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História Anne with an e- continuação da série - Um futuro dourado


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá, pessoal. Aqui está o capítulo da semana. Espero que gostem da a maneira como ele foi desenvolvido, e me deixem seu comentário, pois o alimento de um autor é a opinião de seus leitores , por isso conto com eles. Obrigada por tudo. Vou corrigir depois. Beijos

Capítulo 114 - Um futuro dourado


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - Um futuro dourado

 

ANNE

 

Era mais uma tarde de primavera quente, e apesar de usar roupas leves como demandava a estação, Anne suava tanto que seu vestido de algodão grudava em sua pele, fazendo-a ter a desagradável sensação de que o tecido estava tão pegajoso que não suportaria usá-lo mais nem um minuto sem sentir-se realmente incomodada.

Deste modo, ela despiu-se, foi para o banheiro onde tomou uma ducha refrescante, e voltou para quarto sentindo-se melhor em relação a temperatura que não parecia dar trégua, dando-lhe a impressão que estavam em pleno verão e não em uma das estações mais agradáveis do ano. No entanto, ela preferia assim, ao frio do inverno que nunca fora uma época na qual ela desse pulos de alegria, embora a neve que cobria Nova Iorque nesse período deixasse tudo com  aspecto mais romântico, Anne não conseguia se esquecer da sensação gelada sobre a sua pele, o que lhe provava que ela não era e nunca seria uma amante de temperaturas abaixo de zero.

Ela trocou de roupa rapidamente, observando o aumento de seu ventre, normalmente liso no passado, mas que agora adquiria cada vez mais os contornos de sua gravidez, e sorriu. Sua Rilla estava crescendo, e logo teria todo o seu corpinho pronto para vir ao mundo, e Anne contava no calendário quantos dias faltavam para seu sonho se realizar. Ela entrara no quinto mês, e agradecia todos os dias por esse milagre que ela pensara que nunca aconteceria em sua vida, mas, isso não queria dizer que ainda não tinha certo medo de que essa sua alegria fosse interrompida. Experiências do passado lhe mostraram o quanto era fácil perder uma felicidade a duras penas conquistada, e que um futuro planejado nem sempre era garantia de que se tinha o controle de tudo. Por isso, ela encarava cada dia como um presente , e cada instante ao lado de Gilbert e com sua bebezinha em seu ventre uma dádiva que ganhara dos céus depois de tanto sofrimento e dor.

Não era questão de pensar com negativismo, e sim ser realista em relação as questões que envolviam sua vida. Ela preferia caminhar com os pés no chão, do que deixar que a fantasia a fizesse ir por um caminho do qual poderia cair das nuvens em um piscar de olhos. Apesar de tudo, ela ainda gostava de sonhar, de criar realidades alternativas em sua mente, cenários nos quais ela e Gilbert sempre eram os protagonistas principais, porém, sem esquecer que o presente que estava vivendo com certeza era muito melhor do que qualquer sonho que pudesse ter acerca do que seriam suas vidas dali a alguns anos.

Anne continuou acariciando sua barriga, e de repente se lembrou de todas as vezes que Gilbert mencionara que gostaria que tivessem mais filhos, e se entristeceu. O rapaz sem dúvida nascera para ser pai de muitos filhos, e ela não tinha certeza se poderia conceber mais uma vez. Rilla fora uma gravidez inesperada mesmo sendo muito desejada tanto por ela quanto por seu noivo, mas, Anne não tinha ilusões que seria abençoada uma segunda vez. Poderia parecer um tanto precipitado de sua parte pensar em outro bebê enquanto sua filha ainda nem tinha nascido, porém, era difícil ignorar a felicidade de Gilbert quando ele falava sobre isso. Anne imaginava que por ser filho único, seu noivo deveria desejar ter uma família grande para compensar os irmãos ou irmãs que não tivera. Ela adoraria poder realizar esse sonho dele, mas, talvez seu órgão reprodutor não funcionasse eficazmente se tentassem de novo, e ela sabia bem a frustração que aquilo geraria.

Contudo, Gilbert lhe dissera que não se importaria em adotar, contudo, Anne se perguntava se isso lhe daria o mesmo prazer que poder gerar um filho seu. Muitas vezes ela ouvira de mulheres que não podia ter filhos que adotar um bebê era o mesmo que concebê-lo em sua própria barriga, pois no momento em que olhasse para uma criança e sentisse em seu coração que ela lhe pertencia, então, a parte genética deixava de ter importância, porque o amor nascido entre uma mulher e um filho adotado era maior que os laços sanguíneos. Anne realmente acreditava que seria assim, contudo, isso aconteceria com ela ou Gilbert? Ela temia não conseguir suprir as necessidades de uma criança adotiva, pois para isso, tanto a mãe quanto o pai precisavam compreender todas as complexidades que uma adoção implicava, e será que ela e Gilbert sendo tão jovens como eram teriam a maturidade necessária para isso?

Ela se lembrava bem quando foram morar com Matthew e Marilla. A adaptação foi difícil tanto dela quanto dos dois irmãos. Por um lado, havia uma   garotinha ansiosa demais para agradar, e do outro um homem e uma mulher que tiveram que mudar sua rotina para se adaptarem ao novo membro da família que demandava muito mais o que algumas regras de disciplina. Um tempo longo foi necessário para que tudo finalmente se encaixasse, e eles e tornassem a família que eram hoje, então, Anne compreendia que tomar tal decisão não devia ter sido fácil para Matthew e Marilla que nem queriam uma menina no início, mas, que com o tempo a aceitaram em seu corações. Portanto, adotar uma criança era um ato lindo, mas, Anne sentia que precisaria de um bom tempo para se sentir preparada para dar um passo tão importante.

Ela pegou a toalha pra enxugar os cabelos, e então, Gilbert entrou. Ele parecia tão acalorado quanto ela estivera antes, mas, seu sorriso lindo e animado continuava estampado em seu rosto, e quando seus olhos se encontraram pelo reflexo no espelho, Gilbert parou bem atrás dela e disse:

- Quer dizer que a Sra. Blythe tomou banho e não me esperou? – Anne sorriu, enquanto sentia as mãos dele em seu ombro, acariciando-o de leve.

