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História Anne with an e- continuação da série - O Amor e a dor


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Caros leitores, preparem os lencinhos , este capítulo está fogo, viu? Não quero falar sobre ele, pois prefiro que vocês leiam e me deixem seus comentários, e me digam que tipo de emoção conseguiram captar dos personagens, e de que maneira afetaram vocês. Espero que gostem. Beijos.

Capítulo 56 - O Amor e a dor


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - O Amor e a dor

Capitulo 56

 

GILBERT

Gilbert olhou pela janela de seu quarto e viu o sol brilhar  lá fora. Estava um dia lindo, mas não o animou nem um pouco. Fazia uma semana que tudo era escuridão dentro dele, e aquela dor parecia não diminuir nunca. Desde a festa de Mary e Sebastian, quando Anne o mandara embora de Green Gables, a alegria que ele vinha sentindo desde que começaram a namorar tinha desaparecido completamente, e o que sobrara foram as lembranças, as quais ele também evitava agora, pois apenas faziam sangrar mais sua alma ferida.

Ele nunca fora do tipo em acreditar que alguém pudesse morrer por amor, e sempre considerara exagero quando ouvia  alguém falar assim, mas, naquele momento estava pagando pela sua descrença, e o que um dia fora a razão de sua felicidade, agora era o único motivo de seu infortúnio.

Deus! O que ele faria sem Anne? Nunca se sentira tão perdido, tão desmotivado a continuar com seus planos. Era como se em um segundo tudo o que lhe era mais caro tivesse sido roubado, e apenas tivesse sobrado no lugar aquele buraco imenso do lado esquerdo de seu peito que um dia chamara de coração

Gilbert se afastou da janela, e olhou para seus livros de medicina espalhados pela cama, e suspirou desanimado. Ele tentara estudar um pouco, para manter a mente ocupada, pois seus pensamentos o estavam deixando desnorteado, mas, não conseguia ler uma linha sem se lembrar do olhar magoado de Anne, da maneira como ela rejeitara os seus carinhos e como não dera ouvido aos seus apelos desesperados, e ele por fim desistira ao perceber que ela não cederia. No entanto, Gilbert esperara que Anne pensasse melhor, e que viesse falar com ele dizendo que estava tudo bem e que ela ainda o amava como antes, porém, com o passar dos dias isso não aconteceu e ele viu suas esperanças morrerem uma a uma, deixando aquela sensação de que fracassara com ela, fracassara consigo mesmo e que não havia nada que pudesse fazer a respeito.

Quando voltara para casa naquele dia, a festa estava no auge. Pessoas dançavam e riam totalmente alheias ao seu sofrimento. Passou por Diana que falava com Jerry, e o olhar de desprezo que ela lhe lançou fez com que ele sentisse tanta vergonha de si mesmo que não suportou mais ficar no meio das pessoas ali presentes. Assim, ele se refugiou em seu quarto não se incomodando em acender as luzes, porque queria ficar sozinho e a penumbra do quarto lhe dava um certo conforto.

Entretanto, não ficou sem companhia por muito tempo, pois Mary percebera quando ele entrara na casa parecendo atormentado e foi atrás dele para saber o que tinha acontecido, e o encontrara ali deitado no escuro e olhando para o nada. Ela acendeu a luz e ao ver o estado no qual ele se encontrava, Mary sentou ao lado dele na calma e perguntou:

- Gilbert, o que aconteceu? Onde está a Anne? - Ele fechou os olhos por um instante, buscando forças para responder aquela pergunta tão simples, mas que fazia sua agonia aumentar pela resposta que teria que dar a Mary:

- Acabou, Mary. – Ele disse com a voz tão baixa que parecia um garotinho falando e não um rapaz de quase dezenove anos.

- O que acabou, querido? – Ela se aproximou mais acariciando os cabelos dele, encorajando-o a continuar a falar.

- O meu noivado com a Anne. – Agora a voz não passava de um sussurro e Mary teve que apurar os próprios ouvidos para tentar escutar o que ele dissera.

- Mas, por que? Vocês pareciam tão bem na festa. – Mary perguntou espantada pelo que Gilbert lhe contara. Ele respirou fundo, tentando colocar em palavras o que se passara, e tentando mais uma vez compreender o incompreensível. Em poucas palavras ele relatou a Mary o que culminara em toda a sua desolação. Quando terminou, ele se sentia vazio e sem forças como se alguém tivesse drenado todo o ar de seus pulmões deixando-o para morrer de asfixia.

- Gilbert, as coisas não podem ficar assim. Você precisa convencer Anne que a culpa não foi sua. – Mary estava inconformada com o que acontecera, e segurava as mãos de Gilbert entre as suas para dar-lhe seu apoio.

