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História Anne with an e- continuação da série - O casamento dos sonhos


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá,queridos leitores. Estou postando este capítulo hoje, e espero que gostem. Foi muito difícil escrevê-lo essa semana, pois estou passando por momentos muito estressantes com a quarentena, então me desculpem se o capítulo não ficou exatamente como imaginavam, prometo fazer melhor da próxima vez. Por favor comentem, pois seus comentários são o estímulo que preciso para continuar escrevendo. Beijos, muito obrigada. Desculpem os erros ortográficos, vou editar quando puder.

Capítulo 72 - O casamento dos sonhos


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - O casamento dos sonhos

ANNE

A véspera do casamento de Diana Barry prometia ser um dia agitado. Logo pela manhã, Anne estava na casa da garota para ajudá-la a se preparar para o seu grande dia, e verificar se nada estava faltando para a cerimônia e a recepção que seria no dia seguinte.

Naquele momento, Anne estava no quarto da amiga, e lhe enrolava os cabelos com pequenos rolinhos, que quando soltos virariam lindos cachos e combinariam com a tiara e véu que Diana usaria para o casamento.

- Diana, quer parar um instante de se mexer? Não conseguirei enrolar suas mechas direito se não ficar quieta. - Anne disse impaciente com a amiga que não parava de mudar de posição na cadeira onde estava sentada em frente ao espelho.

- Desculpe- me, Anne. Estou nervosa demais para ficar quieta.

- O que aconteceu com a promessa que me fez de que tiraria o dia para relaxar? – Anne perguntou, seu olhar se encontrado com o de Diana pelo espelho.

- Eu sei, mas não consigo. Meu coração bate tão rápido, que tenho dificuldade para respirar. – Diana disse colocando a mão no lado esquerdo do peito.

- Por que está tão tensa assim? Pensei que estaria transbordando de felicidade. Esperou tanto por esse dia. – Anne falou colocando as duas mâos no ombro da amiga para dar-lhe conforto.

- E se algo der errado? E se acontecer alguma coisa que estrague meu casamento? - Diana parecia esse a beira de uma crise de nervos, e Anne conhecia bem a mania da garota de pensar em possibilidades catastróficas.

- O que poderia dar errado, Diana? Tudo está pronto, verificamos tudo de novo essa semana. Pare de se preocupar, tudo será perfeito.

- Sei que pareço uma maluca, mas os últimos meses foram tão intensos e complicados que tenho medo que apesar de tudo o que foi planejado e preparado alguma coisa ruim aconteça. - Anne pegou nas mãos dela e perguntou:

- Do que exatamente está falando? Por acaso está preocupada com sua mãe? - Diana balançou a cabeça com veemência e disse:

- Não. Eu sei que ela não está satisfeita com meu casamento, e no começo fez de tudo para me separar do Jerry. Mas, nos entendemos meses atrás, e ela me prometeu que não iria mais interferir em minhas escolhas.

- Então, não entendo o que a preocupa. - Anne disse voltando a arrumar os cabelos dela.

- Acho que nem eu mesma sei. Creio que é apenas neurose da minha cabeça.  – Anne ficou em silêncio por um segundo, e de repente algo lhe passou pela cabeça, e ela fez uma pergunta a Diana se sentindo desconfortável por tocar em algo tão íntimo.

- Diana, eu nunca te perguntei isso apesar de sermos amigas íntimas a tanto tempo. Você é Jerry já se relacionaram intimamente.? - Diana olhou para Anne com o rosto corado e respondeu.

- Não.

- Não? Como assim? Você e Jerry viveram juntos na cada de tia Josephine um bom tempo e nós duas sabemos que ela é a maior incentivadora do amor livre.  Como nunca aconteceu nada entre vocês? - Anne perguntou.

- Nós tentamos, mas não deu certo. - Diana disse olhando para as próprias mãos.

- E por que não? Você não se sente atraída por seu noivo?

- É claro que sim, que pergunta é essa, Anne.

- Perdoe-me por ser tão direta, mas é que não compreendo. Quando tive dúvidas sobre a maneira como eu me sentia com Gilbert, você foi a primeira a me incentivar a descobrir e a testar meus sentimentos por ele, então, por que fez isso? Não estava sendo sincera?

- É claro que estava, mas acho que sou mais puritana do que pensava a respeito de mim mesma. Eu mudei meu modo de pensar a respeito de muitas coisas, mas a respeito de me entregar amorosamente antes do casamento foi uma das coisas que não consegui mudar em meu conceito de vida. Fui criada dessa maneira, e existem velhos hábitos que se agarram a nós como ervas daninhas. Sei que pode ser um pensamento antiquado esse de eu querer me entregar ao meu noivo só depois do casamento, mas isso foi algo que permaneceu em minha cabeça durante todo esse tempo. Está desapontada comigo? - Diana perguntou olhando para Anne que permanecia calada diante de suas palavras.

