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História Anne with an e- continuação da série - Por trás do arco-íris


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Enfim,mais um capítulo terminado. Espero que apreciem mais um pouquinho destes personagens maravilhosos. Tenham uma boa leitura.

Capítulo 9 - Por trás do arco-íris


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - Por trás do arco-íris

                                     Capítulo 9

                     Por  trás do arco-Íris

 

                          GILBERT

 

Gilbert respirou o ar fresco da manhã e olhou para o céu azul iluminado pelo sol daquele sábado magnífico. Era assim que ele se sentia também naquele momento, sentado em sua varanda com uma caneca de café nas mãos.

Bash não retornara para casa na noite anterior, mas Gilbert sabia que o amigo passaria o fim de semana com Mary. Então ele teria a casa somente para si, fato que o deixava bastante satisfeito, pois por mais que apreciasse a presença de Bash na fazenda, naquela manhã preferia ter como companhia os seus pensamentos que rolavam soltos desde que acordara.

Sentia-se exultante, embriagado por uma gama de emoções que o atingiam a todo o momento. Mal podia acreditar que dali a poucas horas estaria com Anne novamente, e essa lembrança o deixava em êxtase como se tivesse alcançado seu nirvana particular. Teria a oportunidade de mostrar a ela a verdade única e absoluta sobre o que sentia, e o quanto era profundo esse amor que brotara sem que ele estivesse esperando, mas que criara raízes fortes em seu coração e que o fazia pensar ser impossível uma vida sem ela agora.

Sabia que devia ter cuidado. Anne não era do tipo de garota que se contentava com palavras vazias. Gilbert teria que conquistar a confiança dela aos poucos, antes que pudesse confessar todo o seu amor. Depois disso,  não precisaria mais esconder essa parte de si mesmo e faria com que Anne o amasse da mesma maneira.

Diante deste pensamento, Gilbert sorriu. Anne era uma pessoa intensa, e por esta razão todas as suas ações e emoções eram expressas por ela de forma igualmente intensa. Bastava lembrar-se de como ela se entregara ao momento que compartilharam na noite passada, para entender que ali havia alguém que era movido por suas paixões.

Sim, Anne Shirley Cuthbert era um ser humano apaixonado!  Não existia em seu sangue nenhuma gota de superficialidade e ser amado por ela deveria ser algo sublime, tão maravilhoso que fazia Gilbert pensar que teria sorte se fosse merecedor de uma pequena parcela do seu afeto, pois Anne jamais ofereceria de graça o seu coração para quem quer que fosse se esse alguém não provasse que era digno de seu amor, e Gilbert queria sinceramente  conquistar  o dádiva  de estar com ela por todos os dias de suas vidas.

Sabia que eram jovens e que havia muitas coisas para viver e experimentar, mas ele também sabia que Anne era o que ele sempre procurara e queria partilhar com ela cada momento e cada nova descoberta, desejava que pudessem crescer e amadurecer juntos, pois era assim que ele imaginava que o seu futuro seria.

Construir uma existência que valesse a pena era o que a maioria das pessoas almejava, e fora dessa forma que o pai de Gilbert vivera uma vida plena com sua mãe. Por esta razão, ele também queria dividir todos os seus desejos com alguém que fosse sua outra metade, e para ele Anne era seu pote de ouro no fim do arco-íris.

Gilbert sentia uma brisa leve agitar seus cabelos, tirando-o daquele momento de reflexão. Ainda tinha algumas tarefas para realizar ali na fazenda antes de se encontrar com Anne, por isso deixou a caneca de café sobre a pia da cozinha, e se encaminhou para o celeiro para cuidar dos cavalos. Nunca quisera ser fazendeiro, e suas viagens pelo mundo lhe provaram isso, mas prometera a Bash que o ajudaria a aprender tudo que precisava para cuidar da fazenda até que pudesse se lançar completamente em seu objetivo de ser médico. Era o que seu pai desejaria e era o que ele também tinha em mente para seu crescimento profissional e intelectual.