- O calor está insuportável hoje. Eu não sei se é por conta do clima ou da gravidez que me faz ter sensações mais intensas a respeito de certas coisas do que costumava ter,

- Provavelmente o dois, mas, você poderia ter me esperado só um pouquinho. Eu teria adorado te acompanhar no banho. - Gilbert disse dando um beijo carinhoso no rosto de Anne.

- É claro que teria. - Anne respondeu, deixando Gilbert saber que ela entendera sua intenção por trás das palavras sutis.

- E você teria adorado minha companhia, eu tenho certeza. -  Gilbert disse em um tom malicioso, que fez Anne sorrir, olhando-o pelo ombro:

- Provavelmente.

- Só provavelmente ou com certeza? - ele perguntou abraçando-a pelos ombros.

- Você sabe a  resposta para essa pergunta.

- Então, me promete que mais tarde vai ter um segundo banho e você vai me deixar participar. - Anne apenas riu escovando os fios molhados, o que fez Gilbert dizer:

-Isso é um sim ou um não?

- Você vai descobrir mais tarde. – Logo ela mudou de assunto, e perguntou-: Agora, me diga, você comprou tudo o que precisamos?

- Sim, já coloquei tudo no quarto da - Rilla. - Gilbert respondeu ajudando Anne a se levantar da penteadeira onde estivera sentada até aquele momento.

- Maravilhoso. - Ela respondeu dando um selinho demorado em Gilbert, e depois, foram abraçados até o quarto do bebê que seu noivo havia organizado naquela semana. Ele transferira o quarto de hóspedes para outro cômodo, e transformara o antigo no quartinho de Rilla, pois ficava bem ao lado do quarto deles, e facilitaria para que pudessem cuidar dela durante a noite, caso ela chorasse ou precisasse ser amamentada. Assim, eles resolveram decorar o quarto dando-lhe um ar mais infantil digno da princesinha que estava a caminho.

Entretanto, quando Gilbert sugerira da primeira vez que enfeitassem o ambiente, deixando-o mais colorido para que quando Rilla nascesse ela sentisse que tinha um cantinho somente dela, Anne relutara um pouco. Ela sempre sonhara que quando estivesse grávida iria  arrumar o quartinho do seu bebê da forma mais adorável possível, mas, depois de tudo o que acontecera, ela ficara com receio de se precipitar, e de repente, acabar não conseguindo levar  a gestação até o final, e aquilo além de ser decepcionante, seria ainda mais doloroso do que da outra vez. Mas, ao ver o rosto de Gilbert tão animado para realizar aquela tarefa junto com ela, Anne não teve coragem de dizer não. O que também a fez mudar de ideia foi o pensamento de que os quatro primeiros meses já tinham passado, que segundo os médicos eram os mais críticos para uma gravidez, principalmente a dela que desde o princípio inspirava cuidados. Por esta razão, ela resolvera relaxar e curtir aquele momento ao lado de seu noivo que parecia mais ansioso do que ela por aquele momento.

Assim que entraram no pequeno espaço que logo seria um pedacinho do lar do mais novo membro da família, eles começaram a trabalhar. Enquanto Anne ajeitava o berço que Gilbert havia montado a semanas, ele colocava o papel de parede escolhido por Anne que era em tom de azul pastel, e cheio de flores, dando-se a impressão para quem entrasse ali que a primavera seria a única estação o ano todo. Gilbert também colocara no canto uma cômoda, onde Anne começou  a guardar as roupinhas que comprara e começara a ganhar dos amigos, além de alguns bichinhos de pelúcia que suas amigas de Avonlea mandaram entregar naquela semana, e em cima da cômoda Gilbert colocara um retrato em forma de fotografia que Cole pintara de Anne, enquanto ela abraçava sua barriga em uma conversa íntima com sua menininha. Quando terminaram de organizar tudo, Anne começou a chorar pela emoção de ver o quarto de sua filha finalmente pronto. Era um sentimento de realização que ela não sabia como explicar, pois Anne sentia que não haviam palavras adequadas que pudesse usar para dizer em voz alta como estava se sentindo, era algo surreal demais para que conseguisse descrever, por isso ficou em silêncio, deixando que seus olhos fossem o espelho de sua alma naquele momento tão especial.

- O que foi, meu amor? – Gilbert perguntou ao perceber suas lágrimas e seu silêncio.

- Nada, eu estava apenas pensando em tudo o que vivemos para que esse instante finalmente chegasse. Eu sei que ainda faltam alguns meses, mas, eu me sinto completamente realizada ao ver esse quarto finalmente pronto.

- E pensar que você nem queria decorá-lo agora. - Gilbert disse, beijando- no topo da cabeça.

- Você sabe porquê. - Anne respondeu abraçando a cintura dele com os dois braços.

- Sim, eu sei, e entendo o seu medo, mas, precisava esquecer o que passou, e deixar que a vida siga seu rumo. – Gilbert disse com seu rosto encostado no dela.

- Nem sempre é fácil.

- Mas, também não é tão difícil assim, amor. Nós enfrentamos tantas tempestades para chegarmos até aqui inteiros. Nós vamos ser felizes, isso eu sinto em meu coração, e Rilla será nosso orgulho e a nossa princesinha.

- Acha que Matthew vai estar aqui para o nascimento da nossa bebê? - Anne perguntou sentindo-se ansiosa com esse pensamento de repente.

- Não sei, meu amor. Você sabe que ele não e muito fã de viajar de trem, mas, se é tão importante para você, eu posso tentar convencê-lo a vir.

- Eu queria muito que ele estivesse aqui, e Marilla também. Eles são a única família que tenho além de você e Rilla, e queria que compartilhassem com a gente esse momento. - Anne disse com algumas lágrimas ainda escorrendo pelo rosto que foram contidas pelas mãos de Gilbert que as enxugou com seu polegar uma a uma.