- Não estou desapontada, acho que tem o direito de pensar e agir da maneira que sinta melhor. Não acho errado você querer ter sua primeira noite de amor após o casamento, é o que a maioria das noivas ainda desejam. -  Anne disse com suavidade.

- Sabe, Anne, tem uma coisa que nunca te disse. Eu sempre te dei força para ficar com o Gilbert por que sempre vi vocês como uma só pessoa, que não tem sentido quando estão separadas. Vocês são duas metade de um coração que quando se juntam se completam. Jamais conseguirei imaginá-los longe do outro.

Anne refletiu sobre as palavras de Diana, e se deu conta que sempre se sentiu assim em relação a Gilbert.  Mesmo quando não namoravam, e ela nem sonhava que aquilo poderia acontecer, ela já sentia uma ligação inexplicável com ele, como se existisse fios invisíveis entre os dois que os conduzisse um em direção ao outro, e depois os fizessem seguir pelo mesmo caminho. Com o tempo e a convivência com ele, Anne descobriu que ela e Gilbert partilhavam os mesmos sonhos e os mesmos tipos de sentimento, tornando-se assim um espelho do outro. Até os pensamentos pareciam correr na mesma direção, e se não eram almas gêmeas chegavam perto, pois o que tinham era raro demais para ser desperdiçado com moralismo e regras banais.

Anne sempre fora diferente de Diana. Eram amigas inseparáveis, mas de temperamentos completamente distintos  Diana fora criada dentro dos preceitos da sociedade da época, Anne, embora tenha vivido em um ambiente completamente opressor, manteve seu espírito livre que não aceitava que lhe impusessem regras, o que lhe valeu vários castigos dentro do orfanato. Anne não nascera para ser um pássaro preso em uma gaiola, até seu cabelo ruivo fugia do senso comum. Anne nascera para ser como uma borboleta com asas coloridas que a levassem para onde desejasse ir, experimentando a cada dia uma nova maneira de ser feliz. Por isso, partilhar com Gilbert um momento tão íntimo nunca fora um problema para ela, pois no momento em que descobrira que era ele quem queria, foi tão natural se entregar, e deixar que suas emoções falassem por ela, e não se arrependia de nenhum momento de amor que vivera com Gilbert, apenas lamentava os instantes que ficaram separados por algum mal entendido, ou capricho do destino, isso seria a única coisa que mudaria na história deles.

Porém, ela entendia Diana perfeitamente. A amiga crescera seguindo as orientações da mãe, e por isso se libertar dessas convenções não era nada fácil, principalmente quando tais pensamentos viravam um hábito constante na vida da pessoa

- Sabe, Anne, eu e Jerry ainda não chegamos ao patamar de amor que vocês e Gilbert compartilham, mas tenho esperanças de que chegaremos lá um dia. -  Diana disse sorrindo:

- Querida, cada pessoa tem um jeito de amar, e você não precisa seguir o meu exemplo e de Gilbert. O sentimento que existe entre você e Jerry é especial também e muito lindo.

 - Eu sei, não estou negando o que sentimos, eu realmente o amo, e sei que ele sente o mesmo.

- Claro que sim. Acho a história de vocês maravilhosa. Pense no quanto lutaram para chegar em até aqui. Você teve que enfrentar sua mãe e Jerry sua condição social. E ainda estão aqui juntos.  Isso é incrível. - Anne disse acariciando os cabelos da menina.

- Eu sei que tem razão.  Ah, minha amiga.  Vou sentir tanto a sua falta, quando for para Nova Iorque. - Diana disse com uma lágrima rolando pelo canto de seu olho esquerdo.

- Eu também. Mas, vou voltar um dia e aí será a sua vez de me ajudar na véspera do meu casamento. - Anne falou abraçando a amiga apertado.

- Será um grande prazer. - Diana disse retribuindo o abraço.

De repente, Cole entrou com um buquê de flores silvestres e disse:

- Para alegrar esse dia tão especial. - ele estendeu as flores para Diana, que o pegou nas mãos e aspirou seu perfume doce com prazer.

- Que bom, meu amigo. Estava precisando disso para acalmar meus nervosos.

- Eu sei exatamente do que precisa. - Cole disse com um sorriso maroto.

- Do que? - Diana perguntou curiosa.

- Chá com bolinho. E depois que Anne terminar com o seu cabelo, vamos passar o resto do dia de pernas para o ar e jogando conversa fora.

- Essa foi a melhor sugestão que ouvi essa manhã. – Anne disse, pensando consigo mesma que Cole era uma benção em sua vida e na de Diana, e por isso agradecia todos os dias aos céus por ele existir.