Passou algumas horas entretido com o trabalho e já passava do meio dia quando entrou em casa novamente. Preparou uma refeição rápida e comeu-a ali mesmo na cozinha, enquanto olhava pela janela admirando mais uma vez o dia bonito lá fora. Depois lavou a louça do almoço, e viu sobre a mesa a cesta de piquenique que pedira para a Sra More preparar para ele quando viera cuidar de alguns afazeres da casa. Ela era uma pessoa muito bondosa que cuidava de Gilbert desde que era bebê, então o tratava com se fosse uma segunda mãe, e ele a respeitava muito por isso.

Exatamente às duas e meia da tarde, Gilbert saiu de casa e se encaminhou para a floresta onde tinha combinado com Anne que a esperaria. Tinha entregado a ela muito discretamente um bilhete no final da festa de casamento da prima de Diana, com o local e o horário para se encontrarem, e estava ansioso por este momento. Chegou ao clube de leitura de Anne em 15 minutos. Sabia que estava um pouco adiantado, mas não queria correr o risco de chegar atrasado. Então se sentou em uma pedra e ficou esperando impacientemente pelo momento da chegada dela.

Os minutos passavam devagar e Gilbert tentava se distrair olhando para paisagem ao redor, mas não conseguia desviar seus pensamentos de Anne e seu coração foi ficando apertado pela demora dela. Já tinham se passado quase quarenta minutos do horário combinado, e de ansioso Gilbert passou a se sentir nervoso, e depois decepcionado quando entendeu que Anne não viria.

Não conseguia acreditar que ela tinha feito aquilo com ele. Aceitara  aquele encontro somente para deixá-lo ali no meio da floresta, esperando por ela sem sequer uma palavra. Por quê? Queria puni-lo? Só podia ser essa a explicação por Anne não ter aparecido.

 Será que se enganara? Pensara que ela sentia por ele o mesmo que ele sentia por ela, mas agora entendia que estava errado. Ele fora sincero, abrira seu coração e Anne o rejeitara. Talvez ela estivesse apaixonada por Cole. Os dois estavam sempre juntos e praticamente faziam tudo juntos, e mesmo agora que ele estava vivendo em Paris a afinidade entre os dois parecia a mesma. Quem sabe Anne não estava pensando em ir para Paris também a fim de ficar mais perto dele afinal?  Isso explicaria a presença de Cole ali em Avonlea depois de todo aquele tempo.

Gilbert balançou a cabeça para impedir o fluxo de pensamentos que estavam enlouquecendo-o. Precisava sair dali, ir para casa e tentar superar a onda de depressão que ameaçava tomar conta dele. Não iria mais pensar nisso. Anne o magoara, ele estava ferido e necessitava urgentemente de um antídoto para aplacar o veneno da raiva que o estava consumindo.

Levantou-se lentamente e pegou a cesta de piquenique que jazia ali no chão esquecida por ele e começou a caminhar de volta para casa. Sentia-se derrotado e aquela era a pior sensação do mundo. Não queria pensar no que faria quando chegasse em casa, só queria sumir o mais rápido possível daquele lugar.

Foi então que ouviu uma voz chamando-o e se voltou devagar, se surpreendendo ao ver Anne vindo em sua direção quase correndo. Não viu a aflição no rosto dela, pois sua ira era tão grande que só pensava em feri-la da mesma maneira que tinha sido ferido. Esperou Anne se aproximar, olhou-a nos olhos e disse com toda a raiva que foi capaz:

- O que está fazendo aqui?

                                         

 

                      ANNE

 

 

Anne olhava no relógio a cada cinco minutos. Sentia-se impaciente e sabia qual era o motivo. O encontro com Gilbert Blythe a estava deixando maluca. Não tinha tanta certeza se devia ter aceitado, pois afinal de contas ela colocava em risco sua paz de espírito e o seu coração, e seria muito melhor se não levasse tão a sério aquele assunto, porque não acreditava tanto assim nos sentimentos que Gilbert dizia sentir por ela.

