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História Anne with an e- continuação da série - À Flor da pele


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Espero que gostem deste capítulo. Tenham uma boa leitura.

Capítulo 8 - À Flor da pele


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - À Flor da pele

Capítulo 8

  Á flor da pele

 

Ainda nem tinha amanhecido e Anne já estava imersa em seus pensamentos cujo personagem principal era Gilbert Blythe. Já perdera a conta de quantas vezes se censurara mentalmente, mas era inútil, acabava sempre retornando ao exato momento em que se beijaram.

Se fechasse os olhos poderia ainda se lembrar de como se sentira, da suavidade dos lábios de Gilbert e de profundidade de suas emoções naquele instante em que se rendera aos apelos de seu coração. Sabia que fraquejara e fora uma tola, ele conseguira reduzir sua vontade em mãos trêmulas e suspiros apaixonados. Agora não conseguia se perdoar por ter deixado às claras a intensidade de suas emoções, só rezava para que ninguém tivesse percebido o que realmente acontecera com ela naquele segundo de insanidade, na qual mergulhara sem pensar nas consequências do que isso lhe acarretaria depois.

Seus sentimentos ainda a deixavam confusa, não sabia como lidar com eles, pois cada vez que ela e Gilbert se encontravam era bombardeada por sensações que desconhecia, mas que acabavam sempre a jogando nos braços dele. Agia como uma inconsequente, uma louca desvairada que se esquecia de tudo quando Gilbert a beijava. Ela não se reconhecia, nunca fora assim antes, era como se transformasse em uma pessoa incapaz de controlar seus próprios impulsos.

Poderia acusar Gilbert de tê-la beijado por pena ou por diversão, mas poderia jurar que fora influenciada pelo mesmo tipo de comportamento? Podia dizer que não sentia nada por ele, mostrar desprezo e aversão, mas ao encarar seu reflexo no espelho, conseguiria mentir para si mesma? A verdade é que Gilbert Blythe era como uma droga poderosa que já tomara conta de seu corpo inteiro, não queria amá-lo, mas isso já não era uma escolha, ou melhor, nunca fora, só era um fato triste e desesperançado que estava presente até mesmo em seus sonhos.  Era uma certeza que não conseguiria negar ali naquele quarto, sozinha e despida de qualquer ironia ou mortificação.

Na cabeça de Anne sentir todas aquelas coisas por Gilbert a tornava vulnerável, e ela detestava essa sensação, pois aprendera desde cedo a lutar sozinha por si mesma, a ser valente e nunca deixar que nada a impedisse de seguir em frente. Mas a força desse amor a pegara desprevenida, e ela se sentia como se fosse uma folha jogada ao vento sem saber em que direção seguir.

Não tinha experiência nenhuma para compreender como deveria agir, o que deveria dizer,como se libertar das prisões daquela paixão, se é que havia saída para o que estava sentindo. Precisava tanto falar com alguém, mas quem? Quem poderia ajudá-la naquele momento de aflição? Marilla? Não, ela ficaria preocupada, faria mil perguntas até que Anne revelasse por quem estava apaixonada, depois lhe passaria um sermão dizendo que era jovem demais para entender sobre coisas do amor. Matthew? Seria outra escolha infeliz, pois ele sempre tentava escapar desse tipo de conversa, não sabendo nunca o que dizer. Diana? A amiga era incrível para dar conselhos, mas naquele assunto era tão inexperiente quanto ela, então não seria de grande ajuda. Cole? Sabia que poderia confiar nele, mas falar sobre Gilbert com Cole não a deixava muito confortável no momento, preferia falar com ele  sobre isso  depois.

Suspirou desanimada, suas opções eram quase nulas, onde poderia encontrar uma palavra amiga que pudesse ajudá-la a pensar com clareza? De repente um nome lhe ocorreu. Ah, claro!  Por que não pensara nisso antes?Tia Josephine saberia como ajudá-la, precisava fazer-lhe uma visita.

Enquanto se arrumava para sair, pensou na semana que passara tão depressa que mal tivera tempo de organizar suas ideias. Evitara ficar sozinha com Gilbert em todos os momentos e sempre saía antes dele, pois assim não corria o risco de encará-lo, e mantinha-se rodeada de amigas para não dar a Gilbert a chance se aproximar. Não que ele parecesse ansioso por isso, pois parecia que depois do incidente do beijo perdera o interesse nela, o que reforçou ainda mais sua opinião de que ele apenas a beijara por brincadeira, e embora dissesse a si mesma que não se importava, sabia bem lá no fundo que isso a incomodava mais do que queria admitir.

Ruby não tinha ido à escola aquela semana, pois sua mãe continuava doente, então não tinha que se preocupar em se explicar para a amiga, mas quando ela voltasse e soubesse o que tinha acontecido entre Anne e Gilbert, a ruivinha sabia que teriam que conversar. Ainda mais porque Josie contaria para ela com certeza, é claro em sua própria versão, pois Anne sentia que os olhos acusadores da loira a seguiam por toda a escola, como se fosse a juíza de seus atos.

Até teve um momento que Josie tentara provocá-la dizendo com ironia:

- Nossa Shirley. Que papelão foi aquele, recusada por um e beijada por outro como se fosse moeda de troca. Eu morreria de vergonha.

O sangue de Anne ferveu com aquele comentário e respondeu:

- Bem, será que vou ter que lembrá-la que não fui eu quem foi desprezada pelo garoto pelo qual você arrasta um caminhão faz anos? E creio que você não esqueceu com quem ele passou o intervalo inteiro depois. - não gostava de humilhar as pessoas, mas foi Josie quem quis humilhá-la primeiro. Viu os lábios da menina tremerem e os olhos se apertarem de raiva, e Anne soube que ganhara uma inimiga para sempre. Depois disso, não mais se falaram, e foi um alívio para Anne ser deixada em paz pelo menos temporariamente.