- Adorei a ideia, Cole. Eu já estava mesmo morrendo de fome. – Ambos os amigos riram da cara de gula que Diana fez.

- Não disse? Chocolate e bolinhos são as únicas coisas capazes de manter Diana de boca fechada.

Todos riram da expressão de Diana, e Anne pensou com orgulho que nunca trocaria aqueles amigos por nada no mundo. Eles eram como uma manhã de sol quente e convidativa, e ao observá-los rindo da piada um do outro, mostrava-lhe que não havia fronteiras que não cruzaria por eles, e queria a alegria deles brilhando em sua vida para sempre.

 

GILBERT

 

De todas as coisas adoráveis na vida de Gilbert Blythe, acordar com o beijo doce de Shirley em sua bochecha era uma delas. Ele abriu os olhos e encarou o rostinho infantil, que o observava com seus olhinhos negros e sorriso angelical, e a abraçou com carinho, depois se sentou com ela em seu colo no sofá, e disse afagando-lhe a face ainda de bebê.

- O que foi pequena? Está com saudades de seu irmão mais velho? - a garotinha apenas o olhava e continuava sorrindo, enquanto suas mãozinhas pequenas e suaves faziam uma excursão pelo rosto masculino como se tivesse encontrado ali algo profundamente interessante e digno  de sua atenção.

Gilbert tinha chegado no meio da tarde daquela sexta feira, e estava tão cansado, que dormira no sofá da sala mesmo, pouco disposto a carregar sua mala, que ainda jazia no chão da sala, escada acima. Ele viera para o casamento de Diana, no qual ele e Anne seriam os padrinhos. Mary o tinha ajudado a escolher um terno em uma alfaiataria, no centro de Avonlea no último fim de semana, e o mesmo já estava em seu guarda-roupa passado e engomado, apenas esperando pela grande celebração que aconteceria no dia seguinte.

Ele tivera esperanças de ver Anne naquele dia, mas ela acabara com sua alegria ao mandar dizer-lhe por meio de Matthew que estaria na casa de Diana o dia todo, ajudando-a com os últimos preparativos do casamento, e talvez somente pudesse vê-lo no dia seguinte antes de irem para a igreja.

Gilbert ficara um pouco chateado, porque como sempre estava morrendo de saudades de sua noiva que não via desde o último fim de semana, pois não pudera vir para Avonlea por conta das matérias que teria que estudar para as provas da semana seguinte, e seu coração já implorava pelo menos por um instante nos braços de Anne. O que lhe confortava era que faltava bem pouco para que Anne fosse para Nova Iorque com ele, e somente imaginar dormir e acordar com ela todos os dias o deixava em êxtase.

Gilbert passara boa parte da semana arrumando o apartamento que alugara. Era pequeno, mas confortável, e bem perto da Faculdade, assim ele não teria que se deslocar de um lugar para outro perdendo minutos preciosos de estudo. Dora o ajudara com a mobília, e também com coisas referente a cama e mesa, e somente deixara a decoração a cargo de Anne, imaginando que a garota ia querer dar um toque de sua personalidade ao ambiente.

Gilbert esperava de todo o coração que Anne gostasse de tudo que ele tinha providenciado para iniciarem sua vida juntos, e era óbvio que ela poderia trocar mais tarde caso alguma coisa não fosse de seu agrado. Ele escolhera tudo pensando no que conhecia sobre Anne, suas preferências e paixões, ele até enchera uma estante cheia de seus livros favoritos, e seria uma de suas surpresas para ela.

Gilbert estava contando os dias, e imaginava que Anne deveria estar ansiosa também. Afinal, ambos estavam entrando em uma aventura e só o tempo diria se estavam no caminho certo ou não. Em seu coração tudo estava perfeito dessa maneira, embora não tivesse imaginado que seria assim. Em seus planos antigos, ele se formaria como médico, enquanto Anne já teria seu diploma de professora, iriam morar em uma bela casa e a vida começariam de maneira encantadora.

Mas, a realidade se mostrara outra, e Gilbert tivera que adaptar novos sonhos aos antigos. Ele e Anne ainda se casariam exatamente como ela desejava, não naquele momento, mas em um futuro próximo, pois sua ação mais urgente seria trazer a vida de Anne um pouco mais de cor.

Ela não andava mais tão distante quanto antes, mas também não se aproximara demais, porém , Gilbert ainda sentia todos os sentimentos dela tão claramente como se pudesse tocá-los com a ponta de seus dedos.  Anne ainda o amava da mesma maneira ainda que fosse mais difícil para ela demonstrá-lo, mas, nos olhos dela ele sempre encontrava tudo que precisava como se fossem o espelho da alma dela falando com ele de forma tão apaixonada quanto Gilbert se sentia por ela. Apesar de todos os infortúnios que enfrentaram, o amor sobrevivera entre os escombros de suas guerras interiores, e era o maior presente que já ganharam na vida, pois por causa dele estavam de novo encontrando seu caminho de volta.