Mas então, por que ela sentia aquela ansiedade tão grande que fazia seu estômago se contorcer? Por que suas mãos tremiam e sentia sua cabeça rodar toda vez que se lembrava do que a esperava dali a algumas horas?

Exatamente dali a três horas para ser mais precisa pensou, consultando o relógio que marcava meio dia mais uma vez. Ela já tinha realizado todas as suas tarefas, ajudara Marilla com o almoço e depois lavara e enxugara a louça, arrumara a cozinha e por fim dobrara toda a roupa que Marilla havia lavado pela manhã. Então tinha o resto do tempo para se preparar para aquele encontro, e se conseguisse se acalmar já seria uma grande coisa.

“Não é um bicho de sete cabeças, Anne. É só um encontro como qualquer outro. Não existe razão para todo esse nervosismo”, disse a si mesma.

“É mesmo? Por que será que faz meia hora que você está a procura do vestido perfeito e não consegue se decidir por nenhum? Não seria por que quer agradar Gilbert Blythe?- lá estava sua maior inimiga, sua voz interior.

Anne colocou as duas mãos na cabeça como se pudesse fazer aquela voz irritante se calar, e então disse em seu pensamento. “Deixe-me, voz estúpida, não preciso de sua opinião.”

Mas era verdade que tinha colocado todos os seus vestidos sobre a cama, e não sabia qual seria o mais adequado para a ocasião. Por fim, ficou entre escolher um azul e um verde, mas não conseguia se decidir. Estava ainda neste dilema, quando viu Diana entrar em seu quarto como se estivesse fugindo de seu pior pesadelo, e Cole bem atrás dela exibindo uma cara de assustado que fez Anne dar um gritinho de surpresa.

- Santo Deus, Diana! O que aconteceu? Você quase me matou de susto. - disse ela com as mãos no peito, como se quisesse acalmar seu coração que batia muito rápido.

- Anne, por favor, me ajude. Minha mãe quer me mandar para Paris. Disse que assim que tia Josephine voltar para casa, ela vai me despachar junto com ela. Meu Deus, o que vou fazer? Estou desesperada. Não quero sair da escola. E o Jerry? Não posso deixá-lo aqui. - Diana chorava e apertava as mãos sem parar.

- Calma Diana. Você vai acabar doente desse jeito. .- disse Cole, preocupado com a menina.

- Como posso me acalmar, Cole? Minha mãe já decidiu tudo, e nem quis saber minha opinião. .- Diana sentou na cama de Anne, com a cabeça entre as mãos e soluçava sem parar.

- Anne, está tudo bem aí em cima?- a ruivinha ouviu Marilla perguntar.

- Está sim, Marilla. Fique tranquila. – respondeu ela.

- Se precisarem de mim, estou aqui embaixo. -disse a boa mulher.

- Obrigada. - respondeu Anne simplesmente.

- Anne, o que vou fazer? Diga-me que tem uma ideia para me tirar dessa enrascada. Não quero ir para Paris. - agora Diana tinha se levantado e agarrava as mãos de Anne como se quisesse arrancá-las. A menina tentava pensar em algo, mas com Diana falando o tempo todo não conseguia traçar nenhum plano.

- Calma Diana. Estou pensando, mas ainda não consegui ter em mente nada concreto.

- Como não! Não me diga que está sem ideias? Mas você nunca fica sem ideias. Ai!  Estou perdida! - e Diana chorava copiosamente.

- Pelo amor de Deus, Diana! Cale-se! Você está me deixando zonza. Como posso pensar em algo se você não pára de falar? Cole, e você? Por que está parado aí feito uma estátua? Quer me ajudar, por favor?- disse Anne para o amigo, que até o momento não proferira nenhuma palavra.

- Desculpe Anne. Mas é que eu nunca vi a Diana desse jeito. Ela está nervosa demais. E confesso que não sei o que fazer.

- Vou buscar um copo de água com açúcar para ela. Fique aqui e tente acalmá-la.

Anne foi até a cozinha e encontrou Marilla que olhou para ela e perguntou:

- O que está acontecendo, Anne? Ouvi a Diana chorar. Alguém está doente na casa dela?

