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História Anne with an e- continuação da série - A paixão que te move


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Espero que apreciem mais este capítulo. Tenham uma boa leitura.

Capítulo 7 - A paixão que te move


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - A paixão que te move

Capítulo 7

A Paixão que te move

 

   GILBERT

 

Era a primeira vez que Gilbert cortava lenha depois que voltara da viagem. Não precisariam de madeira até o próximo inverno, mas o esforço físico ajudava a aliviar a tensão, o obrigava a manter o foco e impedia que seu pensamento fosse além da tarefa que estava executando.

Ainda assim sua mente lhe traía e o fazia relembrar de cada momento com Anne. Conseguira uma conexão perfeita com ela, se declarara e achou que a partir daí se entenderiam.

Como foi que tudo dera errado? Em que momento perdera o controle da situação? Quando deixara Anne na noite anterior estava tão feliz que mal percebeu o momento que chegou em casa. Bash já tinha se recolhido, mas Gilbert estava agitado demais para dormir, então preparou um café e ficou sentado na sala, sonhando acordado com os beijos de Anne. Foi quando ouviu uma batida de leve na porta e se perguntou quem seria àquela hora da noite? Será que alguém na vizinhança estava doente e precisava de ajuda?

Quando abriu a porta se assuntou ao ver Ruby Gillis parada em sua varanda. Parecia assustada, até um pouco tímida, e suas mãos tremiam um pouco. O que será que ela queria?  Então pensou que a melhor solução era perguntar e acabar logo com aquilo.

- Boa noite, Ruby. Em que posso te ajudar?- disse Gilbert educadamente.

- Boa noite, Gilbert. Será que podemos conversar?- perguntou Ruby, nervosa. Sabia que não deveria estar ali àquela hora, e se não fosse por Josie, jamais teria tido coragem. Ela lhe contara sobre o interesse de Gilbert em Anne,os olhares entre os dois, apesar de Anne disfarçar muito bem. Não ia perdê-lo desta maneira, esperara por três anos para se declarar e faria isso agora.

- Claro. Qual é o problema?- não a convidou para entrar. Não achou que fosse apropriado.

- Não vou me demorar. O que tenho para dizer vai ser bem rápido.- e tomando coragem disse: Eu te amo,Gilbert.

_ O que?- o garoto ficou tão surpreso que não sabia nem o que dizer. Olhou para Ruby tentando entender o real significado daquelas palavras, mas não conseguiu.

- Sim, Eu te amo faz três anos e agora que voltou, achei que poderíamos nos conhecer melhor. Isto é,se você quiser.

- Ruby, eu não sei o que dizer. Isso é no mínimo inesperado. - Gilbert começava a se sentir constrangido com aquela garota ali na sua porta, se declarando para ele àquela hora. Não queria magoá-la, mas a verdade é que não tinha o menor interesse em conhecê-la melhor. No entanto, não queria dizer isso naquele momento ,então tentou amenizar o golpe que acabaria com as esperanças dela.

- Ruby, eu... - mas foi interrompido, pois Ruby se agarrou em seu braço e lhe deu um beijo surpreendendo-o. Ela foi tão afoita que Gilbert tivera que se segurar na cintura dela ou os dois desabariam ali mesmo na varanda. De repente, ouviu um barulho seco e alguém praguejar baixinho. Ele levantou o rosto, aproveitando para fugir do beijo que em nada lhe agradara, e qual não foi sua surpresa quando deu de cara com Anne, que os observava. De onde estava ele pôde ver seus olhos azuis se escurecerem em fúria, seu rosto ficou vermelho demonstrando toda a mágoa que a cena lhe causara.

“Não, não, não”! Quis gritar Gilbert,quando a viu virar as costas, sair correndo e desaparecer na escuridão. Aquilo não podia estar acontecendo. Por que aquela garota tinha que aparecer assim, sem ser convidada e fazendo a ele uma declaração de amor totalmente sem sentido? Queria mandá-la embora e correr atrás de Anne, mas a alma de cavalheiro dele não o permitiu ser mal educado, apenas disse:

- Rubi, fico lisonjeado, mas acho que é melhor você ir para casa. Está tarde e em outro momento conversamos sobre isso.

- Tudo bem. Você precisa de tempo para pensar, eu entendo. - disse Ruby, com aquela voz infantil que já começava a irritar Gilbert.

Ele não precisa de tempo nenhum para pensar. Ele sabia bem o que queria, mas não disse nada, só se despediu:

-Boa noite, Ruby.

- Boa noite, Gilbert. - Em outra ocasião e por educação, teria se oferecido para acompanhá-la até em casa,mas naquele noite Gilbert só queria ficar sozinho.

Assim que ela se foi, o garoto se jogou no sofá angustiado. E passou a noite em claro, pensamentos de todos os tipos atingindo seu cérebro.Quando o dia por fim amanheceu, Gilbert já estava de pé fazia horas.Não sabia o que fazer ou para onde ir,estava preso em um emaranhado de sentimentos que seu coração não conseguia libertá-lo.

Pensou no pai e sentiu uma saudade imensa. Como queria que ele estivesse ali, pois tinha certeza que lhe diria as palavras certas e lhe mostraria como resolver toda aquela confusão na qual se envolvera e não sabia como sair. Sentia-se tão sozinho e o silêncio ao seu redor o oprimia. Colocou o machado de lado e se sentou em uma pilha pequena de madeira que havia acabado de cortar. Então, tomou  o rosto entre as mãos, tentando acalmar a agonia que lhe ia por dentro,mas era inútil,ele sabia o que o ajudaria, mas tinha certeza de que não era o momento apropriado.