- Eu disse a ela, Mary. Mas, ela não acreditou em mim. E não tiro a razão dela. Talvez se eu estivesse no lugar de Anne também não acreditaria. – Ele se virou de lado e fixou  o olhar na parede.

- Mas, ela te disse com todas as letras que o noivado estava acabado?

- Não, na verdade ela não disse nada. Não me acusou, não gritou comigo, não me bateu e eu juro que preferia ser atingido por uma lousa de novo do que ver aqueles olhos azuis dela tão magoados comigo. – Gilbert disse suspirando desanimado.

- Querido, se ela não disse nada, talvez, tenha sido somente coisa de momento. Quem sabe depois que tudo isso passar, ela coloque a cabeça no lugar e venha falar com você. Ela te ama tanto. – Gilbert balançou a cabeça como se duvidasse que aquilo aconteceria. Sim, Anne o amava, mas também era orgulhosa, e quando se sentia magoada fechava todas as portas de seu coração e não deixava que ninguém se aproximasse. Ele vira isso acontecer várias vezes, e algo lhe dizia que daquela vez as coisas seriam piores ainda.

- Eu acho que a perdi, Mary. – Seus olhos se encheram de lágrimas, e não conseguindo mais se controlar começou a soluçar e Mary o abraçou penalizada.

- Não perca as esperanças, meu amor. Não é possível que um amor tão grande vai acabar assim por um mal-entendido. Tenha fé. – Gilbert tentou sorrir, mas não conseguia ter nenhum pensamento positivo naquele momento. Apenas balançou a cabeça afirmativamente, mas no fundo não conseguia acreditar que tudo aquilo fosse se resolver tão facilmente. Mary ainda ficou com ele um certo tempo, depois, percebendo que Gilbert queria ficar sozinho ela voltou para a festa, prometendo que voltaria mais tarde para ver como ele estava.

Os dias que se seguiram a este passaram devagar, e Gilbert ficava a maior parte do tempo em seu quarto, não queria ver ou falar com ninguém. Sebastian tentou animá-lo assim como Mary, mas, tudo perdera a graça no momento em que Anne o afastara dela. Ele ainda podia se lembrar de tantos momentos em que riram juntos, se amaram, dividiram seus pensamentos, a ida dela a Nova Iorque, a viagem a Paris, seus planos para o casamento, os filhos que queriam ter, a vida que sonharam construir juntos.

Como tudo acabara assim? Como ele permitira que acontecesse? O que ele faria com aquele amor que era tão grande que o sufocava? Como viver sem a mulher da sua vida? Nada mais fazia sentido, estava tudo perdido para ele, nem mesmo sabia como voltaria para a faculdade depois das férias sabendo que não teria mais Anne para esperar por ele quando estivesse em casa, mas se desistisse da medicina o que restaria além do amargo fim? Estava confuso demais, tudo era doloroso demais, não estava preparado para deixar Anne sair de sua vida definitivamente, e sabia que nunca estaria.

Gilbert olhou para o relógio em sua cabeceira e viu que era quase hora do almoço. Resolveu sair do quarto e fazer a refeição com Mary e Sebastian, embora não tivesse apetite nenhum, mas estava se sentindo tão sozinho que um pouco de calor humano talvez lhe fizesse bem.

Ele brincava com a comida em seu prato imerso em seus próprios pensamentos, quando ouviu Sebastian falar com ele tirando-o de seu momento de reflexão:

- Ficar sem comer não vai te trazer Anne de volta, Blythe.

- Deixe-me, Sebastian, não quero falar sobre isso. – Gilbert falou de cabeça baixa.

- Por quanto tempo vai se isolar naquele quarto? Você precisa reagir ou vai acabar doente. Logo as aulas recomeçam e você precisa de energia para estudar.- Sebastian continuou tentando animá-lo.

- Não sei se quero voltar para a faculdade.- ele disse desanimado.

- O que está dizendo? Ficou maluco? Depois de todo o esforço que fez para conseguir essa bolsa? Não acho que Anne iria aprovar isso. – Mary disse em tom de reprovação.

- Não acredito que Anne se importe mais comigo.- Gilbert disse sem olhar para Mary.

-É claro que ela se importa, Gilbert. Não deixamos de amar alguém somente porque essa pessoa no desapontou de alguma maneira. O amor verdadeiro é capaz de resistir as piores tempestades. – Mary disse desejando que suas palavras amenizassem o sofrimento de Gilbert. Doía-lhe tanto vê-lo assim, ela aprendera a amá-lo como a um filho, e não queria que ele sofresse daquela maneira, já tinha passado por tanta coisa, ele não merecia mais aquela dor em seu coração.