- Te conto depois Marilla. Agora tenho que ajudá-la a ficar calma. - disse isso, e voltou para o quarto.

-  Aqui está, Diana. - esperou a menina beber tudo, e então disse:

- Diana, você já tentou falar com sua mãe em como se sente a respeito dessa viagem? – Anne segurava nas mãos de Diana agora.

- Já, mas ela não me escuta. Eu te disse outro dia. Ela pôs na cabeça que quer que eu seja uma dama, e só posso ser educada para ser uma em Paris. É nisso que ela acredita e não vai mudar de ideia facilmente, mesmo que isso me faça infeliz. - e começou a chorar de novo.

- Cole, será que tia Josephine não pode ajudar? E se ela conversasse com a mãe de Diana?

- Anne, posso pedir para ela, mas não sei se tia Josephine vai aceitar. Ela não gosta de se envolver em assuntos da família. Sabe como essas coisas são complicadas, mas de qualquer forma vou tentar falar com ela, só que não prometo nada. - explicou o menino para Anne.

- Diana. O Cole vai falar com tia Josephine, está bem? Quem sabe ela tem uma ideia para resolver este problema. – falou para a amiga que tinha parado de chorar, mas estava estranhamente calada.

- Diana? Você está bem?- chamou Anne. E então Diana olhou para ela  e disse:

- Estou bem, Anne. Desculpe pela minha crise nervosa. Eu não sabia o que fazer, mas me sinto mais calma agora. Não sei por que não pensei em tia Josephine. Talvez ela possa mesmo me ajudar. Preciso ir para casa, ou minha mãe vai ficar muito zangada, não avisei que vinha aqui.

- Tudo bem. Cole vai te acompanhar. Nos falamos depois então. – Anne acompanhou-os até a porta e se despediu deles sob os olhares interrogativos de Marilla. Assim que saíram ela disse:

- Então, vai me contar o que aconteceu?

- Vou sim. - aí olhou para o relógio e quase deu um pulo. Meu Deus! Já passava das duas horas, tinha pouco tempo para se arrumar  e ir ao encontro de Gilbert. – Marilla, prometo que te conto mais tarde, mas agora estou atrasada para um compromisso. - disse isso e subiu as escadas correndo.

- Tome cuidado, Anne. Não corra assim ou vai se machucar.- ouviu Marilla, dizer.

 Os minutos parecem que voavam nos ponteiros do relógio, e os segundos escoavam como areia, por esta razão pegou o vestido verde, colocou-o o mais rápido possível, vestiu sapatilhas brancas, prendeu os cabelos em duas tranças. Não era bem o que tinha em mente, mas ia ter  que servir, o tempo passava rápido e precisava sair agora se não quisesse chegar atrasada. Desceu as escadas o mais rápido que pôde e quando estava na porta, ouviu Marilla falando com ela:

- Anne, por favor. Já que vai sair leve esses pães para Rachel. Ela me encomendou ontem e eu me esqueci de te pedir para fazer isso mais cedo.

Anne olhou para Marilla e pensou: “Mais essa agora”.

- Marilla, estou atrasada. Você não pode pedir ao Jerry para lhe fazer esse favor? - perguntou esperançosa.

- O Jerry saiu. Teve que ir a cidade comprar alguns materiais para o trabalho da fazenda. E Matthew também não está,  então só me resta você. - o coração de Anne afundou em seu peito. Dali até a casa de Rachel gastaria vinte minutos e como já eram duas e meia lhe restariam apenas dez minutos para chegar até o ponto de encontro que Gilbert marcara com ela.

- Vamos, menina. Pare de reclamar e faça o que eu falei. - disse Marilla, já irritada com a demora de Anne.

- Está bem. - Anne suspirou e pegou a pequena cesta de pães e se dirigiu até a casa de Rachel pensando em sua tremenda falta de sorte. Por que tudo acontecia com ela? Que droga! Parece que o universo estava brincando com ela de novo.