Falar com Anne era a única solução para acabar com seu infortúnio, só que duvidava que ela quisesse vê-lo agora. Teria que esperar a hora certa, ser paciente, encontrar uma maneira de fazê-la acreditar que o que tinha visto não fora culpa dele, pois desde que voltara sua vida estava tão cheia da presença dela que não havia lugar para nenhuma outra garota. Especialmente Ruby Gillis cuja personalidade não o atraía de forma alguma, era fútil demais e possuía uma beleza vazia, daquelas que murcham com o tempo por falta de consistência.

Não sabia o que a fizera pensar que Gilbert se interessaria por ela. Nunca conversaram de verdade, sequer compartilhavam dos mesmos gostos. Ela mais parecia uma boneca enfeitada de laços e fitas com a cabeça desprovida de sentimentos mais profundos. Gilbert sabia que Ruby vinha de boa família, era educada e boa filha, mas isso não a salvava de suas vaidades excessivas. Nem de longe essa garota tinha a energia de Anne, onde a ruiva era fogo,Ruby era gelo. Enquanto Anne tinha uma alma apaixonada, Ruby transitava entre a infantilidade e fantasias impossíveis. Anne era tão intensa que o espírito apagado de Ruby jamais alcançaria tanta vitalidade e jovialidade.

E era dessa fogueira de emoções que Gilbert precisava e queria. Anne era a garota perfeita de seus sonhos, uma estrela brilhante que o guiara nas águas do Pacífico e que o trouxera de volta para casa. Só de pensar em perdê-la fazia com que sentisse que havia um buraco em seu peito no lugar do coração, e agonizaria até a morte se nunca mais a tivesse por perto.

Mas Gilbert sabia que o tempo não estava do seu lado, ele corria na contramão de seus desejos, e quanto mais lutava contra inércia que tomava conta dele, mais longe isso o levava de seu amor.

Suspirou desconsolado. Parecia impossível suportar toda aquela dor, seus olhos ardiam da noite mal dormida, e o cansaço ameaçava tomar conta dele agora. Ouviu passos de alguém se aproximando, levantou a cabeça e viu que era Bash que caminhava em sua direção.

- Bom dia, Blythe. Que diabos faz aqui sozinho nessa hora da manhã?- perguntou ele, com sua vivacidade costumeira.

Gilbert não respondeu. Limitou-se a olhar para o amigo, com uma fisionomia tão angustiada que fez com que Sebastian perguntasse preocupado:

- O que aconteceu com você, Gilbert? Parece que passou a noite inteira lutando contra um exército em guerra.

- Não sei se quero falar sobre isso agora, Bash. Me sinto exausto até mesmo para respirar.- disse Gilbert desanimado.

- Mas você parecia tão animado ontem a noite quando foi para o aniversário da Anne.- disse Bash sem compreender a expressão triste do menino.

- A festa foi ótima, mas aconteceram tantas coisas depois que não sei nem por onde começar a te contar.

- Aconteceu alguma coisa entre você e Anne?- insistiu Sebastian, querendo muito poder ajudar aquele garoto que aprendera a amar como se fosse um filho.

- Sebastian, eu sei que é meu amigo, mas acho que não posso falar disso neste momento. - parou de falar, pois sua voz falhara, e seus olhos se encheram de lágrimas as quais Gilbert enxugou rapidamente, antes que rolassem por seu rosto de vez. Não chorava nunca, aprendera com o pai a controlar tais emoções. Não que achasse fraqueza um homem chorar, era só que parecia uma tremenda perda de tempo derramar lágrimas que não trariam nem alívio e nem soluções para o seu problema..

- Tudo bem, amigo. Não vou insistir mais. Quando estiver pronto e tiver vontade sabe onde me encontrar. - deu um tapinha nas costas de Gilbert.

- Obrigado .- Agradeceu Gilbert infeliz.

E assim, Bash o deixou sozinho com seu desalento e seus pensamentos que ainda o torturavam. Por fim decidiu que não procuraria Anne naquele dia. Deixaria para falar com ela na escola, pelo menos era um terreno neutro e onde ele sabia que a encontraria, e teria mais oportunidades de fazê-la ouvi-lo. Faria até o impossível para provar que o que dissera a ela na festa era sincero, e que tudo o que acontecera depois fora um mau entendido. Ele precisava acreditar que tudo se resolveria da melhor maneira possível, ou sua vida não teria o menor sentido.

Olhou para o céu azul quase sem nuvens daquela manhã de domingo, e desejou com todas as forças que seu amor fosse forte o bastante para trazer Anne de volta para o seus braços.

 

 

                                                ANNE

 

Anne olhava pela janela de seu quarto e observava com interesse sua cerejeira preferida. Suas folhas tinham mudado agora que era primavera, e estava carregada de frutos tão vermelhos que lembravam muito a cor dos cabelos dela.

O ar agradável da manhã atingiu em cheio o seu rosto, trazendo uma calma que estava longe de sentir. Dentro de seu coração havia um vulcão prestes a entrar em erupção , e Anne se sentia como se fosse a princesa Cordélia de suas fantasias presa em sua torre de marfim.

A noite insone já deixava suas marcas, havia manchas escuras ao redor de seus olhos que tinham perdido o brilho por causa das muitas  lágrimas que derramara.  Fez uma careta quando as malfadadas lembranças trouxeram a tona sua angústia.Não queria recordar, seu peito doía cada vez que respirava, queria apenas um remédio para anestesiar a sua dor.

Mas a garota teimosa dentro dela se recusava a sucumbir a toda a tristeza que sentia. Precisava reagir e seguir em frente mesmo que a duras penas, já passara por tantas tormentas e sobrevivera. Não deixaria que um amor fracassado a derrotasse, ela era mais forte que isso. Sacudiu a cabeça, tentando desanuviar os pensamentos e disse a si mesma:

- Vamos, Anne. Levante-se daí e vá a luta. A vida não acabou porque Gilbert Blythe te fez de idiota. - sentiu o golpe de uma faca em seu coração ao lembrar dos acontecimentos da noite passada, mas corajosamente se pôs de pé e despiu o vestido que usara na noite passada, imaginando que jamais o usaria de novo sem que pensasse na morte de suas ilusões.