Gilbert esperava que Anne pudesse ser finalmente feliz em Nova Iorque, ele esperava que ela pudesse descobrir a parte de si mesma que se escondera entre tantas lágrimas, e pudesse fazer daquela grande cidade o seu lar como Green Gables era.

Era verdade que não teria Matthew e Marilla para tomar seu chá no final de tarde, ou Diana Barry para dividir suas histórias, mas ela teria Gilbert ao fim de cada dia para abraçá-la e dizer que a amava. Talvez fosse isso que estivesse faltando para Anne voltar a ser aquela garota espirituosa que ele conhecera, uma cidade grande onde ela pudesse se perder na multidão, para descobrir novos prazeres e novos estímulos para voltar a fazer o que mais gostava. Ele tinha esperança e que Anne vivendo em Nova Iorque, uma cidade tão culturalmente enriquecida, se animaria em voltar a estudar, pois ela era inteligente e brilhante demais para viver no anonimato. Anne nascera para voar cada vez mais alto, pois tinha tantos talentos que Gilbert não sabia dizer qual deles era mais interessante.  Ela se daria bem em qualquer coisa a qual se dedicasse, pois ela era pura paixão e energia.

Estar próximo dela sempre lhe inspirava coisas diferentes, e mesmo agora em que ela parecia não deixar seu lado criativo vir a tona, ele conseguia sentir a chama acesa que ainda queimava no íntimo dela, e que esperava apenas uma oportunidade para se libertar.

Era assim que ele via Anne muitas vezes, como uma chama tão vibrante que o atraía irresistivelmente desde a primeira vez que seus olhos pousaram sobre ela, e desde então, Gilbert se tornara um prisioneiro daquela garota ruiva que o fazia se apaixonar por ela a cada dia de uma maneira diferente.

Uma garota tão incomum como Anne, merecia um amor incomum, ela era especial de tantas formas que Gilbert nunca saberia com o descrevê-la. Ele pensou que depois de tantos acontecimentos ele já teria esgotado sua cota de admirá-la, mas ele aprendera sempre a manter seus olhos bem abertos, pois sua noiva sempre o surpreendia quando menos estava esperando, e só desejava que  dessa vez fosse ele a surpreendê-la com o apartamento e tudo o que havia dentro dele. Ela merecia o melhor, e Gilbert sempre se esforçaria para que ela tivesse o melhor de tudo.

Um puxão de suas mechas pelos dedinhos inquietos de Shirley, fez Gilbert deixar os pensamentos no qual estava mergulhado para fixar seu olhar no rostinho maroto da menina, que mostrava seus dentinhos recém nascidos.

  - Essa é a sua maneira de me pedir atenção, não é, bonequinha? Me perdoe por meu momento de distração, mas sei que vai me desculpar se eu te contar em quem estava pensando.

- Em quem será, não é mesmo, Gilbert? - Mary disse enquanto entrava na sala vestindo seu avental caprichosamente bordado por suas mãos com suas iniciais. - Então, é aqui que essa danadinha estava se escondendo? Procurei por ela quase a casa toda.

- Eu acordei com esse anjinho me beijando no rosto. Tem maneira mais gostosa de despertar? - Gilbert acariciou os cachinhos escuros de Shirley, e ela colocou a cabeça em seu ombro como se ali fosse seu local favorito para descansar.

- Essa menina está cada vez mais danada. Depois que começou a andar, preciso ficar de olho nela o dia todo. - Mary disse suspirando.

- Shirley é uma benção, depois de tudo que você passou para ela nascer. Você deve sentir orgulho. - Gilbert disse entregando-lhe a menina que estendia os bracinhos pedindo o colo da mãe.

- Sim. Eu me orgulho muito dela. É tão forte e inteligente, começou até a falar algumas coisas. Ainda não consegue pronunciar muito bem a palavra mamãe e papai, mas já está ensaiando bastante – Mary disse olhando com amor para a filha.

- Você e Sebastian tem muita sorte. - Gilbert disse olhando para mãe e filha encantado.

- Eu sei. Um dia você e Anne também serão pais, eu tenho certeza.

- É o que espero. Anne tem tido problemas em pensar sobre isso, como você sabe. Desde que soube dos resultados dos exames, ela não quer nem falar sobre o assunto. - Gilbert disse triste.

