sempre envolvido com seus estudos e casos médicos, e ser visto como objeto de desejo de várias mulheres parecia não causar nenhum efeito nele.

E o pior era que ele nem precisava fazer esforço algum para chamar a atenção.  O magnetismo dele estava em seu jeito de olhar para qualquer garota e fazê-la se sentir única no mundo, ou na sua forma de rir de qualquer piada, mesmo que fosse sem graça ou sem sentido, ou ainda na sua maneira de falar da-própria profissão com uma paixão que contagiava quem o ouvia. Ele podia não ser poderoso como Francesco, ou badalado como todos os caras que já se aproximaram dela, mas era por aquela simplicidade dele que Anne era apaixonada, e era isso que o tornava um ser humano único e especial.

- Cole, o que eu faço? - ela perguntou desesperada. Queria resolver sua situação com Francesco o quanto antes, mas agora tinha se esbarrando no problema da distância. Como podia terminar com ele se Francesco não estava por perto?

- Querida, nisso eu não posso te ajudar. Você terá que encontrar uma forma de sair dessa confusão do mesmo jeito em que entrou nela. - Essas palavras ficaram na cabeça de Anne por horas, mesmo depois que Cole tinha ido embora, ela ficou remoendo-as e chegou a conclusão que teria que tomar uma atitude logo, ou suas chances de ter Gilbert de volta seriam reduzidas drasticamente. Ele não a aceitaria enquanto estivesse comprometida com outro homem.

Anne resolveu fazer algo que não lhe agradava muito. Não era a maneira correta de proceder, mas daquela vez decidiu colocar a si mesma e seus sentimentos em primeiro lugar. Ela discou o número de Francesco, e esperou que ele atendesse, mas sua chamada acabou indo para a caixa postal. Porém, Anne não desistiu de seu intento e deixou uma mensagem de voz que dizia:

- Olá, Francesco. Essa não é a   maneira que me imaginei fazendo isso, mas as circunstâncias me obrigam. Eu pensei muito antes de te ligar, e cheguei à conclusão que não sou a mulher certa para você.  Quando você me pediu em noivado, eu aceitei achando que poderia dar certo, mas o tempo me mostrou que eu estava errada. Somos muito diferentes, e não me sinto à altura de ser sua esposa. Além do mais, não estamos apaixonados um pelo outro, e eu acho que o que nos aproximou foi o prazer da companhia que sempre desfrutamos quando estávamos juntos.  Sei que não estou partindo seu coração, porque você mesmo me disse que não acredita no amor, e o que lhe importa é a empatia que duas pessoas têm uma pela outra. Bem, eu quero amar e ser amada, e não quero me unir a alguém somente por afeto e amizade. Por isso, Francesco, considere nosso compromisso desfeito, sinta-se livre para viver como quiser. Quando você voltar, faço questão de falar com você pessoalmente e te devolver o anel para que possa dá-lo a alguém que o mereça.  Espero que entenda e seja feliz.

Anne terminou a ligação se sentindo aliviada. Não achava correto terminar com alguém por telefone, mas diante da situação não tivera escolha. Depois, quando pudesse falaria com Francesco, por hora, queria desfrutar novamente seu ar de liberdade. Ela foi até a janela e viu que o céu estava carregado e o cheiro de chuva se aproximando era bastante característico. Assim, ela fechou todas as janelas do apartamento, pois o vento que soprava estava ficando forte, assim como raios cortando o céu

Anne detestava ficar sozinha em dias de tempestade. O barulho de trovão a assustava, e chuvas muito intensas lhe traziam lembranças do orfanato que não gostava de recordar.

Ela tomou um banho, preparou chocolate quente com uma pitada de canela, e se deitou no sofá da sala coberta com um edredom e assistiu um filme romântico na TV. Eram quase dez horas quando ela ouviu um ruído estranho. Primeiro ela pensou que fosse o vento batendo no vidro da janela, mas, logo ouviu passos no corredor forçando a maçaneta da porta.

Ela se levantou em um salto, deixando a caneca e o controle da televisão irem ao chão. Anne ficou paralisada, pensando no que faria caso a pessoa do lado de fora conseguisse entrar. Ela pegou o celular, mas percebeu que estava sem sinal, talvez por causa da chuva.  Depois, olhou ao seu redor procurando algo com o que pudesse se defender, mas não encontrou nada.