- Obrigado pelas palavras, Mary. Mas não sei se consigo mais acreditar nisso. – ele se levantou da mesa e disse: - Vou para o meu quarto.

- Mas, você nem comeu. – Mary disse preocupada. Gilbert não comia direito a uma semana, e ela desconfiava que ele também não estava dormindo, pois via olheiras ao redor de seus olhos que não estavam ali antes.

- Estou sem fome. Como alguma coisa mais tarde.- dizendo isso ele subiu as escadas e se trancou em seu quarto novamente. Não tinha ânimo para nada e não sabia o que fazer com seu tempo livre. Seu olhar caiu sobre o violão que estava encostado em um canto do quarto. Tentou tocar alguma coisa, mas logo desistiu, porque o fato de tocar o instrumento também lhe lembrava Anne.

Que Lástima! Ele pensou. Anne estava em todos os lugares, por onde ele olhasse havia um pedacinho dela espalhado por aquele quarto, quase podia sentir o perfume dela no ar, ouvir sua risada musical, e sentir o toque dela em sua pele. Estava perdido, condenado a morrer de amor por uma garota ruiva que o atormentava desde o dia em que se conheceram. Por mais dramático que isso pudesse ser, essa era sua única verdade agora.

Um chamado na porta o fez sair de seu devaneio e quando foi abrir a porta viu que era Muddy e o convidou a entrar.

- Cara, você está péssimo. Não te via assim desde a morte de seu pai.- Muddy disse surpreso por ver Gilbert tão triste e sem ânimo.

- Eu sei que estou horrível, mas é exatamente como me sinto por dentro.

- Vamos, Gilbert. Você não pode ficar assim. Precisa reagir.

-  . Não consigo, Muddy. Tudo no que penso é o que vou fazer agora que a Anne não me quer mais.- ele baixou a cabeça sem coragem de encarar seu amigo de infância.

- Gilbert, o mundo não vai acabar por causa disso, e também você nem sabe se a Anne não te quer mais. Pare de ser tão dramático, isso não é do seu feitio e venha comigo para a praia.

- Não estou com ânimo nenhum para isso.

- Eu não te convidei, seu estou dizendo que você vai comigo para a praia. Além do mais não vai querer deixar uma certa ruivinha sozinha por lá. – Muddy riu ao ver o rosto de Gilbert mudar completamente.

- Você está dizendo que minha Anne vai estar lá?

- Sim, eu te digo que a Josie me garantiu que ia convencê-la a ir.

- Está bem. Eu vou com você. Estou mesmo precisando de ar puro.- Gilbert disse se levantando de onde estava sentado e indo trocar de roupa.

- É assim que se fala, meu amigo. – Muddy disse ao ver Gilbert pegar uma bermuda no guarda roupa e lhe dar um sorriso, o primeiro de toda aquela semana.

 

 

 

 

ANNE

Anne caminhava pela floresta e mais alguns passos chegou ao seu clube de leitura. Abriu a porta que permanecera trancada desde que fora para a faculdade, e ao passar por ela, o lugar a encheu de lembrança que fizeram seu coração bater magoado dentro do peito.

Ela caminhou lentamente pelo lugar, observando cada detalhe, tocando cada objeto, sentindo o passado chegar até ela com um portal de memórias que nunca em sua vida inteira conseguiria esquecer.

Anne foi até a prateleira de livros, buscando uma pasta azul onde guardava as histórias que escrevia, e após alguns segundos tocando seus papéis antigos encontrou o que procurava.

Todos os poemas que escrevera para Gilbert estavam ali, e as palavras caprichosamente desenhadas em cada linha declamavam as verdades de seu coração. Ela se sentou em uma almofada com os papéis coloridos em mãos, e releu cada poema com os olhos cheios de lágrimas, sendo forçada algumas vezes a parar o que estava fazendo para enxugar o rosto molhado com elas.

Ela fechou os olhos, e sentou a presença forte e vibrante de Gilbert ao seu redor, assim como acontecera quando naquela semana ela fora visitar a casa que Sebastian estava construindo para eles, caminhou na praia onde viveram momentos de encantamento juntos e em seu próprio quarto se lembrando de cada instante em que fizeram amor com paixão.

Como se deixava um amor assim ir embora? Como se permitia que a chama se apagasse ou que cada instante escorresse por seus dedos feito água e desaparecesse para sempre? Ela teria que nascer de novo para não mais se lembrar daqueles olhos castanhos sérios em certos momentos, escuros de desejo em outro que lhe diziam tanto sem sequer fazer uso das palavras.  Ela teria que dilacerar seu coração para não mais senti-lo bater descompassado quando Gilbert a beijava, e ainda esfolar sua pele viva para não mais sentir o toque dele em cada centímetro de seu corpo lhe dando a ideia clara do que era pertencer a alguém.