Diana não tinha ido todos os dias na escola aquela semana, por causa dos preparativos para o casamento da prima que seria na sexta-feira  seguinte, e Anne se sentira muito solitária sem a presença dela e de Cole. Ele prometera encontrá-la em sua casa, mas não tivera tempo de visitá-la, esperava que na próxima semana pudessem se falar mais, pois não haveria aula por causa da colheita que se aproximava.

Desceu as escadas e encontrou Marilla entretida com as tarefas do dia. Quando a viu toda arrumada, quis logo saber:

- Anne Shirley, onde pensa que vai a esta hora da manhã?

- Marilla, vou visitar tia Josephine. Ela chegou faz alguns dias junto com o Cole para organizar o casamento da sobrinha. Prometi que iria vê-la assim que tivesse tempo.

- E vai sair assim sem tomar café? Você precisa se alimentar direito. - disse Marilla com aquele tom autoritário que Anne conhecia bem, mas que escondia uma grande afeição pela menina.

- Estou sem fome, mas prometo que me alimentarei melhor no almoço. - deu um beijo na bochecha de Marilla e saiu apressada.

- Anne, leve pelo menos uma maçã. - mas viu que ela já tinha saído. Essa menina quase nunca comia. Estava tão magrinha, não sabia como conseguia ter tanta energia com a quantidade mínima de comida que ingeria. E nos últimos tempos parecia que estava sempre distraída ou agitada com alguma coisa. Marilla temia que ela acabasse caindo doente se não se cuidasse melhor. Disse a si mesma que conversaria com Anne sobre isso assim que tivesse uma oportunidade.

Anne chegou à casa de Diana ansiosa por falar com tia Josephine. Assim que entrou, percebeu uma quantidade de caixas de decoração por todos os lados, e Tia Josephine parecia perdida em meio a tanta confusão de laços e fitas que seriam utilizadas para a decoração do casamento. Quando viu Anne, se levantou de onde estava com as mãos cheias de tecidos coloridos e exclamou:

- Anne, querida! Há quanto tempo não a vejo. Como cresceu, já está uma moça linda. - e abraçou a menina com afeição.

- Olá, tia Josephine. A senhora também está muito elegante. É verdade que cresci bastante e Marilla tem tido bastante trabalho em aumentar a barra dos meus vestidos que ficam curtos a cada dia. Agora quanto a beleza, não tenho tanta certeza. Continuo a mesma magricela, ruiva e sardenta de sempre. - disse Anne, com certo desgosto.

- Criança, como pode dizer isso? Você é uma garota muito bonita

- Eu ficaria mais feliz se tivesse os cabelos negros como os de Diana. Esse meu cabelo ruivo é a pior coisa da minha vida. - disse Anne pegando uma mecha do cabelo que agora já lhe chegava aos ombros.

- Anne, deixe disso seu cabelo é lindo, combina muito com você. - disse tia Josephine.

- Obrigada pelo elogio, tia Josephine, sei que a senhora está muito ocupada, mas será que podíamos conversar um pouquinho? Preciso de alguns conselhos da minha eterna mentora.

- Claro que sim. Sente-se comigo aqui no sofá e me diga o que a aflige. - Anne se acomodou ao lado da bondosa senhora e perguntou:

- Como é estar apaixonada?

- Pergunta interessante. Não é a mesma coisa para todo mundo, como você sabe, mas creio que é um dos sentimentos mais sublimes do mundo. É como se acontecesse um encontro de almas e encontrássemos uma parte de nós mesmos que estava perdida e nem sabíamos.

- Mas se é tão maravilhoso assim, por que causa tanta dor?- insistiu Anne.

- Por que a dor faz parte da vida, Anne. Sempre existirão os dois lados, nunca haverá uma felicidade plena sem dor, pois assim amadurecemos, aprendemos como  superar os obstáculos e a consertar os erros cometidos no relacionamento entre duas pessoas.

- Acho muito difícil de compreender. Sempre pensei que o amor fosse um sentimento que só nos trouxesse alegria, mas descobri que existe mais dor do que prazer. - falou Anne como se refletisse sobre esta questão..

- Anne, você está apaixonada por alguém?- perguntou tia Josephine, querendo entender por que a menina lhe fizera tal indagação.

A ruivinha ficou tímida de repente, e não sabia se queria falar de Gilbert para tia Josephine, então disse simplesmente.

- Existe um garoto.

- E?- insistiu a velha senhora.

- Ele me faz sentir-me estranha. Não sei muito bem como explicar.

- E você já falou com ele sobre isso?

- Claro que não. Eu não teria coragem, mesmo porque não sei o que ele sente por mim.

- E não tem curiosidade de descobrir?- tia Josephine olhou para Anne com simpatia.

- Acho que tenho medo de descobrir. O pior é que tenho uma amiga que é apaixonada por ele há três anos, e ela me fez prometer que não chegaria perto dele. - explicou Anne, infeliz.

- E quando foi que isso deu a ela poder de propriedade sobre o garoto? Anne, o amor não é uma negociação. Se você se apaixona por alguém, é algo que acontece com naturalidade e não porque você planejou. Esta garota não tinha direito nenhum de obrigá-la a fazer a promessa que fez. Você deveria se permitir viver esse momento de sua vida que é único e tão especial.

- É muito complicado para mim ainda, mas obrigada pelo conselho, tia Josephine. Vou pensar bastante no que me disse. – abraçou a velha senhora e a beijou com carinho.

- Disponha sempre que precisar. - respondeu Josephine.