A única alternativa era sair dali antes que fosse surpreendida sozinha no apartamento. Ela pegou uma capa de chuva, e a vestiu por cima do pijama, ao mesmo tempo em que corria para a porta de serviço do seu apartamento que dava para a escada de incêndio até o térreo.

Em pouco tempo, Anne alcançou a rua, e pensou em procurar por um táxi, mas, percebeu tarde demais que tinha deixado sua bolsa no quarto e não podia voltar lá.

Para onde iria àquela hora da noite embaixo de chuva e somente de pijama? Ela pensou em Gilbert que lhe dissera que estava morando perto dali, mas ela não sabia qual era o endereço dele, porém, em seguida, ela se lembrou que ele estaria de plantão no hospital, e como não era tão longe, Anne decidiu que iria até lá caminhado, pois não tinha ideia melhor.

Desta forma, ela foi até o hospital, se protegendo da chuva o quanto podia embaixo de sua capa de chuva, ainda assim, sentiu suas roupas ficarem úmidas, os fios de seu longo cabelo grudados em seu rosto, e o frio penetrando sua carne sem piedade.

Quando chegou no hospital, estava encharcada, e foi até a recepção onde a atendente a olhou espantada enquanto ela dizia com a voz trêmula:

- Por favor, preciso falar com o Dr. Blythe. É urgente. Diga que é a Anne.

A recepcionista pediu que ela esperasse um minuto, e então, ela chamou Gilbert pelo interfone que atendeu prontamente enquanto ela lhe explicava a situação.

Em questão de segundos, ele apareceu no campo de visão de Anne. Assim que ela o viu, respirou aliviada e se atirou nos braços dele, enquanto ele dizia.

- Anne. Santo Deus você está completamente molhada. Por que veio caminhando nessa chuva? O que aconteceu? - ela não conseguia responder. Era tão bom ter Gilbert com ela naquele momento em que o mundo todo parecia tão amedrontador. Ele era seu abrigo, sua segurança, sua garantia de que mesmo que a tempestade que caía lá fora ameaçasse inundar tudo, ela ainda podia encontrar sua paz naquele abraço tão aconchegante.

Percebendo seu estado de total terror, Gilbert abraçou-a pelo ombro e disse;

- Venha comigo.

No caminho para o consultório dele, encontraram Gabriela que olhou para Anne naquele estado e disse:

- Pobrezinha! O que aconteceu com ela, Gilbert?

- Ainda não sei. Vou conversar com ela e ver se descubro o que a está perturbando dessa maneira.

- Se precisar de ajuda, estou aqui do lado. - Gabriela disse prestativa.

- Obrigado. - Gilbert respondeu, fazendo Anne entrar em seu consultório.

Ele a fez sentar sobre uma cadeira, e examinou sua pressão, sua pulsação, e batimentos cardíacos. Depois, pegou uma toalha limpa no armário e a entregou a ela para que pudesse se enxugar, e enquanto a observava secar os cabelos, Gilbert perguntou:

- Agora, eu exijo que me diga o que está acontecendo. Não minta para mim Anne, se abra comigo, por favor. – Anne olhou para Gilbert e percebeu que precisava contar para alguém o que vinha deixando-a perturbada há semanas. Não aguentava mais viver cheia de tensão vinte quatro horas por dia.

Assim, aos poucos ela foi revelando a Gilbert todas as ameaças, o problema como elevador, e o invasor misterioso em seu apartamento aquela noite.

- Anne, por que não chamou a polícia? Como pôde arriscar sua vida assim? Não acredito que não me contou isso antes. - ele parecia zangado e Anne tentou explicar

- No começo eu não levei a sério, mas, depois, esses incidentes foram ficando mais frequentes, e achei que pudesse lidar com tudo sozinha. - ela disse de cabeça baixa.

- E como planejava fazer isso? Enfrentar esse maníaco cara a cara? Tenho medo até de pensar no que teria acontecido se você tivesse feito isso. Por que não me contou, Anne? - ele insistia tanto naquilo que a estava deixando nervosa. Por fim, ela disse:

- Eu não quis atrapalhar sua nova vida.

- Atrapalhar? Anne o que deu em você para pensar que te abandonaria em uma situação como essa? Eu jamais te daria as costas. Pelo amor de Deus!  O que estava pensando? - ele a abraçou novamente, e então, ela começou a chorar com soluços tão doloridos que fez Gilbert querer abraçá-la ainda mais.