- É muito triste que tudo isso tenha acontecido com ela. Anne é uma garota extraordinária e seria uma excelente mãe. – Mary disse com pena de sua jovem amiga.

- Eu disse a ela que poderíamos adotar, mas ela insiste que quer um filho biológico meu. Eu realmente não me importo com isso. Eu só quero vê-la feliz. - Gilbert disse enquanto se deitava novamente no sofá.

- Gilbert, a forma como um homem sente em relação a um filho é diferente de uma mulher. Eu entendo os sentimentos dela. Aquela garota te ama demais, e quer ver esse amor consagrado no rosto em uma criança. Mas, eu também acho que uma criança adotada poderia trazer a vocês dois muita alegria.

- Eu também penso assim, tenho apenas que convencer Anne sobre isso. - Gilbert disse suspirando.

- Quem sabe em Nova Iorque, ela não comece a pensar diferente? - Mary disse tentando dar ânimo para Gilbert sobre aquela questão.

- É por isso que a convidei para ir para Nova Iorque comigo. Eu quero afastá-la um pouco de Avonlea, porque aqui existem muitas lembranças tristes que não permitem que ela siga em frente. Em Nova Iorque, seguindo uma nova rotina, espero que ela consiga enxergar novas perspectivas. Quero tanto que ela volte a ser o que ela era antes, Mary. Não por mim, mas por ela mesma. Eu a amo tanto e dói saber que ela ainda sofre, mesmo que não me diga nada – a tristeza do rapaz comoveu Mary que disse:

- Gilbert, ela vai ficar bem. Anne é uma pessoa muito forte, não se iluda com a aparente fragilidade dela. Olha o quanto ela suportou até agora, eu mesma não consigo imaginar como alguém tão jovem como ela possa ter dentro de si tamanha energia e determinação.  Aquela garota não saiu do seu lado quando estava em coma nenhum dia, e mesmo sangrando por dentro, ela continuou ao seu lado quando não lembrava dela. Uma pessoa fraca não teria aguentado tudo isso.

- Eu sei que tem razão Mary. Ela me fez voltar para ela, quando eu estava perdido entre as brumas da inconsciência. Foi a voz dela que me trouxe de volta. – Gilbert disse com os olhos brilhando.

 - Vai ficar tudo bem. Tenho certeza. Agora porque não sobe até seu quarto e descansa um pouco? Vou colocar essa gracinha no berço também. – Mary disse olhando para a filha que tinha adormecido em seus braços.

- Acho que tem razão. Vou aproveitar para dormir mais um pouco. Hoje fui trocado pela melhor amiga de minha noiva. Tenho o resto do dia livre. - Gilbert pegou a mala e começou a subir as escadas.

- Não vai me dizer que ainda sente ciúmes de Diana? - Mary disse em tom de brincadeira.

- Só um pouquinho, mas não conte nada para Anne. - Gilbert disse dando uma piscada para Mary, indo para o quarto de onde somente saiu na hora do jantar.

 

ANNE E GILBERT

 

Anne estava acabando de se arrumar para o casamento quando viu o carro de Gilbert se aproximar e então estacionar em frente da casa, então, ela se apressou, pois sabia que estava atrasada, mas perdera muito tempo tentando se decidir o que fazer com o cabelo, pois nada lhe agradava, por fim, resolveu deixá-los soltos, com os cachos que fizera nas pontas caindo por suas costas, pois não podia ficar ali indefinidamente tentando  encontrar uma maneira de controlar aqueles fios que resolveram acordar completamente rebeldes, contrariando o humor da dona que de alegre passou a ficar irritada.

Fazia tempo que não implicava com os próprios cabelos, graças a Gilbert que vivia elogiando a cor deles, mas como tudo que era bom durava pouco, ela desejou naquele dia que fossem tão lisos que não precisasse passar horas em frente ao espelho, tentando dar a eles forma e graça exatamente no momento em que resolveram deixar de cooperar. Anne não estava se importando com o ruivo, o que a estava tirando do sério era a textura deles que resolvera fazer graça naquele dia e desafiar sua paciência. Por último, resolvera-se por aquele penteado mesmo, que não era o mais apropriado para o vestido, mas não conseguira encontrar outra maneira de ajeitá-los. Ela verificou uma última vez sua aparência, borrifou um pouco de sua colônia favorita, e estava finalmente pronta, só esperava que Gilbert não estivesse aborrecido por sua demora.

Anne saiu do quarto, e parou no topo da escada para dar uma olhada em seu noivo que não via a dias. A beleza dele em um terno cinza a deixou extasiada.  Gilbert era a própria imagem da perfeição, e quando olhou para ela eles se conectaram imediatamente.