Neste momento, Diana e Cole entraram no recinto carregados de caixas, e atrás deles vinha a prima de Diana, também cheia de caixas.

- Que é isso? Uma revolução?- perguntou tia Josephine, espantada.

- Bom dia, tia Josephine. Trouxemos mais tecidos e rendas para os vestidos e vários outros enfeites para a decoração. Quero tudo bem colorido e animado. - Anne, olhou para a moça que falava e achou que era incrivelmente linda. Tinha cabelos longos e negros que chegavam até a cintura, olhos verdes que no momento brilhavam felizes, e era muito alta e esbelta. Se essa era a prima de Diana prometida em casamento, Anne tinha certeza de que ficaria fantástica de noiva.

- E quem é essa criatura maravilhosa, sentada do seu lado, tia Josephine?- perguntou a moça que olhava para Anne curiosa.

- Esta é Anne, Lucy. A melhor amiga de Diana. - respondeu tia Josephine.

- Muito prazer, Anne. Que cabelo incrível você tem. E esses olhos azuis são lindos. Você faria muito sucesso em Paris, pois ruivas com estes olhos e tom de pele são raras por lá.

Anne se sentiu um pouco desconfortável como sempre se sentia quando alguém falava de sua aparência. Mas pelo menos desta vez podia ver que o elogio era sincero, pois era a primeira vez que ela e Lucy se encontravam.

- Você é muito gentil. Sinto-me lisonjeada. Sinceramente não acho que seja tão fantástica, mas já me conformei com esse meu infortúnio de ser ruiva para sempre..- respondeu Anne encabulada com os elogios.

- Que ótimo! Uma garota que sabe se expressar adequadamente? Outra raridade, você deve deixar os garotos loucos com sua aparência e inteligência. - disse Lucy divertida..

-  Anne é a garota mais inteligente da nossa escola. - disse Diana.

- Diana, não exagere. Creio que os garotos sentem mais medo de mim do que admiração. Acho que não estão acostumados com uma garota que fala o que pensa. - respondeu Anne.

- Os homens sempre sentem medo de nós, querida. Por isso é que querem nos relegar aos serviços domésticos, pois assim pensam que estarão inibindo nosso senso crítico ou criatividade. O que eles não sabem é que somos inteligentes até mesmo quando cozinhamos. - Lucy olhou para Anne e deu uma gargalhada tão feliz que todos na sala também riram.

- Não ligue para esse minha sobrinha, Anne. Ela é uma feminista confessa.. – disse tia Josephine com carinho.

- Tive em quem me inspirar. - disse Lucy também afetuosamente.

- Psiu... Não espalhe por aí. - disse tia Josephine, fazendo com que todos rissem novamente.

- Ei! Acabo de ter uma ideia maravilhosa. Diana, o que acha de convidarmos essa sua amiga tão linda para participar de minha valsa de casamento?- perguntou Lucy animada.

- Acho uma ideia ótima. - respondeu Diana.

- O que me diz Anne? Aceite, por favor. Cole fará par com você.

- Bom, eu nunca dancei nada parecido antes, mas acho que posso aprender se vocês tiveram paciência comigo. - respondeu Anne, também animada.

- Que maravilha!- Lucy batia palmas encantada. - Eu já sei até qual será o seu vestido.

- Bem preciso ir. Disse a Marilla que voltaria a tempo para o almoço. - disse Anne, vendo o adiantado da hora.

- Eu te acompanho, tenho mesmo que visitar meus pais. - disse Cole que até o momento tinha ficado calado.

- Até logo, Anne. Os ensaios começaram na segunda às dez horas da manhã. – explicou Lucy.

- Estarei aqui. Até logo. - Deu um beijo no rosto de Diana, tia Josephine e Lucy.

- Até logo. - responderam as três mulheres,

Assim, Cole e Anne se dirigiram para Green Gables, falando sobre os preparativos do casamento e a dança que ensaiariam . Em um dado momento, Cole disse:

- Diana me contou o que aconteceu no dia que visitei a escola. Você está bem?

- Por que todo mundo fica me perguntando isso? Eu estou bem, de verdade.

- Só estou preocupado com você. Quero que saiba que não precisa ser forte o tempo todo. Você tem amigos que estarão sempre ao seu lado incondicionalmente.

Anne sentiu vontade de chorar ao ouvir palavras tão doces vindas de seu amigo tão querido. Mas, engoliu as lágrimas, pois detestava chorar na frente de outras pessoas. Quando isso acontecia acabava revelando demais de si mesma, e ainda não se sentia pronta para falar com Cole sobre seus sentimentos por Gilbert.

- Eu sei, Cole. Você e Diana são os meus melhores amigos. Você sabe que sempre  pode contar comigo também.- disse Anne carinhosamente para o amigo.

Por fim chegaram a Green Gables, se despediram com um abraço e um beijo no rosto. Assim que Cole partiu, Anne pensou que ele era uma pessoa rara. Sua amizade era muito preciosa para ela e esperava que pudessem ser amigos para sempre. A admiração que Anne sentia por aquele garoto era imensa. No tempo em que vivera em Green Gables Cole fora humilhado, escorraçado e espezinhado por pessoas que não conseguiam ver a nobreza de sua alma. mas como uma fênix ele ressurgira das cinzas e se tornara uma pessoa mais maravilhosa ainda. Cole não colecionava mágoas, como ele mesmo gostava de dizer, preferia viver a vida de maneira leve e serena. Por que perder tempo com coisas insignificantes, quando o mundo a toda hora abria portas para oportunidades incríveis? Ele era quem era e não tinha nada do que se envergonhar. Anne percebeu o quanto ela e Cole eram parecidos, almas irmãs, talvez, companheiros de vida, e se sentia imensamente grata por tê-lo conhecido e o levaria em seu coração para sempre. Neste momento ouviu Marilla chamando-a e foi ao encontro dela. Assim, entraram em casa abraçadas e sorridentes onde Matthew as esperava impaciente para o almoço.