- Não fique assim. Está segura agora.  Só me promete que vai procurar a polícia, por favor. Anne. Eu não suportaria se alguma coisa lhe acontecesse. – O coração de Anne deu um salto feliz ao ouvir aquelas palavras. Gilbert ainda se importava com ela, e era tudo o que precisava naquele momento.

- Eu prometo. Mas, não hoje. Estou tão cansada. - ela respondeu deitando sua cabeça no peito de Gilbert.

. Está bem. Vou levá-la para o meu apartamento. Você não pode ficar sozinha está noite, não é seguro. Meu turno já está terminando. - Ele tirou o jaleco, pegou sua maleta em uma mão, e a outra conduziu Anne para fora do consultório. Logo chegaram ao estacionamento, onde o carro de Gilbert estava estacionado. Ele lhe abriu a porta, ela entrou, e logo chegaram no apartamento dele.

Assim, que entraram, Gilbert disse:

- Espero que se sinta confortável aqui.

  - Está tudo ótimo, Gilbert. Eu nem sei como te agradecer. – Ela disse tirando a capa de chuva, e levando os dedos ao rosto para afastar os cabelos molhados que a estavam incomodando. O movimento atraiu o olhar de Gilbert que percebeu a marca clara no seu dedo anular.

- Você não está usando mais seu anel de noivado. - ele disse quase para si mesmo.

- Não.  Eu não estou mais noiva. – Ela respondeu sem tirar os olhos dos dele.

  - Quando foi isso?

- Hoje à noite. Aquele noivado não fazia mais sentido para mim, uma vez que Francesco não é o homem que amo. - Gilbert sentiu uma euforia louca tomar conta dele ao ouvir que Anne estava livre do seu compromisso de noivado. Mas, repreendeu a si mesmo. Aquilo não mudava nada. Ela ainda não lhe provara que merecia tê-lo de volta. Para disfarçar sua satisfação com a notícia, ele disse:

- Vá tomar um banho quente, você está gelada e pode acabar doente. – Ela assentiu e ele a levou até seu quarto e disse.

- Tem toalhas limpas no armário do banheiro, e também um roupão para que possa vestir assim que tirar essas roupas molhadas.

- Obrigada. - Anne respondeu.

Gilbert a deixou sozinha, e foi para a cozinha preparar algo para Anne beber, pois não queria que ela pegasse pneumonia por ter sido imprudente e caminhado noite adentro no meio da chuva.

Após um tempo considerável, ele foi até o quarto para ver se Anne estava bem, e chamá-la para tomar o chá quente que ele preparara.

Gilbert bateu na porta, mas não teve resposta. Por isso, girou a maçaneta e percebeu que não estava trancada. Assim, ele entrou no quarto e parou de repente ao ver Anne sair do banheiro enrolada somente na toalha. Ele ficou olhando para ela por um momento, pensando sem censura nenhuma o quanto ela estava deliciosa toda molhada e rosada do vapor do chuveiro. Gilbert logo percebeu o que ele estava pensando e disse sem jeito:

- Desculpe, pensei que já estava pronta. Assim, que se vestir, venha até a cozinha. Preparei chá quente para você.  Ele se virou para sair, mas, Anne foi mais rápida e se moveu, ficando entre a porta e ele, o que fez Gilbert perguntar:

- Anne, o que pensa que está fazendo? - ela o olhou com seus olhos azuis brilhando e disse:

- Hoje de manhã você disse que não tinha certeza do que eu queria. Que eu te deixava confuso, e que não podia confiar em mim.

- Sim. E ainda penso assim. – Gilbert respondeu sentindo seu coração se acelerar com a proximidade dela.

- Pois te digo que está enganado. - Anne disse continuando a olhá-lo.

- É mesmo? Quer dizer que agora sabe o que quer? - Gilbert perguntou em um fio de voz, com os braços caídos ao lado do corpo.

- Sim.  - Anne respondeu.

-  E o que quer, Anne?

Ela sorriu de um jeito malicioso, deu um passo em direção à Gilbert e deixou cair a toalha.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas Finais


Espero que tenham gostado e me deem suas opiniões sobre as atitude dos dois protagonistas. Beijos.


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