- Eu tentarei falar com eles, está bem?

- Obrigada. - Ela disse abraçando Gilbert apertado. - Posso te pedir mais uma coisa?

- O que quiser, meu amor. - Gilbert respondeu, afrouxando um pouco o abraço para olhá-la nos olhos.

- Eu estava pensando em acrescentar mais um nome ao de Rilla.

- É mesmo, e qual seria? - ele perguntou espantado.

- Victoria. Porque é assim que vejo essa gestação, como uma vitória sua e minha, depois que pensei que nunca conseguiríamos viver isso juntos. - Agora foi a vez dos olhos de Gilbert marejarem.

- É lindo, meu amor. Vamos chamá-la de Rilla Victoria Blythe.

-É perfeito. - Anne disse beijando-o de leve.

-Que tal se fizéssemos um lanche rápido? Não te vi comer nada depois do almoço, e sabe que apenas pode ficar em jejum em pequenos intervalos.

- Podemos fazer limonada? -Anne disse com os olhos brilhando feito uma criança. enquanto pensava no quanto Gilbert era atencioso com todas as suas necessidades. Ele se lembrava de pequenos detalhes que ela mesma acabava se esquecendo. Como não amar aquele rapaz incrível?

- Podemos fazer litros de limonada, se quiser. – Gilbert disse, sabendo da preferência dela por bebidas mais cítricas principalmente nesse período de gestação.

Momentos depois, eles  estavam na cozinha preparando um lanche leve quando a campainha tocou. Anne foi atender e deu de cara com Cole parado na soleira da porta, parecendo totalmente desolado.

- Cole, por que está com essa cara tão triste? - Anne perguntou acostumada a ver o amigo sempre sorrindo. Essa era uma das poucas vezes que o via assim sério.

- Será que podemos conversar?

- É claro. Por favor, entre.

- Não, será que não podemos sair um pouco e conversar na pracinha aqui da frente? - ele perguntou parecendo constrangido ao fazer o pedido ao qual Anne respondeu:

- Podemos sim. Eu vou avisar ao Gilbert e já volto. Espere por mim aqui. – Ele assentiu e ela caminhou apressadamente até a cozinha onde naquele momento Gilbert fazia uma limonada.

- Amor, o Cole está aí e acho que alguma coisa aconteceu a ele, pois a cara dele não está muito boa. Ele me pediu que fôssemos até a pracinha aqui da frente para conversarmos. Eu vou até lá com ele para saber o que aconteceu e volto logo.

- Está bem, mas, não demore. Não quero que passe muito tempo sem se alimentar.

- Está bem. - Anne disse beijando-o no rosto.

Assim, ela e Cole desceram pelo elevador até o térreo, caminharam até a praça e se sentaram no primeiro banco vazio para conversar.

- Desculpe-me por incomodá-la a essa hora. -Ele disse meio sem jeito.

- Cole, você sempre me ajudou nos momentos em que mais precisei. Deixe-me ajudar você dessa vez. - Anne disse segurando na mão do amigo.

- Pierre saiu de casa. - Ele disse de uma vez, e Anne o olhou surpresa ao perguntar:

- O que aconteceu? - Ele quer voltar para Paris, e eu disse que preferia ficar morando aqui ainda por um tempo, porque eu já vivi muito tempo em outro país, e quero poder visitar minha família sempre que tiver vontade. Mas, ele não entendeu, brigamos, e aí ele resolveu ir para um hotel. - Cole disse descansando a cabeça entre as mãos.

- Cole, eu sinto muito por você estar passando por isso. Mas, quem sabe se conversarem mais uma vez vocês não consigam resolver tudo? - Anne disse tentando animá-lo.

- Não sei, Anne. Essa é a primeira vez em muito tempo que discutimos assim.- Cole respondeu com um semblante triste.

- Eu ainda acho que uma boa conversa vai resolver tudo. – Anne disse, sentindo-se triste pelo amigo que tantas vezes ofereceu seu abraço para que ela abrigasse suas mágoas nele. Agora era sua vez de oferecer o seu, e foi o que ela fez.

- Obrigado, minha amiga, por me ouvir. Você a única que me entende e me aceita como eu sou.

- Você é uma pessoa maravilhosa, Cole Mackenzie. Quem não te conhece é que não sabe o que está perdendo. - Eles ficaram abraçados por um tempo, e então Anne perguntou:- O que pretende fazer?

- Vou dar a Pierre o tempo que ele me pediu, e vou aproveitar para visitar meus pais.

- Se você acha que isso é o melhor a se fazer eu te apoio. – Anne disse colocando uma mão no ombro de Cole.

- Obrigado mais uma vez. Agora deixe-me te dizer uma coisa. Você está linda com essa barriga de grávida. - Ele disse todo encantado com a barriga saliente da amiga.

- Obrigada. - Anne disse sorridente pelo elogio. Ela também achava sua barriga linda sem vaidade nenhuma.

- Como tem se sentido?

- Muito bem. Tenho um pouco de enjoo quando acordo, mas, isso é um incômodo pequeno diante de tudo o que já passei.

- É verdade, querida. Espero que dessa vez a  felicidade tenha chegado para ficar.

- Eu também- Anne disse colocando a mão sobre o seu coração.

- Bem, querida. Preciso ir. Prometo que volto de Avonlea para fazer seu chá de bebê. - Cole disse se levantando junto com Anne do banco da praça.

- Vou esperar com ansiedade.

Em seguida, eles caminharam até a portaria do prédio de Anne e se despediram com um último beijo. Logo, Anne pegou o elevador, desceu em seu andar e foi fazer o lanche da tarde com o noivo que com certeza já a esperava ansiosamente.

 

GILBERT

 Anne tinha acabado de adormecer no sofá da sala onde como de costume ela lia uma de suas literaturas antigas. O livro que caíra de lado assim que ela adormeceu se intitulava Macbeth, uma das obras de William Shakespeare, autor que Anne admirava desde os tempos do colégio em Avonlea, e cujos trabalhos ela relia sempre que tinha uma oportunidade. Ainda tinham um mês e meio de férias, e a volta para a faculdade coincidiria com o retorno deles da lua de mel, e até lá, Gilbert não duvidava que Anne devoraria cada livro de Shakespeare que ela tinha em sua biblioteca particular.