 

 

                                           GILBERT

 

Anne.  Ela estava de novo em seus sonhos. Cabelos vermelhos esvoaçantes, olhos azuis como o oceano. Abriu os olhos e tornou a fechá-los, pois queria curtir um pouco mais a sensação de que ela era só dele, corpo, alma e coração.

Sonhar com ela tinha se tornando um hábito que ele embora apreciasse muito, também deixava em seu peito uma ânsia louca por ela, e nada que fizesse parecia suprir a carência que sentia ao acordar e ver que Anne não estava ali em seus braços. Era só em seus devaneios que podia tê-la completamente, sem barreiras ou obstáculos que pudessem impedi-los  de se pertencerem., mas quando tomava consciência da realidade Gilbert sabia que existia entre eles uma distância dolorida, que ele ainda não tinha conseguido vencer.

Beijá-la na escola fora maravilhoso. Quisera testar os sentimentos dela por ele e ficara feliz por perceber que conseguira perturbá-la o suficiente para fazê-la revelar que tinha sentimentos por ele, mas Gilbert também descobrira que ela o tinha na palma de suas mãos. Se Anne soubesse o que significava na vida dele, talvez não o afastasse tanto, pois ele a queria de tal maneira que conquistá-la tinha se tornado o seu principal objetivo. Nada fazia sentido se não pudesse vê-la, tocá-la ou amá-la. Precisava de Anne como a terra precisava de água no deserto, e como ele precisava de ar para viver. Atravessara o mundo em busca de algo que achava que só encontraria em terras distantes, mas que agora ele sabia que sempre estivera ali.

Gilbert amara Anne desde aquela primeira vez que a vira na floresta, e quisera protegê-la para sempre contra todas as maldades do mundo. Anne era como uma flor delicada em um campo selvagem, de terreno árido e desprovido de beleza, onde só a sensibilidade dela conseguia transformar as pedras em sementes prósperas e os espinhos em rosas de pétalas inigualáveis. Queria muito fazê-la acreditar nos sentimentos que ele tinha por ela, principalmente depois do incidente que ocorrera com Ruby.

 Ainda não tinha conseguido esclarecer as coisas com Anne, pois esperava pelo momento certo que ainda não tinha acontecido. Pensara em acompanhá-la até em casa depois da escola, pois percebera que Diana estivera ausente nos últimos dias, mas Anne sempre saía correndo assim que o sinal tocava como se temesse pela aproximação de Gilbert. Havia sempre amigas ao seu redor no intervalo, e na sala de aula ela mudara de lugar e fora se sentar bem longe das vistas dele, como se fosse possível ele não vê-la de onde estava.

Ficara imensamente aliviado por Ruby não frequentar a escola naquela semana, pois Gilbert já estava ficando constrangido com o interesse da menina por ele. Ruby o seguia por todos os lugares, tentava puxar conversa com ele algumas vezes, mas Gilbert só fingia ouvir, pois na maior parte do tempo nem sabia do que ela estava falando. Teria que fazê-la entender que não estava interessado em se envolver com ela e que tudo que tinha a oferecer era sua amizade e nada mais.

 Quanto a Anne, sabia que não seria fácil convencê-la de que não havia nada entre ele e Ruby. Gilbert teria que usar toda a sua inteligência para desfazer aquele engano, pois com a famosa teimosia de Anne a tarefa seria tão difícil quanto escalar o Monte Everest, mas ele estava disposto a subir cada degrau até trazê-la de volta para seus braços.

Gilbert se levantou ainda sonolento, e ouviu vozes na cozinha. Será que tinham visitas inesperadas? Foi para a cozinha e encontrou Bash conversando animadamente com uma moça morena e muito atraente. Quando ele viu Gilbert parado na porta, disse sorrindo:

- Bom dia, Blythe. Acordou finalmente. Quero te apresentar minha amiga Mary.

- Muito prazer, Mary. - disse Gilbert.

- Muito prazer Gilbert. Ouvi falar muito de você. - disse Mary simpática.

- Bem, devo confessar que Sebastian nunca me falou de você. - disse Gilbert, se divertindo ao ver que o amigo corava envergonhado.

- Espero que não se importe por ele ter me convidado a vir até aqui. - disse Mary.

- Claro que não. Os amigos de Sebastian são sempre bem vindos. Está convidada a voltar quando quiser. - disse o menino sorrindo.

- Obrigada. Está com fome? Preparamos o café da manhã.

- Estou sim, obrigado. Sentem-se comigo, por favor. Odeio comer sozinho.

Assim, passaram algumas horas conversando. Mary contou a Gilbert como era a sua vida no gueto, e o menino falou sobre o seus planos de ser médico e suas aventuras com Bath a bordo de um cargueiro. Riram muito das histórias contadas pelos dois amigos, e quando Mary disse que teria que ir para casa, Gilbert teve a impressão que já a conhecia há anos.

Assim que ela saiu, Gilbert disse:

- Quer dizer que agora você tem namorada?

- Ela ainda não é minha namorada, mas pode vir a ser. - respondeu Bash um pouco encabulado.

- Acho que Deus ouviu minhas preces. Aleluia! Finalmente você vai largar do meu pé. - brincou o garoto.

- Mary é uma boa mulher e cozinha divinamente bem. - comentou Sebastian, um tanto sonhador.

- Parece que temos casamento a vista. - continuou brincando Gilbert.

- Por que diz isso?

- Porque esse sorriso idiota no seu rosto me diz que está apaixonado. - provocou Gilbert.