Colocou um vestido simples que costumava usar aos domingos, e guardou o azul turquesa em seu armário.  Sem querer seus olhos pousaram no presente de Gilbert que jazia na mesinha de cabeceira  junto ao poema que ele lhe dera.Não tivera coragem de jogar fora, sabendo de sua história e da importância que tivera para o pai de Gilbert, seria um sacrilégio se desfazer dele, mas prometeu eu nunca o usaria porque não sentia que possuía direito algum sobre aquela joia tão delicada.

A casa estava silenciosa quando desceu. Sabia que Marilla e Matthew tinham ido para a igreja recém-reformada depois do incêndio, porque a velha senhora tinha aparecido em seu quarto às sete horas da manhã para convidá-la a ir junto com eles, mas vendo-a dormindo não quisera acordá-la. O que ela não sabia é que Anne só fingia dormir,  pois queria escapar dos olhos astutos de Marilla, que perceberia que havia algo errado assim que a visse.Por esta razão, era um alívio ter a casa só para ela, pois poderia se recompor com calma antes deles voltarem na hora do almoço e tudo que veriam seria a velha Anne de sempre.

Não estava com fome então desistiu de tomar o café da manhã, saiu para o quintal e ouviu barulho no celeiro, aí se lembrou que Jerry voltara a trabalhar em Green Gables,como não falara muito com ele nos últimos dias,  foi até lá para cumprimentá-lo

-Bom dia, Jerry. - ele estava de costas e se virou quando ouviu a voz da menina.

- Bom dia, Anne. Que manhã maravilhosa, você não acha?

- Está maravilhosa sim. - Jerry se espantou por Anne não fazer nenhum de seus comentários exagerados, e olhou para ela com ar intrigado.

- Você não está doente, não é?

- Não, porque pergunta?- disse Anne. Será que ele percebera traços de lágrimas em seu rosto, ou será que tinha sido o tom de sua voz que a traíra?

- Porque normalmente em um comentário meu como este, você desfiara um rosário de poesias só para descrever a beleza da manhã, e me deixaria tão enjoado que eu a jogaria para fora do celeiro- disse Jerry rindo, só de imaginar aquela cena.

- E eu com certeza jogaria uma pilha de feno em cima de você só para retribuir o desaforo .- disse Anne, dando Graças a Deus por ainda conseguir achar graça em alguma coisa.

- Como vai você e a Diana?- perguntou logo em seguida. - Já fazendo planos para o seu futuro juntos?

- Estamos nos acertando aos poucos, mas ainda é cedo para pensarmos em compromisso. Somos muito jovens e eu quero ajeitar minha vida primeiro, antes de propor qualquer coisa a ela. Estou pensando em ir para a faculdade de Direito. - contou o menino muito animado.

- Ora, ora. Para quem não gostava nem de ler um livro, você parece que progrediu bastante. Fico contente em ouvir isso, pois minha amiga Diana merece o melhor.

- Você parece que se divertiu muito a noite passada. Eu e Diana vimos você conversando com Gilbert, pareciam muito a vontade um com o outro.

Ao ouvir isso Anne sentiu seu rosto em chamas. Já era o suficiente Gilbert enfeitiçá-la com suas palavras, não queria que Jerry ou Diana também soubesse que sucumbira aos encantos daquele garoto e logo em seguida fora humilhada por ele. Tentou responder ao olhar de curiosidade de Jerry, dizendo:

-  Não aconteceu nada de romântico entre a gente, se é o que quer saber. Só conversamos sobre coisas sem importância. - mentiu ela, esperando tê-lo despistado.

- Que pena, achei que pelo andar da carruagem vocês já tivessem se declarado um para o outro.

- Quem te disse que tenho alguma coisa para declarar a ele?- Anne já começava a dar sinais de que estava ficando zangada.

- Você vai negar que é apaixonada por ele? E pela maneira como ele olha para você posso dizer que ele sente a mesma coisa. - disse Jerry sem perceber o grau de irritação de Anne.

- Você só pode estar fora do seu juízo perfeito. Acho que esse seu namoro com a Diana mexeu tanto com seus miolos, que está vendo romance em todo lugar .- agora Anne ofegava  tamanha era sua indignação..

- Qualquer um pode ver isso, basta olhar dentro de seus olhos para perceber isso.

- Deixe meus olhos fora disso. Por acaso você virou vidente e consegue ler a mente das pessoas?

- Calma garota. Só disse o que pensava. Parece que vai me atirar pedras por isso. - disse Jerry sem entender por que a ruivinha estava tão zangada.

- Você sabe que eu odeio quando você começa falar essas coisas idiotas a meu respeito.

- Parece que as coisas não mudaram muito por aqui, e você continua esquentadinha, eh, cenourinha.

Anne enrijeceu ao ouvir a menção do seu velho apelido. Só alguém ousaria chamá-la assim, sem ser ferozmente atacado por ela.

- Cole?- ela se virou, e lá estava ele. Muito bonito e elegante. Nem parecia aquele menino tímido que havia partido de Avonlea cuja única ambição era fazer esculturas e autorretratos. Então, correu para ele e seu atirou em seus braços, as lágrimas que reprimira desde manhã seguiram seu curso livremente sobre o rosto dela.

Cole estranhou aquela atitude de Anne. Sabia que ela era dada a sentimentalismos, mas aquela demonstração exagerada de afeto por ele o tinha assustado.

- Está tudo bem Anne? Você parece estar aborrecida com alguma coisa. - disse Cole preocupado.