Ele ajeitou as almofadas ao redor da cabeça dela que tinha pendido para o lado, e também endireitou as pernas de Anne que tinham ficado em uma posição nada favorável para sua circulação sanguínea. A barriga dela já estava ganhando contornos cada vez mais arredondados e em mais um mês ela teria dificuldades para se deitar de lado. Quando se casassem, sua gestação contaria seis meses, e Gilbert já conseguia imaginá-la toda de branco com sua barriga linda exposta aos olhos do mundo, e ele mal podia esperar por esse dia, assim como contava cada dia até o nascimento de sua princesinha ruiva.

Ele e Anne tinham decorado o quartinho dela com todo o amor e carinho de seus corações. A ideia tinha sido dele a uma semana atrás, e embora Anne quisesse esperar mais um pouco, tanto ele insistira que ela acabar cedendo. Ele fizera isso justamente para tentar afastar da cabeça dela o receio de perder sua bebezinha. Embora uma parte dela tivesse superado, a outra parte ainda estava presa à sua dor do passado, e quem poderia culpa-la? Tanta coisa havia acontecido até que ela finalmente engravidasse, e houve ainda o episódio com Roy Garner que piorara toda aquela situação. Suas consultas com o Dr. Spencer a estavam ajudando bastante, e ela ia aos poucos avançando com a gravidez dia a dia, um passo de cada vez como seu médico lhe aconselhara a fazer, e somente Gilbert presenciava seu suspiro de alívio e seu sorriso quando a noite chegava, e ela percebia que tinha vencido mais um dia com sua filha em seu ventre.

Era uma luta interior solitária na qual ele não podia ajudá-la. O medo era somente dela, como era somente dela a força de vontade de vencer seus temores internos. Ele podia segurar sua mão e incentivá-la a continuar caminhando em direção à luz, mas, quem podia chegar ao fim daquela jornada vitoriosa era Anne, e ela vinha se saindo bem, levando-se em conta como ela encarava aqueles conflitos a um mês atrás. Gilbert tinha muito orgulho dela por não desistir e continuar em frente por amor à sua filha e a ele, e o rapaz também entendia que observar a luta de sua noiva em continuar firme diante de seus desafios psicológicos o estava ensinando a se fortalecer por dentro também. Ele se sentia muito mais capaz de carregar em seus ombros todas as responsabilidades que viessem com o casamento e o nascimento de sua filha, e assim, Anne teria a sua força com a qual contar se a dela vacilasse.

O jovem estudante, deu um beijo na testa de sua noiva, e foi até a cozinha alimentar seu filho peludo. Observando-o comer sua ração com uma gula que parecia sempre aumentar, Gilbert percebeu que sua coleira já estava ficando pequena, e ele teria que comprar uma nova se quisesse continuar levando-o aos seus passeios matinais. Como estava com tempo, ele resolveu fazer aquilo naquele momento, pois Anne estava adormecida, e conhecendo o seu padrão de sono diário, ela não acordaria na próxima hora, por isso, ele disse a Milk:

- Faça companhia a sua dona que volto daqui a pouco.

Logo, ele estava descendo pelas escadas e ganhou a rua em pouco tempo. O sol tinha diminuído de intensidade às quatro da tarde, e o calor que tinha castigado os moradores de Nova Iorque em plena primavera, consequentemente também estava mais brando, deixando as ruas do centro da cidade mais movimentada por pedestres, atraídos pelo clima mais agradável.

Gilbert caminhou por algum tempo até encontrar a loja que procurava. Era um pet shop bastante visitado por ele e Anne, que sempre vinham ali quando precisavam de algum acessório para Milk. No instante em que entrou, ele foi atendido por um vendedor bastante simpático que perguntou:

- No que posso ajudá-lo?

- Estou procurando uma coleira para o meu cachorro. Ele tem sete meses.

- Tem preferência por algum estilo ou cor?

- Não sendo nada rosa. - Gilbert disse com um ar divertido. - Minha noiva odeia a cor.

- Entendo. Venha comigo. Temos vários estilos e cores no segundo corredor se quiser dar uma olhada. – O vendedor começou a andar e Gilbert o seguiu até o local onde ele havia lhe mostrado. - Aqui está. - Ele apontou para uma fileira inteira de coleiras de todos os tamanhos. - Vou deixá-lo escolher, se precisar de mim é só me chamar.

- Pode deixar e muito obrigado. - Gilbert disse educadamente.

Enquanto estava examinando uma coleira marrom e imaginando se ela ficaria confortável no pescoço de Milk, ele ouviu alguém o chamando, e se virou para responder ao chamado e viu espantado que era Dora. Desde a sua cirurgia, ele não a tinha visto mais, e notou com tristeza o ar de constrangimento entre os dois. Ele se lembrou do tempo que eram melhores amigos, antes que ela confundisse a amizade que tinha por ele com amor. Sem contar, às vezes em que ela tentara separá-lo de Anne, estragando um sentimento tão genuíno por sua incapacidade de entender que nunca seriam mais nada além de amigos e colegas de pesquisa, e infelizmente nem isso, eles conseguiam ser mais.

- Olá, Dora, você por aqui. - Ele disse tentando ser educado.

- Olá, Gilbert. Que surpresa. Faz tempo que não te vejo. - Ela disse mantendo certa distância dele.

- Desde a minha cirurgia.

- Pelo jeito, você se recuperou bem. - Ela observou.

- Sim. Graças a Deus, minha recuperação foi total. - Era estranho falar com ela depois de tanto tempo. Gilbert admitiu que sentia saudades da antiga amizade que tiveram, mas, não do que aquela mesma amizade se tornou depois.

- Que ótimo. Fico muito feliz em saber disso. E como vai a gravidez de Anne? Carlos me contou que é uma menina.