Anne nunca conseguiria apagar Gilbert de sua vida sem que sua própria vida fosse apagada, porque ambos estavam completamente ligados com irmão siameses que não podem ser separados por terem somente um coração.

Aquela semana tinha sido dura demais, muita coisa para lembrar, muitos sonhos para deixar para trás, muito amor difícil de esquecer. Ela tentara fazer tudo como sempre fizera, mas uma parte sua estava faltando e onde quer que olhasse ela sempre encontrava Gilbert.  Um momento ele estava lhe sorrindo, no outro brincava com seus cabelos distraído enquanto lia um livro, em outro a estava abraçando com seus braços em sua cintura enquanto sussurrava o quanto a amava em seu ouvido, e isso a estava afetando em demasia.

Como se deixava de amar alguém que desde sempre fora tão importante? Como se apagava a existência de uma pessoa quando ela era o que representava sua vida toda? Como deixar de suspirar por alguém que lhe dera tanto e tão espontaneamente que conquistara cada pedacinho de sua alma? Anne sabia que era impossível e que se morresse naquele instante morreria com o nome de Gilbert sendo sussurrado por seus lábios.

Ela sabia que ele dissera a verdade sobre o que acontecera, e que o amor que sentia por ela era verdadeiro, mas o problema era que não importava o que realmente acontecera ou o que fora dito, porque não era isso que estava pesando em sua decisão naquele momento.

Fora um choque ver Gilbert beijando outra menina, nunca pensara que viveria para ver isso, mas o sentimento que a fizera correr para longe dele não fora o ciúme e nem a falsa suspeita de que ele a traía, embora fossem esses os pensamentos que tomaram contam dela naquele instante. O que a fizera fugir fora a vergonha de si mesma, e a sensação de que não era o bastante e nunca seria para Gilbert.

E não adiantava ele dizer que ela era perfeita, que ele a amava acima de tudo, porque ela não se sentia assim.  Dentro de Anne sempre existira um sentimento que com o tempo ela escondera de si mesma para sobreviver em um mundo que por muito tempo a odiara.

O problema não era ela ser órfã e ter vivido em um orfanato um bom pedaço de sua vida. O problema era maior do que ela um dia poderia ter imaginado e que agora se revelava aos seus olhos roubando-lhe a calma e a confiança e afastando-a de seu amor.

 Ela nunca soubera quem tinham sido seus pais, e muito menos por que fora deixada naquele lugar lúgubre, sem compaixão, que aniquilava a alma de cada órfão que vivia ali, fazendo-os acreditar que eram como um grão de areia no mundo, rejeitados e sem amor.

E era assim que Anne se sentia, rejeitada, e por mais que sua inteligência a tivesse salvado da aniquilação total de seus sonhos, havia sempre uma voz dentro de sua cabeça que dizia que ela não era boa o suficiente, que não merecia nada, por que se seus pais a tinham deixado naquele lugar para morrer, era por que o seu grau de importância no mundo e na vida de alguém era menos do que nada.

Ela pensara que com o tempo, com a dedicação de Matthew e Marilla, e principalmente o amor de Gilbert tivesse acabado com aquele sentimento que a fazia se sentir inferior, inadequada e errada. Mas cada vez que alguma coisa a colocava frente a frente com essa questão ela percebia que somente mascarava aquele seu complexo de inferioridade que estava tão enraizado em sua mente e espírito que se tornava evidente quando tinha que enfrentar a si mesma e seus medos, e nem sempre gostava do que via no espelho.

 Gilbert sempre fora verdadeiro em seus sentimentos e nunca lhe mentira, disso ela tinha certeza, mas ver Sabrina nos braços dele mesmo não sendo ele que iniciara o beijo por vontade própria a fizera finalmente deixar cair a própria máscara e ver a feiura que havia por trás.  De repente, ela era de novo a garota ignorada, a ruiva magricela e sem atrativos que falava demais e fora trocada por alguém melhor. Fora esse sentimento que a fizera mandar Gilbert embora, e que ainda perdurava dentro dela, e do qual deveria se livrar se quisesse viver seu amor com Gilbert da maneira como ambos mereciam.

Por essa razão, tinha que descobrir quem era, a sua linhagem, e por que fora deixada para trás como se fosse um colchão velho e sem utilidade. Talvez para muitas pessoas aquilo não importasse, mas para ela era o que determinaria todo o seu futuro, e queria dar a Gilbert uma felicidade completa e não somente a metade dela.

Anne ouviu um barulho na porta, e depois a voz de Josie que a chamava impaciente. Ela foi até lá e convidou a amiga para entrar.