Andou até a casa de Rachel o mais rápido que pôde. Sua intenção era deixar os pães para ela rapidamente e correr até a floresta a tempo de encontrar Gilbert, mas quando chegou lá, Rachel não estava na cozinha. Chamou por ela várias vezes, mas não obteve resposta. Procurou por ela ao redor da casa e foi encontrá-la no celeiro.

- Oi, Anne. Faz tempo que você chegou? Estava aqui alimentando os cavalos e não ouvi você. - disse Rachel com seu jeito simpático de sempre.

- Faz uns vinte minutos. Vim trazer os pães que a senhora encomendou com Marilla. - disse Anne, morrendo de vontade de ir embora. Estava muito atrasada e sabia disso. “Tomara que Gilbert ainda esteja esperando por mim.” – pensou.

- Venha comigo, criança. Tenho um pedaço de bolo para você. Preciso agradecê-la pela gentileza de me trazer estes pães tão deliciosos.

- Fica para outra vez. Tenho mesmo que ir. - disse Anne muito nervosa.

- De jeito nenhum. Você não vai me fazer uma desfeita dessas. Sente-se aqui na cozinha comigo e me conte todas as novidades. - disse Rachel. Anne percebeu que não poderia sair dali naquele momento, pois caso contrário ofenderia a amiga de Marilla, e isso era a última coisa que queria fazer. Deu um suspiro resignada, e esperou que Rachel lhe servisse um pedaço de bolo e um copo de suco, enquanto tagarelava sobre seu marido, filhos e enchia Anne de perguntas sobre Green Gables. Já passava das três horas quando Anne conseguiu finalmente ir para a floresta, e se sentia terrivelmente nervosa. Não sabia por que estava tão preocupada, afinal não queria nem ter marcado aquele encontro, mas não gostava de deixar as pessoas esperando, principalmente essa pessoa sendo Gilbert Blythe, pois sabia que ele caçoaria dela depois. “Tem certeza que é só isso mesmo, Anne?” – a voz estava lá de novo, sempre a espreita.

- Quando é que vai parar de se meter na minha vida? – disse isso em voz alta e depois percebeu o que tinha feito. Se alguém a visse falando sozinha para o nada, com certeza pensaria que estava maluca, o que não seria uma mentira completa, pois muitas vezes ela própria achava que estava louca, pela quantidade de pensamentos insanos que passavam por sua cabeça.

 Quando estava chegando ao local onde Gilbert combinara com ela, percebeu que ele ainda estava lá. Mas então viu que ele se levantava e se preparava para ir embora, por isso, gritou o nome dele o mais alto que pôde e sorriu aliviada quando notou que ele a tinha escutado.                

Mas seu sorriso morreu nos lábios assim que viu a raiva nos olhos dele e ouviu Gilbert lhe perguntar extremamente zangado:

- O que está fazendo aqui?

 

 

              GILBERT e ANNE

 

Anne foi pega de surpresa pela ira de Gilbert Blythe. Nunca o vira tão zangado na vida. Mesmo quando trocavam farpas, o menino se mantinha calmo e sereno, se comportando sempre como um cavalheiro.

Mas ali naquele instante era outro Gilbert que falava e gesticulava sem parar, e Anne não conseguia fazê-lo voltar a razão. Tentou explicar o que acontecera, o porquê de estar atrasada, assim ensaiou um pedido de desculpas dizendo:

- Gilbert, eu. - mas ele a interrompeu bruscamente:

- Já sei o que você veio fazer aqui. Veio terminar o que começou, não é? Queria me ver derrotado, magoado e ferido. Aceitou o meu convite só para me humilhar, e rir na minha cara depois. Por que, Anne? Sei que te magoei no passado quando te chamei de ruiva e você me fez pagar por isso. Mas desde que voltei, tenho tentado fazer o possível para que tenhamos um bom relacionamento. Tudo o que eu faço ou digo é para tentar te trazer para mais perto de mim. Sei que não acerto sempre, mas minhas intenções são as melhores possíveis. É por causa da Ruby que está me tratando assim? Eu não quis te fazer sofrer, eu só não pude evitar aquela situação.