- Sim. Soubemos do sexo a mais ou menos um mês. - Gilbert disse sua voz se suavizando ao falar da filha,

-  Vocês devem estar radiantes, eu presumo. - Gilbert demorou um instante para responder, tentando encontrar algum sarcasmo ou ironia na voz de Dora, mas, não encontrou nada disso. Ela parecia estar sendo sincera, por isso, ele respondeu:

- Estamos, sim. Embora a  gravidez dela seja de certo risco.

- Tenho certeza de que tudo correrá bem. - Ela sorriu.

- Eu também. - Gilbert se calou, pois não havia mais nada a dizer, mas, Dora parecia ter encontrado ali um propósito, e assim continuou:

- Eu queria aproveitar para te pedir desculpas, Gilbert.

- Dora, nós já falamos sobre isso. - Ele se sentia desconfortável por discutirem sobre algo que não fazia bem aos dois.

- Eu sei, mas, quero que saiba que são pedidos de desculpas sinceros. Eu estraguei tudo com minha estupidez, e não consigo me perdoar por ter destruído nossa amizade.

- Você já me disse isso antes, Dora. E eu jate desculpei. - Ele queria encerrar aquela conversa logo e voltar para casa e para Anne.

- Mas não me perdoou, e não é a mesma coisa. - Dora disse quase lamentando aquele fato.

- Eu quero que entenda que por sua causa, Anne e eu quase nos separamos, e se não fosse por insistência dela não teríamos voltado, e consequentemente não teríamos gerado nossa filha. No meu lugar, você teria perdoado? - ela o olhou com um sorriso triste e respondeu:

- Talvez não, mas você não é eu, e eu sei que você é um ser humano cinco vezes melhor do que eu, e é por isso que um dia eu acredito que você poderá me perdoar.

- Dora.

- Não se preocupe. Eu não vou implorar como das outras vezes. Eu sei que errei e assumo o meu erro. Pensei que estava apaixonada por você, mas na verdade eu queria apenas saber uma vez na vida como seria ser amada por alguém como você. Eu invejei Anne e o relacionamento que tinham, e quis isso para mim, mas, depois de um tempo refletindo foi que entendi que não passou de uma ilusão, uma loucura momentânea que deixei ir longe demais. - Dora disse parecendo tão cansada quanto ele daquele assunto.

- Você ainda pode viver isso com alguém. Apenas tem que sentir em seu coração que é a pessoas certa. - Gilbert tentou fazê-la não se sentir tão desanimada a respeito do amor. Não eram mais amigos, mas, nem por isso ele queria vê-la pelas costas.

- Está enganado, Gilbert. O amor que você e Anne partilham é apenas de vocês dois. Depois desse tempo todo observando-os, eu entendi que mesmo que eu me apaixone por alguém de verdade, ainda assim, não será o que vocês partilham, pois cada um tem seu próprio tipo de amor. - Gilbert olhou-a espantado pelas palavras. Dora parecia realmente ter amadurecido durante aquele tempo em que ficaram afastados, e estava muito parecida com a melhor amiga que ele tivera antes.

- Fico contente que consiga enxergar tudo isso dessa maneira, e espero que encontre alguém que te faça feliz. Você é uma ótima pessoa, Dora. Apenas andou fora dos trilhos por um tempo, mas, creio que está encontrando seu caminho de volta. - Ela lhe sorriu ao responder.

- Obrigada por pelo menos me ouvir. Sinto falta de nossa amizade, e espero que até a nossa formatura você possa ter me perdoado.

- Isso acontecerá só daqui a três anos, Dora. - Gilbert disse rindo.

- Eu sei, e talvez três anos seja tempo suficiente para te mostrar que mudei de verdade. - Gilbert balançou a cabeça concordando.

- Preciso ir agora. A gente se vê daqui a um mês e meio na faculdade. - Dora disse se despedindo de Gilbert.

Assim que a viu passar pela porta e lhe acenar, Gilbert ficou pensando em tudo o que ela dissera. Ele queria realmente esquecer o que Dora fizera para atrapalhar seu relacionamento com Anne, mas, ele sabia que ainda iria precisar de um tempo maior para olhar para Dora com outros olhos que não fossem de ressentimento. Gilbert desejava muito ser como Anne que perdoara Roy Gardner mesmo depois que ele quase a fizera perder sua filha, mas, infelizmente, ele não era tão altruísta, e nem tinha um coração onde apenas existia amor. O rapaz se conhecia bem, e sabia que muitas vezes sentira rancor contra a vida e contra pessoas, e fora Anne que o fizera se libertar de tais sentimentos, mostrando a ele que era um desperdício imenso de energia e tempo, sentindo raiva das pessoas. A vida passava rápida demais e seria melhor aproveitada vendo o mundo pelo prisma da alegria, da esperança e da amizade. No entanto, seu coração anda era duro em certos aspectos, principalmente no que dizia respeito a sua noiva. Ele poderia facilmente esquecer e perdoar uma ofensa dirigida apenas a ele, mas nunca, algo que tivesse ferido Anne de verdade.

O Dr. Spencer diria que ele estava agindo como um protetor exagerado de sua noiva, e que coisas assim continuariam a acontecer vida afora, e que Anne teria que aprender a olhar as coisas pelo que elas eram e não pelo que pareciam ser, mas Gilbert não conseguia não deixar de sentir raiva de alguém que a tivesse feito chorar ou sofrer, principalmente uma pessoa que o conhecia bem,  e usara o amor que ele tinha por sua noiva, sua única fraqueza, para magoá-la. Dora sabia de sua história com Anne desde o começo e nem isso a impediu de querer destruir os laços que eles demoraram tanto para construir, e era por isso, que Gilbert não conseguia perdoar Dora. Talvez fosse cruel de sua parte negar seu perdão a alguém que errara, admitira seu erro, e lhe pedira desculpas milhares de vezes, a questão era que esse era um de seus piores defeitos, não esquecer uma ofensa grave, especialmente uma que quase o fizera

perder o amor de sua vida.