- Não abuse da sorte, garoto. Me respeite, tenho muito mais idade que você.- disse Bash, fingindo estar aborrecido.

- Claro vovô. - concordou Gilbert, zombando do amigo.

- Parece que acordou de bom humor. Sonhou com passarinho verde, ou devo dizer passarinho vermelho?- brincou Bash.

- Não sei o que quer dizer. - disse Gilbert, se fazendo de desentendido.

- Claro que sabe. Como vai a Anne?

- Acho que bem, por que pergunta?- Gilbert continuou em tom de brincadeira.

- Quando é que vai tomar coragem e falar com Anne sobre seus sentimentos?- perguntou Sebastian.

- Estamos nos entendendo aos poucos. Anne tem um temperamento forte e se irrita com muita facilidade. Preciso ser cuidadoso.

- Como você é devagar, Blythe. Vou ter que dizer o que fazer?- Sebastian fez uma careta.

- Muito obrigado, mas prefiro fazer do meu jeito.

-  Mas do seu jeito vai levar uma eternidade. - disse Bash, revirando os olhos..

- Acredite, do meu jeito é melhor. Você não conhece a Anne. Ela é imprevisível, nunca sei como vai reagir. Na maior parte do tempo a gente briga e na outra a gente se olha.

- Quer dizer que estão se entendendo? – perguntou Bash curioso.

_ Ainda não, mas vamos chegar lá. Enquanto isso prefiro esperar mais um pouco, até que possa convencê-la de minhas boas intenções.-disse Gilbert agora sério.

- Quanta sabedoria. Acho que vou tomar algumas aulas com você de como conquistar uma mulher. -zombou Bash.

- Ah, não amole! Já cansei dessa conversa. - disse Gilbert em tom de brincadeira. - Vou para meu quarto estudar.

- Ok., meu bom doutor. Divirta-se com seus livros. Quanto a mim, vou me arrumar, pois tenho um encontro.

- Claro, vá se embonecar, então.

- Ora, Blythe. Não enche. - disse Sebastian rindo, e se dirigiu ao seu quarto, enquanto ouvia as gargalhadas de Gilbert atrás de si.

 

 

           GILBERT e ANNE

 

A semana foi bastante divertida para Anne, e também muito atarefada. Como não tinha aula na escola, se ocupou em ajudar Marilla nas tarefas da fazenda na parte da  manhã em Green Gables, e depois  ela corria para a casa de Diana e passava a tarde inteira com a amiga e Cole ensaiando para a valsa do casamento.

No início, achou um pouco difícil conseguir coordenar os passos, sendo ela uma pessoa que se considerava tão desajeitada, mas com o passar dos dias foi pegando o ritmo e logo ela e Cole estavam valsando harmoniosamente. Diana também tivera dificuldades com a dança, mas conseguira superá-las durante os ensaios diários. Seu par seria um dos primos que vivia em Charlotte Town, pois Jerry não aceitara seu convite, alegando que não possuía talento nenhum para ser dançarino, o que a deixara muito desapontada, mas Jerry lhe prometera que estaria na festa do casamento, fato que a deixara mais animada com a perspectiva de vê-lo durante o evento.

O casamento se realizaria na sexta-feira.  Assim, quando o último ensaio acabou na quinta-feira, Cole acompanhou Anne até Green Gables para que pudessem conversar um pouco mais, já que nos últimos dias tiveram poucas oportunidades para colocar a conversa em dia. Falaram bastante sobre Paris, os cursos que Cole estava fazendo e outro que pretendia fazer, os lugares que visitara e seus planos para o futuro, até que Anne lhe perguntou:

- Bem, Cole. Você me contou muitas coisas sobre sua vida em Paris, mas não me disse até agora se conheceu alguém especial por lá.- disse Anne com curiosidade

- Talvez. - Cole respondeu enigmaticamente.

- E esse “talvez” tem nome?- insistiu Anne.

- Sim. O nome dele é Pierre. - respondeu Cole um pouco tímido. Ainda não se sentia confortável em discutir sua vida amorosa.

- Nossa, que nome interessante! Onde vocês se conheceram?

- No instituto onde faço meu curso de escultura.

- Ah, então ele é escultor como você?- continuou perguntando Anne, tentando obter o máximo de informação possível, pois sabia que Cole não era de falar muito de si mesmo, principalmente se o assunto fosse coisas do coração.

- Não, na verdade ele é pintor. Somos só amigos, Anne. Não nos conhecemos há muito tempo. Tudo o que fazemos é conversar sobre nossa arte enquanto lanchamos em alguma cafeteria em Paris.

- Mas, você está apaixonado?

- Ainda é cedo para falar sobre paixão. Damos-nos bem, temos interesses em comum, mas não sei se isso vai evoluir para algo mais. Embora Pierre tenha deixado transparecer certo interesse por mim, prefiro ir devagar.

- Mas se tem sentimentos por ele e ele por você, por que não conversam sobre o assunto?

- Por que não segue seu próprio conselho e fala para o Gilbert o que sente por ele?- Cole aproveitou para dizer.

- Quando foi que esse assunto mudou para Gilbert e eu? Estamos falando de você e não de mim. - disse Anne não mais achando graça na conversa que estava tendo com Cole.

- Anne, por quanto tempo mais você vai ficar negando o que sente? Eu te disse mais de uma vez que o Gilbert gosta de você.

- Cole, não acho isso nada engraçado. Eu e Gilbert somos totalmente diferentes e nunca daríamos certo juntos. - Anne se sentia desconfortável e a sensação não era nada agradável.