Tudo ao redor de Gilbert pareceu desaparecer naquele instante, e ele até parou de ouvir a voz de Matthew que continuava lhe contando algo sobre a colheita daquele ano, enquanto ele contemplava sua noiva, e pensava sem surpresa nenhuma que ela era e sempre seria a mulher mais linda do mundo.

Anne tinha um gosto por roupas que lhe caíam esplendidamente bem. Ela usava um vestido azul que não era turquesa daquela vez, mas sim azul cobalto, e pensando sinceramente naquele breve segundo em que sua mente estava totalmente paralisada pela visão daquela mulher magnífica, ele poderia dizer com certeza que aquela cor era a que definia Anne, combinava com cada parte do corpo dela, especialmente os olhos que eram o que mais se destacavam naquele momento.

Enquanto ela descia as escadas com cuidado, Gilbert continuou olhando-a quase sem piscar por medo de perder qualquer movimento que ela pudesse fazer.  Ele se levantou do sofá onde estava sentado em companhia de Matthew, e esperou que ela se aproximasse. Anne deixara os cabelos soltos, apenas presos do lado com presilhas prateadas, que em meio aos seus cabelos ruivos pareciam joias pela intensidade que brilhavam. O vestido justo dificultava-lhe   um pouco o andar, mas não diminuía-lhe a graça e nem a beleza, e quando ela estava a um passo de alcançá-lo, uma brisa soprou pela janela trazendo até Gilbert um aroma diferente do que ele estava acostumado. Desta vez, o perfume tinha um odor mais sofisticado. Ele não era grande conhecedor de fragrâncias femininas, mas podia apostar que aquela que Anne usava era francesa, e lhe agradou imensamente o olfato, elegendo-o mais uma de suas favoritas para lembrar de Anne em momentos assim.

- Gilbert, me diga a verdade.  Acha que meu cabelo está bem assim? Passei a manhã toda tentando deixá-lo apresentável, mas por um capricho dos fios a única forma que encontrei foi deixá-los soltos. - Gilbert sorriu ao pensar que como no passado, Anne voltara a implicar com os cabelos. Se ela soubesse que além dos olhos, eles eram sua característica mais marcante, e que nunca conseguiria imaginá-los de outra cor.

- Bem, pensei que isso não aconteceria mais, porém devo dizer -lhe que você superou minha imaginação.

- Espero que não esteja me enganando, Sr. Blythe com todo esse galanteio, porque caso contrário teremos uma conversa séria depois da cerimônia. - Anne disse em tom de brincadeira.

- E quando foi que menti sobre sua aparência? Você sabe o quanto te acho linda. - Ele disse acariciando lhe as bochechas.

- Eu também tenho uma palavra sobre você. - Anne disse enigmática.

- É mesmo? E qual seria?

- Perfeição.  Tem como meu noivo ser menos bonito do que hoje? Espero que todas as garotas da festa morram de inveja de mim. - Ela disse enlaçando-o pelo pescoço.

- Agora você realmente conseguiu me deixar sem graça. – Gilbert disse feliz por ver que Anne estava recuperando seu bom humor.

- Está vendo, Matthew. - ela disse para o bom senhor que observava a cena com um sorriso divertido. – Consegui fazer o nosso doutor corar. Não é adorável?

- Certamente. E ele tem razão. Você está linda filha.

- Obrigada. Você é Marilla não querem ir conosco?

- Não, filha. Iremos daqui a pouco em meu carro.

- Está bem, nos vemos lá depois. - Ela saiu demais dadas com Gilbert e foram até o carro.

 Logo estavam na igreja, e se posicionaram ao lado de Jerry e Josie no lugar indicado para os padrinhos.  Anne olhou para Jerry, e o amigo andava de um lado para o outro de puro nervosismo, mas quando Diana entrou majestosa em seu vestido branco, os cabelos que foram cacheados por Anne adornados pela tiara com o véu, ele pareceu se acalmar, e somente tinha olhos para a garota morena e radiante que vinha em sua direção com um sorriso cheio de amor.

Anne deixou que seu olhar corresse pelas pessoas que estavam perto e ao redor da noiva, e pôde observar que o pai dela parecia genuinamente feliz pela filha, mas a mãe dela tinha um olhar derrotado de quem sabia que daquela vez o vento não soprara ao seu favor, e perdera a filha para o francês de classe baixa que Diana preferira ao invés de um rapaz rico da sociedade mais próximo da realidade dela.

Anne sentia orgulho da amiga que soubera lutar pelo seu amor, contra tudo e contra todos, e agora estava se casando com o homem que escolhera para partilhar sua vida.

A cerimônia foi linda, e depois de cumprimentarem o noivo, todos foram para a recepção. Em meia hora, o salão que Diana alugara para a festa estava cheia de gente. Depois da valsa tradicional dos noivos, vários casais se dirigiram para a pista de dança, e logo Gilbert a convenceu a segui-lo até lá.