- Estou bem, não se preocupe. É só que senti tanto a sua falta. Não esperava que aparecesse em Green Gables assim de repente. - enxugou as lágrimas, já envergonhada de sua atitude, e tentando se recompor rapidamente.Então ,viu Diana que tinha chegado com Cole e a olhava espantada.

- Oi, Diana. Desculpe, não tinha visto você. - abraçou e deu um beijo na bochecha da amiga.

- Tudo bem. Não posso me demorar.Prometi ajudar mamãe com o almoço. Tia Josephine e Cole vieram acompanhar uma de minhas primas que mora em Paris. Ela vai se casar e quer realizar o seu casamento aqui em Avonlea daqui a algumas semanas, então temos a casa cheia de convidados. - explicou Diana,enquanto lançava olhares furtivos para Jerry.

- Que maravilha, tia Josephine está aqui? Preciso fazer-lhe uma visita e saber de todas as boas novas sobre a cidade luz.

- Ela vai ficar feliz em te ver. - disse Cole,e depois continuou.- Era impressão minha ou você e o Jerry estavam em uma discussão acalorada sobre Gilbert Blythe ? Quer dizer que ele voltou? Que bela surpresa, não ?

- Só se for para você, pois aquele garoto continua insuportável, e mais arrogante do que nunca, devo dizer. - Anne falou com raiva. – “o que não te impediu de se jogar nos braços dele, ontem a noite. ’- disse sua voz interior, zombando dela.

- Então vocês não se acertaram?

- Não seja ridículo, Cole. De onde tirou essa ideia? Gilbert e eu somos como água e óleo. Não nos misturamos.

- Mas eu sempre achei que ele tivesse uma queda por você .- comentou Cole. Tinha a impressão que Anne escondia alguma coisa. Seu tom de voz a traía e ela nunca fora boa em mentir, mas ele não disse nada.

- Uma queda por mim?Você me faz rir Acredito que ele tenha uma queda por todas as garotas de Avonlea. Seu complexo de Dom Juan tem se mostrado muito ativo nos últimos dias. - continuou Anne, com seu teatro. Enquanto conseguisse fazer com que todos acreditassem que ela desprezava Gilbert, seu segredo estaria a salvo.

- Anne, tem certeza de que estamos falando da mesma pessoa? Não acredito que Gilbert seja tão paquerador assim. Até agora eu não o vi demonstrar interesse por muitas garotas. Ontem, por exemplo, me pareceu que ele tinha só olhos para você. - disse Diana,defendendo Gilbert.

A ruivinha ficou sem palavras por um momento. Não queria mentir para Diana, mas também não queria que ela soubesse o quanto fora tola e se apaixonara por um garoto que só brincara com seus sentimentos. Era orgulhosa demais para isso. Talvez daqui a algum tempo, depois que tivesse lambido sua feridas e elas tivessem cicatrizado, poderia contar à amiga  tudo o que acontecera. Por ora, era melhor que acreditasse que ela e Gilbert não passavam de meros conhecidos. Por isso, fingiu estar surpresa pelas palavras de Diana e disse:

- Não me contradiga, Diana Barry. De que lado você está afinal?

- Do seu é claro. Mas ainda acho que você está sendo injusta com Gilbert.

- Que bom. Por um segundo,pensei que tivesse  te perdido para aquele Blythe idiota.-disse Anne, fingindo desprezo pelo garoto.

- Eu sempre estou do seu lado, Anne. Não seja tão ranzinza. - Diana abraçou a amiga com carinho.

- Bem. Acho que é melhor irmos andando. Vim aqui para ver como estava e te dar esse meu presente de aniversário atrasado. Desculpe, nosso trem atrasou e não consegui chegar a tempo para a sua festa ontem

Anne abrir o pacote que Cole lhe deu e dentro dele havia um perfeito retrato dela.

- Que lindo Cole! Você voltou a desenhar. Não sabe como fico feliz com isso.

- Em Paris tenho aprendido algumas técnicas e aprimorei muito a minha habilidade de fazer retratos. Mas tenho me dedicado mais às esculturas.

- Não importa de que maneira você use sua veia artística. O importante é que nunca deixe de utilizá-la e ela te leve aonde seu coração desejar. - disse Anne, olhando para Cole com carinho.

- Obrigada, Anne. Você sempre foi minha maior incentivadora. Quando eu ficar famoso, prometo que vou te dedicar todo o meu sucesso. - disse Cole divertido.

- Basta apenas que não se esqueça dos amigos. - disse Anne dando um tapinha no ombro do garoto.

- Muito bem, chega de tanta conversa. Precisamos ir para casa antes que minha mãe tenha um ataque de nervos. Até logo, Jerry, nos falamos depois. – disse Diana para o garoto que durante todo o tempo que durou a conversa deles, continuara a trabalhar e a olhava a distância.

- Até logo. - disse ele simplesmente.

- Ah, Diana. Depois conversamos sobre o seu namoro com um  certo francês charmoso.- disse Anne, implicando com a amiga.

- Não me amole, Anne. - disse Diana rindo.-

- Acho que estou devendo uma visitinha aos velhos amigos de Avonlea. Especialmente a um certo Billy Andrews.- disse Cole com malícia..

- Que ótima ideia, Cole. Aposto que ele vai levar o maior susto quando ver você de novo.- disse Anne,já imaginando a cena..

- Veremos o que acontece. Então senhorita, Barry. Serei seu acompanhante até a escola amanhã. - disse Cole com um gesto de mão galante.

- Decerto que sim, meu gentil senhor. - Diana respondeu com outro gesto exagerado.e os três caíram na risada, relembrando os velhos tempos .quando eram colegas de classe.Então, os dois se despediram de Anne,e a menina voltou para dentro de casa pensativa.