Afastando tais pensamentos de sua mente, Gilbert escolheu uma coleira para Milk, pagou por ela, e depois foi direto para a sorveteria comprar o sabor favorito de Anne. Um tempo depois, ele já tinha chegado ao apartamento, e deu uma espiada em sua noiva. Ela ainda dormia calmamente, e não tinha percebido que ele tinha saído e voltado da rua. Sem incomodá-la, Gilbert foi dar mais uma olhada no quarto de Rilla, e se lembrou do segundo nome que Anne decidira colocar nela assim que nascesse. Rilla Victoria, ele pensou sorrindo, repetindo várias vezes os dois nomes, como se fossem a rima de um poema ou um mantra pessoal, e Gilbert disse a si mesmo com o peito inflado de orgulho, que Anne não teria escolhido combinação mais perfeita.

 

GILBERT E ANNE

 

Eles tinham acabado de acordar, e o dia prometia ser importante, pelo menos para Anne e Gilbert que iriam até o consultório do obstetra de Anne para seu pré-natal mensal. Felizmente, ele a havia liberado de suas consultas semanais, o que Anne considerava um grande avanço e fortalecimento de seu órgão reprodutor. O Dr. Miller tinha temido um aborto quando ela caíra e por isso, a tinha feito visitá-lo semanalmente por dois meses inteiros, mas, então, em sua última consulta, ele lhe dissera que aparentemente o perigo tinha passado, e Rilla estava a caminho de um desenvolvimento pleno e sem riscos de ser interrompido .

Apesar de acreditar nas palavras de seu médico, Anne ainda sentia medo, e sabia que seria assim até que tivesse sua filhinha nos braços dali a quatro meses, entretanto, ela tentava não pensar muito nisso se ocupando com atitudes positivas como o seu psicólogo aconselhara. Ela saía para dar longos passeios no fim da tarde com Gilbert e Milk preso firmemente em sua nova coleira comprada por seu noivo a poucos dias, cuidava do quarto de Rilla duas vezes por semana, mantendo-o arejado e organizado para o nascimento da bebezinha, lia livros interessantes, tinha longas conversas com Gilbert sobre o casamento, a lua-de -mel, e  a faculdade, para qual voltariam com Anne perto de dar à luz, e assim a vida ia seguindo seu curso com o seus corações cada vez mais apaixonados e unidos.

Por isso, naquela manhã incrível, eles acordaram mais cedo, tomaram seu café da manhã e se arrumaram para a consulta. Gilbert fazia questão de estar presente a cada exame, e assim, Anne se sentia segura por saber que ele estaria lá para dar-lhe apoio com sua presença e atenção. Com exceção do início da gravidez da qual ele não soubera até depois da cirurgia, Gilbert não perdera nenhuma consulta dela. Ele amava saber do desenvolvimento de sua filhinha que por meio de ultrassons e exames de rotina ia cada vez mais tomando forma da garotinha ruiva que ele imaginava em sua mente. Anne ainda zombava de seus noivos sobre isso, e lhe perguntava o que seria dele se Rilla nascesse com os olhos castanhos e cabelo escuro como o dele? Ele apenas lhe sorria e dizia que a amaria do mesmo jeito, mas enquanto ela não tivesse nascido e ele não tivesse visto om seus olhos que se enganara, seu ideal ruivo de olhos azuis para ela não seria abandonado.

Eles chegaram na clínica dez minutos adiantados, e enquanto ficavam sentados na sala de espera, Anne observava outras mães que estavam ali grávidas como ela, ou mulheres que estavam ali apenas para exames de rotina. A maioria parecia feliz com sua gestação e assim como ela, estavam acompanhadas de seus maridos. Porém, havia uma garota, que Anne calculou ter uns dezessete anos que olhava tudo aquilo com um desgosto evidente em seu rosto, cuja gravidez parecia ter a mesma quantidade de meses que a de Anne. Ela era loira, tinha olhos azuis, e não estava acompanhada de ninguém. Suas mãos se agarravam a bolsa que trazia a tiracolo como se ali estivesse sua única salvação para a sua situação.

Anne teve vontade de se sentar com ela, e saber sobre sua história, pois quando olhou para os dedos das mãos dela, não enxergou nenhuma aliança que indicasse que ela fosse casada ou noiva, e a ruivinha logo imaginou que talvez ela estivesse gerando aquele filho sozinha e que não teria o apoio do pai ao nascer. Era lógico que podia estar enganada, e  a história dela ser outra, mas, algo lhe dizia que aquela garota seria mãe solteira e que estava enfrentando tudo aquilo sem sequer um apoio familiar, o que dava para imaginar , uma vez que ninguém a acompanhava naquela consulta, e mais uma vez Anne pensou na sorte que tinha por ter Gilbert que além de ser o melhor noivo do mundo, também seria um pai amoroso e dedicado. Ela também tinha uma família que a apoiava integralmente, e amigos que estariam sempre ao lado dela quando precisasse. Era uma pena ver que outras garotas em situação semelhante à sua não pudessem contar com mais ninguém a não ser consigo mesmas.

- Srta. Cuthbert.- a enfermeira chamou seu nome, e Anne se levantou acompanhada de Gilbert e caminharam em direção ao consultório do Dr. Miller, enquanto Anne pensava que dali a um mês seu sobrenome seria trocado por  “Sra. Blythe”, e sorriu internamente ao pensar na felicidade que já sentia por pensar que o nome da família de Gilbert se juntaria ao seu e em breve estariam assim construindo suas próprias história de vida.

- Bom dia, como tem se sentindo, Anne? - o Dr. Miller perguntou atenciosamente.

- Eu tenho me sentido bem, com exceção de alguns enjoos. - Ela disse sorrindo.

- Você ainda os terá por um tempo. Tem conseguido se alimentar ou dormir horas suficientes?

- Sim.

- Tem sentido alguma dor lombar? - ele perguntou, anotando cada resposta de Anne em sua ficha de consulta mensal.

- Não.

- Pressão arterial?

- Gilbert checa para mim todos os dias, e de acordo com ele está em nível normal.