Enquanto estava nos braços de Gilbert dançando ao som de uma valsa vienense, ele perguntou:

- Pronta para começar uma nova vida, Srta. Cuthbert e futura Sra. Blythe? - Anne corou de prazer ao ouvir Gilbert chamá-la de futura Sra. Blythe, como se   o sobrenome dele tornasse a situação que estavam prestes a viver ainda mais real.

- Na verdade estou muito ansiosa, mas extremamente animada. Você sabe que como Paris, Nova Iorque conquistou meu coração, quero muito viver novas aventuras com você naquela cidade incrível. – Ela disse e Gilbert sorriu.

- Não mais do que eu, posso afirmar. Estou contando cada segundo.

- Eu também. - ela disse e não mais se falaram, pois os olhares intensos e trocados falavam por eles.

Chegou a hora da noiva jogar o buquê e todas as garotas da sala se reuniram, ansiosas para cumprirem esse ritual de casamento a tantos séculos realizado. Quando Diana jogou o buquê de begônias, suas flores favoritas, sem que Anne estivesse realmente esperando, ele veio parar suas mãos, e todos os presentes aplaudiram, deixando-a envergonhada.

- Será que este é um sinal para que nos casemos logo, Srta. Cuthbert? - Gilbert disse assim que estava junto dela novamente.

- Eu quero muito me casar com você, Dr. Blythe, mas antes quero desfrutar imensamente de nossa vida em Nova Iorque. - ela disse beijando-o no rosto, e então, Anne o pegou pela mão, e o levou até a mesa onde Marilla estava sentada com Matthew e Rachel Lynde.

- Você pegou o buquê, querida. Quem sabe não seja um incentivo para vocês se casarem assim que forem para Nova Iorque juntos. – Anne percebeu imediatamente o tom de malícia na voz da amiga de Marilla, e logo imaginou sua vida amorosa sendo discutida em todas as paróquias de Avonlea.

- Não seja, maldosa.  Rachel. Não perde essa mania de se meter na vida alheia. Isso já lhe rendeu muitos problemas no passado, mas realmente não aprende, não é? - Marilla disse séria, repreendendo a amiga.

- Marilla, não seja implicante.  Foi apenas um comentário. – Rachel disse tentando se defender.

- Só um comentário? Eu sei bem, como você é.  Se esqueceu que te conheço a vida inteira?

- Está bem retiro que disse. Anne me desculpe por minha indiscrição. Não quis ofendê-los. - Rachel disse, mas Anne podia ver nos olhos dela que não se arrependia coisa nenhuma.

- Não nos ofendeu. - Gilbert se apressou em dizer - Agora se nos der licença, vamos falar com os noivos. Deu meia volta, e saiu com a mão de Anne agarrada na sua.

- Você foi bem benevolente com aquela fofoqueira. Ela bem que merecia uma resposta atravessada.  -  Anne disse com uma pontinha de ira brilhando em seus olhos.

- Ela sempre foi assim, não sei porque se importa tanto. - Gilbert disse olhando para Anne

- Não me importo, ela me irrita às s vezes, mas já me acostumei com seu jeito fofoqueiro -. Anne disse conformada.

- Deixe que continue falando. Como Mary sempre diz, o peixe morre pela boca. -  E Anne riu pela sua escolha de palavras.

Horas depois os noivos já estavam pronto para se despedirem, e Anne abraçou Diana com lágrimas nos olhos e disse:

- Seja feliz minha amiga.

- Você também, e ve se volta logo para me visitar  ou irei pessoalmente até Nova Iorque lhe cobrar a visita. - Diana disse retribuindo o abraço da amiga

  - Será muito bem vinda.

- E você. - ela disse olhando para Gilbert. – Trate de fazer minha amiga feliz ou terá uma inimiga pelo resto da vida.

- Pode deixar. Você sabe que Anne é minha vida. Minha única intenção é fazê-la feliz.

 - Tenho certeza disso, Blythe. – Diana disse abraçando-o também.

Assim os noivos partiram para a Espanha em lua de mel, presente do pai de Diana, e Anne esperava que a amiga aproveitasse bastante e que voltasse com muitas histórias para contar.

Anne e Gilbert também se despediram de seus amigos que ainda estavam na festa, e voltaram para Green Gables, desejosos de curtirem alguns momentos sozinhos antes da noite acabar definitivamente. Gilbert estacionou o carro em frente da fazenda dos Cuthberts, e se sentou na varanda com Anne aninhada em seus braços.

- Estava morrendo de saudades de tê-la assim em meus braços. Essa semana sem você foi difícil demais. – Ele disse acariciando-os cabelos perfumados dela.