Estava imensamente feliz por Cole ter voltado. Sentira  muito a falta dele quando partira, mas entendera os seus motivos em querer se afastar de Avonlea para viver sua vida em Paris sem se esconder, ou ter vergonha de ser quem era. Anne agora percebia que essa tinha sido a decisão mais acertada, pois o amigo parecia em paz consigo mesmo. Quanto a ela e seu relacionamento infeliz com Gilbert, teria que encontrar a melhor maneira para lidar com isso. Não tinha se saído nada mal em seu teatro de fingir desprezo por ele naquela manhã com Jerry, Cole e Diana. Mas por quanto tempo conseguiria sustentar aquela farsa? Gilbert fora o único garoto capaz de mexer com suas emoções, de um jeito que ela pensou que ninguém fosse capaz. Só de estar perto dele parece que seus instintos se tornavam mais alertas, e aquele maldito sorriso de covinhas perfeitas em nada diminuía a atração que sentia por ele. Como deixar de lembrar a emoção do beijo que ele lhe dera? Estaria condenada a um amor sem esperanças? Como seguir em frente quando sabia que parte de seu coração fora roubado e que não tinha nenhuma esperança de recuperá-lo totalmente?

 

 

                         GILBERT e ANNE

 

 A ansiedade daquela manhã de segunda feira a estava matando. Ir para a escola nunca fora tão difícil como naquele dia. Lutava contra um pânico crescente por saber que encontraria Gilbert e não se sentia preparada para isso. “Deixe de ser covarde Anne Shirley. Você nunca fugiu de uma batalha antes, então não comece agora”- pensou consigo mesma.

Quando entrou na sala de aula viu Ruby conversando com Josie. Por mais que quisesse não conseguia sentir raiva da menina. O acordo que havia entre elas a respeito de Gilbert Blythe fora quebrado por Anne, então, não fazia nenhum sentido alimentar ressentimentos contra a amiga. Após três anos de paixão platônica por aquele garoto, Ruby resolvera dar o primeiro passo, e Anne não podia culpá-la por isso.

Ouviu de repente a gargalhada de Josie soar mais alto do que o normal, e a ruiva teve a impressão de que ela e Ruby partilhavam algum segredo. O que achou estranho foi a maneira como Josie olhava para ela,  tinha certo ar superior como se soubesse algo que Anne não sabia. Será que falavam dela?

Josie ria muito com a história que Ruby lhe contara sobre ela e Gilbert. Não é que aquela garota tola tivera mesmo coragem de se declarar? Não via a hora de ver a cara de Anne quando soubesse de tudo.Iria acabar com a arrogância daquela ruiva, e fazia questão de ser ela mesma a contar toda a história. É lógico que sempre podia apimentar um pouquinho a narrativa, e Josie sabia como ninguém fazer isso. Prometera que faria Anne pagar por seus desaforos contra ela e a hora finalmente chegara.

Diana e Anne estavam conversando animadamente quando Josie e Ruby se aproximaram de ambas, e Josie já foi logo dizendo sem rodeios:

- Olá, Anne. Soube que sua festa foi um sucesso.

Mesmo percebendo uma ponta de ironia na voz da menina, Annie achou que seria mal educada se não respondesse por isso respondeu:

- Estava muito boa, obrigada.

- Ah, preciso contar um a coisa maravilhosa para vocês. - disse Josie com ares de conspiração.- Vocês sabiam que Ruby e Gilbert se acertaram? Ela tomou coragem e finalmente se declarou para ele. Estão praticamente namorando.

- Josie!- protestou Ruby.

- Qual é o problema? Daqui a pouco todo muito vai ficar sabendo mesmo. - Josie falou para Ruby, olhando de vez enquando para Anne,querendo ver a reação da menina.

- Se isso é verdade porque vocês não estão juntos agora?- quis saber Diana.

- Gilbert quer manter segredo por enquanto, pois não quer arruinar a reputação de Ruby, por ela ser muito jovem, mas quando ela tiver idade suficiente ele falará com os pais dela. Ele não é mesmo um cavalheiro?- riu Josie com afetação.

Diana olhou para Anne que parecia muito concentrada arrumando seus livros sobre a carteira ,e perguntou baixinho para que nem Ruby ou Josie a ouvisse:

- Você está bem?

- Por que não estaria?- perguntou Annie, tentando mascarar o sofrimento que as palavras de Josie lhe causavam.

- Por um momento, pensei que você estivesse aborrecida pelo que Josie acabou de contar.

- Diana, já te disse milhares de vezes. Não me importa quem Gilbert Blythe esteja cortejando no momento. Ele não significa nada para mim. ”Anne, Anne, quando foi que você ficou tão mentirosa?”- lá estava aquela voz novamente, acusadora e cruel, como sempre.

- Bem, se o que disse é verdade.Então não temos com que nos preocupar, não é mesmo?- Diana tinha quase certeza que Anne era apaixonada por Gilbert, mas como a menina nunca se sentira confortável em se abrir com ela sobre o assunto,  nunca quis pressioná-la a lhe contar sobre isso. Esperava que algum dia Anne conseguisse admitir o que sentia por Gilbert.

- Pare de falar, Josie. Olha quem acabou de chegar. - disse Ruby, quase sussurrando.

Instintivamente, Anne olhou para a porta e viu Gilbert se sentar e olhar para ela. Seu coração deu um pulo e a menina desviou o olhar para o outro lado. Sua cabeça começara a doer terrivelmente e ela se sentia em completa agonia. Será que suportaria chegar até o final daquele dia sem enlouquecer? Olhou para Diana e perguntou:

- Diana, onde está o Cole? Ele disse que viria junto com você.

- Ele virá mais tarde. Tia Josephine requisitou os serviços dele esta manhã para ajudá-la com as compras para o casamento da minha prima.

- Que bom. Quero muito vê-lo de novo - suspirou aliviada. Pelo menos a presença de Cole a salvaria daquele momento desconfortável pelo qual estava passando e lhe devolveria um pouco de sua paz de espírito.