Anne ouvia a tudo espantada. O que dera em Gilbert para agir assim? Afinal, o que dera em todo mundo? Dois ataques histéricos no mesmo dia, primeiro Diana e agora Gilbert. Será que tinha alguma coisa a ver com a estação? Bem, tinha que fazê-lo calar-se para que pudesse se defender, mas Gilbert não dava sinais de que ia parar com sua lista de acusações contra ela. O que deveria fazer? “Pense Anne. Onde está sua criatividade quando precisa dela?”

Assim, pensou mais um pouco e uma ideia lhe ocorreu, não sabia se daria certo, mas tinha que tentar. Deu um passo em direção a Gilbert, e sem hesitar se pendurou no pescoço dele e lhe deu um beijo tão profundo que o garoto sentiu tudo ao seu redor girar. Depois que o minuto de surpresa passou, Gilbert puxou Anne pela cintura e colou seu corpo no dela, aprofundando o beijo até que lhes faltasse o ar. Quando por fim se afastaram, ambos estavam ofegantes e se olharam nos olhos por alguns instantes. Anne foi a primeira a se recuperar e sussurrou baixinho:

- Consegui chamar sua atenção, Blythe? Vai me deixar falar ou não? - Gilbert só balançou a cabeça, concordando, não confiava em si mesmo para dizer qualquer coisa agora. Aquela garota tinha ateado fogo em suas veias novamente e ele sentia seu corpo vibrar com a proximidade dela.

Desta forma, Anne contou tudo o que acontecera com ela desde que levantara de manhã, até o momento em que ficou presa na casa de Rachel, pensando se ele ainda estaria ali esperando por ela.

- Entende agora por que eu não consegui chegar no horário que combinamos? Sinto muito, Gilbert por tê-lo feito pensar que não viria. – lamentou Anne.

- Me desculpe também Anne. Eu devia ter esperado você me contar o que aconteceu para depois julgar se deveria ficar zangado ou não. Mas eu me senti tão frustrado achando que você só tinha aceitado meu convite para me zoar depois, que não pensei direito. - tentou se explicar Gilbert, já envergonhado de ter despejado sobre Anne toda a sua raiva.

- Tudo bem. Se você quiser cancelar tudo eu vou entender. - disse Anne, aliviada por Gilbert tê-la perdoado.

- De jeito nenhum. Não está tão tarde assim, e eu tenho uma cesta de piquenique especialmente preparada para nós. - pegou na mão de Anne, e juntos foram caminhando até o local onde Gilbert tinha planejado levá-la.

Chegaram a uma clareira onde havia flores coloridas por toda parte, muitas árvores frondosas e uma cachoeira magnífica de onde a água que caía formava um lago encantador. Anne ficou extasiada com aquela visão, jamais imaginara que existia um lugar tão esplendoroso nos arredores de Avonlea.

- Gilbert, que lugar lindo! Como você o encontrou? – quis saber Anne.

- Meu pai e eu costumávamos vir aqui juntos. Esse é meu refugio quando quero fugir de tudo e pensar na vida.

- Olha essa cachoeira! Não é extraordinária?

- Sim, maravilhosa. - respondeu Gilbert com um tom de voz que fez com que Anne se virasse para ele e percebesse que o garoto olhava para ela enquanto a menina admirava aquele lugar encantador. Não sabia se ele falara da cachoeira ou dela, pois tinha a impressão que ele a acariciava com sua voz antes mesmo de tocá-la.

Quebrando a magia do momento, Gilbert puxou Anne pela mão e estendeu uma tolha toda florida na grama, onde colocou as guloseimas que tinha trazido para o piquenique. A ruivinha olhou para as várias gostosuras que Gilbert retirou da cesta. Havia bolos, tortas, frutas, geleia e sucos. Tudo parecia muito apetitoso, só que era comida demais o que a fez comentar:

- Você pretende alimentar um batalhão com toda essa comida?

- Bem, não sabia do que você gostava, então não quis arriscar trazendo alguma coisa que não fosse do seu agrado..