- Eu também. Mas, foi somente de me abraçar que estava com saudades? - ela perguntou sorrindo marota para Gilbert.

- Você sabe que não.  Eu estava louco de vontade de beijá-la também. - ele disse olhando para a boca dela delineada por um batom vinho, que a deixava mais carnuda e sexy.

-  E por que não faz o que deseja exatamente agora? - Anne perguntou ousadamente, enquanto colocava as mãos sobre o peito de Gilbert coberto pelo terno.

- Porque quero te falar uma coisa antes. - Gilbert disse e Anne assentiu com a cabeça.

- Eu sempre digo o que sinto por você, e sempre tento falar de meus sentimentos da forma mais sincera possível, mas ontem conversando com Mary, eu me dei conta de uma coisa.

- Do que? - Anne perguntou curiosa enquanto traçava círculos com as mãos sobre o peito dele.

 - Eu me dei conta que nunca te agradeci por ter salvo minha vida. - Anne parou o que estava fazendo para encarar Gilbert confusa.

- Do que está falando, Gilbert?

- Quando eu estava perdido em minha inconsistência, foi sua voz de anjo que me trouxe de volta, e se não me engano, você estava declamando um poema.

- Sim. - Anne disse pensativa.  Ela se lembrava bem daquele dia. Fora emocionante vê-lo despertar do coma, mas também angustiante porque ele não se lembrara dela, deixando-a completamente desesperada. Ainda bem que tudo aquilo tinha passado e estavam juntos de novo.

- O que quero dizer com isso, Anne é que não importa por quais motivos fiquemos separados, pois teremos sempre nosso amor para nos trazer de volta um para o outro. - Anne fitou Gilbert, enquanto seu coração falava através de seus olhos. Ele então a beijou saciando completamente a vontade de antes de ambos. Anne se agarrou no pescoço de Gilbert, trazendo-o para mais perto, enquanto ele apoiava a nuca dela com suas mãos, ela deixou que o beijo se intensificasse até que a temperatura de seus corpos subisse de maneira alarmante. A mão dele se insinuou pelo decote dela, e Anne sentou em seu colo para beijá-lo no pescoço, traçando o maxilar dele com os dedos. Os beijos se tornaram cada vez mais quentes, as carícias mais ousadas, e Anne suspirou profundamente quando sentiu Gilbert abaixar a alça de seu vestido e beijar seus ombros nus.

Gilbert sentiu a maciez da pele de Anne entre seus lábios e se sentiu tentado a descer um pouco mais e vê-la estremecer em seus braços. Não estavam em uma posição confortável e o ar fresco da noite o lembrava a todo instante de onde estavam, porém, ao sentir Anne mordiscar-lhe a base do pescoço, ele já se sentia meio enlouquecido, mas mesmo assim parou imediatamente suas carícias quando percebeu que a saia do vestido de Anne tinha sido levantada até metade das coxas dela, e ela desabotoava impaciente os botões de sua camisa embaixo do terno. Não iria submeter a ambos aquela tortura, pois ele sabia exatamente como aquilo terminaria, e não queria ver o rosto magoado de Anne por não ter sido capaz de se entregar a ele como desejava. A noite tinha sido tão boa e Gilbert não queria estragar tudo por causa de seus impulsos masculinos.

- Querida, acho melhor eu ir para casa. - ele disse se afastando de Anne.

- Tão cedo? Não quer entrar um pouco? - Anne parecia desapontada.

- É melhor não.  Você sabe o que acontece quando estamos juntos, pois meu controle tem sido bem precário ultimamente. Não vamos começar algo que não iremos terminar. – Anne concordou enquanto arrumava o vestido, e depois ajudou Gilbert a abotoar a camisa.

- Prometo que virei vê -la amanhã. Precisamos discutir sobre sua mudança para Nova Iorque na próxima semana.

- Está bem. – Anne disse e ele a beijou novamente antes de ir.

Ali no escuro, enquanto observava Gilbert fazer uma manobra com o carro e se despedir com um aceno, ela pensou que tinha se esquecido de dizer para Gilbert que ele salvava a vida dela todos os dias com seu amor, seu carinho e paciência, e ela tinha consciência de que se não fosse por isso, ela talvez nunca mais tivesse se levantado da última rasteira que a vida lhe dera. Mas, havia uma coisa que Gilbert não havia percebido e que era muito importante para os dois.  Naquela noite, enquanto ele a acariciara Anne não tinha se afastado e nem repelido seus carinhos. Pela primeira vez em semanas desde que toda aquela situação tinha começado, Anne sorriu de verdade, pois tinha certeza absoluta de que estava quase pronta para tentar outra vez.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Boa leitura. Beijos.


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