Pararam de falar assim que a professora entrou e começasse a aula.

- Bom dia queridos alunos. Hoje falaremos de suas aspirações para o futuro. Acredito que alguns de vocês já saibam qual profissão desejam seguir ao terminar o Ensino Médio, e porque escolheram tal profissão. Por isso, gostaria que cada um partilhasse conosco um pouco de suas preferências. Vou começar com Anne Shirley. Levanta-se, por favor, e nos fale um pouco sobre sua vocação.

Anne se pôs de pé, um tanto tímida, pois todos os outros alunos concentravam seus olhares sobre ela, inclusive Gilbert. Então começou a falar:

- Bem. Decidi que quero ser professora como a senhora, pois acredito que melhor ainda do que aprender é passar nosso conhecimento adiante e inspirar outras pessoas com ele.

- Muito bem, pode se sentar, Anne. Gilbert, agora é sua vez.

Anne viu o menino se levantar, lançar um olhar intenso para ela e então dizer:

- Penso em ser médico um dia porque considero esta profissão muito nobre. Quero muito ajudar pessoas, principalmente os menos favorecidos que não possuem meios para conseguir um tratamento adequado para seus problemas de saúde. Em minhas andanças pelo mundo, pude observar que em muitos lugares não existem sequer hospitais adequados ou medicamentos em doses suficientes para a população. Por isso, decidi que quero muito aliviar o sofrimento dessas pessoas.

Enquanto Gilbert falava, Anne não conseguia tirar os olhos dele. Estava hipnotizada por suas palavras e totalmente consciente da tensão que a presença dele causava em seu estômago. Como podia parecer tão incrível e solidário com o sofrimento alheio em um momento, e no outro causar a ela tanta dor? Jamais teria imaginado que ele queria ser médico, mas afinal o que ela sabia de Gilbert Blythe? A única coisa que conseguia se lembrar  era que ele tinha lhe causado uma ferida tão profunda  que levaria anos para cicatrizar totalmente.

- Já imaginaram como Gilbert ficará lindo todo de branco quando se tornar médico?- disse Ruby olhando para Anne.

- Se você diz. Mas existe gosto para tudo, não é mesmo?- respondeu Anne com ironia, mas a menina não percebeu seu tom ácido. Faltava nela a malícia para entender quando as pessoas usavam sentidos duplos em suas afirmações.

A aula continuou ainda por trinta minutos, e Gilbert estava ficando impaciente. Precisava falar com Anne, mas ela não largava de Diana. Foi somente na hora do lanche que conseguiu certa abertura para falar com ela, pois Diana saiu para o pátio, deixando a ruivinha sozinha para pegar suas coisas no armário.  Gilbert, aproveitando aquele golpe de sorte, foi falar com a menina.

- Então, você quer ser professora. - disse ele, tentando puxar assunto.

- Não sei no que isso te interessa. - respondeu Anne, secamente.

- Tudo que diz ao seu respeito me interessa. - disse Gilbert com tanta intensidade que Anne sentiu a temperatura subir de repente, e decidiu fugir antes que seu coração começasse a mudar o ritmo de suas batidas. Pegou seu almoço com a intenção de dirigir-se ao pátio da escola, mas o garoto não se moveu de onde estava impedindo sua passagem.

- Quer me dar licença, Blythe.

- Precisamos conversar- disse ele.

- Agora não posso, estou ocupada; - respondeu Anne, sem olhar diretamente para ele.

- Você não parecia ocupada há cinco minutos quando falava com sua amiga Diana - sua voz mostrava certo ar de censura.

- Você não entendeu ainda, garoto? Quando se trata de você, estou sempre ocupada. - a voz dela saiu mais alta do que pretendia, pois acabou atraindo a atenção de alguns alunos que olharam para eles com curiosidade.

- Anne, por favor. - implorou Gilbert.

- Quer me deixar passar?- agora ela estava muito vermelha e em se tratando de Anne, isso nunca era um bom sinal.

- Anne, preciso falar com você sobre o dia de seu aniversário. Te explicar algumas coisas que aconteceram sem que eu  estivesse esperando..- insistiu, mas Anne não respondeu e Gilbert percebeu que o olhar dela se fixava em algum ponto no quadro negro a sua frente,  então perguntou:

- Anne, está me ouvindo?

- Não. Parei de escutar no momento em que você começou a falar. - respondeu Anne com petulância.

Naquele momento Gilbert percebeu que não adiantava insistir, pois quando Anne exibia aquela sua famosa teimosia, ele sabia que não conseguiria nada com ela. Teria que esperar por outra oportunidade. Por esta razão, liberou o espaço entre eles e ela se dirigiu nervosamente para onde Diana estava.

Gilbert inspirou profundamente. Tinham voltado à estaca zero, e parece que era sempre assim com Anne. Quando davam um passo a frente em seu relacionamento, acontecia algo e retrocediam três passos novamente. Será que venceria todas as barreiras que ela levantara entre eles? Tinha que tentar, pois disso dependia a paz para o seu coração.

Maldito garoto! - Anne pensava furiosamente, enquanto se afastava de Gilbert.. - Tinha que mexer com ela daquele jeito? Será que algum dia conseguiria ficar imune a Gilbert Blythe? Queria estar à milhas de distância dele. “Será que ainda não entendeu que mesmo que vá para a Sibéria não conseguirá arrancar esse amor do seu coração”? “- disse a voz em sua cabeça”. Estava perdida ela sabia, e não havia cura para o seu mal.

Afastou estes pensamentos quando viu que Cole acabara de chegar e correu para falar com o amigo.

- Finalmente você chegou, Cole. Por que demorou tanto?

- Tia Josephine me encheu de tarefas a manhã toda, e só consegui escapar de lá agora. Como estão as coisas por aqui? - quis saber ele.