- Pelo que vejo você acertou em cheio. Não há nada aí de que eu não goste. - disse ela divertida.

- Então, sente-se e sirva-se. - disse Gilbert sorridente.

Eles começaram a comer e a conversar de várias coisas sobre as quais eles nunca tiveram a oportunidade de falar. Anne pensou que era engraçado que se conhecessem já a um bom tempo e nunca terem  partilhado alguns de seus sonhos. Talvez fosse porque viviam mais às turras do que tentando ser amigos.

Gilbert se sentia completamente a vontade com Anne. Era muito bom estar naquele paraíso falando com ela pela primeira vez sem brigar. O que o fez querer saber mais um pouco sobre ela:

- Você quer mesmo ser professora?

- Entre outras coisas. - respondeu Anne  sorrindo.

- E o que seria estas outras coisas?- perguntou curioso.

- Não sei exatamente. Existem muitas possibilidades que quero explorar. - disse Anne, olhando para Gilbert enigmática

Ele se aproximou mais dela e perguntou pegando-a de surpresa:

- Quantas possibilidades de ficarmos juntos você consegue enxergar?

- Não sei se posso responder a essa pergunta. Ainda não pensei sobre o assunto, além do mais existem alguns obstáculos entre nós. -

Gilbert a olhou intrigado por causa daquela resposta dela e perguntou:

- O que quer dizer?

- Você sabe o que quero dizer. Ruby é um desses obstáculos. - Anne agora olhava para ele de maneira séria.

- Anne, eu não tenho nada a ver com essa garota.

- Não foi o que me pareceu no dia em que vi você com ela em sua casa. - Anne se mexeu nervosamente onde estava. Aquela lembrança ainda a machucava muito.

- Anne, estou dizendo a verdade. Ela apareceu em minha casa me dizendo um monte de besteiras das quais nem me lembro mais.- explicou Gilbert, querendo que ela acreditasse nele.

- Mas você não pareceu se importar com isso já que a beijou.

- Eu não a beijei, foi ela quem me agarrou sem eu estar esperando. - protestou Gilbert.

- Só que ela espalhou para a escola todo que vocês estão namorando.

- Eu não sei de onde ela tirou isso. Eu não tenho o mínimo de interesse nela.

- Não sei se acredito em você, Gilbert. - Anne não queria ter falsas esperanças e depois se arrepender.

Nesse momento Gilbert pegou no queixo dela e disse:

- Estou mais interessado em conhecer uma certa garota ruiva de olhos azuis.- agora a voz dele era suave e Anne se sentiu completamente presa a ela.

- Como pode ter certeza de que é isso que quer?- Anne perguntou.

- Anne eu posso te dizer  que vejo uma vida inteira de possibilidades para nós dois.- agora ele começara a acariciar seu rosto com o polegar.

- Gilbert, existe tantas garotas que adorariam ficar com você, por que perder seu tempo comigo?- ela não conseguia acreditar que Gilbert realmente se interessasse por ela.

- Porque eu sei que você foi feita para mim. - ele parecia tão certo do que dizia que Anne não pôde deixar de dizer.

-  Quanta confiança, Blythe. O que o faz pensar que sou sua alma gêmea?

- Eu não penso Anne, eu sei que você nasceu para ser minha e de mais ninguém.. - aquela afirmação de posse deixou Anne sem fôlego. Era um sentimento poderoso saber que Gilbert a queria tanto a ponto de desejá-la para sempre em sua vida. Aquele pensamento a fez se agitar nervosamente, e Anne se levantou olhando para a água da cachoeira que caía diretamente dentro do lago. Aproximou-se mais, olhando seu reflexo no fundo. Gilbert chegou por trás dela e a abraçou pela cintura sussurrando em seu ouvido:

- Você é linda, Anne. Eu nunca me canso de olhar para você. - depois sentiu que ele desmanchava suas tranças. Nem se importou, adorando o contato das mãos dele em seus cabelos.

- Olhe para mim- sussurrou ele novamente, e ela obedeceu sem pensar ou questionar o que a levava a fazer tudo o que ele queria.