- Como pode dizer isso se nunca tentou fazer dar certo?- Cole olhava agora para ela com aquela expressão indagadora, que exigia uma resposta. Anne conhecia bem essa faceta de Cole, e ele só sossegaria quando ficasse satisfeito com a resposta dela. Por isso, tentou ganhar tempo mudando o rumo da conversa novamente.

- Tudo bem, vou pensar sobre isso. Mas me diga, por que não convidou Pierre para vir ao casamento?.- Cole percebeu a tática de Anne em desviar o assunto, então não insistiu, pois sabia que se ela mudara de assunto era porque sua pergunta tinha atingido alguma emoção profunda dentro dela, e quando tivessem oportunidade, falariam sobre isso novamente, então respondeu:

- Pensei em convidá-lo, mas depois desisti. Você sabe como são as pessoas de Avonlea. Preconceituosas até o último fio de cabelo.

- Nem todas pensam assim, Cole. Eu acho que todas as formas de amar são válidas quando são sinceras, e ninguém tem o direito de falar nada sobre isso.

- Querida Anne, você é a pessoa mais incrível que conheço, mas você se lembra do quanto sofri quando morei aqui por causa desse meu jeito “diferente”. E também tem meus pais que nunca entenderiam ou aceitariam como sou. Acho que ainda não estou preparado para deixar o meu verdadeiro eu ser exposto a luz do dia. - disse Cole um pouco triste.

- Mas e quanto a você e Pierre?- quis saber Anne.

- Vamos esperar pelo que o futuro nos reserva. - Cole respondeu sorrindo para Anne.

Quando chegaram a Green Gables, Anne deu um abraço no amigo e disse:

- Espero que em um a próxima visita, você possa me apresentar esse Pierre que já estou louca para conhecer.

- Vamos ver o que acontece. - disse Cole, deu meia volta e voltou para a casa de Diana.

No dia seguinte, Anne acordou cedo, se despediu de Matthew e Marilla dizendo que esperava vê-los na festa de casamento e se dirigiu para a casa da amiga apressadamente.

Ela e Diana seriam as damas de honra de Lucy que se casaria na igreja de Avonlea disponível apenas para os familiares da noiva que eram numerosos, depois se encaminhariam para a festa que seria aberta aos muitos conhecidos da família da noiva, já que o noivo era francês e sua família  vivia em Paris.

 Na hora da cerimônia, as duas garotas usavam vestidos brancos idênticos e acompanharam a noiva até o altar, que estava belíssima em seu vestido de renda branca, para a troca das alianças. Após o encerramento da cerimônia, os noivos partiram para o salão de festa embaixo de uma chuva de arroz, onde Lucy tinha tudo planejado para que se arrumassem e esperassem pela chegada dos convidados, seguidos por Diana e Anne que estavam ansiosas pelo início do evento quando apresentariam a dança que ensaiaram.

Às seis horas da tarde estavam prontas e adoráveis. Tinham trocado os vestidos de dama de honra pelos encomendados por Lucy para a ocasião,  e se mostravam um pouco nervosas por causa da valsa.

Quando Cole foi buscá-las meia hora depois, ele ficou surpreso pela beleza  da amiga, e pensou divertido que se tivesse interesse por meninas , ele com certeza teria se apaixonado por Anne naquele instante. Diana também estava linda em seu vestido rosa rendado, mas não possuía aquele glamour especial que ele conseguia ver tão claramente em Anne.

Desceram as escadas do salão em fila, cada um com seu par e usando as máscaras que combinavam com seu traje. Anne também admirou Cole que trajava um smoking preto, realçando sua beleza loira. Ela sabia que seria extremamente invejada aquela noite, pois para quem não sabia da preferência de Cole por meninos, achariam que ele era um bom partido com toda sua elegância pariense. Tomaram seus lugares para inciarem a dança antes da entrada dos noivos, e deslizaram pelo salão com tanta leveza e graça, que todos o aplaudiam admirados.

Em um canto da sala, bem próximo onde os dançarinos exibiam seus passos ensaiados estava Gilbert. Ele vira quando Anne surgira na escada acompanhada por Cole. Mesmo com a máscara sabia que era ela, por causa de seu magnífico cabelo ruivo que caia sobre seus ombros como chamas ardentes, e cujos fios estavam entrelaçados por pequenas pedrinhas que na penumbra do salão se pareciam com minúsculos diamantes.

O que mais impressionou Gilbert foi o vestido que Anne usava. Era de seda negra e moldava seu corpo com perfeição como se tivesse sido feito especialmente para ela. Se ele já pensava que ela ficava linda de verde ou azul, ele achou que de preto ela estava deslumbrante, pois fazia com que seus cabelos tivessem um brilho especial, contrastando com sua pele clara  e os olhos azuis que mudavam de tom dependendo da cor que ela usava.

Ele a observou por todo o tempo em que durou a dança, pois assim que a noiva chegou acompanhada de seu marido, cada dançarino e seu par ficaram em um lado da sala, vendo os recém-casados executar a valsa de casamento, uma tradição comum naquela comunidade. Assim que a dança terminou, o espaço foi liberado para quem quisesse dançar e Gilbert viu quando Cole pegou Anne pela mão e começou a conduzi-la pelo salão ao som de uma música bem romântica. Disposto a acabar com aquela cena que o estava incomodando, Gilbert se aproximou dos dois e disse para Cole:

- Minha vez. - Cole olhou para ele por um segundo, deu um sorriso concordando e deixou que o garoto tomasse o seu lugar como par de Anne.

A ruivinha olhou para o amigo sem entender por que Cole a empurrava para os braços de Gilbert Blythe, o último lugar no mundo no qual queria estar. ”Mentirosa”- disse sua voz interior como sempre disposta a zombar dela.