- Algum outro sintoma diferente além dos que te perguntei?

- Não.

- Então, vamos aos exames de pré natal.

Nos quinze minutos seguintes, o Dr. Miller fez todos os exames recorrentes em Anne e quando terminou, ele pareceu bastante satisfeito com os resultados, o que deixou Anne ainda mais otimista em relação à evolução de sua gravidez, e Gilbert esperançoso em relação a superação da ruivinha de seu medo excessivo de perder o bebê.

- Pelo que pude perceber, sua filhinha está em pleno desenvolvimento, e não notei nada anormal em seu fluxo sanguíneo e batimentos cardíacos. Vamos marcar sua consulta para daqui a um mês novamente, mas se caso sentir qualquer coisa diferente me procure antes. Você me disse que gostaria de ter um parto normal, mas, sinto dizer que não será possível por conta de seu histórico gestacional, o que não é o fim do mundo pra alguém que sofreu como você  sofreu para gerar  essa criança e levar a gestação até o final. Sinta-se vitoriosa. Anne. pois sua bebezinha está a caminho, e o que tudo indica, forte e saudável. Ainda temos alguns meses pela frente, mas, me arrisco a dizer que prevejo apenas coisas boas para esse bebê que está por vir.

- Obrigado, doutor. Acho que isso era tudo o que precisávamos ouvir. -Gilbert disse sorridente, observando que Anne pareia feliz com as atuais notícias sobre sua gestação.

Eles se despediram, deixando uma nova data agendada para a próxima consulta, e quando passaram pela recepção, o olhar de Anne se encontrou com o da garota loira a quem ela estivera observando minutos antes de entrar para sua consulta, e lá viu uma angústia que a comoveu, e desejou silenciosamente que a garota se sentisse tão feliz com o bebê que carregava tanto quanto Anne sentia com sua Rilla.

Outros pensamentos tomaram conta de Anne quando saíram da clínica, e ela ficou tão imersa neles que deixou Gilbert preocupado com seu silêncio que lhe perguntou:

- Anne, qual é o problema?

- Não é nada importante, eu só estava pensando na nossa bebê. Fique tranquilo. - Ela disse, e ele não insistiu, porém, Gilbert continuou a observá-la insistentemente.

Quando eles passaram por uma pracinha conhecida de Anne, ela fez Gilbert parar o carro dizendo:

- Gilbert, pare aqui, por favor.

- Por que? - ele perguntou confuso.

- Quero visitar um lugar.

- Está bem. - Ele disse, e assim ambos saíram do carro e Anne o puxou pela mão até um portão grande, por onde dava para ver várias crianças brincando.

-Anne, que lugar é esse? - Gilbert perguntou seguindo o seu olhar.

- É um tipo de orfanato. Crianças são deixadas aqui e um grupo de freiras cuida delas até que possam ser adotadas, ou transferidas para um outro lugar. - Ela respondeu com seu olhar perdido nas crianças que corriam por todos os lugares em uma algazarra sem fim.

- Como soube desse lugar?

- Eu costumava vir até essa pracinha depois que eu saía do clube do livro, me sentava aqui e ficava pensando na vida. - Ela disse com um sorriso triste para Gilbert. Ela se lembrava bem de seus momentos tristes ali quando ainda tentava superar a perda do seu primeiro filho, e sempre via crianças brincando por ali. Com o tempo ela descobrira que a casa em frente servia como orfanato, mas, essa era a primeira vez que se aproximava dali.

- Por que quis que eu viesse até aqui com você? - ele perguntou curioso, desejando saber o que se passava na cabeça de sua noiva que acabava sempre surpreendendo-o.

- Eu fiquei pensando no que me disse sobre termos mais filhos. - Ele a olhou surpreso.

- Anne, nossa Rilla ainda não nasceu e você já está pensando se poderá ou não conceber outros filhos? Não acha que é cedo demais? - ele tentou brincar com a situação, mas ele não viu nenhum sorriso no rosto de Anne, e percebeu que ela estava realmente pensando sobre isso.

- Eu sei que é cedo, e todas as minhas energias estão concentradas na nossa filha, mas, ao mesmo tempo, eu penso no quanto você gostaria de ter mais filhos, e fico me perguntando se não ficará frustrado com o tempo, se eu não puder mais conceber.- ela o encarou e Gilbert viu ali o quanto aquele assunto era importante para ela, e assim ele respondeu:

- Eu já te disse um milhão de vezes que se tivermos somente a Rilla, isso já é o suficiente para mim. - Ele se aproximou e beijou-a na testa, mas, Anne continuou a encará-lo e por fim, ela disse:

- Mas, você ficaria muito mais feliz se pudéssemos ter mais filhos.

- Sim. Mas, não é algo que vejo como obrigatório ou uma regra.

- Porém, te faria se sentir mais realizado, não é? - ela era teimosa, e não desistiria de sua resposta, por isso, ele disse:

- Eu sempre quis ter filhos, Anne, e imaginei que teria pelo menos um casal. Quando você me contou que tinha perdido nosso filho, e que talvez não pudesse mais ter nenhum, confesso que me senti vazio, pois, pensei que o sobrenome Blythe morreria comigo, mas , depois, deixei isso de lado, pois percebi que o que me importava era ter você comigo, e o resto eu superaria com o tempo. E foi exatamente o que aconteceu. Rilla foi um presente que eu não esperava que acontecesse, e sou-lhe muito grato por isso. Não posso te pedir mais nada, você realizou meu sonho.

- Mas, não totalmente. - Ela disse com teimosia.

- Anne, por que está insistindo nessa história, e o que esse lugar tem a ver com tudo isso? - ele perguntou impaciente.

- Eu te trouxe aqui para te dizer que seu sonho ainda pode se realizar, e que quero deixar as opções em aberto. - Ela disse com um sorriso, e Gilbert olhou-a cheio de admiração.

- Anne, você quer dizer que pensa em adotar?

- Sim.

- Mas, você sempre foi contra essa ideia.