- O que está fazendo aqui sozinha, Anne? - Josie perguntou passando os olhos sobre os vários papéis espalhados pelo chão.

- Nada importante. Precisava de um pouco de ar, e resolvi vir até aqui dar uma olhada no clube. Desde que fomos para a faculdade nunca mais coloquei os pés aqui.- Josie deu um passo em direção as almofadas onde Anne estivera sentada, e pegou uma das folhas de papel no chão.

- Isso inclui ficar lendo poemas e se lembrando de Gilbert? – Josie perguntou olhando para Anne de maneira séria.

- Eu não estava pensando no Gilbert. – Anne disse com os olhos fitando o vazio.

- Eu não sou boba, Annie. Eu sei que esses poemas você escreveu para o Gilbert, pois você mesma contou para a Diana e eu. Por que se tortura assim, Anne? Por que simplesmente não fala com ele e resolve as coisas? O Muddy me disse que o Gilbert está péssimo. Vocês se amam tanto, por que não o procura e resolvem logo isso.

- Eu não posso, Josie.- Anne baixou a cabeça e fechou os olhos. Por que Josie a forçava falar sobre aquilo? Será que não via como ela estava sofrendo?

- Claro que pode. Você nem sabe o que aconteceu direito naquele dia.- Josie insistiu e Anne suspirou balançando a cabeça:

- Josie, não me importa se foi o Gilbert ou a Sabrina quem começou o beijo, eu nem estou mais levando isso em consideração.

- Não? Mas, então por que está agindo assim? Marilla me disse que você tem saído todas as tardes, e eu sei que tem visitado todos os lugares que ia com Gilbert. Eu sei disso, porque o Muddy te seguiu um dia a meu pedido. Não fique brava, mas eu estava preocupada depois do que aconteceu quando Gilbert foi para Nova Iorque e você quase se matou aos poucos. Anne, se não importa o que aconteceu na festa, por que não acaba com esse sofrimento pelo qual você e Gilbert estão passando? - Josie disse pegando na mão de Anne.

- Eu preciso de um tempo, Josie. Preciso colocar a cabeça no lugar e encontrar de novo o que eu e Gilbert tínhamos juntos. Se voltarmos, quero ter certeza de que nunca mais vou ter que sofrer pelos pensamentos que estão em minha cabeça. – Josie olhou-a confusa e perguntou:

- Do que está falando, Anne?

- Não é nada, são coisas minhas, você não entenderia. – Anne disse baixando o olhar para os seus sapatos.

- Tudo bem, não vou insistir. Eu vim aqui por causa de outro motivo.

- E qual é?

- Vim te buscar par irmos à praia. – Josie disse alegremente.

- Eu não estou com ânimo para isso.

- Não importa. Você vai e pronto. A Diana vai estar lá, o Jerry e o Muddy também. Já falei com a Marilla e ela concordou comigo que você precisa se distrair. Deixe que seus amigos cuidem de você. Todos nós te amamos e estamos preocupados. – Josie disse apertando o braço de Anne com afeição.

- Eu nem tenho roupa de banho aqui comigo, Josie.

- Eu trouxe, não se preocupe. Temos quase o mesmo corpo. Eu tenho um biquíni e um maiô, você escolhe. – Anne pensou um pouco. Por que não? Fazia uma semana que estava perambulando por todos os lados sozinha em seu sofrimento. Podia pelo menos passar algumas horas de descontração com seus amigos, e esquecer aqueles pensamentos que a atormentavam sem parar.

- Está bem, eu vou com você. – Anne disse com um sorriso triste.

- Ótimo.- Josie a abraçou pela cintura enquanto saiam do clubinho e caminhavam pela floresta em direção à praia. – Tudo vai ficar bem, você vai ver.

- Anne apenas sorriu e ficou calada, queria ter aquele otimismo de Josie, mas, pela primeira vez, desde que tudo aquilo começara não tinha certeza de nada.

 

ANNE E GILBERT

A praia estava cheia de gente e a água convidativa, mas, Gilbert se recusou a entrar no mar com Muddy e surfar. Queria apenas se sentar na areia e observar o movimento, viera apenas porque Muddy dissera que Annne estaria ali, porém até aquele momento não tinha nenhum sinal dela.

Ele olhou ao redor e viu Jonas se aproximar com Dora e Jack, e logo atrás estava Sabrina. Gilbert virou o rosto, não queria olhar para ela, pois tudo o que conseguia sentir era raiva pelo desastre que ela causara na vida dele. Eu queria nunca tê-la conhecido, ou melhor, nunca ter sabido de sua existência. Ela era como uma erva daninha que destruía tudo por onde passava, o que tinha de beleza, também tinha de maldade, e Gilbert queria distância daquele tipo de pessoa.