- Creio que não muito diferente do que quando você partiu, lamento dizer- disse Diana.

- Então, vamos circular por aí e reencontrar velhos amigos. - disse ele sorridente.

De mãos dadas os três amigos circularam pela escola, parando aqui e ali para cumprimentar antigos colegas. A presença de Cole causara um frenesi tão grande, que até mesmo Billy Andrews se manteve calado, ao ver aquela  figura imponente  trajada nos melhores estilos da moda francesa. Cole não era mais o garoto que Billy adorava perturbar. Ali estava um rapaz confiante que sabia o que queria, e que tinha encontrado seu lugar no mundo.

Josie de longe observava com interesse Cole conversar animadamente com Anne, e resolveu se aproximar. Ela sempre teve uma queda por ele, e estava encantada com sua transformação.

- Olá, Cole. Parece que os ares de Paris te fizeram bem. –disse ela, com voz insinuante.

- Você tem razão,.me sinto esplêndido.

- Então, porque não se senta ao meu lado e me conta tudo o que tem feito na capital francesa. - disse ela, tentando provocá-lo.

Cole teve vontade de rir. Aquela garota ridícula estava mesmo se jogando para cima dele? Ficou tentado a dar uma resposta atravessada, mas se limitou a apenas dizer:

- Estou sem tempo agora. Mas se quer tanto saber, posso te dar um livro muito interessante sobre o assunto.

- Eu tenho certeza que ouvir de você seria muito mais interessante.

- Josie. Quer parar com essa tentativa fracassada de tentar chamar minha atenção. - disse Cole sem paciência com aquela menina que ele nunca suportara.

- Você está sendo insolente. - agora Josie se fazendo de ofendida..

- Vou te contar um segredo. - Cole chegou perto dela e cochichou em seu ouvido - Eu não gosto de você.

Josie arregalou os olhos, quase engasgou, e tentando disfarçar seu desconforto, entrou para a sala de aula.

Anne que ouvia a tudo calada se sentiu vingada. Abraçou Cole apertado e disse;

- Cole, você foi genial! Quase tive pena da Josie.

- Ela estava merecendo. Nunca engoli este jeito arrogante dela -  ainda se divertindo com a cena que acabara de acontecer. Então olhou por cima da cabeça de Anne e disse todo animado.

- Gilbert Blythe. Então está de volta a Avonlea.

- Parece que você também. - disse Gilbert.

-´É, tenho meus motivos. - disse Cole, ainda sorrindo.

- Posso ver claramente quais são. - disse isso e observou os braços de Cole ao redor da cintura de Anne, e as mãos dela enroscadas no pescoço dele. O ciúme deixou um gosto amargo em sua boca, e ele teve que disfarçar para que não fosse ríspido com o garoto.

- Tenha certeza que são os melhores motivos do mundo. - disse Anne, aconchegando-se  mais ao amigo.

Gilbert se afastou sem dizer mais nada. Queria esganar aquele garoto só por tocar em Anne quando ele não podia. Imaginar os dois juntos era como jogar sal em suas feridas abertas. Como doía!  O melhor era sair dali antes que perdesse a cabeça.

Cole franziu a testa sem compreender o comportamento de Anne. Será que ela tinha feito o que ele estava imaginando?

- Anne, eu entendi direito ou você estava tentando provocar ciúmes em Gilbert Blythe?

- Que besteira está dizendo, Cole. Por que eu ia querer provocar ciúmes naquele garoto idiota?- Anne quase sentiu remorso por usar Cole daquele jeito, mas quis aproveitar-se do fato de que Gilbert não sabia que Cole não se interessava por meninas, querendo dar a ele motivos para imaginar que havia mais intimidade entre eles do que na verdade tinha.

- Olha, Anne, eu não me importo  que você me use em seus planos mirabolantes, mas quero ser avisado antes, Ok?  Não gosto de surpresas.

- Me desculpe, Cole,  se te desagradei, mas não sei por que esta me dizendo isso. O que Gilbert Blythe pensa não me diz respeito.

- Você mente tão mal, Anne. - provocou Cole.

- Não estou mentindo. - disse Anne, entrando na brincadeira.

- Acho que você merecia o troféu de melhor atriz do ano- continuou ele.

- Você é que merecia um por ser tão cínico.

- Ei vocês, dois. É melhor se despedirem. Nosso intervalo acabou. - disse Diana 

Despediram-se, prometendo que se falariam mais tarde. Assim, as duas meninas retornaram juntas para sala de aula e  Anne notou que Josie estava conversando com alguns dos colegas da classe. Parece que já tinha se recuperado bem do fora que levara de Cole.

Como naquele dia   haveria uma reunião com os conselheiros da escola, a professora dispensou os alunos mais cedo.Anne e Diana estavam indo embora,quando Josie veio apressada dizer que ela e algumas pessoas fariam a brincadeira da garrafa e as duas amiga estavam convidadas a participar.

Anne não gostou muito da ideia. Na verdade não apreciava  muito aquele jogo. Para ela era o tipo de coisa que fora apenas inventado para constranger as pessoas, e ela não tinha a menor vontade de ser parte daquilo. Mas Diana ficou muito animada e tentou convencer Anne:

- Vamos, Anne. É só uma brincadeira. Não seja uma estraga prazeres.

- Diana, você sabe que eu não gosto desta brincadeira. E nem você deveria querer participar já que está namorando o Jerry. - disse Anne, censurando a amiga.

- Eu não pretendo beijar ninguém de verdade Anne. Só acho que é um jogo divertido. Por favor, vamos participar só um pouquinho.

Anne não soube como dizer não a Diana. A menina quase nunca lhe pedia nada e sempre podia contar com ela em todas as situações, então disse concordando:

- Tudo bem, que mal pode fazer, não é?