Anne então olhou para Gilbert. Como Cole ele trajava um smoking preto, mas o que no amigo transbordava elegância, em Gilbert era puro charme e ele exibia uma sensualidade ainda ingênua que lhe caia muito bem. Aos 16 anos Gilbert já era um sedutor a sua maneira, mesmo não sabendo o efeito que aqueles olhos castanhos lhe causavam. Como ele seria então aos 18 anos? Um arrasador de corações, concluiu Anne, pois o dela ele já tinha arrasado no minuto em que a tomara nos braços pela primeira vez.

- Então não vai me dizer o que está pensando?- disse Gilbert de repente, assustando-a.

- E por que eu teria que dizer alguma coisa?- perguntou Anne, na defensiva.

- Bem, você me olhou de um jeito que parecia estar decidindo se me estrangulava ou me beijava de novo. - disse o menino divertido.

- Que atrevimento! Como ousa me lembrar desse incidente infeliz? – perguntou Anne irritada com a ousadia de Gilbert.

- Infeliz? Não acho que tenha algo a lamentar. Pelo que sei aquele beijo foi satisfatório para nós dois.

- Blythe, esse seu egocentrismo parece estar cada vez maior. Por acaso se acha tão irresistível que acredita que qualquer garota vai cair na sua conversa, é?

- Qualquer garota não, querida. Só uma em especial.

- Meu Deus! Você é inacreditável!- disse Anne, alterando seu tom de voz. Nisso a música acabou e ela ouviu Gilbert dizer:

- Vamos sair daqui.

- Não vou a nenhum lugar com você. - mas Gilbert não lhe deu ouvidos, pegou em sua mão e a puxou para fora da festa. Anne pensou em pedir ajuda para Diana para escapar daquela situação, mas a amiga estava bastante entretida falando com Jerry, e não a viu passar com Gilbert.

Quando chegaram ao jardim, Gilbert se sentou no gramado e fez com que Anne se sentasse ao seu lado. Ela evitou qualquer contato com ele, mas o garoto não largava sua mão e a ficava olhando com uma maneira indecifrável que a deixava nervosa. Então, Gilbert disse:

- Quando é que vamos parar de brincar de gato e rato?

- Ninguém está fazendo brincadeira nenhuma por aqui. - respondeu Anne.

- Como não? .Você me evitou a semana passada inteira, vai ter coragem de negar?

- Eu não evitei você, Blythe. Será que não passou por sua cabeça que não sinto prazer nenhum em falar com você?

- Ouça o que está dizendo. Nem você mesma acredita nisso. Você sabe o que sente e eu também. - Gilbert parecia um pouco zangado.

- Ah, então agora você virou um entendido no assunto? Eu não sinto coisa alguma por você. - Ela também estava ficando zangada com a insistência de Gilbert em querer que ela lhe confessasse seus sentimentos, o que ela não faria jamais, decidiu.

- Ah, não? Quer que eu te prove?- perguntou ele desafiador.

- Você não ousaria. - disse Anne retribuindo-lhe o olhar.

Gilbert sorriu maliciosamente, e quando Anne se deu conta já estava deitada na grama com o menino perto demais. Ela engoliu em seco, tentando achar uma maneira de fugir dele, então Gilbert começou a beijar seus cabelos suavemente, depois tocou sua testa com os lábios se demorando ali por alguns segundos. Em seguida, beijou a ponta do seu nariz, suas bochechas e quando ele alcançou sua orelha direita, ouviu-o sussurrar em seus ouvidos:

- Me diga que estou errado.

Anne sentia arrepios por todo o corpo e a voz quente de Gilbert tinha um efeito devastador sobre seus sentidos, mas tentou resistir, pois nada no mundo o deixaria saber como a afetava, por isso disse teimosamente:

- Não sinto nada por você.

Gilbert olhou-a nos olhos e disse provocante a alguns centímetros dos lábios dela:

- Então, terei que me esforçar um pouco mais. - e assim a beijou de maneira lenta e tão sedutora que Anne se viu correspondendo sem pensar. Suas mãos tinham vida própria e tocaram os cabelos de Gilbert, a maciez a surpreendeu, depois explorou com as pontas dos dedos cada linha do rosto dele, seguindo até a nunca onde o puxou para mais perto, aprofundando o beijo ainda mais. O calor do corpo de Gilbert a aquecia por completo e Anne sentia como se queimasse no fogo da paixão dele, esquecendo totalmente de sua decisão de não deixá-lo descobrir sobre seus verdadeiros sentimentos. Tudo no que conseguia pensar era que queria se perder naqueles beijos para sempre.

Gilbert abandonou por um segundo os lábios de Anne. Ela parecia uma ninfa da floresta com os cabelos espalhados pela grama e completamente entregue aos seus carinhos. Adorava olhar para Anne, principalmente nesse momento em que seus olhos tinham escurecido para uma tonalidade de azul maravilhosa, o rosto estava corado e os lábios levemente entreabertos como se esperasse por mais beijos dele.

Como Anne era linda!  Tê-la em seus braços tão suave e apaixonada fazia seu sangue ferver e seu coração bater descompassadamente. Jamais esqueceria aquele rosto adorável cujas sardas lhe davam um charme adicional, o frescor de sua boca que o embriagava e a suavidade de sua pele que o lembrava de seda pura. Ela era um presente que a vida tinha lhe dado e nunca desistiria dela.

Quando Gilbert voltou a beijá-la, Anne já tinha perdido toda a vontade de

lutar contra o que sentia. Deus! Quem ensinara esse garoto a beijar assim? Quem poderia resistir a tanta ternura e carinho? Poderia ficar assim com ele o resto da vida, pois estava presa na teia de sedução que ele jogara sobre ela e no fundo sabia que não conseguiria mais escapar da força de seus sentimentos. Então Gilbert a libertou daquela doce tortura e a ajudou a se sentar na grama com ele, em seguida a abraçou e disse com a voz rouca por entre seus cabelos:

 - Anne, por que continuar negando o que sentimos? Por que você tem tanto medo de ficar comigo?