Eles vieram em direção a Gilbert, e assim que se aproximaram, Jonas disse:

-  Oi, Gilbert, tudo bem? O Muddy convidou a gente para vir a praia e aceitamos, pois, iremos embora amanhã, e queríamos nos despedir desse lugar. Você tinha razão, isso aqui é um paraíso. – Gilbert balançou a cabeça concordando, mas não disse nada.

- Vamos dar um mergulho. Você não quer vir com a gente? – Jack convidou.

- Não obrigado. Vou ficar por aqui mesmo.- Gilbert respondeu com um meio sorriso.

Eles se afastaram em direção ao mar, e Gilbert sentiu um leve toque em seu ombro, e se virou encontrando Dora parada ao seu lado.

- Gilbert, eu queria saber como você e Anne estão depois do que aconteceu na festa.

- Ela não quer falar comigo. Tentei explicar o que aconteceu. Mas ela me mandou embora, depois disso não a vi mais.- seu olhar ficou triste e Dora sentiu pena do amigo

- Que pena, Gilbert. Eu acho vocês o casal perfeito, sempre foram uma inspiração para mim. Mas, tenho certeza de que tudo ficará bem. A Anne te ama muito, e assim que a raiva passar ela vai te procurar. Tenha um pouquinho de paciência.- Dora disse sorrindo.

- Tomara que esteja certa.- Gilbert disse desanimado.

Então, Dora se juntou aos outros amigos e ele ficou novamente sozinho perdido em seus pensamentos. Tinham se passado alguns minutos, e Gilbert já estava pensando em ir embora, Anne não viria e ele não via sentido nenhum em ficar ali. Sentiu alguém se sentar ao seu lado e pensou que fosse Dora que tinha voltado, se virou sorrindo para falar com a amiga, e seu sorriso congelou assim que viu que era Sabrina.

- Então, quer dizer que você finalmente se livrou daquela ruiva azeda? Será que tenho alguma chance agora? – Gilbert fechou a cara e respirou fundo, tentando conter sua raiva. Aquela garota é realmente insolente, depois de tudo o que acontecera por causa dela, Sabrina realmente achava que ele iria ficar com ela?

- Aquela ruiva é minha noiva, e você não chega nem aos pés dela. Quando vai entender que não quero nada com você? - Ele disse entre dentes.

- Não acredito que vai desperdiçar todo esse material. – Ela disse passando a mão pelo próprio corpo que o biquíni minúsculo mal escondia, e depois continuou. – Aquela garota mal tem curvas, eu sei que posso te dar tudo o que quiser. – Ela disse com a voz sensual passando a mão pelo braço de Gilbert, que a afastou como se fosse brasa quente.

- Você se preocupa somente com a aparência e não percebe que isso é o que menos importa. Anne é a garota, mais incrível, inteligente e bondosa que já conheci além de linda. Ela é uma princesa enquanto você não passa de uma qualquer.- Gilbert se levantou e correu em direção ao mar. Precisava de um mergulho ou sua cabeça ia explodir de ódio, deixando Sabrina em estado de choque sentada na areia.

Depois de algumas braçadas, ele saiu do mar balançando os cabelos para tirar o excesso de água, foi quando seu olhar cruzou com outro tão azul que quase o deixou em estado de choque sem saber o que dizer.

Anne tinha acabado de chegar, e por Deus, ela estava tão maravilhosa em um maiô azul que escondia seu corpo, mas que a deixava ainda mais sexy do que se estivesse de biquíni, seu cabelo brilhava ao sol como se estivessem cheio de energia pura, e ele observou-a estremecer assim que o viu chegar na praia. Ele queria tanto falar com ela, mas não se atreveu a se aproximar, esperando que ela desse o primeiro passo, mas isso não aconteceu.

Enquanto isso o coração de Anne parecia que ia falhar, não esperava encontrar Gilbert na praia, pois Josie não dissera que ele viria. Ele estava lindo todo molhado da água do mar, e aqueles olhos cor de avelã pareciam tocar a sua alma mesma à distância de onde estavam. Ela sentiu um desejo incontrolável de correr para ele e abraçá-lo, pois, uma semana tinha se passado sem que ela sequer ouvisse a voz dele, mas, sabia que não podia fazer isso, pelo menos ainda não, por mais que sentisse falta dele, por mais que se corpo lhe implorasse, ela devia ficar onde estava e falaria com ele em outro momento.

Por esta razão, ela ficou de costas para ele e começou a conversar com Diana e Josie que estavam acompanhadas de seus respectivos noivos.