- Eu nunca fui contra. Eu te disse que precisava provar a  mim mesma que poderia te dar um filho biológico, e agora que isso aconteceu, eu não vejo porque não podemos adotar um menino daqui a alguns anos.- Anne disse atirando seus braços ao redor do pescoço de Gilbert.

- Você é surpreendente. - Gilbert disse beijando-a nos lábios.

- Eu quero que saiba que estou imensamente agradecida por todo o apoio que tem me dado até agora, e que não existe absolutamente nada que eu não faria para te  ver feliz.- os olhos dela brilhavam, e como sempre, Gilbert achou aquele visão de Anne sorrindo com seus olhos muito azuis a mais bonita de todas.

- Você já me faz feliz desde o dia em que te conheci. - Ele disse, então se beijaram selando assim mais um compromisso.

Eles foram para casa completamente conectados um com o outro, e quando entraram no apartamento, Anne disse:

- Acho que vou tomar outro banho. O dia está novamente muito quente.

- Isso me lembra que você me deve um banho acompanhada. - Gilbert disse sorrindo de jeito maroto que a fez responder:

- Então me siga, futuro Dr. Blythe.

Sem esperar mais nem um segundo, ele foi com ela até o chuveiro, onde como muitas vezes naquela semana, tomaram um banho delicioso juntos, no qual eles apenas curtiram   a companhia um do outro juntos e trocaram inúmeros sorrisos e olhares intensos. Em seguida, saíram do banheiro e foram para o quarto, onde Anne envolta em um robe de seda, sentou-se em frente à sua penteadeira, e começou enxugar seus cabelos ruivos com ela. Em pouco tempo, Gilbert se juntou a ela, e disse:

- Deixe que eu termino para você. - E assim, de olhos fechados, ela saboreou aquele momento íntimo e ao mesmo tempo tão aconchegante no qual seu noivo enxugava seus cabelos com toda paciência e cuidado. Ela abriu os olhos e o seu olhar se encontrou com o de Gilbert pelo espelho, e que parecia observar-lhe todos os movimentos e expressões atentamente. Em um pensamento ousado, ela se levantou, abriu seu robe deixando-o cair ao chão em um convite silencioso que nem em sonhos Gilbert pensaria em recusar, ao ver Anne completamente nua por baixo daquele pedaço de seda, e totalmente confiante em si mesma diante dos olhos de Gilbert que devoraram cada pedacinho dela sem se privar daquele prazer imenso que era tê-la assim toda para si.

Ele se despiu com a mesma rapidez de Anne, e quando a tomou nos braços, levando-a até a cama, ele disse:

- Você está cada vez mais linda, meu amor. Nunca vou me cansar de olhar para você.

- Sabe o que eu pensei na primeira vez em que te vi? - ela perguntou, assim que Gilbert a deitou na cama e se juntou a ela no mesmo segundo.

- Não, o que? - ele perguntou, beijando-a na testa, no nariz e nas bochechas, e esperou que ela respondesse a sua pergunta anterior louco para beijá-la:

- Eu pensei que nunca tinha visto um menino tão bonito, e que ele nunca me olharia da mesma maneira.

- Você estava completamente equivocada, meu amor.- e dessa forma, ele tomou os lábios de Anne em um beijo intenso, mostrando a ela através das  sensações que subiam pelo seu corpo enquanto Gilbert explorava a sua boca como se nunca tivesse feito isso antes, que para onde estavam indo, não teria mais volta. Então Anne se concentrou em cada beijo, desenhando cada contorno do rosto de Gilbert com os próprios dedos, deixando que ele lhe mostrasse como o amor dele por ela era imenso, por meio de toques que a deixavam inebriada, quase completamente embriagada como se tivesse bebido o melhor dos champanhes. As carícias dele lhe davam vida, seu corpo inteiro suspirava por Gilbert, suas mãos queriam tocá-lo a todo instante, porque cada átomo de seu sistema reconhecia que Gilbert Blythe era o seu homem, seu amante, somente seu até que nenhuma estrela mais brilhasse no universo inteiro.

Gilbert sempre se maravilhava com a maneira como Anne se entregava a ele. Ela às vezes podia se mostrar tímida e um tanto contida fora daquele quarto, mas, ali entre aqueles lençóis perfumados com o cheiro dela, ela era sua de todas as maneiras que quisessem se amar, ela nunca poupava nada de si, e assim. ele se deliciava naquele corpo de mulher que naquele instante o levava ao mais alto delírio com seus lábios macios que lhe mostravam de quantas formas ela podia desejá-lo, e de quantas maneiras ela podia enlouquecê-lo em uma única noite. E assim, eles se amavam com aquela intensidade, que nem mesmo as ondas do mar em um dia de tempestade poderiam alcançar a altitude mais plena, o ponto exato para se quebrarem contra as pedras da praia mais distante.  Anne sempre seria sua princesa,  a mulher da sua vida, sua direção quando ele se perdesse no mar de suas inseguranças,  e Gilbert sempre seria o capitão de seu barco, seu anjo divino que a arrastaria para luz toda vez que a escuridão ameaçasse  arrasar com sua alegria, porque Gilbert era sua felicidade conquistada.

Assim, o amor entre eles aconteceu de maneira lenta, mas tão intensa que Anne pensou que duraria por horas, as ondas de prazer em seu corpo, as palavras doces dele em seu ouvido, suas mãos deslizando pelo peito dele, seus lábios tocando o abdômen de Gilbert enquanto ele sussurrava seu nome, colando seu corpo mais e mais no dele. E quando por fim acabou, suas bocas ainda estavam grudadas como se suas almas assim estivessem unidas para sempre.

Naquela noite, enquanto uma brisa suave passava pela janela refrescando seus corpos ainda febris, Anne se aconchegou a Gilbert, com um sorriso nos lábios, os olhos sonhadores sobre mais momentos como aqueles em um futuro dourado que apenas pertencia aquelas duas almas e aqueles dois corações.

 

 

 

 

 

 

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Notas Finais


Boa leitura e FELIZ ANO NOVO. Beijos


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