Mas quando chegou na sala onde a brincadeira aconteceria, se arrependeu de sua decisão ao ver Gilbert Blythe sentado no circulo de alunos ali presentes.

- Diana, acho que vou para casa.

- Ah, Anne, você prometeu que ficaríamos pelos menos por alguns minutos. - disse Diana desapontada.

- Eu sei, mas é que me lembrei que tenho que ajudar Marilla com algumas tarefas em Green Gables.- não queria que Diana soubesse do motivo real  de sua relutância em participar do jogo..

- Está com medo, ruiva?- provocou Josie.

- Eu não tenho medo de nada. - respondeu Anne a altura.

- Então prove.- disse Josie pronta para zombar de Anne se ela se recusasse a ficar na sala.

Essa garota a testada de todas as maneiras, pensou Anne. Qualquer dia ia perder as estribeiras e dar-lhe uma merecida surra. Não ia deixá-la ter o gostinho de vê-la desistir.

- Vamos logo com isso. - disse tendo o cuidado de sentar-se o mais longe possível de Gilbert.

- Onde está Ruby?- Anne ouviu Diana perguntar.

- Ela precisou ir para casa. A mãe dela não está se sentindo bem e Ruby preferiu fazer companhia a ela. - respondeu Josie  rapidamente.

Então o jogo começou. O primeiro a girar a garrafa foi Muddy, um dos amigos de Josie. O objeto deu algumas voltas e parou apontando para Diana. Ela se levantou e deu um beijo na bochecha do menino, sendo aplaudida efusivamente. Logo depois foi a vez de Josie. A garrafa girou e parou em Gilbert. Neste momento Anne se viu prendendo a respiração. Será que estava preparada  para vê-lo beijar uma garota na frente dela? Ele se levantou e deu um beijo na testa de Josie, o que fez Billy Andrews dizer:

- Essa não valeu Gilbert. - mas o menino nem lhe deu atenção. Ele se preocupou mais em olhar para Anne, que até aquele momento apertava as mãos nervosamente .Mas a menina não retribuiu seu olhar.Não queria que Gilbert percebesse o quanto ela havia ficado aliviada pelo gesto dele com Josie.

Então foi a vez de Billy Andrews continuar o jogo. A garrafa deu dois giros inteiros e parou na direção de Anne. A menina olhou incrédula primeiro para a garrafa e depois para o menino. Que maldita sorte era aquela? Só de pensar em beijar aquele garoto seu estômago se revirava, fazendo-a se sentir doente. Por que em nome de Deus tinha sido premiada com aquele presente de grego? Então ouviu Billy dizer aos berros:

- Não vou beijar essa ruiva esquisita!

- Mas terá que beijar. São as regras do jogo. - disse Josie, adorando ver a expressão constrangida de Anne. A coisa toda piorou ainda mais  quando a menina ouviu Gilbert dizer:

- Eu beijo a Anne. -  fazendo com que milhares de olhos arregalados  o fitassem surpresos, principalmente Josie que jamais teria imaginado um desfecho daqueles.

Anne ficara petrificada, não querendo acreditar em seus ouvidos. Não ia permitir que Gilbert a beijasse na frente de todos, ainda mais por pena, fazendo com que se sentisse humilhada mais uma vez. Levantou-se com rapidez na intenção de não aceitar aquela oferta infeliz, quando viu os olhos de Gilbert brilharem como se a desafiassem a lhe dizer não. Então percebeu que não poderia recusar sem fazer uma cena. Assim, Gilbert se aproximou, olhando-a daquele jeito que ela  conhecia bem. Pegou em seu queixo e a trouxe até bem perto. Neste instante,, a menina percebeu que perdera a batalha para o seu coração. Bocas se tocaram sem nenhuma barreira entre elas, e Anne soube então o que era estar no paraíso.

Quando Gilbert disse que beijaria Anne, ele o fizera por estar zangado pela intimidade que percebera entre ela e Cole. Ele queria provar que Anne era só dele e de mais ninguém, mas acabara por sucumbir à delícia daqueles lábios e sua paixão por ela fazia sua cabeça girar como se estivesse na maior roda gigante do mundo. Anne se deixou levar pela força de seus sentimentos e pela paixão que a queimava como se sua alma estivesse em contato com brasa quente, enquanto Gilbert se perguntava se algum dia ia se fartaria de beijá-la assim, pois cada vez que a tinha em seus braços sentia que a queria mais e mais. Ambos pareciam estar na mesma sintonia, em um planeta paralelo onde existiam somente dois corações entrelaçados em seu interlúdio de amor.

De repente, aplausos e assovios quebraram aquele momento de entrega que durara apenas um segundo, mas que para Anne tinha durado uma eternidade. Não conseguia encarar o menino, se sentia exposta demais. Gilbert a vencera de novo, injetara em suas veias uma paixão sem medidas onde agora só existia uma fonte insaciável de amor por ele. Diante deste pensamento, ela simplesmente pegou na mão de Diana, arrastou a amiga para fora da sala e não disse uma palavra sequer até se separarem e cada uma seguir para suas respectivas casas. Diana não fez nenhuma pergunta, pois entendia o constrangimento de Anne. Falariam mais tarde sobre isso quando Anne quisesse e estivesse pronta para fazê-lo.

Gilbert viu as duas meninas se afastarem, mas resolveu não segui-las. Por dentro ele sorria, pois a maneira como Anne o beijara só lhe provara que estava certo. O sentimento ainda estava ali, por mais que ela negasse ou o ignorasse, só tinha que encontrar uma forma de fazê-la perdoá-lo, e não importava quanto tempo demorasse ou o que tivesse que fazer para que isso acontecesse. Ele prometeu a si mesmo que ainda que tivesse que escalar mil montanhas e atravessar mares bravios encontraria uma maneira de trazer Anne de volta para sua vida para sempre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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