Gilbert sentiu uma pontada em seu coração, assim que viu Anne dar-lhe as costas. Então, ele percebeu que ela ainda estava com raiva dele e por isso o ignorava, dessa forma, ele decidiu que não ficaria na praia nem mais um minuto e voltaria para casa imediatamente. Não suportaria ficar ali vendo Anne tão perto dele sem poder tocá-la. Seu corpo doía de saudades dela, e ele quase não conseguia dormir pela falta que ela fazia ao seu lado na cama. Assim, ele resolveu ir embora, antes que fizesse algo que não devia e colocasse tudo a perder.

- Muddy, para mim já deu. Estou indo para casa.- ele disse assim que viu o amigo se aproximar.

- Mas, Gilbert, a Anne acabou de chegar. Não vai falar com ela?

- Vai por mim, meu amigo. Ela não quer falar comigo. Nos vemos depois. – Ele disse por fim, se despedindo de Muddy com um tapinha nas costas.

Quando Anne se virou novamente em direção à onde Gilbert estava antes, seus olhos não mais o encontraram. Ela correu o olhar por todos os lugares, mas, ele não parecia estar em nenhum campo de visão, deixando-a aflita. Foi somente quando Muddy se aproximou e ela ouviu Josie perguntar baixinho de Gilbert e ele respondeu que o rapaz tinha ido embora, que ela percebeu o quanto queria que ele ficasse.

- Quem foi que convidou essa oferecida para vir até aqui? – Anne ouviu a voz de Diana indignada, e olhou para onde ela apontava. Seus olhos endureceram de raiva quando viu Sabrina caminhando na areia como se fosse a rainha da praia. Ficou de costas novamente, não suportando olhar para a cara deslavada daquela garota.

- Ninguém convidou, Diana. Mas, você sabe a praia é pública.- Muddy respondeu dando de ombro.

Anne se afastou um pouco dos amigos, caminhando em direção contrária. Queria ficar sozinha e longe das vistas de Sabrina. Ela se sentou em um banco de areia observando as ondas do mar se quebrando na praia, e qual não foi sua surpresa quando a viu caminhar em sua direção e sentar-se ao seu lado. Anne tentou ignorar-lhe a presença, não queria confusão e desejava apenas que ela fosse embora e a deixasse em paz. Mas, Sabrina parecia ter outros planos, pois ficou ao lado de Anne dizendo:

- Ora, ora, quem eu encontrei nessa praia, a noivinha ofendida. – Anne respirou fundo, mas não respondeu à provocação. Porém, Sabrina vendo que ela não dizia nada continuou.

- Você pensou mesmo que ia ficar com o Gilbert para sempre? Santa ingenuidade, um cara como aquele merece uma mulher de verdade como eu, e não uma garotinha ingênua e medrosa que não deve nem saber com o agradar um homem como aquele. – Ao ouvir aquilo. Anne não se controlou mais, se levantou em um salto e deu um sonoro tapa no rosto de Sabrina que a olhou incrédula sem acreditar no que acontecera.

- Escuta aqui, sua vadia de Nova Iorque. Eu duvido muito que o Gilbert tenha olhado para você ou tido o mau gosto de te convidar para sair. Eu sinto tanta pena por ver a que ponto você se rebaixou para conseguir a atenção de um homem. Você se acha tão esperta, mas é apenas uma garota vazia, tão oca por dentro que para se sentir melhor precisa usar o corpo pensando que assim conseguirá um pouco de amor, mas o que você não percebe é que eles apenas te usam, e no final vão te jogar fora e você vai acabar completamente sozinha. – Anne começou a andar em direção a Diana e Josie que acompanhavam a cena de longe, não querendo interferir. Mas, quando deu dois passos, ela ouviu Sabrina dizer:

- Mas conseguir abalar seu noivado, não foi? - Anne se virou devagar e olhou para a outra garota com tanto desprezo que a fez se encolher, e disse com a voz desprovida de qualquer emoção.

- Você pode ter abalado meu noivado, mas não conseguiu acabar com o amor que Gilbert tem por mim, e quanto a você? Quem te ama? – Sem esperar para ver a reação que suas palavras tiveram sobre a outra garota, Anne recomeçou a andar, quando se aproximou de seus amigos, vestiu uma saída de praia sobre o maiô, e se despediu dizendo que estava indo para casa, sem dar a chance a nenhum deles para lhe interrogar sobre o que acontecera entre ela e Sabrina.

Ela caminhou com passos decididos, sentindo seu estômago estranhamente enjoado. Desde que Sabrina começara a falar e confirmara nas entrelinhas que fora ela que causara todo aquele problema entre Anne e Gilbert começara a se sentir assim. Quando chegasse em casa prepararia um chá calmante, pois seus nervos estavam em frangalhos.