- Adoro seu cabelo, principalmente quando o deixa solto assim. Você é uma feiticeira que me seduz completamente. - dizendo isso a beijou, e Anne se viu abraçando-o apertado, sentindo as mãos de Gilbert passear por suas costas até sua cintura. Os lábios dele  desceram até seu pescoço, depositando ali beijos molhados e quentes, fazendo Anne suspirar se entregando a aquele carinho. Então Gilbert aprofundou mais ainda o beijo e Anne percebeu que estava perto de perder o controle, e em um lampejo de consciência deu um empurrão em Gilbert derrubando-o dentro do lago. O garoto deu um grito de surpresa e depois vendo que Anne ria divertida da cara dele, lhe perguntou também rindo:

- Por que fez isso, sua maluca?

- Quis refrescar um pouco seu cérebro, pois ele estava ficando animadinho demais.

- Ok, entendi. Agora seja uma boa samaritana e me ajude a sair daqui. - pediu ele humildemente.

- Está bem. Homens! Nunca conseguem fazer nada sozinhos. - deu a mão para Gilbert para ajudá-lo a sair da água, mas ele a puxou derrubando-a na água também.

- Seu abusado!  Vai pagar por seu atrevimento- disse Anne em tom de brincadeira, atirando água em Gilbert.

Assim, ficaram brincando na água por uma hora. Quando se cansaram e resolveram se sentar perto da cesta do piquenique estavam ensopados. Por sorte Gilbert havia trazido uma tolha e ajudou Anne a se secar com ela.

Quando o sol começou a se pôr, recolheram os restos do piquenique e resolveram voltar para casa. Caminharam em silêncio e de mãos dadas, não querendo acabar com a camaradagem que havia entre eles. Quando chegaram a Green Gables se despediram com um beijo doce que fez com que o coração de Anne disparasse por um segundo, e prometeram que se veriam na escola, pois no dia seguinte seria domingo, e Anne não achou uma boa ideia se encontrarem de novo, pois Marilla facilmente desconfiaria de suas escapadas, e por enquanto ela queria manter seu relacionamento com Gilbert em segredo.

Antes de ir para casa, Gilbert acariciou os cabelos dela e beijou a palma da mão de Anne, como se selasse uma promessa. A garota entrou em casa como se pisasse em nuvens de tão leve que se sentia. Ainda bem que não encontrou Marilla, pois não queria ter que explicar porque seu vestido estava cheio de grama e o cabelo todo molhado.

Tomou um banho rápido, trocou de roupa e se deitou na cama, sentindo-se flutuar. Nunca pensou que aquele encontro com Gilbert a faria tão feliz. E quem diria que o futuro médico fosse tão romântico? Quem olhasse para ele jamais imaginaria que por trás daquele garoto sério de modos tão práticos se escondia um verdadeiro Shakespeare apaixonado? As coisas que ele dissera e a maneira como a tratara a fizeram ficar totalmente encantada por ele.

Ainda tinha um pouco de medo de confiar nele, mas esperava que com o tempo pudesse deixar de lado todo o receio que ainda sentia e desfrutar da companhia de Gilbert com mais frequência, pois sabia que estava apaixonada por ele e isso ficava evidente a cada minuto, principalmente quando ele a beijava ou acariciava sua pele. Ela se sentia como se fosse um pássaro livre atraído pelo calor do sol, e todo seu corpo se acendia com o toque das mãos dele.

Não podia mais fugir o mentir para si mesma. Queria Gilbert Blythe com todas as forças do seu coração e isso causava um pouco de medo, pois temia  perder todo o seu senso e razão por causa deste amor, mas ao mesmo tempo pensava por que não se deixar levar por aquele sentimento? Por que não desfrutar de todas as delícias que os beijos dele prometiam? Por que não baixar a guarda e deixar que sua mente se embriagasse e queimasse completamente nas chamas daquela paixão?- Fechou o olho finalmente e adormeceu com um sorriso nos lábios.

 

 

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Notas Finais


Até o próximo capítulo!


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