- Eu não tenho medo de você Gilbert. Eu só não quero me envolver com você.

- Por que não?- ele perguntou agora olhando para ela.

- É complicado. – Anne respondeu simplesmente.

- Por quê?- insistiu o menino.

Anne tentou fugir daquele olhar que parecia desvendar todos os seus segredos. Como poderia dizer a ele que fatalmente sairia machucada se envolvesse com ele? Como fazê-lo entender que ficar com ele implicava se entregar incondicionalmente, e ela não estava preparada para se ligar a ninguém dessa maneira, principalmente porque Ruby estava entre os dois? Como explicar que não queria se arriscar dessa maneira, por mais tentador que fosse deixá-lo fazer parte de sua vida, pois se ele partisse seu coração de novo ela jamais conseguiria colar os pedaços?

- Não vai me responder?- ela ouviu Gilbert perguntar.

- Gilbert, vamos parar com essa conversa. Não vamos chegar a lugar algum.

- Tudo bem. Não vou insistir nisso, por enquanto. Mas me prometa que vai sair comigo amanhã.

- Não sei se devo. - respondeu depressa demais, surpresa pelo convite.

- Anne, por favor. - agora ele implorava por alguns momentos ao lado dela. Anne queria dizer não, queria uma razão para não aceitar, mas não conseguiu. Qual era o problema de passar algumas horas em companhia de Gilbert Blythe? Quem sabe assim descobriria que o que sentia por ele não passava de uma paixonite adolescente? “Se acredita mesmo nisso, você não passa de uma idiota completa.”, disse a voz na sua cabeça, mas Anne tratou de abafa-la antes que a impedisse de aceitar o convite de Gilbert.

- Está bem, Gilbert, eu saio com você.

Por um segundo Gilbert pareceu surpreso, como se não acreditasse que ela tinha aceitado sair com ele, mas logo em seguida ele lhe deu um sorriso tão brilhante que Anne ficou extasiada com aquela visão, e pensou que se tivesse que escolher entre as várias coisas que a encantava em Gilbert, com certeza escolheria aquele sorriso maravilhoso que iluminava o mundo e aquecia a alma dela. Ele era seu sonho mais perfeito e mais desejado.

Naquele momento Gilbert a tomou novamente em seus braços e disse:

- Prometo que não vai se arrepender.

- Também espero. Aonde iremos?- quis Anne..

- Será uma surpresa. - disse ele brincando com uma mecha do cabelo dela.

- Não sei se gosto de suas surpresas, Blythe. - disse desconfiada.

- Esta surpresa tenho certeza de que você vai adorar.- disse Gilbert amando vê-la tão a vontade com ele.

Anne estremeceu de repente, e Gilbert percebeu que havia esfriado bastante, por isso ele disse:

- Vamos entrar. Não quero que fique doente e use isso como desculpa para cancelar nosso encontro.

- Então, não confia em mim?- disse Anne, em tom de brincadeira.

- Levando em conta seu histórico de experiências comigo, devo confessar que não confio. - disse ele no mesmo tom de brincadeira que Anne havia usado.

- Blythe, você sabe mesmo como fazer uma dama se sentir confiante. - continuou brincando Anne, surpresa por estarem se dando tão bem. Normalmente não conseguia ficar cinco minutos sem brigar.

- Faz parte do meu charme. - respondeu Gilbert fazendo uma careta engraçada.

- Ah, posso só pedir um favor? Poderíamos deixar este encontro só entre nós por enquanto? Não quero ter pessoas curiosas me fazendo perguntas inapropriadas a seu respeito.

- Ok, vamos fazer do seu jeito. - ele não se importava que todo mundo soubesse sobre os dois, mas respeitou o desejo de Anne, já que isso parecia ser muito importante para ela. - Agora senhorita, me obedeça e entre naquele recinto. - disse Gilbert divertido e a empurrando de leve em direção à festa.

Anne fez uma careta e disse também divertida:

- Só para deixar claro, você não manda em mim, garoto. Lembre-se do gênio das ruivas, somos indomáveis.

- Sei bem disso. Agora vá, antes que eu desista de deixá-la entrar. - disse Gilbert.

- Até amanhã, então. - assim ela o deixou no jardim e retornou à festa. Assim que entrou Diana veio a seu encontro:

- Onde estava? Te procurei na festa toda.

- Fui dar uma volta no jardim. - disse Anne inocentemente.

- Sozinha?- perguntou a amiga desconfiada.

- Não seja curiosa, Diana Barry. - Anne disse com ar de mistério. - Vamos aproveitar a festa enquanto você me conta sobre o seu namoro com o Jerry.

Anne passou o resto da festa em companhia de Diana. De vez enquanto seu olhar encontrava com o de Gilbert e eles sorriam discretamente um para o outro.

Quando voltou para casa em companhia de Matthew e Marilla depois da festa, Anne revirou na cama sem conseguir dormir. Será que tinha feito bem em aceitar sair com Gilbert? Não sabia como seria e isso a deixava nervosa, mas compreendia que agora não tinha como voltar atrás. Só restava ir ao encontro do dia seguinte e esperar que não perdesse seu coração pelo caminho. Por fim adormeceu, mas seu sono foi o tempo todo perturbado por um par de olhos castanhos luminosos que lhe faziam mil promessas ao luar, mas se alcançariam os arco-íris juntos, só o tempo poderia dizer.

                                                                                                                                 

 

 

 

 

 

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