Assim que pisou em Green Gables, acenou para Marilla que estava cuidando de suas rosas em seu jardim, e entrou em casa disposta a tomar um banho e depois repousar, mas sua mente estava inquieta, precisava falar com Gilbert, caso contrário não conseguiria dormir.

Por isso, tomou um banho rápido, se vestiu e desceu as escadas novamente procurando por Marilla para avisá-la aonde estava indo, mas não a viu em nenhum lugar, por isso lhe deixou um bilhete e caminhou a passos largos até a fazenda de Gilbert. Quando lá chegou, bateu na porta e ficou esperando impaciente que alguém a atendesse, e foi uma Mary sorridente que a recebeu, abraçando-a com carinho quando a viu parada na varanda:

- Anne, querida, que bom que veio. Estávamos com saudades.

- Eu também, Mary. O Gilbert está? Eu preciso falar com ele.

- Claro, querida. Ele está no quarto dele. Pode subir se quiser. - Anne assentiu e começou a subir as escadas de dois em dois degraus, enquanto Mary a observava, rezando para que eles finalmente se acertassem.

 Anne se aproximou da porta do quarto de Gilbert um pouco nervosa, seu estômago estava dando cambalhotas aumentando seu mal-estar. Ela parou um segundo, tomando coragem para bater, então, se decidiu, respirou fundo e deu três toques na porta ouvindo a voz de Gilbert pedindo para que ela entrasse.

Ele estava sentado na cama, e lia um livro parecendo concentrado. Quando viu que era ela, Gilbert arregalou os olhos e se levantou da cama meio sem jeito não sabendo o que falar a princípio. Foi Anne que quebrou o silêncio dizendo:

- Gilbert, eu vim até aqui porque eu queria te falar uma coisa.

- Claro, o que é? - Ele esperou com o coração batendo como louco em seu peito:

- Eu acredito em você. Eu sei que foi a Sabrina que armou tudo aquilo na festa de Mary e Sebastian.- o sorriso que Gilbert lhe deu pareceu iluminar todo o quarto, mas ao invés deixá-la feliz surtiu o efeito contrário fazendo com que seu coração se apertasse ao invés de aliviá-la.

- Meu amor, você não sabe o quanto esperei para ouvi-la me dizer isso. – Ele correu para abraçá-la, mas ela o interrompeu.

- Eu também queria te dar isso.- Ela estendeu a opala que ele lhe dera em noivado, e Gilbert olhou para ela com os olhos arregalados como se sentisse milhares de flechadas atingindo-o ao mesmo tempo.

- Você está me devolvendo o anel que eu te dei? Isso quer dizer que está terminando o nosso noivado? – Ele quase não conseguia pronunciar as palavras, a dor era insuportável demais. Ele realmente a estava perdendo?

- Não, eu quero que o guarde para mim até que eu seja digna de usá-lo novamente.

- O que está dizendo Anne? Eu não estou entendendo nada.

- Gilbert, eu queria que entendesse uma coisa. Eu te amo, mais do que já amei alguém na vida, mas, eu não posso ficar com você agora, Durante muito tempo eu escondi de mim mesma certas questões que não podem mais ser ignoradas. Eu não sei de onde eu vim, quem são os meus pais, e isso deixou um buraco tão grande dentro de mim que quase está me sufocando, e enquanto eu não resolver essas questões, eu não posso ser a mulher que você precisa e merece. Eu preciso preencher essas lacunas da minha vida, pois só assim serei definitivamente feliz ao seu lado.

- Mas, não podemos fazer isso juntos? - Gilbert perguntou tentando entender o que ela lhe dissera.

- Não, é algo que preciso fazer sozinha. Eu não estou te pedindo que me espere, pois seria egoísmo demais te pedir isso. Se um dia encontrar alguém que ame mais do que amou a mim, saiba que vou entender, eu vou desejar que seja muito feliz, mesmo que não seja ao meu lado,

- Eu nunca vou amar ninguém como amo você, Anne. Você sempre foi e será a única para mim. Pensei que já soubesse disso. Eu vou te esperar, pode ter certeza.- Anne se aproximou dele, o abraçou pelo pescoço e uniu seus lábios ao dele, dando-lhe um beijo tão doce que Gilbert pensou que se derreteria nos braços daquela garota incrível.

- Eu te amo, Gilbert Blythe para sempre. – Ela deu-lhe um último selinho e saiu pela porta deixando-o sozinho.

Gilbert viu Anne indo embora pela janela de seu quarto, e enquanto ela cruzava todo o jardim em direção ao portão de saída, ele sentiu seu coração mais leve, ela não o tinha abandonado afinal, pelo menos agora poderia ter esperança.

 

 

 

 

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Notas Finais


O que acharam? Beijos.


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